sábado, 11 de março de 2017

Sarilhos a Quinta Estifrado no dialeto do Rosário

Hoje o dia para  ir conhecer a Quinta do Esteiro Furado ou dos Ingleses sita em Sarilhos Pequenos, no concelho da Moita.Em cima das 10 H em Corroios no auto estrada dizia-me o meu marido - olha para estes bólides Bugatti ... Confortável e alheia aos meus silêncios vejo os Bugatti Chiron deslizavam em condução suave a rolar a 120 KM na 3ª via para imediatamente se posicionarem na nossa faixa, a do meio, mas claro nunca mais os vi, por isso não registei foto, havia muito trânsito, pelo que tive de me socorrer do Google. De mente fértil levou-me a pensar na hipótese de ser o Cristiano Ronaldo, atendendo à matricula do carro azul ser espanhola. Ontem andaram por Sintra. Passadas seis horas foram vistos em Évora. A bela imagem dos carros análoga a nave espacial, muito aerodinâmico, quem os guiava altamente profissional  na condução de excelência para um carro que atinge os 420, ao se olhar aos Formula Um que se limitam nos 300...Gastam aos 100 na estrada 15 L e na cidade 30. Só para milionários. O escuro era o líder da frente, atrás seguia a rolar suavemente o azul celeste...na cor que os antigos pintavam as camas de ferro...2,5 milhões a peça!
Em Sarilhos Grandes seguimos a direção ao esteiro, incrível como em sitio plano o casario se afilou desordenadamente limitado por estradas estreitas amiúde de cotovelos cegos, tão farta de os sentir e não ia a guiar, os alcunhei na pressa de cunestreet, fatal chão de quintas e herdades vedadas e por vedar salpicado de casario pobre entalado em paredes meias com paredes grossas, uma falta abismal de bermas em piso estreito mal dá para um carro passar em céu onde o baile de fios cruzados se mostra caos total  entrelaçados sem qualquer sentido de estética, de pasmar!
A quinta Espinhosa vista de lado...
Ao longe avistava-se o Montijo
Noutro cotovelo apertado à esquerda distingui na beira do esteiro a Quinta Espinhosa com a placa sobre o arco em esmalte, antes passara na que foi a grande adega do lado do esteiro, mais à frente uma fábrica conhecida de artigos de charcutaria, para apertar com o casario que se aglomerou em redor da Igreja, de traça interessante debalde quase engolida ... saindo por estrada com carros a fazer do piso estacionamento privado, vindo em sentido contrário outro carro o meu marido teve de fazer o que não gosta, subir o passeio, e a senhora com medo de não caber... 
Continuámos por atalhos e becos para em inversão de marcha  voltar à estrada, para mal dos meus pecados pensar que chateado já tinha desistido, mas eis que corta de novo à esquerda na placa de Sarilhos Pequenos...

Varinos ancorados
Clube de Sarilhos Pequenos na beira do esteiro em maré baixa na boleia do regato  vinha um barco de mariscadores, enxerguei a calçada do açude, a passagem pedonal para o outro lado do esteiro para a estrada que passa na quinta Espinhosa, onde tinha passado. 
Ao fundo a Igreja de Sarilhos Pequenos.
Um grupo de homens de várias faixas etárias especulava palpites sobre o que estaria a GNR ali a fazer...Pois estariam à procura dos dois argelinos fugidos de um navio a nado há dias ... Tabelei conversa com um deles se sabia como encontrar a Quinta dos Ingleses.Tomei nota do itinerário, atravessei o núcleo histórico de Sarilhos Pequenos avistando alguns belos portais de antigas quintas. Na saída alguma construção modernista, defronte na beira da estrada detém belos exemplares de sobreiros, pelo tardoz se perde em extensão ilimitada planura vestida a verde para mais à frente numa curva dada pelo braço do esteiro se engancha no que resta do portal desta quinta.O que me desiludiu, sempre pensei que tivesse um portal magnífico...E o teria no passado, mas com a indústria de cortiça e carpintaria, pela certa alterado por isso só resta um pedestal em cimento.
 
