domingo, 9 de novembro de 2014

Alcochete um fracasso na feira de velharias...

Padre Cruz nascido em Alcochete a 29.07.1859
                                                          Casario forrado a azulejos Arte Nova
Remates no telhado em faiança  fábrica Devezas ou Santo António do Vale da Piedade(?)
Igreja matriz  dedicada a S.João apresenta uma bela rosácea, da era de quatrocentos
Catalogado como monumento nacional  desde 1910.
Há muito tempo na decisão em voltar ou deixar-me queda  no voltar à feira de Alcochete. 
Neste baixar da temperatura, apetece ficar no sofá enrolada em fato quente a recordar histórias vividas, ouvidas  e partilhadas nas feiras de velharias...

Tristeza senti ao constatar o miradouro Amália Rodrigues defronte do Tejo onde havia uma colónia de palmeiras centenárias, neste agora todas decepadas...
Aqui estive por várias vezes ao longo dos anos, na calçada apanhei sementes em tom laranja para plantar e, fazer nascer as minhas palmeirinhas - delas hoje ainda resistem 3, outras dei sumiço…
O miradouro apresenta-se belo  e de cariz idílico numa moldura fresca a lembrar quiçá África, seja pela imensidão do Tejo em calmaria, palmeiras e arquitetura antiga a lembrar a era dos descobrimentos.
Deslumbre a vista da capital em pano de fundo. 
Hoje, nem uma palmeira resiste, todas infestadas com o escravelho maldito que as dizimou uma a uma…as cortaram com um metro de altura (?) sem perceber este porquê...julgo, no receio de destruir a calçada...melhor seria destruir tudo para de novo se reflorestar com plantio de outra qualidade de palmeiras de tronco fino que julgo nelas o bicho não entra e, claro nova calçada. 
Assim como está  desvirtua o miradouro, já que em tempo não se deram conta da contaminação e atuar no matar a bicharada a tempo e  as salvar  . 
Constatei arruamentos de piso novo .
No jardim defronte do Tejo as palmeiras antigas no mesmo tormento, destruídas mas ainda de caule hirto.
A feira de velharias, artesanato e feira da ladra, na parte da manhã apresentou-se com pouco público, a destacar um homem frequentador habitual que se distingue pelo uso de um sapato de cada cor -, estilo peculiar, sendo um  em tom caramelo e outro preto...não quis levar um belo candeeiro de vidrinhos e fez mal porque acabou de tarde para ir para Espanha...
Já de tarde até havia gentes no vaivém ao longo do passeio central, na maioria gente mira e anda, nem declinavam o olhar nas bancas com a “cegueira” de abancar na esplanada do bar ao fundo do jardim sobranceiro ao rio e  ali se deixam ficar até ao cair da tarde para deslumbre do pôr-do-sol...Belíssimo!
Saldou-se a banca do mel no lucro, e no artesanato a miúda que fazia carteiras em boa pele, mais não sei!
Não dei conta do antiquário que vai de manhã à feira de Oeiras há procura de raridades a baixo preço e que de tarde aqui também aparece...o mesmo noutras feiras o costumo ver na companhia da esposa.
Reencontrei um colega amigo, na sua banca distingui um belo jarro ou gomil de bom tamanho de bordo e pé gomado em ótimo estado, que tenho um igual mais pequeno, mas com motivo floral diferente. Pedi para o ver,  logo reparei que no pé tinha um pequeno "V" pintado a verde-, obviamente é uma peça de Viana do Castelo, melhor Darque. Mesmo sem a marca impressa, só por si aventava, fosse pelo formato elaborado e pintura fina,  fosse pelo esmalte translúcido muito branco, que assim igual tenho umas três peças, sendo que nas minhas em duas a marca -, o mesmo "V" pequeno impressa na massa-, bem diferente da marca mais antiga com "V" grande.Quando lhe disse a origem de fabrico responde-me-, mas pelas flores julguei ser Sacavém-, nisto remata a sorrir "olha vende-se melhor se disser que é Sacavém"...Pois, para leigos! 
Rematei baixinho, se bem que Sacavém também produziu peças de rebordo  assim gomados...que já as vi nas feiras!
Contam-se pelos dedos as pessoas que apreçaram peças, estando todas marcadas e com placard em saldos.Só compram ao preço da “uva mijona”, esquecem-se da destrinça do trigo do joio, do que realmente é bom e do que nada, ou pouco tem valia(?).
Na banca da Misericórdia vi colegas sem escrúpulos(?) a ver desembrulhar as peças  na ideia de apanhar tesoiros ao preço quase a custo zero, dado!
A culpa (?) será de quem desembrulha (?) que no tempo já deveria ter percebido a técnica, que mal a vi neste dia logo a percebi-,  falta de perfil de vendas, pois a ideia é faturar com objetos doados pelos idosos.Assim faturam muito abaixo do que deviam, digo eu!
Vinham dois homens maduros no seu passeio da tarde,  um parou na banca e pegou num destes castiçais em pau-preto, pergunta-me a origem, a que respondo ser da antiga Rodésia, Suazilândia. Em voz baixa diz ao amigo" isto fazia-se em Moçambique" …questionei se os queria levar, em desplante responde! ”Se eu os levasse a minha mulher punha-me a mala à porta”…virei a cara e ri-me de lábios franzidos com a colega do lado, no propósito de gargalhar tamanha desgraça em não me estrear -, e ela ficou-se nos 50 cêntimos…Coitada de muita mulher de costas largas com maridos vazios de espírito…se este homem acaso se importasse com a esposa, teria gosto em a trazer a passear, em vez de a ter deixado em casa, como confirmou. Homem falso, não passa de “vazio” , sem voto para adquirir o quer que seja do seu agrado, ou terá, e denota o contrário, mas no pior repudia a contradição na imagem da mulher que voto não terá é nenhum. Ignóbil de burro mal parido!
Ao entardecer apareceu uma mulher que dava nas vistas pela roupa exuberante que não condizia com nada, aficionada pelos toiros, diziam mui conhecida na região na companhia de uma outra, alta, ao género"perrote"como em pequena eu chamava aos forcados em Abiúl ( dela se fala ter sido a primeira Praça de Toiros em Portugal introduzida pelos Duques de Aveiro(Távoras) sendo a senhora Ponce Leão de Espanha, de onde trouxe a paixão dos toiros). Conversavam com gente conhecida, depois do adeus desfilarem ao longo do corredor central sem olharam para as bancas, porque a cegueira seria outra...Neste querer maldizente  que me aflige pelo poder observador, eis que dou de caras com a barbela da senhora  mais idosa, inevitável a comparação a uma "vaca choca" daquelas que entram  na arena para conduzir os toiros aos curros...
Nem a propósito fui no sábado e no domingo nas feiras questionada por pessoas como fazer para montar banca e vender... Ao abrir o rol das exigências ficaram pasmadas...Quem estiver desempregado tem de se coletar, ficam  isentos de Segurança Social durante um ano. depois começam a pagar. Para quem já tem outra atividade apenas abre uma segunda atividade, sendo mais fácil porque já paga a segurança social.
Obrigatório livro de recibos e de guias para transporte, além de terem de pedir o cartão às Actividades Económicas ou na Câmara Municipal ,depois em cada terra há regras próprias...
Foram-se  de mim de boca aberta!
Se calhar pensavam que era só abrir estendal e vender o que trazem de casa sem ética alguma em relação aos colegas-, o que miseravelmente se constata hoje a cada feira mais e mais, porque tudo é lucro, o problema é que mal acabado o stock como comprar de novo!
Ninguém põe mão na regulamentação do negócio das velharias e todos andam doidos...
É como a febre da SECLA da zona de Alcobaça e FONTE NOVA E ALELUIA de Aveiro...Só procuram por peças destas fábricas!
Tabelei conversa com um restaurador de mobiliário de curso tirado na Fundação Ricardo Espírito Santo- periclitante a continuidade neste agora com o desaire da família que a criou…
Dizia-me que tinha ido a uma casa de uma senhora com assoalhadas acima da média aos dias d’hoje onde viu paredes cobertas de quadros, muito mobiliário, sendo todo o recheio de grande qualidade.
Foi chamado a solucionar arranjo em peças a precisar de restauro no local e outras que teria de trazer para a oficina. Depara-se com um roupeiro século XVII em castanho com uma grande racha. Ao avaliar o rombo comunica-lhe que o arranjo ficaria mais caro do que ele valia, porque teria de desmontar e levar…ao que a senhora apressada lhe responde, pague-se do que achar justo, para mim o roupeiro vale muito pelas recordações, pois nele me escondia com o meu irmão…

