segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Quem "embruxou" Coina para a deixar morrer no esquecimento?

O meu marido acordou na breve paragem em Coina no regresso das festas da Moita, tinha a vontade em descobrir o sítio da Fábrica Real de Vidros, apesar da tarde de calor abrasador se mostrou longa de 4 H entre conversa com o dono do café e passeio a refrescar com boa cerveja e tremoços, a primeira vez na minha vida que a ingeri em tão grande quantidade, e ainda bebia mais, francamente soube-me bem!
A placa toponímica da Real Fábrica de Vidro de Coina não se encontra defronte do terreiro onde a mesma laborou, (que se chama Rua do Mercado) ...estranho constatar  a sua colocação num Largo de extenso areal, sito entre estradas com umas três casas ...

A Real Fábrica do vidro de Coina laborou  entre 1719 e 1747 para daqui se mudar para a Marinha Grande pela falta combustível resulto das constantes reclamações dos lisboetas que se queixavam da falta de lenha para consumo, ao tempo a sua única fonte de energia.Os fornos consumiam muita lenha-, além destes fornos de vidro, haviam também os fornos do biscoito, fornos da cal, fornos de cerâmica e os estaleiros que gastavam muita madeira de pinho para a construção naval. Foi o administrador da fábrica John Bear que em 1748 decidiu a mudança para a Marinha Grande pela abundância de matérias primas como a areia, e o material carburante do pinhal do Rei , conhecido pelo pinhal de Leiria.
Existe um forno da era romana em Pedrogão Grande ao género  destes subterrâneos , o que leva a supor tenham sido um reaproveitamento do tempo dos romanos nesta terra evidente a sua grande importância deixada na história com o nome de Equabona. A importância histórica e arqueológica deste achado em Coina levou a Câmara do Barreiro a solicitar a sua classificação como Imóvel de Interesse Público ao Instituto Português do Património Arqueológico em 31 de Dezembro de 1997.Entre 1983 e 1990 realizaram-se várias campanhas arqueológicas dirigidas cientificamente por Jorge Custódio, e apoiadas técnica e financeiramente pela Associação Portuguesa de Arqueologia e pela Câmara Municipal do Barreiro. Porém, o local depois das escavações foi deixado completamente ao Deus dará...apenas resulto de uma edição em Livro temático que tenho na minha coleção.
Foto do Livro que comprei na feira de velharias da Figueira da Foz
Foto das escavações retirada do Google
Escadas largas de acesso a um forno
 Aspeto geral de um forno, cave e a planta
Lamentavelmente tudo foi deixado ao abandono em total desmazelo se mostra ainda aos dias d'hoje!

Há muitos anos pouco ou nenhum investimento tem sido feito em Coina, cujas autarquias desde o 25 de abril a tem descuidado, com que intenção? A meu ver tem vasto e diversificado manancial para ser motivo de atração turística pelo valor histórico que encerra em vários locais. O sítio da Fábrica Real de Coina bastava ser devidamente limpo, telhado, delimitado com vedação e a margem do rio Coina desinfestada de canavial evasivo, com carreiro pedonal de acesso a possíveis túneis (?) acompanhando a margem do rio até à ponte de Coina, devendo a desmatação das margens acontecer até à entrada do esteiro no Mar da Palha na vontade maior em desafogara Coina, e assim poder voltar a brilhar nos seus 500 anos de vila, sendo que o foi fulcral e de interesse desde os romanos,  povo de visão em prol d'hoje brutalmente cegos!
 
Setembro de 2016, assim me deparei com o sítio da Fábrica de Vidros de Coina a olhos vistos fatal paradigma em total desprezo do seu terreiro semeado a cardos secos, apesar dos cães presos a ladrar junto a uma ruína da antiga Fábrica de estamparia cercada de montes de lixo aventurei em seguir até à margem do rio Coina,  acredito muitos o desconhecem por estar quase entupido por canavial e outra vegetação, e por nada encontrar naquela parovela, teimei em voltar a enxergar para à direita deslindar um amontoado de entulhos ao meio do terrado que quis ir ver pelo que pedi ao meu marido para me acompanhar por temor aos cães-, caminhei por entre cardos ressequidos picavam como agulhas as pernas, para com satisfação ter descoberto o que restam dos fornos semi entupidos para não se caírem neles (?), com paus, rede velha, pneus, telhas acrílicas, num deles o aproveitam para poço, com água e balde debruado a avencas verdes no rebordo cerâmico, noutro se espraiava uma linda aboboreira de grandes folhas verdes...