Deixar claro e aflorar que tive conhecimento através do Blog Ruin'arte em 2010 desta Quinta dos Ingleses seria pertença de António Xavier de Lima. Apostei hoje nessa aventura, debalde ao chegar a casa na primeira pesquisa dei conta que é propriedade privada. Nesse pressuposto exaro sinceras desculpas por a ter invadido no querer dar voz ao impulso forte de infinito apetite e vontade louca em descortinar beleza e silêncios na ruína que o meu olhar não se mostra alheio, antes exala clímax..Grande aventura a medo, sozinha, o meu marido mais cauteloso e medroso por ter deixado o carro na entrada reparou que o caminho tinha marcas de rodados pelo que decide voltar para trás, ainda o ouvi quando me chamou, estava na capela, voltei ao caminho o distingui já ao longe,  passados minutos liga-me para me avisar...
Ganhei mais tempo e voltei a correr no que foi um jardim de erva não muito alta na frontaria do palacete de olho aberto à coca fosse local de abrigo ou esconderijo de romenos e argelinos (?) ... Não me retirou vontade desenfreada, aproveitei todos os minutos onde enchi a alma de mágoa pelo total abandono, consequente vandalismo e espólio  roubado, sobretudos azulejos e arte sacra, ao mudarem de sitio seja para Portugal ou estrangeiro, maldito fim, que me perturba pela perda de património... Observei o esteiro a poente ao cimo da escadaria com degraus em ardósia, em maré baixa sobre o qual sobrevoavam grandes aves; patos aos pares, corvos, e uma ave de rapina abençoada de grandes asas quando saí da capela, mas nada mais trouxe de souvenir...
Citarhttp://marcolinofernandes.blogs.sapo.pt/2013/11/10/
" Esta Quinta  é Património Histórico, Arquitectónico e Agrícola. É Reserva Agrícola Nacional e Reserva Ecológica Nacional. Tem uma faixa de 150 hectares, que é zona de protecção especial do Estuário do Tejo, com um património avifaunístico excepcional no contexto da avifauna bravia da Europa, onde ocorrem regularmente concentrações notáveis de muitas espécies protegidas.
A Quinta do Esteiro Furado terá nascido da união entre a Quinta do Martim Afionso e a Quinta do Brechão. Propriedade da Coroa gerida por administradores, até à extinção das ordens religiosas em 1834.Teve diversos proprietários: Rui de Miranda, cavaleiro da casa real de D. Sebastião; Gerarldo Huguens, Flamengo; Manuel de Oliveira de Abreu e Lima, neto do antecessor proprietário e provedor do tabaco de Alfândega da corte; Luís José Pereira; Paulo Nunes; Domingos Garcia que em 1863, a vendeu  aos Ingleses Tomaz Creswel e sua mulher Marta Creswel. Em 1890, existiu na Quinta do Esteiro Furado uma pequena fábrica de cortiça, com oito operários.Em 1908 – os Ingleses Lord Bucknall e Carlos Creswell passaram a ser os novos proprietários da Quinta. 
Também foi proprietário da quinta João Manuel (Chumbeiro).
Em 30 de Dezembro de 1972, a Quinta foi comprada por António João da Silva e mantém-se na posse dos herdeiros até à data, 2007. "

Citar excerto do Blog Ruin'arte 
" O seu destino foi traçado por uma rifa, quando o último proprietário desta família a sorteou pela terceira vez... um fim bastante inglório para tão nobre propriedade."

Citar o comentário de MARIA FILOMENA F. RIBEIRO S.FOLGADO  no Blog Ruin'arte
"- Sou a descendente do proprietário que rifou a quinta do Esteiro Furado, não sabendo a quem caiu a sorte.Não tenho possibilidade física de me pôr a fazer investigação sobre o assunto, mas vou dar algumas, embora poucas, informações com a esperança de ajudar de alguma forma à história da quinta. O proprietário que a rifou, meu trisavô tinha de apelido Garcia e de nome, talvez José. Ele não foi o verdadeiro herdeiro dessa propriedade, mas sua mulher. Esta senhora, minha trisavó de que não sei o nome, mas de apelido Garcia, por casamento, herdou também uma outra quinta denominada Vinha Grande ,sita no lugar de Brejos da Moita, Freguesia e Concelho da Moita, na estrada de Moita-Coina, que deixou por herança a sua filha Mariana da Soledade Garcia (Colaço, por casamento), minha bisavó, que deixou por herança a sua filha Maria Alice Garcia Colaço Ribeiro, minha avó paterna que a recebeu já casada pelo que constou como proprietário, seu marido, Manoel Ribeiro, meu avô paterno que, por sua morte, ficou a sua mulher, como meeira (minha avó, Maria Alice) e a seu filho, como herdeiro (José Maria Colaço Ribeiro, meu pai) que, por sua morte ficou a minha mãe como meeira(Catarina Fernandes Ribeiro) e, como herdeiras, as suas filhas, eu, Maria Filomena Fernandes Ribeiro Salgueiro Folgado e minha irmã Maria Isabel Fernandes Ribeiro Coutinho e Lima, que por nós três foi vendida em 1998 a António Xavier de Lima. Ora como esta quinta, e a do Esteiro Furado foram propriedade do meu tetravô, se for consultada a inscrição na matriz predial rústica sob o art. 4º. da Secção D, respeitante à Vinha Grande, talvez se saiba o nome desse meu antepassado como de sua filha ou marido, o tal Garcia que rifou o Esteiro Furado e, através deles a quem esta quinta foi pertencendo desde então."
Casario dos trabalhadores adoçado ao longo do caminho antes do palacete
 
