terça-feira, 14 de janeiro de 2025

O arqueossítio de Alvaiázere!

 Resumo publicado no Jornal Serras de Ansião em janeiro de 2025

Enviei para alargada o Jornal Alvaiazerense, aguardo para saber se vão publicar

Cariz autodidata estímulo ao lema de Shakespeare “Aparafusai a vossa coragem até ao ponto máximo e não falharemos”. Clamor às técnicas de sucesso na Banca a granjeio na reforma à paixão da arqueologia histórica, sem escavar. Aliada a memórias de mais de meio século  de Sicó à Alta Estremadura, agraciada de olhar peculiar, curioso e talento a coligir dispersa bibliografia , a esmiuçar erros e lacunas. 

O tempo de Covide permitiu caminhadas nos concelhos de Ansião e seus limítrofes com interpretação a palcos de ações humanas por escavar. 

Seria motivador o despertar dos interesses das Terras de Sicó e CCDR Centro, agora mais informados, no dever de apoiar financeiramente a investigação arqueológica em Alvaiázere, julgo já lhes ter sido disponibilizado parte de um espaço físico para montar o laboratório de campo, e seria conveniente continuar a investir no desenvolvimento das pesquisas que começaram a braços do Instituto Politécnico de Tomar há cerca de 25 anos, arrancando de vez da letargia, no sentido de valorizar o manancial cultural da pré-história, época romana, medieval e das quintas, a juntar à projeção turística!

Decorreu em Alvaiázere em 2019, o Congresso de História e Património da Alta Estremadura e Terras de Sicó, a pasmo - deixou cair a designação Alta Estremadura, para solidificar Terras de Sicó nos concelhos: Alvaiázere, Ansião, Penela, Soure, Pombal e Condeixa, sem aclamar Ferreira do Zêzere, Ourém e Tomar – desconheço vetores de inclusão e exclusão – sendo muito mais o que os une desde a pré-história de Condeixa a Tomar – ou seja de Sicó à Alta Estremadura, de tudo o que os separa – já erro, é dividir o que sempre esteve unido!

Há anos tomei conhecimento da notícia na internet do corte de eucaliptos que pôs a descoberto monumentos fúnebres das antas de Rego da Murta I e II, vindo a culminar na tese de doutoramento da Dra. Alexandra Figueiredo em 2007. Pioneira, ao enfoque da entrada de povos na pré-história, a sul de Alvaiázere e Ferreira do Zêzere – no terreno, deslindei também a Ourém. 

Persiste a herança de testemunhos na toponímia; Vale das Antas, em Rio de Couros; Antas, nos Ramalhais, em Pombal e o Foral de Soure, nas Antas do Fárrio. Nos Estudos Subsidiários para uma Monografia de Ourém de 1961, do sócio efetivo João Alvim , despertei no encalço da via romana e da grande mole “Mesa dos Ladrões”, em Chão de Maças. 

Antas e dólmens são heranças trazidas pelos povos dos mares: Mediterrâneo, Norte, Báltico e da Escandinávia aportados ao porto abrigado de Alfeizerão tomando rumo à supremacia dos recursos alimentícios dos vales férteis da Alta Estremadura. Frutos e cereais, aliada às fontes de pescaria; rio Nabão e fonte das Bogas em Ourém, laguna de Maré em Avecasta, a do Barqueiro e ribeira d’Alge em Alvaiázere, como no rio Zêzere. Abundância de caça, ainda hoje brinda Alvaiázere - a primeira razão à escolha desta região. 

Seguida no Calcolítico com a descoberta do cobre, presente nos monumentos megalíticos de Rego da Murta e na Gruta de Ave Casta, em Ferreira do Zêzere.    O ferro e ouro - os metais , outra razão que os atraiu na certeza de reforçar a importância deste território para essas comunidades,  pela memória de castros de Aveiro e Coimbra, nas Memorias Paroquiais de 1758, acrescem  os demais na região elencados no estudo de 2016 da Dra. Raquel Vilaça, no I Congresso de Historia e Património em Alvaiázere (…) equaciona a existência, no vasto território de Alvaiázere, de distintos complexos de povoados/depósitos numa relação hierárquica tendo por vértice o Castro de Alvaiázere, com habitats e outros, revelando a sua estreita ligação a rotas naturais de circulação, nos finais da Idade do Bronze já era detentor de um sistema organizacional como no controlo. Com eles coincide a distribuição dos depósitos, e de índole habitacional, funerária e cultural  neste olhar mais além, visualizam-se outros modelos, agora “lineares”, que depósitos metálicos, habitats e outros ajudam a entender, revelando a sua estreita ligação a rotas naturais de circulação, nos finais da Idade do Bronze.  

(…) Dra Alexandra Figueiredo, em 2006, assume que os espólios pré-históricos provenientes de Rego da Murta, em Alvaiázere, possuem semelhanças e conexões com a Beira Alta, Estremadura e Alentejo, evidenciando uma sociedade interconectada e em rede (…). Esta aferição é replicada em diversos artigos da autora, incluindo no livro publicado em 2021, sobre as Primeiras Arquiteturas em Pedra no Centro de Portugal: o Caso do Complexo Megalítico de Rego da Murta .

