quinta-feira, 15 de setembro de 2016

A Capela da Senhora da Orada na Granja de Façalamim, em Santiago da Guarda

  Nossa Senhora da Orada
 
 Excertos das Memoria Paroquias (...) «A dinamização da colonização do território de Façalamim 
 pelos cónegos regrantes de Santo Agostinho na sua granja deu origem a Casais em 1141 e, mais tarde, a lugares e aldeias, gerando a necessidade de se edificar uma ermida ou uma capela e, posteriormente no século seguinte é fundada em 1259 uma pequena igreja ( hoje capela da Orada) que nesse tempo se chamava "Senhora da Hora" e foi matriz de Santiago da Guarda até ao século XIX» . 
«Segundo Frei Nicolau de Santa Maria, cronista dos cónegos regrantes de Santo Agostinho, quando D Afonso III lhes fez a dação do Padroado da Igreja da Magdalena de Portalegre no anno de 1259», ficou este mosteiro « sendo Padroeiro de sete Igrejas, que se lhe annexárão»:Santo Estevão de Castelo Viegas, «Nossa Senhora da Hora de Façalamim...e»
 
(...) «A igreja de Nossa Senhora da Hora ou da Orada não aparece no «Catalogo das Igrejas»de 1320-1321, nem nos vários censuais conhecidos da Diocese conimbricense do século XIV. E continua ausente do «Lyuro das igrejas que ha nesta correicam...» 

ORADA

Foi visita  pastoral ao Arcediago de Penela , Seia e Vouga em 1651. 

Secretário do cabido de Coimbra , o Dr. Manuel Rodrigues Paz, em 1652.


(...)« A 30 de abril de 1758, o cura da Freguesia de Nossa Senhora da Orada, Padre João Mendes Baptista « Orago he de Nossa Senhora da Expectação (do Nascimento de Cristo) o que também se diz Senhora do Ó e vulgarmente se diz Senhora da Orada».

Verossímil, que o primeiro culto implantado na  pequena cumeada  da Granja, foi pela mão dos primeiros 40 povoadores vindos de norte, entre judeus sefarditas fixados na Galiza e minorias de celtas mouros e outros vindos do mar mediterrâneo. Quem povoou, desbravou, cultivo e defendeu as terras dos sarracenos e da capital do reino - Coimbra. O limite sul do Alvorge fez parte de uma cintura muralhada de defesa com torres de atalaia entre castelos com um conjunto de praças militares - Montemor o Velho, Soure, Pombal,  os castelos Germanelo, Penela, Miranda do Corvo, Arouce, Ceras e Almourol . As torres de  Soucide, Santiago da Guarda, Alvorge, Penela, quase todas desaparecidas, resta  a toponímia em Ansião - Lagoa do Castelo à imediação do Senhor do Bonfim e, em Santiago da Guarda - Castelo (em local diferente da torre medieval de Santiago da Guarda ), ainda o castelo natural da Ateanha,  Castelo no Avelar e na Cabeça Redonda.

Uma lenda do nascimento da Senhora da Orada
" (...) Havia o costume de lançarem, para sítios ermos e bravios, as moças solteiras, quando estas aparecessem prenhas, o que se tornava uma desonra para a família. Certo dia, uma rapariga apareceu com uma grande barriga. Os pais, que não eram muito cultos, mas tinham uma honradez irrepreensível, pensando que esta se havia metido com algum homem, sendo ela donzela, foram deixá-la numa cumeada, bem longe da terra, para que os bichos a devorassem. A rapariga gritava que não podia estar grávida, porque não tinha estado com homem algum, mas os pais não acreditaram. Sentindo-se abandonada em sítio ermo, ajoelhou-se e começou a rezar a Nossa Senhora, rogando-lhe que a salvasse. Ainda antes de anoitecer, apareceu-lhe a Nossa Senhora, e lhe falou:
– "Filha, o que tu tens é uma cobra dentro da barriga, que te entrou pela boca, quando dormias a sesta num milheiral. Vai para casa e diz ao teu pai o que eu te disse. Manda-o ferver leite, numa caldeira e que te debrucem sobre ela; pois com o leite quente a cobra sai. Diz-lhe ainda que, como reconhecimento, quero ser adorada aqui".
A donzela, cheia de medo, lá foi para casa e contando tudo ao pai,  acabou por fazer o que a Senhora tinha ordenado. Quando a debruçaram por cima da caldeira, com o leite a ferver, a cobra saiu e os pais ficaram admirados sem palavra. Viram, então, o mal que iam fazendo e, com todo o povo, mandarem erigir uma capela,  no sítio da aparição da Senhora, que passou a ser invocada como a "Nossa Senhora da Orada". Depois deste milagre, muitos outros a Senhora da Orada fez, sempre para salvar pessoas que estavam em grande aflição."
Possivelmente mais tarde se veio a chamar Senhora da Boa Hora (?) - porque a Imagem é no estado de gravidez, e por isso boa hora no parto num tempo que muita mulher e crianças morriam por falta de cuidados quando se complicava o nascimento. 
Quando falo sobre a Senhora do Ó dificilmente alguém a identifica  no estado de gravidez, na alusão do "O" fechado   simbolizar o ventre.
Nossa Senhora da Orada, hoje Granja 
Nas Memórias  Paroquiais «(...)O donatário da Freguesia de Nossa Senhora da Orada em 1758 era o Colégio do Espírito Santo da Cidade e Universidade de Évora com 71 vizinhos e 243 pessoas.»
 