A lição que se retira desta história verídica é somente o prazer que algumas pessoas sentem pelas velharias e antiguidades -,sejam as emoções que as mesmas avivam a cada dia quando nelas o olhar se encadeia e simplesmente acontece a recordação prazerosa!
  • Nesta terra nasceu a 01 de junho de 1469 o Rei D. Manuel I
Estátua dedicada aos salineiros na zona histórica
Portal  triunfal para a entrada de cavalos na  Estalagem
O café no quiosque explorado pelos Bombeiros a 60 cêntimos servido em copo de plástico é caro.
Também servem bifanas e almoços, que não sei o valor, mas vi saírem alguns.
O certame vive da receita para os Bombeiros Voluntários,  que faturam sem passar recibo -, o que se pode questionar o destino total das receitas (?) num mero e suposto julgar plausível, neste momento de recessão!
Claro que falo sem qualquer ofensa para quem quer que seja-, mas  a verticalidade em civismo, obriga a transparência, e nestas coisas seria o correto para não se levantarem ondas nem suspeitas, haver sempre recibo, até porque os feirantes devem ser credenciados e coletados para com os ditos  recibos fazer encontro na contabilidade do IRS, e o mesmo nas contas da receita dos Bombeiros!
Assim entra num "saco azul"...ou doutra cor!
Já vi esta cena noutra terra com a receita para ajuda de animais, na volta o seria para animais donos, até que foi alterado como manda o preceito.
Um porém positivo -, o anfitrião voluntário, fez-se apresentar cedo, cumprimentando os feirantes, dando-lhes as boas vindas, deixando um rasto de agradável after shave...
Não ganhei para o prejuízo, entre o débito e o crédito um défice de…alguns euros!
Em final de feira apareceu a D. Guida e o marido, um alegre reencontro, pessoas de  Alcochete de alto valor credetício, o mesmo das colegas que abancaram ao meu lado-, mãe e filha, umas queridas. A Cíntia não a vi e dela me lembrei várias vezes.Vi colegas que aqui vêem a compras, o Sr inglês com a esposa, o João com o companheiro Sebastiã,o muito bem vestidos, pareciam modelos, exalavam charme  e sedução!
Foi com este olhar e as fotos que o meu marido tirou que vi  a feira de Alcochete neste agora, pois julgo não voltarei, sem jamais dizer Nunca!

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Há que prevenir na saúde e jamais se deixar quedo!