(...) Entre elas a velha Estrada Coimbrã, efetiva consagração a partir do séc. XII, mais não é a da repetição de traçados de origem milenar que o brilho dos metais há muito havia iluminado. Na sua rota definiam-se dois percursos principais que, partindo de Coimbra, se voltavam a reunir por alturas de Pereiro, a sul da Ribeira da Murta antes de atingir Tomar (Daveau 1988) a possibilitar compilar informação arqueológica importante para a reconstrução de um processo histórico que no passado já era detentor de um sistema organizacional como no controlo.

No trabalho de estágio em 2012, de Rui Miguel Saraiva dos Santos na Prospeção Arqueológica e Mapeamento de Cavidades do Alto Nabão orientado, pela Dra. Alexandra Figueiredo (…) Pelo que é observado nas prospeções, os habitats encontram-se relativamente dispersos, havendo possibilidades de fortes relações entre os mesmos, quer a nível social, económico ou cultual (Figueiredo, 2006). Esta proposição é, sob o nosso ponto de vista, apoiada pela grande concentração de monumentos no complexo megalítico, levando-nos a acreditar numa zona de culto que seria partilhada por todos os membros das diferentes comunidades que se registavam nas proximidades. A sua posição estratégica, na área de maior afluência de passagem e circulação nesta região, também faz levantar a preposição de uma intenção de ligação da vida social à vida passada, incidindo em conceitos de identidade, territorialidade e comunhão entre os habitantes desta região. 

A prospeção aurífera foi relevante em Alvaiázere, Ferreira do Zêzere e Tomar.

Memórias Paroquiais de 1758 do prior Pedroza de Pelmá (...) Há neste grande monte, dizem os naturaes, minas abundantíssimas de ouro;por que naz grandes innundações das chuvas, tem mostrado a experiência, que as ágoas, que se precepitão da montanha trazem arrojado aos valles este preciozo metal; de que sucede aos moradores da terra encontralo muitas vezes pellas barrocas: donde faz mayor enceada a enchente; obrigando-os a ambição a descobrilo com a industria das bandejas, de que tirão não pequeno lucro aquelles, que por officio se occupão em semilhante ministerio. 

Salete da Ponte, em 1995, nas Achegas à Carta Arqueológica de Tomar (...) minas de ouro e ocorrências auríferas no Casal do Mato, ribeira de Algaz, Fonte de S. João, margens do Nabão, e Porto da Lage, Poço Redondo na Junceira, e em Cepos, aludem à presença deste metal. E, Minas de prata, na freguesia da Madalena. 

O Livro à Descoberta de Portugal, Seleções do Reader´s Digest de 1982 (...) o castro de Formigais, romanizado; “de encantos ancestrais em subterrâneos plenos de miríficas riquezas, alvo da cobiça de grande número de pesquisadores, que, muito frequentemente, parecem munidos do Livro de S. Cipriano, manual muito difundido entre caçadores de tesouros e aprendizes de feiticeiro.”

Ainda hoje se fala em ouro prospetado em Matos, Alvaiázere, indicia pesquisa a fundição indigena e não habitat romano, a balanço da posição de  Guimarães “ Em 1984, diz que é insustentável a origem fenícia do bracelete de Penela; tudo nos prova que saiu duma fábrica indígena; nenhum critério possuímos para fixar a data da sua fabricação: tantas razões há para afirmar que fosse feito no tempo dos romanos, ou ainda depois, como que fosse muitos séculos antes “O atraso da arqueologia no nosso país não permite ainda discutir esta ordem de problemas.

Urje projeção turística o tesouro de Penela, como o descrito pelo padre Luís Cardoso no Diccionario Geografico sobre “Alvayazere” um “argolão de ouro”, achado ao acaso em lavras. Tesouros em terras alheias têm de voltar às origens, para os seus Museus!

Admito o ouro terá proporcionado trocas comerciais com fenícios, já que ainda não foram encontrados fornos de fundição deste metal.

Seguida nos milénios seguintes pela ocupação romana atestada nos fornos portáteis de fundição de cobre e ferro, tomei conhecimento na aula na gruta de Ave Casta pelos Drs., José Mateus e Paula Queiroz. Aliada à  exploração da Gruta do Bacelinho, a mineração de ferro e escórias no Castelo e Sandoeira em Rio de Couros, Ourém. 

