segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Bruxarias em rituais de antanho e d'hoje com raiz celta?..

Feitiçaria e quejandos...
Superstições, crendices , feitiços, mezinhas, rituais...

Tive a sorte da casa onde vivi desde que nasci já ter luz eléctrica, até televisão em 60, o que inegavelmente foi mais valia para o conhecimento, apesar de na época se viver em ditadura. Na vila onde cresci até aos 20 anos tive o privilégio de conhecer manifestações do sagrado e do profano embora estas últimas dissimuladas não deixavam de ser evidentes no dia a dia. 
Na Godinhela antes de Miranda do Corvo, ainda continua a tradição no negócio de família, segundo um comentário de um sobrinho. Mote que me fez lembrar que esta arte na aldeia é bem antiga. O meu avô Zé Lucas quando foi à tropa no início de 1900 apareceu com um eczema nos braços, aqui veio, por ser relativamente perto, para ela lhe receitar uma mezinha. Na volta a casa fez o que ela prescreveu, mas não resultou. Como não era homem de ficar calado, decide em boa hora voltar para reaver o dinheiro. Levou consigo o seu companheiro de sempre com alcunha "galinheiro" nascidos ambos em Lisboinha. Apresentou-se fardado para a impressionar. Chega-se à "bruxa" e diz-lhe ao que vêem-, ela respinga, mostra-se forte, dizendo que ele não fez a mesinha como devia ser... Nisto o "galinheiro" impõe-se, e diz-lhe em voz de comando, seca e forte " está presa está, e por um guarda municipal..." a pobre mulher "acagaçada" vai ao taleigo e devolve-lhe o dinheiro...
Nos dias de hoje ainda persistem estas práticas, de maus resultados e usurpação de grandes fortunas, porque infelizmente ainda há muita gente a ganhar a vida, explorando a crendice de incautos. Aconselha-se a ponderar, no dizer do povo estar de pé atrás e não recorrer a este género de pessoas para resolver problemas psíquicos, índole afetiva, financeira ou outra, como fazer mal a outros. E também não se deixar influenciar psicologicamente por eventuais feitiços que lhes possam fazer. Porque quem é evangelizado sabe que a confiança dum cristão deve ser depositada no poder de Deus, que é infinitamente mais forte que qualquer “espírito” ou feitiço.
No meu tempo de criança e adolescente as pessoas dadas a estas crendices eram já de idade, no caso uma delas ainda é viva com mais de 80 anos. Tratava de afastar o mau ilhado e mal de inveja, que no azeite com a água se revelam, prática que não molestava ninguém, muito menos a carteira, que o fazia por vontade de ajudar. Falava-se noutra que vivia perto de um cruzamento, do olhar forte sei que tinha, e dela apesar de nunca me ter feito mal nem bem, nunca simpatizei. 
Apesar da evolução tecnológica nos últimos 50 anos ainda não se cortou com estes valores ditos tradicionais, a sociedade tal como a conheço hoje continua a procurar refúgio num leque diversificado de dogmas, até eu em momento de desespero e carregada de "mau olhado" vejo obrigada a socorrer...
Confesso que destas "bruxarias" ancestrais não desgosto, já das atuais em televisão com milhares de euros a serem pagos em chamadas de valor acrescentado, uma mais valia para a estação da TV , e para a percentagem do share , na visão de expor a vida em público das pessoas selecionadas -, gente que não dorme a pensar falar com a "bruxa" -, gente de vista curta, carentes, vivem em solidão , amarguradas no acreditar ser esta a sua tábua de salvação dela adivinhar ? Presente e futuro... " se os maridos tem amantes...se o namorado gosta dela...se a filha anda por bons caminhos...se a operação vai correr bem...se consegue emprego...se vai passar no exame da carta de condução...se ...a "bruxa faz de conselheira, amiga, médica e,... 
Esta forma de magia, feitiço, tarot ? Não gosto por ser um embuste, onde acontecem puras coincidências, que só gente lerda e insegura acredita ! 
Interessante é pensar que se regem pelo signo da pessoa no diálogo estabelecido. 
E os signos sendo uma roda com argumentos de coisas boas e menos boas, que hoje acontecem a um individuo e amanhã a outro. 
Será um embuste para ganhar dinheiro fácil num país de gente de cabeça fraca! 
Como se não bastassem os telefonemas ( rendem milhões à SIC) no tarot e outros programas que a tarologa publicita amiúde; medicamentos para dormir, emagrecer, para as dores, para os ossos, para afastar as más energias, livros de rezas, culinária e sei lá mais o quê... Coisas que só tolos que empranham pelos ouvidos adquirem na esperança de ajuda eterna... 
Negócio de amuletos, chás e mezinhas, e sobre tudo o que aprouver à Estação televisiva que aqui no programa se apregoa, e vende através do consultório... 
O ambiente no consultório da taróloga faz lembrar os centros de call center anos 20, com muitos PBX de telefonistas em fila num espaço exíguo, ambiente com ruído de fundo pelo pandemónio de chamadas cruzadas...Atendedores de telefones na maioria psicólogos(?) sem trabalho na especialidade,forçados quase por conta e risco nesta aprendizagem das coisas do Além-, revelam poucos conhecimentos da vida obscura, saberes e crendices, sendo jovens, nunca viveram, nem tão pouco artes presentes nas suas vidas-, que no preenchimento de questionários aos utentes que para aqui ligam, apesar de pagar o recebimento em troca de ajuda espiritual, conselho ou caminho a seguir, o que fazer do seu dilema? Gera equívocos, por os atendedores revelarem dificuldade em auscultar e perceber o que os clientes auspiciam, também porque na maioria estes não se saberem explicar-, e só com sapiência e experiência de vida, se entende os outros por meias palavras-, para que a resposta da tarologa seja o mais fiel ao solicitado do cliente, seja por que via for. Nota-se que quem responde nestes casos são outras astrólogas ? Na retaguarda, cujas respostas na defensiva, nunca abertas como na televisão, que se revelam certas? Para não falar que os telefonemas não são em direto, como fazem crer...Antes agendados de véspera com o cliente, sendo que no dia é que ligam para casa para o direto na TV, antecipadamente avisado par confirmar que "ligou agora quando disse para ligar..."
Em tempos já escrevi "Canseira ouvir os apresentadores a incitar para que se telefone ...O que será que se passa com a grande maioria das pessoas que andam apáticas, não querem saber, preferem até o mais fácil, o mais desinteressante também. É por isso que os programas de TV se tornaram mais pobres inteletualmente...Porque tudo o que requeira esforço, dedicação e pensamento mais profundo, poucos telespetadores aceitam. Isto não parece auspicioso, pois não? Bom, mas cada um sabe de si..."
Negócio que GERA MILHÕES nas televisões que assim podem continuar a pagar bons ordenados aos funcionários, muito acima da média. Receitas quase exclusivamente dos telefonemas, e deste programa ainda ganhos na parceria de lojas de artesanato, editores de livros e tudo o que se possa encaixar neste perfil mediático que tudo se publicita e purifica.E isto faz pensar!
Há até uma anedota sobre esta temática "entra no consultório uma pessoa e a cartomante pergunta-lhe, ao que vem?"...Se fosse abençoada do poder de adivinhação saberia, ou não?
Reparem que as pessoas acabam por dizer tudo, sem se aperceber, facilitando a orientação que depois recebem!
Não passa de engodo de algo que é misterioso na astrologia, numeralogia e outras artes místicas;espiritual, divina, religiosa e outras fanáticas-,que no seu todo se acumulam na envolvente da ADIVINHAÇÃO? Que só gente incauta e carente acredita, por isso a grande procura que desencadeia um filão de ganhos de "rios de dinheiro".
SE PAGAM MAIS QUE UMA CONSULTA EM PSICÓLOGO! 
Gosto de ter arruda em casa, abrir as janelas para entrar LUZ e limpar os cantos da casa de más ondas...Também sal grosso atrás da porta, as ditas mezinhas contras o olho gordo e a inveja!
Basta abrir jornais e revistas logo nos deparamos com anúncios das substitutas "benzelhoas" tradicionais que existiam nas aldeias em tempos de antanho.
Inegável a complexa teia de relações que da crendice perdura :chamam-lhe magia negra, astrologia, horóscopo, tarot. Certo é - ,fazem dela forte negócio.
Pior, a pessoa que acredita e "derrete dinheiro" porque fica deslumbrado com as coincidências...
Sem se aperceber que contribui falando...
Em quase todas as consultas está inerente saber o SIGNO -, claro há condutas próprias em cada um, por isso fácil agilizar o que falar . 
Remate com lábia se constrói a rezanha a contento do cliente. 
Mais tarde, a maioria refletindo, cai em si, e sente-se desfraldado... 
Também as mezinhas são quase tão antigas como a existência da humanidade.
Desde sempre os povos viveram daquilo que a natureza lhes proporcionava para alimento e para tratar dos males do corpo. 
Ao seu jeito, catalogaram plantas diversas que evidenciavam propriedades para combater os seus problemas de saúde que foram transmitindo às sucessivas gerações, chegando até nós. Foi a partir da conjugação de inúmeras plantas medicinais, não tóxicas, que surgiram grandes remédios caseiros que, tomados nas doses certas, faziam e continuam nos dias de hoje a fazer autênticos milagres. Chás infalíveis, poções mágicas e unguentos milagrosos, com efeitos cicatrizantes; anti-inflamatórios; anticoagulantes; anti bacterianos; anti virais; analgésicos; anti alérgicos etc., que passaram para segundo plano com o culto da medicina oficial, com os remédios alopáticos.
Existem ainda resquícios dessas práticas nos mais velhos, que, por força da vivência com os mais novos, as fazem perdurar nas nossas casas, ainda hoje.
Quem não conhece os efeitos do chá de limão com mel para a gripe e batatas às rodelas na testa para as dores fortes de cabeça? Do chá de folha de oliveira para baixar a tensão, o chá de erva cidreira... 

