Desde sempre no hábito no " Dia de Todos os Santos" quando estou por Ansião o privilégio da visita ao cemitério, no gosto apreciar a grande azáfama e romaria das gentes que desde cedo ali aportam com braçadas de flores para enfeitar as campas e jazigos dos seus entes queridos. E é assim ao longo de todo o dia, depois muitas como eu voltam pelo entardecer para acender as velas. Neste ano sem exceção fui de manhã com a minha mãe enfeitar a campa do meu pai, tendo voltado pelas cinco da tarde em passo de passeio antes do anoitecer, ainda estavam os vendedores de flores, falei com a Laurinda, a quem perguntei se o negócio correu bem e ao entrar ao portão dei conta que àquela hora ainda repleto de muita gente, com o passeio público em grande vaivém , desde sempre o melhor ponto de encontro de quem entra com quem sai, num cumprimento, matar saudades e saber da saúde dos vivos. Distingui muitos conhecidos,o Sr. Fernando Silva de muletas, não sei o que o atazana neste mau estar, a quem desejo rápidas melhoras, falei com o Antero Morgado em rota de saída da visita à campa dos pais, troquei dois dedos de conversa com a Odete Antunes, acendia as velas na campa dos progenitores, já eu é que acendi as velas ao Jorge Cardoso, rapaz sem jeito armado de isqueiro, embora protegido com o portal do jazigo do Dr Faveiro, se mostrava ineficaz, o mesmo da Clara Marnifas, trazia fósforos de meio metro dos chineses, debalde não faziam faísca...Tabelei conversa com a Tina Faveiro, as vezes que esta mulher neste dia aqui veio à campa do seu querido filho Luís, distingui ao longe a D. Fernanda Duarte, a contínua na escola primária, de esguelha cumprimentei a Fátima e irmãos, filhos do "Ti João do sol posto" do Casal de S. Brás, na visita breve à campa da irmã que morreu jovem, sepultada no espaço dedicado às crianças, também ao longe vi as filhas do Ti Rafael da Garriaza, e tanta, tanta outra gente. Junto da capela encontrei o Carlitos Parolo a conversar com o coveiro, atrasada vinha a esposa Helena e a filha, depois dos cumprimentos, se foram encaminhando para a saída, ficando ele preso na tabela da pergunta que ao coveiro sobre o motivo da capela estar fechada, ao que me responde que o dia de estar aberta era no dia seguinte, ainda assim me questiona se gostava de a ver, a que respondi - há muitos anos que entrei, mal me recordo, era para tentar descobrir algo que me levasse a crer poder estar edificada sobre a primitiva Igreja (?), apenas uma mera suposição!
O Sr. Mateus, homem franzino de estatura, bom ouvinte, educado, se foi confessando no desenrolar da conversa ser um homem sentimental, houve uma altura que as lágrimas lhe chegaram a lacrimejar, com tamanha emoção quando desatei a falar da Granja e das ruínas do que foi um Paço Jesuíta, e mais tarde foi pertença do Bispado de Coimbra, neste falar da sua terra, sem o saber sequer, fez-se claro, este bom homem ao sentir uma desconhecida assim destemida a falar da sua terra com tanta clareza, lança-me a pergunta - viu o relógio de sol? A que prazenteira, respondi - quando visitei o local pela primeira vez era um mar de silvedo, impossível chegar perto, havia de voltar mais tarde e por incrível que pareça estava de certa forma limpo e mais acessível a entrada, tentei fotografar e de fato andei à procura do relógio, mas não o encontrei, a minha mãe que geralmente me acompanha nestas aventuras, amedrontou-se com a minha demora, só chamava por mim com receio que pudesse cair, com isso desisti, na certeza de mais tarde voltar. Em casa perante as fotos que registei, julgo que o relógio esteja inserido num pedestal virado a sul, no gaveto das arcadas, a que me responde com satisfação-, é sim senhora!
O homem não se continha de satisfação, e de novo lança oura pergunta, se conhecia o pombal? - respondi que foi por acaso que no meio do terreno tentei descobrir o que era uma casa redonda envolta numa coroa de hera e silvas que arredei na porta aberta e olhando o interior descobri ser um pombal com poiais em pedra branca para poiso dos pombos- diz-me ele, um dia destes vou limpar aquilo e vou lá pôr pombos...
A capela do Paço da Granja foi sita no r/c, sobre a porta da entrada existe uma inscrição em latim.