As árvores altas acompanham a margem do rio Coina que nasce nas faldas da Arrábida. Ao meio da foto no terreiro vislumbram-se os buracos onde foram os fornos.
O sítio o poço, agora fechado que pertenceu à laboração da fábrica de vidro

Outra perspetiva do poço na diagonal com os fornos e ao fundo o rio Coina
 Rio Coina atual na melhor parte, a partir daqui completamente escondido....
Foto antiga -, não muito, porque já existem postes de eletricidade e de telecomunicações, com as margens verdadeiramente limpas...com muita certeza foi tirada junto do terreiro da feira onde se denota o casario antigo ainda existente com a igreja de Nossa Senhora dos Remédios e ao longe um Moinho de Maré.
Como foi possível tanto abandono e desprezo ?
 Ponte romana (?) de Coina

 Coina o movimento de Fragatas a descarregar no Cais da Viscondessa...seria em Vale Zebro?
Fábrica Real de Vidro de Coina
O que resta dos fornos subterrâneos tapados com todo o tipo de material, supostamente para não se cair dentro deles...
A perigosidade deste forno onde nasceu um grande cardo,o mais incauto nele pode cair...
 Forno aproveitado como poço

O acesso aos fornos para fabrico de vidro era feito por escadaria quase deitada, uma vez que os fornos eram subterrâneos, notam-se no terreno algumas estruturas de paredes compridas que dão essa sensação de suposta escadaria de acesso. O povo fala da existência de um túnel que até à pouco tempo ainda se via a entrada junto da margem do rio...
Na semana seguinte na minha habitual visita a Lisboa encontrei num antiquário da baixa um copo desse tempo fabricado na real manufatura que constituiu um exemplo de exaltação e poder absoluto do monarca D. João V expresso nas peças fabricadas em seu louvor ou através de poemas de escritores contemporâneos, o que se enquadra perfeitamente no espírito barroco da época joanina e do ouro vindo do Brasil.Exemplar, uma réplica  encomendada por Salazar à Marinha Grande em 1940 por altura da Exposição Mundial, em que teimou mostrar os feitos, glória e riqueza dos portugueses nos séculos antecedentes.
Em Coina, dedicaram-se ao fabrico de cristalaria, a vidraria e a coparia, o vidro plano e a garrafaria .
O desperdício de sobras de vidro  seguiam para a COVA DOS VIDROS, sita hoje na Quinta do Conde, no atual Jardim na beira da estrada, onde havia um grande armazém do Xavier de Lima. Desconheço se fizeram escavações no local (?) para os fragmentos poderem ser expostos numa ala museológica...
Copo das reservas da CMB supostamente encontrado nas escavações(?). Um verdadeiro copo fabricado em Coina.A Marinha Grande também o reproduziu.
"Peças no Livro numa reapreciação dos catálogos de Carlos Barros. em 1969, em função dos achados em Coina permitiu olhar de forma diferente aquele reportório de vidros desenhados dos meados do século XVIII..."
Há anos comprei uma peça igual a esta, sem tampa, era belíssima, numa tonalidade diferente da tradicional "casca de cebola", canelada, ainda cheguei a utiliza-la para fazer um presépio no natal, mas como estava brucinada no rebordo resolvi vende-la...quando vi esta foto no livro fiquei francamente triste, pois eu sabia que era diferente de tudo o que conhecia...
Provável fabrico de Coina(?)
 Um frasco e um  garrafão "bola"
Albarrada, jarra para flores, coleção do Palácio Nacional de Mafra
Tive um jarro tipo galheta  com um bico muito bem delineado em grande cujo vidro era muito semelhante a este, mas por dentro tinha manchas a que se dá o nome "cancro do vidro" por isso a vendi. Foi em Setúbal que mal a vi a comprei para depois outra ver igual como nova...
 