A Igreja da Orada 
Excertos do Livro do padre José Eduardo Coutinho « (...) a Cabeça da Granja de Façalamim, mais tarde chamado Campo da Orada, a igreja que hoje se conhece por capela da Orada teria sido fundada em 1259 , hoje a capela da Orada é uma construção quinhentista atarracada.»

"(...) uma capela na Granja dedicada a Santo António, de construção setencentista, com rico retábulo de talha dourada, ao gosto da época, com a mesa de altar, em alvenaria revestida de azulejos hispano-árabes do século XVI, provavelmente trazidos  da capela mor da Senhora da Orada aquando da sua reconstrução no século XVIII ." Reaproveitamento da ara do altar, o retábulo em talha dourada, o excedente de azulejos da Orada para esta capela e ainda a Imagem do Santo António que faria parte do espolio da Orada.
 
A primitiva matriz da Orada
No século XVI foram daqui retiradas duas pianhas em pedra e duas Imagens quinhentistas - São Tiago e Nossa Senhora da Graça para a matriz de Santiago da Guarda, onde se mantém.
Atualmente a Igreja da Granja a que se chama capela  por ter dimensões diminutas, ainda assim grande com capela-mor e sacristia  foi no passado  a matriz de Santiago da Guarda, pelo que a meu ver o deveria voltar a ser chamada de Igreja, pela riqueza do lajeado e das sepulturas, e do  seu historial .
Sediada ao alto da pequena cumeada rodeada por outros outeiros igualmente de beleza rara pela nudez dos costados.  
Guarda ainda imagens mutiladas…quem lhes acode antes de possível roubo, perca? Imagem de Jesus Cristo Crucificado; Santíssima Trindade; Apostolo Santiago; S. Sebastião, Santo Antão, Nossa Senhora do Rosário e,... Quanto à Imagem de Nossa Senhora da Hora encontra-se desaparecida há poucos anos, depois da década de 80, segundo o Padre José Eduardo Reis Coutinho.  
Com a extinção da freguesia de Nossa Senhora da Orada em 1850, o seu território foi anexado à freguesia de São Tiago da Guarda.
Merece incremento o que resta do seu fausto espolio mutilado a merecer restauro para exposição em 
ala museológica 
No Museu concelhio que tarda abrir . Algum espólio, como o Santo Antão foi da capela jesuíta do paço.
A capela está inserida na Rota do Caminho de Santiago de Compostela e da Roa Carmelita.
 
Apresenta-se o átrio lajeado, com frestas de lado, e o típico beirado português, de rico interior.

Capela -mor da igreja da Orada
Apresenta-se separada do corpo da igreja por um arco de volta perfeita, simples em abóbada com dois arcos cruzados de motivos  "Manuelinos"  pintados que se fecham em medalhão ao centro.
Desolada com o  pobre altar da igreja da Orada, imaginava-o eloquente, apresenta-se em retábulo de madeira com pintura  polícroma; azul e branco com filetes dourados, setecentista e, o orago com a Imagem de Nossa Senhora com o Menino ao colo será a Imagem de Nossa Senhora do Monte do Carmo? Fechada em oratório ladeada por duas tábuas que não distingui as Imagens, e em baixo ao centro o sacrário.
Não é por acaso que estranhei o retábulo da Senhora da Orada ser simples e pobre. Supostamente foi retirado o bonito e posto um novo simples, sem aparente riqueza  numa das últimas requalificações, quando transitaram materiais sobrantes para a capela de Santo António.(?)
 