Na frente fila de palmeiras que com o abandono das gentes morreram de pé, a única que existe é outra espécie, de tronco fino a poente . 
Citar o comentário do historiador Rui Mendes no Blog Ruin'arte
"Em 12 de Fevereiro de 1649 registamos uma Escritura de Arrendamento da Quinta de Sarilhos de Diogo Coutinho Dossem, a Giraldo Hugens, Mercador Flamengo morador em Lisboa à Igreja de S. Julião, feita em Lisboa, ao pé do Mosteiro de N. Senhora da Graça, nas notas do tabelião Bernardo Cardoso. A Escritura foi feita por D. Beatriz de Gouveia, viúva de Francisco Coutinho, como procuradora de Diogo Coutinho, seu filho, Fidalgo da Casa de sua Majestade, e de sua mulher Antónia Silveira, ambos moradores na cidade de Goa. Na escritura se diz que a quinta «está da banda de além no lugar de Sarilhos Pequeno, termo da vila de Alhos Vedros, com casa, chão de casas, terras maninhas, vinhas, pinhais, e outras pertenças, a qual ele Giraldo Hugens trás de arrendamento há muitos anos» e que lhe fora arrendada pela primeira vez pelos pais do actual senhorio,
(Arquivo Distrital de Lisboa, 1.º Cartório Notarial de Lisboa – Ofício B, Livros de Notas, Cx. 3, Liv. 337, fl. 52)"
Uma roda em ferro seria da serração(?)
Citar excerto de http://marcolinofernandes.blogs.sapo.pt/2013/11/10/
"O palacete foi construído entre 1718 e 1721 com capela ou ermida; campos de lavoura; oficinas de manutenção; garagens para carros de bois e carroças, armazéns para produtos hortícolas; estábulos; alambiques; conjunto de casas (antigas casas dos trabalhadores); lagares; um grande depósito de água, que também abastecia os navios ancorados no Tejo; armazéns para guardar ferramentas; um moinho de maré (desaparecido) chamado “Froje” e cinco salinas na dependência directa da Quinta: “Bombaça”, “Sarjeda”, “Guisada”, “Arvéloa” (alvéloa/pássaro) e “Furadinho”; um cais e um esteiro. Com exepção dos campos de lavoura e do esteiro (agora, mais assoreado), tudo o resto desapareceu ou está em ruínas e vandalizado.O próprio esteiro continha elementos naturais que propiciava grande actividade laboral às gentes da região: apanha de ostras e casca da mesma; apanha de lameginhas; pesca artesanal; apanha de limos e apanha de morrassas. Pelo o seu pequeno cais, mesmo junto ao palacete, passou toda a actividade da Quinta, através do escoamento dos produtos, por via marítima, utilizando os barcos do Tejo: botes, varinos, canoas, batéis e outros."
Palacete a poente
O palacete a poente no rés do chão com galeria  e colunas e uma escada que deu acesso em tempos a uma ampla varanda ladeada de duas torres.
A palmeira na frente o alto muro fecha o jardim do esteiro
Registei as fotos ao cimo da escadaria cujo piso do varandim já ruiu, resta a bela coluna de pedra encimada por um ferro
Vista da quinta ao caminho
 Entrada da quinta
 Data na lápide de 1908
Vista do palacete a sul
Várias sequências de arcos
O primeiro andar no tardoz abre-se para uma espécie de pátio a norte divide-se em duas partes abrindo espaço para o que teria sido um magnífico terraço com vista bucólica e idílica para o esteiro, com torre sineira possivelmente para o ritual do trabalho do pessoal. 
Lado norte nas traseiras no rés do chão novamente uma galeria com colunas, a imitar um claustro, dando acesso a áreas que seriam certamente  de arrumo, armazéns (?).
Vistas através dos arcos, na frente o esteiro
 

 Lado nascente
Citar excerto do historiador Rui Mendes 
"No séc. XVII residiu aqui Geraldo de Huygens, comerciante flamengo, que embora não fosse o senhorio da propriedade (tenho algumas escrituras do séc. XVII em que aparece apenas como arrendatário), aqui edificou uma ermida dedicada à SS.ma Trindade e S. Geraldo, Santo do seu nome.
A Ermida foi edificada entre 16 de Julho de 1629 (data de colocação da 1.ª pedra) e 26 de Maio de 1630 (data da sua bênção e 1.ª missa).
Nas memórias paroquiais da Moita em 1758 a ermida e Quinta aparecem na posse de Manuel Lopes de Oliveira, Desembargador do Paço, sendo que o pároco atribui à ermida o estado de «profanada».
Teve a ermida obras de restauro em 1799 por iniciativa de D. Clara Maria, viúva de José Baptista, Homem de Negócio da Praça de Lisboa, ficando então com o título de «Ss.ma Trindade e N.ª Sr.ª da Boa Viagem». A Provisão de licença para obras data de 27 de Março 1799 e a de licença para ser de novo benzida e ter missa de 22 de Maio de 1799.
Nos autos de 1799 encontramos uma carta do pároco da Moita – Pe. José Rodrigues, datada de 11 de Março, em que este diz que «nesta ermida não se diz missa há muitos anos».
(Registos: Arquivo Histórico do Patriarcado, Ms. 298. fls. 245 e 248; Autos: A.N.T.T., Câmara Eclesiástica de Lisboa, Mç. 1839)"
"E chegaram a utilizar a capela como armazém de lenha" - da sacralização à dessacralização, até à ruína final? Lamentável!

Citar José Queiroz, "Cerâmica portugueza", Lisboa: Typographia do Annuario Commercial, 1907, p. 448). Um apontamento de 1907 sobre os azulejos:
«Perto da Villa da Moita, na Quinta do Esteiro Furado, ha uma capella revestida de azulejos padrão a duas cores” azul e amarello, sobre fundo branco.
Por cima de uma pequena porta, está a inscripção, disposta da seguinte maneira :
ESTA OBRA SE FEZ D AZVLEIO NA ERA D 1657 ANNOS
A capella, que há muito está profanada, pertence, com a alludida quinta, ao Snr. H. Bucknall."

