quinta-feira, 15 de setembro de 2016

A Capela da Senhora da Orada na Granja de Façalamim, em Santiago da Guarda

  Nossa Senhora da Orada
 
 Excertos das Memoria Paroquias (...) «A dinamização da colonização do território de Façalamim 
 pelos cónegos regrantes de Santo Agostinho na sua granja deu origem a Casais em 1141 e, mais tarde, a lugares e aldeias, gerando a necessidade de se edificar uma ermida ou uma capela e, posteriormente no século seguinte é fundada em 1259 uma pequena igreja ( hoje capela da Orada) que nesse tempo se chamava "Senhora da Hora" e foi matriz de Santiago da Guarda até ao século XIX» . 
«Segundo Frei Nicolau de Santa Maria, cronista dos cónegos regrantes de Santo Agostinho, quando D Afonso III lhes fez a dação do Padroado da Igreja da Magdalena de Portalegre no anno de 1259», ficou este mosteiro « sendo Padroeiro de sete Igrejas, que se lhe annexárão»:Santo Estevão de Castelo Viegas, «Nossa Senhora da Hora de Façalami...e»
 
(...) «A igreja de Nossa Senhora da Hora ou da Orada não aparece no «Catalogo das Igrejas»de 1320-1321, nem nos vários censuais conhecidos da Diocese conimbricense do século XIV. E continua ausente do «Lyuro das igrejas que ha nesta correicam...» 

(...)« A 30 de abril de 1758, o cura da Freguesia de Nossa Senhora da Orada, Padre João Mendes Baptista « Orago he de Nossa Senhora da Expectação (do Nascimento de Cristo) o que também se diz Senhora do Ó e vulgarmente se diz Senhora da Orada».

Verossímil, que o primeiro culto implantado na  pequena cumeada  da Granja, foi pela mão dos primeiros 40 povoadores vindos de norte, entre judeus sefarditas fixados na Galiza e minorias de celtas mouros e outros vindos do mar mediterrâneo. Quem povoou, desbravou, cultivo e defendeu as terras dos sarracenos e da capital do reino - Coimbra. O limite sul do Alvorge fez parte de uma cintura muralhada de defesa com torres de atalaia entre castelos com um conjunto de praças militares - Montemor o Velho, Soure, Pombal,  os castelos Germanelo, Penela, Miranda do Corvo, Arouce, Ceras e Almourol . As torres de  Soucide, Santiago da Guarda, Alvorge, Penela, quase todas desaparecidas, resta  a toponímia em Ansião - Lagoa do Castelo à imediação do Senhor do Bonfim e, em Santiago da Guarda - Castelo (em local diferente da torre medieval de Santiago da Guarda ), ainda o castelo natural da Ateanha,  Castelo no Avelar e na Cabeça Redonda.

Uma lenda do nascimento da Senhora da Orada
" (...) Havia o costume de lançarem, para sítios ermos e bravios, as moças solteiras, quando estas aparecessem prenhas, o que se tornava uma desonra para a família. Certo dia, uma rapariga apareceu com uma grande barriga. Os pais, que não eram muito cultos, mas tinham uma honradez irrepreensível, pensando que esta se havia metido com algum homem, sendo ela donzela, foram deixá-la numa cumeada, bem longe da terra, para que os bichos a devorassem. A rapariga gritava que não podia estar grávida, porque não tinha estado com homem algum, mas os pais não acreditaram. Sentindo-se abandonada em sítio ermo, ajoelhou-se e começou a rezar a Nossa Senhora, rogando-lhe que a salvasse. Ainda antes de anoitecer, apareceu-lhe a Nossa Senhora, e lhe falou:
– "Filha, o que tu tens é uma cobra dentro da barriga, que te entrou pela boca, quando dormias a sesta num milheiral. Vai para casa e diz ao teu pai o que eu te disse. Manda-o ferver leite, numa caldeira e que te debrucem sobre ela; pois com o leite quente a cobra sai. Diz-lhe ainda que, como reconhecimento, quero ser adorada aqui".
A donzela, cheia de medo, lá foi para casa e contando tudo ao pai,  acabou por fazer o que a Senhora tinha ordenado. Quando a debruçaram por cima da caldeira, com o leite a ferver, a cobra saiu e os pais ficaram admirados sem palavra. Viram, então, o mal que iam fazendo e, com todo o povo, mandarem erigir uma capela,  no sítio da aparição da Senhora, que passou a ser invocada como a "Nossa Senhora da Orada". Depois deste milagre, muitos outros a Senhora da Orada fez, sempre para salvar pessoas que estavam em grande aflição."
Possivelmente mais tarde se veio a chamar Senhora da Boa Hora (?) - porque a Imagem é no estado de gravidez, e por isso boa hora no parto num tempo que muita mulher e crianças morriam por falta de cuidados quando se complicava o nascimento. 
Quando falo sobre a Senhora do Ó dificilmente alguém a identifica  no estado de gravidez, na alusão do "O" fechado   simbolizar o ventre.
Nossa Senhora da Orada, hoje Granja 
Nas Memórias  Paroquiais «(...)O donatário da Freguesia de Nossa Senhora da Orada em 1758 era o Colégio do Espírito Santo da Cidade e Universidade de Évora com 71 vizinhos e 243 pessoas.»
 
