Mostrando postagens classificadas por relevância para a consulta constantina. Ordenar por data Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens classificadas por relevância para a consulta constantina. Ordenar por data Mostrar todas as postagens

terça-feira, 6 de setembro de 2016

As Feiras Francas da Constantina , Ansião

Constantina o rocio das Feiras Francas
                           

Eco oficial a celebrar 324 anos do alvará régio de 1697 a duas feiras francas na Constantina; Pinhões a 24 de janeiro e, 2 de julho a Santa Isabel. 

Alvará 

O conceito de feira raduz a venda e compra, sendo tradição bem mais antiga do que  janeiro de 1624, a data do início da Feira dos Pinhões - ao rei pinhão endógeno e abundante, sem mérito coroado a Património Imaterial!

Bibliografia inédita  à difusão da notícia na boca de viandantes e peregrinos, sobretudo do norte e centro do País, que chamava à Constantina mercadores diversos. O apelido Guimarães aparece referenciado em mercadores da Confraria, os vendedores dos curtumes de Guimarães, o meu avoengo Bastos Guimarães, para venda a sapateiros (a arte de curtidor era conhecida na minha família,  o meu pai a uma cabrita que nos morreu, curtiu a pele, recordo-a esticada por canas à laia de estandarte no sotãoOurives, os vendedores de baetas, de sombreiros, albardeiros, correeiros, tanoeiros e,...

Exalte-se a Constantina, até hoje sem merecida menção nos anais da história, enquanto fonte inspiradora, pioneira e a mais antiga feira em Portugal, como a transacionar pinhão. Veio a potenciar em  vendedores da Vala de Ourique,  Assamassa e Samuel, em Soure, nos finais do séc. XVII, o ritual vivo, há mais de 200 anos - Ramo de Pinhões ao Divino Espirito Santo. Igualmente em Mortágua, a  mais recente Feira da Pinha e do Pinhão, herança  de vendedores vindos de Oliveira do Conde, hoje, Carregal do Sal,  e para sul induzida pelos “caramelos do Duque de Aveiro” serviçais, do Reguengo de Ansião e foros de Abiul, que foram sábios na arte de secagem de paúles, há registo de um paul em Ansião, no vale do Buyo dos Olhos d«Água ao Fundo da Rua, O pinhão foi trazido pelos gregos, aportados ao porto de Alfeizerão tomando as vias da proto historia pela Alta estremadura, chegaram +a região, onde ainda há genes. 

As feiras francas da Constantina, abriram horizontes ao apelido Gameiro, saído de Ansião nos meados do séc.XVIII , documentado nas Memórias Paroquias, deixou uma capela no Escampado com administrador. Assistia às missas  em Torres Novas; terras do Duque de Aveiro e, se aponte a falta de água adjacente à  arte da curtição, que ditou o toponimo Rio de Ciouros, em Ourém e prevalece viva em Pernes, sendo que foi originária em Guimarães. 

Aliçercada em fonte documental na transcrição do Dr, Miguel Portela, excerto do Arquivo da Universidade de Coimbra, Cartório Notarial de Coimbra, Livro de Notas n.º 2 [1710-1710], do notário Simão da Silva, Dep. V-1ªE-8-4-184, fls. 37- 39.« (...)em 9 de julho de 1710, foi dito pelo aludido capitão-mor que “em seu nome e de seus sócios Manoel Borges e o dito António Lopez de Siqueira como Perbemdeiros da Casa de Aveiro estava contratado com o dito João Mendes Gago que presente estava para lhe haver de arrendar e dar por arrendamento as rendas da villa de Penella e Reguengo da villa de Ançião e foros da villa de Abiul e tudo o mais pertencente a Casa de Aveiro”  (...) Cosme Francisco Guimarães, Mercador morador desta cidade que todos aqui assinarão depois deste lhe ser lido por mim Simão da Silva, Publico Taballiam que o escrevy. (a) Mathias de Carvalho (a) Miguel Vaz Henriques (a) João + Mendes Gago (a) Cosme Francisco Guimarães.»

E, de Bragança vinham mercadores para transacionar seda, arte implantada em Chacim, desde o séc XIII, com aprendizado de Piemonte, Itália, no ciclo da seda. 

Por certo as feiras na Constantina abriram outros horizontes, debalde  por  não terem sido relatados se desconhecem, quando o certo era mais aclarar desse passado para mais as credenciar no estatuto que lhes devia ser destacado a mérto cultural. 

O vinho era exaltado a zaragatas e por haver muita gente os assaltos eram constantes quer a forasteiros, vendedores ou mesmo à capela. Sob jurisdição do juiz da vintena da Sarzedela. Em 1625, era Thomé Roriz. Em 1811 na passagem dos invasores franceses não houve feiras.

 

Criminalidade  na feira dos Pinhões na Constantina  
Excertos https://archive.org/stream/memoriasdotempop01henr/memoriasdotempop01henr_djvu.txt

1802 —dois crimes neste dia - 23 e 31 de janeiro. Noite de inverno,de 2 para 3 de fevereiro.
E cinco datas totalmente incertas, isto é, sem dia, nem mez, nem amio designado.
Não se creia porém que está tudo dicto acerca das maldades da quadrilha.
A sentença depõe 1." de que alguns crimes foram descobertos ao acaso, isto é, por occasião de se investigar do outros que eram conhecidos
2.° e de que por esses mesmos de que ella se occupa, e porventura por outros mais não houve em tempo competente o menor procediínent o judicial .
Todas estas maldades se practicavam á vista das auctoridades publicas, cuja inércia somente pode explicar a existência e persistência do bando.
A sentença dá testemunho de que uma pistola havida pelo crime a tinha adquirido o escrivão da caudelaria, por compra, termo talvez empregado adrede para o salvar do crime de receptação e acoitador."

"Anno de 1803 - Salteadores 
António Gomes (pae), 54 annos, natural de Constantina, concelho de Sarzadella, comarca de Coimbra, casado, trabalhador. 
«(...) de Soares do sitio da Feira da Paz, concelho de Sarzadella (Constantina), onde a mesma

quadrilha practicou os escandalosos insultos, que ficam recontados, diz a sentença,
de certo no intuito do estupro violento, practicado ahi pelo réo. Foram alem dos
condemnados em penas pecuniárias desde 20;5000 a 200;)000 réis para 08 despezas 
da Relação, já se sabe, e junctamente cora os cúmplices de menores penas também 
nas custas do processo (a). "

A razão de se mudar o palco das Feiras? 

O Dr. Manuel Dias no seu livro a Confraria de NSPaz de 1996 alude à consolidação do liberalismo (...) que fossem mudadas as Feiras para a vila a pedido dos comerciantes (…) A câmara nunca julgara necessário incluir verba algumano seu orçamento  para ocorrer nas despezas da Confraria.

Excerto do Livro a Confraria de Nossa Senhora da Paz da Constantina do Dr Manuel Dias 
(...) em 24.06.1892 e a de 25.09.1892. Na secção da Confraria de 24.06.1892 rejuvenesces-se com a entrada de cerca de 3 dezenas de Irmãos novos.Apesar da data ser anterior (15) dias à deliberação camarária, é natural que houvesse rumores do requerimento dos Comerciantes da Vila , a pedir a transferência das Feiras, da Constantina para Ansião, e, por isso a Confraria tentou reorganizar-se à pressa para conseguir mais força  e determinação na luta a empreender contra este repentino obstáculo. Noutra sessão ainda no mesmo dia , procedeu-se à eleição de novos mesários , entre os quis, se incluíam dois Mordomos, escolhidos entre os novos Irmãos que acabaram por se inscrever como confrades, na sessão anterior.Na reunião de 25 de setembro, a Confraria, tomou posição contra a deliberação da câmara. (...) os novos mesários, conseguiram a cópia do alvará das Feiras, dado pelo monarca, ainda no séc. XVII (D Pedro II assinou-o em 1697); provaram os seus direitos , mas a deliberação da edilidade ansianense não foi alterada Assinada por José Lopes Vieira, José Simões, Manuel Leal Lopes, José Luiz Pinto Xavier Delgado como Administrador do concelho que a câmara resolveu transferir as ditas feiras, a realizar-se nos mesmos dias, o qual se deverá fazer público por editais; e para  não prejudicar os interesses da Confraria da Senhora da Paz, pois lhe davam alguma receita para ajudar a fazer face às suas despesas, incluir anualmente nos seus orçamentos, um contributo equivalente à importância que dantes lhe conferia (...) A câmara nunca julgara necessário incluir verba alguma no seu orçamento  para ocorrer nas despezas desta Confraria. Já esta  por unanemidade em vista dos fatos expostos  serem do domínio publico  se recurrece da deliberação da câmara  da decisão de julho último (…) e que ficasse ele juiz encarregado de promover tal reclamação pelos meios legaes, conferindo-lhe todos os poderes para tal fim necessários. Os irmãos da Confraria passaram a pagar quota anual, e antes estavam isentos para sustentar as despesas.

Ata nº 10 da sessão de 7 de julho de 1892 da Câmara Municipal de Ansião

Cortesia da Dra Teresa Falcão da Biblioteca de Ansião
            


              Excertos do Livro de 1996 do Dr Manuel Dias 
A Confraria de NSPaz da Constantina 


                         

                         

                    

Em 1895, a Confraria luta contra a Câmara, agrega novos Irmãos, um deles o meu trisavô Nicolau Rodrigues Valente  nascido na Constantina, casado no Canto, na vila.