Porque a saúde é o BEM mais precioso que cada ser humano tem!
Jamais descuido anualmente o mem Chekp Up . Desta feita dei por finalizada uma catrefada de exames de rotina. Curiosamente constato que se deve evitar fazer os exames sempre no mesmo sítio, e ainda tentar saber quem são os bons médicos-, aqueles que atendem o utente com paixão pela  sua profissão, e não atendam quase por favor, a despachar, sem qualquer acolhimento, antes frieza sem denotar perfil humano para abordagem da utente ao que vai, ao que sente, deixando-o falar, nem qualquer demonstração de afetos, ( ainda agora a minha filha o sentiu no Hospital da Estefânia, estando grávida onde o atendimento com a enfermeira deveria ser diferente, cuidadoso, personalizado, e sobretudo de acompanhamento no explicar as coisas que mandam fazer( no casa a médica que lhe disse-, entregue no laboratório no edificio I, e bem a questiona dizendo, é a 1º vez que aqui entro, e para aqui chegar passei por 3 edifícios, qual é o I?...) Então não seria mais fácil explicar corretamente e não em sentido lacónico de frieza e desdêm habitual do seu dia a dia-, até me interrogo se estes profissionais são felizes?
As diferenças do serviço público e do privado!
Ora no serviço público o que custa exercer o seu trabalho com otimismo servindo os outros com simpatia, e partilhando indicações, para não os ver andar perdidos como baratas tontas a perguntar a este, aquele e.... O saber partilhar é uma benção, depois nunca é demais ajudar, mas há gente que nada sabe e diz o contrário, mas a esses desculpa-se, serão de inteligência curta!
E as tormentas vividas e sentidas na pele de muitos, que nos deixam na interrogativa das substanciais diferenças no diagnóstico, acaso o serão bem efetuados ou à balda... 
Por exemplo, a Dra Isabel Noia é extraordinária -,desde os 30 anos que faço ecografia mamária em tantos sítios e médicos diferentes, foi preciso terem passado 27 anos para esta médica, além de fazer o exame detalhadamente, ainda me fez apalpação ao peito, coisa que JAMAIS nenhum  outro colega assim  me fez! De imediato a elogiei pelo alto profissionalismo em fazer o que tem de fazer bem feito, de boca aberta ficou com as palavras que lhe dirigi. Ficou abismada de nenhum colega fazer este exame, a mim nunca.Repetiu-se ontem com outro médico o Dr. António Fernades na ecografia à tiróide, em relação à  do ano passado  tirada noutra clínica, percebi  que o exame pela forma e empenhamento em localizar os lobos conseguiu detetar 3 pequenos nódulos, ainda me disse que na ecografia do ano passado o relatório nada refere e devia, apesar de ser difícil localizar...Faço precisamente este exame desde os 22 anos. Agradeci e enalteci a paixão no seu trabalho e claro desatei a falar -, um dia se tiver o azar de cair num hospital hei-de falar até que a voz me doa, jamais me vou deixar ficar com o opinar de apenas um médico, porque ser médico é o mesmo que ser profissional de outro qualquer ramo, a diferença está na paixão à arte que se pratica, amor à camisola, gostar de fazer bem feito, ser exigente, preocupado, humano e leal aos seus sentimentos. 
Disse-me "Não podia estar mais de acordo consigo"!
Não tenham medo e façam prevenção.
Há dias uma amiga com diagnóstico de aneurisma desde a adolescência ,que se agrava com a gravidez pelo distúrbio das hormonas, depois de um ano do parto, começou com fortes dores de cabeça-, ora se sabia o que tinha, e ainda as dores de cabeça fortes que é sempre sinónimo de algo que não está bem , só tinha de ir ao hospital, quiçá o  medo de "morrer"  a pensar na criança... viria a sofrer uma hemorragia, felizmente teve sorte não ter afetado (?) mas podia ter e muito, porque ainda não se sabe o futuro, é tudo muito recente.
Hoje na TV, um ator falava que até fez colonoscopia ao intestino, até sabia o diagnóstico, divertículos.
Deixou-se ficar até que sentiu uma brutal diarreia de sangue,  e nada fez até ser transportado quase em coma para o hospital de urgência, sendo operado, teve de levar 5 transfusões de sangue e emagreceu 7 quilos em 10 dias.
Ora se tivesse reagido ao diagnóstico da colonoscopia -, se calhar não precisava de ter passado por isto desta maneira intensa.
E todos sabemos de casos semelhantes!
Há que prevenir estando atento a sintomas quando os há e agir de imediato, olhando para a frente e jamais se deixar quedo!
Ainda neste outubro -, o Mês Internacional da Prevenção do Cancro da Mama, maleita que afeta mulheres e homens, sendo que hereditariamente a doença se transmite pela mãe.
Para dar ênfase à temática fui ao armário buscar uma chávena de lustrina inglesa em tons cor de rosa, a cor do laço da campanha na minha mensagem de votos de Bom Fim de Semana a todos os meus leitores!

A minha sardinheira da varanda em cerise forte comprada em Odemira há anos, à falta de outra flor mais rosa, no momento criativo de lhe juntar a lustrina
Achei piada juntar à lustrina inglesa uma tacinha China e outra da Vista Alegre, sendo todas do século XIX
Sejam felizes acautelando a saúde.

Solar das Inglesinhas na Pedreira em Cacilhas

Conhecida como a Quinta dos Ingleses na  Calçada da Pedreira, a caminho de Cacilhas.O nome porque é conhecida a quinta, julgo lhe advêm da origem dos proprietários ingleses, que aqui se radicaram supostamente desde 1678, como os primeiros industriais de lãs e curtumes com fábricas ao longo do Tejo, de Cacilhas ao Olho de Boi.
Possivelmente o solar foi readaptado ao longo dos tempos, e com isso remodelações.
No r/c as janelas que se antevêem pelo portão, parecem primitivas, sendo recuadas apresentam na parte superior meia arcada .
O solar a nascente mostra uma pequena marquise de cariz romântico com suporte a imitar um púlpito muito ao género da arquitetura espanhola e outras .
A quinta é murada por alto muro pela frente da Calçada da Pedreira sendo airosamente decorado com os "caracóis" típicos da arquitetura da região usada nas quintas, sendo cortado por varandins em ferro forjado ao estilo século XVII , possivelmente da origem da quinta. A norte  julgo é limitada pela arriba da escarpa a que se chama morro de Cacilhas.
Apesar da dificuldade consegui distinguir  da rua um poço e nele o engenho de ferro -, a nora para puxar a água, também típico em algumas quintas de Almada.
O fato da quinta ser pertença de particulares cria embaraço  de interesses(?) ao suposto conhecimento e história do local, onde segundo ouvi falar a mesma apresenta um belo jardim, possivelmente de cariz romântico e bucólico, sendo que as palmeiras com a praga dos insetos estão a secar, isso é óbvio constatar. 
O engenho de ferro é obra do período áureo da indústria do ferro do século XIX.
A Calçada da Pedreira ganhou o nome da pedreira que aqui existiu onde se extraia ouro.

