Domingo, de verão vestidas de seda; branco e pintinhas rosa com véus na mão e a outra dada à minha irmã Mena, nada rogadas à fotografia registada pelo primo Alfredo, marido da Elsa defronte da casa dos sogros, nossos tios. Ao fundo da travessa, enxerga-se junto do Clube dos Caçadores mulheres a fritar peixe, devia ser dia de festa na vila, com o Ti Néco do Bairro de Santo António especado a olhar...Nos pés sandálias compradas na sapataria do Ti Emídio Sá. Ao sábado havia no mercado a tenda dos sapatos, não sei de onde vinham, com tamancas pretas com rasto de madeira e tachas de lado, galochas de borracha pretas e brancas para os cachopos, sapatos rendados em plástico e chinelos.
O primeiro sapato, ou melhor o primeiro calçado
Foi registado na história do Egito, por volta de 2000 a 3000 a.C. Trata-se de uma sandália, composta por duas partes, uma base, formada por tranças de cordas de raízes; cânhamo ou capim e uma alça presa aos lados, passando sobre o peito do pé.
Pois lembro-me bem da arte de sapateiro no meu tempo por Ansião
Ainda sou do tempo que se fazia encomenda de grossas botas de cabedal com umas correias que davam a volta ao pé, e rasto de pneu ou sola, com fortes proteções de metal: brocha de asa de mosca ou cardas, contra a resistência ao tempo. As do meu avô materno, no dizer da minha mãe eram destas, já as do meu avô paterno eram de cano curto, que me lembro delas de correia e fivela abotoar de lado, bem engraxadas ao domingo.Só se estreava calçado em alturas especiais, como no exame da 3 ou 4ªclasse, batizados e casamentos; além dos noivos, os padrinhos também o estreavam. Muitas vezes os sapatos de noiva eram forrados a tecido das sobras do vestido.
Sapateiro de sucesso era sinónimo de homem com talento para executar!
Já o aprendiz de sapateiro começava pelos trabalhos básicos a preparar linhas, a partir de fio e pêz ou resina e coser materiais, sempre debaixo da orientação do mestre sapateiro para executar tarefas cada vez mais complexas, de modo a estar familiarizado com as ferramentas e os procedimentos da arte, até ser capaz de chegar o dia que entregue a si próprio, criava a sua peça e a partir de materiais sem forma - sapatos ou botas, com a comodidade que o cliente ficasse satisfeito, enfim e se afirmar sapateiro, como acontecia noutras artes; costura, ferreiro e,...
Já o aprendiz de sapateiro começava pelos trabalhos básicos a preparar linhas, a partir de fio e pêz ou resina e coser materiais, sempre debaixo da orientação do mestre sapateiro para executar tarefas cada vez mais complexas, de modo a estar familiarizado com as ferramentas e os procedimentos da arte, até ser capaz de chegar o dia que entregue a si próprio, criava a sua peça e a partir de materiais sem forma - sapatos ou botas, com a comodidade que o cliente ficasse satisfeito, enfim e se afirmar sapateiro, como acontecia noutras artes; costura, ferreiro e,...
A primeira obra de um aprendiz
Na Mouta Redonda, Pousaflores, um aprendiz de sapateiro a sua primeira obra a presentear a sua avó Joaquina - "velha escarnienta de mau feitio" mal os experimenta em tom irónico e maldizente à sua filha, a mãe do rapaz "oh Maria os sapatitos que o teu filho me fez ficaram apertaditos, apertaditos…" Indignada a mãe do aprendiz ao ouvir funesto reparo em desagravo da boca de sua mãe responde-lhe no mesmo tom "apertaditos" ? Sabe a minha mãe quem lhe fazia uns sapatos mesmo à medida do seu pé ?O ferrador da Mó…"
A pobre velha sonsa, vai perguntar à avó do meu marido, a Rosa da Quelha " oh Rosa quando fores às vinhas da Mó, a minha Maria diz "quá lá" um ferrador que faz sapatos mesmo à medida do meu pé, como uma luva"-Responde-lhe a Rosa" oh mulher, a sua Maria quis atenta-la, "atão" o ferrador põe ferraduras, mas é nos burros…"
