sábado, 6 de setembro de 2025

Origem em Ansião ao orago S. Lourenço

Crónica publicada no Jornal Serras de Ansião em setembro de 2025

O  vulgo mosteiro, no Vale mosteiro, foi um habitat romano classificado em 2010 , cujo complexo ruinal foi reutilizado em época medieval. A crer, entre o Foral de Penela de 1137 e 1139 da batalha de Ourique  como morada de germânicos que raziam bagagem globalizada europeia; Pedro Mendes e Osório Rodrigues , dois de entre quatro vendedores  das suas parcelas ao Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, que constituiu a herdade de Ansião. A crer, os mentores do esmoliadouro, evidente em 1175 numa das escrituras, integrou o apoio caritativo no hospital peregrino que ali incrementaram, jus à etimologia misericórdia, do latim; miser  – infeliz, triste, aquele que sofre e misericors (cordis), o que é sensível à compaixão por quem sofre. No apelo ao espírito peregrino na rota do Caminho de Santiago de Compostela, a fé ao Santo espanhol S. Lourenço, cuja imagem de pedra, jaz na capela do cemitério, sem glória. Pese agraciado na toponímia e vivo na feira a 10 de agosto jus ao provérbio; o cesteiro que faz um cesto faz um cento, assim tenha verga e tempo! 

é desconhecida a origem desta feira em Ansião, apenas a notícia em 1758 do Padre Luís Cardoso, alusiva à  feira de Cernache, então frequentada por vendedores das terras vizinhas, vejamos um excerto; “hũa quasi feyra realizada no dia de S. Lourenço, que somente consta de sal, posseyros de vimes, e verguas de salgueyro para as vendimas, e pas de pao de amieyro e encinhos, para alimpar, e ajuntar os trigos, e milhos nas eyras, e alguns poucos belforinheyros com suas tendinhas, e muytos tremoços; de sorte que o principal he o sal, que ha em muyta abundância, he somente pagam de medidas hum vintém cada carro”. A informação coeva mostra-se incompleta ao topónimo  que nessa altura a sua grafia era Sernache dos Alhos,  por ser grande produtor de alhos e cebolas onde aportavam mercadores nacionais e do estrangeiro. Cebolas assadas foi alimento do exército de D. Afonso Henriques na batalha de Ourique, só por isso a batalha jamais foi travada no baixo Alentejo em Ourique, onde não havia cebolas... a probabilidade mais assertiva é ter sido travada entre a Vala de Ourique em Soure,  e Chão de Ourique em Penela. 

Ansião e a tradição da cestaria 
                   

Mantêm-se  a tradição de trabalhar o vime branco e bicolor na Torre de Vale de Todos
Presente o stand na última feira de S. Lourenço .
Pedi autorização para publicar a foto com o Dr. Jorge Fernandes publicada no Facebook, de certa forma foi entusiasmado pelo meu post; A propósito do post da Maria Isabel Coimbra, que tão bem relembra um pouco da história da cestaria em Ansião e do artesão Paulino Costa (aqui a foto antiga, retirada desse post), senti vontade de publicar uma foto das Festas do Concelho, onde estive na feira dos poceiros, ou como nós, em criança lhe chamávamos, os "peceeiros". Nesta foto até parece que estou a dar uma lição de cestaria… mas não! Apesar de ter visto muitas vezes o "Ti Zé Mau" a fazer os seus "peceeiros", nunca lhe prestei atenção suficiente para aprender. Na verdade, estava apenas a perguntar aos presentes se sabiam o que era um poceiro ou um peceeiro… e não eram muitos os que sabiam.
Felizmente, a Acr Tvt - Associação Cultural e Recreativa da Torre de Vale Todos, tem feito um trabalho notável em preservar esta arte que é nossa. Uma arte que não pode desaparecer, porque a nossa história é a nossa maior riqueza.
Obrigado à autora pela partilha da foto e da memória.
Parabéns a todos os que mantêm viva esta tradição!

Cestaria de  cana pela artesã Flor, da Bairrada. Alguns exemplares diversos


Perdida a arte e o artesão das canastras com aparas de pinho. 

                                           
O Ti Paulino Costa, de Barcelos
Aportado nos anos 30, do séc. XX, montou oficina com  ajudantes no Bairro de Santo António . 
Fazia obras de verga branca; cadeiras, mesas, poceiras redondas e ovais, cabanejos  e seirões. 

Cortesia de duas fotos cedidas pela Elisa, a sua neta do Bairro de Santo António

O Ti Paulino Costa e a sua filha Teresa, mãe da minha querida amiga Rosalina, que vive em Barcelos. A tenda no mercado na vila
Em Aquém da Ponte 

O atelier de cestaria acoberto num  modesto telheiro do “Ti Zé mau”, onde o via sentado num tripé e tanta vez na demolha do vime amarelo num poço ou a retirar para o trabalhar. O seu filho guarda exemplares, mas não tenho foto. Cachopos sem pescaria no Nabão petiscavam caracoletas assadas na companhia do mestre. A paixão pelo vime foi enraizada pelo meu pai que lhe encomendou duas cestinhas minúsculas. Estreia com azeitona para retalhar aos 8 anos pelo Natal com a minha irmã. A súbita mudança do tempo levou-nos ao abrigo no vulgo mosteiro, por um portal quebrado sob passadeira de lajes brancas. Fora a morada  do Miguel  e da esposa que um incêndio ditou imigração para o Brasil. Num canto havia uma pia de água benta e uma Cruz alta de pedra, perspetiva uma nova luz que nos dita que não foi inicialmente palco de uma capela, e sim, o sítio do primeiro hospital com oratório a S. Lourenço, a prestar apoio e  socorro caritativo à pobreza peregrina em Ansião.
Como cheguei a esta conclusão? Pelo levantamento do territorial Ladeia que premiou Ansião com caminhos que foram reutilizados pelos romanos e em época medieval. Antes da nacionalidade, a região a nascente, teve três mosteiros: Pera, Alge e Murta, como hospitais no apoio à pobreza peregrina  nas rotas de Roma, Terra Santa e de Santiago de Compostela. Só temos informação de hospitais para a Sertã, onde pelo menos foi implantado um antes da nacionalidade por germânicos, o que  galvaniza grandemente em Ansião ter sido aposta de um, cujo mérito deu origem ao seu topónimo .

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