terça-feira, 13 de junho de 2023

Venda do Negro no corredor peregrino de Santiago de Compostela

A crónica nasceu em 2018, mereceu à volta de 1000 visualizações  

Publicação com excerto no Jornal Serras de Ansião em junho de 2023

Foto registada em movimento

Referida nas  Memórias Paroquiais de 1758 pelo padre Silvestre Lopes 
" a Venda do Negro tem 10 vizinhos."

" na relação de foreiros da Capela de Almoster, nunca é referido e sim Albergaria, ao limite das Gramatinhas, onde houve outra estalagem"

Entroncamento da nova estrada para Pousaflores a ligar a Venda do Negro

                 
Aldeia soalheira no itinerário do Caminho de Santiago de Compostela vindo de sul, de Alvaiázere. 
Abrigada pelo contraforte da serra de Pousaflores com a de Ariques, mostra-se um quadro naturista de inexcedível valor histórico e cultural, a merecer honras e preservação!
                               
Imponente casario secular, julgo pertença de Eduíno Rodrigues ou familiares
Foi a  estalagem de balcão alpendrado de traça judaica. 
                            
Não faltam os piais, as pedras laterais para flores tão habituais na tradição  noutros tempos
Balcão alpendrado por colunas quinadas

Beija o pátio pia de pedra

Formato ovalado, será uma fonte? A vegetação impede visualizar mais do que foi o seu passado

                

Impressionante a falta cultural ao ousar misturar tijolo de cimento com pedra, até dói...

 Na centúria de 500 a estalagem da Venda do Negro embolsou injúrias peregrinas

(...) em maio de 1568 Segismondo Cavalli, e o seu secretário Lunardo Otthobon  “ assaz duas láguas pedragosas que medeiam Alvaiázere e Ansião onde se encontravam "três ou quatro tabernas desagradáveis". 

(...) Em 1575, Bartolomé de Villalba y Estana, na obra El Pelegrino, sagaz crítica satírica e racista a eco à negritude do topónimo e à tez do estalajadeiro, de genes mourosA la Venta del Negro hemos llegado y negro el pan, y negros los manteles,el caldo negro y el cabron chamuscado, y negros de la guespeda aranbeles. En negro punto aqui hemos llegado, y más tener ventera cascabeles, puerca, negra, suzia y torojada, librenos Dios de tan negra posada. 

Tradução livre
Chegados à Venda do Negro, negro era o pão e negros os panos, o caldo negro, a carne chamuscada, e negros a santa companhia. Aqui chegados a este ponto negro, e más caras cascavéis, porca, negra, suja e desarrumada, livre-nos Deus de tão negra pousada.

Excerto do do Livro de 1986 do Padre José Eduardo Reis Coutinho 

"(…) no verão de 1717 andou por Portugal um franciscano de Itália, Gian-Lorenzo Buonafede Vanti. Vindo de sul, partiu de Alvaiázere, onde comeu e dormiu bastante mal, na manhã de 17 de julho - aponta outros lugares por onde passou a relevar a importância da famosa estrada real - Ansião, Junqueira, Rabaçal, Fonte Coberta e Alcabideque. Diz que da Junqueira a Fonte Coberta a estrada era "muito bela e larga", particularidade bem notória a partir daquela povoação e contrastante com a das serras a norte e a sul de Ansião, tortuosa, estreita e pedregosa." 

Na idade média este troço do Caminho de Santiago de Compostela também foi chamado estrada de Coimbra, descrita na saída dos padres jesuítas expulsos de Coimbra em 1834 , acompanhados por militares liberais, com descanso no solar do padre Nicolau Soares Barbosa, Venda do Negro, pernoitaram na estalagem da Perucha até chegar a Lisboa ao Forte de S. Julião da Barra

Tanta vez a caminho ou vinda de Pousaflores sem jamais ter parado para visitar a aldeia da Venda do Negro O mesmo dizia a minha mãe com 83 anos. Aconteceu pelo Carnaval de 2018.

Terra semeada a pedra escalavrada erguida da terra imita esculturas a salpico de orquídeas  e outras flores silvestres, a chamar a Páscoa ...fechada por muros de pedra seca, uma herança ancestral que deve ser preservada, aqui rainha nesta paisagem cársica, idílica rara no Mundo. 