Curiosidades: 
O açúcar no sangue atrai os mosquitos e o facto de se comer alho afasta-os. 
Em miúda apareceu-me uma borbulhagem por detrás do joelho.Fui ao médico, fiz o tratamento prescrito e a borbulhagem em vez de diminuir, alastrava.Foi a minha tia Maria que me mandou ir à casa da Ti Jezulinda, mulher rude, estranha, cortava o cobrão, tirava o cobranto, mal de inveja, quem sabe outras coisas...conhecedora das doutrinas ancestrais de rituais com fortes poderes, pacto com o diabo, poder das ervas e das muitas rezas envoltas em mistérios...a sua casa ficava no Carvalhal.Fui a pé Bairro acima pelo caminho de terra batida, antes passei pela casa da minha tia Luz do Canhoto, lembrei tempos que por lá brinquei na sua padaria desactivada com os netos brasileiros que vinham de férias.
Entrei pela porta da cozinha e contei-lhe a minha estória. Contou-me que estas erupções na pele eram provocadas por um bicho que passa pela roupa que vestimos, geralmente no estendal, por isso deve ser toda bem passada a ferro, para matar o mal que os bichos deixam .Ainda me disse que era perigoso se a borbulhagem começasse a alastrar, com comichão, em fila indiana, nesse caso tendem a dar a volta ao corpo, geralmente quando acontece na cintura, não há ninguém que se salve, é morte certa se une a cabeça com o rabo.Logo ali à minha frente deu inicio à mezinha, no chão de cimento da cozinha amassou com o martelo palhas de alho, enxofre, sal e azeite. 
Benzeu-se - "Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo" por três vezes fez cruzes com as costas da faca virada para a borbulhagem,"o cobrão", tocando na pele, seguida da ladainha
"Aqui te corto se és cobra ou cobrão, corto-te o rabo, a cabeça e a raiz do coração".Em seguida, com o unguento que fez no chão cobriu toda a borbulhagem, tapou-a com uma compressa de pano rasgada no momento.No caso ela disse que não precisava lá voltar, mas que ele há casos de se fazer 3 vezes.O que é certo é que resultou!
Na altura o médico, muito afamado Dr Travassos, a botica que me receitou, pomada não surtiu efeito, e no consultório lá perdi uma manhã inteirinha!
Coisa para pensar, a mezinha substituiu a medicina tradicional que no caso não teve sucesso! 
Se são mezinhas caseiras, se não estão cientificamente provadas, eu não quero saber, o que me interessa é que resultam, baratas e eficazes, sempre que as tomo, fazem-me dormir em paz! 
Relativamente ao Dr. Travassos , sei o quão é estimado e querido na nossa terra. Então não me lembro de ir ao seu consultório no sobrado da taberna do Ti Domingues. Grande a escada de madeira e íngreme, teria os meus oito anos. Salvou muita gente por toda a região.
Um episódio verídico passado com o Dr Manuel Dias segundo as suas palavras" se eu existo a ele se deve tanto quanto aos meus pais."Nasci ao contrário (não dei a volta, ou dei voltas a mais!?), a parteira ao constatar a minha posição,achou que o "caldo estava entornado"!, havia que chamar o médico. O meu primo Zé Carteiro (aliás, a esposa, a terna Ti Aurora é que era prima em 1.º lugar de minha mãe) que era vizinho teve de telefonar para o Dr. Travassos (o nosso João Semana lá se levantou e seguiu com a urgência que lhe foi possível para o Casal. Fez a cirurgia necessária e tirou-me, depois cuidou o melhor que pôde da minha mãe! Constatando que eu não dava qualquer sinal de vida, provavelmente por ter estado horas nasce não nasce (e se calhar já com o cordão umbilical cortado, disse a meus pais: este era macho, mas já se foi! Contudo, porque a esperança é a última a morrer,agarrou-me pelos pés, esfregou-me com álcool e deu-me "porrada" pelo corpo todo! Foi a minha primeira coça. E não é que foi bem dada? Quando testemunhou os primeiros sinais de vida, disse ao meu pai que era melhor vestir-se, já que era católico e certamente quereria baptizar-me, e com ele e a parteira iriam chamar o Arcipreste, para que me baptizasse de urgência, porque de certeza tinha poucas horas de vida. E assim foi, fui baptizado no mesmo dia que nasci: a madrinha foi a parteira (a Ti-Laurinda) e o padrinho o S. José (talvez então? a imagem mais perto da pia baptismal,não sei bem!). Felizmente (ou não!?) o médico enganou-se na minha esperança de vida. Mas salvou-o e ainda bem!
Também me lembro de ser o Dr Travassos a dar com o caso de meningite do Abel Nogueira. Que em tempo útil foi tratado em Coimbra.
Ainda outra reza contra o cobrão
Havia outra mulher que queimava a palha dos alhos, sobre as cinzas deitava um fio de azeite formando assim uma espécie de unguento. Embebia um pano neste unguento e fazia cruzes nas erupções com a seguinte reza:Em nome de Deus te atalho (fazendo uma cruz)
Se és cobra ou cobrão (fazendo uma cruz)
Lagarto ou lagartão (fazendo uma cruz)
Sapo ou sapão (fazendo uma cruz)
Bicho de má nação (fazendo uma cruz)
Que fique negro (fazendo uma cruz)
Como carvão (fazendo uma cruz)
Não devemos subestimar a sabedoria popular. Nós que tivemos acesso aos estudos, temos um pouco a mania de gozar com este e outro tipo de " curas" inventadas pelo conhecimento popular e que existem há séculos.Onde há muita gente há criatividade, e se existem estas mezinhas há muitos anos, de certeza que só se mantiveram porque funcionam mesmo! 
Hoje está muito em voga o uso deste tipo de medicamentos de origem vegetal, classificados como produtos naturais de venda livre em farmácias, herbanárias, e afins.
São medicamentos que por não serem químicos, são amigos do nosso corpo, por não provocarem efeitos secundários. 
Contudo, existem muitas ervas medicinais de conhecido uso popular com propriedades tóxicas, que justificam todo o cuidado na dosagem administrada, pois podem apresentar contra indicações que podem despoletar complicações graves, sintomas de alucinações e mesmo induzir à morte. 
Quem não se lembra dos célebres envenenamentos já desde o tempo dos romanos? 
Tinham provadores humanos para atestar se a comida estava envenenada.
Mais tarde, começou-se a usar a colher de prata, se oxidava, havia veneno.
Recordo que em minha casa, o meu pai por vezes também a usava...só para intimidar a minha mãe quando havia zanga...
Recordo-me de em miúda aos sábados no mercado de Ansião, então ao ar livre na vila, da presença do vendedor da banha da cobra, apregoava as pomadas para todas as maleitas. Comprei várias vezes, e de facto, aquelas caixinhas brancas sem rótulo, cujo creme aplicava sobre feridas, queimaduras, impinges, até cortes...curioso dava para tudo,agora não o tenho visto!
Então não estou numa de lembranças...
Reza para tirar o bruxedo 
Um t'o deram, dois t'o tiraram ,tira-te São Pedro e São João. 
Se t’o deram pela cabeça que t’o tire S. Teresa
Se t’o deram no nariz tirate-o S. Luís
Se t’o deram pelo costelado que t’o tire o senhor S. Tiago
Se t’o deram pela barriga que tó tire a Virgem Maria
Se t’o deram pelo corpo todo que t’o tire o nosso senhor Jesus Cristo pois ele tem o poder e a divindade toda.
Repete-se esta ladainha três vezes e por fim reza-se uma salva rainha.