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Desiludida na feira de velharias de Cantanhede, na mente jamé!

Na minha estada na Figueira da Foz tive conhecimento da feira de velharias anual em Cantanhede, logo me decidi estrear nela atendendo ao hipotético (?) índice populacional no meu  alto julgar fosse o abarrotar da conta bancária...Aconteceu no primeiro domingo deste mês, na terra do Conde de Marialva -, título nobiliárquico de Portugal concedido em 1479 por D. Afonso V a favor de D. Pedro de Meneses, no entanto, apenas seria renovado quase século e meio mais tarde, num descendente do primeiro conde-, segundo a Wikipédia. Conheci Cantanhede antes do 25 de abril, sem a grande estátua do conde no seu bonito cavalo, bem vestido de belo chapéu e penugem , como sendo a produtora do Licor de Merda!
Ao tempo a minha mãe deslocava-se a trabalho à estação dos CTT, enquanto isso percorria a vila onde descobri uma montra junto da igreja com as garrafas de rótulo sonante em exposição, fácil foi convence-la a comprar, curiosa a ler os ingredientes no tardoz, percebi que era feito com as melhores merdas  selecionadas de abelha...deixei-me ficar a rir!
Puro engano o meu  no pensar nas alvíssaras gordas das gentes, o que me pareceu a rondar o paupérrimo, a fazer jus à temática do Museu de pedra imponente, mas sempre hirta de  fria!
Cheguei em cima das 8 horas quando a organizadora, uma Eng, simpática e bem falante, se fazia ouvir dizendo que  se podia abancar ao longo dos jardins deixando avisos para não estragarem as flores, porque depois alguém lhe mandava a conta...
Achei que deveria dar-lhe uma palavra, pois não tinha feito inscrição, logo me descansa apressada, dizendo que iria passar pelas bancas, mas afinal jamais passou, ou falou!
Os feirantes reclamavam do sítio por o acharem fora de portas do habitual jardim no centro da cidade, onde as pessoas que frequentam os cafés  se manifestam público abundante a deambular pela feira -, diziam à boca cheia que foi propositado juntar o evento com outro a decorrer no pavilhão, para lhe dar ênfase-, a Feira de Reduções, que a meu ver teve pouca afluência, assim como stands...