Confirmou que sim e que chegou a conhecer a casa ainda telhada.
O Sr. Mateus, homem franzino de estatura, bom ouvinte, educado, se foi confessando no desenrolar da conversa ser um homem sentimental, houve uma altura que as lágrimas lhe chegaram a lacrimejar, com tamanha emoção quando desatei a falar da Granja e das ruínas do que foi um Paço Jesuíta, e mais tarde foi pertença do Bispado de Coimbra, neste falar da sua terra, sem o saber sequer, fez-se claro, este bom homem ao sentir uma desconhecida assim destemida a falar da sua terra com tanta clareza, lança-me a pergunta - viu o relógio de sol? A que prazenteira, respondi - quando visitei o local pela primeira vez era um mar de silvedo, impossível chegar perto, havia de voltar mais tarde e por incrível que pareça estava de certa forma limpo e mais acessível a entrada, tentei fotografar e de fato andei à procura do relógio, mas não o encontrei, a minha mãe que geralmente me acompanha nestas aventuras, amedrontou-se com a minha demora, só chamava por mim com receio que pudesse cair, com isso desisti, na certeza de mais tarde voltar. Em casa perante as fotos que registei, julgo que o relógio esteja inserido num pedestal virado a sul, no gaveto das arcadas, a que me responde com satisfação-, é sim senhora!
A capela do Paço da Granja foi sita no r/c, sobre a porta da entrada existe uma inscrição em latim.
Confirmou que sim e que chegou a conhecer a casa ainda telhada.
Distingui nas paredes viradas a sul umas cavidades na parede que poderiam ter sido altares(?)
Falando desta capela, fácil me interrogar sobre o paradeiro das imagens dos Santos ? Sendo que a Capela da Orada precisamente na Granja, foi Matriz até ao século XIX, para se mudar para o coração de Santiago da Guarda.
Recordo a década de 70 da obra de reconstrução da nova Igreja de Santiago da Guarda, reedificada após o incêndio na década de sessenta, e bem me lembro da sua ocorrência, o Padre Ramos, era ao tempo meu Professor de Português. O mestre de obras foi o pai do meu colega do Externato, o João Bicho do Graminhal.
Supostamente depois de concluída houve nova redistribuição de imagens(?).
Numa visita à anos à Matriz de Santiago da Guarda, reparei que existem dois Santos em pedra, bem antigos na Igreja.
Supostamente depois de concluída houve nova redistribuição de imagens(?).
Numa visita à anos à Matriz de Santiago da Guarda, reparei que existem dois Santos em pedra, bem antigos na Igreja.
Segundo informação do Padre Ventura de Ansião, "as imagens serão da Igreja antiga construída no século XVI, vieram por isso da Capela da Orada."
Sim, à primeira impressão o parece, sem descuidar o paço jesuíta também teve a sua paroquia e Imagens, e pelo tamanho e antiguidade, podem aventar ter sido do seu espólio e não da igreja da Orada, que manteve o seu até a Imagem depois de 80 desaparecer de Nossa Senhora da Orada...
Sim, à primeira impressão o parece, sem descuidar o paço jesuíta também teve a sua paroquia e Imagens, e pelo tamanho e antiguidade, podem aventar ter sido do seu espólio e não da igreja da Orada, que manteve o seu até a Imagem depois de 80 desaparecer de Nossa Senhora da Orada...
Porém surge uma dúvida que se mostra pertinente, em saber se a Imagem do padroeiro, São Tiago, fotografado por Gustavo Sequeira em 1955 para o Inventário Artístico de Portugal, se está na Matriz, ou guardado na Orada. Segundo confidenciou o coveiro, uma nossa comum amiga, lhe terá dito que está aqui na Capela da Orada na Granja...
Capela da Orada
Sem ser especialista, apenas especulo este gosto de aspirante sobre o património religioso com Imagens quinhentistas expostas e em reservas molestado, na desproporção abismal, a indiciar que no mesmo tem de estar incorporado o espólio da capela do Paço da Granja, o mais plausível.
Sem ser especialista, apenas especulo este gosto de aspirante sobre o património religioso com Imagens quinhentistas expostas e em reservas molestado, na desproporção abismal, a indiciar que no mesmo tem de estar incorporado o espólio da capela do Paço da Granja, o mais plausível.