A Igreja da Orada 
Excertos do Livro do padre José Eduardo Coutinho « (...) a Cabeça da Granja de Façalamim, mais tarde chamado Campo da Orada, a igreja que hoje se conhece por capela da Orada teria sido fundada em 1259 , hoje a capela da Orada é uma construção quinhentista atarracada.»

"(...) uma capela na Granja dedicada a Santo António, de construção setencentista, com rico retábulo de talha dourada, ao gosto da época, com a mesa de altar, em alvenaria revestida de azulejos hispano-árabes do século XVI, provavelmente trazidos  da capela mor da Senhora da Orada aquando da sua reconstrução no século XVIII ." Reaproveitamento da ara do altar, o retábulo em talha dourada, o excedente de azulejos da Orada para esta capela e ainda a Imagem do Santo António que faria parte do espolio da Orada.
 
A primitiva matriz da Orada
No século XVI foram daqui retiradas duas pianhas em pedra e duas Imagens quinhentistas - São Tiago e Nossa Senhora da Graça para a matriz de Santiago da Guarda, onde se mantém.
Atualmente a Igreja da Granja a que se chama capela  por ter dimensões diminutas, ainda assim grande com capela-mor e sacristia  foi no passado  a matriz de Santiago da Guarda, pelo que a meu ver o deveria voltar a ser chamada de Igreja, pela riqueza do lajeado e das sepulturas, e do  seu historial .
Sediada ao alto da pequena cumeada rodeada por outros outeiros igualmente de beleza rara pela nudez dos costados.  
Guarda ainda imagens mutiladas…quem lhes acode antes de possível roubo, perca? Imagem de Jesus Cristo Crucificado; Santíssima Trindade; Apostolo Santiago; S. Sebastião, Santo Antão, Nossa Senhora do Rosário e,... Quanto à Imagem de Nossa Senhora da Hora encontra-se desaparecida há poucos anos, depois da década de 80, segundo o Padre José Eduardo Reis Coutinho.  
Com a extinção da freguesia de Nossa Senhora da Orada em 1850, o seu território foi anexado à freguesia de São Tiago da Guarda.
Merece incremento o que resta do seu fausto espolio mutilado a merecer restauro para exposição em 
ala museológica 
No Museu concelhio que tarda abrir . Algum espólio, como o Santo Antão foi da capela jesuíta do paço.
A capela está inserida na Rota do Caminho de Santiago de Compostela e da Roa Carmelita.
 
Apresenta-se o átrio lajeado, com frestas de lado, e o típico beirado português, de rico interior.

Capela -mor da igreja da Orada
Apresenta-se separada do corpo da igreja por um arco de volta perfeita, simples em abóbada com dois arcos cruzados de motivos  "Manuelinos"  pintados que se fecham em medalhão ao centro.
Desolada com o  pobre altar da igreja da Orada, imaginava-o eloquente, apresenta-se em retábulo de madeira com pintura  polícroma; azul e branco com filetes dourados, setecentista e, o orago com a Imagem de Nossa Senhora com o Menino ao colo será a Imagem de Nossa Senhora do Monte do Carmo? Fechada em oratório ladeada por duas tábuas que não distingui as Imagens, e em baixo ao centro o sacrário.
Não é por acaso que estranhei o retábulo da Senhora da Orada ser simples e pobre. Supostamente foi retirado o bonito e posto um novo simples, sem aparente riqueza  numa das últimas requalificações, quando transitaram materiais sobrantes para a capela de Santo António.(?)
 