De manhã apareceu pouca gente, a mulher dos tremoços, dos bolos sortidos, das cavacas, e dos gelados pouco faturou, culpa do sol  que se manteve encoberto quase todo o dia,   e a das farturas o mesmo, a minha mãe foi comprar duas, sem modos lhe venderam já duras, pareciam plástico!
Mais acima havia um bar que fazia bifanas onde o meu marido comprou  -, a mulher por certo deixou cair o picante nelas, que nos vimos aflitas para as tragar...Outros se queixavam igual.Seria para puxar a cerveja ou o tintol!
Só as casas de banho, no pavilhão, se mantiveram limpas, desinfetadas e cheirosas.Que elogios teci à empregada de serviço!
Ouvi reclamações sobre o aluguer dos stands ser demasiado caro em comparação com outras feiras onde se vende mais, e o precário é mais leve. Até me contaram sobre  o tipo de negócio que está a dar cartas...
O stand da igreja, ou a ela ligado, tinha uma grande quermesse interessante, com preços vários, as rifas onde saia sempre premio, mas afluência não sei se tiveram!
A minha vizinha mal me viu chegar com os brindes nas mãos desata a correr trazendo a imagem de um Padre Cruz, dizendo à boca cheia que muita gente lhe solicita esta imagem  nas feiras por Coimbra.
No sábado tinha comprado na feira da Figueira  da Foz um bule de caldo que por engano o levei, para não o partir decidi pô-lo na banca com o preço de 250 € ... Dei conta de uma senhora estouvada que olhou a peça e lhe achou graça, mexeu e remexeu -, ao ver os números do preço, olha e diz-me custa 2,5€ ? A que eu lhe respondo-, a senhora acaso conhece a peça, acha mesmo que o que está marcado é o que diz? Volta a olhar e diz-me, é 25€ -, volto a responder-, já vi que não entende que peça se  trata, é um bule de caldo em faiança século XIX, para colecionadores e o preço é 250€  que em leilão pode triplicar...Foi-se a fugir balbuciando sozinha! Fiquei na dúvida se a 2,5€ ainda a achou cara, supostamente esperava que fosse 1€...Fico furiosa com gente incrédula, e inculta!
Dei corda à língua a falar da Vista Alegre, de ter começado a laborar com a produção de vidro-, diz-me um homem de idade " olhe fui há tempos ao Museu em Ílhavo e ninguém falou disso"...
Vendi este prato com um balancé de grinaldas com duas crianças, a uma senhora que tinha um igual, sendo o seu maior pertença da sua avó, após a minha explicação foi-se embora, mas voltou para o levar, e fez muito bem, porque é deliciosamente belo.
As minhas compras na feira: os copos que estão na banca, os três de pé alto são para a minha garrafa, assim fica o conjunto completo do casamento dos meus pais, os outros de água são para vender, achei a estampa graciosa do quadro com os anjinhos aos pés do Senhor dos Passos, para a  minha casa rural, também uma caneca Sacavém para a minha coleção, e revistas.
Ainda não reconciliada com a brutalidade inculta  de tanta mulher  vaidosa, tatuada, de cabelos  pintados baços, sem brilho, desgrenhados secos e mortos, andantes em saltos altos, de mini saias com pernas gordas e mal torneadas, e outras enfiadas em roupa  colada ao corpo com brutais decotes até ao umbigo, inadequada à idade e à silhueta, quando passa uma mastrunsa caminhante na frente do marido, olha para a banca repara na máquina fotográfica, de imediato se vira para trás e pergunta-lhe "isto é uma máquina fotográfica?" Então havia de ser o quê! Fico pasma com tanta burrice!
De tarde apareceu muita gente que na calçada caminhavam andantes, só mira e anda apressados, em procissão desfilante, nem paravam...um desatino que até metia aflição!
Duas mulheres  fizeram compras na banca da colega ao meu lado que denotava falta de ética e de respeito por os demais colegas, tinha os preços marcados, os clientes olhavam, ela dizia " não olhem para os preços que não são esses, faço mais baratinho..." armada de voz estridente pegava no preço que ia baixando até o cliente acordar, com isso vendeu bem, estragando o negócio dos demais. Na minha banca duas mulheres apreçaram um prato de bolo  marcado por 15€ ,uma delas ofereceu 10 € valor que tentei dividir no prejuízo baixando para 12 € -,mas uma delas era mulher de perfil mandona, volta a lançar o repto "só dou 10€ " -, ao ouvir a minha recusa firme, vira-me as costas indo de novo para a banca da minha vizinha onde já tinha enfeirado antes onde levou peças com história e outras sem estórias, deixou-me  aborrecida pela ignorância, nada mais que um prato com história, com mais de 100 anos, da Fábrica Angolana da Marinha Grande, lapidado com os olhos da coruja e flores em fosco com a graça dos três pezinhos. Ora se o comprei por 10€, onde fica o meu ganho?
Esta taça gomada de cantão popular marcada Fabrica Pinheira,dizia  a feirante que era Miragaia...Santa paciência!
Chegava-se no mira e anda um casal que lhe apressou uma boneca de cerâmica grande que se vendiam há 40 anos nas feiras anuais, que tenho uma igual para venda que a minha mãe comprou nesse tempo, até tinha uma coluna para a assentar , um dia estava assim posta ao meio de uma escada e uma prima do meu pai ao olhá-la pergunta à minha mãe " ó prima ao cimo da escada é o S. Miguel ( o Santo que ela conhecia da capela junto da sua casa no Escampado)...
Dizia  a feirante "olhe que ainda tem o preço em contos(1.900$00)" em euros pedia 60, gerou-se um trocadilho de palavras de contos e euros -, o marido da senhora oferece-lhe 19 € supostamente a gozar com o valor dos contos -,valor que repenica chamando-lhe de" esperto" -, palavra que a esposa interpreta como ofensa, não acata, e de cara visivelmente furiosa se vira para a feirante em tom forte e diz-lhe que a palavra "esperto" é muito feia, e a repete com tenacidade, que a mãe dela não admitia sequer , que dela se falasse...A feirante em tom brejeiro desconversou o enredo, claro está que se  rematou o desaguisado de palavras azedas com palavreado francês da ex emigrante -, " tu es la brebis galeuse de cette marché aux puces..."que se baldou na falta de resposta, por a outra só saber e mal português!
Fica no entanto a minha vizinha desvairada que não se podia ouvir, "só se for nesta terra de Cantanhede que a palavra "esperto" tem significado diferente..." 
Esqueceu-se da ironia e altivez como a exclamou!
Para acalmar andava e desandava na frente da banca até ao outro vizinho sempre a barafustar, comeu gelados e bolos,  e amiúde abria a toalha de renda, tantas foram as vezes que a impingiu, que a conseguiu vender, o mesmo com a colcha de seda e o naperon, parecia aqueles negociantes de feira" não leva uma, não leva duas, leva três e só paga..."!
O Luís de sotaque brasuca que conheci na véspera na feira da Figueira da Foz também apareceu com os desenhos de Álvaro Cunhal feitos na prisão, embora eu ache estranho não os ter assinado!
Agradeço a cortesia das fotos de alguns dos desenhos.
Uma senhora bem vestida pára e conversa um bocadinho, vinha hilariante por ter reencontrado duas bancas atrás, uma antiga colega da Escola, que não a julgava nestas andanças...Ainda me disse " olhe a minha criada partiu-me um enorme garrafão que o meu marido trouxe de herança da casa da mãe, falecida recentemente, por isso mesmo não lhe quero causar mais incomodo, de forma que o escondi com o cortinado para ele não se aperceber ( imagine que tenho dois a ladear uma alta comoda, quem vai a casa gosta desta decoração) vim à feira ver se encontro algum, tenho de ter atenção ao gargalo que deve ser grosso".
A Marisa enfeirou, tinha um estandarte deles
Passeei-me ao longo do certame várias vezes para as pernas não se toldarem presas na cadeira exígua, até que numa dessas voltas ouvi um piropo de um colega a dizer para outro-, "esta menina  deslumbrante já aqui passou várias vezes"...Senti serem contadores de estórias com história, um deles era neto de um dos últimos pintores da Fábrica  da Viúva António Oliveira de Coimbra -,disse-lhe que tinha um prato grande para venda que não tinha na banca, com um veado pintado em azul, logo me  confidenciou que era o género que o avô mais gostava de pintar, paisagem com veados do  século XVII.
Também falou do tempo que o avô trabalhou perto de Leiria, e assinava as peças como se estivesse em Coimbra, o que deu azo a risos, a lembrar os irmãos Ruas, quando trabalharam em Darque assinavam as peças com "R"-, depois que se mudaram para Caminha na mesma continuidade se mantiveram, daí a eterna confusão atribuir as peças a Darque e a Caminha...
Outro feirante  falou-me da fábrica que fez os vitrais para o Mosteiro da Batalha, já não me lembro do nome ali perto de Alcobaça, e disso tenho pena.
O homem calvo e moreno com a cremalheira a precisar de arranjo que me dirigiu o piropo, seria letrado, alvitrou estar de partida para Angola, deixando neste agora as feiras,  falou-me por alto do vasto território constituído pelos concelhos de Alcobaça e Nazaré, bem como parte do concelho de Caldas da Rainha que constituem os "Coutos de Alcobaça" formados por 13  vilas, que os frades quando iniciaram a construção do Mosteiro se instalaram na Ataíja de Cima, uma zona junto à serra caraterizada pelos seus olivais onde ainda se encontram as ruínas da Casa do Monge Lagareiro, com o brasão de Cister, local onde vivia o monge cisterciense destacado para coordenar os trabalhos no lagar.
Quando lhe disse que gostava de escrever diz-me "então vai escrever a minha biografia"!
Apareceu um casal, estranho de magrela, ele tímido, mal abria a boca, já ela afoita falava com os feirantes para irem até ao seu carro estacionado onde tinha alguma loiça e vidros para venda, também fui espreitar-, havia dois jarros em esmalte, variedade de copos, pratos, mas nada especial, mais tarde soube que tinham passado pela feira da Mealhada vendendo o melhor stock, tendo sido  recambiados para esta feira com o "lixo" que ninguém quis, segundo opinam alguns!
Gente mesmo crua, como crús eram as pessoas que lhes comprou alguma coisa -,um casal de jovens  vinha vaidoso com o par de jarros e uns pratitos nas mãos, ao passar pelo meu estaminé pararam e dizia ela para ele-, "vês aqui os preços, fizemos boas compras" no querer prevalecer que tinham feito uma boa compra  na comparação dos meus pratos de coleção da Real Fábrica de Sacavém que se encontravam marcados em faixas-, mas claro, era comparar pedras com diamantes, porque uma coisa é uma coisa, e outra coisa é outra coisa! A isto chama-se ignorância no ramo de velharias e loiça industrial! 
Caminhante vem uma senhora vestida de tailleur à vontadinha com 50 anos, da cor do serrabeco, ainda assim elegante pelo porte altivo e silhueta magra,  trazia um embrulho debaixo do braço, a quem questiono se não quer levar  o candeeiro que tinha apreciado de manhã na minha banca, diz-me radiante "olhe comprei dois pratos da cegonha por 10€"...Fiquei a mastigar-, a este preço só se me os derem ou os roubar...
E não são da marca da cegonha, sim EMA! 
Mas quem é que sabe o que é uma ema?Só gente culta!
Desiludida e cansada arrumei a banca da feira de velharias de  Cantanhede.
Salvou-se a alfazema que  surripiei  dos arbustos com que salpiquei os sacos para quando de novo os abrir me cheirarem bem...porque a feira cheirou-me mal!
Na  minha mente  saltitava "Cantanhede jamé de Jamais!"