Inventário Artístico de Portugal de 1955
Referencia a Imagem de São Tiago no Livro das Memorias Paroquiais Setecentistas.
Frontaria da igreja da Orada
Apresenta-se empobrecida de simplicidade para tanta antiguidade!
O último grande restauro foi perpetuado pelo Padre Ramos em 1966, conforme placa existente na capela .Nessa altura foram encontradas ossadas junto da parede lateral a sul da igreja,  segundo a cicerone que me abriu a porta da capela o Padre Ramos as mandou tapar. O que evidencia que as sepulturas dentro da capela respeitam a pessoas mais importantes , até o povo diz que os dois últimos bispos que morreram no Paço aqui foram sepultados junto do altar mor e, no adro o povo e serviçais . Destaca-se acima da pardieira duas pedras soltas não se sabe o que foram, para que serviam. Sendo bem visível que existe outra pardieira aposta  abaixo, e entre as duas uma fresta estreita na horizontal, pode evidenciar resquícios de uma construção antiga, ou não Quanto ao óculo  ao centro será original (?), para dar claridade e arejamento era habitual em construções antigas. A "Cruz" muito simples parece ter sido feita aquando da última reconstrução .
Fachada a poente
O átrio da frontaria ladeado por mural e chão lajeado pode ter sido no passado coberto por telheiro ou não, o  que pode evidenciar uma construção ao estilo simples, mas ter sido ao estilo romântico/gótico na altura da reconquista cristã,  em que estavam no auge as pinturas em tábuas e na escultura, as Imagens quinhentistas e chão lajeado.Desconheço se a igreja sofreu com o terramoto de 1755, na verdade a maioria do que existe nesta igreja é dessa época setecentista.Acredito que esta  igreja com sacristia foi no tempo consequentemente restaurada que lhe deu a imagem hoje conhecida de fachada simples, mais baixa  e quase sem evidências da sua antiguidade, se mostrando o habitáculo do sino (lamentavelmente foi roubado há pouco tempo) grande, em relação à igreja. A existência de duas pias de água benta; uma na entrada como é habitual e outra na capela  mor dão a dimensão do que foi no seu passado, a primitiva matriz.
Existência de contrafortes no tardoz 
Evidenciam a antiguidade. No concelho de Ansião, que eu conheça, só se encontram aqui e no Bairro de Santo António, resta  um da que foi a segunda estalagem na centúria de 400 .
Olhando à volta do seu exterior é bem visível marcas de alicerces em pedra, que se estendem ao longo da parede lateral e a sul , mais largos do que a atual parede e no tardoz a existência de contrafortes usados na época medieval. Evidencia várias reconstruções sofridas ao longo dos tempos .
No tardoz visível ao nível do chão os alicerces antigos de grande largura , cuja parede pode na reconstrução ter sido ou não adiantada .
 Arco sineiro, sem o sino
Infelizmente roubado...
Duplo beirado português
A igreja ostenta o antigo  duplo beirado português  acrescido do novo  triplo.
A capela mor apresenta frestas antigas para iluminação.
Sepulturas no interior da Igreja da Orada 
Mostra-se belo de chão lajeado com numerações esculpidas  na pedra . 
 
São notórias várias pedras de sepultura identificadas pelo  Padre Coutinho no seu livro de 1986
Corrobora a minha curiosidade desde pequena que me intrigavam  numerações semelhantes na capela do Bairro de Santo António, em Ansião. Seguiram-se mais tarde as da igreja da Torre de Vale Todos e Degracias. Há poucos anos correlacionei seriam sepulturas, cujos livros de assento no tempo desaparecem .
 
No Congresso de Alvaiázere, houve alguém licenciado em Historia, de Ansião, QUE FEZ PLAGIO ÀS SEPULTURAS COMO FOSSE SUA A AUTORIA.
Na apresentação do livro fiquei em choque com o elogio dado em publico...POR ACDEMICO QUE DESCONHECE A NOSSA  HISTORIA LOCAL..

