domingo, 18 de outubro de 2015

Solar apalaçado da Quinta da Trindade no Seixal

A Quinta  Trindade encontra-se localizada a nascente da baía do Seixal  com origem nos finais do século XIV aquando da fundação de um Convento da ordem religioso-militar da Santíssima Trindade que também fundou no mesmo espaço uma ermida denominada da Boa Viagem, tendo sido doado por D. Brites Pereira, viúva do Almirante Rui de Melo e sobrinha de D. Nuno Álvares Pereira - a Quinta da Sanctíssima Trindade, como era chamada no século XVI.Ainda resistem os pilarestes na frontaria que durante um tempo delimitaram o edifício. 
A chaminé muito interessante revestida azulejos, deve ser primitiva do Convento(?).
O Terramoto de Lisboa de 1755 danificou não só a ermida mas também o Convento, embora a ermida tenha recebido durante algum tempo o sacrário com o Santíssimo Sacramento, enquanto se procedia à reparação da igreja matriz da vila.Em 1834 com o decreto de extinção das ordens religiosas em Portugal e a nacionalização dos respectivos bens a Quinta da Trindade passou a integrar a Fazenda Pública, tendo sido vendida em hasta pública ao conselheiro Joaquim Inácio de Lima que introduziu alguns melhoramentos e continuou a sua exploração agrícola.A ermida desapareceu no sentido de religiosidade, como tantas outras no concelho na sua maioria no século XX. A poente encontrei uma ruína , pode ser da antiga ermida da Boa Viagem, por ainda apresentar uma cúpula .

O jardim conta com várias espécies de árvores exóticas, das quais se destaca um dragoeiro com idade de cerca de 200 anos, uma árvore-borracheira de grande porte e palmeiras das Canárias, entre outras espécies.

Em 1908 estava na posse de Manuel Martins Gomes Júnior, conhecido como o «Rei do Lixo» dono de outro com torre acastelada em Coina para avistar outra propriedade em Alcácer do Sal, chamou a si a reconstrução do solar apalaçado e construiu ainda uma estrutura mais pequena de planta quadrada, semelhante a um pequeno castelo e por isso chamado de «Castelinho».

Por todo o edifício podemos encontrar exemplares representativos dos mais diversos géneros e tendências decorativas e significativo património azulejar, além de restos de estatuetas de Conventos, Mosteiros e Igrejas que ficaram abandonados após a extinção das Ordens Religiosas em 1834, e que Martins o «Rei do Lixo» recolheu e aplicou nesta Quinta da Trindade.
Na fachada para o Tejo há uma janela ao estilo manuelino. Caricato é que há mais de 30 anos me recordo dela e agora não a vi...Na frontaria para o Tejo apenas no torreão duas grandes janelas com o brasão e porta em ombreiras esculpidas simples. Um pequeno pavilhão neomedieval, conhecido como casinha da praia, por dar acesso direto ao rio.Só se for neste retiro com vista sobre o Tejo e Lisboa, mas que a poente está encoberto por hortas clandestinas, um fenómeno que a câmara já devia em tempo ter abolido, por descaraterizar o imóvel de interesse público.
Interessante constatar o gosto pelo património antigo na sua procura e aquisição na mesma atitude lembro o Dr Bacalhau, umas décadas mais tarde comprou as pedras da casa que foi do Gulbenkian onde se fez o Hotel Sherton, para na sua terra na serra do Espinhal em Miranda do Corvo realizar um sonho que a morte o surpreendeu antes da obra finalizada. 
"Percorrer os dois andares do edifício principal da Quinta da Trindade é, ao mesmo tempo, fazer uma viagem pela história da azulejaria em Portugal. Trata-se de um espólio riquíssimo, de cerca de 8000 azulejos, com uma abrangência cronológica bastante ampla. 
Na quinta dos finais do século XIV encontram-se azulejos hispano-árabes do século XV, enxaquetados do século XVI, azulejos de padrão do século XVII, raríssimos painéis de transição da policromia para os azulejos azuis e brancos dos finais desse mesmo século"
Na frontaria um painel com o topónimo da Quinta da Trindade,da fábrica Lusitânia, já do século XX.
"De origem, o palacete tem  pinturas setecentistas com elementos arquitetónicos de várias épocas, e uma sala  com teto de madeira  policroma, no espaço que se julga ter sido uma pequena sala de leitura do Convento, com cenas mitológicas da «Concórdia e Discórdia», e que foi restaurado após a posse da autarquia. Merece ainda destaque os exteriores com elementos diversos, como um brasão pertencente à família Noronha."