Reza para tirar o cobranto ou mau olhado, mal de inveja da Carmita
Deita-se um pouco de água num prato.
De seguida, reza-se três vezes a oração:
Jesus Cristo nasceu em Belém para tirar o cobrante ou mal de inveja à ... (nome da
Pessoa) se o tem, irás também com estas três cruzes, com estas três velas, com estas
três pessoas da Santíssima Trindade. 
É o Pai, Filho e Espírito Santo.
Depois deitaram-se três gotas de azeite na água.
Se as gotas se desfizerem, a pessoa indicada está carregada, tem cobrante,então deve-se continuar a repetir a reza. 
Se a gotas de azeite não se desfizerem, então a pessoa não tem cobrante.

Outra benzedura contra o mau olhado
Coloca-se num prato com água e diz-se o credo, deita-se três pingas de azeite puro com o dedo polegar da mão direita.
Se o azeite se espalhar é preciso repetir nove vezes a seguinte reza:
"Foi Deus que te criou, e Deus te generou, e dois to deram e três te o tirem; a Mãe Maria Santíssima,que tudo faz e pode, se este mal for, ou de inveja ou de um olhado, de onde veio, para lá torne, se o tens a cabeça que o tire Santa Teresa, se o tens no coração que o tire S.João, se o tens no corpo todo que o tire nossa senhor com o seu divino poder todo".

Outra benzedura contra o mau olhado 
Deus é verbo, verbo é Deus, se ( nome da pessoa) tiver olhado benze-a Deus. 
Dois olhos olharam mal e três estão para olhar bem que é o Deus Pai , o Deus Filho e o Espírito Santo amém. 
Em louvor da Virgem Maria reza-se um Pai Nosso e uma Avém Maria.

Outra benzedura contra a bruxaria e a inveja
Santo Inácio de Loures é de santo e é de sado
E é por santo fundado
E é o Senhor Crucificado
Desorga! Desorga! Três vezes desorga!
Bruxas feiticeiras, mal de inveja
Do corpo de uma pessoa para fora
Que não tenha que doer como elas
Nem em casa, nem na rua, nem por onde passear
Eu te benzo com a santa segunda
Eu te benzo com a santa terça
Eu te benzo com a santa quarta
Eu te benzo com a santa quinta
Eu te benzo com a santa sexta
Eu te benzo com o santo sábado
Eu te benzo com o santo domingo
Que são as nove palavras

Benzeduras contra a trovoada 
Na telha de canudo punha-se um pouco do ramo benzido no Dia de Ramos a arder
( Alecrim, Loureiro e Oliveira) e rezava-se uma destas rezas
Bendito e louvado seja
Santa Bárbara bendita.
Espalhe a trovoada por onde não haja eira nem beira.
Bendito e louvado seja
O Santíssimo Sacramento.
Da Eucaristia, fruto do ventre sagrado
Da Virgem Puríssima Santa Maria.
Também
S. Jerónimo se levantou,
Seu sapatinho d’ouro calçou,
Seu cacheirinho agarrou,
Seu caminho caminhou.
Deus Nosso Senhor o encontrou.
– Onde vais, S. Jerónimo?
– Vou espalhar esta trovoada
Que por cima de nós anda armada.
– Espalha-a lá para bem longe,
Para onde não haja pão nem vinho,
Nem flor de rosmaninho,
Nem eira nem beira,
Nem raminho de oliveira,
Nem gadelhinho de lã,
Nem alminha cristã.
Espalha-a para todas as bandas das águas do mar. 
Amém.

Outra benzedura contra a trovoada
Quando nosso Senhor pelo mundo andou em São Bartolomeu 
Nosso Senhor disse-lhe:
"Santo António onde vais? 
Na terra ficarás as coisas perdidas acharás, São Tiago de Galiza quer em casa quer em malhada, onde esta oração for nomeada nem cairá raio nem peste ruím, nem boca do fogo fará mal São Geraldo Santa Bárbara bendita no céu esteja escrita, papeis e água bendita Deus nos livre desta tormenta".Amén.

Outra benzedura contra a trovoada
Santa Bárbara bendita, por Santo Jesus Cristo , no papel e água benta livrai-nos desta tormenta.Deus que tem o poder de dominar a furor das tempestades e abrandar a crueldade das guerras.
Santa Bárbara, rogai por nós"!

Outra benzedura contra a trovoada
Ouvi uma trovoada
Acolhi-me a um trovisco
Acudi por Santa Bárbara
Acudiu-me Jesus Cristo