                                     

Ao entardecer  a saborear aromas campestres bordejado a orquídeas, dente de leão e sinos amarelos, entalados nas fendas calcárias pintada de líquenes negros por todo o lado vestida de erva verde. 

Impressionante a oliveira cresceu toda torcida...

                                            

Figueiras da India 

Canto de galos e garnisés

Soava belo canto galináceo na Venda do Negro

Na entrada, à esquerda a que foi a casa de António Fernandes, alcunha Saguim 

Enlevo à saudade da família “Fernandes Saguim”, alcunha ganha nos finais do século XIX, quando a sua família de Além da Ponte, vivia junto da quinta comprada por Abel Falcão, regressado de Moçâmedes, antiga Namíbia, que trouxe um saguim (macaco) .
O Sr. António, casou e viveu na entrada da aldeia, a primeira pessoa que me recordo de ter falecido com cancro na garganta, por ter saciado a sede com bebida  fria, que o deixou rouco...até morrer.

 
Atónita, de olhos presa a tanto Cinco com várias pontas e Cruzes, riscados no cimento ...

    

 
A simbologia de Cinco saimão tem origem judaica na Estrela de David, ou Davi , reconhecida mundialmente . Fruto dos resquícios da cultura ancestral de povoadores judaicos vindos de Espanha, convertidos à força em cristãos novos. A Venda do Negro soube conviver com mouros do Magrebe, que por cá ficaram, a fidelizar a toponímia. Chegou aos nossos dias  adulterado  o hexagrama, da estrela de Davi, de seis pontas,  formada por dois triângulos sobrepostos. Os judeus eram letrados, nos séculos foi perdido o conhecimento que não perdurou em muitas gerações vindouras, sendo nítida na região, essa falta  cultural perdida no ultimo século. A estrela de Davi de seis pontas acabou deturpada em oito, em Portugal, com a intenção em despistar a Inquisição. Recordo o brasão do Marquês de Pombal,  cujo avô paterno era de Pombal, com ascendência judaica pelos apelidos "Carvalho e Melo", perfil e talento visionário. Sendo letrados, não o impediu de ter sido o que foi, em encobrir e camuflar as origens. 

Brasão da quinta do Marquês de Pombal em Oeiras

A cultura judaica acabou associada à corruptela de rituais celtas pagãos, que se enraizaram na cristandade, para afastar o mal das colheitas e dos animais - o seu sustento e riqueza. No 1º de maio ainda há a tradição de colocar as maias, flores campestres amarelas, em forma de Cruz, nas portas dos currais e uma Cruz florida nos campos cultivados .   

Um judeu praticante nunca utilizaria a cruz! Porém, aqui aportados depois de 1492, foram obrigados a professar a fé cristã. Óbvio, que houve famílias que no seu  intimo professavam o judaísmo. Alguns foram denunciados à Inquisição. Os que não se converteram em cristãos novos, o rei D. Manuel expulsou-os de Portugal. O pentagrama e uma Cruz cristã foi muito usada na comunidade judaica para atestar a sua nova fé dos cristãos novos que as esculpiram nas suas casas, isolada ou com a estrela de David. Na Portela de S. Lourenço  existe uma estela  do povoador que ali se fixou, datada, julgo 1758 ladeada por Cruzes. Outros judeus oravam a Santo Antão, o protetor dos animais domésticos, a quem pediam intermediação...Ai valha-me Santo Antão!

A proteção contra o Mal, contra a inveja e mau-olhado

Recordo em criança de usar 5 amuletos presos por alfinete na camisola interior; Estrela de David, Lua, Figa, Corno e a Ferradura. 

Apelidos de antanho e ainda vivos na Venda do Negro

Gonçalves ; Simões; Ventura; e,...carpinteiros de moinhos, paneiros e estalajadeiros 

A pedra da janela pintada a cal uma característica da traça antiga beirã 

Enaltece a importância da janela, na abertura do pensamento à liberdade!
Conversa afável com o Sr. Gomes e a esposa Lucinda Simões
Vivem em Lisboa. Amantes das raízes, onde mantém casa e vem amiúde. 
Confidenciou-me a D. Lucinda que os filhos e netos não tem a mesma paixão... o que se lamenta, já que o local é por demais aprazível, de beleza e encantos tamanhos. Pese a manutenção na limpeza das courelas e a conservação das casas , mas quem corre por gosto não cansa.