Fachada da Capela 
Três fotos da capela retiradas http://marcolinofernandes.blogs.sapo.pt/2013/11/10/
Debalde na fachada da Capela, junto à entrada, não reparei se ainda existe a lápide na sua frontaria com a Cruz da Ordem de Santiago...
Citar http://marcolinofernandes.blogs.sapo.pt/2013/11/10/
"A  Capela de S. Gerardo ou Ermida de Sª Trindade?
Foi fundada em 1600 e construída em 1629.Tem uma torre tipo Senhorial, abastardada, com a insígnia da ordem de Santiago. Na fachada da Capela, junto à entrada, ainda existe uma lápide, que na sua frontaria tem a cruz da ordem de Santiago, com o seguinte epitáfio:
EM LOUVOR DA SANTÍSSIMA
TRINDADE SE PRINCIPIOU ESTA
HERMIDA DA SANTÍSSIMA
TRINDADE AO VAL EDIFICOU
INES VELOSA NO ANO D 1629”.
Citar http://marcolinofernandes.blogs.sapo.pt/2013/11/10/
 "O próprio esteiro continha elementos naturais que propiciava grande actividade laboral às gentes da região: apanha de ostras e casca da mesma; apanha de lameginhas; pesca artesanal; apanha de limos e apanha de morrassas. Pelo seu pequeno cais, mesmo junto ao palacete, passou toda a actividade da Quinta, através do escoamento dos produtos, por via marítima, utilizando os barcos do Tejo: botes, varinos, canoas, batéis e outros.Durante anos a Quinta dos Ingleses deu trabalho a muitas famílias de Sarilhos Pequenos."
" no interior da Capela, na parede lateral, à direita, os azulejos continham uma inscrição referente à construção da mesma, também foram arrancados. A inscrição dizia o seguinte: 
ESTA OBRA SE FEZ D
AZVLEIO NA ERA D
1657S7. ANNOS"
 
Tardoz da Capela e sacristia
Parede lateral a norte ao meio uma pequena Cruz em azulejo
As paredes da Capela revelam o sitio onde os azulejos policromáticos; azul e amarelo estiveram encastrados, apenas três resquícios dos que se partiram dão nota do brilho que aqui houve, acima do altar e junto a uma fresta lateral.Tudo o mais desapareceu, o altar rico em dourados e Imagens. No chão a lápide de uma família nobre inglesa, foi profanada. Todo o espólio foi sendo saqueado desde o séc XIX e depois na década de 90 do séc. XX.
O que resta dos azulejos
 
“ ESTA HE DGIRARDO
HUGENS ESTTUIDOR Q FOI DESTE
HERMIDA OQUOAL FALECEO NO
ANO DI 1657 EM 9 DE JULHO
DO DITO ANO E DE SUA MOLHER
INES VELOZA E DSEU FILHO MEL
HUGENS E MAIS SUSES (…)
DESCENDENTES (…) TA GE ERASAM
COMO O DOS DITOS MINISTRADORES
Q FOREM DA (…) TA HERMIDA”.
Pisei o mesmo chão de nobres e gente abastada pisou...
Citar http://marcolinofernandes.blogs.sapo.pt/2013/11/10/
 " Mais tarde em 1908 , Lord Bucknall e Carlos Creswell proprietários da Casa Comercial Creswel & Cª, firma corticeira da região, já possuíam uma fábrica e serração na quinta, tendo-a adquirido posteriormente e chegaram a utilizar a capela como armazém de lenha..."
O esteiro na frente da capela
Citar o comentário de Ana Santos no Blog Ruin'arte
"Foi com uma enorme angustia que encontrei o palacete da Quinta do Esteiro Furado neste Blog!
Eu tive a sorte de frequentar esta casa na minha infância, ainda em bom estado de conservação no final de 1970 e início de 1980. Nessa altura havia muita actividade nessa quinta, eram muitos os que lá trabalhavam em actividades agrícolas e, se não me engano em extracção de sal.
Nessa altura, a casa era habitada ocasionalmente por um casal (que não me lembro o nome) amoroso que me acolheu muitas vezes, passeando comigo nessa quinta; existia junto ao palacete uma estufa fantástica cheia de rosas, algumas delas muito raras e herdadas da família inglesa.
Também existia um chalet fantástico no interior da quinta. Não consigo perceber o que se terá passado para não tentarem preservar este espaço.
Na altura, penso que esta quinta era propriedade de um senhor com um nome igual à assinatura de um comentário deste artigo. Provavelmente, um descendente..."

Citar o comentário de Joaquim José no Blog Ruin'arte
"Infelizmente a Quinta do Esteiro Furado/Qtª dos Ingleses, está ao abandono à muitos anos. Pois foi nesta Quinta que eu passei grande parte da minha juventude, a minha casa era paredes meias, a minha mãe e alguns familiares, trabalharam nesta Quinta, dava trabalho a muita gente. Além da edificação apresentada existia uma estufa de plantas, toda ela em vidro, e um chalet(que era conhecido por João da Loja). Resumindo, esta Quinta tinha tinha de tudo, por exemplo, muita água, que abastecia os navios mercantes que entravam no Porto de Lisboa e era carregada em batelões,tinha um Cais privativo, existia um Gasolino barco privado dos proprietários, tenho uma foto com uma Falua do Montijo, neste cais. Tinha vários viveiros de peixe e várias salinas (Marinha/Viveiro da Bombaça,era paredes meias, com a minha casa, Marinha/Viveiro do Ti Rufino, Marinha/Viveiro da Condessa,etc.Criação de Gado,vacas e porcos, e Grande Pinhal (Pulmão de Sarilhos Pequenos, que felizmente ainda existe em parte), extração de cortiça, resina, madeiras,pomares de Laranjas,Tangerinas e Maçãs, cultivo de todo o tipo de legumes,milho,trigo,batata , Vinha,etc. etc."

Citar o comentário de Lina Simões no Blog Ruin'arte
" Lindo....eu que não gostava de história li estes post's e todos os comentários, fiquei maravilhada. Sou da Moita, conheço esta quinta como algo enigmático e sempre achei que era uma pena a propriedade estar abandonada mas, com esta história fabulosa, até faz " doer" o coração. Sabem que as gentes do Rosário, com um dialecto muito próprio chamavam à quinta o " estifrado"....só muitos anos depois é que percebi que pretendiam dizer "Esteiro Furado". Parabéns pelo trabalho desenvolvido."

