segunda-feira, 8 de março de 2010

Falar de Cristos

Passei a maior parte da minha vida a não apreciar a imagem de Cristo pregado na Cruz. Nunca aprofundei os porquês.No entanto gosto imenso de arte sacra - da imagem de Santos.

Há uns anos conheci os Cristos do pintor Artur Bual , aos poucos comecei a mudar de opinião.
Um belo dia o meu marido encontrou um Cristo em latão, embrulhado num envelope numa gaveta da sua avó Rosa.Já não tinha Cruz, decidimos no seu restauro a título de homenagem.Fomos para a rua à procura de madeira que encontrámos num vazadouro de obras - restos de estendal, enquanto ele fez a Cruz, ariei a imagem, e decidi enfeitá-lo como se usa no norte na zona de Braga, em jeito de imitação como aliás tinha visto na televisão.Prendi um arame às 4 pontas da Cruz onde previamente enfiei flores brancas e azuis artificiais mui delicadas. Por detrás do fio colei uma fita de seda larga branca cujas pontas aos pés da Cruz se entrelaçam num laço.
Coloquei-a por cima do meu oratório na casa de província.
Adoro-o!
O Cristo junto da capela na frente da casa dos mesu pais 
Seguramente há imagens de Cristo mais emblemáticos, autênticos, espectaculares, que alguma vez tive o privilégio de apreciar.
Mas este é o meu e o outro emprestado quando vou a Ansião a casa da minha mãe!

sexta-feira, 5 de março de 2010

Pasteis de massa tenra de Vinhais

Receita dos pastéis de massa tenra da tia do Luis 
Pasteis de massa tenra da tia Chica

1- A Massa

500 gr de farinha

100 gr de margarina
100 gr de banha
2 ovos inteiros

Põe-se a farinha na mesa. Ponha cerca de meio copo de água quente com sal e desfaça a farinha com a mão, misturando-a.As gorduras previamente derretidas são misturadas na massa com os ovos.
  • Amassa-se muito bem num movimento vertical, levantando-a com a mão e polvilhando-a com farinha. Para ver se está boa, consistente, esticasse-a um pouco com os dedos e só quando se apresentar elástica é que estará boa.Se não abrir precisa de mais farinha. Descansa uma hora coberta com um pano.
Com o rolo da massa estendo-a e vou desenhando círculos, numa uma das metades do círculo coloque o recheio e depois dobre e então corta o pastel.

Depois pode-se fritar em óleo quente.


2 – o recheio


Usa-se meio kilo de carne picada a que se juntou um bocadinho de presunto picado. Temperar com alho e sal grosso.
Fazer o refogado com cebola. Deitar a carne e refoga-la.
No fim, cozem-se dois ovos. Corta-se os ditos ovos aos bocadinhos e misturam-se ao picado, com a ajuda de um garfo, para não desfazer o ovo, mas só no momento final do refogado.

  • Deliciem-se, na tradição em Vinhais eram feitos pelo Carnaval!


Admirável a postura cavalheiresca , também da partilha do segredo da receita de família. Um gesto inegável de um homem com muita classe, sem egoísmos. 
Adorei conhecer esta sua faceta, só possível porque lhe lancei o desafio.
Bem haja Luís Montalvão  descendente de Vinhais e do Outeiro Seco, de famílias aristocráticas.

Marguerite Yourcenar e as máscaras na mulher!