A noite fazia-se anunciar e ao longo do passeio público a vontade em abandonar o dormitório dos mortos, e por todo o lado senti ambiente em montra radioso pelas luzes que se misturavam em deslumbre com tanto enfeite florido a rivalizar festival de chuva luminosa de estarrecer o coração, imagem bela de ser vista e revista pela candura em mil luzes, os brilhos que tremiam, cenário extraordinário, e outro assim igual jamais vivi .... Antes , depois do almoço fui visitar o dormitório velho de Pousaflores , sem ninguém e depois no novo distingui apenas meia dúzia de gente, apesar de bem enfeitado, o que revela na equação, as gentes de Ansião gostam de estar em permanência com os seus, ver as demais campas, conversar e assim é que deve ser este dia passado, um dia dedicado aos defuntos, estar junto deles até a noite cair, o que fiz.
Com o Sr Mateus recordámos o poço que aqui havia, jamais deveria ter sido entupido, supostamente primitivo, quiçá podia contar estórias da hipotética ligação ao túnel que sempre se especulou haver de ligação ao Mosteiro (?). Chegados ao jazigo mais antigo, em pedra, ao estilo gótico, o mesmo clama atenção para a reposição do remate do lado direito ao topo, de forma triangular com folhas que se partiu e jaz abandonado no degrau da porta, diz-me ele, já viu se caia em cima de alguém? Na lateral exibe lápide não poder ser mudado, mandado erigir por um D João Mascarenhas Velasquez e Alarcão, diz ter sido natural de Ansião, dúvida, que já antes discutira com o Antero Morgado, que me falou que já leu sobre o assunto, mas no momento não se recordava, já eu aventei que este nome de família conheço nascida no Espinhal, e não aqui, dizia o Sr. Mateus, olhe que é de Santarém...
Lancei de novo a discussão ao Sr. Mateus, defendo que a primeira Igreja já erigida antes de 1259, o sítio ou foi na atual capela, ou foi algures por aqui neste canto, atendendo aos muros, a norte não se mostra inteiriço, o de baixo pode ser ainda restos do primitivo (?) e a poente não é direito, sendo que a estrada lhe confina, é no mínimo estranho, dizia ele, já aqui estou há 15 anos e quando abri a campa com 1,60 de profundidade do poeta e escritor, teve mais de 2000 contos de flores, só encontrei ossadas até ao fundo, que lá as deixei todas...supostamente evidencia ter encontrado ossadas das sepulturas anteriores, e mais abaixo outras mais antigas, ainda do cemitério medieval, e bem podiam ter sido sepultados dentro da Igreja e ali podia ter sido o local, ou não e na parte do cemitério novo, mais alto... Relembrei que o culto foi aqui abandonado depois de 1593 e em 1623, precisamente 28 anos depois Severim Faria, havia de escrever em 1625 aquando da sua visita com o tio, chantre em Évora, de onde saíram para visitar três Santuários com paragem em Maçãs de D. Maria, onde vivia uma irmã de Severim, aqui comeram e beberam do melhor, para partir na direção à Constantina, o primeiro Santuário ( a lenda da Fonte Santa ocorrida em 1623 e dois anos após já corria longe o milagre, narrando o autor "que o povo não tendo Imagem para a capela e havendo uma na sacristia da matriz em Ansião, a foram buscar de noite sem que os Ansos, se dessem conta porque eram muito ligados à Imagem" e difere de outra menção o povo encontrou nos escombros desta primitiva Igreja uma Imagem da Senhora da Paz, que a levou em procissão para a Constantina, e fez erguer uma capela...
Os meus ouvintes visivelmente deslumbrados com tanta informação histórica da nossa terra se mostravam estes atentos e curiosos.Chegados ao portão do cemitério na hora do formalismo da despedida, o bom homem, o Sr Mateus, quando lhe estendi a mão me surpreende em ato acometido de emoção, a elevando aos lábios e as beija por duas vezes...Atitude inesperada, outra linguagem não tem, senão, de que o bom homem no seu achar me confundiu por historiadora, arqueóloga ou jornalista, na arte mayor de algo fazer ainda pela sua terra (?), a Granja, sabendo que gente por lá tem andado a fazer perguntas, ora nada mais do que o resulto no meu direito de cidadania elaborado em crónica neste Blog, corroborado por fotos que desde sempre desencadeou forte visualização e antes ninguém lhe destacou o mérito assim destacado.
Ainda lhe pergunto se não fecha o portão...
Responde- fica aberto...Fascinante, para quem ainda de noite quisesse vir ver os seus, podia!