Bocage a sua vida pelo oriente!

Deliciei-me  ao abrir por acaso uma Crónica Feminina nº 463 de 7.10.1965 que encontrei no sótão da casa de minha mãe com a história do Elmano Sadino.

«Manuel Maria Barbosa du Bocage desertou de Damão para a China. Fundam-se em hipóteses, vários investigadores,  em que data teria ele embarcado em Surrate com destino a Macau, admitem, uns, que tivesse sido em abril, outros, em maio e outros em junho por ser a época da monção mais favorável.
Talvez tivesse sido em maio, o que lhe daria tempo de atingir Cantão onde se julga ter ele aportado em julho de 1789.Era, porém, sei intento desembarcar em Macau.Levava algum plano definido?Parece que não.Os fatos apenas nos induzem a pensar que,depois da deserção, da qual talvez já estivesse arrependido, o poeta andava à toa.Proscrito em terras da Índia Portuguesa, restar-lhe-ia a esperança de obter acolhimento benévolo por parte do governador de Macau.
A viagem não foi feliz.É o que se deduz de algumas referências dispersas pelos seus poemas.Fala de tempestades, de tufões que o arremessaram para os mares da longínqua China. Parece que o navio, em vez de fundear normalmente, arribou desmantelado a Cantão, velho porto do antigo Celeste Império Assim se depreende deste lamento, em que se recorda a sua vagabundagem pelo Oriente.
Por bárbaros sertões gemi vagante;
Falta-me ainda pior, falta-me agora
Ver Gertrúria nos braços de outro amante!
Sabia que Gertrudes de Eça namorava outro homem; ignorava porém, o nome do seu rival. É nessa mesma ode , referindo-se a Goa, afirma:
Mais duro fez ali meu duro fado
Da vil calúnia a língua viperina;
E surge depois a revelação do imprevisto rumo que os temporais o obrigaram a tomar:
Até que aos mares da longínqua China
Fui por bravos tufões arremessado
Parece que só a muito custo o navio logrou alcançar Cantão, onde fundeou com os mastros quebrados e as velas esfarrapadas. Sem recursos, num território inteiramente desconhecido, cercado de uma população exótica, que não lhe mereceu o menor interesse, e talvez hostil, Bocage sentir-se-ia o mais desgraçado dos mortais, vendo-se na necessidade de mendigar para comer.Supõe-se que durou três meses essa triste situação. Estava a pagar bem caro o momento de irreflexão que o levara a desertar.
Lamenta a sua pouca sorte e revolta-se contra a pátrea indiferença com que naquela terra de abundância escutavam as suas súplicas de pobre de pedir:
Se a vasta, e fértil China
Fofa de imaginária antiguidades,
Pelo seu pingue seio
Te viu com lasso pé vagar mendigo
Se a mirrada avareza,
Aferrolhando os cofres prenhos de ouro
Lá onde o sol o gera,
Foi mais duro que mármore a teus versos...
Preocupado com a sua própria pessoa, num egocentrismo que há-de acompanhá-lo quase até à morte, Bocage não tem olhos senão para ver-se a ele mesmo e a tudo quanto possa ter um reflexo benéfico ou maligno na sua personalidade de brilhante poeta. Queixa-se de incompreensão, porque se lhe afigura que nunca os outros lhe concedem o respeito e a admiração que o seu génio merece.
É na veneração de ele próprio que vive três anos na Índia, sem sequer fazer um ligeiro esforço por compreender aquele povo de tradições milenárias, por admirar a paisagem que a todos encanta, por estudar as religiões que o cercam. Os idiomas orientais são para ele expressões grotescas que não vale a pena aprender.Quando alguma vez, por mera alusão ocidental, nos fala do interior indostânico cita com horror os "tigres", que certamente não chegou a ver, e os "palmares", cuja beleza não surpreendeu.O mundo em que vive só o interessa nos pormenores que influem direta ou indiretamente nas suas ambições,nos seus despeitos, nos seus amores e nos seus ódios.
Os seus olhos não se deslumbram com as paisagens, e os povos exóticos que teve a rara felicidade de visitar.Quase nem os viu. Deles o seu espírito não pode recolher impressões profundas que fizessem vibrar a sensibilidade de poeta até ao ponto de lhes consagrar os grandes poemas de que o seu génio se mostrou capaz. É em Cantão que lhe chega  a notícia da morte de  D.José, príncipe do Brasil e herdeiro da coroa de Portugal. Bocage não o conhecia em particularidades íntimas do seu espírito, como o conheceu lorde Beckford. O poeta não o teria visto senão alguma vez de longe, quando ele passasse na sua carruagem real. Muito sensível às aparências principescas, lamenta o povo português pela perda que acaba de sofrer, mas não resiste a lamentar-se logo em seguida a ele próprio, como pode ver-se:
Triste povo!E mais mísero, eu que habito
No remoto Cantão, donde Ulisseia,
Não pode a ti voar meu débil grito!