Citar o comentário de Michael Krueger no Blog Ruin'arte
"Vivi alguns anos na Quinta da Fonte da Prata, e fui várias vezes à "Quinta dos Ingleses", entre 2003 e 2005. Sempre me fascinou e pensei em realizar um filme/curta-metragem de terror na propriedade.
Cheguei a entrar em contacto com a proprietária, que por acaso comentou em cima, mas não me foi dada licença para tal. Com muita pena, mas compreendo. Penso que o filme "Os Imortais" tem umas cenas passadas na quinta, é quando testam o carro para o assalto. No período em que fui à dita quinta, ainda se podia circular no interior, só o acesso ao sótão estava "proibido". Lembro-me que o quarto de acesso ao terraço tinha o soalho a abanar e tínhamos de andar junto à parede. Hoje em dia todo o interior ruiu e é uma "aventura" circular lá. A praia ainda existe, mas já está muito degradada. Realizaram-se lá festas  de transe , fui a uma. Tenho em cassete 8mm uma gravação de dois senhores com uns cinquenta anos que contam que naquela propriedade «ganhou-se e perdeu-se fortunas nos jogos de azar». Obrigado."


Chão vestido de amarelo e verde a beijar o esteiro a chamar a  primavera ..,


 

Em remate agradecimento especial a todos os que  teceram as suas impressões e conhecimento sobre esta quinta, transcrevi mencionando a Fonte, sem os quais não seria possível fazer a crónica. 
Bem hajam


Pisei chão onde viveu e morreu gente inglesa, cujos descendentes se foram embora deixando os restos mortais dos seus antepassados, o que se estranha sendo apelidados de carater conservador, confesso, não me senti nada Inglesa!
Paraíso plantado em Sarilhos  Pequenos, à beira do esteiro furado, cujo nome seja suposto lhe deve advir da junção das duas quintas unidas pelo ancoradouro com arco para a água escoar e entrar com a maré no esteiro. Ambiente bucólico e paradisíaco espevitado nos silêncios pelo esvoaçar de aves variadas de grande porte, com campos a perder de vista e o sapal  com meandros de rios de água de onde se exalam aromas agrestes e aromáticos, nosso rico PORTUGAL, infelizmente em morte lenta a agonia e grande Sarilho!


FONTES
http://ruinarte.blogspot.pt/2010/05/quinta-do-esteiro-furado-ou-quinta-dos.html
http://marcolinofernandes.blogs.sapo.pt/2013/11/10/
You Tube Esteiro Furado

sábado, 25 de fevereiro de 2017

Aldeia desertificada dos Matos, em Ansião

O Lugar dos Matos,  foi escolha no cimo de um outeiro, com a chegada de clãs judaicos, com menção na centuria de 500 a par do Escampado de Calados.

Avistava o movimento do corredor romano/medieval nos Empiados do Caminho de Santiago de Compostela e aos pés no Barranco passava o corredor romano/medieval de sul de Almoster, Sarzeda e Escarramoa para o Vale Mosteiro.

Sito no termo sul de Ansião. Foi a falta de água a condicionar nos meados do séc. XX, o seu abandono.  

A Venda do Negro, em tempos idos se chamava Venda dos Negros, dos genes herdados dos mouros do norte de África, cuja descendência ainda persite em tez trigueira, pele macia, lusidia, olhar castanho escuro e cabelos encrespados...Nos Matos pelo menos persitem na familia de apelido Mendes!

Excerto do livro "Notícias e Memórias Paroquiais Setecentistas de Ansião  de 1721
" O Lugar dos Matos em 1721 tinha sete vizinhos.

Floresceu a custo, sito na vereda sul abrigada, e soalheira do outeiro a espreitar os Empiados de igual número, e pela frente ao longe avistam os Escampados.
Como já mencionei o que ditou a desertificação da aldeia dos Matos e da do Barranco foi a falta de água. No Vale Perrim, o poço de Acúrcio Monteiro, a poente do Carril, com água do aquífero do Nabão, abastece a Fonte da Lagoinha, no Pinhal, onde o povo ia buscar cantaros de água.
Nos meados do séc. XX houve pessoas que emigraram e não voltaram, outros saíram para outras aldeias pela via do casamento. 

Conheci pela primeira vez  os Matos com a minha avó materna Maria da Luz da Mouta Redonda, nas temporadas que passava em casa dos meus pais, lá foi comigo para encomendar umas mantas à tecedeira Rosalina Mendes.
Fomos pelo Casal das Pêras , seguimos às Alminhas pelo corte para o Carril. Onde recordo a minha prima Júlia Silva do Bairro de Santo António um dia entrar pela courela de mato para me mostrar num grande penedo o "Pezinho de Nossa Senhora"... o pezinho foi esculpido pelo homem da pré história  que a erosão nos séculos  o evidenciou bem torneado. 
No Carril, fazenda da minha irmã, o meu pai dizia haver um filão de mármore, quiçá vindo da Lagarteira, onde foi menção por Domingos Vandelli. 

