Cronica com resumo publicado no Jornal Serras de Ansião em Abril de 2023
A primeira referencia conhecida, em 1721 - na notícia do juiz Bernardo Rodrigues; o Corsial Piqueno da jurisdisam deste Couto de Ual de Todos sitiado de matos e penedos, com oito moradores, com uma capela instituída por um sacerdote secular, natural do mesmo Lugar, o qual se chamava Simao da Sylva; de invocação da Senhora da Esperança. Foi vigário na vila de Botão, ia defunto e deixou em seu testamento missa perpétua para meio ano e sua cunhada Mónica Mendes a quarta parte do ano como para outro seu irmão João da Silua; por conta do administrador da dita capela Manoel da Silva Freire.
Em crer, a capela instituída, não foi sediada na morada do padre Simão da Sylva, defronte da Lagoa, ainda na posse dos seus descendentes ; os pais do Sr. Alfredo Lourenço. A quem agradeço o contributo; a casa é muito antiga, ao longo dos anos sofreu várias modificações. Havia muitos livros antigos sobre religião, provavelmente foram parar ao "lume ".
Morada dos descendentes do Padre Simão Sylva defronte da lagoa
Lagoa muito assoreada a pedir limpeza!
O poder do Couto da Torre de Vale de Todos
A notícia de 1758, do cura Manuel Caetano de Carvalho, da Torre de Vale de Todos, evoca o Foral do Senhorio, o Cabido da Sé de Coimbra, Duque de Cadaval de Tentúgal. Com os Lugares; Casalinho, Lugar do Pinto, Carreira, Mata, Sobreiro, Curcial de S. Bento, Curcialinho, Figueiras Podres, Casal do Poço Mimchinho e a Fonte do Carvalho com 19 vizinhos e 79 pessoas. Onde se acham, a câmara e cadeia. Tem juiz ordinário, escrivão, também tabelião, vereador, um procurador e alcaide e almotacé.
No livro O Município de Coimbra da Restauração ao Pombalismo Cf. Sérgio da Cunha Soares, Op. cit., vol. I, p. 53. Em 1812 Os concelhos do termo onde Coimbra detinha apenas a jurisdição crime em Pombalinho, Eiras, couto da Vacariça, Botão, couto de Aguim, couto de Outil, couto de Paredes, couto de Vale de Todos, Pereira, couto de Monte Redondo, couto de Casal Comba, couto de Semide, e couto de Vila Nova de Monsarros (...)
António de Oliveira – A vida económica e social de Coimbra, Coimbra, Faculdade de Letras, 1971, vol I e Sérgio Soares, nos estudos que realizaram sobre o município de Coimbra, evidenciaram os múltiplos problemas com que a vereação coimbrã se deparou nos lugares do termo em que exercia apenas a jurisdição crime. Problemas que se materializaram na tentativa de apropriação da jurisdição crime por parte dos donatários que apenas detinham a cível, ou na dificuldade em cobrar impostos municipais nas áreas em que detinha apenas jurisdição cível. Na maioria dos concelhos do termo apenas exercia jurisdição crime, situação que provocava frequentes conflitos de jurisdição Margarida Sobral Neto – Terra e Conflito. Região de Coimbra, 1700-1834, Op. cit.
Casa de sobrado, guarda o tradicional balcão e tem vários cómodos
O provável palco da Capela de S. Caetano
A D. Alice Rodrigues, recorda de ouvir a um vizinho entretanto falecido, que muito gostava de levantar questões do passado, que neste barracão, defronte do casarão houve uma capela de padres .
Conheci o casarão na visita com os amigos
Sr. Albertino Lopes, esposa D. Silvina Gomes e um neto. E a mana do Sr. Albertino a D. Filomena
A foto acima explicita a frente do portal do Paço - um janelo no anexo, teria sido o palco da capela?
A capela a S. Caetano a não ter sido no anexo foi na casa logo atrás
Coligi nas Memórias Paroquiais de Penela, em 1751 o Curcialinho tem huma ermida de S. Caetano
De facto nem tudo o que ficou escrito está certo ou completo. A esse respeito verifica-se nas MParoquiais da Lagarteira do vigário Caetano Rodrigues, não abordou as capelas no Curcialinho...