A Confraria decidiu interpor por via  tribunal a câmara para resolver o conflito.

A análise implícita premeditação a óbvio golpe à substancial riqueza, em testemunho omissa.


O recurso da sentença 

Requerente Câmara de Ansião ,Recorrente Albino Mendes da Silva, juiz da confraria de Nossa Senhora da Paz, da Constantina; considera a transferência das suas feiras francas para a vila ilegais, injusta e inconveniente; ilegal por ter intervido nela um vereador por nome Manuel Leal Lopes, que foi um dos requerentes e signatarios requeridos da petição que deu lugar à mesma deliberação, posto que na petição não se encontra nenhum Manuel Leal Lopes mas sim Manuel da Silva Lopes, havendo emenda de Leal para Silva, a qual deliberação foi tomada simplesmente por três vereadores, no número dos quis entrava aquele, quando é certo que a câmara municipal deste concelho se compõe de cinco vereadores; injusta por expropria violentamente (…) o juiz de direito, negou provimento no recurso, considerando que a emenda de Leal para Silva de que fala a petição de recurso, só podia verificar-se por meio de exame, e este devia ser requerido pelas partes interessadas em conformidade do disposto (...) que a câmara recorrida transferindo as feiras do lugar da Constantina para a vila de Ansião, simplesmente usou do direito que  a lei lhe faculta (...) considerando que não se prova que um desses três vereadores Manuel Leal Lopes fosse o mesmo individuo que assinou a petição na mudança das feiras, com o nome de Manuel da Silva Lopes, para que pudesse aplicar-se a disposição do artigo...Hé por bem, conformando-me com a mesma consulta, negar provimento no recurso, mantendo para todos os efeitos a sentença recorrida.


Cortesia de Henrique Dias o edital em Diário do Governo
Considera a Confraria a transferência das suas feiras francas para a vila ilegais, injusta e inconveniente; ilegal por ter intervido nela um vereador por nome Manuel Leal Lopes, que foi um dos requerentes e signatarios requeridos da petição que deu lugar à mesma deliberação, posto que na petição não se encontra nenhum Manuel Leal Lopes mas sim Manuel da Silva Lopes, havendo emenda de Leal para Silva, a qual deliberação foi tomada simplesmente por tres vereadores , no número dos quis entrava aquele, quando é certo que a câmara municipal deste concelho se compõe de cinco vereadores ; injusta por expropria violentamente ..


Mostra-se que o juiz de direito, negou provimento no recurso, considerando
- que a emenda de Leal para Silva de que fala a petição de recurso, só podia verificar-se por meio de exame, e este devia ser requerido pelas partes interessadas em conformidade do disposto....
(...) que a câmara recorrida transferindo as feiras do lugar da Constantina para a vila de Ansião, simplesmente usou do direito que  a lei lhe faculta
(...) considerando que não se prova que um desses três vereadores Manuel Leal Lopes fosse o mesmo individuo que assinou a petição na mudança das feiras, com o nome de Manuel da Silva Lopes, para que pudesse aplicar-se a disposição do artigo...Hé por bem, conformando-me com a mesma consulta, negar provimento no recurso, mantendo para todos os efeitos a sentença recorrida.

A razão, atrás do ardil subterfúgio, do vereador ao escrever o seu nome de forma errada, quiçá por saber da vitória à luz do Direito!

Lanço desafio a primos da Constantina – estão dispostos a ressuscitar a Feira de 2 de julho, com produtos endógenos, ao relveiro do lagar da Serrabina; a valorizar as pedras seculares nas valências; forno, churrasco, parque verde, lazer, estacionamento, repostos os muros da ribeira e restauro da ponte em pedra? Em caso afirmativo poderá este ser um ponto de partida na justa e merecida recompensa que se queira reivindicar!

Em 2023 a Feira dos Pinhões vai voltar à Constantina- graças a esta crónica e outras, 


FONTES
Livro de 1996 do Dr. Manuel Dias - A Confraria de NSPaz da Consantina
Edital de 1896 do Diário do Governo
ta no 10 da CMA, cortesia Dr Teresa Falcão
Dr Miguel Portela, Arquivo da Universidade de Coimbra, Cartório Notarial  de Simão da Silva

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

O milagre da Fonte Santa, em Ansião, celebra este ano 398 anos

Recordo-me em miúda de ouvir falar do milagre e da lenda da Fonte Santa, na Areosa. Em 1984, um grupo de entusiastas da Constantina, reeditou uma versão em panfleto que me avivou as pagelas vendidas por gente vinda de fora nos anos 60, do séc. XX, no mercado da vila, a pregão comovente de desgraças.

Milagre  da Fonte Santa
Cortesia do Renato Freire da Paz
Produzido na tipografia do Pontão Papeltipo 





Quadro a jus de ex voto na capela da Constantina  do pagamento de promessa oferecido pelo avô de Silvina Gomes, José Costa da  Ribeira do Açor em 1910

A Lenda da Fonte Santa descrita por Severim Faria em 1625

«(...) aconteceo, que hum minino do mesmo lugar sonhou que no milho que o pai tinha semeado, nu secco areal lhe dava Nossa Senhora da Paz hua fonte aonde com fé viva se foi pella menham a cauar com asmaõs no lugar em que sonhava e fez verdadeiro, o que todos a quem elle contava o sonho tinha por impossível por ser o lugar em que a fonte saio hum sequíssimo areal e pella mesma razão incapaz de poder ter agoa dentro de si, quis mostrar a Senhora com muitos Milagres que era obra sua por a fama da fonte santa que todos lhe deraõ este nome, acudiraõ muitos géneros de cegos e aleiiados e todos com selavarem com ágoa foraõ saõs, começaraõ todos a fazer esmolaem tanta copia que em menos de hum anno depois do milagre se fez hua Igreja muito grande na qual mandaraõ por as mortalhas muitos que estavaõ para morrer, e outros ia amortalhados, e por intercessaõ desta Senhora forão livres da morte, em sinal de agradecimento da merce recebida, e saõ as que saõ ao presente na Igreja  fora outras muitas vendidas, e outras que estão em casa dos moradores. Succedeo este milagre a onze de Agosto de 1623. Chegamos a Constantina as 8 horas da menham, enquanto se aparelhou a missa fomos visitar a fonte que he hum buraco aberto no areal, e diante tem feito outra pedra, para a qual vem a agoa da fonte milagrosa. Tornaminos a Igreja a sestear aonde ouvimos supicas de vários passageiros feitas a mesma Senhora, depois de passada a calma que naõ foi este dia pequena nos pusemos a caminho, que por ser todo de pedra, e cumprido, chegamos de noite a casa aonde se passou o dia seguinte sê hauer cousa de novo ao outro que foi quinta feira e trese do mesmo mês partimos em Romaria a Nossa Senhora dos Covoes hua legoa distante da Comenda, passase o caminho por Alvaiasere villado marquez de Ferreira pela serra com o mesmo nome Ansiam de trabalhodíssimo caminho por ser tudo rochedo e pedra viva , que nem a pé nem a cavalo se pode andar senão com grande dificuldade» 
Outra versão popular
"Segundo a lenda, se deu a aparição da Virgem, em 11 de Agosto de 1623 junto de uma eira, sob a ardência dos raios solares, estava uma criança a brincar com umas flores campestres, guardando o milho que naquela eira seus pais tinham a secar. Recomendaram-lhe que não abandonasse a eira, mas a criança mortificada pela sede, esquece aquela recomendação e vem a casa pedir água. A mãe irada por a filha ter transgredido as suas ordens, não só lhe não deixou beber água, como a castigou e obrigou a voltar com sede para a eira. A pobrezinha lá foi chorando a sua desdita, e sentou-se na eira junto das flores colhidas já quase secas, como secos seus olhos estavam de chorar. Ninguém ouvia os seus gemidos, ninguém passava que a socorresse, e a infeliz não podendo por mais tempo suportar a sede que a devorava, lembrou-se de Nossa Senhora; ajoelhou, com as mãos erguidas, olhos fitos no céu-, aquele anjo depois de ter pronunciado as primeiras palavras da Ave Maria, vê junto de si, cercada de um resplendor imenso, a Rainha dos Anjos a dizer-lhe: «Não chores filha, procura nessa areia e encontrarás água.» A tremer, a criança, volve com as mãos a areia e encontra logo água cristalina com que matou a sede que a consumia. Poucos momentos depois, passaram por ali varias pessoas que ficaram admiradas de verem a criança a beber água num local onde bem sabiam não a haver horas antes, e interrogando-a, ouvem aqueles lábios juvenis que já sorriam de alegria, contar a milagrosa aparição de Nossa Senhora. A boa nova bem depressa se espalhou por toda a freguesia de Ansião e o povo correu a procurar naquela água remédio para as suas doenças, e levado de santo fervor mandou construir naquele lugar uma fonte de cantaria que é conhecida pelo nome de Fonte Santa em que mandaram gravar a seguinte inscrição: «ESTA FONTE APPARECEU A 11 DE AGOSTO DE 1623» 

Alertada no livro de 1986 do Padre Coutinho por mencionar com aspas “Milagre” da Fonte Santa (…) Ansião, torna-se centro de peregrinações porque a fé popular divulga aos ventos a discutível aparição de Nª Sª no local que, a partir de tal acontecimento, é designado Fonte Santa (…) À fonte logo acorreram doentes, cegos, e aleijados que, ao lavarem-se com aquela água, ficaram curados, e porque faziam esmola em tanta abundância, em menos de um ano depois do milagre se fez uma igreja.” 