Blocos de calcario com bolsas de arenito do Barranco
No livro Alma de Pelmá o autor, o Dr. Filipe Antunes, também as partilhou.
A minha coleção
Achei-as no alto da serra da Ameixieira teria sido na altura da exterminação dos dinossauros?
 A ladeira ingreme para os Matos
No vale o cruzamento, para poente ponte sobre o ribeiro, segue o caminho antigo para o Casal das Peras com entroncamento de um mais novo para o Pinhal. 
O caminho que segue para a direita vai para o Vale Perrim. 
E o caminho para a esquerda para o Barranco.
Casas de sobrado o foram de  gente  com posses
Fila de casario adoçado do lado direito, com r/c e sobrado em ruínas, o primeiro casario dos Matos da família Simões Bento, limita-se a poente com o Barranco e o ribeiro dos Matos.
Por todo o lado cabides de madeira, dantes se usavam para pendurar a roupa de domingo
Debalde desta vez não havia nenhum, deviam ter sido roubados...

Cimalhas a estuque
                                          
Escadaria no interior para o sobrado com varandim e teto em madeira
A ruína

O tabique
Ruinas de outars casas mais antigas
Loja com chão empedrado
A 2ª que assim conheço em Ansião, só a pedra é que é diferente, aqui calcária e a outra ao Ribeiro da Vide, escura.
Seguida para nascente da ruína de casa foi de gente se apelido Bispo, julgo perdido em Ansião
A família Mendes, alcunha Carriços
Tinham  um tear, ainda conheci a tecedeira a ilha Rosalina .Recordar as temporadas da minha avó Maria da Luz da Mouta Redonda na minha casa em Ansião. Amiga de conversa fiada com as vizinhas durante o dia, à noite de inverno à lareira a rasgar em trapos roupa  usada até amolecer de sono enquanto a minha mãe da cesta ia juntando as fitas com nós para eu fazer os novelos. Aquela avó só pensava em mantas de tear para o enxoval das suas netas; do meu e do da minha irmã. Até ao dia que me levou a pé depois do almoço aos Matos, à casa da tecedeira Rosalina, com cestas de trapos para encomendar uma colcha e duas mantas.
Conheci os pais dela  por terem uma fazenda ao Carvalhal do Bairro, onde vinham amiúde. E conheci outras irmãs da tecedeira - a Gracinda, das mais novas, e a Alice com reminiscências do cabelo encrespado a denotar gene mourisco, veio a casar com o Carlos Pego, sempre a conheci a viver no Bairro de Santo António, minha vizinha, mulher igual a si mesma, sem se dizer dela bem nem mal, sendo bastante difícil de se manter esta personalidade por  saber viver com todos, no mesmo seja o feitio do único rapaz na família, o irmão que também conheci, de todos o mais bem afeiçoado, seria o mais novo que no início da década de 60 emigrou para França, recordo de o ver chegar de "vacanses" ao volante dum carro vermelho...Ainda construiu casa na fazenda do Carvalhal do Bairro, não sei o que realmente aconteceu num tempo em que muitos pais dispensavam uma parcela de terreno para a construção da casa, sem se fazer escritura, a modo da legalização ocorrer apenas nas partilhas após os falecimento dos pais com ajuste na herança com os outros irmãos. No caso outra irmã também construiu noutra extrema, em melhor local, na frente da estrada principal, mas algo aconteceu de nefasto  entre eles para o rapaz ver da noite para o dia a sua casa a ser entaipada por muros altos, pior que fosse uma prisão, até que se foi embora...Cenas brutais marcam as crianças, a mim marcou-me ao ver o brutal impato, sem sequer imaginar aqueles tristes pais as voltas que deram no caixão, o quão aflitos deveriam ter ficado, e o teria sido evitado, se não se tivessem deserdado em vida, mas ao serem de bom coração os quiseram presentear com o melhor que tinham, a fazenda mais perto da vila em prol de continuarem a viver na agrura de parca água nos Matos...Lições para a vida!
A Alice Mendes confidenciou-me que descia ao vale junto do Carril da minha irmã para encher o cântaro de água no poço do primo do meu pai, o Acúrcio Monteiro, seria estafa, estafadinha ter de subir com o cântaro  à cabeça a brutal ladeira, na certeza teria uma boa rodilha...E no ribeiro faziam açudes para reter a água para lavar a roupa ou então era lavada na Lagoa do Barranco.

A capela a S. Mateus
O caminho de subida para os Matos fecha com a capela de orago a S.Mateus. Sofreu há poucos anos um restauro.Curiosamente e com grande lástima nunca aqui vim à festa de S. Mateus que se realiza em setembro, no tempo das nozes.

Citar o Padre Manuel Pinho de Ansião
"Um documento de 29 de maio de 1769, intitulado “Relação do estado das igrejas, confrarias e capelas da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Ansião”, redigido pelo padre José Fernandes da Serra, que devia ser o pároco de Ansião nessa altura, diz o seguinte a respeito desta Capela:No lugar dos Mattos esta huma Capella e nella, as Imagens de Sam Mateus, Senhora da Piedade, e das Preces, todas em vulto feitas em páo bem esculpidas e incarnadas; tem seu retábulo, bem pintado, toda a Capella forrada de painéis; tem os ornamentos precizos como sam pedra de ara, três toalhas, dois purificadores, dois castissais, e cruz de estanho, Missal, galhetas e prato de estanho, vestimenta, de osteda branca, bentinhos incarnados, duas alvas, dois cordois, dois amitos, tudo em bom uzo, dois veos, hum branco, e outro incarnado, seis sanguinhos, duas mezas de corporais, e bolssa de duas cores, frontais de festa, e roixo em páo pintados, calis, e patena, e colher de prata, palio, duas alemternas tudo bom; corre o seu reparo por conta do povo."

Perdi as fotos da casa, em derrocada e das pedars do portelinho...