Descobrir Yourcenar e as máscaras, em mulheres e homens que gostam de sentir o feminino!
O enigma do uso de  Y de Yourcenar
Ruína de uma igreja na Trafaria
Citando o comentário à foto de um  amigo
"Adorei a imagem de abertura com a igreja em ruínas. A decadência e a ruína tem por vezes uma beleza lancinante.
A Yourcenar lá dizia que o tempo era um grande escultor, porque imprimia com a sua patina, as suas facturas, um trabalho original e novo na obra do artista. "A Marguerite Yourcenar é de facto uma escritora com uma capacidade de perceber e desvendar a alma humana excepcionais. Quem a leu escreve as suas histórias familiares vagamente inspiradas na forma como ela escreveu as suas próprias memórias de família, um dos livros mais bem escritos, que eu já li. Para fazer a trilogia familiar (I Souvenirs pieux; II Archives du Nord; III Quoi? L'éternité) a Yourcenar teve previamente que fazer uma genealogia, mas como só conseguiu obter as datas de morte e nascimento dos antepassados, resolveu assumidamente inventar o resto, baseando-se para isso nos amplos conhecimentos de História e da alma humana que tinha e o resultado, foi um romance excepcional e simultaneamente um ensaio de história, muito mais inspirado que a maioria dos manuais académicos. Claro, além das ideias excepcionais, a Yourcenar escrevia com uma precisão e um simplicidade notáveis vindas da tradição do classicismo francês."
 Sem querer tornar-me  ridícula corroboro na integra o pensamento que passo a citar :
"A Yourcenar dizia que nunca escreveria sobre uma mulher, porque ela tem tantas máscaras, uma familiar, uma pública e ainda outra como amante que é impossível discernir e adivinhar o seu verdadeiro Eu." 
Pois assim é!
Algo em si exala ser transcendente, magnânimo e enciclopédico, sem falsa modéstia, direi há qualquer coisa no pensar da Yourcenar em si...será que acabo de descobrir o enigma do anacrama imperfeito no gosto do uso Y?

Marguerite de Crayencour nasceu em Bruxelas em 1903 numa família aristocrática, de mãe belga , que morreu dias depois do seu nascimento, e de pai francês. Desde muito cedo aprendeu inglês, latim e grego. Em 1914 parte com o pai para Paris e, desde essa altura, a maior parte da sua vida vai vivê-la em viagens, sobretudo através da Itália e da Grécia. Começou a escrever na adolescência e continuou a fazê-lo depois da morte do pai que a deixou numa situação financeira confortável. Levou vida de nómada até ao eclodir da 2ª Guerra Mundial, altura em que se fixou nos Estados Unidos. Naturalizou-se americana em 1947. 
O nome Yourcenar é um anagrama imperfeito do seu nome original Crayencour. 
As obras literárias de Yourcenar são notáveis pelo seu estilo clássico, a sua erudição e subtileza psicológica. Nos seus livros mais importantes, recria eras e personagens do passado, meditando sobre o destino humano, a moralidade e o poder. A sua obra prima Memórias de Adriano (1951) é um romance histórico sobre as memórias fictícias do imperador do século II . Outro romance histórico, A Obra ao Negro (1968) é uma biografia imaginária de um alquimista e erudito do século XVI. Yourcenar traduziu numerosos romances ingleses e americanos para a língua francesa. Em 1981 torna-se a primeira mulher membro da Academia Francesa, instituído em 1635 por Richelieu. Para se ser membro da Academia Francesa é necessário ter a nacionalidade francesa. Yourcenar tinha-se tornado americana, no entanto, o Presidente da República Francesa concedeu-lhe a dupla nacionalidade em 1979. Em Outubro de 1987, foi-lhe atribuído o Grande Prémio Escritor Europeu do Ano, em Estrasburgo, durante o I Festival Europeu de Escritores. 
Não se assumindo como fazendo parte de nenhuma corrente literária, Marguerite Yourcenar é mundialmente consagrada como uma das maiores escritoras contemporâneas.

