segunda-feira, 17 de setembro de 2018

As festas de agosto em Ansião em 2018

A primeira vez que recebi convite para a abertura solene das Festas de Ansião, debalde a minha ausência prendeu-se por ter os netos a meu encargo que não podia negligenciar a sua atenção, mas fiquei triste!

Dia do Cortejo
Em casa com os netos na sesta quando comecei a sentir alvoroço na minha rua, mas nada como me lembro de outros anos na década de 60, ai sim é que era povo em massa!
A minha irmã  toca à campainha para aliciar os cachopos para a festa cujo desfile do carro da Lagoa Parada vindo do Ribeiro da Vide se anunciava.
Mais um ano em que o desfile se apresentou com poucos carros e motivos repetidos ou recriados, debalde sobressaiu alguma criatividade!
Ano de substanciais mudanças em encurtar a rota do cortejo que deixou de passar pelo Fundo da Rua, o que deixou alguns amofinados...Não me chocou era um circuito muito grande. O cortejo alegórico depois de descer a Avª Dr Vitor Faveiro tomou a direção da vila pela Rua dos Bombeiros Voluntários,  na direção da Mata.
Inédito o uso de cartazes a explicar o tema alegórico. Excelente e boa iniciativa.
Netos
A Associação ALN dos Netos tem vindo a revelar o seu cariz unânime em conjugar com êxito a escolha temática e a estética usada nos pormenores, este ano merece destaque a escolha do tractor, bem antigo, estimado a  reluzir o encarnado no contraste com as flores em preto a exaltar a obra em ferro, a prata, e esta com a grelha . Parabéns. Equipa de sucesso no trabalho PowerMaint em pôr em pratica boas ideias. 
O carro dos Netos surpreendeu mais uma vez ao trazer uma escultura de uma cabeça de máquina de costura. Obra magnifica de extraordinário talento e engenho ditou o mote ao Sr Presidente da autarquia no seu reaproveitamento como escultura urbana na vila de Ansião. Não faço ideia onde vai ser colocada. A ter a menção "NETOS" na minha opinião, o local certo seria engrandecer o Lugar dos Netos, porque urge a necessidade de crescer e se alargar por quintais adentro, que o sinto em demasia abafado. Há que pensar no futuro a serem tomadas medidas de gesto benemérito em dar chão ou outras dádivas para inauguração de um espaço lúdico em fausto largo onde a obra escultórica o embelezaria em convívio com equipamentos urbanos; bancos, mesas, aparelhos de geriatria e uma fonte seria benéfica  para se confraternizar em descanso na partida e chegada de caminhadas, trilhos ou piqueniques tendo por sombra um frondoso carvalho cerquinho ou vários!
 
Lagoa Parada 
O motivo deste ano prendeu-se na angariação de fundos do povo da Lagoa Parada para ajudar na construção da igreja de Santiago da Guarda, quando a sua primitiva sofreu um incêndio que ainda me recordo dela.
 
Alvorge
O Alvorge trouxe o motivo da Lenda dos irmãos Germanelos.
Bem me recordo de o terem trazido há mais de 30 anos, na diferença que os montes eram mais parecidos em cone e mui verdes e agora mais a mato. Contudo gostei mais deste por trazer os ferreiros no topo na partilha do martelo dando mote à lenda quando descabou e do pau nasceu um zambujo, hoje o Zambujal.
 
Lamentavelmente assisti a muito pouca gente pelas ruas...
A minha irmã com a minha neta Laura a caminho do cabeleireiro para saber se a minha mãe já estava bonita.
Depois de acompanhar alguns carros alegóricos no desfile em direcção da festa vimos algumas pessoas na sombra que o calor castigava.
O meu marido levou pela mão a Laura e eu não podia faltar na minha selfie com o Vicente...
Houve também mudança do local do pódio onde todos os carros são objecto de aclamação e engrandecimento pelo motivo e pela vinda.O cortejo ao deixar de passar pela frontaria dos Paços do Concelho foi desviado uns metros ficando na mesma na sua imediação onde distingui no palanque o Sr Presidente com o staf camarário, convidados e outros que ali se quiseram sentar. Do lado norte na bancada faltou uma pala para cortar o sol, por isso quase vazia...Não conheço quem foram os oradores, o que senti não me cativaram o suficiente quando passei para me deixar ficar...o tenha sido pelo meu conservadorismo, ainda no ouvido guardo vozes emblemáticas que recordo com saudade...Entendo que um orador deve ter perfil carismático, conhecedor do que foi o passado e as tradições e ainda dono de voz sonante, quente e poética para encher o público de cultura e ainda olvidar a estorreira do calor de agosto!
Escrevo esta crónica com muito atraso no lamento em não me conseguir lembrar do que ouvi quando o orador falava do Alvorge a propósito do solar  dos Guerras com brasão dos Carneiro Figueiredo que me pareceu não estar correcto (?) debalde a minha memória atraiçoa-me!
Santiago da Guarda 