Misérrimo de mim, que em terra alheia,
Cá onde muge o mar da vasta China,
Vagabundo praguejo a morte feia!
Parece ter deambulado em confrangedora situação naquela terra chinesa durante três meses, admitem alguns autores, até que, por fim,não se sabe com que recursos, consegue aportar a Macau, onde desembarca em extrema miséria.
Podiam tê-lo capturado como desertor. Mas Lázaro da Silva Teixeira, ouvidor da cidade de Macau, que por essa data governava interinamente aquela colónia, teve pena dele e, em vez de o perseguir, socorreu-o. Logo planeou repatriar o jovem, que bem necessitado estaria de refazer-se nos ares pátrios. Pressente-se ter havido um movimento de ternura e simpatia dos portugueses de maior destaque em volta do poeta, que ali aportara semi nú, deprimido e a cair de fome. Ele não podia senão mostrar-se grato, por muito que isso pesasse à  altivez do seu caráter. Não constitui, pois,vulgar bajulação, tanto em uso nos poetas setecentistas, a ode que ele intitulou assim:A Gratidão, oferecida ao Senhor Lazáro da Silva Teixeira, desembargador da Casa da Suplicação e Governador interino de Macau.
Amenos campos, agradável clima
Onde o meu Tejo por areias d'ouro,
Por entre flores, mumurando e rindo
Límpido corre,

Paternos lares, que saudoso anelo,
Sacros Penates, que de longe adoro,
Suave asilo que perdi, vertendo
Lágrimas ternas.

Eu torno, eu torno,por amor guiado,
Exposto às fúrias dos tufões, dos mares...
.......................................................
Se eu vounas aras dos Penates caros,
Pendurar votos, consumir incensos,
Depositando sobre a lísea praia
Ósculo grato;

Se as inocentes, fraternais carícias
Vou cobiçoso recobrar na pátria.
Em cuja ausência fugitivas horas
Séculos julgo;

Se as cãs honradas vou molhar de pranto
Ao sábio velho, que me deu co'a a vida
Os seus desastres, por fatal, por negra
Lúgubre sina:
.........................................................
Tudo a ti deve, ó benfeitor, ó grande,
Que a roçagante, venerável toga
Mais venerável pelos seus preciaros
Méritos fazes, etc.

Joaquim Pereira de Almeida, abastado negociante, tornou-se à sua conta, hospedando-o em sua casa, e relacionou-o com a família, mais gradas de Macau. Assim, a vida tornou-se fácil, enquanto aguardava navio que o trouxesse de volta à Europa.E ainda para as passagens e mais despesas recorreu à bolsa generosa de D. Maria Saldanha Noronha de Menezes, escrevendo um poema em que lhe lisonjeava os filhos,conforme se lê nestes dois tercetos;
Roga-lhe, roga-lhe, enfim, que te destrua
As ânsias os tumores;
Que à pátria, ao próprio lar te restitua.