 
Quando me dirigia para explorar o sítio vinha ao longe talvez do rio, um casal de patos de andar vagaroso, quando dei a última olhadela ao local os enxerguei junto a monos de lixo no fechar do sítio da Fábrica Real do Vidro de Coina...

Ainda dei uma voltinha pelo largo descobri mais coisas enigmáticas!

Rua do Pelourinho-, debalde não o vi!
"Naciolinda Silvestre, Presidente da União de Freguesias de Palhais e Coina,  no decorrer de uma sessão sobre os 500 anos do Foral de Coina, divulgou que no dia 15 de Fevereiro de 2017, será reposto o Pelourinho, na sua reconstituição, ou uma réplica, evento que encerra as comemorações."

No mesmo o moinho do Alimo (será o do século XV(?)
Igreja Matriz Salvador do Mundo de Coina  abalada com o terramoto de 1755 , na foto parece ter sido depois deixada ao abandono, até que quase desapareceu, no entanto o belo fontanário deveria ter sido daqui retirado (?) era então envolto numa cercadura de sebe, seria um local bem mais bonito daquele que aqui hoje persiste.
Ruína da igreja matriz e um pedaço da sua parede lateral-, se não acodem à torre, estando a desmoronar na quina norte/sul, vai perder-se para sempre e não devia, fará parte da tradição oral que existiam em Coina sete igrejas...
  • Ermida de S.Pedro de Coina a Velha de 1620 carta de colação  a Luís Afonso
  • Ermida de Nossa Senhora da Conceição da quinta de Coina a Velha a Isabel de Sá em 1662
  • Ermida de Santo Amaro da quinta de Coina a Velha a Francisco Pinto Pereira
  • Capela da Quinta do Manique destruída pelo "Rei do Lixo" por ser ateu para dela fazer estábulos e armazéns.
  • Capela Nossa Senhora dos Remédios que ainda existe.
  • Matriz abalada com o terramoto de 1755 .
  • Na saída de Coina para Covas de Coina à direita havia uma capela, não sei se alguma das acima referidas será esta (?) ,a ser talvez a sétima fosse no palácio Hipólito (?).
Vale Zebro na época romana Coina  conhecida por Equabona, pela ligação ao "cavalo zebro" predominante nesta região e na Península Ibérica",desconheço se aqui havia capela no conjunto da Fábrica do biscoito (?).
  
Curiosamente a parede é feita com pedra e blocos cerâmicos, os mesmos ou parecidos com os dos fornos do vidro, ou foram reutilizados ou teriam vindo da fábrica de cerâmica e faiança da Quinta da Machada (?).
Não sei se esta ruína junto do que foi a Igreja matriz, foi o Palácio do Hipólito (?), ou se este se situava junto ao esteiro do Rio Coina , onde hoje se encontra o novo nó rodoviário com rotunda para Coina e Barreiro, pela frente as ruínas dos Fornos da Cal, mas  hoje as suas ruínas não se distinguem a olho nu pelo denso canavial no sapal do Rio Coina.
Depois do terramoto  muitas pedras da Igreja e do palácio foram reutilizadas noutro casario de Coina.
De quem seria esta casa ?
Casa grande em ruína por estar bem enquadrada em Coina deveria ser restaurada na traça antiga para nela ser instalado um Museu que reunisse todo o material e espólio das suas gentes, e do que nesta terra foi fabricado e pertence ao espólio de outros Museus.
Reparei que na frontaria alguns adeptos do chinquilho aqui fizeram um terreiro onde nos finais de tarde domingueira jogam este jogo . Os vi a chegar. Um deles vinha no seu Mercedes com a malha, em estojo de cabedal. Interessante a reconstrução da torre da igreja com material que ainda existe adjacente e construir paredes a mediar o pedaço da existente estrutura do que foi o corpo da igreja pela  mesma altura, de porta aberta, e dentro dela fazer nascer um terreiro para perpetuar a tradição do jogo da malha, destas gentes que aqui se instalaram muitas vindas de norte e do centro do País para trabalhar nos arrozais e na quinta de S. Vicente que foi o maior pomar da Europa, muitos por cá ficaram com as suas tradições, como o jogo da malha, por isso ainda aqui  tão enraizado.