Albufeira, as minhas férias em 2009

Armação de Pera
 
 Portimão
 Albufeira
 
    Visita ás grutas
Saudades do prazer de andar descalça sobre as falésias desde a praia dos pescadores em Albufeira até à praia de Sta Eulália...tantas praias, Inatel, Azul, Alemães, Aveiros, Oura. Cansativo ouvir o sotaque dos vendedores brasileiros, "Olha a bolinha"" Língua da sogra" " Pastéis de amêndoas", tantos que o corropio de vaivém incomodava, fomos embora.
Tantos dias passados ainda sinto a planta dos pés a latejar. Paisagens magníficas, contrates de argilas amarelas, calcários ocre e gesso lilás.Arribas deslumbrantes, esculturas feitas pela erosão e as ondas do mar, autênticos óculos abertos no topo das rochas a imitar as rosáceas típicas dos monumentos góticos. Percorremos todos os carreirinhos, encontrámos muita gente a fazer o mesmo. Areias infinitas em contrates de grão, ora fino ora mais grosso, pedrinhas muitas, e rochas com aberturas a imitar arcos...viajámos em barco a motor desde Albufeira até à praia da Coelha, onde o Cavaco Silva tem a sua casa de praia, foi delirante observar do mar a costa, entrar nas grutas, apreciar retiros de praias únicas, pequenas, quiçá particulares...adorámos!
Com o programa Polis -, Albufeira mudou de cara, o miradouro foi reformulado com varandim em inox, bancos sob telheiros em ripas de madeira para enganar o sol e escadas rolantes, sempre cheias de gente vestida de todas as cores. 
A baixa repleta de bares superlotados de pessoas, música, vendedores de artesanato, caipirinhas, capiroskas, mujitos, sorvetes com palhinhas de metro...filas enormes para os táxi. Não resistimos comer "Fish and chips", escolhemos por mero acaso um bar no centro da praça, muito típico todo feito com a madeira de um barco que deu à costa, gostámos do empregado, simpático. À noite visitámos o Museu de Arqueologia na parte velha. Esperava encontrar mais artefactos...
No último dia fomos até Vilamoura. 
Percorremos a praia desde o molhe da marina até à praia da Falésia, uma imensidão de areal a perder de vista, vê-se metade do Algarve!
Loulé
Tínhamos a rota traçada para ir a Loulé almoçar, caro mas bom, sargo grelhado.
A vila preparava-se para a festa a" A Noite Branca", as ruas engalanadas com grandes faixas de cetim brancas, máscaras de teatro, montras, coreto, muitos palcos espalhados para espectáculos, no recinto do castelo estavam a idealizar um bar tipo marroquino com camas, almofadões. 
 

Aproveitei e tirei à socapa uma foto deitada num crocodilo em madeira.
 
Gostámos da vila, do mercado ao estilo árabe de torres com abóbadas, original, muito bonito.Uma rua de comércio toda coberta com toldos de várias cores cortados em triângulo em jeito de velas, presos nas casas que servem para cortar o calor tornando o ambiente sedutor no contraste com a calçada portuguesa de lindos desenhos.
O calor apertava, decidimos ir a banhos a Quarteira...não gostámos, embora tenham havido melhoramentos, a zona da lota está na mesma, muito lixo, tudo muito mal amanhado, mistura de anexos e casas velhas com empreendimentos novos.
De regresso a casa Forte de S. João, apreciámos a Quinta da Balaia e Montechoro. Estacionámos fomos a casa e de seguida quisemos ainda ir dizer adeus à nossa praia de todos os dias.
Sempre a pé até Albufeira onde tomámos  um banho muito bom, o mar estava demais, saímos ao anoitecer da praia foi de arromba a despedida das mini férias algarvias...
Sem antes lançar um último olhar de soslaio para os lados de Vila Real de Santo António...Deveras cansados, à noite apenas demos uma volta ao quarteirão para dormir melhor. Acordámos de manhã cedo e durante 2 horas limpámos tudo e viemos embora. 
Foi uma viagem espectacular, nada maçadora. Incrível viemos almoçar a casa.Foram umas férias a não esquecer!
Ah, tinha levado uma caixa com figos pingo mel de uma figueira que plantei no jardim da casa da minha irmã, comeram-se alguns, os outros com o calor começaram a ficar com mau aspecto, decidi secá-los, afinal estava no Algarve... Resulto de passas muito boas.Não gosto de deitar nada fora. Será um defeito?