Benzeduras e Medicina Popular do Minho séc XIII 
aos dias d´hoje... excerto de http://escavar-em-ruinas.blogs.sapo.pt/b
No meu julgar reminiscências celtas
Doença dos Olhos
O povo, na sua sabedoria milenar, sabe que «os olhos são o espelho da alma», basta para tal atender aos inúmeros ditados populares que fazem referência à vista.
Ao amigo que nũ é certo, c’um olho fetchado e oitroaberto. Já agora, uma migalha de linguística: nos tempos idos, no Minho e em Trás-os-Montes, a palavra olho era pouco utilizada por ser tida como indecente por associação com olho do cu, sendo substituída mediante causa eussémica por bistae bistinha.
Num chores, amor, num chores,
Que o chorar arrama a bista;
Em me indo eu desta terra
Não faltará quem te assista!
O olho era entendido como zona a defender e preservar, destarte umas noções primárias de assepsia, intocável com os dedos ou mãos, zonas estas sujas por natureza.
O mal do olho coça-se com o cotovelo.(lembro-me do meu pai me falar)
Uns dos remédios miraculados do arsenal do poviléu para acudir às desgraças ou inflamações dos olhos recomendava o uso da babuge que tombava da boca do gado bovino quando este bebia num tanque. Lavava-se, então, a zona ocular afetada com a mistela da água e babugem e pronto, estava sarado.
A beleza stá nos olhos de quem a bê!
Nalgumas localidades quem estava doente da vista oferecia à Senhora da Luz um franganito, que recebia a designação de frango dos olhinhos vivos.
A cegueira quando dá é pelos olhos.
Para tirar um corpo estranho do olho, seja um algueirinho,algueiro, argalha, argueiro, arujeiro, arujo, bogueiro,ciscalho, cisco, palhinha ou vogueiro, socorriam-se duma famosa pedra-argueira que tivesse vindo do mar ou imploravam o valimento bendito de Santa Luzia.
Corre, corre cavalheiro
Pela porta do ferreiro,
Que lá vem Santa Luzia
Pra me tirar este arujeiro.
Noutros lados, quiçá mais descrentes da ajuda celestial, para retirar o tal cisco o povinho de antanho deitava entre a conjuntiva e o globo ocular algumas sementes, três ou cinco, da erva-dos-olhos, e esfregava docemente as pálpebras.
Olhos que num bêm, curação que num sentem.
Aqueloutros, mais expeditos nas coisas da anatomia, encaixam a pálpebra inferior debaixo da superior, ou ao contrário, pois tanto faz como fez, e proferem sem descrer ou afiançar no divino:
Algueirinho, algueirinho
Vai para o teu palheirinho,
Que lá está uma faca de latão
Que corta o teu coração.
Para obter a cura da néboa, nome genérico que designa qualquer perturbação instalada no olho ou córnea, seja de natureza inflamatória, cicatricial ou catarata, a plebe aldeã utilizava uma folha de cana de canavial fragmentada em nove pedacinhos, posta a marinar num prato com água em companha de nove pedrinhas de sal virgem grosso. Depois, o doentinho segura no prato próximo da área afectada, o talhador coloca cada um dos pedacinhos da folha sobre o olho do paciente e para ajudar o talhamento recita nove vezes, uma por cada pedaço, a seguinte benzedura ensalmeira, rezando-se no fim nove ave-marias:
Jasus, nome de Jasus
Apareça, benha a luz!
Aqui faz fonte frontal
Talha-se néboa e neboal,
Unha e unhal,
Cum sal do mar sagrado
Sta néboa e neboal será derretida
Pelo poder de Deus e da Birge Maria
E da milagrosa Senhora Santa Luzia!
Jasus, Abe-Maria!
Já no que concerne à cura da rexa ou farapão, afinal a úlcera traumática da córnea, era usada uma aplicação de mel de enxame novo e o benzimento subsequente, a qual é repetida cinco vezes, rezando-se ainda cinco padre-nossos e cinco ave-marias dedicadas exclusivamente às cinco chagas:
Santa Luzia pelo mundo andou
Nossa Senhora encontrou
Nossa Senhora lhe disse
– Adonde vais Luzia?
– Eu, Senhora, convosco vou.
– Tu comigo não virás
Que na terra ficarás,
Com olhos de prata benzerás,
De rexas e de farapão
E de vermelhidão,
E de pedrura,
E de amargura,
E doutro mal qu’a bista benha
Só Santa Luzia é que benze bem.
Ofereço esta oração a Santa Luzia.
Seja servida.
Que este padre-nosso e esta ave-maria
Sirvam de mezinha.
O terçolho tem quase tantas receitas como nomeações populares, algumas dos quais aqui recordo por serem usuais no Minho, Trás-os-Montes e Beiras, em suma, no Norte do País e quiçá de igual modo noutras zonas:terção, terçó, terçô,terçogo, terçol, terçoso, tersogo, trançolo, treçogo, treçôgo,treçol, treçolho, tressó, tricó, triçó e tricolho.
Terção, treçolho
Bai-te para aquele olho!

Responso a Santo António quando se perde alguma coisa
aprendi no colégio "As Salesianas no Estoril"
"Se milagres desejais,
Recorrei a Santo António;
Vereis fugir o demónio
E as tentações infernais.
Pela sua intercessão
Foge a peste, o erro, a morte,
O fraca torna-se forte
E torna-se o enfermo são.
Recupera-se o perdido,
Rompe-se a dura prisão,
E no auge do furacão
Cede o mar embravecido.
Todos os males humanos
Se moderam, se retiram,
Digam-nos aqueles que o viram;
Digam-no os paduanos.
Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo como era no princípio, agora e sempre
Ámen.

Amuletos
Atrás das portas era uso pregar uma ferradura para não entrar bruxedo.
O meu pai tinha uma atrás da porta da cozinha.

Agnus Dei
Cheguei a usar preso num alfinete na camisola interior, contra o mau olhado.
Um conjunto de medalhinhas de Santinhos que serviam de protecção.
Forças da natureza estranhas!
Diz-se que se deve rezar quando se vê um remoinho, no mesmo tempo cruzam-se os dedos indicadores e diz-se: "Foge, foge veneno da cruz que aqui nasceu menino Jesus"
Os remoinhos fazem parte das coisas do diabo. 
Mal de alguém que ouve rir uma corja, pela certa morre gente na aldeia. 
Quando se vê no céu uma estrela cadente alguém que nos é querido morrerá. 
Há também as horas boas e as horas más.
Normalmente as horas más são sempre da meia noite à uma da manhã.
Horas do Lobisomem... 
Sobre isto há um ditado antigo "Da meia noite à uma, anda a má fortuna"
Naquele tempo uma mãe que tinha 7 filhas uma delas era bruxa 
Se fossem 7 filhos um era lobisomem.
No caso das raparigas, a mais velha baptizada a mais nova e assim cortava-lhe a "sina"
No caso dos rapazes, o mais novo punha-se atrás da porta e picava o mais velho e quando este lhe fazia sangue deixava de ser lobisomem.

Existem pessoas que têm um mau olhar com muito magnetismo essas pessoas se querem fazer mal a alguém podem utilizar os seus fortes poderes.
Diz-se que quando alguém nos quer fazer mal com o olhar nos fixa com os olhos insistentemente. 
Nestes casos deve-se dizer uma oração, que se pode repetir inúmeras vezes mas sempre em número ímpar.
No fim de cada oração, reza-se uma Avé Maria.
A oração é a seguinte:
"Deus me fez, Deus me criou, mal haja quem para mim olhou
Três mo deram, três mo haja quem para mim mal olhou. Três mo deram, três mo
tiraram Rainha Santa Isabel e bem aventurado senhor são João, vai-te daqui cobarde,
vai-te daqui olhante, vai-te daqui malvado por esse mar salgado, deixa o meu corpo
que o tens atormentado"
Mãe de Deus pai / Mãe de Deus filho / Mãe de Deus espírito santo
Esta reza conta os assistentes males de inveja e deve-se acompanhar com o sinal da
cruz.No fim de todas as rezas e avé-marias reza-se um credo com o sinal da cruz,
depois faz-se o oferecimento assim:"Rezei-te quinze rezas e quinze avé – marias e um credo rezo mais um pai nosso e uma avé-maria se rezarão no fim em louvor das 5 chagas do nosso Senhor Jesus Cristo, e em louvor de Deus Nosso Senhor e à Virgem Maria que me livre de todas as más pessoas, dos maus olhares, todos os assistentes e de todos os males de inveja."

Quando uma pessoa passa por outra e vê que ela lhe quer fazer mal com o olhar põe o dedo polegar entre o médio e o indicador, ao mesmo tempo que diz em voz baixa 
"Deus te veja, cinco te apalpem, coração que te rebente, alma que te partam"
Contra os medos
Dizia a oração
" eu vou com Jesus, Jesus vai comigo" e rezava pai nosso e avé Maria

Ai, e outras que mal me lembro, dos bruxedos para "amarrar" o namorado...
Destas, confesso tenho medo, os chamados "trabalhos"...
Tanta crendice...
Tenho respeito quando se aborda o termo "Bruxas" apesar de não querer e ter medo de acreditar nelas , mas que as há, DISSO não tenho quaisquer dúvidas.
Ser ou não ser verdade, eis a questão!