Só tenho uma filha que desde pequena foi habituada a gostar das raízes, a perceber que é fundamental preservar o património herdado e as vivências de antanho em dias de Natal e Páscoa, e nas ferias.
Aprendeu as tarefas de ir buscar gravelhos e cavacos para acender o forno. Onde o que se cozinha sabe bem: pão, bôlas de carne, folares, assados, chanfana, tigelada e batata doce para se comer com mel. Jardins com  flores. Abrir a cristaleira  para tirar os copos de cristal. À mesa saborear o repasto e a festa!

Antes do adeus confidenciou-me a D. Lucinda que viveu na África do Sul. Um dia foi ao médico com o filho mais novo que a questiona se não era de descendência judaica, pela mancha negra que ele tem na nádega e o marido também. Já ouvi falar, tenho uma prima que tem uma grande acima do joelho. 
A região apresenta um numero elevado de gente com um tipo de sangue característico, debalde não recordo, conotado  a genes judaicos.  Mais uma pista para a comunidade judaica que viveu nestas terras de Ansião, que até hoje nenhum historiador aflorou, e bem o merecia ter reconhecimento.
Presenteio de tangerinas e limões. Amei tê-los conhecido, teria ali ficado a ouvir estórias com história horas...na certeza de não me cansar!
Bem hajam por saber ser anfitriões da sua ancestral e bela terra!

Uma janela com gradeamento, podia ter sido cadeia? 
Tinha de ter aqui alguém para exercer o poder. Uma lacuna a explorar.
Imperdoável o remate da parede a tijolo de cimento...
Sobre a origem do topónimo Eirinhas, questionei se o nome não deriva de lajes grandes e planas que serviam de eiras para malhar o cereal, como em Trás os Montes. Não tive resposta...
Casas de dois irmãos de apelido Simões
A primeira casa no gaveto da Travessa das Eirinhas, a segunda na beira da estrada para a Portela.
Casa de cariz moderna, convive no tardoz com a que foi dos pais, antiga de sobrado, essa sim para mim, a que vale a pena vir a ser preservada pela traça antiga que privilegia a história da aldeia.

Ao cimo da Travessa 
Distingui uma casa nova, julgo da minha amiga Helena do Casal Soeiro. A conheci criada com a irmã Mariazinha, na loja da minha "tia Carma russo" em Ansião. Depois de ter vivido em Ansião veio para aqui para a que foi a casa dos sogros, o que me disseram. 
Não a avistei . Ficou por sentir  um sentido abraço. 

O que me apaixona é a arquitetura antiga
 
  A beleza da ruína, a boca de um forno debruado a tijoleira
 Outra característica acima do lintel da porta em "V" invertido de origem romano/visigótica
 Reconstrução de casario em pedra
 
 Outra particularidade de antanho na tradição das portas com portinhola
E outra admirável, os balcões
Característica da habitação tradicional no Maciço de Sicó
Forte presença no casario de sinais da arquitetura ancestral que devem ser preservados
O que foi uma grandiosa e bela casa com balcão

 Pedras com marcas onde encaixaram portas e fechaduras
Para fazerem a calçada tiraram-lhe o balcão...
 Muita ruína ainda de pé a clamar por ajuda...
 
Um belo exemplar de tramela, a tranca de madeira, ainda me recordo delas em miúda nos currais.
Abandono do ancestral quelho pedregoso para os Casais Maduros

Resistem troços de calçada romana debruada a muros de pedra seca no Casal Soeiro e Empeados.  

                

                                        

Património que exige sinalética para o dar a conhecer ao mundo!

Aldeia inserida em quadro de beleza naturista de inexcedível valor histórico e cultural a exigir sinalética para a dar a conhecer ao mundo!

A construção da capela será da centúria dos meados de 500

Em 1673 sofreu requalificação, de orago a NSPranto. 