A escolha temática prendeu-se do antes e do agora ou seja do passado e do presente na arte do barbeiro.
Tenha sido este ano para mim o tema que se apresentou mais pobre. Faltou na arte de barbeiro uma cadeira de barbeiro, tão emblemáticas já devia haver uma em Espaço Museológico no concelho, não vi as navalhas de fazer a barba nem os acessórios, muito menos da bacia em faiança que o barbeiro quando ia a casa levava, tinham-me pedido que emprestava a minha. Em Ansião quem me cortou o cabelo pela primeira vez foi o barbeiro o Sr Júlio de Albarrol.
Ansião

O trigo na alusão ao pão que mata a fome ao povo!
A arte da debulha na eira de pedra com as alfaias; o malho e o ancinho onde não faltava a cesta do farnel coberto por toalha de linho com bela renda.
Amei rever as pedras da eira sentir o trigo da cor d'oiro em contraste ao linho da toalha e da renda que mãos cuidadosas e hábeis crochetou. 
Já quase ninguém se lembra do Engenho de Linho que existiu na quinta do Sr António Freire Parolo natural de Albarrol , emigrado no Brasil em principio do século XX tendo comprado parte de uma quinta (hoje o Bairro da Câmara)  onde fundou um Engenho, palavra trazida do Brasil na alusão aos engenhos do açúcar, erigido onde foi construída pela segunda vez as Escolas Primárias e ainda levantou uma grande casa com 12 janelas virada a sul com escadaria e jardim. O seu neto, o Carlitos Parolo a quem sempre assim o chamei pelo carinho que o meu pai sentia por ele se recorda a vibração sonora dos carolos em azinho...
 
Avelar
Gostei francamente do carro da vila do Avelar trazendo mais uma vez o belo Forno de Nossa Senhora da Guia com o seu escadatório por inovar ao trazer o grupo cénico de Penela na deixa medieval, em que todos se notaram belos actores, carismáticos e de excelente figura a que acresce pela primeira vez , pois não me recordo antes de ter visto trazerem  fogaças, ao jus de antanho que eram cozidas no forno de NSGUIA, que o Dr Fernando Inácio, PJFA me obsequiou e não resisti ao saborear da Padaria Rocha, apesar de estar ainda com resquícios de uma brutal virose que apanhou muitos como eu, mas não foi da água!
As fogaças e que bonitas e deliciosas estavam. Parabéns!
 
Questionei o aparente austero personagem corpulento de cabelos e barbas alvas e ainda dono de olhar forte se sabia a origem do apelido "Caspirro" que existiu no Avelar. Resposta ao sabor do humor sarcástico, debalde distraída não lhe apanhei a deixa por ser actor de craveira em que tola fiquei por a perder para apenas no respigo dizer Caspirro tinha sido um escravo do rei em Penela...
 
Mulher quiçá da região de Sicó bonita com charme, dona de belo olhar a cortar um pedaço de fogaça com a mão como o deve ser e o Pão de Ló assim também o foi e ainda é no Minho.
Torre de Vale de Todos
Trabalho muito artístico ao trazer a arte da cestaria com o vimieiro esplendoroso aberto em leque, qual pavão de cauda aberto a vaidosar os demais. Obra magnifica a rivalizar a convidada, uma das mulheres mais belas da terra, morena de olhar estonteante e sedutor a reivindicar genes de antepassados do Couto de Torre de Vale de Todos. Só faltou um cabaz à laia dos que se mandavam com batatas e feijões na carreira para Lisboa...
 
Pousaflores
Trouxe a rede de fontes e de tanques na freguesia
Registei a minha querida mãe a olhar as fotos a preto e branco dos vários lavadouros da sua freguesia de Pousaflores  quando uma mulher irrompe e lhe diz- olhe -  está aí o da sua Moita Redonda!
Revestiram o carro com fotos a preto e branco do património de fontes e de tanques, alguns ainda não foram requalificados.
Pousaflores detém de património cultural um trunfo que julgo nunca apresentou.
Faltará alma e ensejo à equipa para aqui o vir representar?
Expoente máximo destas festas o cortejo alegórico a merecer atenção para se engrandecer e não morrer. Ao que parece  em deliberação da assembleia camarária o cortejo que se fazia de dois em dois anos, doravante será de quatro em quatro. Está gasto, digo eu, a evidenciar algo tem de mudar porque o mundo também mudou e o que ontem foi bom hoje já não é a mesma coisa. Obriga a árduo trabalho a ser desde já incrementado nas escolas e nas gentes das freguesias para de novo sentir orgulho em participar e não ficar em casa. Quem não sente orgulho na obra escolhida pelo povo da sua freguesia para vir desfilar na sede de concelho, por certo não será um suposto bom cidadão -, aquele que se preocupa com o sucesso da sua terra e gosta de ouvir criticas, em geral abonatórias, porque os carros trazem o melhor que o povo neles quis incutir a que lhes junta sempre instrumentos e acessórios do passado na valorização das tradições.Por isso não se pode perder esta grande valia do povo em que a sua participação é fulcral por se mostrar em massa em que é fulcral dever sentir brio para voltar para casa envaidecido, feliz, por ter cumprido a sua missão no melhor que pode e soube.Pessoalmente sempre senti um extraordinário orgulho em participar e em acompanhar o carro do Ribeiro da Vide e Bairro de Santo António. Nas lembranças que tenho de criança recordo do cortejo atrair muito forasteiro e gente do concelho à vila , sobretudo porque havia sempre um carro que deliciava todos pela comida ou bebida, atributos os comes e bebes , são fundamentais para presentear quem está no palanque e outros no expoente máximo da partilha. Tempos em que se cozia o pão, merendeiras dos Santos, fritavam filhoses, destilava-se aguardente, retratava-se o S.Martinho e o vinho novo, as castanhas assadas e as nozes, a curtição dos tremoços o marisco do pobre e a arte em retalhar as azeitonas jamais alguém se lembrou da marmelada que se fazia em casa e do doce de tomate e ainda do fumeiro, da nossa chouriça e claro do leitão que começou por ser rei na Nexebra no frenético dinamismo em entrosar as tradições com o público em o distrair levando a saborear e comprar na feira, sapiência que não pode morrer, antes incentivada com marketing.

