terça-feira, 28 de setembro de 2010

Janelas antigas com um caixilho

Um dos locais mais bonitos da minha infância que preservo fica num extremo de além a seguir à capelinha do Escampado de Santa Marta de 1708 por serras de Ansião.
O progresso quis que este antigo caminho sem saída fosse roteado para ligar este Lugar a Albarrol. Um baque!
O que se perdeu por aqui -, nem quero lembrar...grande era o empedrado a fazer lembrar calçada romana (?) de grandes pedras arrumadas geometricamente, ainda uma enorme laje plana com um pequena cruz templária esculpida.

A frágil casita meio derrubada ainda me lembro de lá ter entrado, agora de porta aberta pintada a cal, as silvas a invadir o espaço, ainda um bengaleiro feito manual muito castiço, os quartos minúsculos em tabique, onde acredito terem sido gerados e paridos sem prazer os filhos, como na época era normal...sufoco só de pensar!
Ao fundo depois da cozinha a lenha o alpendre com o forno em barro abobadado e  abertura celta em triângulo. Adoro fornos, dos cheiros da lenha a arder, das cores, do crepitar até ficar branco, sinal que está no ponto para receber a massa levedada de milho, centeio ou trigo, ainda mistura e broinhas de azeite, entaladas com bacalhau, sardinha, chouriça ou açucar...
Incrível, hoje quase tudo se perdeu!
  • O empedrado encontrei-o numa das minhas caminhadas com a minha mãe um pouco mais abaixo para o lado direito à saída do Lugar, talvez o mais provável eixo da estrada romana vinda da Lagoa do Castelo a caminho de Albarrol, Almoster, Alvaiázere onde a toponímia ainda hoje atesta nomes de aldeias como Romila e Rominha -,da existência dos fornos de cerâmica, do olival com oliveiras desse tempo com mais de 2.000 anos, dos buracos feitos nas encostas das serranias para se esconderem  fortes indícios da sua passagem por estas terras...tudo aventa que a via romana por aqui passasse, por certo não há dúvidas, tantos são os indícios nos Escampados num círculo restrito, coisa de um km sem dúvida alguma...passou!
Desde miúda que sou vidrada neste tipo de janelas em madeira com minúsculo caixilho em vidro.A primeira, a que faz parte do meu manancial de memórias existia nas traseiras da  casa dos meus avós paternos, entre a estrada real e a vila
  •  o meu pai tinha uma foto com uma folha de couve galega na mão, por detrás dele a casa de janela de madeira e janelo em vidro minúsculo...perdeu-se a foto...a casa sempre a conheci como palheiro pertença do Ti Serra , nunca registei a foto, com o tempo o palheiro pertença de dois, houve um que o  remodelou!
A segunda janela encontrei-a precisamente neste Lugar de além do Escampado de Santa Marta quando por lá ia com a comandita de cachopos do Bairro na véspera do dia de Ramos à procura do alecrim.Passaram-se os anos, mais de trinta, deixei de lá voltar, entretanto uma vez por outra tentava, alguns caminhos passaram a ser asfaltados, fatalmente perdi-lhe o norte , não conseguia encontrar a direcção, faltava-me qualquer coisa...
  • fui tentando nas várias passeatas que gosto de fazer com os cães da minha irmã, quis um imprevisto que numa tarde de domingo no meio da estrada, uma reunião para obras na capela me obrigou a desviar noutra direcção , o meu coração bateu forte, será que era aquele?
De passo apressado parti à descoberta... finalmente tinha-o encontrado!
Vibrei nas recordações de que maneira...até perdi o fôlego, tais as emoções...
  • Voltei mais tarde desta vez levei a máquina....com um baque no coração com o que via e não queria ver, nervosa pela perda irrecuperável de tanto património tremi a foto, mas volto lá, voltarei mesmo desfocada não resisto a mostra-la!
Pena fiquei em saber que o dono lhe tirou as colunas que sustentavam o alpendre, antes que as roubassem...o caixilho outrora com vidro já não o tem, escaqueirada mal se nota a cor original em amarelo, o que ainda resta o avental em pedra calcária, linda!
Quanto a esta janela pela antiguidade já não tem o vidro que lhe conferia  glamur!
Dei com ela numa das minhas caminhadas pelo Escampado de S. Miguel, vinha de mota do Marquinho e naquilo ela deparou-se à minha frente, irresistível não fotografar.
No caminho para Fátima  numa aldeola junto à estrada existe também uma, vi-a mais em pormenor quando fiz a peregrinação a pé.
Até há pouco tempo existiu na antiga estalagem do Bairro de Santo António em Ansião janelas em madeira sem o caixilho, são ainda as que se vêem mais.
No entanto para mim o caixilho pela sua pequenez, é um encanto um rasgo criativo do habitante da casa.
  • Como seria entrar no quarto e ver a luz através dele?
Que dizer dos efeitos de contrate na camisa de dormir em estoupa grossa para afugentar as pulgas, bordada no peito com monograma a vermelho pendurada no cabide...
Romântico diria!

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