Vista do palácio de Coina, da Torre de Coina, que muitos dizem ser o símbolo heráldico do brasão de Coina (?), mas ao que parece ninguém lhe acode!
Deixei-me a pensar - será que a Câmara do Barreiro se esqueceu (?) do valor patrimonial e histórico de Coina, do sítio da Fábrica Real de Vidro de Coina? O que faz transparecer, se esquece a cada dia, de tudo o que foi importante em Coina (?) -, do tempo romano que se chamou Equabona, da ruína do seu castelo árabe, dos Fornos de Cal, dos Moinhos de maré ( quiçá particulares (?), da Ponte romana, do Rio Coina completamente entupido e assoreado de canavial, da pista das suas sete Igrejas, dos Fornos de faiança e cerâmica do século XV, os primeiros da Península Ibérica na Mata da Machada (?), e do Palácio do "Rei do Lixo" que sendo particular se tenciona intervir para não ruir? Apenas preservado Vale Zebro onde havia 27 fornos de cozer biscoito (levado pelos marinheiros para as descobertas), armazéns de trigo, cais de embarque e um moinho de maré de 8 moendas – o moinho D’El Rei, o maior da região , o terramoto destruiu praticamente tudo, havia de ser reconstruído e hoje ainda se mantém vivo! 
Forno na Mata da Machada século XV
O sol batia forte e feio de tanto brilho a dizer adeus para se ir deitar...Deixámos Coina, já passava das 7,30...tarde agradável, o café muito acolhedor de gente trabalhadora e simpática convive quase de paredes meias com uma confeitaria onde entrei e distingui muita qualidade nos bolos, mas eu tinha era sede, muita sede do  choco frito, por isso saí e entrei no café!
Nasci em Coimbra, as mesmas letras no sufixo de Coina-, seja a paixão pela minha terra que me deu azo a falar tanto desta!

O terramoto de 1755 ditou a destruição do fausto de Coina, se ergueu no início do século XX em grandeza que durou até mais de meados deste,  para se voltar a deixar morrer lentamente a olhos vistos até hoje, e não se vê ninguém com "tomates", dose de cultura  e sentido de estética para a voltar a erguer e a salvar deste maldito marasmo?

FONTES 
https://www.facebook.com/jornalrostos/photos/
http://www.rostos.pt/
reservasmuseologicascmb.wordpress.com
 http://www.alvarovelho.net/
 http://www.academia.edu/5091701/AZEIT%C3%83O_Apontamentos_para_a_hist%C3%B3ria_do_seu_patrim%C3%B3nio_religioso

domingo, 18 de setembro de 2016

Mitigar saudade de Ansião no apelo a falar de pessoas, toponímia e seus aromas, em Lisboa