Com o Sr Mateus recordámos o poço que aqui havia, jamais deveria ter sido entupido, supostamente primitivo, quiçá podia contar estórias da hipotética ligação ao túnel que sempre se especulou haver de ligação ao Mosteiro (?). Chegados ao jazigo mais antigo, em pedra, ao estilo gótico, o mesmo clama atenção para a reposição do remate do lado direito ao topo, de forma triangular com folhas que se partiu e jaz abandonado no degrau da porta, diz-me ele, já viu se caia em cima de alguém? Na lateral exibe lápide não poder ser mudado, mandado erigir por um D João Mascarenhas Velasquez e Alarcão, diz ter sido natural de Ansião, dúvida, que já antes discutira com o Antero Morgado, que me falou que já leu sobre o assunto, mas no momento não se recordava, já eu aventei que este nome de família conheço nascida no Espinhal, e não aqui, dizia o Sr. Mateus, olhe que é de Santarém...
Lancei de novo a discussão ao Sr. Mateus, defendo que a primeira Igreja já erigida antes de 1259, o sítio ou foi na atual capela, ou foi algures por aqui neste canto, atendendo aos muros, a norte não se mostra inteiriço, o de baixo pode ser ainda restos do primitivo (?) e a poente não é direito, sendo que a estrada lhe confina, é no mínimo estranho, dizia ele, já aqui estou há 15 anos e quando abri a campa com 1,60 de profundidade do poeta e escritor, teve mais de 2000 contos de flores, só encontrei ossadas até ao fundo, que lá as deixei todas...supostamente evidencia ter encontrado ossadas das sepulturas anteriores, e mais abaixo outras mais antigas, ainda do cemitério medieval, e bem podiam ter sido sepultados dentro da Igreja e ali podia ter sido o local, ou não e na parte do cemitério novo, mais alto... Relembrei que o culto foi aqui abandonado depois de 1593 e em 1623, precisamente 28 anos depois Severim Faria, havia de escrever em 1625 aquando da sua visita com o tio, chantre em Évora, de onde saíram para visitar três Santuários com paragem em Maçãs de D. Maria, onde vivia uma irmã de Severim, aqui comeram e beberam do melhor, para partir na direção à Constantina, o primeiro Santuário ( a lenda da Fonte Santa ocorrida em 1623 e dois anos após já corria longe o milagre, narrando o autor "que o povo não tendo Imagem para a capela e havendo uma na sacristia da matriz em Ansião, a foram buscar de noite sem que os Ansos, se dessem conta porque eram muito ligados à Imagem" e difere de outra menção o povo encontrou nos escombros desta primitiva Igreja uma Imagem da Senhora da Paz, que a levou em procissão para a Constantina, e fez erguer uma capela...
Os meus ouvintes visivelmente deslumbrados com tanta informação histórica da nossa terra se mostravam estes atentos e curiosos.Chegados ao portão do cemitério na hora do formalismo da despedida, o bom homem, o Sr Mateus, quando lhe estendi a mão me surpreende em ato acometido de emoção, a elevando aos lábios e as beija por duas vezes...Atitude inesperada, outra linguagem não tem, senão, de que o bom homem no seu achar me confundiu por historiadora, arqueóloga ou jornalista, na arte mayor de algo fazer ainda pela sua terra (?), a Granja, sabendo que gente por lá tem andado a fazer perguntas, ora nada mais do que o resulto no meu direito de cidadania elaborado em crónica neste Blog, corroborado por fotos que desde sempre desencadeou forte visualização e antes ninguém lhe destacou o mérito assim destacado.
Naquela escadaria de meia lua ficou firmado acordo para novo encontro para o verão para mais uma discussão de coisas e saberes.Bem haja Sr. Mateus, por ser um homem simples que conheceu meio mundo, dono de uma alma grande, agora mais desperto para olhar para a terra, quando a escava, para nela descobrir fragmentos de cerâmica, vidro, faiança, moedas, tudo o que lhe chamar a atenção, para mais se saber deste sítio que foi no passado o palco do burgo da vila de Ansião. Acorda o Carlitos Parolo, por isso no funeral da Ti Albertina do Escampado de S. Miguel foste com o Sr padre José Eduardo Coutinho, até uma campa aberta... exatamente, foi mostrar-me os fragmentos que habitualmente aqui aparecem e que já descrevi, de origem medieval e outros romanos...
Ainda lhe pergunto se não fecha o portão...
Responde- fica aberto...Fascinante, para quem ainda de noite quisesse vir ver os seus, podia!