 
Segunda a estela em mármore a construção data de 1673
                           
Capela de Nossa Senhora do Pranto
Estela falante
Em rodapé da parede do telheiro da capela a poentes encontra-se uma estela falante  de simbologia cristã e maçónica, no rodapé do telheiro, sem defesa à preservação da erosão
 O canteiro que esculpiu esta pedra era artista
Apresenta mescla da simbologia: cristã e maçonaria, no meu entender.
Tenha pertencido a uma sepultura de quem a esculpiu ou mandou esculpir . 
Desconheço se a capela mantem o chão lajeado primitivo, e se há lajes com numeração. Ou não e após o  terramoto, em 1784 data na verga da porta  "De 1784 Anno"  tenha sido a estela retirada e aqui reposta para não se perder (?).
A  lápide carrega tanta informação a merecer atenção e estudo e ainda ser preservada à erosão,  para as gerações vindouras.

Simbologia Cristã: Cálice, Anjo alado, Chicote, Pregos, Lança, Escada, Coroa de Espinhos, Setas, Objetos esculpidos de Crucificação.
 
Simbologia Maçonaria: Turquês, Martelo de pedra, Maço de pedreiro.
 
O anjo alado é retratado na pia batismal na matriz de Ansião,  na capela de S. Bartolomeu no Pereiro (Pousaflores) , na pia de água benta da igreja do Rabaçal  , no arco da capela do batistério na igreja da Aguda  e na de Degracias, no púlpito da igreja de Areias.

Arte escultórica
Motivos vegetais (flores), um coração minhoto  de cada lado e losangos no meio com medalhão. 
No arco triunfal, no nicho do Altar e acima uma pedra  esculpida em forma de coração, incompleta em baixo, portanto ou foi partida ou não. Curiosamente há uma semelhante na frontaria de uma casa nas Cavadas, que se julga foi ali reutilizada.
Interior da capela  
Nunca entrei na capela.
A cantaria do altar nicho em forma de concha reporta para os finais da  centúria de 500, início de 600, pelos elementos vegetalistas na alusão ao amor/misericórdia que a Imagem de Nossa Senhora do Pranto bem esculpida disso é bem inspiradora. 
O tipo de flores reportam-me para o portal da igreja de Dornes, o portal da matriz de Ansião, a porta da sacristia da igreja velha de Almoster e do portal da capela de S. Pedro do Vale da Couda, de uma descendente Alarcão, também com corações.  O coração é típico minhoto na conotação aos afetos com origem dos seus primeiros povoadores, vindos de norte, aqui fixados com estalagens ao longo do Caminho de Santiago de Compostela. 
Em Ansião há um no pedestal do Cruzeiro ao Cimo da Rua, cujo coração é alusivo ao Espírito Santo, pela seta que o trespassava  .
                                 
E sepulturas?
                         
Relógio de Sol
No concelho só conheço este e outro na Granja, no que foi o Paço jesuíta.
                
                       
O sino
Possivelmente saiu do Engenho da Machuca. 
Necessita catalogação antes que seja tarde!
                   
O horror !
Aniquilado o belo com a escadaria em tijolo de cimento , a destruição do histórico monumental!
Destoa no contexto a escada de cimento para a courela. 
Impressionante uma aldeia de parcos habitantes e ainda assim o dono do terreno a sul a entestar com a capela apresenta  couval galego em cima das janelas laterais...
Um verdadeiro atentado ao património histórico e cultural!
O normal seria o terreno ser do adro e não couval!
Venda do Negro vista de sul
Falta estética com o poste de madeira por retirar visibilidade ao monumento
Os candeeiros de ferro forjado que foram retirados da vila de Ansião,  deviam ter sido aqui reciclados. Enobreciam a aldeia de pedra. 
À saída para sul, uma casa de estrangeiros com piscina...
               