Ora, estando perdido o conceito termal romano na região, com ganho do banho islâmico, ao maior órgão do corpo - a pele. Além de a refrescar, respirava e limpava-a de suores ressequidos matando bicheza, percevejos entre outros, dando a sensação de bem-estar momentâneo, fenómeno estratégico que foi usado à laia de água milagrosa! 

Admite-se que a verdade foi contada distorcida ao Chantre de Évora Manuel Severim Faria, na sua visita ao Santuário da Constantina em 1625 “ num seco e estéril monte brotou água no tórrido 11 de agosto de 1623”. Aos dias d’hoje mostra-se credível que foi um fenómeno cársico que fez exsurgir em tempo seco, a água do vale aquífero do Nabão, nas grutas do Bate Água, por forte trovoada em dias anteriores, enchendo o desnível da cota superior da bordadura do maciço. Em 1758, o Marquês de Pombal solicitou a todos os padres resposta a um inquérito. Está perdido o da vila de Ansião. Sobre o do padre Caetano Rodrigues da Lagarteira “ não nasce água alguma de verão ou inverno, só quando o inverno é grande nascem algumas fontanheiras que fazendo sol em 8 dias finda, e o povo delas bebe de poços e de fontes de fora”. Em 1956, no Jornal Regeneração, de Figueiró dos Vinhos “ chuva intensa, com granizo, o Ribeiro da Vide subiu 1,5 metros.” Ciclicamente há grandes trovoadas e enxurradas. Sem estatísticas, nem o conhecimento dos algares, facilmente caíram na atribuição de milagre, pela água que lhes faltava. Parece-me óbvio, que não fora uma intervenção do poder divino exercido sobre a natureza. Realidade aclarada na visita ao poço romano do Minchinho, a farta escadaria termina na medonha boca do algar. O milagre vingou, sustentado pelas comunas da Constantina e a da vila, aportados de Espanha com bagagem cultural, na centúria de 500. Povo laico que profanou a fé cristã, sem a assumir. O termo laico foi usado no preâmbulo do livro de 1996 - A Confraria de Nª Sª da Paz, do Dr. Manuel Dias. Clãs judaicos, unidos de credo na boca, a intuito e engodo à sua acreditação, encapuçado na fé cristã e, embuste ao poder curativo das águas ditas santas. Na verdade enganavam crentes beatizados, sedentos de curas milagrosas que deixavam esmolas, o produto final ambicionado. Visionários e agiotas credenciaram o milagre na estrada medieval com aproveitamento dos viandantes, quem levou de graça a mensagem e a difundiu, atraindo outros a vir procurar aquelas águas e deixar dividendos. Já a água é vida, sendo bênção de boa oferta a todos. Esta centúria foi propícia a análogos milagres; só alguns perduram. 

O milagre da Fonte Santa foi  descrito  nas Viagens em Portugal de Manuel Severim de Faria 1604-1609-1625 Cf. Joaquim Veríssimo Serrão

No Livro do Sr Padre Coutinho de 1986

E no Livro em 2015, do Engº Ricardo Charters d’Azevedo com raízes em Ansião e Maças de D Maria .

Excerto do livro «(...) Manuel Severim de Faria, clérigo nascido em Lisboa(...) Apesar da sua actividade intensa como sacerdote, historiador, arqueólogo, numismata, genealogista e escritor, incide-se especialmente na sua faceta de cronista de viagens, em particular nas páginas 146 e 147 a viagem que fez na companhia do tio Chantre de Évora, de onde partiram e aonde voltaram, para conhecer os santuários da Nazaré, Ansião ( Constantina) e de Nossa Senhora dos Covões em Alvaiázere , sendo que depois de Tomar passaram por Ceiras, narrando a forma como foi recebido em "Maçans de Dona Maria" onde pararam em casa  da sua  irmã alegremente e regalados com contínuos banquetes de diuersas iguarias assi de carnes como de fruitas e pescados" . (...) afirma que a Vila em Agosto de 1625, tem 27 vesinhos e posta em hum pequeno monte donde fica muito descuberta aos ventos, que nela naõ faltaõ. Tem muitas e boas fontes, he bastantemente abundante de fruitas, assi sedo como do tarde, os edifícios são pobres, a comenda della possue hoje D. Cristóvão Manoel, em cuja casa estivemos, 3 feira que foraõ 12 d’Agosto partimos para Nossa Senhora da Paz, que he hua Igreja fabricada de dous annos para qua no termo da Villa de Ansiaão no lugar de Constantina, que será de 50 vesinhos pouco mais ou menos. Era esta igreja antigamente uma pequena ermida  e porque estava falta de imagem pedirão aos d’Ansião lhe desse esta  senhora, que eles tinhaõ na Samchristia, por ser perceito do Bispo, que não tevessem na igreja imagem vestida. Comsedeosele aos da Constantina o pediaõ. Porem  pela muita devoção que os moradores da vila tinhaõ a esta Senhora foi necessário trazerem a Imagem de noite por evitar algûa repugnância, que os  Ansos de Ansião podiaõ fazer se se viraõ despoiados deste tesouro dispois de hum anno, que hauia a Senhora estava nesta hirmida (...) depois de hum anno, que hauia a Senhora estava nesta hirmida acontece, que hum mininodo mesmo lugar sonhou que no milho que o pai tinha semeado, nu secco atral lhe dava Nossa Senhora da Paz huafonte aonde com fé viva se foi pella menham a cauar com as mãos no lugar em que sonhava e fez verdadeiro.


O fenómeno "Milagre" 
(...) Une o povo com a sua fé cristã alicerçada na fé judaica, que também admite milagres.A vida de Jesus é uma sucessão de factos miraculosos, segundo os Evangelhos, desde a sua concepção e nascimento, os milagres realizados na Galileia e em Jerusalém, a ressurreição de Lázaro, a morte e ressurreição de Jesus etc...
Nos anos 90 cumpri a promessa de ir a pé a Fátima que tinha ingenuamente feito em criança...Quando lá cheguei para a pagar é que me dei conta do sofrimento que assisti não pode ser boa paga a Deus e a Nossa Senhora, já basta o peso da Cruz que cada um de nós carrega nesta vida desde que se nasce - porque nuns é de pedra, noutros de ferro,e alguns é de papel ou madeira...Acredito na fé que move montanhas e em coincidências de mão divina, mas longe de dizer e acreditar neste tipo de milagres credenciados desde a centúria de 600...

Para os crentes, as esmolas deviam ter custeado no local uma capela, a perpetuar o milagre

Ainda assim, o foi, mas, na ampliação da pequena ermida da Constantina. Só em 1975, houve o mérito de a erigir no epicentro da Fonte Santa. A capela que se encontra no local a sua execução fica a dever-se ao grande benemérito e amigo, filho da Constantina o Sr. João Santos Pires e sua esposa Graciana Ramos Loureiro que a suas expensas custeou toda a construção em 2008.

João Santos Pires com os irmãos e a esposa Graciana Ramos Loureiro

E, Guilherme da Silva Dias e sua esposa Joaquina Dias, ofereceram para o adro um pedestal com a Imagem de NªSªPaz.

             

Quanto à origem da Imagem de NSPaz, o Chantre relata divergências

(...) O povo da Constantina foi de noite buscar a Virgem à sacristia da matriz para os ansos não se darem conta (…) algumas pessoas mais devotas de NSª, lembraram-se de colocar no nicho da Fonte Santa uma imagem da Virgem e encontrando uma nas ruínas da antiga igreja paroquial de Ansião, em S. Lourenço, mandaram-na pintar e no meio de grandiosos festejos para lá a conduziram e ali se conservou até à construção da capela da Constantina. 

Claro destorcimento. A Imagem da Virgem da antiga igreja de Ansião esteve guardada 32 anos na sacristia da nova matriz. Em roca, não sobreviria a intempéries se tivesse ficado nos escombros, nem cabia no pequeno nicho da Fonte Santa, por não a suportar em altura…A única verdade é que foi pintada. Já antes sugeri que o mentor que a levou para a Constantina, fora o seu juiz, pelo poder detido.

Actual Capela da Fonte Santa e na frente com a estrada a Fonte Santa em pedra


Mina da Fonte Santa , evidencia um poço de chafurdo romano pelos degraus, onde a água brotou em agosto de 1623...
 
Pedra  encastrada num muro de extrema a sul com inscrição coberta de líquenes, difícil lê-la...
Confraria de Nossa Senhora...1937?

O painel azulejar em policromia moderno que achei descontextualizado neste local histórico, a meu ver deveria ter sido pintado em azul sobre branco.
Fonte o lado da escadaria da capela da Fonte Santa

Admite-se que os blocos em cantaria da Fonte Santa e o lintel sejam possível reutilização da antiga igreja por o talhe se assemelhar aos muros do ribeiro da Igreja, a nascente do cemitério – a merecer estudo.

