segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Critica ao programa sobre Ansião do Prof Hermano Saraiva

Falar de Ansião  na visão do Prof Hermano Saraiva em novembro de 2007.O Jornal Serras, anunciara o convite, assim como o mote de exigências, nomeadamente a visita a dez locais de interesse no concelho. Aconteceu a uma 5ª feira no princípio do mês de Dezembro indo para o ar no dia 10. O programa poderia ter sido melhor a meu ver porque o Prof. demorou demasiado tempo com a polémica da ortografia do topónimo Ansião escrito antigamente com "C" e atualmente com "S" por decreto-lei.  Ainda aflorou outra versão junto à Ponte da Cal sobre a lenda da Rainha Santa Isabel quando aqui passou e se apeava da sua liteira para se refrescar dando esmola a um Ancião, (sendo ancião, um mendigo,velho). Quem pode dizer que a Rainha Santa Isabel por aqui passou, por Soure, fartou-se de passar e por Penela a caminho de Dornes, reguengo que foi donataria. Agora por Ansião, é dificil, até porque não há fonte documental que o ateste, na certeza do seu cortejo funnebre vindo de Estremoz ter pasasdo o Zezere e tomado a estrada romana/medieval por Areias, Cabaços, Pontão, Togeira e Coimbra.
No tempo da Rainha Santa Isabel a Ponte da Cal ainda não existia. Talve o rio tivesse tido uma ponte de madeira. Quem vem de norte ainda verifica que o actual adro da capela de S. Pedro se apresenta baixo e era nesse sentido que se fazia a passagem de pessoas e carroças em tempo de seca ou pouca água. Aqui neste local foi identificado um habitat romano em 2010. Os tanques de chafurdo debaixo do arco a norte não serão da edificação da ponte, mas dos finais do séc. XIX, quando a ponte foi apetrechada de guardas laterais e bancos e ainad de um coreto, para acontecer a festa popular a S. Pedro. 
Correlacionei a construção da ponte  da Cal adjudicada em 1648, a um Mestre de obras de Fala, Coimbra . A previligiar um velho troço romano, desativado, agora teve ponte? Podia ter tido de pau, como se dizi à época. Porém, o 1º burgo de Ansião, sito a poente, este troço estava desativado e continuou até o burgo se mudar para nascente , para o local onde se encontra. 
A via que previligiou Ansião teve derivação na via de Antonino na várzea de Aljazede e nas Lagoas, ao alto das Lameiras no local do nó do IC8 havia à Fonte da Bica( resta a nascente que alimenta canavial) , abria-se pela frente um grande tanque de chafurdo lajeado que conheci em miúda com a minha irmã, guardo o seu tamanho à semelhança de uma piscina, ornado a dois degraus, que muito mais tarde num filme passado na Bretanha, distingui um igual, a reivindicar no passado tenha sido um tanque romano? A  Rainha Santa se alguma vez passou por Ansião e se apeou para se refrescar foi aqui neste tanque de chafurdo com a fonte da Bica, na beira da estrada então real .A poente do fontanário havia uma casa antiga, quiça foi a saboaria que laborou em 1630 e por reclamação dos forreiros foi descontinuada. O Nabão , a escassos metros, onde as carroças e os cavalos entravam na ribeira por pequena ribanceira a conheci com muito calhau rolado de varios tamanhos, atravessava-se o Nabão com água por uma estreita ponte de pedra pedonal, só para uma pessoa dando acesso a um carreirinho também de pedra de encosto ao muro alto da propriedade confinante a sul que embocava numa casinha onde foi no século XIX, o matadouro e no meu tempo canil municipal. Na verdade edificações anteriores por volta dos anos 30 do séc. XX, mostrando-se desencontrada a entrada e a saida do Nabão no meu tempo  longe uma da outra. Mas, no passado pode ter sido diferente, ao ter sido absorvido a parte inicial da derivação da via para nascente que dava para uma ponte de pau. A não ter havido ali ponte , de inverno por correr muita água no Nabão, sendo impossível de se passar pelo seu leito, sem ponte. A única possibilidade de o contornar era pela sua nascente que dista um escasso quilometro pela derivação na Ribeira do Açor pelo lombo da Fonte Galega, ao Vale do Buyo, onde se encontra desactivada uma capelinha de Alminhas, cujo caminho pasas na sua lateral  para os Olhos d' Água. A via seguia depois do Nabão,  Vale Mosteiro, Bairro, Carvalhal, Escarramoa Almoster .Depois de 1593, a data da atual igreja matriz, que foi edificada sob ruina de outro templo, coligi a sua reconstrução nos Mestres do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra. Na centúria seguinte  é que foi aposta a construção da ponte em alvernaria e reativado o troço da antiga via romana a passar pela vila, a chamada Rua Direita, Cimo da Rua, Impiados, Casais Maduros, Venda do Negro, Bouxinhas, Alvaiázere. 

Mais tarde esta estrada foi denominada Estrada real,  a ligar Coimbra a Lisboa. Foi relegada para 2º plano pelo ministro Fontes Pereira de Melo quando a retraçou por Pombal - a nº 1, deixando Ansião mais pobre no traçado de acessibilidades principais.

As lendas não passam de lendas com alguma raiz verdadeira misturada com a criatividade e crendice de um povo  analfabeto beatizado, ao acreditar facilmente em tudo que não sabia explicar a rotulo de Milagre. Ao se banharem nas águas, se livravam de pulgas, piolhos e lendêas , sem saber o que era higiene, tendo estas águas propriedades químicas que resultam em boa prática para curas e males de pele, logo  os fazia sentir melhor, e nesse facilitismo lhe atribuírem poderes milagrosos. Ritual que veio a originar o Banho Santo, mas antes tenha sido deixado pelos romanos que os judeus também fizeram uso até ser proibido por se mostrarem os corpos desnudados a referscar induzir a pecado... Os banhos uma tradição judaica de purificar o corpo, mais tarde proibidos por induzir a liberdades que não eram bem vistas pela igreja tendo sido proibidos.
Para colmatar essa proibição os tanques de chafurdo para homens e outro para mulheres, foram fechados por tabuado de madeira que se encaixava em furos no rebate dos tanques. No tanque das mulheres existe uma pia  pequena que atribuem erradamente à  Rainha Santa, era para as crianças, onde as mães no chafurdo delas tomavam conta, na minha opinião. 
Nos tanques de chafurdo o banho santo tratava de  mazelas e eczemas de pele. Vou contar uma cura que é verdadeira, a minha avó materna Maria da Luz Ferreira da Mouta Redonda chegou aqui a deslocar-se com o filho Alberto Lucas à roda de mais de 80 anos por sofrer de eczemas na pele nos braços ficando curado da maleita. No meu entender os tanques de chafurdo foram inicialmente feitos para reterem água quando o rio começa a ficar seco, aliás existiam ao longo do leito tanto na margem esquerda como direita poços para regar os milheirais no verão, tive a sorte de nunca ter caído em nenhum, os meus pais eram donos de uma fazenda, a Lameira, extrema com a margem norte do Nabão, no verão quando o calor apertava aqui afluía com a minha irmã de bicicleta para tomarmos uma banhoca entre o manto de agriões floridos a fervilhar nos fios de água em jeito de regato,  em Ansião o Nabão sempre se chamou somente ribeira! A primeira vez que distingui este nome - Nabão foi numa minúscula tabuleta na ponte do Marquinho quando ali passava na camioneta para Pombal...

Recordo há muitos anos ter visto um programa de língua portuguesa da Dra Edite Estrela a dissecar a origem do nome " Ansião" alvitrou vinha do latim Ansianum o resto já não me recordo bem, para agora o Prof Hermano Saraiva vir dizer que o nome é de origem germânica...De facto a região foi pertença do Mosteiro de Sta Cruz de Coimbra onde teve a herdade de Ansian que mandou povoar por 30 povoadores e suas famílias com povoadores da Galiza , povo franco, hebreus e judeus cristianizados ainda existe descendência cruzada com mouros e berberes .

