Mostrando postagens classificadas por relevância para a consulta agosto. Ordenar por data Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens classificadas por relevância para a consulta agosto. Ordenar por data Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

O milagre da Fonte Santa, em Ansião, celebra este ano 398 anos

Recordo-me em miúda de ouvir falar do milagre e da lenda da Fonte Santa, na Areosa. Em 1984, um grupo de entusiastas da Constantina, reeditou uma versão em panfleto que me avivou as pagelas vendidas por gente vinda de fora nos anos 60, do séc. XX, no mercado da vila, a pregão comovente de desgraças.

Milagre  da Fonte Santa
Cortesia do Renato Freire da Paz
Produzido na tipografia do Pontão Papeltipo 





Quadro a jus de ex voto na capela da Constantina  do pagamento de promessa oferecido pelo avô de Silvina Gomes, José Costa da  Ribeira do Açor em 1910

A Lenda da Fonte Santa descrita por Severim Faria em 1625

«(...) aconteceo, que hum minino do mesmo lugar sonhou que no milho que o pai tinha semeado, nu secco areal lhe dava Nossa Senhora da Paz hua fonte aonde com fé viva se foi pella menham a cauar com asmaõs no lugar em que sonhava e fez verdadeiro, o que todos a quem elle contava o sonho tinha por impossível por ser o lugar em que a fonte saio hum sequíssimo areal e pella mesma razão incapaz de poder ter agoa dentro de si, quis mostrar a Senhora com muitos Milagres que era obra sua por a fama da fonte santa que todos lhe deraõ este nome, acudiraõ muitos géneros de cegos e aleiiados e todos com selavarem com ágoa foraõ saõs, começaraõ todos a fazer esmolaem tanta copia que em menos de hum anno depois do milagre se fez hua Igreja muito grande na qual mandaraõ por as mortalhas muitos que estavaõ para morrer, e outros ia amortalhados, e por intercessaõ desta Senhora forão livres da morte, em sinal de agradecimento da merce recebida, e saõ as que saõ ao presente na Igreja  fora outras muitas vendidas, e outras que estão em casa dos moradores. Succedeo este milagre a onze de Agosto de 1623. Chegamos a Constantina as 8 horas da menham, enquanto se aparelhou a missa fomos visitar a fonte que he hum buraco aberto no areal, e diante tem feito outra pedra, para a qual vem a agoa da fonte milagrosa. Tornaminos a Igreja a sestear aonde ouvimos supicas de vários passageiros feitas a mesma Senhora, depois de passada a calma que naõ foi este dia pequena nos pusemos a caminho, que por ser todo de pedra, e cumprido, chegamos de noite a casa aonde se passou o dia seguinte sê hauer cousa de novo ao outro que foi quinta feira e trese do mesmo mês partimos em Romaria a Nossa Senhora dos Covoes hua legoa distante da Comenda, passase o caminho por Alvaiasere villado marquez de Ferreira pela serra com o mesmo nome Ansiam de trabalhodíssimo caminho por ser tudo rochedo e pedra viva , que nem a pé nem a cavalo se pode andar senão com grande dificuldade» 
Outra versão popular
"Segundo a lenda, se deu a aparição da Virgem, em 11 de Agosto de 1623 junto de uma eira, sob a ardência dos raios solares, estava uma criança a brincar com umas flores campestres, guardando o milho que naquela eira seus pais tinham a secar. Recomendaram-lhe que não abandonasse a eira, mas a criança mortificada pela sede, esquece aquela recomendação e vem a casa pedir água. A mãe irada por a filha ter transgredido as suas ordens, não só lhe não deixou beber água, como a castigou e obrigou a voltar com sede para a eira. A pobrezinha lá foi chorando a sua desdita, e sentou-se na eira junto das flores colhidas já quase secas, como secos seus olhos estavam de chorar. Ninguém ouvia os seus gemidos, ninguém passava que a socorresse, e a infeliz não podendo por mais tempo suportar a sede que a devorava, lembrou-se de Nossa Senhora; ajoelhou, com as mãos erguidas, olhos fitos no céu-, aquele anjo depois de ter pronunciado as primeiras palavras da Ave Maria, vê junto de si, cercada de um resplendor imenso, a Rainha dos Anjos a dizer-lhe: «Não chores filha, procura nessa areia e encontrarás água.» A tremer, a criança, volve com as mãos a areia e encontra logo água cristalina com que matou a sede que a consumia. Poucos momentos depois, passaram por ali varias pessoas que ficaram admiradas de verem a criança a beber água num local onde bem sabiam não a haver horas antes, e interrogando-a, ouvem aqueles lábios juvenis que já sorriam de alegria, contar a milagrosa aparição de Nossa Senhora. A boa nova bem depressa se espalhou por toda a freguesia de Ansião e o povo correu a procurar naquela água remédio para as suas doenças, e levado de santo fervor mandou construir naquele lugar uma fonte de cantaria que é conhecida pelo nome de Fonte Santa em que mandaram gravar a seguinte inscrição: «ESTA FONTE APPARECEU A 11 DE AGOSTO DE 1623» 