De todas as fontes no concelho, o exemplar mais elegante e bonito retrata-se na fonte de espaldar da Fonte Santa. Apresenta no lanço superior um pequeno nicho ladeado por motivos vegetalistas. Sem manutenção o lado norte há anos em ruina, onde não falta o letreiro (água não controlada) … 

Contraste entre a foto acima e esta
Falta a parte lateral à direita do cruzeiro da fonte conforme a foto documenta. 
A Constantina ainda terra de Canteiros e cantarias deveriam apostar em repor o mural em falta, bem o merece para dignificar o lugar de devoção.
Em Junho de 1905
(...) Devido aos esforços da Confraria de Nossa Senhora da Paz e por meio de subscrição entre o povo da freguesia de Ansião a fonte foi reparada e hoje como outrora na Fonte Santa, corre a água cristalina com que os doentes vindos de toda a parte se curam dos seus padecimentos..., e aos pés da Virgem da Paz, na sua capela da Constantina, todos encontram consolação para as suas mágoas, alívio para as suas dores e a esperança de pela sua intercessão alcançarem a felicidade eterna.
O nicho mostra-se muito pequeno para ter abarcado a Imagem e ainda sem haver proteção... 
 
A base do Milagre foi a falta de água que tanto faltava ao povo
A região é muito seca e árida de verão, a maioria dos poços eram de chafurdo e as ribeiras só correm com chuva de inverno até meados de junho.
Em 1906, a obra foi do mestre de obras, o meu bisavô Francisco Rodrigues Valente do Bairro de Santo António. Houve intervenção no poço e mina, sem prospeção arqueológica, sendo adoçado à fonte um pequeno reservado, onde julgo existe uma banheira em pedra para o banho privado. Ao não caber na porta atual, reporta a reciclagem do culto termal romano.
Não distingui  gota d'água!
A vontade de anos para  conhecer este Lugar que foi importante no passado de Ansião. Lamentavelmente aqui passei uma vez, mas nem há espaço condigno para estacionamento (?). Neste finado mês de setembro teimei parar, ainda bem, pois gostei muito de o conhecer.Desculpem a franqueza mas achei o sítio pequeno, atrofiado pela estrada de ligação aos Netos com outra variante a passar no seu tardoz. Fiquei com a má impressão (?) que no tempo os vizinhos se foram apoderando na largueza dos quintais em detrimento do adro, ao qual já não acorriam peregrinos...Seja o espanto pelo facto de ter vivido a minha infância e adolescência defronte do adro da Capela de Santo António que se mostra muito grande em todo o seu redor e antes foi pertença dos quintais da casa da Câmara e nem por isso na posterior venda alguém do espaço se apoderou...
Inevitável na saída do adro no tardoz da ermida com algumas manobras...
A história de Ansião deve premiar heranças de dolinas cársicas (vulgo lagoas), na maioria assoreadas, poços de chafurdo, fontes, tanques de banho, marcos territoriais e varandas de grade em pedra. O nosso património obriga-nos ao seu estudo, catalogação, preservação e salvação, sem perda de mais exemplares, nem adulteração. Ricos testemunhos do nosso passado a deixar aos vindouros, com clarificação da nossa história e raízes, valorizando o nosso futuro. 

Fontes

file:///C:/Users/HP/Downloads/Ana%20Helena%20da%20Silva%20Delfino%20Duarte.pdf
http://www.ansiao.net/
http://www.geocaching.com/ Reedição Grupo de Jovens da Constantina 1984 (Transcrição do documento original)
Renato Paz com envio do folheto
https://www.academia.edu/10230102/Manuel_Severim_de_Faria_e_a_sua_ida_a_Ma%C3%A7%C3%A3s_de_D._Maria

quarta-feira, 20 de outubro de 2021

A Confraria de Nossa Senhora da Paz na Constantina, Ansião

Resumo publicado no Jornal Serras de Ansião em outubro de 2021


Primazia do primeiro conhecimento no livro Perspetiva Global da Arqueologia Histórica e Arte da Vila e do Concelho de Ansião, de 1986, do Padre José Eduardo Reis Coutinho.
Seguido do livro da Confraria do Dr. Manuel Augusto Dias, que o meu amigo Henrique Dias, enviou em PDF em 2019. Mais tarde, a Dra. Teresa Falcão ofertou-me um exemplar na biblioteca.

                       

Exaltar júbilo às suas mesárias, fiéis guardiãs, do seu egrégio espólio;  Alvará de 1624 do rei Filipe III e, o das Feiras Francas de 1697, Compromissos e, Estatutos assinados por apelidos vivos - Freire, Fernandes, Rego, Nunes, Afonso, Viegas, Antunes, Cardoso, Roiz (Rodrigues) Pires, Simões, Borges, André, Mateus, Neno, Luís, Dias. 

Em 1996, o Dr. Manuel Dias correlacionou o arquivo da Confraria. Em crer, missão difícil e trabalhosa com muitas horas a interpretar caligrafias. Cuja transcrição documental, me permitiu conhecer e coligir mais  (…) documentos muito incompletos, sem a morada de onde vinham os novos confrades, nem de quem dava a esmola, pese a grande dificuldade da ortografia e falta de folhas conseguiu-se fazer levantamento por sexo entre 1661 e 1716 (…) Ao longo de 39 anos analisados, foram identificados 334 Lugares de origem de 2236 confrades (...) Conseguimos apurar 334 Lugares dos quais 254 são de fora do concelho de Ansião. A que correspondem 1578 confrades, dos quais só 29% são da freguesia de Ansião - a que correspondem 426 confrades e 51% das restantes freguesias do concelho, a que correspondem 212 confrades, isto é 9,4% da entrada de novos irmãos com morada conhecida (...) Ao longo de 39 anos analisados , destaque aos 10 Lugares que fornecem maior número de confrades:

                                                                      Pedrogão com 51 

Minde com 149 
Lousã com 81 
Ansião com 64 
Sarzedela com 63 
Sertã com 63 
Constantina com 62
Mira d'Aire com 54  (diz o autor este nome nunca é referenciado mas como os confrades de Mira se  inscrevem sempre com os de Minde, e pela proximidade se concluir que se trata de Mirad'Aire)
Pedrogão Pequeno com 43
Coimbra com 40
Além dos 10 lugares fora de Ansião , podemos apresentar o numero de terras de fora do concelho, de onde , no período referido se inscreveram 20 ou mais confrades 
Pombal 26
Palheiros 25
S Frutuoso - Ceira  25 
Cernache do Bonjardim 25 
Arega 22
Almalaguês 20 
Águas Belas 20 
Reguengo 20
As terras mais distantes indicada como morada dos confrades: Londres e Angola fora de Portugal,
Estremoz , Avis, Abrantes, Coruche, Golegã, Lisboa, e Oliveira do Conde - Carregal do Sal,) que o autor não correlacionou 
(…)  conhecimento mais profundo da comunidade que lhe deu vida (…) na forma de fazer uma “história total” que não exclui nada nem ninguém (...) um dado interessantíssimo em que se escreveu o maior numero de confrades em 1668 com 256 novos confrades, os quais vieram de terras fora do concelho de Ansião- diz o autor que o facto de tanta gente ter vindo à Constantina a Nossa Senhora da Paz esteja relacionado com o Tratado que acabava com as guerras da Restauração, que duravam desde 1640 e foi assinado a 5 de janeiro de 1668 em Madrid.

Clérigos e Famílias mais importantes que se inscreveram na Confraria
1663 Fr e Pª frei (como aparece nos livros - Talvez  Frei Freire Pereira ? 
1663 Capitão José Antunes e esposa Antónia Francisca de Minde - 40 réis
1663 Padre Gregório Miz 10 réis
1666 Dr. Manuel Dias da Silva e sua mulher D Mariana de  Ansião - 50 réis
1666 Padre Manuel Antunes - 10 réis da paroquia de e Pedrogão
1666 Padre D Leandro do Paraíso, frade de Satan Cruz de Coimbra  -20 réis
1666 Padre Luís Domingos Tavares - 20 réis, Tojal Sertã
1667 Padre Manuel Mateus - 20 réis
1667 Padre Gregório Roiz(da paroquia de Havis e se assentou com a sua mãe) de Pedrogão 
1667 Padre Manuel Lopes - 20 réis da paroquia da Aguda
1667 Padre Tomé Antunes -20 réis, da paroquia de Areias
1668 D. Velasquez Sarmento e mãe D. Sebastiana de Almeida e seu filho Dom João Sarmento -100 réis
1668 Prelado Simão Dias 2 oliveiras 
1668 Padre António de Queiroz - 20 réis da paroquia de Miranda
1668 Padre Manuel Roiz - uma oliveira
1669 Padre Manuel Curado - 20 réis da paroquia da Lousã
1672 Padre Gregório Martins de Pedrogão, 50 réis de esmola da paroquia de Palhais (Chão de Couce)
1673 Padre Manuel Pessoa Durão -200 de Ourém 
1674 Francisco de Carvalho (almoxarife das 5 vilas) 250 réis de Chão de Couce 
1675 Padre João - 50 réis de Pedrogão Pequeno
1676 Padre João Alures  200 réis de Miranda do Corvo
1676 Francisco Ferraz Coelho, D Antónia da Costa sua mulher, João Ferraz Velho, seu filho, Francisco Ribeiro? da Azambuja , seu filho, D Isabel da Azambuja, sua filha, Fernando Ribeiro? da Azambuja, seu filho; Helena Coelha sua criada ; Mara dos Santos sua criada; e Domingos Francos eu criado - 450 réis
1676 Padre António Travassos - 50 réis, de Águas Belas 

Prefácio do livro da Confraria de NSPaz pelo Dr. Vítor Faveiro  (...) A história de uma terra e suas gentes, passa, indubitavelmente pelas suas instituições (…) por contribuir, por certo, para um conhecimento mais profundo da comunidade que lhe deu vida (…) na forma de fazer uma “história total” que não exclui nada nem ninguém. A Confraria que, apesar de ser laica, tinha objetivos pios; organizar a devoção a NSPaz.