Excertos do Livro do Padre José Eduardo Coutinho " (...) é uma construção quinhentista atarracada; no adro e no corpo da igreja, todo lajeado, são notórias bastantes pedras de sepulturas; tem dois altares colaterais, um do Espírito Santo, outro de Nossa Senhora do Rosário, ambos com os frontais e flancos revestidos de azulejos hispano-árabes, do século XVI, porém, somente nas ilhagens voltadas para o eixo mediano do monumento, dado que as outras não existem, por os ditos altares estarem, por falta de espaço,apostos às paredes laterais (...) E tem um altar lateral, das Almas do Purgatório , com tábuas alusivas polícromas setecentistas, com a Imagem de S. Miguel sob um arco de cantarias lavradas, setecentistas, e ornadas com motivos vegetalistas e geométricos pintados em tons cinzento e vermelhos, principalmente."
Altar lateral das Almas 
Púlpito
De formato quadrado encrostado em coluna de pedra com pinturas que não sei a razão, o seu significado, o que querem transmitir.Na lateral onde é o acesso ao púlpito a inscrição " P.E CVRA / M.EL MENDES. M / ANDOV. FAZER. / ESTE PULPITO. / A SVA CVSTA. NO / ANNO. DE. 1702"
O que me chamou logo a atenção foi a data esculpida, porque de latim não percebo nada, mas dá a perceber que foi um Manuel Mendes que mandou fazer este púlpito à sua custa no ano de 1702.
Términos do arco da coluna
Ao se abrir a portada de acesso ao tardoz do altar se repara na originalidade da coluna que evidencia ter sido pintada tal como o arco do altar das Almas (?).
Na capela mor a pequena pia de água benta com a data esculpida  de 1729.
Possivelmente esta pia esteve antes encastrada na parede lateral a sul, visível numa foto  e com a alteração de mobiliário acabou sendo posta aqui na entrada da sacristia
 Na entrada da capela outra pia de água benta
  S. Sebastião na Orada em Santiago da Guarda
Imagem mutilada, ainda assim de rara beleza por se mostrar ingénua na expressão do olhar na expressão da boca e do atilho com nó à cinta.
 
Grande no concelho a adoração ao S. Sebastião 
Se atender ao número de imagens em igrejas e capelas no concelho. Soldado romano, mártir, revela a forte vivência romana na região há mais de 2000 anos- em prol hoje o mesmo  culto a Santo António  .O culto  a S. Sebastião no concelho de Ansião ainda se pratica em Albarrol. Contudo existem outras Imagens na Igreja de Pousaflores,  Capela de Nossa Senhora da Orada na Granja, Igreja do Alvorge, mas também existiu uma na primeira igreja de Ansião que já existia em 1293,onde no atual cemitério, que foi o chão dessa igreja, foi encontrado o suporte com os pés de uma Imagem do S. Sebastião, segundo o Livro do padre José Eduardo Coutinho.  Não sei se haverá outros locais de culto no concelho de Ansião à Imagem deste Santo . Também é venerado na Cumeeira e, na curiosa ruína da Igreja de S. Sebastião na Atouguia/Ourém, que muitos de nós por certo a conhecemos por estar inserida no trajeto da peregrinação a Fátima, ao tempo enquadrada na antiga rota da estrada real e romana a mesma que passava pelo concelho de Ansião no tempo atestada no culto ao mártir S. Sebastião como símbolo da premissa e dor do povo na luta contra os sarracenos, mal se viram livres deles o culto ao mártir foi-se perdendo e descontinuado  em prol da veneração a outros Santos que emergiam, no meu opinar.
 
S. Sebastião na Atouguia /Ourém
 
Azulejos hispano - árabes
Fascinante o revestimento dos dois altares laterais do século XVI em azulejos hispano-árabes, relevados em tons de policromia; verde, azul, castanho escuro e castanho claro.
Azulejos mouriscos  que outros assim iguais só na capela de Santo António na Granja daqui levados no dizer do Padre José Eduardo Coutinho e digo eu a Imagem de Santo António também.
Contraste do adro da Igreja da Orada 
Calçada portuguesa envolta de muros de pedra seca onde outrora foram sepultadas pessoas...
Há que alterar a sinalética para Igreja da Orada.
Há que se investir. E a Granja está em franco crescimento turístico!
Por isso é necessário INVESTIR EM SEGURANÇA!