Serra de Janeanes no Maciço de Sicó

Salpicadas por todo o lado cancelas frágeis de madeira a tapar courelas de pedras...
Há cenários idílicos no Maciço de Sicó, locais que adoro onde vou frequentemente. Existem muitas geoformas cársicas, dolinas, a que o povo chama lagoas  retêm as águas das chuvas.
Foto tirada no 15 de agosto de 2012 na Chanca na serra de Janeanes
A minha terra de adopção Ansião,  situa-se o limítrofe nas faldas da aba do Maciço a sul de Sicó onde vivi até aos 20 anos e onde mantenho no concelho duas casas . Muitas vezes vou almoçar a restaurantes espalhados pela serra na Senhora da Estrela (Degracias, Alvorge e Redinha). Vejo com agrado a descoberta de novas pessoas por aquelas aldeias espalhadas pelas serranias a fazer escalada e ciclistas. Pior é passar de carro por entre eles naquelas estradas estreitas. Cada vez mais é procurada por gentes de fora para apreciar raras belezas de tantos contrastes ,sobretudo das pedras de calcário esculpidas pela erosão, ali tão à mão, perco-me a procurá-las  semeadas nas veredas com muros de pedra solta e lapiaz. 
Muito gostava eu de ir à feira das nozes no S. Mateus a Soure. Encantava-me o castelo ao nível do terreno,o primeiro que assim conheci, depois foi o de Torres Novas, habituada a vê-los sempre em cima dos morros. Toda a região tem muita história e uma beleza incomum das serras, outeiros e cumeadas , apesar da serra nas Degracias em parte esventrada pela pedreira, com longos vales e a rebentação do rio Anços na Redinha, vila muito antiga com vestígios romanos e grutas com pinturas rupestres, já em Soure, a planura de aluvião, estudei em Pombal com vários colegas daqui. A minha despedida de solteira aconteceu em Vila Nova de Anços.
Gado caprino e ovino, uma riqueza de Sicó
Serra de Janeanes com o moinho de madeira caraterístico desta região e os muros de pedra seca
Capela do Casal do Barril
Mera hipótese da semelhança da arquitetura da capela do Casal do Barril com com as da antiga Índia pode ter consistência.
Pena tenho eu de nada saber sobre a capela do Casal do Barril.De facto é muito bonita. Vale a pena quando a visitar novamente tentar falar com alguém da aldeia mais velho e perceber mais sobre a sua origem. Melhor seria se lá se conseguir entrar e poder observar se o chão é em lajes de pedra, um factor que atesta a sua antiguidade (?). As capelas naquela zona da Beira Litoral datam da época de 1600 
( Guia, Pombal, Alvorge, Ansião) . As que resistiram ao tempo, o povo sem conhecimento cultural as foi como pode reconstruindo, sendo tarefa e dever dos padres que só pensavam nas paroquianas encalhadas, e elas neles e sempre estiveram de fora nestas coisas da cultura que deveria ser o seu oficio além de manter o rebanho na fé pelos estudos filosóficos nunca se mostraram capazes de preservar este tipo de património, tão pouco divulgar . O que indicia terem negligenciado esta capela lindíssima em prol de uma nova... 
Sempre fomos um povo de emigração com o sentido de voltar e mostrar a riqueza adquirida. O que faziam era imitar casas onde tinham vivido. hoje de Pombal até Leiria, de forte emigração podem-se observar casas com telhados super inclinados típicos de neve e outras aberrações descontextualizadas na arquitectura da região. Mas não é o caso da capela, quem a mandou erigir tinha gosto refinado à  traça tradicional usando o tom ocre na bordadura típico da Beira Litoral , que se dizia ser a cor dos judeus, ainda  tão perseverante hoje na Beira Baixa em Constância,Sardoal e,...

Muros de pedra seca delimitam os terrenos de minifúndio na região

Há tanto para conhecer e descobrir pelo grande Maciço de Sicó!

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Rectrospectiva de Portugal antes e depois do 25 de Abril