Fortes recursos a permitir uma fixação cada vez maior até à Época Clássica, aberta estrategicamente na pré – história à expansão em dois pontos de ocasião de passagem pela serrania. Interligação da centralidade reunida a poente em Ourém, vinda do porto de Alfeizerão, Collipo, Conímbriga, Abiul e Ansião, à centralidade reunida a nascente a sul de Alvaiázere e Ferreira do Zêzere vinda do Alentejo, Beiras, Espanha e Levante. Cujos corredores foram sentidos no terreno e coligidos na Bula do Papa Adriano IV "Justis Potentium Sideriis" dirigida à Ordem do Templo, lavrada em Fevereiro de 1159 (…) a linha imaginária que partindo do Rio Zêzere para Leste-Oeste na direção de Murta a cerca de seis quilómetros a Norte de Ceras prosseguia para Freixianda e daqui para o Sul e Sul-Sudoeste alcançava inicialmente um Vau no médio curso do Rio Nabão, então denominado como Rio Tomar que permitia a passagem daquele trecho do Rio na antiga Estrada romana que se estendia de Santarém a Coimbra e outro Vau, na Ribeira de Ourém. Em 2022, numa caminhada em Almogadel, em pleno corredor da via militar - o que admito, deslindei o ramal do Vau, para poente com troço de calçada com lajes em riste, seguia à ponte da Quebrada do Meio, Quebrada de Baixo e Formigais – permitiu ligar Castros e a Gruta de Ave Casta. O Vau, a norte, à imediação de Formigais, por Pelmá, com derivação antes de Marques, uma via seguia por Relvas, ambas a embocar em Alvaiázere.

Por último outra razão de escolha desta região foi a prática de cultos pagãos.

O arqueossítio de Alvaiázere

Chamei arqueossítio ao contexto catalogado da laje de pegadas de dinossauros e cerâmica da pré-história, com um outro por explorar avistado no seu tardoz na caminhada de 2023

Laje de pegadas de dinaussaros 

Visibilidade de um plástico negro onde foi catalogada ceramica da pré-história pela dra Alexandra Figueiredo

Vinda num trilho de poente numa caminhada de 2023, em pleno campo onde só distingui uma pedra megalitica em cima de um muro, à demasia vesida por todos os lados a  cascalho a debruo de muros de pedra seca, chama a atenção um morouço de grandes pedras, quando em Ansião são pequenos de cascalho, e em Chãos, Ferreira do Zêzere, jus a muralha. 

Junto a um caminho ornado a pedras megalíticas, e de outro enorme mouroço a nascente, presumem ação por remoção de máquina, alegadamente desmantelamento de alguma estrutura, ou dólmen? 

Seguido no fecho da vinha que entesta a laje de pegadas, um monólito fincado inclinado.

Seguido de um cenário jus a elipse, com outros fincados, pontiagudos, um deles aparenta arte rupestre, entre demais retangulares deitados, a fecho noutro alto e esguio ao lado de outro prostrado, inserido num improvisado parque de merendas, à toa semeado a cedros, sem interpretação, nem estudo, que se ilustra na foto – presume um monumento megalítico da pré-história ao culto da fertilidade, ciclos da mãe natureza, sol, veneração de deuses, ou um Cromeleque, parente de Almendres, no Alentejo? 

O monólito fincado com suposta arte rupestre



Fecho da elipse com monolito alto sob outro prostrado

De saída  com os meus netos mais velhos; Vicente e Laura, ficando para traz o arqueossítio de Alvaiázere.


Mata do Carrascal

O parque de merendas exibe a redor pedra solta, amálgama a energia mística – quiçá outro sítio da pré-história. A olho nu, parece coincidir alinhamento com o Solstício de Verão ao cenário antes descrito. Ser ou não ser? Remeto estas considerações ao elevar Aristóteles “ A dúvida é o princípio da sabedoria “. 

Não fotografei as pedras soltas a redor para sul

Noutra caminhada vinda de nascente pelo caminho ornado a pedras megaliticas  a beijar a bancada de pegadas

É clara a exigência de um trabalho de investigação e a declaração de interesse patrimonial, onde mencionou em conversa informal, a Dra. Alexandra Figueiredo, a referência de se encontrar no solo vestígios de ocupação pré-histórica, sendo que dista escassos metros do complexo fúnebre das antas I e II, do Rego da Murta, também conhecidas por Ramalhal, premissa que me imbuiu avançar!

Tanto para contar este nosso território. Tanto ainda por descobrir!

É preciso Acordar, senhores autarcas para esta realidade, e avançar!


FONTES

Carta Arqueológica de Ferreira do Zezere de 2009

Tese de Mestrado de 2008, de João Forte “O Património Geomorfológico territorial de Alvaiázere"

Estudos Subsidiários  para uma Monografia  de Ourém  pelo sócio efetivo João Alvim


I Congresso de História e Património em Alvaiázere de 2016, Dra. Raquel Vilaça : Idade do Bronze na Alta Estremadura

Prospeção Arqueológica e Mapeamento de Cavidades  no Alto Nabão
Relatório de Estágio de Rui Miguel Saraiva Santos em 2012.
Orientado pela Doutora Alexandra Águeda de Figueiredo 

Arte Rupestre do Sítio Algar da Água , Alvaiázere: Registo Premilinar dos Levantamentos realizados em 2018, Dra Alexandra Figueiredo com mais cinco investigadores

https://arqueologia.patrimoniocultural.pt/

Memórias Paroquiais de 1758

Bula do Papa Adriano IV "Justis Potentium Sideriis" dirigida à Ordem do Templo, lavrada em Fevereiro de 1159

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