Alertada no livro de 1986 do Padre Coutinho por mencionar com aspas “Milagre” da Fonte Santa (…) Ansião, torna-se centro de peregrinações porque a fé popular divulga aos ventos a discutível aparição de Nª Sª no local que, a partir de tal acontecimento, é designado Fonte Santa (…) À fonte logo acorreram doentes, cegos, e aleijados que, ao lavarem-se com aquela água, ficaram curados, e porque faziam esmola em tanta abundância, em menos de um ano depois do milagre se fez uma igreja.” 

Ora, estando perdido o conceito termal romano na região, com ganho do banho islâmico, ao maior órgão do corpo - a pele. Além de a refrescar, respirava e limpava-a de suores ressequidos matando bicheza, percevejos entre outros, dando a sensação de bem-estar momentâneo, fenómeno estratégico que foi usado à laia de água milagrosa! 

Admite-se que a verdade foi contada distorcida ao Chantre de Évora Manuel Severim Faria, na sua visita ao Santuário da Constantina em 1625 “ num seco e estéril monte brotou água no tórrido 11 de agosto de 1623”. Aos dias d’hoje mostra-se credível que foi um fenómeno cársico que fez exsurgir em tempo seco, a água do vale aquífero do Nabão, nas grutas do Bate Água, por forte trovoada em dias anteriores, enchendo o desnível da cota superior da bordadura do maciço. Em 1758, o Marquês de Pombal solicitou a todos os padres resposta a um inquérito. Está perdido o da vila de Ansião. Sobre o do padre Caetano Rodrigues da Lagarteira “ não nasce água alguma de verão ou inverno, só quando o inverno é grande nascem algumas fontanheiras que fazendo sol em 8 dias finda, e o povo delas bebe de poços e de fontes de fora”. Em 1956, no Jornal Regeneração, de Figueiró dos Vinhos “ chuva intensa, com granizo, o Ribeiro da Vide subiu 1,5 metros.” Ciclicamente há grandes trovoadas e enxurradas. Sem estatísticas, nem o conhecimento dos algares, facilmente caíram na atribuição de milagre, pela água que lhes faltava. Parece-me óbvio, que não fora uma intervenção do poder divino exercido sobre a natureza. Realidade aclarada na visita ao poço romano do Minchinho, a farta escadaria termina na medonha boca do algar. O milagre vingou, sustentado pelas comunas da Constantina e a da vila, aportados de Espanha com bagagem cultural, na centúria de 500. Povo laico que profanou a fé cristã, sem a assumir. O termo laico foi usado no preâmbulo do livro de 1996 - A Confraria de Nª Sª da Paz, do Dr. Manuel Dias. Clãs judaicos, unidos de credo na boca, a intuito e engodo à sua acreditação, encapuçado na fé cristã e, embuste ao poder curativo das águas ditas santas. Na verdade enganavam crentes beatizados, sedentos de curas milagrosas que deixavam esmolas, o produto final ambicionado. Visionários e agiotas credenciaram o milagre na estrada medieval com aproveitamento dos viandantes, quem levou de graça a mensagem e a difundiu, atraindo outros a vir procurar aquelas águas e deixar dividendos. Já a água é vida, sendo bênção de boa oferta a todos. Esta centúria foi propícia a análogos milagres; só alguns perduram. 

O milagre da Fonte Santa foi  descrito  nas Viagens em Portugal de Manuel Severim de Faria 1604-1609-1625 Cf. Joaquim Veríssimo Serrão

No Livro do Sr Padre Coutinho de 1986

E no Livro em 2015, do Engº Ricardo Charters d’Azevedo com raízes em Ansião e Maças de D Maria .