Um pombal octogonal(?)
Depois da morte do «Rei do Lixo» o palacete passou para a posse da filha, Cibele Martins Gomes Duarte.Segundo o comentário de Sérgio Montez  a CMS veio depois a comprar a quinta a outros particulares e o PS teve usufruto em 1975, já com o edifício residencial classificado como Imóvel de Interesse Público (1971).
Derrube de uma antiga fábrica que estava adossada ao palacete.



Curioso as telhas terem sido fabricadas na fábrica de PALENÇA, na margem sul do Tejo, talvegue do Vale de Palença (Almada)
Masterplan
Palacete
Onze condomínios fechados
Centro de estágio do Benfica
"Em 1982 iniciam-se os primeiros estudos para o processo de urbanização desta  zona. O projeto urbanístico final – da autoria do gabinete Pedro George e Associados – conduziu a que uma parte da Quinta (a que encerra o jardim e o edifício residencial) fosse municipalizada e integrasse Ecomuseu do Seixal. A restante área destinou-se a múltiplos usos, entre eles, o Centro de Estágios do Sport Lisboa e Benfica, a futura Cidade Desportiva do  Seixal, um empreendimento residencial homónimo – constituído por vários quarteirões, zonas comuns para praticar desporto, ciclovia e áreas privativas para cada quarteirão que incluem parques infantis – para além de vastos espaços verdes e de interacção com o Rio Tejo e o esteiro de  Coina."
Citando http://a-sul.blogspot.pt/ 
"Quantas crianças desfavorecidas têm frequentado o Centro de Estágios do Benfica ao abrigo do protocolo que permitiu a instalação daquela estrutura e de mais 24 hectares de construção em terrenos parte reserva Agrícola e Ecológica?"

A câmara dona do imóvel devia sem demora proceder à limpeza em redor, murar como deve ser, dando vida ao palacete, restaurar o pombal e a ermida para visitas e uma parte do solar apalaçado a ser explorada como hotel de charme (?) aproveitando a vizinhança rica do Benfica , algo que dê lucro para as despesas de manutenção de todo o espaço, e assim dignificar o local pela beleza idílica na frente da capital em chamar o turismo por estar enquadrada numa urbanização de luxo, sendo o luxo a excelência paradisíaca das águas calmas do Tejo e dos seus emblemáticos moinhos de maré em franca agonia como a emblemática estação de caminho de ferro que deveria voltar a ter vida...
O Seixal tornou-se um misto de aberração construída após o 25 de abril com desprezo pelo património herdado e o novo como o Mercado, modelo sem estética, nem vida, a morrer...
Tendo a vila e hoje cidade recebido uma herança de quintas solares e palacetes como outra igual é difícil atestar onde ainda proliferam esqueletos de fábricas e casario em abandono...
Acompanho de longe a evolução positiva da  viragem lenta na requalificação da quinta da Fidalga em que a renovação da frente ribeirinha me deixou triste pelo abandono do jardim onde tanta vez levei a minha filha para brincar e ver os patos no lago -  lugar de emoções e afectos, e o ver transformado em parque verde...A mudança implica atenção no fiel da balança em dosear o peso do passado e o futuro onde a atenção e valorização do património deve manter o equilíbrio estético na paisagem, e claro as acessibilidades , para mim o maior busílis. 
Em 28.02.2019 o comentário de Sérgio Montez  -actualmente o espaço é conhecido como arquivo histórico do Ecomuseu mas será no futuro um hotel , afinal a mensagem que deixei quando escrevi a crónica em outubro de 2015...

Fontes
Wikipedia
http://www.cm-seixal.pt/
http://www.quintadatrindade.com/

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