Inventário Artístico de Portugal de 1955
Referencia a Imagem de São Tiago no Livro das Memorias Paroquiais Setecentistas.
Frontaria da igreja da Orada
Apresenta-se empobrecida de simplicidade para tanta antiguidade!
O último grande restauro foi perpetuado pelo Padre Ramos em 1966, conforme placa existente na capela .Nessa altura foram encontradas ossadas junto da parede lateral a sul da igreja,  segundo a cicerone que me abriu a porta da capela o Padre Ramos as mandou tapar. O que evidencia que as sepulturas dentro da capela respeitam a pessoas mais importantes , até o povo diz que os dois últimos bispos que morreram no Paço aqui foram sepultados junto do altar mor e, no adro o povo e serviçais . Destaca-se acima da pardieira duas pedras soltas não se sabe o que foram, para que serviam. Sendo bem visível que existe outra pardieira aposta  abaixo, e entre as duas uma fresta estreita na horizontal, pode evidenciar resquícios de uma construção antiga, ou não Quanto ao óculo  ao centro será original (?), para dar claridade e arejamento era habitual em construções antigas. A "Cruz" muito simples parece ter sido feita aquando da última reconstrução .
Fachada a poente
O átrio da frontaria ladeado por mural e chão lajeado pode ter sido no passado coberto por telheiro ou não, o  que pode evidenciar uma construção ao estilo simples, mas ter sido ao estilo romântico/gótico na altura da reconquista cristã,  em que estavam no auge as pinturas em tábuas e na escultura, as Imagens quinhentistas e chão lajeado.Desconheço se a igreja sofreu com o terramoto de 1755, na verdade a maioria do que existe nesta igreja é dessa época setecentista.Acredito que esta  igreja com sacristia foi no tempo consequentemente restaurada que lhe deu a imagem hoje conhecida de fachada simples, mais baixa  e quase sem evidências da sua antiguidade, se mostrando o habitáculo do sino (lamentavelmente foi roubado há pouco tempo) grande, em relação à igreja. A existência de duas pias de água benta; uma na entrada como é habitual e outra na capela  mor dão a dimensão do que foi no seu passado, a primitiva matriz.
Existência de contrafortes no tardoz 
Evidenciam a antiguidade. No concelho de Ansião, que eu conheça, só se encontram aqui e no Bairro de Santo António, resta  um da que foi a segunda estalagem na centúria de 400 .
Olhando à volta do seu exterior é bem visível marcas de alicerces em pedra, que se estendem ao longo da parede lateral e a sul , mais largos do que a atual parede e no tardoz a existência de contrafortes usados na época medieval. Evidencia várias reconstruções sofridas ao longo dos tempos .
No tardoz visível ao nível do chão os alicerces antigos de grande largura , cuja parede pode na reconstrução ter sido ou não adiantada .
 Arco sineiro, sem o sino
Infelizmente roubado...
Duplo beirado português
A igreja ostenta o antigo  duplo beirado português  acrescido do novo  triplo.
A capela mor apresenta frestas antigas para iluminação.
Sepulturas no interior da Igreja da Orada 
Mostra-se belo de chão lajeado com numerações esculpidas  na pedra . 
 
São notórias várias pedras de sepultura identificadas pelo  Padre Coutinho no seu livro de 1986
Corrobora a minha curiosidade desde pequena que me intrigavam  numerações semelhantes na capela do Bairro de Santo António, em Ansião. Seguiram-se mais tarde as da igreja da Torre de Vale Todos e Degracias. Há poucos anos correlacionei seriam sepulturas, cujos livros de assento no tempo desaparecem .
 
No Congresso de Alvaiázere, houve alguém licenciado em Historia, de Ansião, QUE FEZ PLAGIO ÀS SEPULTURAS COMO FOSSE SUA A AUTORIA.
Na apresentação do livro fiquei em choque com o elogio dado em publico...POR ACDEMICO QUE DESCONHECE A NOSSA  HISTORIA LOCAL..

Excertos do Livro do Padre José Eduardo Coutinho " (...) é uma construção quinhentista atarracada; no adro e no corpo da igreja, todo lajeado, são notórias bastantes pedras de sepulturas; tem dois altares colaterais, um do Espírito Santo, outro de Nossa Senhora do Rosário, ambos com os frontais e flancos revestidos de azulejos hispano-árabes, do século XVI, porém, somente nas ilhagens voltadas para o eixo mediano do monumento, dado que as outras não existem, por os ditos altares estarem, por falta de espaço,apostos às paredes laterais (...) E tem um altar lateral, das Almas do Purgatório , com tábuas alusivas polícromas setecentistas, com a Imagem de S. Miguel sob um arco de cantarias lavradas, setecentistas, e ornadas com motivos vegetalistas e geométricos pintados em tons cinzento e vermelhos, principalmente."
Altar lateral das Almas 
Púlpito
De formato quadrado encrostado em coluna de pedra com pinturas que não sei a razão, o seu significado, o que querem transmitir.Na lateral onde é o acesso ao púlpito a inscrição " P.E CVRA / M.EL MENDES. M / ANDOV. FAZER. / ESTE PULPITO. / A SVA CVSTA. NO / ANNO. DE. 1702"
O que me chamou logo a atenção foi a data esculpida, porque de latim não percebo nada, mas dá a perceber que foi um Manuel Mendes que mandou fazer este púlpito à sua custa no ano de 1702.
Términos do arco da coluna
Ao se abrir a portada de acesso ao tardoz do altar se repara na originalidade da coluna que evidencia ter sido pintada tal como o arco do altar das Almas (?).
Na capela mor a pequena pia de água benta com a data esculpida  de 1729.
Possivelmente esta pia esteve antes encastrada na parede lateral a sul, visível numa foto  e com a alteração de mobiliário acabou sendo posta aqui na entrada da sacristia
 Na entrada da capela outra pia de água benta
  S. Sebastião na Orada em Santiago da Guarda
Imagem mutilada, ainda assim de rara beleza por se mostrar ingénua na expressão do olhar na expressão da boca e do atilho com nó à cinta.
 