Ala museológica da Igreja de Avelar
Auspicia que a imagem de NSEsperança e esta, em baixo, a S. Caetano, expostas na ala museológica da igreja do Avelar, com proveniência desconhecida, que tenham sido das capelas do Curcialinho. Presume a sua desativação antes ou depois da República, que o seu espólio ou foi vendido ou levado para a igreja do Avelar, eleita pelo elo secular a Penela, cuja extrema era pela Lagoa do Pito.
O S. Caetano é um Santo italiano, muito amado pelo Papa Francisco.
A grata memória de Alfredo Lourenço sobre o casarão
Um património importante que foi recentemente modificado, ao iniciarem obras para turismo e assim ficou. A entrada era bela com escadaria de grandes lajes. No sobrado havia 6 salas, em lajedo, uma com lareira e alçapões, um espanto. O r/c com vários desníveis e divisões, umas com janelas fortificadas e outras sem qualquer luz ou abertura que dava a impressão de presídio.
O meu marido ao alto da escadaria
Pequena cavidade numa parede com porta de sacada para sul, mas, julgo não teve varandim...
Jaz perdida na voz do povo e por hora sem fonte documental. Presume escolha do bispado, o seu chão, para erigir um Paço - dito casarão, que sediou a nascente da casa da quinta (herança da D. Alice), pela capela a S. Caetano, que lhe ficava defronte.
Nítida pretensa no mesmo prédio acumular todas as valências do poder do Couto depois de 1812, ao ser contemplado com a jurisdição crime. Desativando o poder então na Cabeça na Torre.
Paço imponente, de fausto portal encurvado do final do estilo barroco, quiçá trazido de outro local e aqui requalificado, já que a demais cantaria é de 800.
O sobrado tinha seis salas, em chão de lajedo, para servir o público e não habitação.
Na frontaria, o r/c com duas celas e janelas com grades.
A cela a poente com degraus flutuantes, para o condenado depois de ouvir a sentença descer pelo alçapão à cela…A retirada do reboco das celas inviabiliza saber se tiveram uso, ao serem perdidas as dos presos, já a lareira jamais foi acesa.
Vivia-se uma época intensa de conflitos sobre a terra e os foros pagos pelos rendeiros ilhados entre senhorios; Cabido, Mosteiro de Santa Cruz e o de Celas.
No livro Terra e Conflito da Dra Margarida Neto Sobral aborda os conflitos na Gândara , Montemor o Velho, Verride, Condeixa etc, mas, lamentavelmente sobre esta região nada explica, e bem sabemos que também sofreu os mesmos problemas e revoltas.
Conflitos a originar a abolição das ouvidorias, por alvará de 1792 de D. Maria I.
A toponímia Rua do Tanque
…Por detrás da Torre, os ditos Passos - auspicia uma torre romana sediada por ali algures, erigida com o propósito da defesa da água da fonte e Lagoa do Pito, Poço Minchinho e Fonte Carvalho. Como outras em corredor romano, que foram reutilizadas na reconquista cristã, na luta contra os mouros.
O casarão !
Um paço que teve ortografia Passos.
Um património de valia histórica em agonia que suplica reabilitação urgente!
Quem lhe acode?
Valoriza e dignifica?
Eis, a hora de mudar de rumo. Com apelo ao equilíbrio estético e cultural, a chamar a ribalda turística ao Curcialinho!
A toponímia Rua do Tanque confronta a cultura à memória esquecida dos Passos do Couto!
Agradeço a todos a quem macei, o inestimável contributo das suas partilhas para compilar esta nótula histórica, sobre o Curcialinho, que era de inédita bibliografia, a crédito vir a estimular arqueológos em achar os alicerces da torre.
Fontes
Testemunhos de Alfredo Lourenço, Alice Rodrigues e Henrique Caseiro
Memórias Paroquiais de Penela
O Município de Coimbra da Restauração ao Pombalismo de Sérgio da Cunha Soares
Minha visita à ala museológica da igreja de Avelar