A doação do espaço denominado Mata Municipal no coração da vila de Ansião, pela familia Veiga. Embora ficasse na memoria o nome do Dr. Adriano Rego, que foi presidente da camara nos anos 40, do séc. XX. Sendo de Chão de Couce, em Ansião os bens eram da esposa, e depois de viuvo casou com a cunhada , elas é que tinham bens recebidos da herança Veiga. Não é por acaso que a mata, na altura sem estradas, ter sido doada, a condão da familia ficar glorificada na memoria do povo abafando o nefasto do passado, do sogro o Dr. Domigos Botelho de Queiroz. Arrebanhou a  quinta da Mesericordia da vila ao Bonfim, com ajuda do Visconde de Santiago ad Guarda, então administrador do concelho, como da propriedade ao Fundo da Rua , onde vivia a familia, aforada  a um Veiga vindo de Góis. Nos finais do sec.XIX, precipita-se a extinção de muita Misericordia, a de Ansião,  mal gerida , na pratica nunca foi extinta a sua função assistencial pela continuidade do hospital. Precepita dizer,  sem rei nem roque, os foreiros arrebanharam para seu nome os bens aforados; casas e terrenos. E sendo devedores da coisa publica, que devia ser por  todos respeitado, deixando na penuria a Mesericordia de Ansião, foi a doação da mata, uma bondade ao povo, pela pratica desabonatoria no passado, que deu grande vantagem à familia e, nas decadas seguintes a vendas de lotes ,  o que se extraia das entrelinhas.

O ilustre Prof Hermano Saraiva falou das escavações romanas e da descoberta dos magníficos painéis de mosaicos cuja extensão, os maiores da Península, e do que fora uma das casas do Conde Castelo Melhor, mais tarde reaproveitada no espaço, enquadrada com a torre. 
Deprimente, não culpa dele, mas de ouvir a verdade nua e crua ... "bom, o espaço era de particulares, foi comprado pela Câmara "  digo eu, supostamente se endividou até ao tutano, para hoje ser o único monumento nacional no concelho, menos mal, só por isso valeu a pena. Mas digo eu, o proprietário deveria ter o orgulho de o ter doado à sua terra porque em abono da verdade nunca dele usufruiu em rigor, entaipado, o que foi bom, falo das janelas e portas ao estilo manuelino atulhadas de pedras soltas deixando escapar ao olhar mais curioso o efeito da pedra trabalhada a lembrar lábios carnudos, fatalmente o que recordo de infância, na frente já no meu tempo havia uma taberna e mercearia separadas, e entre elas ao fundo do pátio se antevia o que restava do espólio monumental , com a torre cheia de ervas a crescer por todas as frestas e ainda uma figueira a rematar à laia de pouca história não dizer ali foi um paço com brasão dos  Condes Vasconcelos Ribeiros de Sousa e Prado de 1544, vendido ou perdido depois de 1955, pois nesta data fotografado por Gustavo Sequeira.

Como não apreciei o facto do Prof tivesse falado do " Santiago", sem raiz histórica  ao nome do Lugar. A origem do topónimo Santiago ( Guarda ) advêm da Quintã da Guarda referida na centúria de 400 e da sua Feira da Mouta Santa . Antes teve  nome árabe  Almoçam ou parecido (?). A quintã da Guarda veio a juntar o nome Santiago, alusivo ao apóstolo cuja peregrinação do seu Caminho para  Santiago de Compostela, seguia para sul por Ansião, Garreaza, Empiados, Casal Soeiro, Venda do Negro etc.