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Abiúl atesta a primeira festa dos toiros em Portugal

Abiúl, vila do concelho de Pombal…Foi vila e sede de concelho constituído apenas por uma freguesia, entre 1167 e 1821,  os duques de Aveiro já tinham construído um hospital, albergaria e a capela da Misericórdia. Entrou em declínio com a morte trágica da família dos Duque de Aveiro, por crime de lesa pátria acusado no atentado contra o Rei- teria sido perpetuado pelo Marques de Pombal, visionário , odiava o poder da nobreza e dos Távoras. Corria o ano de 1758 quando o rei D. José, regressado de mais uma escapadela com a sua amante Távora levou um tiro no ombro. Acabado de regressar da Índia o Vice- Rei Luís Bernardo Távora, marido traído quis repudiar a mulher, mas o rei não permitiu que a sua amante favorita fosse humilhada publicamente. Começaram os insultos e as ofensas, aos poucos nasceu um ódio de morte entre o monarca e a família Távora, atiçada pelo Marquês de Pombal que não gostava da alta nobreza, em especial dos Távoras, pelo poder que tinham no reino. A casa de Aveiro foi um ducado desde o século XVI, título conferido por mercê de D. João III, o duque de Aveiro, também fidalgo Távora foi considerado implicante na tentativa de assassinato do Rei D. José, homem pouco inteligente, confessou (?) a tentativa do crime na esperança de absolvição, preso, torturado e acusado de regicídio.
“ O Jurisconsulto Pascoal José de Melo Freire dos Reis nascido em Ansião com 19 anos foi quem bateu o martelo na sentença perpetuada pelo Marquês de Pombal nesta tramóia...”
O Marquês de Pombal ambicionava o poder, o trono, em ser rei, porque a sucessora real era uma mulher, filha de uma espanhola, e nunca até ali houvera uma rainha a governar Portugal, sendo o Marquês um homem sem escrúpulos, não olhou a meios para atingir os fins, dizimou os Távora com a ajuda preciosa do Pascoal de Melo que ditou a sentença e assim foi avante o plano maquiavélico de assegurar a extinção dos Távoras-, os mais novos escaparam à morte foram encarcerados nos conventos de Chelas e Rilhafoles. 
Rezam as crónicas da altura "às quatro da tarde não restava um Távora vivo em Belém, os seus corpos foram cobertos de alcatrão e queimados lentamente , nesse dia treze de janeiro de 1759, o nome Távora era tão mal visto que o chão por baixo do cadafalso onde morreram foi salgado para que ali nada nascesse, nem sequer uma erva daninha. Os seus bens foram confiscados pelo reino".
Felizmente a família dos Távoras não foi totalmente extinta, porque existem hoje muitos Távoras. 
D.Manuel I  deu novo foral a Abiul a 14 de julho de 1515, dotada de câmara, cadeia e tabelião
Resta pouco do fausto da vila  do século XIII a meados do século XVIII. Outra machada final de Abiúl  aconteceu com a passagem da 3ª invasão francesa em 1810.
Soube em tempos de antiquários desde sempre bateram a região à procura de tesoiros do tempo dos duques, do espólio que foi roubado, falaram-me de uma cómoda em pau santo e,...Outro episódio passado há anos quando a autarquia andou com obras de saneamento e abastecimento de águas tendo do largo retirado o fontanário em pedra com carranca ao centro ladeado por dois sóis, tendo-se oferecido para seu fiel depositário um vizinho já velhote que alvitrou para o guardar no seu pátio até ao dia que soube que na vila  andavam os antiquários logo os chama e lhes diz que tem uma pedra antiga... Pobre homem, mas astuto, não teve pejo em vender o que não era seu, património de um povo, do tempo dos Duques. Lástima  a falta de cultura, pobreza e ambição quiçá com genes judaicos/mouriscos?
Um dia os descendentes de quem o comprou a viver algures o vão vender de novo ...sem saber a sua estória com história!
O certo era o fontanário regressar à terra de onde nunca deveria ter saído!
As pistas do fontanário foram dadas...De qualquer das formas a Junta de Freguesia de Pombal  devia ter o mérito de mandar fazer uma réplica, basta ver na faiança como se fazia o sol, ou até pode haver ainda alguém que se lembre e o saiba desenhar.

Arco manuelino
Nas minhas lembranças recordo a festa brava no concelho de Pombal  em Abiul cuja origem se deve aos Senhores de Abiúl -, os Duques de Aveiro, ele um Távora e a esposa do reino de Leão da família dos Ponce Leão, amante da tradição espanhola do toureio e toiros os mentores do gosto da lide para Portugal
Nesta terra receberam de herança o palácio que dele existe este arco Manuelino e teriam mandado fazer um  palanque para assistirem à tourada no redondel no terreiro do burgo no ano de 1561, onde se correu toiros em Portugal pela primeira vez, como promessa por se ter erradicado a peste desta Vila . Sobre a sua origem sempre a conheci como sendo a praça de toiros mais antiga de Portugal - até em concursos televisivos essa pergunta saiu por duas vezes, no entanto fala-se que Sousel, também poderá a par dela, receber tal menção...Conheço um aficionado de Setúbal com livros editados que me disse que a primeira corrida de toiros não foi aqui nem Sousel e sim Atouguia da Baleia- até me disse que me oferecia o livro, debalde nunca mais o vi.Achei estranho até correlacionar que um genro do Duque de Aveiro era Conde da Atouguia , tinha de renda casas e a fazenda que hoje é a Quinta do Conde, do Mosteiro  de S Vicente de Lisboa.Fala-se que quando vieram prender o Duque de Aveiro ao seu palacio de Azeitão levaram também o genro.

Praça atual
No dia da reinauguração da praça em cimento armado havia muita gente na maioria vestida de preto, outros de cor garrida, todos acorriam à novidade da reportagem -, o repórter Fernando Pessa da Emissora Nacional, tinha eu doze anos, no primeiro domingo de agosto de 1969. Recordo o eco forte daquela voz sonante em ênfase  para o grande microfone preto: "seria aqui, aqui, neste preciso lugar onde me encontro, o varandim do palácio dos Duques de Aveiro, de onde avistavam o boi"...
 
Palanque do paço dos Duques de Aveiro
Do palanque restam três arcos em tijoleira . Em miúda ainda conheci a praça de toiros em madeira vermelha queimada pelo sol edificada em 1951, até aí fora um redondel murado a pedra firme, estando os curros e os alçados das bancadas seguros por grossos troncos de pinheiro. Vezes que aqui vim assistir às touradas, sentada numa das bancadas onde o sol batia forte com o toldo circular em lata e rendilhados ainda assim teimava em não nos dar sombra. De táxi  de Ansião, com o meu pai, grande aficionado, recordo os cavaleiros emblemáticos Gustavo Zenkel no começo da sua carreira vestido de casaca azul, Mestre Baptista envergava casaca vermelha debruada a oiro a mais reluzente de todas, António Ribeiro Teles já de mais idade... Lindo o bailar das vacas charolesas a que sempre chamei chocas, com grandes chocalhos presos ao pescoço na dança e andança pela arena para o toiro cair no engodo e assim o encaminhar para o curro, e “dos perrotes” - forcados vestidos de meias brancas em croché até ao joelho com borlotas vermelhas, barrete verde enfiado na cabeça produzidos na fiação de Castanheira de Pera com mãos fincadas nas ancas na dança de traseiro – em grito atiçando o boi para a “pega de caras”…ah toiro, aferro de força, batiam o pé na arena, sem medo!
Palanque
 
Curioso nestas terras do Maciço de Sicó, o povo chama os toiros de bois… 
Episódio pitoresco que nesse dia assisti . De repente duas mulheres castiças vestidas de preto, traje típico à época das vendedeiras de barros dos Ramalhais enfeitadas de grossos cordões de ouro, medalhões ao pescoço, arcadas pesadas nas orelhas e saia dobrada de serrubeco pelas costas em jaez de casaco -, uma dizia para a outra, anda ver o boi... e abalam em passo corrido em cima de pernas tortas ao mesmo tempo que elevaram mãos em ajeitar do lenço da cabeça para baixar em guisa de palas aos olhos,  esgueiradas em bicos de pés , curiosas, espreitavam pela guarita, o curro!
Este tipo de traje único desta região, as chamadas "saias das costas", ainda hoje é possível ver algumas vendedeiras mais velhas assim vestidas pelas feiras de antanho, vendiam os típicos barros verde azeitona e amarelo forte da Bidoeira, aldeia do concelho de Pombal. Este tipo de traje sempre presente em mim, nunca visto noutra região deveria ser mote para um trabalho de pesquisa -, uma monografia, porque na realidade foi típico em Ramalhais. 
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O Forno 
Como nota etnográfica existe o forno que ainda hoje se conserva, no qual se registava uma cerimónia que atraía muitos forasteiros como veio a acontecer mais tarde no Avelar, no concelho de Ansião, de igual simbolismo e cariz medieval. O povo acendia o forno com umas boas carradas de lenha, era amassado grande bolo ou fogaça com alguns alqueires de trigo e o punham a cozer. O ritual  consistia em que o homem que o retirava do forno tinha de comungar e levar na boca um cravo e de chapéu armado na cabeça dava três voltas dentro do forno, só depois retirava o bolo ou fogaça para os forasteiros comerem...O que me deixa a pensar, como seria que o conseguia fazer sozinho, se era tanta massa, a pensar nos alqueires de trigo e não levava pá? Como o agarrava, se escaldava...porque o cravo na boca o ensejo da física para não se queimar?
Citar um comentário  da crónica " homem que entrava no forno com um cravo na boca..."
É o bisavó da minha esposa . O seu nome é José Lopes Domingues.