Sapateiro artista não lhe faltava a tábua da lixa onde afiava a faca na vira que aparava e empanava a vida - um aparador de viras que não se fazia rogado ao trabalho.Naquele tempo as oficinas de sapateiro que conheci eram em estilo semelhantes, apenas diferia a luz- alguns trabalhavam na frente da porta aberta e, outros na parte de trás do estabelecimento, onde a luz era mais escassa, sob a parca bancada de trabalho pendia o fio suspenso com a lâmpada , sendo que em todas elas se via pelo chão calçado pelos cantos, com cola a secar , tamancos e sandálias altas com
rasto de cortiça descorada para pintar com bioxene e prateleiras esconsas abarrotar de outro calçado com atacadores descaídos e, no tempo o pó carregou, por os fregueses deles se terem esquecido…Sempre o ferro de burnir que o aprendiz ou o mestre acendia e reacendia na lata de brasas e o mexia com a torquês, para o aquecer para em vira pôr pêz e, a forma de ferro e as de madeira, para tirar o molde ajustando a forma ao pé do freguês no aguçar "vi-lhe a perna do joelho ao artelho, gabava-se ele sapateiro arteiro, que a menina com os pés a crescer, por certo, tinha de tirar molde outra vez…" Não faltava na oficina de sapateiro a cera, a sola, a tomba, as gáspeas e meias gáspeas, a alma, a cerda, a linha e a anilina, a borracha e o atacador, os pregos, a sovela da borracha e a sovela da sola, as meias solas, os ilhós, a graxa, o cuspinho, o martelo, a cola, o salto, o meio salto e o salto alto, o protetor, a máquina de cozer, o contraforte, a fivela, a escova preta e a castanha, o calfe...Pelas paredes em geral calendários de folhas reviradas com a humidade e calor, e o cheiro forte a cola.
Porque o conhecimento é cultura, e a arte de sapateiro não deve ser desprestigiada, nem tão pouco esquecida- antes valorizada!
Muito filho de sapateiro se tornou doutor e o concelho de Ansião não fugiu à regra!
Dia do Sapateiro a 25 de Outubro
Foto retirada da netLourinhã muito semelhante à que vivi em Ansião
O sapateiro vestido de avental, e o conjunto de objetos de trabalho que saíram de uso, como o tripé e a bancada, e os moldes de botas e sapatos onde não faltam solas e cabedal.
Formas de madeira
Máquina de cozer
Recordo em Ansião ao meu tempo todos tinham máquinas de cozer. Mas, o que mais via era o serviço manual, não se livravam de cortar as mãos com a sovela curva de bico a furar solas de cabedal ou de borracha e, no mesmo buraco metiam outra sovela de vareta para dar caminho à guita. As vezes que assisti a este ritual. Depois o sapateiro na província, deixou de ter a função de fabricar calçado na década de 60, quando o mercado começou a ser invadido por calçado industrial, em série, para gente pequena e graúda, de todos os tamanhos, sendo mais barato que o encomendado ao sapateiro- o drama que marca o fim da arte do sapateiro, mantendo-se somente como reparadores de sapatos como ainda hoje nas estações de Metro em Lisboa e, nos centros comerciais. Em Ansião, temos um bom na Avª Dr. Vitor Faveiro onde agora sou cliente, pelo Natal foi a colocação de uma mão numa mala de cabedal.
O Ti Álvaro Rebelo, avô da minha amiga Lála, a sul do correio velho, na sua casa construíram este prédio.O Ti Álvaro tinha um quintalito na rua de trás de paredes meias com a minha Tia Carma na frente da casa do "Armando Girafa", já o conheci velhote, no início de 60, na sua casa tinha a oficina de sapateiro onde entrei várias vezes, mas pouco mais me recordo...
O sítio do sapateiro Ti João do Cimo da Rua
Na frente deste prédio antes de requalificado. Recordo de o ver chegar com a lata de brasas , sempre de avental ensebado e sovela na mão a puxar guita a cozer botas e sapatos. Tanta brocha de asa de mosca, cardas ou tachas me pôs nos sapatos na frente e atrás no tacão porque se gastavam, e cozia na máquina fechos das botas quando se estragadas nas dobras...
Fontes:
http://www.homeoesp.org/
http://www.sapateiropitstop.com.br/
http://terradoscaes.blogspot.pt/
Fotos do google
Na frente deste prédio antes de requalificado. Recordo de o ver chegar com a lata de brasas , sempre de avental ensebado e sovela na mão a puxar guita a cozer botas e sapatos. Tanta brocha de asa de mosca, cardas ou tachas me pôs nos sapatos na frente e atrás no tacão porque se gastavam, e cozia na máquina fechos das botas quando se estragadas nas dobras...