Excerto do livro «(...) Manuel Severim de Faria, clérigo nascido em Lisboa(...) Apesar da sua actividade intensa como sacerdote, historiador, arqueólogo, numismata, genealogista e escritor, incide-se especialmente na sua faceta de cronista de viagens, em particular nas páginas 146 e 147 a viagem que fez na companhia do tio Chantre de Évora, de onde partiram e aonde voltaram, para conhecer os santuários da Nazaré, Ansião ( Constantina) e de Nossa Senhora dos Covões em Alvaiázere , sendo que depois de Tomar passaram por Ceiras, narrando a forma como foi recebido em "Maçans de Dona Maria" onde pararam em casa  da sua  irmã alegremente e regalados com contínuos banquetes de diuersas iguarias assi de carnes como de fruitas e pescados" . (...) afirma que a Vila em Agosto de 1625, tem 27 vesinhos e posta em hum pequeno monte donde fica muito descuberta aos ventos, que nela naõ faltaõ. Tem muitas e boas fontes, he bastantemente abundante de fruitas, assi sedo como do tarde, os edifícios são pobres, a comenda della possue hoje D. Cristóvão Manoel, em cuja casa estivemos, 3 feira que foraõ 12 d’Agosto partimos para Nossa Senhora da Paz, que he hua Igreja fabricada de dous annos para qua no termo da Villa de Ansiaão no lugar de Constantina, que será de 50 vesinhos pouco mais ou menos. Era esta igreja antigamente uma pequena ermida  e porque estava falta de imagem pedirão aos d’Ansião lhe desse esta  senhora, que eles tinhaõ na Samchristia, por ser perceito do Bispo, que não tevessem na igreja imagem vestida. Comsedeosele aos da Constantina o pediaõ. Porem  pela muita devoção que os moradores da vila tinhaõ a esta Senhora foi necessário trazerem a Imagem de noite por evitar algûa repugnância, que os  Ansos de Ansião podiaõ fazer se se viraõ despoiados deste tesouro dispois de hum anno, que hauia a Senhora estava nesta hirmida (...) depois de hum anno, que hauia a Senhora estava nesta hirmida acontece, que hum mininodo mesmo lugar sonhou que no milho que o pai tinha semeado, nu secco atral lhe dava Nossa Senhora da Paz huafonte aonde com fé viva se foi pella menham a cauar com as mãos no lugar em que sonhava e fez verdadeiro.


O fenómeno "Milagre" 
(...) Une o povo com a sua fé cristã alicerçada na fé judaica, que também admite milagres.A vida de Jesus é uma sucessão de factos miraculosos, segundo os Evangelhos, desde a sua concepção e nascimento, os milagres realizados na Galileia e em Jerusalém, a ressurreição de Lázaro, a morte e ressurreição de Jesus etc...
Nos anos 90 cumpri a promessa de ir a pé a Fátima que tinha ingenuamente feito em criança...Quando lá cheguei para a pagar é que me dei conta do sofrimento que assisti não pode ser boa paga a Deus e a Nossa Senhora, já basta o peso da Cruz que cada um de nós carrega nesta vida desde que se nasce - porque nuns é de pedra, noutros de ferro,e alguns é de papel ou madeira...Acredito na fé que move montanhas e em coincidências de mão divina, mas longe de dizer e acreditar neste tipo de milagres credenciados desde a centúria de 600...

Para os crentes, as esmolas deviam ter custeado no local uma capela, a perpetuar o milagre

Ainda assim, o foi, mas, na ampliação da pequena ermida da Constantina. Só em 1975, houve o mérito de a erigir no epicentro da Fonte Santa. A capela que se encontra no local a sua execução fica a dever-se ao grande benemérito e amigo, filho da Constantina o Sr. João Santos Pires e sua esposa Graciana Ramos Loureiro que a suas expensas custeou toda a construção em 2008.

João Santos Pires com os irmãos e a esposa Graciana Ramos Loureiro

E, Guilherme da Silva Dias e sua esposa Joaquina Dias, ofereceram para o adro um pedestal com a Imagem de NªSªPaz.

             

Quanto à origem da Imagem de NSPaz, o Chantre relata divergências

(...) O povo da Constantina foi de noite buscar a Virgem à sacristia da matriz para os ansos não se darem conta (…) algumas pessoas mais devotas de NSª, lembraram-se de colocar no nicho da Fonte Santa uma imagem da Virgem e encontrando uma nas ruínas da antiga igreja paroquial de Ansião, em S. Lourenço, mandaram-na pintar e no meio de grandiosos festejos para lá a conduziram e ali se conservou até à construção da capela da Constantina. 

Claro destorcimento. A Imagem da Virgem da antiga igreja de Ansião esteve guardada 32 anos na sacristia da nova matriz. Em roca, não sobreviria a intempéries se tivesse ficado nos escombros, nem cabia no pequeno nicho da Fonte Santa, por não a suportar em altura…A única verdade é que foi pintada. Já antes sugeri que o mentor que a levou para a Constantina, fora o seu juiz, pelo poder detido.

Actual Capela da Fonte Santa e na frente com a estrada a Fonte Santa em pedra


Mina da Fonte Santa , evidencia um poço de chafurdo romano pelos degraus, onde a água brotou em agosto de 1623...
 
Pedra  encastrada num muro de extrema a sul com inscrição coberta de líquenes, difícil lê-la...
Confraria de Nossa Senhora...1937?