Continuando a falar o orador seguiu para a Torre Vale Todos, na sua teoria seria uma torre de vigia como haveriam outras que no tempo se perderam , hoje nem vestígios há da sua existência...mostrou as Imagens antigas da igreja, a mais importante da escola de Coimbra, de João de Ruão, e uma Imagem do Santíssimo do séc XV.Não mostrou mais nada porque se tinha levantado uma imensa névoa, acabando o programa no posto de turismo, a mostrar o queijo do Rabaçal  e a falar do  aferventado...
O que ficou por dizer ? Nada falou de Dom Luís de Menezes o Senhor de Ansião, onde foi o seu solar, hoje os Paços do Concelho, ampliado em 1937, quando sofreu um incêndio.Não falou da Igreja da Misericórdia sobretudo do vestígio no tardoz da sua porta gótica, e do túmulo que ali jaz que se encontra o letreiro fracturado de um capelão de Gois. Nem da Igreja Matriz. Imperdoável foi mesmo não ter ido ao Avelar mostrar a sua Igreja, a rivalizar a beleza dos dourados com a Igreja da Torre de Vale de Todos e da Aguda, tão pouco falou do forno da Nossa Senhora da Guia, da tradição do Bodo aos pobres instaurada pela Rainha Santa Isabel e na região centro tão enraizada em  Soure, Abiul, Pombal, Ansião, Aguda, Tomar. Como da indústria têxtil no Avelar trazida por galegos judeus. Tão pouco falou da Igreja de Chão de Couce e do seu retábulo pintado pelo Mestre Malhoa  durante 50 anos viveu sazonalmente em Figueiró dos Vinhos, com a mãe da Beatriz Costa onde veio a conhecer um brigadeiro amante do teatro que lhe fez despertar essa arte maior, trazendo-a para Lisboa onde acabou por abraçar a vida artística. O Mestre Malhoa  muito amigo da família da Quinta de Cima  passava o mês de Setembro em Chão de Couce, ainda hoje mantêm o seu quarto e contam-se histórias recheadas de humor sarcástico, quando num faustoso repasto se consolava com uma perna de leitão assado esta lhe escapou para a carpete, sorrateiramente a levanta com o sapato e a esconde...O programa televisivo tem uma duração pequena, de fato não pode tudo ser abordado.
Mas também é verdade que poderia ter uma visão diferente, já sei que o dia não estava bom para a filmagem mas convenhamos, quando estava ao pé da Ponte da Cal podia ter dito, olhem, aqui corre o rio Nabão para uma maioria do público ainda o fatal desconhecimento, há gente que acha que nasce no Agroal, outros em Tomar, mas de fato nasce num grande algara entre o Bate Água e a serra da Ameixieira,  rebentando em dois olhos d'água, assim referidos nas memorias paroquiais . Nos anos 60 do séc XX, esteve por cá uma equipa de Guimaraes que fez a cimento um pequeno poço onde rebenta o Nabão quando a cota do algar alcança o maximo ficando a chamada eira que era onde rebentava  atulhada de pedras. O outro poço de argila acima da estrada foi usado para captação de água para abasteciemento publico. 
Como não mencionou a casa que defronte da Ponte da Cal, que fora do Dr Vítor Duarte Faveiro, homem da sua geração que foi Diretor das Contribuições e Impostos no tempo de Salazar o mentor do nº de contribuinte.Nem tão pouco falou do considerado mais ilustre  ansianense Pascoal José de Melo Freire dos Reis, com  nome de Rua em Lisboa e em Ansião, faltando-lhe o apelido "Reis" e por isso a falta de ligação dos seus descendentes por desconhecimento. Aos 19 anos foi o juridisconsulto decisivo no julgamento dos Távoras, bateu o martelo na terrível sentença para mim armadilhada pelo Marquês de Pombal, seja por isso que em Ansião nunca lhe foi erigida nenhuma estátua , em terra de pedra e de canteiros. Para mim de longe o mayor Ilustre ansianense é o Conselheiro, o Padre António José da Silva pela obra que deixou a Ansião, a institucionalização da Comarca, e os seus limites actuais.Admirei-me do Prof  não ter ido à Constantina, o seu povo é vaidoso com a sua capela de 1623, alpendrada. Na Fonte Santa foram encontrados vestígios da pré história descobertos em 1786: duas sepulturas e facas em sílex e,  a anta que o Padre Coutinho identificou? E os machados de pedra do Neolítico descobertos na Gramatinha , onde estão?
Ficou por abordar o episódio do campo da célebre Batalha de Ourique, celebrizada em Ourique, no Alentejo, que noutro programa aventou ter sido entre outros sitios: Chã de Ourique no Cartaxo e Campo de Ourique em Lisboa, apontou a várzea entre a Atenha, Aljazede e Chão de Ourique (Penela). 
O Professor não falou no Alvorge, vila com tanto património e capelinha datada de 15.., recentemente recuperada a fonte e tanque de chafurdo romano na Ladeia junto da estrada romana/ medieval vinda da Fonte Coberta onde me recordo há mais de 40 anos lá ter ido num dia da festa de táxi, descemos o costado com o meu pai para nos mostrar um solar já abandonado com brasão dos Carneiro Figueiredo da Guerra. Anos mais tarde fui conhecer a nascente da Ribeira de Alquelamouque, é visível onde rebenta a água, as lajes de pedra em forma de triângulo invertido a evidenciar origem romana/visigótica, embora entaipada de pedras  com canal de água desviado onde ainda distingui o que resta das antigas casas de pedra pela ribanceira acima entremeadas pelos rebanhos, cujo leite de mistura de cabra e ovelha, dita um queijo de paladar delicioso atribuído à erva de Sta Maria, assim chamado o tomilho por estas redondezas em todo o maciço de Sicó. Ao cimo do outeiro existe uma capelinha de 16.. com alpendre pequeno e pedras de avental no muro, muitas casas restauradas à traça antiga de gente abastada que vive na cidade , e aqui tem o seu refúgio de fim de semana. O Prof falou que Ansião não era terra de palacetes nem quintas, era uma terra pobre que fora dada às pessoas para nela viverem, daí o número exorbitante de aldeias julgo 180 (?) em todo o concelho. Mas afinal existem casas importantes, ora vejamos o rol: Paço do Conde Castelo Melhor,  a quinta da Guarda e a capela da Mouta Santa.Ruínas do paço jesuíta na Granja em Santiago, junto à Estradinha havia um grande casario da família do marido da filha do Sr. José da Silva do Fundo da Rua, da D. Palmira. No Alvorge a quinta da família do Dr Rui Lopes que fundou o colégio Nuno Alvares em Tomar onde o Professor estudou e o meu pai, o solar dos Carneiro Figueiredo da Guerra, a quinta do Sobral, a Quinta de Maceda. Netos, uma casa solarenga de 17...no Maxial a quinta de ...na vila a  quinta de Além da Ponte e o seu Moinho com capela de 1697, o Morgadio do padre António dos Santos Coutinho e outro no Moinho das Moutas, e a ruína de uma casa de traça judaica, a quinta de S. Lourenço, conhecida por quinat do Dr. Faria, a quinta do Bairro, a Quinta das Lagoas, o Morgadio da Sarzedela, quintas na Lagarteira com solares da nobreza rural com varandas de grade em pedra, o Couto do Bispado da Torre,  o solar de 1852 onde viveu o Dr Domingos Botelho de Queiroz, o solar na vila dos Soares Barbosa, onde viveu o Sr. Zé Piloto e a família da D. Alda Gaspar, o solar mandado construir pelo Pascoal dos Reis, hoje parte do Clube dos Caçadores e da familia Mouco... e as que se perdeu o seu nome no tempo.
Na vila de Ansião temos ainda a quinta com casa solarenga forrada a azulejo Viuva Lamego dos finais do séc. XIX comprada pelo Sr. Moisés por detrás da biblioteca. Em Chão de Couce a famosa Quinta de Cima dos primórdios da nacionalidade da família de  D. Leonor Teles onde esteve com o rei D. Fernando, e mais tarde se refugiou com o conde Andeiro, o seu amante, a Quinta de Baixo, a Quinta da Rosa, a Quinta da Mouta de Bela e,...No Avelar, na Rascoia a Quinta de Sto Amaro de 17..inscrição na frontaria da capela.Peço desculpa, sei que existem mais, mas não fiz nenhum estudo prévio, tudo é de improviso neste roteiro a falar de estória com história!
Lembrei-me dos moinhos de vento, os mais recentes, em  madeira e rodam consoante o vento. Herança trazida na minha opinião pelos judeus na sua Diáspora vindos do médio oriente trazendo a herança do Afeganistão. Aqui  aportados vindos do litoral da Galiza em deslocação à Gandara e daqui para o Maciço de Sicó, considerados exemplares únicos no mundo. Como distingui  em Porto Santo, as rodas de pedra deslizam sobres círculos chamados eiras, também de pedra. Tradicional moinho com dois lados iguais e um diferente, rodam à força de um só homem. Já os moinhos de água, mais antigos, já existiam em 1359, por existir uma contenda arquivada na Torre do Tombo que os testemunha, julgo apenas existem um ou dois exemplares a laborar, de particulares, os demais que vou compilando estão em ruina e sem plano a catalogação. Os moinhos de vento foram repostos na serra da Portela , Outeiro, Melriça. Na Costa ao Escampado também existiram dois munhos de vento , descobri um dos morros há muitos anos na extrema de uma propriedade minha e da minha irmã com vista deslumbrante sobre a vila de Ansião, como noutros locais resta a toponomia.
Da gastronomia ficou por dizer além do aferventado, o requentado que a minha avó Maria da Luz Ferreira dizia fertungado. A Cachola que a minha TITI fazia muitíssimo bem, o cabrito assado no forno acompanhado com grelos, a chanfana de cabra velha, o rechelo também conhecido por borrego, o verde, a lebre guisada, a galinha na púcara com couves, galo de cabidela, leitão assado, perdiz de escabeche, bacalhau com colorau.....isto e muito mais era a cozinha da minha avó Maria da Luz Ferreira na aldeia de Mouta Redonda freguesia de Pousaflores. Era hábito a família fazer grandes piqueniques na serra da Nexebra quando a mesma era despida de eucaliptos coberta de flores salpicada por castanheiros e pinheiros nórdicos nos outeiros e na Quinta de Cima. Sempre a subir os outeiros de cabazes à cabeça as mulheres chamadas de criadas resmungavam pelas costeiras acima, os homens esses conversavam e fumavam - o Dom João, o médico de Chão de Couce, era um dos convidados além do padre Melo.
Fica sempre algo por dizer, por mim não terminava nunca a falar de Ansião e do seu concelho, nunca me basta, porque gosto de Ansião, apesar de não ser a minha terra de nascença, é com certeza a minha terra de adopção eleita pelo meu coração.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Dor da AnaC com os enfeites na testa - os "cornos"

Sinto-me radiante...no entanto as insónias atormentaram-me o sono.
Aprovada no exame  de Mediação de Seguros com 88%, pior 4 colegas chumbaram.
A tristeza foi tal... o combinado jantar debalde não aconteceu. Não havia carisma.
Senti uma mágoa com as Anas...tão novinhas!
A mais velha, mal chegou desabafou comigo o problema grave que a tinha acometido no último dia de formação. Era o que suspeitava...muito sofrida, cheia de dúvidas, insegura, terrivelmente mergulhada em ciúmes! 
Depois da loucura de "roubar o marido" com 17 anos, ainda menor da casa dos pais, passados 7 anos, sentiu na pele a dor fria da traição... mulher adúltera quarentona, mãe de 4 filhos...tamanha tortura de se sentir trocada, do despeito, do desengano...desenganada, enraivecida, tirou férias, isolou-se na Castanheira, não estudou.Sei que sofrer de amor é violento, desgastante!
Não se conforma...pergunta-se o porquê?  e diz em tom lacónico "não lhe falta nada em casa, até têm demais..".
Mote para me fazer recordar de outro desabafo ouvido há anos da boca de um homem que utilizou a mesma frase a propósito de a mulher o ter enganado com o seu melhor amigo...
O que deixa a pensar qualquer um...não vasta viver juntos, exercitar o sexo em infinitas variantes, é preciso dar espaço, dialogar, manter a chama acesa, seduzir todos os dias, encantar com um simples olhar, toque, mordicar de orelha, acariciar os cabelos, deleitar-se num segundo de prazer...aguçar o apetite para mais tarde degustar.
O segredo em manter um homem fiel...
Incrivelmente ser má, e sorrir mel...
Ser atrevida e mui recatada,companheira e atenta aos sinais
Amiga pragmática, amante e mui descarada
Mulher, esposa, mãe...
Adorável, sentir em todos os momentos, aquele...como o da primeira vez!
Capaz de sentir essa vibração é surreal!
Mantê-la é divinal...

De regresso, triste, amargurada, queria tanto que tivessem passado. A princesa, eternamente doce, quicá no papel de rivalizar com a "Gioconda" o modelo famoso de Miguel Ângelo, adorável, sedutora, enigmática, formas a perder de vista, sinais que descem,invadem o decote, mergulham...linda a princesa!Não merecia! Só desculpável se estiver apaixonada, e não teve tempo de estudar.Mas dia 20, tem de ser!
O Jorge, furioso, descartava-se, visivelmente chateado.
O João morreu na "praia", por 2 míseros pontos, alterou uma resposta que tinha certa.
Aberta desta feita mais uma nova etapa nesta minha vida desocupada.
Agora tenho de arrancar, começar pelo início, apesar de ir ouvir muitos "nãos"...nesta vida fecham-se portas, outras se abrem - estar alerta é preciso, não deixar escapar oportunidades!Tento -, quero conseguir, o tempo o dirá. Não me falta vontade quanto mais não seja para não desencantar os novos amigos que entretanto ganhei e que apostam em mim - têm sido determinantes na atitude, força, no querer...por eles vale a pena não esmorecer, tão pouco desmerecer tamanha amizade...
Isso jamais!