Aos meus olhos o que extraí da leitura do livro:

Registo bibliográfico aquém da temática que a meu ver já devia ter merecido Dissertação de Mestrado, com muita matéria para desbravar, sobre o milagre, os judeus, os emprestimos, etc, sem coligir informação nem presumir considerações nas lacunas documentais. A leitura desenvolve-se com a transcrição dos manuscritos por ordem sequencial de acontecimentos. Ressalta o ceio da Confraria, com realidades até hoje em penumbra, que não foram postas a descoberto, quiçá suscetível a alguns de fé mais arreigada, que em Democracia, muito se respeita. Mas, o passado é o que foi e devia ser contado, sem medo! 
Na verdade muitos livros não se venderam, com exemplares pela Biblioteca depois de terem andado pelo Centro Cultural e,...

Em ênfase a sociedade laica  que instituiu a Confraria

Jamais abordada a chegada de judeus  fugidos de Espanha depois de 1492, os chamados cristãos novos. A mistura de genes em gerações de cruzamento, persiste na região. 
Evocar povoadores vindos da Galiza, os judeus sefarditas, os primeiros na região e depois clãs judaicos na centuria de 500. A minha bisavó materna Brízida Ferreira, da Mouta Redonda, Pousaflores, transmitiu ao seu neto: Alberto Afonso Lucas, colónias de Fariseus e Galileus nas Cinco Vilas, com menção na Crónica da História de Pousaflores.

Os judeus foram obrigados a professar a religião cristã, em Portugal. Muitos não se mostraram disponiveis para essa variante e foram expulsos de Portugal pelo rei D.Manuel I. Em 1500, o 1º navio após a descoberta do Brazil levou 500 judeus. Povo de cariz inteligente e letrado, deliberadamente muitos dos que ficaram profanaram a Fé Católica, sem a assumir e, a igreja nem se deu conta, ou deu, mas, como lhe era propicio dada a riqueza que granjeava, tenha fechado olhos...E outros foram denunciados e tiveram má sorte com a inquisição. Foi uma vida dura. Povo judaico, de oposição ferrenha ao Cristianismo, que se rendeu no tempos numa figura de fanáticos e hipócritas que apenas manipulavam as leis para seu interesse a fomento de riqueza. Esse comportamento e modo de viver, deu origem ao termo "fariseu" para explicar a razão de tanto milagre e romaria no séc. XVII, com suporte na esperança encapuçada de cura milagrosa, em gente beatizada e analfabeta, por isso algum êxito.

O livro da Confraria do Dr. Manuel Dias, foi suporte ao pedido da Câmara de Ansião, ao IGPAR, para classificação da Capela da Constantina, como Imóvel de Interesse Público

Saiu no Diário de Notícias em 24 de abril de 2013 (…) o valor da Capela enquanto testemunho simbólico ou religioso, estético, técnico e material intrínseco e, a sua conceção arquitetónica e paisagística. Severim Faria, na sua visita em 1625 - chamou-lhe Igreja.

Contudo desvendar o passado obriga a falar direito do que realmente aconteceu. 
Na Cronologia dos Monumentos Nacionais não há menção de escavação arqueológica ao morro do sítio da capela que aponta para possível podium romano? E ainda sobre as colunas do alpendre que foram esculpidas em 4 meses ? O tempo diminuto de 4 meses que demorou ampliar a ermida na capela atual? Quiçá, as colunas ou são reutilização ou, vindas de outro podium do sítio da atual matriz, ou não, trata-se de arte de lavrante quinhentista, ao jus do nicho do altar da Senhora e arco triunfal esculpido com a simbologia aos afetos nos anjos alados. Como faltou aprofundar em âmbito antropológico a voz do povo, das suas memórias ao eclético ; túneis de mouros e de um Menino Jesus em ouro, enterrado à passagem dos franceses....o que parece existe é outro Menino Jesus de terracota... Jaz no adro uma grande pia de água benta, a servidão de lava-mãos – teria sido da primitiva matriz de Ansião - em 1807, as pias de água benta foram consertadas…

Tantas vezes para visitar a Constantina, aconteceu em agosto de 1990
Pasmei, ao galilé de colossal colunata, à laia do rico templo de Diana!



O rei D. Filipe III, de Espanha, assinou os Estatutos da Confraria, em Lisboa e, jamais passou na Constantina, nem em 1669, o príncipe Cosme de Médicis.

Dissecar excertos  do livro de 1996 a Confraria de Nossa Senhora da Paz 

(...) Em 1786 roubo na capela, vários objectos em ouro foram roubados da NS da Paz durante a noite com arrombamento da porta a norte.» Sem  especificar os objectos roubados.

(...) Em 1811 as invasões francesas na sua passagem a feira de 24 de janeiro não se realizou, nem missas, as casas e alpendes da confraria foram incendiados. 
O autor não fez menção das duas marcas de fogueira, uma no lajeado do alpendre e outra no corpo da capela.

No “O Inventário Artístico de Portugal” de 1955  
A respeito, o seguinte desabafo: O sacristão disse que o templo estava muito desmoralizado, e os inventariantes estiveram de acordo. 

(...) A erecção da Confraria de NS da Paz , resultou da necessidade que se sentia, na freguesia de Ansião, de cuidar do culto a N S da Paz e de dar boa arrecadação às esmolas , que eram ofertadas em grande número , em virtude de muita gente que ia, em romagem , à Constantina e Fonte Santa. Foi em Ansião a 17 de outubro de 1623 , estando presentes o juiz do lugar e o juiz da igreja mais «outo homens dos Acordos dos ditos Concelho de Ancião(...) e por elles juizes foi dito aos outo homens dos Acordos, e ao pouo que presente estaua que pois a Sra da Paz lhes fazia tantas merces sendo seruda de os fauorecer comtantos; tam cõntinuos milagres; por essa causa auer muito grande concurso de gente devota que aella vem com suas esmolas e procissões que também vinhão a Senhora ; por conuir ao serviço da dita Senhora ; bem espiritual das suas almas, disserão elles os juizes aos dito outo homens do concelho; mais povo queera bem de todos juntos instituissem ,  ordenasse Confraria à dita Senhora e se escrevessem por seus irmãos e confrades, e de todos se elegessem oficiais.
Logo aí foram empossados pelo juiz do Lugar Thomé Roriz lhes deu juramento dos Santos Evangelhos em que puzerão as mãos , os primeiros oficiais que serviram a Confaria.
Juiz João Freire  o velho. 
Mordomos Gaspar Nunez de Ancian 
Gregório Roriz da Ribeira (da Mata que vem do Alvorge para a Lagarteira)
Escrivão - António Jorge da Constantina.

Os Oficiais da Confraria e, 8 homens dos Acordos. 

(...) A Confraria fundou-se com 70 Irmãos  sempre com numero crescente de confrades sem fazer exigência aos critérios de admissão e aos estatutos  na distinção de irmãos e de irmãs como outra Confraria da mesma Diocese - Marmeleira , em Mortágua.

Irmãos fundadores da Irmandade de NSPaz 
Pista importante que documenta os mais ilustres nessa época.
(...) A  crónica de Severim Faria, na visita à Constantina, com o tio, o Chantre de Évora, tendo ficado na vila na casa de D. Cristóvão Manoel, quem tinha a comenda de Ansião, em 1625. 
Fala de João Freire o velho - o juiz com o poder na igreja, que instituiu uma capela em 1603, descrita nas Memórias Paroquiais. 

Os Mordomos da Confraria: Gaspar Nunez de Ansião e Gregório Roiz da Ribeira(Açor) 

O escrivão António Jorge da Constantina.  Lhes deu juramento o juiz da vintena da Sarzedela a que a comuna da Constantina estava sujeita Thomé Roiz 

(...) depois aparece Leonardo Freire mor de Ansião, depreendo capitão mor, assinaram - Leonardo Freire, André Fernandes( fez uma capela particular na matriz de Ansião, onde foi sepultado com a esposa), João Freire, Simão do Rego, Gaspar Nunez, Po (Pedro Viegas, Francisco Freire, Miguel João,João Aº (António) , Manoel Antunez, Manoel Frz queimado (pode ser alcunha),Damião Cardozo, António Roiz, Simão Pirez, Fr.co(Francisco João, António Simois, Miguel Antunez, P.o frz (Pedro Francisco?)Simão Nunez, Luís daureau Borges, Manoel Cerveira, Antº(António) Jorge, Manoel Freire, António Dias quabaço (alcunha?) , António Vicente, Domingos João de casal, Manoel Freire da Sarzedela, João Freire das Lagoas, Simão Bras, o novo, Ruy Piz o velho, Simão Matheus, António Nunez, Simão Afonso ( correlacionei-o irmão de mais dois, todos escreveram carta ao papa para fundar a igreja no Avelar julgo 1603), P.o Glz, Domingos João. 

Dissecar a Associação dos Irmãos na Confraria

A fundação da  Confraria de NSPaz aconteceu a 17 de outubro de 1623 , após 67 dias do Milagre da Fonte Santa  . Se admita alavancada com as comunidades laicas da Constantina e da vila, unidas a cimentar o milagre, sem pejo, a profanar a religião cristã a engodo de águas santas, no poço de chafurdo romano, na beira da via secundária romana, agora medieval. Honra a qualquer terra é agraciar o viajante com oferta de água fresca e jamais receber esmola a cura milagrosa encapuçada sem dó nem piedade! 