A capela ostenta o lintel 1740

Existe uma casita defronte do adro e logo abaixo um portelinho cujas pedras reportam para reutilização de antas...
Em dia de festa chega-se o povo principalmente do Carvalhal do Bairro, Pinhal, Casal das Peras, Ameixieira e Casal Soeiro e,...
Desconheço o paradeiro do sino, para não ser roubado o teriam retirado (?) 

Altar da capela de S. Mateus nos Matos
 Enquanto as crianças se divertem em redor da capela...

Existe no adro uma pedra de senfim, a estar aqui  no adro foi do lagar do Barranco .

De onde teria vindo a família do Padre Manuel Jorge ?
Não consegui localizar o registo... Encontrei o batismo de Joaquim, a 03.04.1793 nascido em março, filho de João Simões Jorge e Josefa Maria, moradores nos Matos. 
Neto paterno de António Simões e Maria Luís, moradores no Escampado do Melchior e Materno Manuel Simões Pires e Maria Freire, da Ribeira de Ansião, Abiul .
Acrescenta ainda o Padre Manuel Pinho 
"O Padre Manuel Jorge foi o primeiro capelão desta ermida, sendo a sua origem de família abastada. Tinha 28 anos quando se fez a capela, decerto para ele poder celebrar Missa e exercer assim o ministério sacerdotal.Está escrito que foi um bom sacerdote e que ajudava o pároco de Ansião sobretudo nas confissões.
Esta aqui sepultado e talvez os pais."

As fotos da família "Mendes Simões  

Da sua descendente Adelaide cuja cortesia em me enviar e autorizar a partilha.Tiradas na varanda de balcão da casa aos MATOS onde viveram os seus avós e os pais
Com vizinhos que viviam mais abaixo,  meu pai, e o primo Álvaro.
   Tias Emília de Jesus e Gracinda Simões
 Minha tia Emília, minha tia Gracinda, minha prima Marieta com a filhinha Ana Lúcia, o meu pai e eu ao colo.

Na frente da capela de S.Mateus o meu pai Alberto Simões, meus primos António Santos,  Álvaro Simões Abreu e o vizinho
Fica esclarecido que os seus avós teriam recebido esta casa de herança ou por compra.Na verdade a casa data dos primórdios de 1700, a capela ostenta a data de 1740 e quando foi instituída por esta família do padre Jorge já ele contava 28 anos, o que equivale a dizer que nasceu em 1712.
Um dos problemas de quem emigra, a futura herança fica por receber ao Deus dará e pelas vicissitudes várias da vida ao não lhes ser  favorável voltar a Portugal, muitos acabam por os perder porque outros se apropriam deles por usucapião.... 

As poucas vezes que visitei o Lugar dos Matos foi a pé
Mas recordo a última há anos quando procederam à abertura do novo caminho pelo tardoz da capela na direção a norte, à Lagoa da Ameixeira e Vale Penela. Estacionei o carro da minha mãe e aventurei-me a entrar nesta casa por ter a porta aberta onde distingui vestígios do parco mobiliário ali deixado com arcas de pinho e cama de ferro. Nesta casa viveu a última moradora neste Lugar, Isaura, mulher triste e abnegada teria sido ludibriada por artes do diabo pelo namorado de Albarrol, e o seu querido filho, o Zé, só foi reconhecido pelo pai biológico recentemente, a fazer fé no ditado popular " mais vale tarde que nunca" até ouvi dizer que este filho, o Zé da sua tenaz têmpera  obstinada para o trabalho, o pai lhe deu sociedade nos negócios, o considera um verdadeiro filho, que o é!
Mas antes a pobre e triste mulher deixou este Lugar dos Matos em idade cansada para se casar e ir morar para outro outeiro, o Alqueidão, hoje está num lar não sei se ainda dona das suas faculdades para receber esta boa noticia da paternidade do seu querido filho...

Atualmente a  casa da família do Padre Manuel Jorge, onde viveu e depois os avós e pais da Adelaide
Não vive aqui ninguém há mais de 40 anos...
A casa em aparente ruína, tem valor arquitectónico pelo balcão e colunatas a suportar o telheiro, representa dizer o chão era deles.Por ter sido em tempo farto de homens a abraçar o sacerdócio em relação a igrejas disponíveis, os seus pais procederam à construção da capela no seu terreno, e ainda tomando como certo o seu nome Manuel Jorge,  sem se saber se seria filho único, à época cabia ao filho mais velho receber a herança da família e o segundo em geral seguia o sacerdócio, já as filhas ou se casavam ou entravam em conventos.