O painel azulejar em policromia moderno que achei descontextualizado neste local histórico, a meu ver deveria ter sido pintado em azul sobre branco.
Fonte o lado da escadaria da capela da Fonte Santa

Admite-se que os blocos em cantaria da Fonte Santa e o lintel sejam possível reutilização da antiga igreja por o talhe se assemelhar aos muros do ribeiro da Igreja, a nascente do cemitério – a merecer estudo.

De todas as fontes no concelho, o exemplar mais elegante e bonito retrata-se na fonte de espaldar da Fonte Santa. Apresenta no lanço superior um pequeno nicho ladeado por motivos vegetalistas. Sem manutenção o lado norte há anos em ruina, onde não falta o letreiro (água não controlada) … 

Contraste entre a foto acima e esta
Falta a parte lateral à direita do cruzeiro da fonte conforme a foto documenta. 
A Constantina ainda terra de Canteiros e cantarias deveriam apostar em repor o mural em falta, bem o merece para dignificar o lugar de devoção.
Em Junho de 1905
(...) Devido aos esforços da Confraria de Nossa Senhora da Paz e por meio de subscrição entre o povo da freguesia de Ansião a fonte foi reparada e hoje como outrora na Fonte Santa, corre a água cristalina com que os doentes vindos de toda a parte se curam dos seus padecimentos..., e aos pés da Virgem da Paz, na sua capela da Constantina, todos encontram consolação para as suas mágoas, alívio para as suas dores e a esperança de pela sua intercessão alcançarem a felicidade eterna.
O nicho mostra-se muito pequeno para ter abarcado a Imagem e ainda sem haver proteção... 
 
A base do Milagre foi a falta de água que tanto faltava ao povo
A região é muito seca e árida de verão, a maioria dos poços eram de chafurdo e as ribeiras só correm com chuva de inverno até meados de junho.
Em 1906, a obra foi do mestre de obras, o meu bisavô Francisco Rodrigues Valente do Bairro de Santo António. Houve intervenção no poço e mina, sem prospeção arqueológica, sendo adoçado à fonte um pequeno reservado, onde julgo existe uma banheira em pedra para o banho privado. Ao não caber na porta atual, reporta a reciclagem do culto termal romano.
Não distingui  gota d'água!
A vontade de anos para  conhecer este Lugar que foi importante no passado de Ansião. Lamentavelmente aqui passei uma vez, mas nem há espaço condigno para estacionamento (?). Neste finado mês de setembro teimei parar, ainda bem, pois gostei muito de o conhecer.Desculpem a franqueza mas achei o sítio pequeno, atrofiado pela estrada de ligação aos Netos com outra variante a passar no seu tardoz. Fiquei com a má impressão (?) que no tempo os vizinhos se foram apoderando na largueza dos quintais em detrimento do adro, ao qual já não acorriam peregrinos...Seja o espanto pelo facto de ter vivido a minha infância e adolescência defronte do adro da Capela de Santo António que se mostra muito grande em todo o seu redor e antes foi pertença dos quintais da casa da Câmara e nem por isso na posterior venda alguém do espaço se apoderou...
Inevitável na saída do adro no tardoz da ermida com algumas manobras...
A história de Ansião deve premiar heranças de dolinas cársicas (vulgo lagoas), na maioria assoreadas, poços de chafurdo, fontes, tanques de banho, marcos territoriais e varandas de grade em pedra. O nosso património obriga-nos ao seu estudo, catalogação, preservação e salvação, sem perda de mais exemplares, nem adulteração. Ricos testemunhos do nosso passado a deixar aos vindouros, com clarificação da nossa história e raízes, valorizando o nosso futuro. 

Fontes

file:///C:/Users/HP/Downloads/Ana%20Helena%20da%20Silva%20Delfino%20Duarte.pdf
http://www.ansiao.net/
http://www.geocaching.com/ Reedição Grupo de Jovens da Constantina 1984 (Transcrição do documento original)
Renato Paz com envio do folheto
https://www.academia.edu/10230102/Manuel_Severim_de_Faria_e_a_sua_ida_a_Ma%C3%A7%C3%A3s_de_D._Maria

sexta-feira, 4 de agosto de 2023

Sãozinha, a Santinha de Alenquer, com raiz nobre dos Pimentéis Teixeira de Maças de D. Maria

Crónica com resumo publicado em agosto de 2023 no Jornal Serras de Ansião

Em Lisboa, na feira da ladra, comprei um livro da “Ribeirinha” – Maria Paes Ribeiro, amante do rei D. Sancho I, que lhe doou na região centro, a herdade de Almofala. Trazia uma pagela inglesa de 1947 comemorativa da Sãozinha. Nascida em Coimbra, em 01.02.1923, filha do Dr. Alfredo da Silva Pimentel, natural do Crato, Alentejo, e a mãe D. Maria Luiza Fróis da Silva Gil Ferrão de Pimentel Teixeira, com raízes em Maças de D. Maria.