Lisboa  a 180 km de Ansião vim a descobrir na Praça Sá Carneiro, ao Areeiro, um estabelecimento com o nome de ANSIÃO. Amei sentir Ansião tão bem situado!
O dono do estabelecimento - o Sr Júlio, confidenciou-me que começou a trabalhar na taberna da "Ti Gracinda dos cachopos", ainda conheci, e por fim no estabelecimento do Sr Domingos, a tasca de esquina com a Praça do Município, onde tanta vez distingui ao balcão quando ia comprar sandes ao final da tarde, depois da escola, homens de copos de vinho a comer carapaus fritos ou petingas de escabeche. As iscas da Preciosa, eram divinas , as fazia como ninguém, ao jus do seu gracioso nome. O Sr Júlio, daqui veio para Lisboa onde ainda se mantém. Tem a sua casa em Ansião para gozar a reforma, onde se desloca amiúde. 
Riso uníssono quando lhe disse- se calhar alguma vez foi à montra cortar bananas do cacho pois lá fui muita vez para as comprar...
Ambiente acolhedor decorado com o painel azulejar do Milagre da Rainha Santa Isabel , dando esmola a um ancião e ,...
Rua Pascoal de Melo em Lisboa
O  nosso Ilustre Ansianenses -  Pascoal José de Mello Freire dos Reis nascido a 6 de abril em Ansião em 1738. Desde cedo se começou a manifestar de superior inteligência para a cultura das leis.
Desenvolveu carreira de notabilíssimo jurisconsulto, ao tempo do Marquês de Pombal, supostamente foi por este aliciado (?) em conluio para dizimar a família dos Távoras...Ainda bem que não o conseguiram, no entanto por ter dado esta terrível sentença com 19 anos, no tempo aparentemente sem perdão para não ter sido homenageado com estatuária em Ansião, apenas agraciado com um retrato em tela  no Arquivo da Câmara  ena toponímia, e na Escola C+S - tal como em Lisboa pela metade- o nome ao não ter o último apelido poucos o associam ao jurisconsulto, pior, em Ansião, a sua descendência...
Em plena Lisboa a pouca distância da rua do Pascoal
Apreciar o cheiro da erva de Santa Maria desde pequenino no aprendizado das tradições e a distinguir  aromas, para em qualquer parte do mundo os voltar a  sentir, a lembrança de  Ansião.
Na varanda da minha filha tem um vaso com erva de Santa Maria. Longe com Ansião no coração a manter a  tradição e dar lição aos meus netos - Vicente e Laura, o toque  na sua fina folhagem para levar a mão ao nariz e  sentir o aroma nos dedos...a mitigar  saudade de Ansião!

Queijo fresco feito pela minha filha em casa da sogra
Pasto de ovelhas e cabras, confere um travo especial ao leite e ao queijo carateristico do Maciço de Sicó, denominado "Rabaçal". Há falta de queijo curado, mostro o queijo fresco, o primeiro feito pelas mãos da minha filha, arte que jamais fiz, já me leva a dianteira, muito bem cinchado ( espremido no cincho) ao invés dos que compramos que vem cheios de soro, o almerce... 
Finalizar com dois açucareiros do almerce da minha coleção, onde se punha o leite a coalhar para fazer o queijo. 
Um deles tem queimbos - atados a cordas puxavam ramos para tirar limões, laranjas e,...
Claro ensinei os meus netos
A recordar as serranias de Ansião em terra rossa onde nasce em abundância o tomilho chamado erva de Santa Maria,  na Fonte da Costa, onde desde sempre o conheci primeiro e depois Ameixeira. 

Costa do Escampado com vista deslumbrante sobre Ansião
Fechar a  saborear a sericaia, doce trazido do Alentejo pelo meu avô Zé Lucas da Mouta Redonda da safra sazonal de paneiro, pelos montes na sua rota - Fratel , Avis, Casa Branca e Sousel- vendia  os fardos de fazenda  comprada nos armazéns em Coimbra. Alternava no papel de capataz no contrato estabelecido  com o feitor da herdade, angariando pessoal da região para a safra da ceifa.
A sericaia ou sericá, enraizada na doçaria alentejana  doce que os " ratinhos" no último dia da safra  à laia de celebração , a festa e  adeus  serem presenteados pelos senhores da herdade com o ritual  de sericaia em grande  baranhão - um prato de grande diâmetro, mais de 50 cm.
A minha só lhe faltou as ameixas d'Elvas!

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Voltar sempre a muito gosto ao Alvorge, em Ansião.