Os Irmãos eram compostos por homens de maior estatuto financeiro e os de menor condição - os chamados Irmãos mecânicos. 

A Fundação da Confraria formou-se com homens da Constantina, Sarzedela, Casal, Lagoas, Maxial, Ribeira (Açor) e os da vila

Coligi ; 

Em 1623, era irmão da Confraria Simão Afonso; um de 3 manos que enviaram carta ao Papa para fundação da Igreja no Avelar. 

Em 1681, temos o registo de falecimento na sua casa de Ansião, de um frade da Ordem de S. Domingos. 

Quiçá vindo dos Mosteiros da sua Ordem; Pêra, ou Alge, passou por Ansião por casa do amigo, seguiria para o do Rego da Murta, debalde não sabemos se ainda nesta data estava ativo. Simão Afonso seria abastado, com moinhos de água, para acolher gente do clero.

Já o seu descendente João Afonso, da vila, na centúria de 800, foi assistido na doença várias vezes pela Casa da Misericórdia de Ansião e, depois a sua viúva. Julga-se perdido o apelido na freguesia; que o carrego da minha mãe, com origem em Pousaflores e, vivo, em Chão de Couce.

Temos em 1668 - a doação de 100 réis, de Dom Velasquez Sarmento e mãe D. Sebastiana de Almeida e, seu filho Dom João Sarmento. Família que carece de estudo genealógico com origem no Espinhal. Em Ansião, viveram na Quinta do Vale Mosteiro de Baixo, Fonte Galega e, Quinta de Além da Ponte, com jazigo no cemitério. A negação à digitalização dos sepultamentos a grande lacuna, em mais se investigar.

Admite-se que João Freire o velho, juiz da igreja foi o mentor que levou a Imagem da Virgem que fora espólio da primitiva matriz, para a Constantina, onde foi batizada ao culto de NSPaz, nascido em Toledo. A crónica de Severim Faria de 1625 retrata o episódio enviesado e distorcido da realidade, ao acusar o povo da Constantina de a ter ido de noite buscar à sacristia, para os ansos não se darem conta...o que depreendo das entrelinhas, aqui fica a ressalva da  sua ilibação.

Confraria da Constantina com o Alvará Régio de Filipe IV de 30.10.1624
1.ª página 
«Eu El Reyfaço saber aos que este Alvará virem que os officiaes da confraria da nossa senhora da paz do Lugar da Constantina na freguesia de Ansião termo da cidade de Coimbra me emviarão dizer por sua petição que a dita comfraria hia em grande augmento por causa das grandes maravilhas e mylagres que a Virgem nossa senhora obrava cada dia e pêra que o serviço da senhora se podesse conservar e se fizesse com a perfeição que comvinha ordenarão por comum consentimento de todos o Compromisso que oferecido o qual corregedor e provedor daquella comarca vira e aprovara como constava do assento que disso sejizera Pedindo me lhes fizesse merçe de lho mandar confirmar, E visto seu Requerimento e a informação que se ouve pello doutor Diogo ferreira de Carvalho dezembargador da casa da suplicação que vio o dito Compromisso e he o atras escrito em onze meãs folhas como esta e querendo lhes fazer graça e merçe hey por bem e me apraz de lhes confirmar como de feito por este Alvora confirmo hey por confirmado o dito compromisso na forma e nossa maneira que neíle se contem e quero que assise cumpra eguarde como nelíe se declara e mando a todos os dezembargadores, corregedores, provedores, ouvidores, juizes, justiças officiaes e pessoas a que o conhecimento disto pertencer que assi o cumprão e guardem ejaçam inteiramente comprir e guardar. E me praz que valha tenha Jorça e vigor como sejbra carta Jeita em meu nome por mim assinada sem embargo de ordenação do segundo Livro titolo corenta em contrario Pedro Alvarez o fez em Lisboa a trinta de Outubro de mil seiscentos e vinte e quatro. Manoel Jugundez o Jez escrever.
Segue- se a assinatura de Filipe IV do Alvará que Vossa Magestade he por bem de confirmar aos officiaes da confraria de nossa senhora da paz do Lugar da Constantina freguesia de Ansião termo da cidade de Coimbra, este Compromisso na forma que nelle se contem pello mandado acima declarado. Seguem-se duas assinaturas».
Primeiro Compromisso da Confraria da Constantina 
«CAP.° 1 do Recebimento dos Irmãos nesta Confraria
Todos os Fieis Christãos; que por serviço de Nossa Snrã da paz se quizer meter por irmão desta sancta Confraria será assentado no Livro della, e dará cada hum de entrada conforme sua possibilidade, que a menos será de cada hum vinte reis e sendo pobre dez reis, e quando falecer deixe a dita Confraria de seus bens o que quizer, e será participante em todos os benefícios que o Senhor Deos e o Padre Sancto o Papa nosso Senhor outorga aos confrades que nesta confraria entrão
CAP.° II da pena que averão, os que não aceitarem o Serviço da Confraria
Ordenamos e estatuímos, que cada hum dos ditos irmãos que sair por official desta Confraria se não escuse do cargo que lhe for lançado e aquelle que o recuzar sem legitimo impedimento pagara sinco arráteis de cera se for mordomo ou Escrivão, mas se for Juiz dez arráteis de cera em pena de não aceitarem o serviço da dita confraria.
CAP.° III da ordem que avera no dizer das Missas
Nesta Confraria como dito he avera hum Juiz, dous mordomos, hum Escrivão, e hum Cappelão o qual dirá missa pellos irmãos confrades e benfeitores desta Sancta confraria, e caza e vivos e defunctos, todos os dias de Nossa Snra que ha pella roda do anno, e Domingos e Sanctos delle e assi mais os primeiros Domingos de cada mes se dirá nua missa em memoria dos doze Apóstolos de Christo para que roguem a Deos por nós pecadores tudo a custa da Confraria, e os officiaes que servirem darão candeas ou vellas aos confrades que terão acezas em suas mãos, emquanto estiverem a dita missa e o Capellão antes do Prefacio ao tomar do lavatório será obrigado a dizer pellos vivos e defunctos e benfeitores desta caza a oração do Padre nosso, e Ave Maria, e os confrades prezentes o rezarão também pedindo ao Senhor Deos haja por seu Sancto serviço aver misericórdia das almas de nossos irmãos e confrades vivos e defunctos.
CAP.° IIII Como por ordem do Juiz se mandarão dizer as missas 
O Juiz terá cuidado de mandar dizer as missas sobreditas para que a Senhora seja bem servida e assi tudo o mais que he bem parecer, conforme a possibilidade da dita confraria e para honra de Deos e de nossa Senhora e proveitos de nossas almas e dos defunctos.
CAP.° V que o Juiz que se elleger tenha as partes que se requerem
Na elleição do Juiz se terá muita consideração para que se elleja pessoa que tenha as partes que para o dito cargo se requerem: e a mesma se terá na elleição dos demais officiaes, e ao fazer delles se lerá este capitulo aos cabiduães que os hande elleger
CAP.° VI de como se ellegerão os seis cabiduães, e os mais offíciaes que hande servir a Confraria
Mais ordenamos que em cada hum anno se ellejão primeiramente seis homens dos irmãos da Confraria de boa e sam consciência e fama que sejão Cabiduães elleitores e que estes ellejão os ditos offíciaes como dito he, e o Juiz Velho da confraria lhe dará juramento para que bem e verdadeiramente sirvão seus offícios, que na dita Confraria me forem dados guardando primeiramente o Serviço de Deos e de Nossa Senhora e bem do prol commum segundo suas consciencias: estes seis homens se hande elleger em cada hum anno pello dia de Nossa Senhora da Paz para a dita elleição como dito he.
CAP.° VII da obrigação dos mordomos e como terão em seu poder as pessas e ornamentos da Confraria
Ordenamos que os mordomos que servirem e ao diante forem terão em seu poder todas as pessas ou prata e mais ornamentos e as demais couzas da Confraria que se terá dentro em hum caixão que mandarão fazer para terem as cousas sobre ditas da Confraria e terão muito cuidado e lembrança destas e de todas as mais cousas que lhe pertencem convém a saber de mandarem pedir para as missas de Nossa Senhora e suas obras na qual igreja e hermida avera alem disso huã caixa para nella os Romeyros e fieis christãos deitarem esmola para as obras de Nossa Senhora a qual terá duas chaves com boas fechaduras differentes-huã das quaes terá o Juiz da dita Confraria e outra hum dos mordomos e isto em quanto servirem o seu anno e terão muito cuidado de mandarem fazer, e pôr em recado todas as cousas que pertencem a Confraria e de as mandar fazer e comprar cada huã em seu tempos sob penna de pagarem de suas cazas a Confraria tudo aquillo que por sua negligencia ou culpa se perder; e de tudo o que Receberem e despenderem lhe será tomada conta pello Juiz e officiaes que de novo entrarem a servir a Senhora da Paz, a qual darão tanto que acabarem de servir seu anno dentro em quinze dias ao mais tardar, sob penna de mil reis para a cera e obras da Confraria.
CAP.° VIII como as cousas da Confraria se arrendarão ou arrematarão
a quem por ellas mais der
Todos os bens que ouver da Confraria se arrematarão em pregão a quem por elles mais der e o que Renderem se carregara em termo apartado no livro das Receitas desta Confraria.
CAP.° IX de que avendo duvida na elleição se ellegera por votos de toda a Irmandade o Capellão
Ordenamos que avendo duvidas entre os seis elleitores Cabiduães, Juiz e officiaes da Confraria sobre a elleição do Cappellão dela, se ellegera a mais votos de todos os irmãos e confrades para que não aja scandalo entre os officiaes e se faça o que for mais proveito da Confraria porque assi entendemos será a Senhora mais bem servida.
E Porque de todo o conteúdo neste Compromisso somos contentes Pedimos a Vossa Magestade nos faça merçe de o mandar confirmar e mandar que o Juiz da dita Confraria tenha poder e auctoridade para obrigar ou executar nas pennas sobreditas aos irmãos que não quizerem aceitar os cargos e officios que nesta Confraria da Senhora da Paz lhe forem dados, E, R, M.»