Uma retrospectiva do Portugal de ontem e de hoje -, ou seja antes e depois do 25 de Abril de 1974.
A revolução dos cravos derrubou o governo fascista de Salazar. 
O povo vivia até então em opressão, 40% da população era analfabeta, a rede de escolas não cobria todo o país, dispunham de poucas condições como refeitórios e ginásios para aulas de educação física, apenas disponível em poucas cidades.
Foi o fim da clandestinidade daqueles que não aceitavam o regime, da guerra colonial e do isolamento internacional.
Enquanto nos países europeus depois da 2ª guerra floresceram novas indústrias, comércio, serviços, apoios estatais à educação, saúde e condições de vida para as suas populações, por cá, o país estagnou com o regime fascista, a discrepância na sociedade entre ricos e pobres era abismal.Os ricos senhores de grandes rendimentos de terras, casas e fábricas, exploravam a mão-de-obra muito barata, pagavam salários muito baixos, um dia de jornada de um sapateiro que se deslocava à casa do senhor era pago com uma broa (pão de mistura de trigo e milho). Havia escalões de jorna (salário) diferenciados para homens e mulheres, incrível que ainda hoje existe essa diferenciação nos trabalhos mais precários na vida rural e fábricas. Esses mesmos senhores com nome de família, fomentavam o abuso de mulheres, e elas para sobreviver, sujeitavam-se à devassidão. Por todo o Portugal nasceram muitos filhos “incógnitos”, uma verdade reposta com o 25 de Abril, cada nascimento obriga a paternidade, em alguns casos recorre-se a exames de ADN.
As famílias geralmente numerosas, levavam uma vida muito difícil, havia muita pobreza e fome, os pais viam nas crianças uma ajuda nas tarefas da lavoura, muitas não iam à escola, geralmente as raparigas eram precisas em casa para ajudar a cuidar dos irmãos mais novos e das tarefas de casa, já alguns rapazes saiam logo que fizessem a 4ª classe, poucos eram aqueles que continuavam os estudos, até porque só existiam liceus nas grandes cidades.
Excertos dessa ruralidade de extrema pobreza onde todos comiam da mesma malga ou tigela de faiança em redor do lume com garfos de ferro -,  couves com feijões ou feijões com couve galega migada ou nabos, conforme a época do ano com chicharo, feijão-frade ou feijão da velha, broa e uma sardinha dava para três quando não era para sete… Gastronomia  que viria dar origem às migas, à sopa de pedra na altura e do fertungado, que não é mais do que um requentado do aferventado de nabos da véspera no tacho de barro com azeite, alhos e louro. Só nos dias de festa se matava o galo ou um coelho. Viviam sem quaisquer condições, chegavam a dormir na mesma cama de ferro quatro -, dois à cabeceira e os outros aos pés, sem água canalizada enchiam cântaros nos poços e fontes, não tinham casa de banho, alguns uma retrete a céu aberto feita em madeira, não havia electricidade, o candeeiro a petróleo e candeias de azeite iluminavam as noites, sem estradas asfaltadas e poucos transportes, andavam a pé ou em carros de tracção animal porque andar de bicicleta, já era ser remediado.
O povo massacrado viu a sua liberdade restituída depois de 48 anos de tortura perpetuada pela polícia política do governo -, a PIDE e da rede de informadores, chamados na gíria de “bufos da pide”.
Até 1960 Portugal era tipicamente um país rural. Com a 2ª guerra mundial agudizou-se a miséria com o racionamento de bens essenciais, nessa altura muitos fugiram das aldeias recônditas dando origem a um movimento chamado êxodo rural e rumaram para o litoral. Os vieiros de Leiria vieram para as margens do rio Tejo onde construíram casebres de madeira suspensos por estacas, para Lisboa vieram trabalhar outros nos serviços, construção civil e as mulheres como criadas de servir, cozinheiras, governantas, mulheres-a-dias e caixeiras. Muitas dessas mulheres com os namorados e maridos na guerra no Ultramar, viram-se obrigadas a procurar trabalho fora de casa, inicialmente nas fábricas, outras apostaram na sua formação, estudando. Apenas com o ciclo preparatório podiam ser regentes escolares. Os correios foram das primeiras empresas públicas a admitir mulheres com o 5º ano dos liceus, durante décadas o histórico de colaboradores foi maioritariamente feminino. Na actualidade o número de alunos universitários do sexo feminino já é superior ao masculino, uma variante pela primeira vez alcançada.
A mudança em Portugal nos últimos 35 anos no que diz respeito a valores democráticos foi bastante significativa para o país, ganhou-se o direito à expressão, ao salário mínimo, 8 horas de trabalho diário, direito a férias, assistência médica e medicamentosa, à educação, entre outras das muitas vitórias alcançadas. Sobretudo para as mulheres que ganharam o estatuto de igualdade para com os homens, até à revolução não exerciam o direito ao voto e também não podiam ter contas bancárias. A sorte era ditada à nascença, aprender os serviços da vida doméstica e da lavoura de subsistência. O objectivo das suas vidas era o casamento e com ele o dever de ser esposa fiel, cuidar do marido, e dos filhos, sobretudo ser uma boa dona de casa, sem outros direitos, o marido é que mandava, esta devia-lhe obediência, só podia sair do país se ele o autorizasse. A violência doméstica era abafada, as vezes que foi exercida, o homem acabou por ver a justiça a seu favor com penas suspensas, porque o sistema era fechado e machista sendo que a mulher  não tinha quaisquer direitos porque a lei era fechada em relação a ela, o homem podia ser adúltero, porém, ela se o fosse via a sua imagem denegrida, enxovalhada, tratada como uma prostituta, sem serem apuradas as razões porque praticara tal atitude. À mulher era vetado tudo, até de sentir prazer…Para pensar!