Vinda de Santiago da Guarda prestes a chegar ao Alvorge
Pedi ao meu marido para abrandar a marcha e armada de olhos bem abertos na procura do monumento iconográfico de raiz popular na fé cristã - "Alminhas" na sala de visitas a poente do Alvorge. Em 2015 ou antes, quando o distingui isolado no meio da estrada pelo rasgo da nova acessibilidade para o Vale Florido.Na altura não a fotografei e disso fiquei com imensa pena, debalde, jamais  pensei que desaparecesse, ou não, e foi guardado - diga-me quem sabe. Desesperada olhei em todas as direções e constactei uma construção nova em formato semi circular, moderno, a imitar  "Alminhas" no gaveto do  antigo segundo hospital  da Misericórdia, e agora Lar de cuidados continuados. Saltou-me  hediondo dilema, será possível  que foi ponderada a sua substituição?Não apreciei a obra, nem a fotografei pela vulgaridade da qualidade dos azulejos, em detrimento de um belo painel azulejar e não banal, desculpem a franqueza, e por isso de parco valor em prol da suposta irremediável perca de  monumento histórico e cultural, ali erigido, em local estratégico para  aparentemente ninguém o ter valorizado ou quis preservar, ou o foi? Porque há anos, na estrada de Pousaflores, ao entroncamento de Lisboinha com o Pereiro, outro assim igualzinho e pelo mesmo  motivo de alargamento da estrada acabou por ser trasladado para a outra berma e lá continua ...O que se constacta no concelho? Dois pesos e duas medidas sobre a preservação de património cultural. O projecto da abertura da nova acessibilidade devia vir à baila para se ter conhecimento do que o projectista decidiu sobre o destino do monumento, sim, porque não o podia ignorar, estava no meio do caminho...Quando surgem dúvidas e é  bom sinal existirem, o certo passa por serem dissecadas, em última instância pedindo conselho ao Pelouro da Câmara, enquanto órgão mãe, a obrigação de estar assessorado por  panóplia de  gente com visão, estética, conhecimento e cultura abrangente sobre o todo do concelho!
O segundo hospital do Alvorge , hoje Lar de cuidados continuados

Cruzeiro do Alvorge com terminus em trevo
Escola Primária
Nesta casa de gaveto vivia a primeira criada que tomou conta de mim, a Helena tinha 14 anos...
Um olhar na envolvente
Um prédio novo não colide a meu ver com o património histórico da vila do Alvorge que deve ser mantido...há poucos anos uma casa por aqui com uma janela de avental foi perdida.
A glicina deve ser antiga, a única espécie, a desta cor roxa que se aguenta em qualquer terreno.
Os candeeiros de braço em ferro forjado a engalanar o centro histórico.
A placa toponímica pequena para um grande apelido com raiz no Alvorge na avó do poeta e médico Fernando Namora
O reboco velho da parede a pedir ser descascado e de novo rebocado e caiado  para se engrandecer com a vila...Recordo uma amiga da minha irmã, colegas no Preparatório em Ansião, de apelido Namora, vinda do Ultramar depois do 25 de abril. A  chegou a convidar para ir ao Alvorge.
Antiga aldraba...
Vista sobre as cumeadas a nascente
A vila abre-se em harmonia com os candeiros de braço  em ferro forjado...
O muro na sala de vistas do Alvorge a nascente,  a necessitar de ser caiado...
Conselheiro Abílio Duarte Dias de Andrade  
No Tribunal da Relação de Coimbra com mandato 1938  e fim  1940
                            
Os meus postais que comprei em Évora na feira de velharias
Sr Bonito, disse-me - escolha aí o que quiser,   escolhi estes com apelido Freire d'Andrade, por me lembrar de uma amiga a Dra Maria Andrade, a sua avó  dos lados de Penela ao limite do Alvorge. 


Cortesia de Henrique Dias
António Manuel Freire de Andrade
É certamente o Farmacêutico nascido no Alvorge em 1823, que à data destes postais teria cerca de 72 anos. E o Adriano e o César ali referidos eram seus filhos, e com estes dados conseguirá por certo compor melhor a história. 
Veja o Grupo Familiar:
Grelha a estudar dos seus descendentes
No Livro Alvorge Terra Alta de Jaime Tomás
Nada se refere sobre este farmacêutico, nem de nenhum.
Em Ansião o apelido Andrade, existiu pelo menos na centúria de 800, mas perdeu-se.