Esta é que é a Imagem da verdadeira Nossa Senhora da Paz

A Confraria solicitou alvará para duas Feiras Francas

(...) O alvará régio para duas Feiras Francas  a realizar a 24 de janeiro e a 2 de julho de cada ano no Rocio da Capela foi concedido por D Pedro II a 25 de junho de 1697. 

Ação mercantil  com tradições de património imaterial  ao rei pinhão e à Rainha Santa Isabel,  a evocar a memoria da sua passagem por Ansião.  

Com panóplia de vendedores de várias origens. Na centúria de 800, coligi a sua vinda de Soure, ao enxergar tamanha riqueza, credível levaram a semente dando início ao ritual - Ramo de Pinhões ao Divino Espírito Santo - andor enfeitado com pinhões, há mais de 200 anos. De igual modo, foi plantada  a semente em Oliveira do Conde, hoje Carregal do Sal, de onde também eram assíduos vendedores nas feiras na venda de tanino e, claro se tenham alastrado ao Alto Alentejo, por serviçais dos Senhorios na região abaixo do Tejo. 

A  transcrição sobre o vendedor aforô Manoel António Roriz Guimaes

Se entenda apelido com origem da terra de origem. 
Em  Ansião e, a escassos quilómetros a sul da Freixianda, em Rio de Couros, houve prática da arte de curtir peles,  trazida de Guimarães, onde era rainha, arte deixada dos mouros,  ainda hoje com grande evidência em Fez, no norte de África. Curiosamente a festa do bôlo, massa de pão, cozido nos fornos como Abiul, Avelar, que ainda existem, também aqui houve essa tradição, como em Pombal e Santiago de Litém.

O apelido Guimarães
Desconheço  como o meu ascendente  António Joaquim Bastos Guimarães, nascido em Fafe, educado na Roda de Guimarães, veio para  Maças de D. Maria. Aportou à Cabeça do Bairro, em Ansião , como Oficial de Diligências no Tribunal na Casa da Câmara. O apelido perdeu-se em Ansião , ainda vivo em Figueiró dos Vinhos.

Retirei excerto sobre a arte de curtir couros em Guimarães
https://bloguedominho.blogs.sapo.pt/
(...) Noutros tempos as pesadas fazendas – assim eram denominados os couros - eram submetidas a complexos e demorados processos de transformação. Em condições de trabalho muito precárias e estando em permanente contacto com a água, homens de forte compleição física revolviam as peles mergulhadas em tanques  de granito rasos ao chão, como no norte de África ainda se usam para a tinturaria. Os curtidores eliminavam os pêlos e as gorduras, com auxílio de ferrelhas, preparando as fazendas para durante meses receberem a curtimenta propriamente dita.
As cascas de carvalho, retiradas das árvores que abundam nas serras altas de Fafe, ofereciam o tanino à operação que era orientada pelo saber transmitido de geração em geração.
Descalços, ao sol ou à chuva, os curtidores tinham um trabalho árduo, sujo e mal-cheiroso. A sua experiência e sabedoria eram, no entanto, fundamentais para o conhecimento das implicações das condições climatéricas na temperatura das águas onde repousavam as peles em banhos tanantes.
Seguia-se o enxugo muitas vezes ao ar livre, ocupando as bermas da via pública.
Cabia aos surradores o processo de acabamento, antes dos couros serem colocados a secar em arejados barracões de madeira, construídos sobre oficinas ou paredes-meias com as modestas habitações operárias, ou até nos quintais dos edifícios burgueses.
Sabendo que ao longo de séculos, as matérias-primas desta indústria foram os couros do gado bovino abatido no norte. Seguiram-se as peles oriundas do Brasil e de Angola e Moçambique.
O negócio era rentável e despertava o interesse e o investimento de pessoas oriundas de todas as classes sociais, tendo-se tornado numa atividade que muito contribuiu para a projeção económica de Guimarães e para o desenvolvimento de outras atividades como a industria do calçado. 

Em plena época medieval propícia a milagres e águas santas, singrou o pinhão - alimento trazido por gregos;  alimento duradoiro e vendável. 
O cultivo da pinheira, além do pinhão, a casca é rica em taninos, usada para curtir couros na indústria que floresceu em Guimarães, desde a Idade Média, fora das antigas muralhas junto ao rio que atravessa a Cidade, numa zona outrora conhecida por burgo de Couros e onde atualmente ainda persistem os vestígios dessa ligação antiga à manufatura das peles.

Os curtumes explicam a migração interna de gente do norte que trouxeram a  herança dos curtumes para Ansião. Contudo, a falta de água os tenha feito mudar na centúria de 700, para fidelizar o toponimo Rio de Couros, em Ourém e Torres Novas, senhorio do Duque de Aveiro, como teve quintas em Ansião. Hoje, a industria dos couros, floresce em Pernes. 

Nas Memórias Paroquiais temos um um individuo de apelido Freire Gameiro que instituiu uma capela na vila de Ansião,  e  assistia às missas em Torres Novas. 
Se correlacionar o apelido Gameiro, nos donos dos Armazéns de Maças de D.Maria com o pai da locutora Fátima Lopes, de quem conheci o irmão, o padre Ricardo Gameiro na Cova da Piedade, cuja alta estatura e olhão a filões de oportunidades, se revela cariz altivo de  genes judaicos.
Resquícios da herança de curtumes, recordo o meu pai curtir uma pele de uma cabrita e,  de a ver esticada em canas, a lembrar um estandarte.

Por datar o início do conceito da Banca em Ansião
acreditação do milagre da Fonte Santa fomentou a chegada de muitos doentes na procura de cura, romeiros e novos confrades. As esmolas eram tantas, que logo decidiram ampliar a pequena ermida na Constantina, capela atual, que se devia chamar igreja, pela monumentalidade. 
Os judeus implementaram na Casa da Mesericórdia de Ansião o início do sistema da Banca, concedendo empréstimos, cujos incumprimentos reverteram para a Casa as hipotecas, e daí os seus bens no final do Séc. XIX, que foram disseminados... E tenha sido este espirito de fomentar riqueza que se incremetou nos clãs da Confraria com aplicação de juros a 5%. é desconhecido em Portugal, a terra, que primeiramente introduziu a técnica de cobrar juros, na rentabilização de recursos financeiros, rotulada de ajuda humanitária? Fenómeno bancário documentado, foi exercido na Constantina, e na Misericórdia de Ansião, documentado num livro de 1837, desconhecido de investigadores, em bibliografia inédita. Jamais valorada na sociedade laica que a concebeu e, se aclame – ainda se mantém viva entre particulares, no concelho de Ansião!

O ativo financeiro correlacionado no livro da Confraria

(...) em 25-06 de 1697, o alvará das feiras francas, a conceder autorização aos oficiais da Confraria  para cobrança do terrádego aos feirantes, alugava tábuas, alpendres e ainda disponibilizava duas casas. Mercadores pagam 300 reis, Tendeiros, Sombreireiros, Cortidores. ourivices, 100 res , demenos conta cinquenta, unindo carros e cavalgaduras , e ainda a cabessa com as costas, 20 reis.

(...) alguns aforamentos entre 1815/8 de vendedores que se deslocavam de longe desde Tomar, chegavam de antevéspera ou véspera para arranjar melhores locais. 

(...) Aforão nove lugares de Vala (de Ourique)- que o autor não conseguiu decifrar (?) Jozé da Cruz Marto; Manoel Marquez Loirenço e da outra banda Joze Marquez Loirenço; aforão José Pedro de Condeixa, em 1815 dois lugares pegados à capella; aforô Manoel António Roriz Guimaes o lugar pegado à loja de baetas de João Batista de Soire da parte de tras em 24 de janeiro de 1817; aforô Sr Joze Caetano de Soire hum alpender o de cima o Lugar do meio - 1.000 por cada um , 23 de janeiro de 1815. 

(...) Esmolas a forasteiros suplicadas , em género (milho, trigo etc,  que depois era vendido) com outras em dinheiro a juntar com as esmolas da caixa da Capela, azeite de 223 oliveiras e lande de 6 carvalhos, e rendas de três fazendas; Poizão, Linhares e Vale das Caeiras. Com capital a juro (julga-se de 1774 até 1853 no total de 148.100 réis, que, à taxa de 5% dava um  juro de 7.400 réis ao ano. Passou nesse ano para 348.100 réis, com o legado de 200.000 réis, passando a 17.500 réis/ano. Em 1850 a Confraria com o recebimento de um  legado de 200 000 réis reforçou a carteira no total de 350.000. Lamenta-se a falta de menção de quem fez a doação, seria de pessoa importante.