Olhar o mar em Matosinhos ...

Na 2ª semana de Janeiro de 2006 tive o privilégio de desfrutar Matosinhos durante 15 dias em formação curricular.Fiquei alojada no hotel Amadeus no 6º piso mesmo em frente a uma das principais rotundas da cidade. Com vista magnífica sobre o mar, as ondas a estatelarem-se nas rochas, cenário deslumbrante quando não havia nevoeiro. O andante a passar no meio da rotunda e da fileira de camiões de combustível da Teal de Maças de D. Maria, ali tão perto...
Matosinhos é uma cidade moderna, muito limpa, arrumada, grandes avenidas, edifícios com design elegante duma nova arquitectura que está a emergir com muita massa em vidro e inox, e uma frente de mar a perder de vista desde o Castelo do Queijo até ao Porto de Leça de Palmeira.Depois do jantar, fui várias vezes em breve caminhada junto à imensa frente de mar, o prazer de sentir as ondas a tocar de mansinho a areia, parecia que estava em Sesimbra, se não tivesse a oportunidade de apreciar tão rara beleza talvez não acreditasse que ali tal fosse possível, imagem soberba, espectacular.Em frente ao mar do outro lado da avenida sucedem-se as casas de grelhados a mais famosa o 427, nº da porta...onde se pode ver muitas vezes o Pinto da Costa, cafés modernos tudo à mistura com enormes armazéns típicos do início do século XX com grandes portões agora revitalizados em discotecas, restaurantes, tabernas de degustação de vinhos, apresentam na frontaria grandes lonas a anunciar o repasto, nesta última um Lamborgoni imensamente amarelo à porta.Jantei todos os dias em locais diferentes, no Mocho Sentado com música ao vivo, batuque brasuca, os criados vestidos a rigor, um de meia-idade parecia o detective Poirrot com enormes sobrancelhas pretas e olhar irrequieto num jeito de o igualizar, até fazia impressão, também, nessa noite quem lá estava era o Diego jogador do Porto, acabou por ser dispensado do clube alguns tempos depois, festejava o seu aniversário, recebeu do barman um enorme ramo de rosas vermelhas e beijaram-se afectuosamente na face.Porém na mesma semana ainda o havia de encontrar novamente com amigos e algumas crianças na pizaria italiana, o espaço muito bem decorado. Deleitava-se com uma bela e enorme piza. Os empregados eram uma brasa tipo macho latino; morenos, altos, musculados, barba rija, mui gostosos de olhar fulminante, um delírio de homens...
Bem... falava do jantar magnifico no Mocho Sentado, do vinho, autêntico néctar dos deuses, aperitivos, carne, saladas, sobremesa...bom, o ambiente ... os casacos ficam logo à entrada em cabides altos, ambiente dos melhores até hoje onde já entrei, doce vida, só para quem pode...na praça junto à Câmara comi numa marisqueira sentada ao balcão uma belíssima sopa de peixe, faltavam os coentros, o empregado de imediato se esgueirou e numa rajada os trouxe, que cheirinho. Numa outra noite fui de andante até Sta Catarina mesmo no coração do Porto jantar no mais famoso café o Magestic.....comi uma soberba francesinha, o espaço antigo e um pouco degradado sobretudo nos espelhos e couros, ambiente tipo anos 20 com mesinhas altas de madeira, guardanapos grandes de algodão, ao fundo o piano lindo preto de calda curta.Há, já me esquecia , num desses grandes armazéns, havia um restaurante fino a funcionar no r/c e depois de subir um lanço de escadas o espaço abria-se amplo, com 20 pratos confeccionados à escolha, tentei aproveitar e comer o máximo, repeti, repeti mas debalde já não ...ambiente mui acolhedor. No almoço de despedida fomos à discoteca que também tem a vertente de self service, logo na entrada deparámos com um grande sofá a fazer lembrar o programa do Herman no formato de boca com lábios tipo a mulher do Brad Pitt...,“lábios em amarelo”, um espanto!Ao longo da escadaria estendiam-se grandes tapeçarias em jeito de imitação de quadros, muito encantador. Já no 1º andar as escadas eram insinuantes e atrevidas a abrirem-se para um espaço novo, escolhi à vontade,o bolo de chocolate estava uma delícia. No último dia fomos ao Assador à entrada do Porto, na zona industrial, o espaço muito agradável, aliás vários espaços à escolha do cliente; recatado, snob e o dito normal, com palco para se desfrutar música ao vivo, tudo é grelhado no momento, aderimos à picanha recheada de frutas exóticas, o vinho uma pomada e para remate a jeito de despedida bebeu-se uma garrafa de uísque James Marti'ns que à laia de piada trouxe de recordação, vazia pois claro, bem ,ainda trazia um pinguito no fundo que o Luís Alberto saboreou...risos. Houve dias que comia mesmo por ali numa pastelaria que servia mini-pratos, comi sobretudo francesinha e bitoque entalado em fatias de pão saloio com alface. Depois do jantar fiz grandes caminhadas, tipo "brigada do passeio", cruzava-me com algumas pessoas tipo rol de vizinhos a caminhar a passo acelerado em alegre cavaqueira , na tentativa de queima de calorias claro está. Senti as noites, apesar de ser Janeiro não eram frias, acolhedoras até para a estação, de manhã quase que não era preciso grandes agasalhos pareceu-me o frio mais seco.Numa dessas noites passeei ao longo do porto de Leça todo vedado não deu para desfrutar a beleza da foz do rio que lhe deu o nome pareceu-me no entanto bonito, subi até ao Senhor de Matosinhos, igreja enorme lá no alto a desfrutar o mar e o rio a banhar-lhe os pés, o espaço envolvente verdejante e amplo com alguns bares é confortante e eis que senão já estava outra vez na zona velha no começo da rua que deve ter quase 2 kms Conde .... e termina no hotel,de um lado e do outro vislumbram-se algum casario tipo solarres, outros pobretes mais remediados e capelas, tudo bordado a granito enegrecido pelo tempo com o fulgor do brilho translucedente dos cristais de quartzo, tão intensos a imitar diamantes na penumbra da noite. Foram 15 dias inexplicáveis de prazer de reconhecer a cidade do Porto e toda a extensa zona ribeirinha no seu mais alto esplendor até Leça da Palmeira, valeu a pena, quero voltar com a família.O tempo ajudou não choveu, o sol foi assaz resplandecente a tocar o mar parecia primavera, foi um deleite conhecer assim Matosinhos.
Naturalmente algo ficou por dizer por esquecimento talvez mas o interessante é voltar e redescobrir e assim valorizar num cenário diferente e mais agradável.Até sempre Matosinhos, de repente pareceu-se uma cidade espanhola, imaginem, a sobriedade dos edifícios, muita tijoleira... vidraria e inoxs, o modernismo num contrate quase perfeito com o passado, nunca tinha visto por metro quadrado tantas máquinas voadoras de alto calibre como nesta cidade, Ferraris azul e vermelho, Lamborgini, Mercedes último modelo assim com BMW,.....e tantos outros....imaginem até existe uma enorme loja de gaveto só com artigos para comandantes de aeronaves e afins, nunca tinha visto um espaço tão grande recheado de bonés, fardas, acessórios e um não sem fim de tudo.....crachás, insígnias tudo muito amarelo a reluzir na frontaria da grande porta com degrau redondo.
Bem Hajam os que vivem e podem desfrutar desta terra , um cumprimento especial para o sapateiro na correnteza do hotel que muito amavelmente me recolocou novas capas nas botas, pois o piso é todo em calçada granítica, mas os pés são tortos e as capas escafuderam-se, o costume, o sapateiro é que foi amável, aguardei no momento e foi muito barato.
Gostei de ter dormido em Matosinhos.
Não me lembro se por lá sonhei!