Os meus recados
O que deve ser feito para preservar o património?
Quero acreditar que o seu espólio esteja inventariado, estudado e fotografado.
Quero acreditar que a Igreja esteja protegida por sistema de alarme sofisticado, por estar implantada  na cabeça da cumeada em local quase ermo...
Quero acreditar que existe estudo para fechar todo o seu adro tendo a entrada portão devidamente eletrificado para evitar possíveis assaltos ou vandalismo.
Aos fins de semana e feriados deveria ter pessoal que se revezasse para a mostrar, sendo a entrada paga, para ajudar a suportar os honorários com quem se disponibiliza para prestar o serviço, e para ajudar a custear as despesas extras .
Porque  quem não sabe tomar conta daquilo que é seu toma bem conta do quê? 
Depois de casa arrombada trancas na porta?
Não vi afixado letreiro da proibição de fotos.
Cato que floresce apenas num dia se apresenta de belas flores, não seja motivo para o esquecimento da história deste local ancestral carregado de história com estórias para contar.Quem de direito tem a incumbência e dever de preservar para as gentes vindouras.

FONTES

Wikipédia
Livro Noticias e Memórias Paroquiais Setecentistas de Mário Rui Simões Rodrigues e Saul António Gomes
Livro da Monografia do concelho de Ansião ( Perspetiva Global da Arqueologia, História e Arte da Vila e do Concelho ) do Padre José Eduardo Reis Coutinho
http://digitarq.adlra.arquivos.pt/details?id=1021782
http://lelodemoncorvo.blogspot.pt/2014/03/igreja-de-santiago-maior-matriz-de.html
https://www.jornaldeleiria.pt/noticia/uma-rua-direita-torta-e-uma-carreta-cheia-de-terra-de-pombal-4823

sábado, 10 de setembro de 2016

Casa Museu dos Fósseis na Granja em Santiago da Guarda

A Granja em Santiago da Guarda oferece ao visitante belas paisagens de pequenos outeiros ou cumeadas, guardadores de fósseis marinhos, ainda hoje se mostra fértil em área demarcada abrangendo o Rabaçal, graças à  qualidade argilosa e calcária que os protegeu nos milhões de anos . 
Outeiros, cumeadas e muros de pedra seca
A Granja foi sede da Vintena da Cabeça de Façalamim com a sua pequena igreja, a matriz de Santiago da Guarda, hoje Capela de orago a Nossa Senhora da Orada.
Desse tempo resta a ruína do que foi o Paço dos Jesuítas com o seu Seminário, casario dos serviçais, a lembrança da Forca e a Casa da Roda.
 
Publicado no Jornal Luz Boletim Interparoquial  da Paroquia de Santiago da Guarda, segundo testemunho do Padre Armando Duarte «Com a abolição da paroquia de Nossa Senhora da Orada, o seu território não foi totalmente integrado em Santiago da Guarda . O Outeiro, que lhe pertencia, ali ao lado foi integrado no Alvorge.»
 
A nova centralidade com uma nova igreja matriz  instalou-se a sul no coração de Santiago da Guarda, perto do que foi o Paço dos Condes de Castelo Melhor,  junto da torre medieval, onde foi descoberta  uma vilae  romana.
 
Uma bela flor em vermelho quente a dar as boas vindas à Granja
O meu conhecimento primário com  fósseis
Ao Ribeiro da Vide, em Ansião, no muro da casa de Fernando Luís, julgo natural do Vale Perneto ou das imediações, para ali foi morado depois de casar com a Tina Parolo, os trazia quando andava caçadas - uma concha enorme e um aglomerado de calhaus rolados em arenito amarelo torrado, e depois na escola designados  "pudim" e os toscos "brecha" como a que existe na serra da Arrábida, proibida a exploração. Em adolescente no quintal dos meus pais no Bairro de Santo António encontrei uma pedra branca com um caracol esculpido, uma amonite e um pendente em calcário, com orifício, feito pelo homem, o único que ainda guardo... recordo o meu pai ter trazido do Vale da Avessada um fóssil de uma grande concha, com mais de um quilo... anos mais tarde a minha irmã sabendo do meu gosto por pedras, fósseis e velharias quis presentear-me com uma nova visão das coisas que eu gosto e levou-me ao Rabaçal, a uma casa secular cheia de coisas antigas e de fósseis jamais vistos e ainda pedras da região esculpidas pelo homem e outras pela erosão com aspeto gracioso, como um cordeiro que ostentava no seu jardim. Por fim a visita em Torre de Moncorvo, ao Espaço Museológico da Fotografia do Douro  Superior , do meu amigo o Prof Arnaldo Duarte da Silva, onde há semelhança da casa no Rabaçal encontrei os mesmos artefactos do neolítico produzidos pela mão do homem, pénis em pedra, embora no Rabaçal a escultura fosse completa .