Não digo que não tivesse acontecido e não acredite.Na realidade tem de existir um fenómeno, que ainda ninguém explicou-, ou iam de roupa molhada com o chapéu de aba larga para não queimar a cara, o que levariam calçados, tamancos? Faltam respostas que deviam ter ficado escritas ou terem sido passadas na família para hoje se saber com maior fidelidade como decorria o ritual.E também se morria, o que parece em Abiul assim aconteceu com o último e mais ninguém foi dentro do forno. Há anos em Ansião numa feira de velharias veio à baila a conversa com uma senhora que me falou sobre ele...  
Falta um elemento da FÍSICA para explicar o fenómeno do abrasador calor não molestar o homem!
Na verdade as bocas dos fornos são em tamanho bem diferentes aqui mais pequena  em contrate coma do Avelar de porta. De qualquer das formas ninguém explica como era possível alguém entrar dentro dum forno depois de cozido o bolo ou a fogaça, e não se molestar, porque o facto de comungar e levar o cravo na boca são rituais dum tempo em que as gentes eram fortemente beatizadas.
O forno de Abiul parece mais um forno comunitário  em prol de apenas ser usado para o bodo aos pobres na devoção ao Divino Espírito Santo criado pela Rainha Santa Isabel - tradição que ainda hoje existe no concelho com as Festas do Bodo e os bolos tradicionais, as fogaças
Recordo alguns colegas de Abiul e redondezas que andaram comigo em Pombal onde se deslindavam genes de judeus,  francos de olhos claros e cabelos loiros e também mouriscos.
Abiul, terra com tantas estórias e história sem ser dignificada hoje como o foi no passado, e bem o merecia!

domingo, 10 de outubro de 2010

Saudade da casa dos meus avós maternos e dos seus filhos na Moita Redonda

As duas casas ao cimo do  quelho do Vale, já não existem. Atrás do gato a casa de porta aberta sob o comprido tinha na fachada uma janela-, a casa do bisavô do meu marido, o Ti Miguel que tinha um burro, se chegava ao fim do dia com "um copito na asa" se mostrava muito teimoso com o vinho em teimar com o burro para entrar de marcha atrás no curral, a pobre mulher, que dela se dizia ser uma santa, pela paciência em o aturar dizia-lhe " o palerma do burro é teimoso, é..." 
Para baixo, a casa pegava paredes meias com a  da avô Brísida da minha mãe, outra santa mulher, um casebre que o conheci no meu tempo palheiro e onde se arrecadava lenha, a seguir a casa dos meus avós Maria da Luz Ferreira e José Afonso Lucas.
A  minha mãe com 79 anos na quelha do Vale -, do lado direito foi a casa onde nasceu a 27 de julho de 1934, no dia de S. Panteleão ( o pai tinha saído de madrugada com a carroça para a feira de Figueiró dos Vinhos) num dia radioso de sol com os passarinhos a chilrear no ribeiro que desce da Nexebra.
A quelha do Vale, euzinha na frente onde outrora foi a casa dos meus avós, o que resta...pedras calcárias dos degraus da escada.