Os valores democráticos foram consagrados na Constituição
A revolução alicerçou-se na democracia com o contributo de novos estatutos jurídicos fundamentais e primários, o País tornou-se numa sociedade aberta, mais tarde com a integração na União Europeia veio o crescimento económico, muitas verbas a fundo perdido para adjudicação das grandes obras públicas, o livre-trânsito de pessoas para trabalhar entre os Países da União, uniformizou-se a moeda com o euro.
A tolerância para aceitar diferentes formas de ser e de estar na sociedade foi uma mais-valia alcançada. Imprescindível observar a mulher integrada na sociedade conquistando o espaço que merece, ajudando e participando na construção de um país sem descriminação, onde homens e mulheres se deveriam completar na procura de um bem-estar conjunto, fazendo força nessa união. Cargos de responsabilidade em empresas com histórico de homens no comando tem vindo a inverter-se, são cada vez mais mulheres que tem vindo a ocupar lugares de chefia e a alcançar o sucesso num mundo que sempre fora dos homens. As mulheres além de femininas, mulheres, mães, donas de casa, são na vida laboral um exemplo de profissionalismo, desempenho, criatividade, perspicácia, audácia, rigor, e poder de iniciativa invejável, conseguindo coordenar várias tarefas em uníssono e executá-las com sucesso. As mulheres têm conseguido enfrentar as adversas dificuldades, tendo em conta os preconceitos formais da sociedade machista que ainda vigora, mas todas as suas vitórias são uma conquista de Abril com a implementação da democracia, não há profissões fechadas às mulheres.
As cidades cresceram rapidamente com a emigração rural e os retornados das ex-colónias, com a descolonização. Proliferaram subúrbios como Almada e Amadora que rapidamente se transformaram em grandes áreas metropolitanas, rodeadas de bairros de lata, barracas com telhados em folha-de-flandres, em zonas protegidas junto ao litoral como a Fonte da Telha, ocupação de prédios inacabados abandonados pelos construtores, exemplo a Quinta do Mocho ia ser mais um bairro chique nos subúrbios de Lisboa, um desentendimento entre sócios e o projecto foi abandonado, vieram a ser ocupados por imigrantes que, deste modo, evitavam pagar o aluguer das casas. A Brandoa chegou a ser o bairro clandestino maior da Europa, com os esgotos a correr a céu aberto. No entanto as autarquias continuaram na aposta da construção social iniciada no regime fascista pelo Instituto Nacional Habitação Social, o IGAPHE. Nasceram muitos destes bairros sociais, Pasteleira, Cruz Vermelha, Bairro do Pica Pau Amarelo, Bairro Branco, Chegadinho, para o realojamento de muitas pessoas que se encontram em situações de exclusão social.
Foram incrementadas nos anos 80 e 90 grandes obras de infra- estruturas, para apoio à explosão habitacional. Havia muita habitação clandestina e especulativa, construção sem planeamento. Só a partir dos anos 90 é que as autarquias começaram a apostar nos Planos directores do ordenamento do território.No entanto muitos autarcas não respeitaram estes planos directores de ordenamento, porque a sua tramitação e despachos são morosos, e muitas vezes sem concursos públicos decidiram com suborno nas estâncias próprias apressar a construção de bairros onde foram empregues materiais mais baratos cuja durabilidade forçosamente será por isso menor. Hoje estes bairros encontram-se totalmente degradados, a sua recuperação e manutenção exige por isso um custo superior ao investimento inicial.Os objectivos das autarquias nos projectos de habitação social deveriam passar por uma política de habitação condigna e planeada com cursos de formação sobre noções básicas de salubridade, economia do lar e cidadania, antes da entrega da chave. Também de estudar meios de redução até à eliminação de fatores de conflitualidade, colaborando na promoção social dos indivíduos, qualidade de vida de todos os agregados residentes nesses bairros sociais garantindo a integração de todos e uma correcta utilização das habitações. O problema da habitação social é preocupante, ainda não se chegou a uma matriz para a boa convivência entre etnias que vivem nesses bairros, que por terem culturas diferentes, geram violência e má vizinhança. Não basta dar casas às pessoas, há que trabalhar condignamente como qualquer cidadão para ver os seus direitos assistidos, e saber agradecer essa bênção com cuidados de manutenção da mesma, do prédio e dos espaços envolventes.
Viver em democracia é ter igualdade de direitos e respeitar os outros, sendo que mui-tos desses outros tenham culturas diferentes, não esquecer que somos todos humanos!