Casa Museu dos Fósseis na Granja  
 A primitiva casa em pedra foto do Sr Padre Manuel Ventura Pinho
Teria sido o palco da Casa da Câmara, de sobrado com janelas de avental muito semelhante à da Sarzedela e à da Cabeça do Bairro, em Ansião, que ainda conheci.

Acompanhei as obras de reabilitação  que foram longas

                                     

 

                                          
                
 
Há muitos anos que ouvia falar dos fósseis em Santiago da Guarda.Nos últimos anos por duas vezes me desloquei ao local, mas a casa estava sempre fechada, tive sorte no dia 15 de agosto de 2016  estar aberta onde encontrei um colega de profissão, reformado, no papel de cicerone.Neste dia especial aberta pela carolice de alguns e do Sr Padre o ter publicitado na missa. O meu dia de sorte.
Segundo o Sr Padre Armando Duarte « A casa-museu não abre quando a padre faz “um anúncio na Missa”. A paróquia não tem meios para mantê-la aberta. Seria muito bom que o assunto fosse pensado a um nível mais oficial, mas pessoalmente a minha intervenção terminou, pois há muito que aqui não estou.Mas, o espaço do Conde Castelo Melhor, em Santiago da Guarda, acompanha a visita a quem pretenda.»
Casa Museu dos Fósseis
Segundo fonte o Jornal Serras de Ansião «A Casa Museu foi adquirida pela Paróquia de Santiago da Guarda, a sua recuperação foi ao abrigo de projecto Lider + da Associação de desenvolvimento "Terras de Sicó", com apoio da CM de Ansião e da JF de Santiago da Guarda, segundo o seu mentor o Padre Armando Duarte um investimento de 80 mil euros custeado por essas entidades.»

A Casa-Museu de arquitectura do séc XVII, preservada com a finalidade em potenciar a pré-história da região da recolha de espólio paleontológico para expor a coleção que se encontra patente.
Preservada a cozinha tradicional e o quarto, em representação das artes e ofícios da terra.
Bom aproveitamento dos absides de concavidade, as chamadas prateleiras em pedra escavadas nas paredes, de muito uso na região, pela falta de móveis e aqui de novo na função para expor coleções. Valioso espólio paleontológico, julgo na totalidade (?)encontrado pelo Padre Armando Olívio Duarte, homem nascido no concelho de Ansião, na Constantina, quando foi pároco em Santiago da Guarda.
A Casa inaugurada em 2007 deve-se  à sua iniciativa cultural, espírito e vocação arqueológica e histórica, mas também pelo prazer da partilha ao mundo de tão vasta mostra fóssil da região com cerca de 150 milhões de anos, tendo sido apoiado pelo Centro de Juventude de Santiago da Guarda, o que me foi transmitido pelo colega João Santos.

Excerto do Jornal informativo da Diocese de Coimbra de 5.6.2007« No dia da inauguração o Padre Armando Duarte considerou que os fósseis "são um convite a descobrir não apenas a beleza da criação, mas, ao mesmo tempo, também, a grande dignidade da natureza humana" realçando que a recuperação e valorização destes vestígios conduzem à descoberta de "um sentido mais belo para a nossa existência". Referiu ainda que esta obra, a Casa-Museu de Fósseis de Sicó, "se insere no plano da nossa diocese", nomeadamente no capítulo do "diálogo da fé com a cultura", que segundo o documento tinha como objectivo: "estimular os cristãos a assumirem, de acordo com as capacidades e talentos, as suas responsabilidades nos meios da cultura, da informação e da acção social como contributo importante para a construção do reino de Deus.