Pagela

                                   

Gustavo Sequeira no Inventário  Artístico do Distrito de Leiria, de 955 abordou o solar da família dos Pimentéis Teixeira

Considerava que poucos edifícios no norte do distrito eram dignos de destaque, exceto "em Maçãs de Dona Maria, a casa nobre dos Pimentéis Teixeiras, com a capela atinente, exemplar interessante da segunda metade do século XVIII, onde se tocam o barroco e o «rocaille».

Foto do solar do Inventário Artístico de 1955

O brasão indicia ter sido encastrado na cimalha acima da janela na esquerda ainda com uma colunata de apoio. Veja-se a escadaria em meia lua, linda da entrada do solar.

Conheci a vila de Maças de D. Maria nos meados da década de 60, do séc. XX, na companhia da minha mãe, que ali se deslocava a serviço nos CTT.  

A seguir aos correios, recordo a quietude do sussurro da bica d' água no tanque de pedra bordejado de flores e trepadeiras na quinta de portão aberto, onde, de verde, se vestia o profundo vale fetal. Quadro naturalista a rivalizar Malhoa, na bucólica Maças de D. Maria. 
Sem vivalma, a caminho da Fonte do Pereiro, onde enchia a cantarinha de água fresca, em caminho de quintais de altos muros de pedra a encarcerar cerejeiras vestidas de cerise...sem as poder roubar.  
O topónimo Pereiro, de origem medieval, dos judeus aportados à região na centúria de 500. 
                                               
Quietava “bofes de fora” a subir tanto degrau ad alta escadaria a poente para o adro, onde admirava a arte fúnebre do cemitério velho e o Cruzeiro Filipino. 
Ao terreiro da feira, de novo perdida em minutos gordos, nas cantarias do solar em abandono da nobreza rural e, da  capela dos Pimentéis Teixeira. Garbosa arte de lavrante , jamais antes vista, logo me reportaram para as golas das camisas dos 4 mosqueteiros, a minha serie televisiva favorita. Outra pintura naturista de rara beleza pela imponente ruína a espraiar-se na vastidão serrana, a salpico aldeão, debalde, sem camélias a imitar Figueiró dos Vinhos!

A Câmara Municipal de Alvaiázere

Dignificou a capela e a frontaria do solar exaltando as cantarias onde enquadrou um Auditório, a Junta de Freguesia e jardins. 

Em 2015 a efeméride dos 500 anos da atribuição do Foral
Maçãs de D. Maria é terreiro de gentes que teimou não deixar passar a data da comemoração dos 500 anos do seu Foral . O exaltou em brio, com monumento evocativo. De assinalar que são Gentes com atos de louvar, no passado e no presente! Pelo que urge dignificar o fuste do Pelourinho quinhentista , identificado e reconhecido na quina de uma casa, na Rua principal.
Em memória do Eng.º Miguel Portela, que enalteceu a região na investigação histórica.

Cortesia da foto do fragmento do fuste de Henrique Dias

Naquele tempo a bucha do almoço era farnel aviado de casa, a deguste sabor das minhas aventuras e a ouvir estórias da minha mãe – quiçá, fui gerada no posto de Correios no Armazém das Cinco Vilas. O meu pai veio de bicicleta de Ansião, depois de subir a brutal ladeira desde as Vendas de Maria, ainda teve fôlego...