Ah!Já disse que sim:não mais ciamores!
Musa, musa, descansa.
Cantemos o triunfo, oh,esperança!
Não se sabe com exatidão em que data Bocage largou de Macau. Sabe-se apenas que foi no ano de 1790. Parece que, pela primeira vez,uma longa viagem decorreu com felicidade para o vate.Devia sentir-se ansioso por chegar. Imaginemos com que enternecida comoção ele não teria entrado a Barra, subido o Tejo,admirado a Torre de Belém, de uma graça única no Mundo, contemplando o mosteiro dos Jerónimos e lançado ferro, talvez,mesmo defronte do imponente Cais das Colunas:Uma vaga esperança de reconquistar a sua Gertrúria, só com o poder mágico dos seus poemas, recitados de viva voz, encher-lhe-ia o coração de venturosos presságios.
Ninguém sabia que ele regressava. Não havia pessoa alguma conhecida no Cais à sua espera, o que era plausível. Melhor!Mais saborosa seria a supresa de o tornarem a ver. Já teria chegado  a Portugal a notícia da sua deserção?Era provável. Mas isso não empanaria o contentamento que o seu regresso iria causar. Tentaria refazer a sua vida em Lisboa. Com uns bons empenhos de seu pai, talvez pudesse obter um bom lugar na burocracia.Possuía uma sólida educação;empregos por certo não lhe faltariam.Agora o principal era ir abraçar a família. Tomou sem mais demora o caminho de Setúbal.Sentia-se impaciente por estreitar seu pai contra o coração.
Pensaria como no seu poema:as cãs honradas vou molhar de pranto ao sábio velho...
Aguardava-o, porém, a mais surpreendente das desilusões . O doutor Soares Barbosa recebeu-o friamente.Ressentido por seu filho ter desertado?O poeta dar-lhe-ia explicações: o clima dissolvente de resistências morais,a tacanhez do meio , a duplicidade asiática os maus conselhos de um companheiro...As duas irmãs casadas mantiveram-se distantes. Maria Francisca.a mais nova,não vivia em Setúbal.Teria perguntado por seu irmão, o Gil Francisco. Disseram-lhe que casara.Ah, sim?E quem era a esposa?Gertrudes de Eça. A Gertrúria que ele tanto amara, a sua primeira paixão séria, a mulher por quem se expatriara e tanto sofrera para conquistar uma posição de que ela se orgulhasse! O irmão não hesitara em roubar-lhe a noiva, esta não tivera escrúpulos em trocá-lo por seu irmão.E o sábio velho aprovara esse casamento.A donzela não podia ficar indefinidamente  à espera de um estouvado que fora para tão longe tentar fortuna e que ainda por cima desertara nem se sabia para onde...
Então, sentindo-se de súbito só,muito só no Mundo, sem família, sem amor, sem esperança, o pobre Manuel Maria deu meia volta e tomou sombriamente o caminho de Lisboa.»

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Descamisadas com espigas oiro, carmesim e ruby nas eiras de Ansião

A minha tia Maria fazia a sementeira de milho no quintal , fazenda do Carvalhal e nas Cavadas onde fui várias vezes fazendo companhia à  minha prima Júlia, moçoila mais velha 10 anos, teimou ficar solteira, apesar dos fortes atributos, alta, desempenada, de boas carnes, robusta e bonita ainda enfeitada de um peito de altar em deixar cair dentaduras dançantes...
Na foto em frente do antigo hospital de Ansião no Bairro de Santo António, no dia do casamento da prima Tina, irmã da Júlia -, sou a criança de chapéu, e ela a última do lado esquerdo, vestida de avental porque serviu as mesas na boda.
A Júlia tem de nome sonante a mesma força para o trabalho, mulher destemida, teimava abarrotar os taipais da carroça de estrume curtido da estrumeira, de forquilha em fúria nas mãos as garfadas emprensadas transbordavam os fueiros, para logo seguir viagem estrada fora nos quatro quilómetros aviados de caminho, agora de mãos presas nas rédeas da burra, indo eu do outro lado  da carroça, ao passo da Gerica até às Cavadas com o cheiro forte  que toldava a conversa… 
Um gosto andar sempre na sua companhia para onde quer que fosse, amiga de contar e mostrar o que conhecia, um dia levou-me ao Casal das Peras antes do Carril para ver o  pezinho de Nossa Senhora esculpido num penedo de calcário, na altura acreditei pela perfeição, mais tarde percebi que pode muito bem ter sido uma obra escultórica dos antepassados do Neolítico (?)  quando andaram nestas serras de Ansião, tal como as gravuras de Foz Côa, Portas de Ródão  e,... 
Na altura da apanha do milho a carroça vinha apinhada  de espigas sendo descarregue no rebordo da eira.
Pela tardinha dava-se início à descamisada, onde mulheres, rapazes, homens e cachopos, sentados em cima das espigas, as iam descamisando do monte enchendo cestas que se despejavam na eira.
Quando alguém encontrava uma espiga de milho rei -, a espiga da cor carmesim ou ruby, deveria acontecer beijo na eira -, só que os rapazes no tempo eram muito envergonhados, não me lembro se alguma vez me beijaram - julgo que não, nem se atreviam ou sabiam dar um simples beijo na face (?)...porque os afetos não se valorizavam, havia que defender a honra, o não ficar mal falada... e foi pena a vivência de tais preconceitos…qualquer rapariga teria gostado de sentir tamanha emoção. 
Grandes os montes de camisas das espigas, que me pareciam o rabo estufado dos patos ou das pombas que se juntavam em  redor das gentes e das barbas de milho que largavam pólen, no pior para quem sofria de alergias.
Espigas cor d’oiro, carmesim ou ruby na eira a secar, depois de secas era descarolado numa máquina manual, de um lado saíam os carolos e os grãos de milho por outro. 
Seguia-se o ritual do limpador e de novo os grãos dourados e vermelhos voltavam à eira, para finalmente ser guardado nas arcas, que de lá saia para o taleigo que o moleiro havia de levar e transformar em farinha para a broa.O milho também era guardador dos queijos do Rabaçal para se aguentarem no inverno. Ainda me lembro de enfiar o braço na arca da Ti Rosa à procura de um...
Ainda recordo o cheiro da broa  a cozer no forno...

O milho era sustento para os animais: galinhas, patos e burra, e claro semente para nova seara. Não me lembro de o usarem na comida, em grão demolhado, no meu tempo nunca apreciei as famosas papas de milho, que os mais velhos comiam por não terem dentes.
Grandes descamisadas na eira do Ti Zé André  do Ribeiro da Vide à sombra da grande nespereira, da eira do Ti Raul Borges debaixo do alpendrito na frente da minha casa, na eira do "Ti Parolo” protegida pelo grande alecrinzeiro, também na eira do bisavô Elias do Alto resguardada pelo casario na planura do quintal a perder-se na vista do costado da Fonte da Costa e na Moita Redonda na eira do avô António Veríssimo, de corrente de prata do relógio presa ao colete, e o neto que viria ser meu marido ainda adolescente sentado em cima do milho com óculos, e familiares numa foto a preto e branco na década de 60.A eira é hoje pertença da nossa casa rural. 

Lindas eram as eiras vestidas de oiro serpenteadas de espigas carmesim  e ruby a estatelar o olhar!

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