Já D. Albino Cleto, afirmou-se alegre com a inauguração desta obra "porque sendo uma actividade cultural, mostra que a Igreja está atenta, não apenas esteve, mas continua a estar a tudo aquilo que é valor humano".
De referir que no futuro se espera que esta Casa/ Museu de Fósseis proporcione a oportunidade de estudos científicos para melhor identificação e catalogação dos fósseis expostos.» 

Mostra fóssil
Boa recuperação das paredes em pedra da casa com dois belos cadeirões, não sei de onde os trouxeram, supostamente do solar do Visconde da Várzea (?)...
 Cozinha recuperada com a lareira e o forno
 A lareira

Os utensílios da época que tem sido recolhidos e outros oferecidos
 O banco que servia para assento e para guardar a loiça
Quarto 
Com a mesa para escrever e ler, não falta o penico, o lavatório, o cabide com as saias que mal se chegava da missa se tiravam e deixavam penduradas para o domingo seguinte, o mesmo do lenço da cabeça,  lençóis alvos de linho com  bainhas abertas, toalha com bordado Rechilieu, não falta a manta de trapos tecida no tear, o terço, os quadros com os Santinhos...debalde houve  fotos que ficaram mal...

 Tapetes de trapos, uma obra de arte, ainda viva na região, a trapologia
O oratório sempre presente nas casas
Uma sala cheia de fósseis
Foto  tirada da janela da Casa dos Fósseis 
Onde se destaca  a Casa da Roda do lado esquerdo, a casa mais baixa  com a janela pequena onde se deixavam as crianças...
A  coleção fóssil
A que conheci primeiro em casa particular no Rabaçal, muito mais pequena mas com belos exemplos pontiagudos como se fossem agulhas de fiar o linho, em antítese aqui pequenos, para distinguir na coleção da Casa-Museu, a sua grande escala fóssil  e de conchas a encher o olhar...em prol da coleção do Rabaçal, angariada em mulher pastora, de idade e parca instrução, mas de soberbo olhar peculiar para ter angariado tamanha panóplia fóssil, jamais assim vista  e pedras esculpidas pelo homem e pela erosão.De tal forma impressionante que o Director do Museu Rabaçal , segundo me confidenciou, todos os meses se dirigia a sua casa para conhecer as últimas aquisições...Esta coleção que hoje não sei se existe,  a senhora era do Alvorge, entretanto faleceu, desconhecendo o destino que lhe foi dado...sem dúvida era uma grande riqueza do passado pré histórico nesta região, espero não se tenha perdido!

Deixei a Granja emocionalmente feliz com conversa que nunca mais acabava com o colega João Santos, genro da vereadora da cultura da Câmara de Ansião, a Dra Célia, tanta cumplicidade sentida das coisas do Banco vividas , das pedras e fosseis abundantes por aqui e, claro das gentes. Com 77 anos, parece ter 60, colega no Sotto Mayor de Pombal, não nos conhecíamos pessoalmente,  um jovem de aspeto, abençoado de conversa escorreita , fluidez no raciocínio, boa memória das gentes da nossa terra, uma enciclopédia viva, aqui no papel de cuidador da Casa Museu, recuperando objetos doados com outros bons amigos que partilham ainda o papel de Cicerone, só desta forma a Casa pode receber visitantes, e na Granja assisti neste dia 15 feriado de 2016, o dia com mais festas no País, a um movimento abismal.
Estão de parabéns, só gente da terra é que se empenha para o seu progresso, sendo que a ajuda primeira foi do Padre Armando que não sendo daqui é do concelho.
O meu bem haja a todos e continuem a preservar um património de todos nós e do concelho. 
Deixei a Granja olhando os moinhos no Outeiro
 Um fim de tarde maravilhoso num sítio que já conhecia, mas que sempre me encanta.


Há que investir na estrada da Várzea de acesso à Granja, na berma direita forma-se o leito de um ribeiro que só corre de inverno e passa despercebido a quem não conhece o local, pelo  que pode eventualmente despistar-se, por isso deveria a berma ter uma proteção em ferro ou em alternativa ser tapado o ribeiro.Sendo  necessário a criação de estacionamento.

Fontes
http://correiodecoimbra.blogspot.pt/2007/06/foi-inaugurada-casa-museu-de-fsseis-de.html
Comentário do Dr Armando Duarte
Jornal Serras de Ansião

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