O imóvel encontra-se finalmente em requalificação
                       
Em Maças de D. Maria, a minha mãe fez o exame da 4ª classe. Na altura não existiam sanitários, as necessidades fisiológicas da professora eram feitas num caldeiro, que as alunas tinham o dever de despejar e limpar...Quis o destino que um dia a dita professora reformada aparecesse nos Correios para enviar uma carta, fazia eu bonecos nos papéis do lixo... As duas trocaram carinhos e matam saudades dum tempo passado. Recordo que a minha mãe a questionou pela saúde do marido, ao que esta lhe respondeu..."Sabes, agora dormimos em camas separadas, é muito mais higiénico"...Não entendi o que quis dizer, mas registei em memória, demorei anos para perceber o significado ...
Sem dúvida outros tempos, nem se podia interrogar, interromper, perguntar?
Habilitava-me a uma valente bofetada !
Já a família dos Pimentéis Teixeira, na ida a Coimbra, visitavam parentes na quinta dos Sequeiras, na Ribeira do Açor. Por onde passou em 1625, o Chantre de Évora e o seu sobrinho Manuel Severim de Faria (...)  chegados a Maças onde fomos alegremente recebidos e regalados com contínuos banquetes e diversas iguarias assim de carnes como de frutas e pescado, e no dia 12 de agosto partimos para a NSPaz da Constantina.
O brasão da vila de Maças de D. Maria
Segundo um excerto de Genealogia de Luís Piçarra 
"Está registado no livro do ano de 1753 a fls.113 Cota Dep. IV-27-A-17, o assento de nascimento de "José filho do Capitão mor destas cinco vilas, José António Álvares Pimentel Teixeira e de sua mulher D. Francisca de Sequeira Mansa de Figueiredo, moradores nesta vila e freguesia de Maçãs de D. Maria, neto paterno de Domingos Álvares Simões e de sua mulher Luzia da Nazaré da mesma vila e freguesia e materno do Capitão Pedro Martins de Figueiredo e de sua mulher Marcela Leitão de Sequeira Mansa da Fonseca, moradores na Quinta do Fojo freguesia de Sernache do Priorado do Crato, nascido a dois de Janeiro de mil setecentos e cinquenta e três, foi solenemente batizado(...) foram padrinhos o Rev. Dr. Manuel Rodrigues Teixeira, Tesoureiro mor da Sé de Coimbra e Provisor deste Bispado, tio do batizado, e Bernarda de Sequeira (?) do Capitão Pedro Martins, tia do batizado(...)" 
Interessante tentar conhecer melhor as referidas ligações de D. Josefina Pimentel de Abreu e de D. Maria da Conceição Fróis Gil Ferrão de Pimentel Teixeira-, a Sãozinha, que dela os da minha geração e mais velhos ouviam dela falar e da sua santidade, aos avós e pais.

Cortesia de Henrique Dias da árvore genealógica da Sãozinha 
                       
Sãozinha
Sãozinha
Ilustre descendente da nobreza e fidalguia de Maçãs de Dona Maria nascida a 1 de Fevereiro de 1923 no Bairro de Santa Teresa, Sé Nova, em Coimbra, filha de pais brasonados, Dr. Alfredo da Silva Pimentel nascido no Gavião em 2 agosto de 1895, médico, descendente de D. Nuno Álvares Pereira, morreu na Abrigada em 25 de outubro de 1970, e a mãe era descendente de D. Maria II-,  D. Maria Luiza Fróis da Silva Gil Ferrão de Pimentel Teixeira, nasceu na Abrigada em 6 junho de 1986, morreu com 91 anos. 
Viveu com os pais na Abrigada  em virtude do lado materno, ser natural e residente em Alenquer e, por outro, o seu pai ser médico na Base Aérea nº 7, na Ota.
Alguns anos mais tarde, passou a viver em casa dos avós maternos: Abílio Gil Ferrão, advogado e notário que morreu em Alenquer a 17 de agosto de1934 e Maria Benedita Froes de Paiva e Silva. 
Era uma rapariga como outra qualquer, considerada uma menina amiga de toda a gente, que gostava de ajudar em especial as crianças mais pobres. O sonho seria casar, ter filhos e dedicar-se aos mais pobres.  Dizia amiúde "Se um dia eu for rica, hei-de ter uma grande casa para velhinhos e crianças". E a obra, o Instituto da Sãozinha nasceu na Abrigada, em Alenquer, realizando o sonho da pequena "Florinha de Abrigada". 
Receando os pais pô-la em contato com outras crianças, esta aluna exemplar, tão precoce no raciocínio respondeu-lhes:" Gostaria de estudar junto às mais pobres, pois, como a respeitavam, não diriam nomes feios ao pé dela e, se os dissessem saberia ensinar-lhes que era pecado".