A sapataria do Sr. Gaspar (pai)
Mentor do negócio, homem de estatura baixa, castiço, vestido de óculos e chapelinho pela cabeça, vivia na casinha típica, pintada a ocre, ao Moinho das Moutas com escada em meia lua. A sua sapataria foi a maior em Ansião, de grande freguesia na rua António Salazar com duas portas e degrau rebatido em chão de cimento pintado a vermelho, apresentava-se de grande balcão corrido em "L" com máquina registadora. Prateleiras e chão com muitas caixas de sapatos , pelo teto pendurados moldes em madeira em todos os tamanhos e ainda botas de cano curto, para homens e rapazes, feitas por medida, em preto e cabedal, enceradas, que o meu avô "Zé do Bairro" e o seu filho Chico usavam e aqui mandavam fazer. Na época o meu pai era quem calçava o número maior em Ansião - 44 sempre aqui encomendado de propósito. Desse tempo recordo a chegada de um par de sapatos de biqueira larga em tom amarelo torrado, uma modernidade.
Os arranjos de sapatos e botas se faziam no andar de cima , entrava-se pelo portão do lado, subia-se uma pequena escada. Onde também cheguei a vir algumas vezes, para arranjo dos tacões altos e das almas partidas dos sapatos da minha mãe que lhe faziam umas pernas de invejar com meias de costura... Tantas as vezes o serviço de capas em sapatos e botas, remendo de correias rebentadas nas sandálias .
Foto da minha Comunhão Solene
Ño estúdio do Nélito em casa alugada, perto da igreja, em chão coberto a plástico estampado e reposteiro apanhado de braçado. Era tempo de poupança, porque não tive direto a ficar sozinha assim vestida de branco em vestimenta de aluguer em Pombal .Reparem no efeito da luz refletida na parede da corrente do sapato de verniz com o enfeite de corrente antes da pala da minha Mena.
Depois de cumprirem a sua função, ainda eram úteis, porque não havia embalagens, com elas se faziam encomendas. Quando frequentei a Colónia Balnear Bissaya Barreto na Gala, onde a minha mãe nos mandava sandes, em papo secos de maminhas com carne assada, chegavam rijas que nem cornos, mas sabiam a Ansião, a parco mitigar da fome, porque para nós a comida da Colónia tinha cheiro a fénico, intragável, apenas se salvava o lanche com um quarto de pão e gorda fatia de marmelada...Devagarinho eram trincadas as sandes pela bênção de bons dentes...
Sapataria do Sr Emídio Sá
Abaixo da igreja havia o sapateiro Ti Emídio Sá, mais tarde alargou o negócio com uma pequena sapataria. Um dia quando fui levar calçado para arranjar o seu filho Sá, meu colega, ajudava o pai no mostrador pregado na parede onde colocava sapatos acabados de receber e, logo distingui uns botins que os olhos me ficaram neles, custavam 500$00, não parei nem descansei a chatear a minha mãe para os comprar, apesar do número não ser o meu, era mais pequeno 36, assentavam nos pés apertaditos, a desconforto com os dedos encavalitados...ainda hoje com marcas!
Nesta foto no casamento de uma prima de Pousaflores arreliada com eles calçados...
Já Fernando Pessoa afirmou, que “o verdadeiro patrono do nosso país é esse sapateiro Bandarra” e ainda que era naquele “sapateiro de Trancoso em cuja alma vivia, ninguém sabe como, o mistério atlântico da alma portuguesa”.
As suas trovas começaram a circular por todo o país em forma de cópias manuscritas, provavelmente a partir de 1537. A primeira edição impressa, data de 1603. Bandarra foi lido e conhecido, praticamente em todo o Portugal. Conhecido, idolatrado em vida e após o seu decesso. No dia da aclamação de D. João IV, sem oposição do Arcebispo e do próprio Santo Ofício, teve o seu retrato num dos altares da Sé, com honras de santo.
Estátua em Trancoso do profeta BandarraTranscrevo algumas das suas quadras, ajaezadas em função das circunstâncias e das memórias dos cantadores, nas tendas feitas taberna, em frente de um copo de vinho puro...
"Determinei de escrever
A minha sapataria:
Por ser Vossa Senhoria
O que sai de meu coser.
Que me quero entremeter
Nesta obra, que ofereço
Porque saibam o que conheço,
E quanto mais posso fazer.
Sairá de meu coser
Tanta obra de lavores,
Que folguem muitos Senhores
De a calçar, e trazer.
E quero entremeter
Laços em obra grosseira.
Quem tiver boa maneira
Folgará muito de a ver.
Coso com linho assedado,
Encerado a cada ponto;
Coso miúdo sem conto,
Que assim o quer o calçado.
Se vier algum avisado
Requerer algumas solas,
Eu as corto sem bitolas,
E logo vai sobressolado.