Odemira e o refúgio no Brejão da Amália Rodrigues

Agosto de 2007 de férias em Odemira na redescoberta do sudoeste alentejano, a famosa Costa Vicentina! 
Soberba a vastidão  ao jus de fajãs a entrar pelo  mar a perder de vista, com praias encantadoras para bons banhos, de areia mui fina, bom sol e para almoço peixe grelhado, saboroso e fresco.Desde Odeceixe, Zambujeira, Almograve, Milfontes e outras mais pequenas Carvalhal, Azenha do Mar, Brejão... 
Logo de manhãzinha rumei à Zambujeira atalhei por Montelavado, em passeio a pé no gosto a descobrir a nova arquitectura do casario enquadrada na traça tradicional pese aberrações salvando-se muitas de cunho de bom gosto que teimaram preservar.
No turismo comprei uma pequena carpete redonda em trapologia, bonita decora uma das minhas casas.
De regresso tomámos a estrada para S. Teotónio rumo ao interior, em aventura atalhei caminho, por estrada em terra batida. Coisas e gostos só para quem gosta de grandes desafios, de conhecer contrastes, belezas perdidas em fortes contrastes em aridez e pobreza em enorme isolamento, onde não se vê viva'alma. 
Sabóia,  terra com a doçura do nome aberto, entre confins de serranias e montes abandonados,  aqui chega a  energia nas raras casas habitadas com painéis solares. Chegados à albufeira de Santa Clara a Velha,  já  se chamou Salazar, com  a pousada  sita ao cimo de um pequeno monte rodeada de água a lembrar península, e muito arvoredo onde vivi em plenitude em família, em 2003, na caminhada à aldeia que lhe dá a graça do nome com bons restaurantes, um minúsculo mercado com quatro bancas, uma loja de artesanato e um antigo poço com uma lenda, empestado com a invasão de lagostins...uma praga!
Quis o destino para emprego da minha filha na escola de Odemira que aqui voltasse em 2007 . A minha 3 ª vez com mais tempo para percorrer o concelho. O passeio torna-se doce com a companhia da linha de caminho de ferro de uma via, a dar tanta tranquilidade, contrates e cores em aromas silvestres, torna a paisagem surreal, em idílico excelso cenário a fazer lembrar Rembrandt com destino programado em Luzianes Gare. Na Junta de Freguesia  em edifício de sobrado apreciei no r/c a obra escultórica do seu balcão em trabalho em madeira, uma autêntica obra de escultor. Disseram-me que o escultor, um amador e conterrâneo, mas alcoólico. Pessoas com tanto talento mereciam aposta de recuperação, por serem  criativas e com tanto valor para se enaltecer e deixar aos vindouros. As pessoas são muito hospitaleiras, cheias de garra e unidas. Apreciei esse perfil nas longas conversas no meio tempo das entrevistas a que tinham vindo para as Novas Oportunidades. Admirável, reconhecer naquele fim de mundo onde o " Diabo perdeu as Botas" encontrar pessoas com idades maduras, cheios de vontade para aprender, saber mais, no reconhecimento maior de não deixar perder oportunidades governativas. Sim, porque gente como esta não há, sentiram na pele a ditadura, a miséria e a fome. Nunca nesta minha vida tinha travado conhecimento com gente de tão alto gabarito, na forma em agarrar oportunidades em querer e exercer vontades, não perder o "comboio" afinal passa ao lado o da Refer , falo sentido figurado, o leitor perceberá de que comboio falo, o do progresso!
Chegavam homens em tractores, de carro e ainda a pé. Alguns vinham directamente dos trabalhos agrícolas, vestidos de botas, despenteados, suados, que importava? Importante era não faltar à hora da entrevista. E não faltou nenhum! Bem hajam. Percebi com todos os que falei, e foram muitos, homens e mulheres - os achei melhores do que eu, que nada fazia, mulher vazia , descrédula neles ganhei a força e coragem para lutar e saber estar nesta vida ainda com oportunidades em as agarrar! 
A eles devo a força para mudar. Mudei. Mentalizei-me na viagem de regresso, no expresso, entrosei o estigma e dei corda aos sapatos para me  inscrever nas Novas Oportunidades, afinal só tinha o 9º ano.Por opção frequentei um curso EFA, com canudo à equivalência do 12º ano graças à conta da força daquelas gentes que conheci.Bem Hajam Povo de Lusianes Gare!
O regresso de Luzianes Gare a Odemira de noite foi mais complicado... 230 curvas.Sem luz eléctrica, valetas cheias de erva alta, aqui e ali irrompiam à nossa frente raposas, ginetos, gatos... cheias de medo, um horror a tamanha aventura a percorrer a estrada pela serra. Concelho o maior da Europa, muito rico e tão ímpar com simbiose entre a mística do litoral e a aridez da serrania interior Deslumbrante em tantas tonalidades.Lamento de momento não me recordar da última aldeia antes de chegar a Odemira onde parei para travar conhecimento com o cesteiro Sr Pombareiro, homem na casa de mais de 80 anos, um deslumbre de pessoa a quem encomendei uma cesta grande com tampa, arranjei uns clientes, ofereceu-me uma cestinha feita em cortiça , mais tarde pedi-lhe para me fazer uma tampa para o meu "cortiço" assim chamado às colmeias no centro do país na Beira Litoral, decora a minha casa rural, enriquecido que ficou com a tampa à antiga com espetos de estevas.Ofereceu-ma. Dei-lhe dois beijos, ficou fascinado com a minha alegria e espontaneidade. No turismo na vila comprei um cesto grande ovalado com pequena tampa, decora a minha 2ª casa para as minhas bengalas que comecei a coleccionar há coisa de 30 anos.
O parque municipal na Boavista dos Pinheiros, reporta à frescura de Sintra.Grande a variedade floral de alegrias do lar, a maior que jamais vira. Todos os espaços muito emblemáticos com recantos muito acolhedores onde não falta o riacho a correr apressado por entre calhaus rolados. Há imensas mesas, até para grandes grupos e assadores para os grelhados também não faltam. Visitei o espaço várias vezes, fresco, romântico, simplesmente mui agradável. Um dia levei um piquenique, arroz de coelho.Lembro que nos soube muito bem, depois fomos tomar o café e o bagacinho no parque onde a senhora nos proporcionou uma visita à  típica cozinha alentejana, onde não faltavam objectos que fazem parte do meu imaginário, foi gratificante. Um senão o difícil estacionamento, perguntei aos "Almeidas" do parque com  resposta na ponta da língua "a câmara está em negociações com a quinta adjacente".
Brejão, a margarida  em  ferro na estrada principal a forma de descobrir onde se corta para o refúgio da Diva é dada por uma margarida em ferro- azul e amarela, em tamanho grande cravada no chão no lado direito. Passa-se por terrenos com plantio de morangos, e ao fundo pouco estacionamento em terra batida ao longo dos muros da propriedade da Diva, ao meio o portão banal, o mais simples, no contraste de grandes solares e quintas que os ostentavam grandes, pesados, elaborados com requinte em ferro forjado de formas delicadas que a mim me fazem sempre parar para olhar. 
Entrada do refugio de Amália Rodrigues
O extremo a poente da propriedade da Diva confina com o mar e tem na escarpa escadaria, em ziguezague, que dá acesso à praia outrora privativa. Em grande degradação, sobretudo junto ao mar. O acesso que fiz à praia feito à socapa por um escuso carreiro, na extrema do terreno com um ribeiro que nos acompanha até ao mar, sinuoso, que tem de se ter cuidado, espreitam alguns perigos de pedras, ardósia, canas, mimosas, há que ter cuidado, mas vale a pena sentir este lugar que reporta a Sintra. 
A escadaria de acesso à praia do Brejão
A propriedade é enorme com frente para o oceano. Apenas a percorri a medo ao longo do carreiro a sul onde se encontra a construção primitiva do monte, e a nascente existe a parte nova que a Diva mandou construir em cimento armado, moderna anos 60, com piscina, também com sinais de evidente degradação onde vivem os "caseiros", gente sem qualquer formação e escrúpulos, dito pelos miúdos filhos do casal, que encontrei noutro dia sentados na falésia junto à foz do riacho a tomar conta do rebanho, para espanto meu, reparei que se regulam pelo sol, para saber as horas da merenda. Travámos conversa, putos giros, inocentes, disserem que os pais quando encontram turistas a tirar fotos os obrigam a entregar os rolos, sendo corridos a pontapé. De facto existe uma placa com a menção " Propriedade privada" muito velha meia desfeita...
A parte nova construída convive com a antiga tradicional do monte, entre elas largos passeios em cimento onde adormece uma carroça pintada de cores berrantes.Entrei pela vedação em rede esburacada junto à casa do lavadouro onde vi carpetes, camas velhas de ferro , espelho de fazer a barba ainda em papel prata, corroído pelo tempo, e moldura comida pelo caruncho, tudo jazia em apodrecimento, em cima das pedras de lavar...ao abandono, à mão de semear em estado desprezível, velho, estragado, um caos a perder-se a olhos vistos...
Enquadrado em paisagem de tirar a respiração com praia encravada no meio de duas arribas, que a torna acolhedora, única, neste paraíso místico a contracenar com a escadaria e canteiros semi desfeitos com as intempéries.
A casa tradicional alentejana, baixinha pintada de branco, com rebordos a azul a lembrar o mar, decorada com margaridas a que chamam malquereres pintados pela Diva. Eu por saber da sua amizade com a amiga Maluda, e esta gostar de cores fortes, pensei no imediato que teriam sido por ela pontadas.
Apreciei a casota do cão, o poço tapado tipo mina, o lavadouro e o muro da entrada, em todos o traço de pequenas e grandes margaridas de todas as cores.