A irmã Teresa de Jesus, chegou à Casa da Sãozinha em 1962, conta ao Jornal Voz da Verdade como se deu a chegada desta família a Alenquer. 
"Depois do Dr. Pimentel ter tirado o curso de Medicina em Coimbra, a família veio para cá e durante uns anos morou em casas alugadas. Quando a Sãozinha tinha cerca de 12 anos, os pais mandaram construir esta casa aqui na Abrigada, onde ainda hoje funciona o Instituto ".Esta religiosa, que professou há 47 anos e que contatou durante muitos anos com os pais da Sãozinha, sublinha que o pai dela "era crente, vinha de famílias cristãs do Alto Alentejo, mas depois na universidade perdeu a fé". Deixou de ser praticante, apesar de ter casado pela Igreja. Anos mais tarde, a pequena Sãozinha começa a perguntar à mãe o porquê de o pai não ir à Missa e começa a pedir a Deus, e aos Santos  seus devotos, que movesse o coração do pai. No dia de anos, no Natal e na Páscoa, o pai perguntava-lhe sempre o que ela queria receber de presente e a resposta de Sãozinha era sempre a mesma: "O pai já sabe qual é o presente que me pode dar… O melhor que me pode dar é ser amigo de Jesus, ir à Missa comungar, ser cristão! O pai é amigo de toda a gente, ajuda os pobres e não há-de ser amigo de Jesus?", conta a irmã Teresa, sublinhando que perante a indiferença do pai aos pedidos da pequena filha, esta não desanimou e continuou a rezar e a pedir a Deus. "Fez tudo o que estava ao seu alcance assegura a religiosa, lembrando que a jovem era muito devota de Santa Teresinha do Menino Jesus. Quando tinha 16-17 anos, decide oferecer a sua vida pela conversão do pai. "Pediu a Deus que lhe desse uma doença grave, que a fizesse sofrer muito, mas que convertesse o pai. Ninguém sabia de nada, apenas duas ou três amigas da terra sabiam desta sua entrega a Deus, prossegue a irmã Teresa de Jesus. A doença apareceu, com o tifo, com uma dor numa perna, indo para o hospital a 26 de abril de 1940. O pai, como era médico, pensava que não era nada de grave mas ela percebia que a doença era a oferta dela a Deus. Os pais acompanharam-na sempre no hospital e já perto da hora da morte da filha, o pai ainda se quis converter e disse-lhe: "Se tu sarares, levo-te a Fátima!". 
A 6 de junho de 1940 Sãozinha falecia em odor de santidade no Hospital de S. Luís em Lisboa

A  sua morte mexeu com a pacata Abrigada. As  suas amigas contam então à família a entrega a Deus que a "Florinha de Abrigada" tinha feito "O pai converteu-se na missa de trigésimo dia do falecimento da sua única filha. Depois de ter negado Deus, o pai confessou-se, tornou-se num católico praticante e ainda foi Servita de Fátima durante 13 anos", refere a irmã Teresa."

Presume que o pai da Sãozinha entrou em rutura com Deus, na faculdade em Coimbra, onde globalizou o pensamento clássico greco-cristão, em relação ao conhecimento e à modernidade. Casou pela igreja mas, não a frequentava, o que inquietava Sãozinha que questionava a mãe sobre a razão dele não ir à Missa. Pese as palavras de S. Paulo “em Deus vivemos, nos movemos e existimos”. É vago! Não é racional a capacidade do pensamento de entender Deus, além da compreensão plena, sem provas científicas. Por isso, Sãozinha jamais o conseguiu demover à conversão católica. Em crer, sendo médico, foi acometido de remorsos após a perda inesperada da sua única filha, tendo desvalorizado os sintomas da doença, assumindo em tempo tardio a sua ida para o hospital. Nada mais lhe restava para viver em paz com a esposa, que no íntimo o devia recriminar, pese o desgosto imensurável de ambos, pela perda inesperada, precoce e contranatura – os pais é que devem ir à frente dos filhos!

No meu papel de investigadora, autodidata, teorizo pese a dita ascendência nobre, há costela judaica,  como outros Senhores de solares, quintas e Morgadios que instituíram capelas, precisamente para se afirmarem na fé católica. Assunto jamais abordado ou muito pouco aflorado, sobre as pequenas comunidades judaicas na região centro, no concelho de Ansião e limítrofes que se estendeu até ao Alto Alentejo.

Cortesia  de Filipe Rogeiro 
"A árvore de costados dos antepassados de Maria da Conceição Froes Gil Ferrão de Pimentel Teixeira (Sãozinha), privilegiando a linha Pimentel Teixeira, conforme cópia que em tempos me deu o Senhor Padre Anunciação, já falecido, responsável pela causa da canonização da referida Sãozinha e que investigou a sua ascendência.
1. Maria da Conceição Froes Gil Ferrão de Pimentel Teixeira
2. Dr. Alfredo da Silva Pimentel
3. D. Maria Luísa Froes da Silva Gil Ferrão
4. Serafim Maria de Pimentel Teixeira
5. D. Maria Capitolina Conceição e Silva
6. Dr. Abílio Gil Ferrão
7. D. Maria Benedita Froes de Paiva e Silva
8. Manuel Maria de Pimentel Teixeira
9. D. Maria Florência Craveiro
10. Joaquim José da Silva
11. D. Maria do Rosário da Conceição
12. Fabião António Gil
13. D. Maria Teresa Ferrão Gomes Páscoa
14. Luís Pereira da Silva
15. D. Maria Benedita Froes de Paiva
16. Francisco Maria de Pimentel Teixeira
17. D. Maria Rosa
18. João Rodrigues Craveiro
19. D. Florência Maria
32. José Teixeira Pimentel de Figueiredo e Sequeira
33. D. Inácia Delfina de Paiva Manso Freire e Andrade
64. José António Álvares Pimentel Teixeira
65. D. Francisca Joaquina de Sequeira Manso de Figueiredo
66. Vicente António de Paiva Manso
67. D. Maria Rosa Xavier Freire e Andrade
128. Domingos Álvares Simões Pimentel
129. D. Luzia da Nazaré Teixeira
256. António Pimentel de Abreu
257. D. Joana Simões Biguina
258. Domingos Rodrigues
259. D. Maria Martins Teixeira "