Práticas de conciliação da vida privada, familiar e profissional:

Conciliação na partilha da licença de paternidade. Os homens devem investir mais no conceito de “Pai”, intervir nesse projecto feito a dois. Prazer em acompanhar sempre que possível a esposa ao médico, viver momentos únicos como “ouvir o bater do coração do bebé”. Colaborar na escolha do enxoval do bebé, no meu tempo, foi feito por mim, o meu marido colaborou, cortou os lençóis e almofadas para eu bordar, ajudou na escolha dos motivos. Mostrar interesse em conhecer a ginástica pré natal, para ajudar a esposa no parto a não se descontrolar, exigir participar, ajudando, viver momentos de sofrimento e de alegria no momento do nascimento do seu filho. Assim aconteceu comigo, já lá vão 27 anos, o meu marido esteve comigo desde logo de manhã que dei entrada na Cruz Vermelha até para lá das 10 horas da noite. Foi essencial a sua ajuda, apoio, durante tantas horas de sofrimento e fulcral no parto, que se revelou muito difícil. Foi um herói, pelo auto controlo, firmeza, enfermeiro, massajando-me os rins, com uma calma imensurável que apenas só homens com “H” grande conseguem revelar…quanto a outros que por aí andam, dizem não ser capaz…mas dizem-se homens…contra-censo!
Então ser homem não é sinónimo de macho, forte, viril, sem medos?
Outra prática a evoluir na conciliação passa pela flexibilidade de horários compatíveis para acompanhar os filhos à escola, fazer compras e partilhar tarefas domésticas, trabalho árduo, não remunerado.
Outra medida conciliadora seria o pacote “dois em um” a aposta do nosso país em contrariar a baixa natalidade pelo apoio de incentivos do Estado às mães, na atribuição de subsídios adequados para que ela pudesse permanecer em casa com a criança até aos 3 anos.
Todo esse tempo contaria para efeitos de reforma. Medida já implementada em alguns países, nomeadamente em França.