Aqui era a casa da Maria, onde se faziam os bailaricos no tempo da minha mãe. 
Uma "broa inteira" no dizer da boca de sua mãe aos rapazes na saga de lhe arranjar um bom partido, quando casou foi viver para Monte Real.
O sítio da casa dos meus avós maternos na aldeia de Moita Redonda, freguesia de Pousaflores, concelho de Ansião, distrito de Leiria.Tanta saudade e tantas horas felizes por lá vivi na companhia da minha querida avó. Costume nesta vida, tudo tem um fim!
Chegou o maldito dia em que a Câmara resolveu derruba-la por uma dessas máquinas de lagartas para alargar a estrada, mas que estrada, tudo continua selvagem.Sinto uma nostalgia que invade a minha alma, pelo que se perdeu!
Bem sei que só restavam as paredes e a chaminé altaneira pintada de ocre, as lembranças tão frescas na minha memória da sua elegância e imponência, destacava-se na aldeia, quem diria, tão simples, vulgar, mas foi assim que sempre olhei para ela, feita pelo sobrinho António do Vale, pedreiro, aqui nascido, tal como os irmãos, ficou-lhe a alcunha . Adorava contempla-la como referência  do alto do outeiro da mina de S. João  quando aí ia buscar o barril de água fresquinha. Lembro alguns motes do passado que me tem sido contados pela minha mãe. 
A quelha do Vale, o sítio onde foi a casa dos meus avós Lucas, na esquerda, a seguir à oliveira. Que saudade!
Casa muito farta no seu tempo. Na aldeia a mais rica. No forno assavam-se dois leitões para dias de festa ou piqueniques na serra onde não faltava a presença do Padre Melo e do médico D. João de Chão de Couce, naquele tempo ainda não haviam eucaliptos, apenas frondosos castanheiros e pinhal com tapetes de flores. O cheiro do leitão assado deambulava em fuso aberto pelo Outeiro do Cuco, Cova da Raposa, até ao Penhasco-, o bom do criado, o Zézito, tomava conta de os assar mas ia bebendo uns copitos , um dia demorou mais a virar o espeto de loureiro e as orelhas esturricaram, que a minha mãe o foi encontrar a pôr pázadas de cinza nelas já pretas de tanto ardidas...Foi uma chatice e das grandes.
Os meus avós maternos José Afonso Luvas e Maria da Luz Ferreira
Pelo Natal a tarefa da minha tia Záira, irmã mais nova 10 anos que a minha mãe, era a fritura dos sonhos. Usava a lúgrebe casa velha da avó Brísida onde o Prof José Lucas nasceu e viveu até os pais mudarem para a sua casa no cimo da aldeia. Enorme o tacho de esmalte azul às pintinhas brancas cheio de azeite a ferver que fora de fazer o "Verde" no casório do irmão Carlos -, gulosa e sôfrega aquela tia comia mais sonhos do que os apresentados à mesa na palangana de faiança na consoada...Do cheirinho do aferventado que saia da panela ao lume de couve galega ou  de nabos com feijão frade ou feijão de debulhar e até feijocas, depende se era verão ou natal, depois  a via a esfarelar broa para uma taça e em cima punha-lhe o aferventado, o que sobrava era janta para o dia seguinte, o requentado, a que ela chamava carinhosamente fertungado, usava um tacho de barro com o fundo alagado em azeite a estalar dentes de alho e folhas de louro, juntava as sobras do aferventado com as migas de broa escorridas e com a colher de pau mexia até ficar tudo desfeito, o cheirinho era tão bom, como o arroz de bacalhau com colorau, e da galinha corada com batatinhas.
Conheci a minha avó só com um dente -, comia papas de milho e sopas de pão duro com queijo de mistura meia cura partido aos bocadinhos amolecido na quentura da cevada. A minha mãe nunca suportou que eu a imitasse, confesso que ainda hoje gosto,uma malga de sopas de café com queijo do Rabaçal!
Gostava de ir ao galinheiro buscar os ovos para fazer gemadas com açúcar amarelo para ser forte, no pensar da avó.Boas as bonequinhas de açúcar que chupava  como se fosse rebuçados. No pequenito quintal enviesado, recordo a flor vermelha das feijocas serpintadas de branco  junto ao jardim da eira, ladeadas de couves galegas e  couve nabo.Prazer de calcorrear os carreiros por entre os leirões ao lado das levadas de água fresquinha... A chegada da civilização com o toque da corneta do carteiro ao cimo da aldeia no Fôjo, em meio tempo ouvia a Ti Rosa em gritaria "oh comadre parece que vejo o carteiro a subir a quelha ", sinal de notícias de Angola, da Titi ou da minha mãe que abusava nas férias no envio de mimos e guloseimas que a avó guardava na pequena arca do seu quarto. Eu à socapa gostava de lá ir espreitar e surripiar qualquer coisinha.Um belo dia fui apanhada, ouvi sermão, missa cantada e ainda sofri um castigo, era inverno a noite caia cedo, obrigou-me a ir ao alpendre buscar lenha para o lume.Assustada ao rebate de xisto da porta abaixo do nível da casa naquela hora parecia maior, ou eram as minhas pernitas a tremer que não o conseguiam subir, lá fora só enxergava uma imensa escuridão e o barulho do vento a bailar nos altos ramos dos eucaliptos.Imagine-se, só havia luz eléctrica dentro de casa.Corajosa, enchi o peito de ar e saí a rezar naquela de partilhar ajuda, "Jesus vai comigo, eu vou com Jesus" e consegui por apalpação encontrar os gravelhos de pinho!
A primeira filha dos meus avós veio à luz no dia 31 de Dezembro de 1911 em plena serra do Mouro, sábado, vinham de fazer a feira em Ansião, não deu tempo para esperar, era a hora, deitada na carroça entre os panos da tenda ajudada pelo pai a vir ao mundo nasceu a Maria Augusta, Maria da Luz, nunca soube, sempre a conheci e amei tratar por Titi, menina baixinha, graciosa de cabelo escuro.Enternecedor o gesto do seu pai meu avô em querer fazer dela uma menina fina, mandou-a para Coimbra estudar, naquele tempo no sótão da casa haviam poceiros abarrotar de sapatos e chapéus, aquela tia foi muito vaidosa no seu tempo de menina e moça. Casamento da Titi na Vidigueira, com chapéu.Teve duas meninas, teimou que a primeira viesse nascer na Moita Redonda, era um bebé grande, sem assistência médica, só a mãe e curiosas, veio a falecer. A seguir nasceu o Carlos, rapaz louro a puxar para o albino, endiabrado, de mau feitio pelos maus tratos à sua mãe, enquanto o pai andava no giro pelo Alentejo, fugia à escola, passava tempos numa taberna à beira do caminho ali ao Furadouro, também a roubar fruta pelos campos com outros rapazes, um dia a mãe encontrou o professor Cardo, e questionou-o sobre o aproveitamento do filho, este espantado respondeu-lhe, "oh mulher, ele não me aparece na escola há coisa de seis meses" enraivecida, cansada de lhe fazer a bucha todos os dias para ele levar para a escola, confrontou-o com o sucedido, este ligeiro respondeu, "oh mãe,eu não preciso de ir à escola, até lhe digo, sei mais, do que o professor"!Tiveram sete rapazes. A seguir nasceu o Alberto de parecenças a meias com a mãe e o  pai -, bonito, de olhos para o esverdeado, lírico, poeta, na quaresma punha-se dentro do poço do engaço a tocar concertina, a mãe beata, se o ouvisse batia-lhe, tal a afronta. Parado ao rebate da eira olhava para a Portela, para  enxergar a sua amada...Com quem casou e tiveram duas lindas filhas.
Tia Clotilde
Seguiu-se a Clotilde, mulher esperta para o negócio, morena a reivindicar heranças de moira por parte de mãe era de "olhão e veia para o negócio"aprendeu costura e bordados nos Cabaços.Teve um namorado rico do Carregal, já tinham as casas quase feitas, chatearam-se, ela deixou-o.Foi para Angola e ai casou com o Américo Fernandes, seu vizinho da Horta, e tiveram 3 filhos. A Rosária era loira de parecenças ao pai  de genes dos foragidos das invasões francesas que por aqui passaram, no seu tempo já tirou o 2º ano e foi Regente escolar na escola de Albarrol onde esteve com a minha mãe que com ela andou em roda viva.Não teve filhos, todos os sobrinhos são afilhados menos eu!
Foto no adro de Pousaflores no dia de festa, o meu tio Alberto Lucas, a Clotilde, a minha mãe, pequenita junto da fogaça, a Rosária , Zaira, e a Maria Augusta a Titi. Na frente de chapéu, fato e colete, de mão a ir ao bolso o outro irmão Carlos  Lucas, de feitio arisco, nada dado a estas modernices...A Titi de chapéu!
A minha mãe pequenita com a irmã Clotilde de vestido branco e laçarote 
Em tempos de menopausa nasceu a minha mãe - Ricardina, a mais bonita de todos, loira de olhos verdes, e muito branquinha, até diziam..."tão linda, quem havia de dizer que é filha da Ti Luz", menina na mão das bruxas recebeu muitos mimos,o pai pela altura das festas gostava de as presentear com um bom tecido para fazerem vestidos novos, as mais velhas com ciúmes, diziam que a minha mãe não merecia, ainda era pequena, naquilo o meu avô respondia,"é para todas igual, são todas minhas filhas".