A Venda do Negro a brilho na ficção

Agradeço o carinho do escritor Paulo Moreiras, morador em Vermoil sobre o seu romance O Ouro dos Corcundas que enobrece a Venda do Negro, na ficção, com muita pesquisa e investigação histórica no livro do Dr. Costa Simões, entre outros. A maior parte de nomes masculinos são castas de uva, os últimos parágrafos são uma alusão aos Lusíadas ao episódio do Velho do Restelo. Encerra a saída de barco para os EUA com a mesma palavra do poema épico “inveja”. Intertextualidades semeadas a gozo e do leitor, que as identificam. Enredo por volta de 1830, em cenário de guerra liberal e dos amores atribulados entre Vicente Maria Sarmento da Bufarda, de Chão de Couce, e Tomásia, órfã, que o Corregedor das Cinco Vilas, Castro Santos, não protegeu após o acidente que vitimou os pais, quando a carroça se virou lá para os lados do Carregal. Antes, a desonrou. Sozinha e perdida, tornou-se mulher da vida, na taberna do Pasquino. Só não se deitava com nenhum homem à quinta-feira quando no palco improvisado se cantava o fado (…) a Venda do Negro com cerca de uma dúzia de fogos no meio do nada, entre duas serras, esquecida do mundo e longe dos olhares curiosos, e isso era um dos trunfos que tornavam tão popular a taberna do Pasquino, alcunha do tempo de desatinos  na juventude  onde perdeu metade da língua. De seu nome Sebastião Manuel Seco, nascido e criado debaixo de uma parreira de enforcado lá para as bandas de Maças de D. Maria.  Homem de rodas curtas, largo e barrigudo, o farto bigode escondia-lhe o sorriso de rouba - a - rir. Vestido de avental de estoupa, negro de tanta nódoa de vinhaça, gostava de se virar de costas para o balcão, à guisa de mouro virado para Meca.  Aqui se juntavam mestres de língua viperina ou de trapos , onde se derretiam com as oito residentes, mulheres da vida. Comiam à tripa forra, iscas, sardinha de escabeche, orelheira ao alhinho,  morcela assada, salpicão, farrapos de presunto, azeitonas e tremoços, sempre com vinho a escorrer. Linguagem picaresca, de foros hilariantes que aguça, encanta e seduz o leitor, a salpico relembra palavras esquecidas e, aviva topónimos, a brilho da minha idolatrada Mouta Redonda, na invenção da taberna do João Ferrolho, fiel guardador de pistolas nos pipos…

Impossível não sentir o bulício frenético no vaivém de outrora com viandantes, cavalos presos em argolas de ferro sacudindo moscas e, pobres a esmolar de cabeça baixa abrigados no alpendre da capela… a embalo de pão cozido a lenha e iscas, com elas… Há património ruinal de pedra a perder-se. Na verdade era chamada "Venda dos Negros", moçárabes que fidelizaram a toponímia da aldeia onde ainda se encontram imensos vestígios da construção ancestral que deveria ser preservada e não adulterada; balcões; pedras em triângulo invertido acima do lintel das portas ou em meia lua. A aldeia merece catalogação por estar em rota de caminheiros do mundo, pelo que a JFP e a câmara deviam encetar forma de a preservar e não permitir aberrações com a construção de novas arquiteturas. Urge sensibilizar proprietários, como compradores nacionais e estrangeiros, na obrigação da traça ser mantida nas requalificações, norma que desconheço se já existe. Cuidar, é um dever para vindouros reconhecerem as memórias da tradição estalajadeira de comes e bebes e diversão; jogatina, mulheres e dormida. Local de encontro e desencontro de gente de bem e, outra de olho gordo, nas artes da sedução atraindo o forasteiro, a ganho de moedas ou o estalajadeiro que ia de noite cravar o coração do viajante para lhe roubar as libras, cf. Terras do Demo de Aquilino Ribeiro.

Um dia, dentro ou fora de portas, irão falar os ossos de quem ali padeceu. Essa sim, a verdadeira história negra, a que a da Venda do Negro, não deve ter sido exceção!


Fontes
Duas fotos da Página Facebook da Venda do Negro
Testemunho do Sr. Gomes e esposa D. Lucinda Simões 
Livro O Ouro dos Corcundas do escritor Paulo Moreiras
Livro Notícias e Memórias Paroquiais de Mário Rui Simões Rodrigues e Saul António Gomes
O livro Algumas Horas na minha Livraria de 1910 de Francisco Augusto Martins de Carvalho  a resenha do padre jesuíta na saída de Coimbra em 1834

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