Gentil partilha de Maria Adelaide Mendes Simões "Veja só, tudo começou com um link que eu vi no facebook  sobre uma caminhada.As pessoas passaram ao lado da Capela do São Mateus e aparecia um pedacinho da frente da casa, fiquei toda arrepiada, me emocionei muito e fui procurar no Google, o que vi me deixou muito triste por ver os meus primos deixarem tudo se acabar. Por favor Isabel não quero perder contacto consigo, porque sempre vejo alguma coisa da minha Terra. Eu vi o que você publicou e chorei muito, pois amo cada pedra , cada árvore, morro todo dia um pouquinho com saudades e vontade de viver aí , mas não posso infelizmente.Você não imagina o bem que me fez. Nasci no Carrascoso, mas meu pai era dos Matos. A família dele morou nessa casa. Só que essa casa era do meu avô, Manuel Simões. Nela nasceram meu pai e meus tios. Meu pai, Alberto Simões, nasceu em 1922. A minha avó chamava-se Maria de Jesus Duarte, mas os irmãos dela tinham o sobrenome Tojo, tinha um vizinho Moreira que andava sempre às turras com ela por causa da água do poço. Vim para o Brasil com 5 anos. Os Cancelinha de Albarrol são família da minha avó, mas a minha avó era natural do Ribeirinho (e os Cancelinha também de onde partiu para Albarrol por casamento). A casa, as terras são da família Simões. O meu tio António ainda vive no Carrascoso. Minhas tias e meu pai já faleceram. Para o Brasil vieram dois. No Casal das Pêras,  vivia a minha tia Ana da família Mendes que tinha um tear. E o correeiro casado com a Oliva era primo do meu pai. Havia uma família no Carvalhal  que eram primos da minha mãe. A senhora se chamava Jesulinda, um filho dela se correspondeu comigo muito tempo na década de 70 , ficava perto da casa da Olívia. Sabe Isabel muitos anos já se passaram muitas coisas mudaram, mas a lembrança  e as saudades ficam. Também tenho um primo que tem um táxi na vila, o Alfredo, a esposa de chama Isaura.Encontrei em Santos uma pessoa que morou ali numa daquelas casinhas. Mas vim para São Paulo e perdi contacto. Mas foi tão bom falar sobre a Terra..."

Agosto de 2020
Para memoria futura as pedras da cantaria a arte de Ansião do séc XVII. Deviam  ser sob melhor opinar espólio do futuro Museu de Ansião, antes que se percam de vez.

Carril
A casa do Ti Sabino,  a caminho do Casal das Peras, ainda o conheci,  e a seguir foi a casa da Ti Gracinda, em ruínas. 

Pedidos de passaporte  
Pelo menos há mais de cem anos os pedidos de passaportes revelam o espírito de aventura e de ganhar a vida pelas faixas etárias, os que levaram a mulher e filhos,  porventura com a ideia de não mais voltar .
O desconhecido ouro verde - o café, por isso o destino Santos, também África para S. Tomé para as roças como feitores.

Passaporte de Joaquim Simões 1908-03-24 Idade: 41 anos
Filiação: José Simões / Preteciana (?) de Jesus
Naturalidade: Matos / Ancião
Residência: Matos / Ancião
Destino: Santos / Brasil
Observações: Escreve
Supostamente seja tio (?) da minha amiga e colega dos Anacos, a Fátima Simões, cujo pai nasceu nos Matos, o Sr. Ernesto Simões Bento , taxista na praça de Ansião.

Passaporte de Francisco Rodrigues 1908-09-23 Idade: 32 anos

Filiação: Luís Rodrigues / Mariana Marques
Naturalidade: Martim Vaqueiro / Pousaflores / Ansião
Residência: Matos / Ansião
Destino: Santos / Brasil
Observações: Escreve 

A avó do Zé Maria Marques Reis, nasceu na Quinta do Martim Vaqueiro,  era natural dos Matos

Passaporte de Joaquim de Oliveira 1913-03-29 Idade: 26 anos
Filiação: Manuel de Oliveira / Casimira Maria
Naturalidade: Matos / Ansião
Residência: Foz do Arelho / Caldas da Rainha
Destino: Santos ( Brasil )
Observações:Levando sua mulher, Maria da Conceição e 20 anos de idade.

Passaporte de Alfredo Mendes da Silva 1913-03-19 Idade: 16 anos

Filiação: António Mendes da Silva / Maria de Jesus
Naturalidade: Matos / Ansião
Residência: Matos / Ansião
Destino: Santos ( Brasil
Observações: Não tem

Processo de inventário orfanológico Data descritiva 1901

Inventariado: José Simões; inventariante: Feliciana de Jesus Freguesia: Mattos - Ansião.

Na mudança do século XIX para o XX muitos portugueses emigraram para o Brasil 

Ganhar dinheiro no Porto de Santos como estivadores a carregar sacas de 60 kg de café, das carroças para os porões dos navios, em condições precárias por passadiço de madeira sujeitos a cair ao mar.Padarias e como capatazes de fazendas de café.

Ainda os houve de força bastante que se conta havia um que conseguia levar seis sacas de uma vez, entre eles faziam concursos de peso- quem mais sacas aguentava sob os ombros, uma maioria levava duas, três ou quatro, sendo seis no total 300 quilos um absurdo...
Porque faziam isto? Se não ganhavam à saca então eram tolos...Não acredito, era sinal de força, de poder!
Concurso
Houve os que voltaram ao fim de uns anos para casar, montar negócio, ou continuar na sua vida de agricultor. Também os houve que a vida lhes correu mal e se deixaram ficar por lá...
No entanto para partir era preciso terem dinheiro para a passagem, por isso houve muitos que venderam o que tinham, disso me recordo ouvir o meu avô " Zé do Bairro" a propósito de um pinhal que tinha comprado a um primo para este ir ao Brasil, outros receberam carta de chamada de familiares já instalados, e lhes pagariam depois de arranjar trabalho, pior, os que se aventuraram em emigrar assinando contrato com despesas incluídas e ainda acomodação, sem jamais verem o "fundo ao tacho" na liquidação da divida que na vez de baixar crescia com juros capitalizados...
Pois houve produtores de café que se aproveitaram dos emigrantes portugueses, descaradamente!

Fontes

https://www.facebook.com/igrejadeansiao/
http://digitarq.adlra.dgarq.gov.pt/results?t=leiria&p=1006&s=CompleteUnitId&sd=False
“Notícias e Memórias Paroquiais Setecentistas - Ansião" de Mário Rui Simões Rodrigues e Saul António Gomes

Seguidores

Arquivo do blog