Também sou oficial:
Às vezes coso com vira,
E sei bem como se tira
O ganho do cabedal.
Se vier algum zombar,
Fazer-me qualquer pergunta,
Dir-lhe-ei como se ajunta
A agulha com o dedal.
Minha obra é mui segura
Porque a mais é de correia.
Se a alguém parecer feia,
Não entende de costura.
Eu faço obra de dura,
E não ando pela rama.
Conheço bem a courama
Que convém à criatura.
Sei medir e sei talhar,
Sem que vos assim pareça:
Tudo tenho na cabeça,
Se o eu quiser usar.
E quem o quiser grosar,
Olhe bem a minha obra:
Achará que inda me sobra
Dous cabos pera ajuntar.
Sempre ando ocupado
Por fazer minha obra boa.
Se eu vivera em Lisboa
Eu fora mais estimado.
Contente sou, e pagado
De lançar um só remendo.
Inda que estém remoendo
Não me toquem no calçado."
Parece-me credível que a arte de sapateiro veio com os judeus expulsos de Espanha depois de 1492. Nos bairros de fora de Guimarães, o spoços do tratamento de peles, curtindo os couros para os sapateiros que se vendiam nas Feiras Francas na Constantina depois de 1624.
Por fim alencar o livro da D.Fernanda 29
Evoca histórias e o retrato em história graciosa da arte de sapateiro em Ansião.
Suposta gravura do Bandarra, a exercer a sua profissão, datada de 1603Lembrar Gonçalo Anes, na história ficou famoso com o nome de Bandarra ( a alcunha talvez tenha tido a sua origem numa vida de vadiagem, de moinante, expressão muito utilizada por aquelas paragens). Homem nascido por volta de 1500 , sapateiro ou melhor, oficial de sapateiro de calçado de correia – não só consertava, mas também fabricava sapatos – em Trancoso, terra fria da Beira Alta, foi poeta, autor das Trovas, que lhe valeram o título de profeta nacional. Terá lido a Bíblia e as suas profecias agradaram aos judeus, o que lhe causou a perseguição do Santo Ofício, que o acusou de ser judeu e de versejar profecias a favor dos da sua raça. Aliás, o que melhor se sabe da vida do pobre sapateiro, consta do processo que lhe foi movido pelo dito Santo Ofício da Inquisição e, refere-se ao período que decorreu entre 1538 e 1541.O processo encontra-se na Torre do Tombo e tem o número 7197.Terá apenas sido submetido ao degradante passeio dos condenados pelos Paços da Ribeira e condenado a uma simples abjuração.
Nos seus versos, deparamo-nos com quatro visões fundamentais:
Que tanto apreço geraram, quer no Padre António Vieira quer em Fernando Pessoa. O padre António Vieira descreve-o como um homem “idiota e humilde”, mas não lhe nega, antes exalta, os dons de profeta.Nos seus versos, deparamo-nos com quatro visões fundamentais:
O regresso do Encoberto;
A Restauração de 1640;
A derrota de Napoleão,
O mito do Quinto Império
A Restauração de 1640;
A derrota de Napoleão,
O mito do Quinto Império
Já Fernando Pessoa afirmou, que “o verdadeiro patrono do nosso país é esse sapateiro Bandarra” e ainda que era naquele “sapateiro de Trancoso em cuja alma vivia, ninguém sabe como, o mistério atlântico da alma portuguesa”.
As suas trovas começaram a circular por todo o país em forma de cópias manuscritas, provavelmente a partir de 1537. A primeira edição impressa, data de 1603. Bandarra foi lido e conhecido, praticamente em todo o Portugal. Conhecido, idolatrado em vida e após o seu decesso. No dia da aclamação de D. João IV, sem oposição do Arcebispo e do próprio Santo Ofício, teve o seu retrato num dos altares da Sé, com honras de santo.
Estátua em Trancoso do profeta BandarraTranscrevo algumas das suas quadras, ajaezadas em função das circunstâncias e das memórias dos cantadores, nas tendas feitas taberna, em frente de um copo de vinho puro...
"Determinei de escrever
A minha sapataria:
Por ser Vossa Senhoria
O que sai de meu coser.
Que me quero entremeter
Nesta obra, que ofereço
Porque saibam o que conheço,
E quanto mais posso fazer.
Sairá de meu coser
Tanta obra de lavores,
Que folguem muitos Senhores
De a calçar, e trazer.
E quero entremeter
Laços em obra grosseira.
Quem tiver boa maneira
Folgará muito de a ver.
Coso com linho assedado,
Encerado a cada ponto;
Coso miúdo sem conto,
Que assim o quer o calçado.