                             Vistas sobre os Outeiros
Das ruas e becos avistam-se os outeiros e cumeadas
Um telheiro  de belas e antigas colunas em pedra abrigado por encanastrado de tabuinhas a lembrar um caramanchão, em Ansião ainda recordo d eum assim, as tabuinhas em verde...
Excerto retirado da Página do Facebook do Centro Etenográfico do Alvorge
"(...) Desde 1984, data da fundação do Centro Social, Cultural e Recreativo de Alvorge, tem a sua secção cultural vindo a fazer uma recolha do património etnográfico da freguesia do Alvorge com vista à sua preservação. O espaço, na sede da associação, reservado para a conservação do material recolhido, tornou-se insuficiente a ponto de já não ser possível comportar mais peças. Colocou-se então a necessidade de encontrar um local, com condições dignas e espaço suficiente, para colocar o espólio existente e proceder a uma exposição permanente do mesmo.
Essa oportunidade surgiu quando se encontrou para venda um edifício em ruínas, situado no centro histórico do Alvorge, com interessante historial, do ponto de vista cultural, merecedor de uma reconstrução, pois, embora sem dados documentais que o comprovem, é voz corrente que o mesmo edifício serviu como prisão e como celeiro da Universidade de Coimbra.
Ora, se recordarmos que o Alvorge foi julgado da Comarca de Coimbra, nos princípios do séc. XVI, com juízo próprio e que em finais desse mesmo século, as terras do Alvorge, que pertenciam ao convento de Sta Cruz, passaram para a Universidade de Coimbra, será fácil acreditar que essa convicção popular, relativamente à antiga utilização desse edifício, seja real.
Perante estes factos, foi decidido, em 2010, adquirir o citado imóvel, procedendo-se agora à instalação do Centro Etnográfico do Alvorge, cuja exposição permanente abrangerá variados aspetos da vida quotidiana das gentes Alvorgenses ao longo dos anos.
Um projeto, um sonho, um caminho de muitos, preconizado pela paixão e dedicação de um Homem Grande, mas que será certamente de todos, e para todos!

Venham visitar, vão ver que vale a pena!
Quando passei estava fechado.
Deram-me o contato de uma senhora que mora defronte, chamei, chamei, debalde só o cão ladrou...
Debalde, vim embora sem ver, apenas espreitei pelas janelas!
Recriando essencialmente a vida rural do Alvorge até à década de 70 
O espaço está organizado em ambientes que retratam os ofícios e as lavouras bem como os espaços das casas rurais e instituições. Pretendeu-se proporcionar aos visitantes uma viagem no tempo com recriações do modo de vida quotidiano.
Grades da antiga cadeia do Alvorge do século XVI
Espólio visto da rua
Encontrei este gato no beco...
Dei  conta do comedouro, um prato de plástico, mas sem comida, por isso miava...
Porque razão o Garfo mereceu atenção na toponímia? Enxertia por garfo? ou garfo de comer ou? 
Vistas a perder de vista
Janela antiga de casa pobre, o rebate em xisto
A típica argola de prender os animais, burros e cavalos
No adeus ao Alvorge por terras de Santiago da Guarda
Fotos tiradas em movimento no adeus ao Alvorge!

Mostra-se necessário haver gente com olhar peculiar para nos falar da cultura e da historia dos nossos avoengos, para melhor nos identificarmos o que foi a sua vida e o seu  passado, que muito nos deve engrandecer em mais cultura. De facto as minhas primeiras memórias do Alvorge são iguais a outros em muita viagem para Coimbra e de volta a Ansião, com passagem na vila, na carreira do Pereira Marques, a que acrescento a boa memória das criadas que me criaram, do posto telefónico, lamento já não recordar o seu nome, do carteiro Ferrete e da padeira do Alvorge, mulher linda de cara alva e bom pão, o vendia na frente da igreja aos sábados em Ansião!


FONTES 
Página do Facebook do Centro Etenográfico


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