Falando no antigamente, a partir dos anos 60, com a libertação da mulher de muitas das tarefas domésticas devido ao desenvolvimento tecnológico (electrodomésticos) e da extensão da escolarização, a sua entrada no mercado de trabalho foi gradualmente estendendo-se a todas as classes sociais, alterando profundamente o funcionamento de novas identidades na vida familiar.
Numa aposta de viragem, em mudar a forma de pensar e questionar a forma como se vive, questionando os papéis sociais tradicionalmente atribuídos aos homens e às mulheres, criando para todos iguais oportunidades de participação na vida pública e privada, suscitando um novo entendimento do trabalho para que as mudanças aconteçam por decisão das instâncias do poder e da força do querer das mulheres e dos homens.
No entanto por mais projectos de igualdade na partilha das tarefas domésticas, não têm havido grandes progressos. O desfasamento entre a divisão conjugal do trabalho doméstico que idealmente se desejaria e a que efectivamente se procura concretizar na prática é francamente evidente, 35% da população feminina defende poupar o marido às tarefas domésticas e somente 15% deseja efectivamente que as mesmas sejam divididas.
Os factores que poderão influenciar a discrepância entre a defesa da igualdade no trabalho doméstico são os valores culturais intrínsecos a uma sociedade como factos de imobilidade e de atraso em relação aos sistemas legais. A aposta na mudança de mentalidades desde a infância, não haver diferenciação de brinquedos para ambos os géneros sexuais ( estereotipação dos sexos); só assim essa prática desses princípios estabelecerá a igualdade na preparação da vida adulta sem dísticos isto é para mulher, “aquilo é para homem”.
Também por culpa do conceito de empregado doméstico não ser ainda usual, só agora aparecem os primeiros serviços de limpeza ao domicílio somente composto por homens. Também os electrodomésticos ainda são utilizados maioritariamente pelas mulheres.
No entanto, hoje muitos homens vivem sozinhos. Tem a responsabilidade da economia do lar, compras, limpeza, roupas. Têm aumentado a frequência em cursos de culinária. Estão cada vez, a torna-se mais autónomos. Uma nova geração, que reivindica a real identidade, reprimida, dar vida à mulher que cada um tem dentro de si!
É necessário reinventar novos papéis sociais de género, novas atitudes e novas identidades na vida familiar. Na noção de distribuição equilibrada das tarefas (domésticas e de apoio à família), como elemento promotor da conciliação entre o privado, o familiar e o profissional.
Agilizar processos de conciliação entre a vida privada, familiar e profissional, na reorganização dos processos de trabalho e da gestão dos tempos de trabalho, e serviços de apoio ajustados às novas necessidades.
A nível particular tive dificuldades em conciliar a minha vida familiar com o meu primeiro emprego. Trabalhava em Coimbra como assalariada a prazo, vivia num quarto alugado. Casada, comprei casa na Margem Sul só me sobrava dinheiro para vir a casa duas vezes por mês. Início de vida difícil, tempos que nem quero recordar, precariedade do trabalho, engravidar era sinónimo de contrato não renovado. Problemas com o meu marido que reivindicava a minha presença em casa, estava-se nas tintas para o meu emprego, mas não, para o ordenado. Lutei sozinha, contra situações adversas do foro psíquico, molestava-me, mas eu sobrevivi por teimosia, e por entender que o meu emprego era uma mais-valia para a minha independência, para me sentir bem comigo mesma. Consegui ao fim de 3 anos, vir trabalhar para Lisboa. Efectiva, com ordenado superior, estava na altura de ter um filho. Em abono da verdade posso atestar que para a conciliação de tarefas muito contribuiu a minha atitude em alterar hábitos tradicionais. Ensinei o meu marido em algumas tarefas, cozinhava pouco, passou a cozinhar mais, não fazia compras, passou a fazer, aprendeu a manter-se na minha ausência por motivos de força maior (durante 20 anos tivemos férias sozinhos), em relação ao orçamento mensal e poupanças passei eu a gerir, contrariando o hábito de ser sempre o homem com essa tarefa. Durante a gravidez, o meu marido foi bastante prestável, ajudou-me nas tarefas de casa e obrigava-me a alimentar bem. Depois de nascer a nossa filha ele teve uma conduta exemplar durante os primeiros anos, colaborando nas tarefas, em mudar a fralda, brincar com ela, dar banho. Extremamente dedicado, foi ele que a levava ao colo a pé, para a casa da ama e a trazia ao final do dia.
A partilha deve ser introduzida desde início, para criar habituação. Quando o conheci, ao fim de 5 dias lembro que me disse “quando casarmos”…ao que respondi, casar, nunca pensei nisso, trocas de palavras, saber o porquê, ao que respondi ”acho que não tenho jeito para pensar o que fazer de almoço e jantar” ao que de imediato ele respondeu “ não te preocupes que eu ajudo-te”… De facto sempre assim foi. Situações de enxaqueca, mal disposta ou chateada, ele nunca deixou de fazer as refeições, mesmo eu dizendo que não queria comer, sempre as fez a contar comigo.
A arte de conciliar é uma nova forma de viver em harmonia. Hoje com a liberdade de diálogo e com respeito e inter-ajuda não menosprezando o trabalho executado mesmo que não esteja de acordo com o nosso “jeito” tenho conseguido manter um casamento com mais de 30 anos.

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