Se vier algum avisado
Requerer algumas solas,
Eu as corto sem bitolas,
E logo vai sobressolado.
Também sou oficial:
Às vezes coso com vira,
E sei bem como se tira
O ganho do cabedal.
Se vier algum zombar,
Fazer-me qualquer pergunta,
Dir-lhe-ei como se ajunta
A agulha com o dedal.
Minha obra é mui segura
Porque a mais é de correia.
Se a alguém parecer feia,
Não entende de costura.
Eu faço obra de dura,
E não ando pela rama.
Conheço bem a courama
Que convém à criatura.
Sei medir e sei talhar,
Sem que vos assim pareça:
Tudo tenho na cabeça,
Se o eu quiser usar.
E quem o quiser grosar,
Olhe bem a minha obra:
Achará que inda me sobra
Dous cabos pera ajuntar.
Sempre ando ocupado
Por fazer minha obra boa.
Se eu vivera em Lisboa
Eu fora mais estimado.
Contente sou, e pagado
De lançar um só remendo.
Inda que estém remoendo
Não me toquem no calçado."
Parece-me credível que a arte de sapateiro veio com os judeus expulsos de Espanha depois de 1492. Nos bairros de fora de Guimarães, o spoços do tratamento de peles, curtindo os couros para os sapateiros que se vendiam nas Feiras Francas na Constantina depois de 1624.
E, o Bandarra também seria judeu , mas, sendo inteligente, conseguui safar-se ao interrogatório da Inquisição, ficando escrito que não tinha sangue judeu...Mas, Bandarra também houve um em Ansião, muito alto que metia medo aos cachopos do Casal S. Brás, andava sempre armado de canivete e ameaçava que lhes cortava as partes...
A nobreza sábia dos versos de Sá de Miranda na Carta a El-Rei D. João III
Homem de um só parecer,
De um só rosto e de uma fé,
De antes quebrar que volver,
Outra coisa pode ser,
Mas da corte homem não é.
De um só rosto e de uma fé,
De antes quebrar que volver,
Outra coisa pode ser,
Mas da corte homem não é.
Evoca histórias e o retrato em história graciosa da arte de sapateiro em Ansião.
Autora, a ilustre ansianense "Fernanda do 29" . O livro foi-me facultado pela D. Piedade Lopes, a quem agradeço a cortesia.
Excerto de "A dos Sapateiros
(...) Em conversa com os meus filhos, como eu tinha a loja, disse-lhes: na terra há dois sapateiros, gosto de ajudar os dois, pois eles também são meus fregueses.
Um dia mandei a minha filha levar um par de sapatos ao sapateiro. Ela perguntou: Mãe a qual é que eu vou?Eu: Olha vai a qualquer um e diz que é para pôr meias solas e uns tacões.
Passaram-se uns dias e de repente chega à loja um dos sapateiros, e diz-me:Eu não percebo nada, então a sua filha levou-me só este sapato e diz-me que é para pôr meias solas e uns tacões, fiquei admirado com a conversa...
Como ela estava para a escola, por acaso fui à loja do outro sapateiro e, vem ele precisamente com a mesma conversa...Ela tinha lá ido também levar só um sapato.
Quando ela chegou da escola perguntei-lhe:Olha lá então o que é que se passa, andas a brincar?Então foste pôr um sapato em cada sapateiro?
Resposta dela: Oh mãe - então a mãe não diz que gosta de ajudar os dois?"...
Excerto de "A dos Sapateiros
(...) Em conversa com os meus filhos, como eu tinha a loja, disse-lhes: na terra há dois sapateiros, gosto de ajudar os dois, pois eles também são meus fregueses.
Um dia mandei a minha filha levar um par de sapatos ao sapateiro. Ela perguntou: Mãe a qual é que eu vou?Eu: Olha vai a qualquer um e diz que é para pôr meias solas e uns tacões.
Passaram-se uns dias e de repente chega à loja um dos sapateiros, e diz-me:Eu não percebo nada, então a sua filha levou-me só este sapato e diz-me que é para pôr meias solas e uns tacões, fiquei admirado com a conversa...
Como ela estava para a escola, por acaso fui à loja do outro sapateiro e, vem ele precisamente com a mesma conversa...Ela tinha lá ido também levar só um sapato.
Quando ela chegou da escola perguntei-lhe:Olha lá então o que é que se passa, andas a brincar?Então foste pôr um sapato em cada sapateiro?
Resposta dela: Oh mãe - então a mãe não diz que gosta de ajudar os dois?"...
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