Em miúda recordo a capa da revista "O Século" defronte da piscina a Diva vestia um traje árabe castanho comprido rasgado de lado e debruado a rendas. Ir ao local tantos anos depois, sentir o mesmo perfume que a Diva tantas vezes e na véspera de morrer saboreou, é sentir uma exaltação maior num Apocalipse sem igual.
Pá de madeira que jaz pendurada na minha cozinha velha em madeira afeiçoada em jeito de pá, quem sabe se seria da azenha na fraga a sul da casa da Diva.
Veja-se como escrevi Brejão...Não resisti a trazê-la comigo estava pendurada num ramo de uma pequena figueira à minha espera possivelmente teria servido para encher as sacas de farinha na azenha em ruínas, destelhada , com Mós prostradas pelo chão, entre a falésia e o riacho que comanda o carreiro até ao mar.
Voltei novamente ao local, não resisti a fazer uma necessidade fisiológica no mesmo lugar onde a Diva se passeou...coisa de vontades e reparei num monte de lixos de onde retirei uma tela de platex velhíssima que restaurei, ganhou com a moldura ao estilo de outra que vira no CCB.
Adorei Odemira e as suas gentes. Esta é a verdade. 

Passeio de comboio a vapor da Régua ao Tua

Um dos meus sonhos de infância era viajar num comboio a vapor. Decidi presentear a família. Se melhor o pensei melhor o fiz. Na Net descobri o endereço turístico e foi fácil fazer a reserva e transferência electrónica ao que de retoma me foi enviado o Voucher para 4 pessoas.Partimos de Ansião no sábado dia 30 de Setembro 2006, pelas 7,30 tomámos a direcção da IP3 só parámos em Mortágua para beber um café e verter águas, comemos uns folhados que tinha feito de véspera para o farnel.De seguida fomos revisitar Tondela, está em franco crescimento, muita habitação nova e infra-estruturas de grandes superfícies. Mal consegui localizar o Solar (restaurante onde há coisa de 25 anos tinha saboreado o melhor caldo verde nesta vida, apesar do que a minha mãe faz também ser muito bom, ali junto à igreja com a sua torre alta do inicio do séc XX.
Convenci o meu marido a rumar até às termas de S. Pedro do Sul. Quase que não reconhecia o local, tantas foram as obras. Deixei de ver o balneário romano. Banhei as mãos nas águas sulfurosas e quentes. 
De regresso à estrada e com receio de nos podermos atrasar só voltámos a parar na Régua. Reconheci a velha estação ferroviária e os vastos armazéns vinháticos em madeira a cair de velhos, na linha fazia-se ouvir o comboio, estava com a fornalha a arder, via-se o fumo saído da chaminé a ondular o horizonte, muito escuro.....do outro lado o rio imenso a espraiar-se num sorriso aberto e mesmo junto a nós o frenesim do vaivém das vindimas com as carrinhas a abarrotar de uvas a luzir no inox dos tanques a caminho dos lagares. Já em Godim por causa dum casamento entrámos numa estrada tão estreita como nunca vi, sempre a subir e não havia jeito de o piso melhorar nem sentido de saída, decidimos inverter a marcha em boa hora o fizemos, já quase à entrada vinha um táxi se tivesse sido um pouco mais à frente não sei como sairíamos daquela enrascada, agora a situação criada quase dá para sorrir, mas não para repetir.Naquela região, o nosso olhar só alcança beleza, vinhedos e mais vinhedos, casas solarengas com os lagares em laboração e o cheiro, o cheiro a mosto a vinho novo...nada de encontrar um parque de merendas para degustar o piquenique que levava e já se fazia horas de almoçar foi mesmo à beira da estrada numa urbanização de vivendas no muro largo de cimento armado que suporta o declive, serviu de mesa e como pano de fundo o rio como paisagem, atrás de nós o corropio da azáfama das vindimas, todos nos endereçavam cumprimentos, estávamos no norte, as pessoas são mais hospitaleiras.Depois de reconfortarmos o estômago fomos estacionar o carro e tomar um címbalo no café da estação.Visitámos o comboio estava a máquina a ser oleada com grandes regadores com bico fino e muito comprido, o operador de manutenção disse-nos que a fornalha demorava 4 horas a aquecer, vi pela 1ª vez o carvão verdadeiro utilizado nos comboios e navios de outrora, trouxe uma pequena amostra para a minha colecção de pedras. 
O comboio ia cheio, sentámo-nos nos lugares virados para o rio, muito fumo e muito apito, trim....pim... pim...quase demasiado, mas faz parte do cenário, foi-nos servido a bordo bôla de presunto de Lamego e um cálice de vinho do Porto e água fresquinha esta grátis, apenas tínhamos de comprar o púcaro de alumínio de 1 € para bebermos as vezes que os aguadeiros passavam de garrafão de palha em braços de rótulo branco a dizer ÁGUA.A nossa carruagem era das mais antigas, uma maravilha, para se abrir as janelas tinham correias de couro largas e para se porem os casacos tinham por cima dos bancos suportes em ferro forjado com rede.Todo o passeio foi deslumbrante. Todo o trajecto desfrutado é magnífico, avistam-se nas colinas muitas quintas no meio dos socalcos de vinhedos, exibem garbosamente grandes cartazes publicitários das suas produçoes ao viajante que fica viciado e espontaneamente repete em voz alta, olha ali em cima é a quinta da Ferreirinha, e a do Calém e a do K... da janela nas curvas via-se o deslizar sinuoso do comboio ao longo do rio, a estrada de fumo e barcos de recreio , trocávamos acenos de adeus, do outro lado as infindáveis paredes e barreiras de xisto como companhia e muito respeito.
 
Chegámos ao Pinhão, sítio pitoresco, no rio viam-se muitos barcos. Alguns turistas terminaram ali o seu passeio . Outros tomaram um dos barcos rumo à Régua, antes tomavam aperitivos na House Vintage do Porto. Quanto a nós preferimos apenas fazer o circuito de comboio, seguimos até ao nosso destino o Tua. Desembarcámos para o comboio mudar de linha e reabastecer de água, foram manobras muito bonitas a fazer lembrar os filmes de westerns, nunca antes tínhamos presenciado tal façanha, a fornalha a ser atestada de carvão pelos homens com pás enormes para não se queimarem. As manobras são um momento lúdico a não perder.Os turistas estavam radiantes meteram-se dentro da máquina queriam ver todos os pormenores, logicamente estavam todos farruscas, até nós, as narinas ficaram cheias de fuligem e a nossa roupa também. Durante o percurso da viagem fomos abrilhantados por um grupo de 4 pessoas de um rancho folclórico, fenomenal a miúda da pandeireta era muito bonita e sabia-o.......fogosa e atrevida o raças da moçoila!
Neste compasso de tempo trouxe umas placas de xisto para a minha colecção assim como um bloco redondo de granito típico desta zona.De regresso oferecemos os nossos lugares aos senhores que tinham vindo sentados do lado do xisto, para poderem apreciar o rio, foi um bonito gesto, sei. Pelo meio estabelecemos alegres conversas, lembro o Sr de Arco do Baúlhe que dizia ser o maior produtor de tremoços da região, o homem não se calava estava sempre a meter conversa com as hospedeiras de bordo, deviam ter trazido uns pastelinhos de bacalhau e tremoços , a bôla que nos deram só deu para o furo de um dente, caramba afinal o bilhete custa 8 contitos...