 (…) uma das mais antigas instituições de Ansião. Se comprova no registo paroquial (…) a 9 de julho de 1600 batizou António Martins, capelão da confraria da minha igreja - mais tarde aparece denominada por Confraria velha.


Notas curiosas que se retiram do livro                             
(...) Em 1775 venda do olival do Rossio em volta da capela por preço muito inferior ao valor real que provocou grande consternação por muitos irmãos...» 
Segundo o autor João Freire seria  irmão de Francisco Freire, ambos dos Netos, este em 1775 Mordomo da Confraria e  nesta data João Freire aproveitando-se da função do seu irmão ser o Mordomo, comprou o olival do Rossio da Capela, sem ter dinheiro contraindo um empréstimo de 57.600 réis  de valor inferior , quando valia 150.000 réis. 
Denota o jogo oportunista no seio do interesse familiar em  obter beneficio, furando o conceito dos Estatutos da  Confraria - para um irmão  privilegiar um familiar direto, um seu irmão de sangue, em detrimento de toda a Irmandade da Confraria.
Assiste-se ao mesmo sofisma implantado com a fidelização do Milagre da Fonte Santa, no imediato ampliar a ermida na Constantina, em templo recorde (4 meses), engrandecida  com telheiro para acoitar romeiros, quando o certo seria ter erigida no Lugar onde nasceu o  Milagre.
Por último, a venda do olival por  valor inferior ao do mercado e, o comprador sem capital  a ser financiado pela Confraria,  onde o irmão teria voz firme para a sua aprovação.
O episódio, retrata o início do conceito da Banca, no concelho de Ansião, introduzido pela comunidade judaica  na Constantina que a documentação da  Confraria o legitima - mas o autor não correlacionou, e, na minha actividade bancária correlacionar com  extraordinária facilidade .

(...) Em 1774 aparecem nomes  a quem foi dado empréstimos
Manuel Roriz Valente ; Manuel Simões; João Freire;Lucas Pereira Pegado; Manuel Roriz; João Pires; Maria dos Anjos, viúva de António Freire; Luísa Maria, viúva; João de Barros; Maria Godinha; Manuel Roriz da Paz; Manuel da Costa;José Mendes ; António Duarte Faveiro; Joaquim Marques; José da Silva; Narciso Caetano; Francisco Dias e,... 
Sobre Manuel Roriz Valente - faz parte da minha árvore genealógica com raízes na Constantina e Sarzedela.

(...) com base numa certidão lavrada em 1776 passada à ordem do Provedor pelo escrivão da Confraria Alexandre de Barros e Santos, e pelo Mordomo da mesma João da Silva, muitas vezes, os Mordomos eram negligentes , ou não se queriam dar ao trabalho burocrático , ou ainda, pretendiam escapar ao pagamento da décima, não registando  no notário estes contratos de empréstimos, daí que tivessem sido advertidos   várias vezes para este facto. A "actividade financeira" era útil para ambas as partes: para as pessoas que contraiam os empréstimos , porque assim podiam satisfazer necessidades imediatas de capital, por um juro bastante baixo e para a Confraria que, deste modo rentabilizava , em segurança, o seu dinheiro.
Na Constantina - 7 empréstimos
Netos - 1 mas atinge 1%3 do total do capital emprestado
Loureiros - 1 empréstimo
Ansião - 1
De Ansião - Maria Godinha- em 1776 encontrava-se em litigo no juízo de Ansião  
O capital a juro da Confraria era de 138.026 réis e com ele 145.326 réis =7.300 réis que devia
A Confraria aceitava mulheres como confrades. Contudo se admitirmos que o ganho de direitos - como o simples ato de abrir uma conta bancária,  só foi possível após o 25 de abril - acaso seria abençoada de belos olhos azuis como Jesus?

O valor dos empréstimos até meados do século XIX rondou neste e noutros beneficiários, viúvos e filhos o montante de 148.000 réis, o que dava um  juro de 7.400 réis ao ano no ano de 1850.

(...) O maior número de confrades de Pedrogão Grande, auspicia origem do apelido Freire, aportado a Ansião, da família nobre de Miguel Leitão Freire d’ Andrade? Ou de um ramo que veio de Soure?

Não deslindei no livro do Dr. Manuel Dias, referência ao Mestre Jesuíta António dos Santos Coutinho

Vindo de Lamego a Ansião onde instituiu em 1696, um Morgadio com capelas aos seus limites, para não se perder a memória da passagem da Rainha Santa Isabel. Porém, não aparece como confrade, nem menção de esmola, nem de outrem do seu apelido – pese o arquivo incompleto, e tendo a sua família exercido cargos na Misericórdia de Ansião, acaso seriam de um outro clã,  que não se identificava com a ideologia cimentada no milagre da Fonte Santa? Ou não, a rivalidade era cimentada no dinheiro? 

A Feira Franca dedicada à Rainha Santa Isabel a 2 de julho, com alvará régio a 25 de junho de 1697. Agora saber quem foi o pioneiro a perpetuar a memória da Rainha Santa Isabel em terras de Ansião? 

O Mestre Jesuíta ou, a Confraria da Constantina? Admito foi o Mestre Jesuíta, e a rivalidade foi essa mesmo, por isso a Confraria pediu no ano seguinte o alvará para uma 2ª feira em sua honra. Sem explicação a razão de não ser no dia 4 e sim no dia 2. óbvio para ter vendedores que daqui seguiam para Coimbra.

A saída das Feiras do terrado da Constantina

Nos finais do séc. XIX deu-se a mudança das feiras francas para a vila. 

Perdeu-se a sua identidade cultural, resiste  a feira dos Pinhões e as festas na Constantina.

O povo da Constantina ainda guarda a amargura da retirada das feiras, e claro da perda da receita. 

Após a retirada das Feiras Francas da Constantina para a vila, a camara de Ansião, fez promessa de  pagamentos em ata, mas, jamais cumprida. Explica num hiato de 98 anos o fraco rendimento da Confraria sem a receita da feira a ditar a falta de manutenção da capela sem obras de benfeitoria. 

Bom, e o dinheiro que andava emprestado, que não foi pago nem os juros? Muitos não ressarciram a Confraria dos emprestimos e outros teriam ficado com ouro,  entregue em promessas. A ilação que se retira se atender ao  rico património, que se desvaneceu e degradou, com agravo dos párocos que passaram por Ansião, a não lhe destacar o seu valor. Exceção do Sr. Padre Manuel Ventura Pinho, na primeira vez que visitou a Constantina, enxergou o real património da capela, e claro deu alerta para ser hoje um Monumento de Interesse Nacional! 

Um bom exemplo de padre, muito fez pela preservação do património religioso em Ansião a que se junta a partilha de o dar a conhecer ao Mundo, merecia estar atestado na toponímia. 

Conclusão

A Confraria desempenhou papel fulcral na troca cultural alicerçada numa instituição de âmbito religioso, com romaria e peregrinação a NSPaz, cujos devotos eram maioritariamente da região centro, vindos ao chamariz do banho para curar maleitas. Já os confrades, vinham também pedir concessão de crédito. Os pobres e mendigos procuravam apoio e ajuda solidária. Gáudio a ação mercantil, pela panóplia de oferta: tecelagem, peleiros – alcunha viva em Ansião, o comprador de peles de coelho para vender para as fábricas de chapéus e julgo para os franjados dos xailes da Lomba da Casa, tanoeiros e ferreiros do Pereiro, de Pousaflores, oleiros de Miranda do Corvo, paneiros de Soure, baetas de Condeixa, ourives de Febres e Cantanhede, curtidores de Guimarães , chapeleiros de Braga, sedas de Bragança, etc. 

Por fim comparar na mesma Diocese, a que foi a Irmandade da Senhora do Carmo da Marmeleira de Mortágua, com estudo em 1987, da Dra Guilhermina Mota. Em verdade – a Confraria da Senhora da Paz – apresenta-se em imerecido patamar inferior. A exigir maior investigação, divulgação e acreditação, pela secular dimensão oferecida tanto aos de casa como aos de fora. 

Igual descrédito a falta de menção das suas Feiras Francas, no livro Feiras no Portugal Medieval de Paulo Morgado e Cunha de 2019 e, já antes, em 1982, no estudo de Virgínia Rau.

Fechar ao apelo da mensagem exarada no livro pelo ex. presidente autárquico Dr. Fernando Marques (...) Estudos da História Local, são sempre da maior importância para a região a quem dizem respeito e para a historiografia geral, pois são contributos indispensáveis ao conhecimento de nós próprios e do nosso passado. 

Sugere-se para a comemoração dos 400 anos - a reedição do livro - vestido de nova abordagem, estudo antropológico à acreditação do Milagre, curas a banhos, confraria, devoção a NSPaz e feiras francas.


Excertos retirados do livro do Dr Manuel Dias








FONTES
O livro  Perspetiva Global da Arqueologia Histórica e Arte da Vila e do Concelho de Ansião, de 1986, do Padre José Eduardo Reis Coutinho
Livro da Confraria de NSdaPaz de 1996 do Dr Manuel Dias
Memórias Paroquiais
Informação de Henrique Dias
https://bloguedominho.blogs.sapo.pt/

Seguidores

Arquivo do blog