Grande no concelho a adoração ao S. Sebastião 
Se atender ao número de imagens em igrejas e capelas no concelho. Soldado romano, mártir, revela a forte vivência romana na região há mais de 2000 anos- em prol hoje o mesmo  culto a Santo António  .O culto  a S. Sebastião no concelho de Ansião ainda se pratica em Albarrol. Contudo existem outras Imagens na Igreja de Pousaflores,  Capela de Nossa Senhora da Orada na Granja, Igreja do Alvorge, mas também existiu uma na primeira igreja de Ansião que já existia em 1293,onde no atual cemitério, que foi o chão dessa igreja, foi encontrado o suporte com os pés de uma Imagem do S. Sebastião, segundo o Livro do padre José Eduardo Coutinho.  Não sei se haverá outros locais de culto no concelho de Ansião à Imagem deste Santo . Também é venerado na Cumeeira e, na curiosa ruína da Igreja de S. Sebastião na Atouguia/Ourém, que muitos de nós por certo a conhecemos por estar inserida no trajeto da peregrinação a Fátima, ao tempo enquadrada na antiga rota da estrada real e romana a mesma que passava pelo concelho de Ansião no tempo atestada no culto ao mártir S. Sebastião como símbolo da premissa e dor do povo na luta contra os sarracenos, mal se viram livres deles o culto ao mártir foi-se perdendo e descontinuado  em prol da veneração a outros Santos que emergiam, no meu opinar.
 
S. Sebastião na Atouguia /Ourém
 
Azulejos hispano - árabes
Fascinante o revestimento dos dois altares laterais do século XVI em azulejos hispano-árabes, relevados em tons de policromia; verde, azul, castanho escuro e castanho claro.
Azulejos mouriscos  que outros assim iguais só na capela de Santo António na Granja daqui levados no dizer do Padre José Eduardo Coutinho e digo eu a Imagem de Santo António também.
Contraste do adro da Igreja da Orada 
Calçada portuguesa envolta de muros de pedra seca onde outrora foram sepultadas pessoas...
Há que alterar a sinalética para Igreja da Orada.
Há que se investir. E a Granja está em franco crescimento turístico!
Por isso é necessário INVESTIR EM SEGURANÇA!



Os meus recados
O que deve ser feito para preservar o património?
Quero acreditar que o seu espólio esteja inventariado, estudado e fotografado.
Quero acreditar que a Igreja esteja protegida por sistema de alarme sofisticado, por estar implantada  na cabeça da cumeada em local quase ermo...
Quero acreditar que existe estudo para fechar todo o seu adro tendo a entrada portão devidamente eletrificado para evitar possíveis assaltos ou vandalismo.
Aos fins de semana e feriados deveria ter pessoal que se revezasse para a mostrar, sendo a entrada paga, para ajudar a suportar os honorários com quem se disponibiliza para prestar o serviço, e para ajudar a custear as despesas extras .
Porque  quem não sabe tomar conta daquilo que é seu toma bem conta do quê? 
Depois de casa arrombada trancas na porta?
Não vi afixado letreiro da proibição de fotos.
Cato que floresce apenas num dia se apresenta de belas flores, não seja motivo para o esquecimento da história deste local ancestral carregado de história com estórias para contar.Quem de direito tem a incumbência e dever de preservar para as gentes vindouras.

FONTES

Wikipédia
Livro Noticias e Memórias Paroquiais Setecentistas de Mário Rui Simões Rodrigues e Saul António Gomes
Livro da Monografia do concelho de Ansião ( Perspetiva Global da Arqueologia, História e Arte da Vila e do Concelho ) do Padre José Eduardo Reis Coutinho
http://digitarq.adlra.arquivos.pt/details?id=1021782
http://lelodemoncorvo.blogspot.pt/2014/03/igreja-de-santiago-maior-matriz-de.html
https://www.jornaldeleiria.pt/noticia/uma-rua-direita-torta-e-uma-carreta-cheia-de-terra-de-pombal-4823

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