Acabou a viagem de novo chegada à Régua. Despedimos-nos dos companheiros anónimos desta linda viagem. Aproveitámos ainda a luz do dia e demos uma voltinha pela parte histórica de carro e decidimos ir até Viseu onde já chegámos de noite, jantámos no Hilário, tasca mesmo na zona histórica , barato e muito boa confecção, quando saímos estava a chuviscar, decidimos ir para casa e não dormir fora, a chuva no restante percurso foi intempestiva, furiosa, quase não deixava ver o piso mas com a graça de Deus chegámos bem, dormimos toda a noite o cansaço tomou conta de todos...
Valeu o passeio foi inesquecível!
Aconselho a todos vivenciarem tão belos cenários.

Casal do João Galego, fidelizado Pinhal e o Carvalhal em Ansião

O Casal do João Galego 
 
O toponomio  é referencia na transcrição do Engº  Miguel Portela do  Arquivo da Univ. Coimbra, Cartório Notarial de Coimbra, Livro de Notas n.º 2 [1710-1710], do notário Simão da Silva, Dep. V-1ªE-8-4-184, fls. 37- 39.
« em 9 de julho de 1710, foi dito pelo aludido capitão-mor que “em seu nome e de seus sócios Manoel Borges e o dito António Lopez de Siqueira como Perbemdeiros da Casa de Aveiro estava contratado com o dito João Mendes Gago que presente estava para lhe haver de arrendar e dar por arrendamento as rendas da villa de Penella e Reguengo da villa de Ançião e foros da villa de Abiul e tudo o mais pertencente a Casa de Aveiro” (...)mais huma vinha que tem o Barramco tapada sobre si com cazas ahi pegadas, mais huma sarrada com árvores onde chamão o João Galego tapada sobre si, e estas duas propriedades estam no termo da villa de Pouzaflores”.

Um descendente de Pascoal Jose Melo Freire dos Reis o  Nuno Borges dos Reis Costa  construiu a sua vivenda no mesmo local onde a sua avó materna chegou a encontrar fragmentos de alguidares em verde e a minha amiga  Tina Mendes Faveiro e a mãe Florinda, no tempo das pinhas se lembram das ruínas da casa, onde o pai de Pascoal nasceu.

Em 1795 já aparece o topónimo  Casal do Pinhal
Registo de batismo a 24.11.1795 de José , nascido a 15.11,  filho de Fernando Fernandes dos Matos e Mariana Teresa do Escampado da Lagoa, moradores no Casal do Pinhal

O toponimo  Casal Galego, chegou ao século XX, ainda na voz de proprietarios.
Prevaleceu na fidelização o toponimo Pinhal.

O Casal de João Galego, foi morada de casados dos pais de Belchior dos Reis, onde nasceu.
Talvez tenham sido os donos da taberna que ali existiu. Entrou em abandono no inicio do séc. XX, pelo novo corredor da estrada a nascente. Recordo das ruinas,  e do frondoso castanheiro.
Lembro-me em miúda ouvir falar no Casal do Galego no que restava das tábuas do soalho da taberna, a avó dos «Borracheiros» encontrou uma panela com 28 libras em ouro. Em terreno de uma mulher dos lados da Ameixieira, onde hoje o filho mora. Naquele tempo os tesouros escondiam-se em casa. Havia gente que dizia que estes judeus tinham trazido moedas em ouro...
Terrenos foram no passado da Quinta do Bairro, onde hoje ainda resistem alguns de descendentes Reis. 

Corredor romano/medieval e por fim estrada real a sul do Casal Galego
                 

Ti Narciso conhecido pelo "Lavrante"
O conheci com o genro a trabalhar a pedra. 
Memória das lembranças de os ver a partir pedra na eira atrás da casa quando ia à minha fazenda da Barroca no Carvalhal do Bairro de Santo António, com extrema com o ribeiro e o quintal dele. Um dia quando trouxeram uma nova pia para o azeite, dizia-lhe a minha mãe "espero que esta não lhe ponha ranço como a outra...", retorquiu o pobre homem ”tire-lhe a senhora a borra do fundo que mau sabor a pedra não lhe dá”
Enquanto isso, o genro agradecia o gelo que os filhos tinham vindo buscar a nossa casa feito em tabuleiros no congelador que se partia com o martelo para encher a botija redonda que traziam e levavam em corrida para a mãe que tinha sido operada ao estômago…

Casa da Ti Alzira Aureliano
Boa mulher acabou cega, o seria de diabetes(?) na minha primeira vez que senti a cegueira e seus efeitos e tanta aflição me fazia vê-la naquela casa jamais concluída na beira da estrada sem luz, sem enxergar nada. A casa ainda resiste, de encosto à parede norte a roseira de pétalas pálidas, tantas vezes colhi as suas belas rosas de conversa com ela a caminho das Cavadas e de outras fazendas na carroça puxada pela mula "Gerica" na companhia da prima Júlia do Bairro, e ali pausa com tempo para dois dedos de conversa com a pobre mulher …"atão Ti Alzira como está vossemecê hoje?" enquanto falavam abeira-me da roseira para sufragar em cheiro apressado a deliciosa fragrância rosal!

Casa da "Maria entrevada"
Já não existe, foi requalificada numa nova.A Maria de alcunha - a entrevada,  foi vítima de um aparatoso acidente doméstico quando trabalhava como mulher-a-dias na casa do Sr. Oliveira na vila. Grávida, subia a escada de madeira com um cântaro de água e se desequilibrou e caiu desamparada, fraturando a coluna. Entrevada ficou para sempre, assim se dizia num tempo que não se faziam seguros de acidentes pessoais, porque existir até existiam. Não se compreende em gente abonada, tal sabedoria não abonar a segurança dos seus trabalhadores, nem tão pouco entender reparar o acidente de outra forma, pelo contrário foram duros e de amargas palavras, sobretudo para a vitima e para as suas filhas na escola, quando a filha professora as via chorar. As poucas vezes que conversei com a Maria entrevada, foi na cozinha junto ao lume onde a vi rastejar para o atiçar… Afetuosa era demais a mãe das minhas amigas, mulher de parcos recursos teve brio em obsequiar a oferta do pasto da Ferranha para as ovelhas, mandando as suas filhas a minha casa trazer a oferenda, açúcar, arroz ...
Mulher bondosa, sofrida, não merecia tanto azar nesta vida!Que Deus não se tenha esquecido de lhe ter dado  e continue a dar a boa vida eterna!
Mãe das minhas amigas de escola a Idalina e a  Helena, o Júlio,  mais novo.
O marido da "Maria entrevada" Abílio Carvalho era do Bairro, costumava ir ao Alentejo à ceifa. Um ano a camioneta deixou-o ao Ribeiro da Vide quando eu ia a passar, onde se mostra orgulhoso com as oferendas que trazia para ali me mostrar - oh cachopa olha o chapéu que trouxe do Alentejo - que abre em pleno verão em pano azul de aba enorme e ainda um grande pão, dizia olha que dura 7 dias...


Casa da  "Ti Ana Sapateira" 
A mãe da " Maria entrevada", naquele tempo as mágoas e tristezas da vida afogavam-se no que havia- o vinho. Diziam os vizinhos que gostava da pinguita e se abastecia na adega do vizinho Augusto Lopes e Ti Eufrofina, a quem chamávamos Porfina, os seus filhos malandros, misturavam água que ela não notava, ainda lhe faziam outras tropelias, sim porque a Emília era levada da breca…
Reminiscências da arquitectura romana/visigóticas da sua casa
A empena em V invertido para sustentar a parede acima da porta  na berma da que foi a estrada real. 
 A pedra com buraco onde se prendiam os animais - burros e mulas
Já não me lembro como se chamava a mulher que aqui viveu seria Isilda? 
Tinha a filha em Lisboa. A poente da casa, no pinhal haviam ruínas de uma casa antiga, explica que os antigos povoadores que aqui se fixaram ao longo da estrada real, não fizeram as suas casas na sua beira e antes no alto.
Casa da prima " Ermelinda canhoto" 
Casa da irmã da minha avó paterna a tia  Maria da Luz Canhoto
Outras gentes

O Ti Augusto Lopes e Ti Eufrofina
Tinham no quintal um poço de chafurdo

A Ti Jezulinda 
Mulher alta do Casal Soeiro, carismática no meandro das crendices e das poções mágicas…Tirou-me o cobranto.