Cortesia de Vasco Briteiros
"A Árvore de costados facultada por Filipe Rogeiro está mais avançada do que a constante do livro "Vou para o Céu" , todavia o livro cita os tios paternos e seus filhos e ainda cita o texto completo da CBA e apresenta uma gravura desenhada pelo pintor de arte bracarense - Abel Mendes ".

SÃOZINHA
"Diz o livro que a Casa dos Pimentéis e Teixeiras com a Capela privativa da invocação de Nossa Senhora do Amparo, coube por herança a Manuel Maria de Pimentel Teixeira, natural de Maçãs de D. Maria, Concelho de Alvaiázere, cuja imagem doou à igreja Matriz de Maçãs de Dona Maria. O bisavô da Sãozinha.
Há dois livros com a história da vida dela. Um escrito pelo Sr. Padre. Oliveiros "Sãozinha"(1990), que serviu para iniciar o processo de canonização a correr em Roma. O livro escrito pela mãe não foi considerado para a abertura do processo. 
Vou Para o Céu 
Um livro sobre a vida de Maria da Conceição Fróis Gil Ferrão de Pimentel Teixeira (mais conhecida como a Sãozinha), publicado, pela primeira vez, em 1948, da autoria de sua mãe Maria Luísa Ferrão de Pimentel.
Maria Luísa Ferrão de Pimentel é descendente de José António Alvares Pimentel Teixeira, Capitão-Mor da Comarca das Cinco Vilas e da de Figueiró dos Vinhos .Portanto bisavô da "Sãozinha", pelo lado materno, era Manuel Maria de Pimentel Teixeira, casado com Maria Florência Craveiro, ambos naturais da freguesia de Maçãs de Dona Maria, concelho de Alvaiázere."

Imagem da capa do Livro

Segundo Conceição Mascarenhas 
«É um livro extremamente interessante sobre o percurso de vida da "Sãozinha". Tem informações sobre a árvore genealógica do ramo paterno e do ramo materno. Muito ilustrado com imagens sobre ela e sua família. Apresenta os objetivos do seu Instituto e muitos relatos sobre as graças concedidas por sua intercessão e, também, sobre o processo de Canonização que decorre em Roma.
Descrição: Título: Vou Para o Céu
Autor: Mãe da Sãozinha (Maria Luísa Ferrão de Pimentel)
Ano: 1952
Edição: 3ª
Editora: Edição da autora
Páginas: 308»

Casa Sãozinha na Abrigada
Atualmente aquela que foi a sua residência é a sede do Instituto de Beneficência Maria da Conceição Ferrão Pimentel, (Instituição Particular de Solidariedade Social), mais conhecido como Instituto da Sãozinha, ligado à Igreja, de apoio a crianças e idosos, com dificuldades económicas.
 
No dia 26 de Maio de 1949, Quinta-feira de Ascensão, decorreram as cerimónias de transladação dos seus restos mortais do jazigo de família para o seu Jazigo-Capela no cemitério de Alenquer, presidida pelos padres Marques Soares e Manuel da Silveira. 

O meu souvenir da Sãozinha, da minha pequena coleção de Santinhos...
Azulejo 
Sãozinha "Flor da Abrigada"  muita gratidão por todas as graças concedidas...
Sãozinha

Decorre desde 1994, em Roma o seu processo de beatização. 

Na época não foram credenciados os registos dos muitos relatos de graças concedidas pela sua intercessão. Até a sua mãe nunca pensou que a devoção chegasse a este ponto e por isso jamais pediu provas desses milagres.

Citar S. Paulo “A esperança é como que uma âncora segura e firme da alma “.

Crentes e devotos anseiam creditício milagre e, Acreditar a Santidade de Sãozinha! 



FONTES

http://www.vozdaverdade.org/mobile/link1.php?id=3060
https://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A3ozinha_de_Alenquer
https://www.academia.edu/10230102/Manuel_Severim_de_Faria_e_a_sua_ida_a_Ma%C3%A7%C3%A3s_de_D._Maria
Fotos de Henrique Dias 

Seguidores

Arquivo do blog