A minha mãe sempre foi muito bonita!
Desde a primária andou com a casa às costas para estudar, primeiro com a irmã Záira por Albarrol e Maças de D. Maria, depois com o primo Zé Lucas em Santiago da Guarda e Ansião. A casa dos seus pais o pronúncio de casa farta, rica, a mais abastada e maior no seu tempo na aldeia de Moita Redonda, muito castiça para a época e grande com três entradas. Do lado do quintal havia um grande alpendre com o chão em terra com porta  para uma saleta com uma janela, só me lembro que tinha uma mesa, desta fazia-se a ligação para a cozinha e para o corredor de acesso à casa de dentro. Cozinha pequena de janelo virada ao sol, sob este a pia em laje vermelha de lavar a loiça, sob o lume uma grande panela de ferro com água fervente.Enorme chapéu da chaminé para curar os enchidos, do outro lado uma parede em tabuado onde se guardava a lenha e o banco corrido onde se sentou em tempos o meu avô. Ainda os tripés e a tripeça para nela se comer ao aconchego do lume. Já no lado poente a escadaria em pedra dava acesso à porta principal da casa, onde nascia um corredor, do lado direito a famosa sala da varanda com muitas janelas num convite de lazer apreciar floreiras de madeira carregadas de begónias de todas as cores, uma mesinha oval feita pelo meu tio Alberto, cadeiras de encosto à parede  e uma grande arca em madeira que servia de cama quando era necessário, nas paredes fotografias -,uma com a minha mãe com 18 anos, soberba envergava lindo vestido onde sobressaiam os seus belos cabelos compridos. Outra das entradas da casa ficava a nascente onde rompia outro corredor que ladeava um quarto de cada lado -, um dos rapazes e o outro das raparigas, ao fundo a sala de jantar e o quarto da minha avó onde eu dormia com ela. Da sala ainda me lembro do louceiro com pedra mármore muito bonito, a fazer parelha com outro com espaldar e grande mesa oval , mobília comprada pela minha Titi, quando a avó faleceu tinha 9 anos, esta levou-o para a sua casa, mais tarde foi para a casa da minha prima Isabelinha por esta também se encantar com antiguidades, ainda a vi na sua casa em Leiria, não posso deixar de lembrar o rocambolesco episódio passado com esta  minha prima ao perguntar onde era a casa de banho-,a avó coitada, olhou para ela e num gesto de olhar e com as mãos mandou-a ir ao quintal, há muito que a retrete de madeira que o tio Alberto fizera tinha caído, menina habituada a casa de banho e a folhas da lista telefónica, ali teve de se desenrascar ao léu e com um telhito... Boas lembranças invadem o meu estar das noites à lareira, ouvir o crepitar das carcóvias dos pinheiros e dos galhos dos eucaliptos, sentadas em tripés, comíamos a janta da mesma palangana de faiança sob uma tripeça, empunhávamos garfos de ferro com cabo de madeira, bebia-se um copito de vinho com sabor esquisito, por lá chamado "coveiro",umas passas de figo pingo mel, nozes, ainda um pixel de abafado!
O que eu gostava depois da janta beber um pixel de abafado, servia para aquecer o corpo naquelas longas noites frias de Dezembro.
Dormir na cama de ferro, com mantas de trapos feitas no tear e cobertores de papa às riscas da Guarda. 
A casa entrou em declínio com a trombose que o meu avô sofreu no início de 1950. Rapidamente tudo se esfumou, não teve nenhum dos seis filhos que continuasse o negócio de família naquela casa. Cada um se governou como pode. A minha mãe, só tinha 18 anos quando o pai faleceu, andava a estudar em Ansião no Externato António Soares Barbosa.A mais decidida das irmãs, arrancou os móveis da loja e deu-os ao irmão para a sua nova loja em Pousaflores . Apoderou-se da casa uma tristeza, dizimaram tudo o que havia e ainda deixaram a minha pobre avó na ruína com uma dívida de doze contos na altura.Foi o meu pai que nesse tempo lhe arranjou uma espécie de reforma para ela sobreviver. Voltar àquela aldeia e confrontar-me com tamanho abandono parada a olhar a quelha que lhe dava acesso sem ser limpa, em frente à casa no ribeiro, o meu tio Alberto tinha feito um dique que servia de ponte e açude a caminho das Hortas, e à mina férrea para cozer os grelos e o aferventado, ficarem verdinhos, nada quase hoje existe, tudo é muito desolador. 
Casa da Lenha no sopé da Nexebra que foi da avó Rosa do meu marido-, dentro dentro dele irrompe o xisto em fúria!
Saudade de tomar banho na frente da casa da lenha da Ti Rosa, onde o ribeiro se espraiava no baixio depois da descida, lembro das figueiras enfezadas e pedras brancas para lavar a roupa trazidas da serra do Anjo da Guarda. O que eu brincava na pia  de pedra no acesso ao quintal e entrada da casa com raminhos de oliveira, outrora nela o macho  e a mula saciavam a sede. Hoje metade do quelho está alcatroado. Ao tempo houve quem vomitasse desculpas, com a quina da casa dos meus avós, alvitrando que a máquina não passava -, pura mentira, o terreno até ao ribeiro dá largura, o problema foi com a vizinha Maria, casa sita ao início do quelho, que não deixou alargar por causa de um poçito. Infelizmente já faleceu, mas bem se aproveitou do empreiteiro, que obrigou que lhe fizessem os degraus em plena via e ainda as valetas cimentadas, que o mesmo preceito não foi feito a outros moradores, e o deviam. A seguir à sua casa ficava o típico balcão de acesso ao barracão que foi da avó Rosa, do meu marido, tendo sido retirado, com a menção de fazerem uma escada e nada fizeram, estando sem acesso à alta porta. O certo era a estrada ser alargada às imediações do ribeiro para em caso de incêndio, os carros poderem passar ficando ao cimo do quelho ou beco um  farto largo para manobras.
Ao tempo a Junta,  falou da intenção em calcetar o resto do quelho, mas até hoje nada fez!
Ao fundo o mítico largo ao ribeiro, onde o táxi me deixava. 
Quis a sorte que a minha mãe por herança recebesse um terço daquela casa. No entanto por razões que agora não interessam a vendeu a outra irmã que tinha sobre ela o maior quinhão. Desígnios e lamentações que nos custam ainda hoje aceitar!
Se a minha mãe a tivesse comprado em vez de a vender...só sei que hoje estaria  recuperada como só ela durante anos demonstrou saber e gostar de fazer, nas várias que possui.Adora fazer obras, um fascínio que tem em preservar e de criar. 
Aquela casa morreu de pé como as árvores, depois da derrocada do telhado, do soalho e das paredes apenas a chaminé sobressaia naquele espaço de completa ruína. Ficaram ainda no quintal a velha laranjeira,o pessegueiro,a nogueira, a tangerineira e o sabugueiro que ainda teimam continuar de pé. O pior? O imenso emaranhado de silvas e rosas de silvão a fazer lembrar as rosas de Alexandria muito cheirosas entrelaçadas na imitação copiosa de desenhos em cúpulas a subir em direcção ao céu, as preferidas da minha avó Maria da Luz!

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

O festival d' Rey Chicharo em Alvaiázere!

Alvaiázere 2009 !
Ao apreciar uma das montras dei de caras com um forasteiro que se excedia dizendo à boca cheia para a comitiva que o acompanhava-, "os pratos expostos são da loja dos chineses"...
  • Vi-me na obrigação de intervir à laia de repor a verdade-, respondi, são velhos pela gordura entranhada na massa -,  são pratos da Fábrica de Sacavém, tenho iguais, ao que de imediato se desculpou. 
Na feira de velharias encontrei uma agenda do meu ano de nascimento que comprei.
Degustámos saborosos pastéis de chícharo por sinal muito bons.
  • Apreciei a mostra fotográfica dos vários Fornos de Cal espalhados pelo concelho que sempre fizeram parte do meu imaginário. Durante anos achava que teriam sido minas de gesso ali por terras de Almofala, Portelanos e Bairro nas imediações de Chão de Couce. Pena de estarem todos ao abandono, seria uma rota turística de interesse juntando os sabores da serra, falo dos tomilhos por ali conhecidos como erva de Santa Maria.
Um prazer que tantas vezes usufruí na minha rota de viagem ali na Cortiça , o cheiro é tão forte tão agradável que vejo-me forçada a parar só para contemplar e respirar...
Não vi nada alusivo à Quinta da Cortiça-, casa solarenga com pequena torre de menagem.
 
Caminhando pela vila descobri a exposição de "Alminhas" espalhadas pelo concelho, algumas minhas conhecidas, ficou a curiosidade de conhecer a freguesia de Rego da Murta, que dela apenas conheço a estrada em direcção a Tomar . A freguesia é cortada por esta via, ficando a componente histórica a lembrar os templários um pouco mais afastada da estrada, será um dos meus próximos passeios com certeza.
  • Mais montras, algumas muito bem decoradas ao tema do rey chícharo.
Mostra do ritual da ceia : bacias de faiança, há sua roda todos comiam,cada um com o seu garfo de ferro e cabo de madeira, couves migadas aferventadas embrulhadas em migas de broa e chícharos, tudo bem regado em azeite, o conduto um dente de alho a puxar o tintol e sardinha assada ou chouriça.
  • Já a acusar o cansaço vimos a ementa do D. Sancho, não tínhamos muita fome decidimos jantar numa tasca na rua principal em frente ao coreto, a comida era bem confeccionada, migas de chícharo com entremeada assada e feijoada de chícharo, o vinho era da região -,17 graus uma pomada,a sobremesa tarte de chícharo a lembrar o pastel de feijão cafés e aguardente velha.
Saímos e demos mais outra volta de reconhecimento, ainda fiz umas compras na feira de artesanato estavam alguns expositores abertos, os figos secos no saquinho de serapilheira eram deliciosos, havia-os para todos os gostos rematados por tecidos alegres a lembrar a chita de outros tempos, comprei uma rodilha minúscula a lembrar o meu Sporting e sabonetes de cheiro, havia obras de bordados muito bonitas, cestaria, muitas outras coisas, para se ver e comprar. Estava na hora de ir embora .
  • Um comentário construtivo:Acho que o povo tem de estar mais entrosado neste tipo de eventos que publicita a sua terra, devem ser mais intervenientes, participando nestes dias de festa comendo fora, andando mais na rua numa mostra de alegria e vontade de agradar aos forasteiros, motivando todo o concelho . Um reparo, se nas alturas de eleições é sabido que algumas câmaras vão buscar as pessoas às aldeias para votar porque razão nestas alturas o procedimento não é o mesmo!
Assim, sim, todo o envolvimento seria salutar e mantinham-se as tradições com o rigor dos mais sábios, os velhos, os que no tempos de outrora comiam chícharos à ceia e à janta...

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