A Ti Ermelinda e o Ti Neco
Quando tinha os netos de férias estes perdiam-se nas brincadeiras no Largo do Bairro, mal a noite caia punha-lhes o candeeiro a petróleo na janela, assim o Zé Manel e a Cristina não perdiam o caminho de casa…

Mais gente do Carvalhal: Arlindo e Helena; Celeste, Emília, António e Lídia Lopes; Prima Luzita do "Canhoto" e irmãos; António, Filipe e Mário e,
No Pinhal: Helena e Fernando, altos e bonitos; Henrique, Joaquim, Mário, Gracinda, Maria, do Ti " Borracheiro" ( alcunha derivada de fazer borrachos para o vinho); Adelaide e,

Arrábida até aos confins do Moinho da Mourisca

20 de maio de 2006 - Era domingo, decidimos sair logo pela manhãzinha em direcção à serra da Arrábida. Passámos por Azeitão logo na entrada do lado direito nasceu vasta urbanização de luxo, vivendas de todos os estilos, algumas enormes, com lindos telhados e com muitos espaços em redor, ajardinados a denotar muito bom gosto com piscinas, relvados e arbustos, noutras mais o meu género antigo , apreciei objectos em barro como talhas, de todos os tamanhos, que me parece inserida em condomínio fechado  com becos, pracetas e estradas sem saída, pouca sinalética, debalde perdemos o tino da entrada, vimos-nos gregos para a encontrar, mas por fim lá nos orientámos e saímos pela estrada que vai dar à aldeia de Dois Irmãos , finalmente. De seguida tomámos a estrada da serra, logo na entrada uma grande Quinta onde está instalada uma oficina de azulejaria e pintura com venda directa ao público, mais à frente mesmo na ribanceira, julgo a Quinta do Bispo, não sei se nasce ou renasce casarão que pela vegetação luxuriante não deixava enxergar ou vislumbrar nada durante anos.Adiante algum casario isolado e quintas salpicam o espaço até começarmos finalmente a subir a serra, do lado esquerdo podemos ver o azulejo a dar o mote " El Carmen" à enorme Quinta na encosta da serra, defronte do mar....Muita vegetação exuberante típica mediterrânica de 1 a 2 metros de altura, entrelaçada quase impenetrável, ao longe ....podem ver-se os pastos verdejantes a lembrar a paisagem "Bocage", aqui tão perto em plena serra da Arrábida.Continuámos caminho por entre brechas da serra podemos observar rasgos de mar, resplandecente com o brilho do sol em tão grande calmaria. Cenário muito lindo apesar de persistirem névoas a encobrir a sua beleza.Tomámos a direcção do Portinho da Arrábida, descemos a longa estrada em declive, a vegetação nesta zona é um pouco diferente com pequenas árvores enroladas nos arbustos criando no observador uma vontade nata de desejo em tomar os trilhos e partir à descoberta de rotas no meio da serra, que se podem tornar perigosas se não forem acautelados todos os meios de orientação. A talhe de foice em frente ao Convento dos Capuchos estava um grupo de escuteiros junto a um trilho pedonal, no dia seguinte vi na televisão já na parte final da reportagem os bombeiros tiveram de ir em seu auxílio e resgatá-los.Voltando atrás, chegados ao Portinho, ainda persiste continuar a garganta apertada da estrada que contorna o Forte e nos dá acesso mesmo à água, quiçá um quadro pintado por Rembrandt, muito pela simbiose das cores, tonalidades de verdes contrastes do branco do casario , verde, azul do mar e o céu, tudo místico, quem dera ser poetisa e soltar a voz em versos de eloquência para descrever este sítio de tamanha beleza indiscritivel, incomensuravelmente bela.Caminhámos sobranceiro ao mar, desci à praia, a água calma em ondas minúsculas a rebentar devagarinho....as conchas, as pedras, de todos os tamanhos, trouxe uma e um pequeno caracol por este apresentar pingos de madrepérola.De regresso vimos casal com filhote de 4 anitos , o pai levava o saco do piquenique, gostei de ver e recordar o passado quando eu fazia o mesmo com a nossa filha. Subimos novamente a serra, a estrada para a Figueirinha ainda interdita pelas obras de requalificação das falésias é magnífica, os morros de pedras sublimes em calcário , apresentam esculturas de rara beleza que o tempo pela erosão, vento e a chuva esculpiu tão majestosamente, que a vontade é de percorrer a serra e trazer todas......a paisagem é uniforme, grande vastidão tem indícios de incêndio do último ano, deixando as pedras mais descarnadas, fazendo lembrar meandros ondulados , paisagem única...........descemos e por curiosidade fomos ver se a estrada para a Figueirinha estava mesmo fechada, depois de passada a fábrica do cimento, deparámos efectivamente com obras na falésia, gruas e um carrinho pendurado por cordas a fazer lembrar paisagem lunar na primeira ida à Lua, na colocação de redes de protecção para as pedras não caírem, bem, assim no verão já se poder ir em segurança à praia. Rumámos em seguida até Setúbal, quando passámos no parque de merendas na Quinta da Comenda já cheirava a sardinha, e de repente lembrei-me, vamos até à Mitrena, há anos que não vamos lá. Usei a minha forte dose de convencimento. Tomámos a estrada, lindo foi saborear as margens do rio ali junto a nós ao longo da estrada , também as grandes indústrias que se perfilham como cogumelos, de repente o sapal à nossa frente, vestígios de moinho de maré junto ao estaleiro que agora é da Lisnave. Estava um paquete e vários navios para reparação, mais à frente a estrada termina, tudo em redor é sapal menos do lado esquerdo que é um morro, subimos pela 1ª vez esta estrada e só vimos fábricas e uma grande quinta com uma vinha invejável.Deu no entanto para observar como era bonito todo o cenário água por todo o lado menos por um, afinal a península de Setúbal! Linda a paisagem, soberba. Fazia-se a hora do almoço, de regresso tomámos a estrada para Praias do Sado e fomos almoçar ao sítio das Pontes, nunca lá tínhamos comido. A comida era muito caseira, javali no tacho, o tempero era espectacular parecia o tempero do frango na púcara da minha mãe, divinal, a amarelinda macia , encorpada, doce, picou na glote, gostei muito , o vinho de Fernando Pó, pois claro não estivéssemos nós em terras de bons vinhos, uma pomada e o o pão alentejano, muito bem confeccionado.Bem ressoados como se diz na minha terra, o mais sensato foi tomar o caminho de regresso a casa, mas antes ainda quisemos ir ali tão perto à Gâmbia . Grande o seu parque de campismo, andavam a fazer a rede de esgotos, muitos buracos no maquedame. Apreciámos os Esteiros onde se pratica piscicultura. Nem de propósito tinha na semana antes visto num programa de televisão uma reportagem sobre este tema, para o efeito tinham levado exemplares das várias espécies cultivadas em viveiros, corvina, robalo, eiró, safio, dourada, alguns servem para confeccionar as famosas caldeiradas que exemplificaram e com o caldo desta fazem uma sopa de peixe com massinha de cotovelo para no final confortar o estômago, com sabor a coentros. Fiquei com água na boca. A atestar pelos imensos e desafogados viveiros orlados pelos altos carreiros cobertos pelo manto de água, acredito que o seu paladar nada deve deixar aos pescados no mar.

Ainda visitámos o moinho de Maré da Mourisca, restaurado com o seu passadiço de madeira a cair de velho e o barco ancorado de cor azul forte.Até exclamei, ai se tivesse outra vida, era aqui que comprava uma casita .Local muito idílico e apetecível ainda mui selvagem, onde não falta muita água, sobreiros, ricas paisagens, bom peixe vinho e pão, tão perto da capital, um cantinho feito por Deus sobranceiro ao rio, lindo vasto para sonhar, amar e morrer a sorrir.....de regresso seguimos pela auto estrada e chegámos sãos e salvos.

Foram horas de lazer e de gozo de prazeres indescritíveis para REPETIR...Havemos de voltar, disso tenho a certeza!

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