Gostei francamente do carro da vila do Avelar 
Derradeira escolha já de noite a caminho do arraial  onde sem peneiras me sentei no seu escadatório para sentir rainha por breves segundos onde me fiz à foto!
No recinto encontrei um elemento da JFA, aqui me desculpo de não recordar o seu nome, extremamente simpático, tabelámos conversa agradável sobre o Avelar e o seu engrandecimento!  
A deslocalização para  o antigo campo da bola
Apreciei a escadaria nova em ziguezague moderna em cimento armado, a olho nu mais de uma  tonelada de cimento...Bom projecto!
Dá uma dimensão de grandeza ao espaço e às festas!
Apreciei a Mata desocupada na perspectiva de pulmão e fresquidão a cativar o romance de gente sentada nos bancos de pedra ou a caminhar desafogadamente.E eram muitos os que andavam nos trilhos de noite...
Até que enfim Ansião se revela em grandeza em obra de envergadura!
Óbvio que também não fui alheia às mudanças na organização das festas para imediatamente me inteirar e perceber que foi uma boa aposta. Não  me chocou parte dos eventos que aconteciam na Mata tenham passado para o campo que foi de futebol, afinal em verdade apenas foi deslocalizado o restaurante do Clube dos Caçadores, um palco manteve-se e a casa Erbach este ano não abriu. 
O executivo PSD já antes tinha optado por transferir o antigo campo da bola para um estádio, obra megalómana na Quinta das Lagoas onde ainda construiu a casa da Amizade de Erbach, ambos de grande custo para a autarquia supostamente a pensar arrecadar dividendos com a venda do projecto para o velho campo da bola, debalde ao que se fez ouvir foram alertados de que não se podia vender... Reza na escritura da sua doação - campo para se jogar à bola a ter outra finalidade (urbanística) voltaria para os herdeiros da família que o doou. Uma intenção muito em voga entre o século XIX e XX. Nesse pressuposto e uma vez herdado o campo de piso asfaltado pareceu-me muito bem enquadrar  no seu recinto a festa que se apresentou mais arrumada  onde o convívio se sentiu salutar entre expositores, palcos, restaurante (s) com casas de banho. Apreciei os toldos nos corredores dos stands para cortar o sol. Senti agregação na concentração dos expositores, comes e bebes e palcos, ao jus de outras terras em fazer obra grande em prol de obra dispersa. O espaço pode vir a  enriquecer no futuro se for apetrechado de tascas a vender os produtos da região com tapas diversas; presunto, chouriça, morcela, farinheira outras com variedade de queijo da região de pasta fresca, mole, meia cura e curado e ainda  omeletes com os bons ovos da região, peixinhos da horta, pataniscas, filetes de bacalhau e petingas albardadas,  iscas e rim frito, pastéis de carne que as criadas faziam nas casas mais ricas, comesanas do genuíno gastronómico da nossa terra. A sopa de carnes lamentavelmente nunca o povo desta terra teve imaginação para lhe dar um nome para outros de olho aberto no Ribatejo a copiaram quando os ranchos das beiras ali se deslocavam às vindimas e pela apanha da azeitona. Noutro tempo não era uso a cenoura e sim a abóbora que no verão a sopa é feita com feijão de debulhar e de inverno com feijão seco.Os aferventados de couve galega e de nabo com feijão frade ou chicharo tão caracteristicos da nossa terra e requentados que a minha avó Maria da Luz chamava fertungado.Na sua continuada ausência progride comida fast food com atendimento em fila para receber um embrulho atulhado de vegetais cortados em juliana abarrotar de molhos...
Há que saber privilegiar na diversidade a gastronomia da região e isso devia começar nas escolas!
No recinto da festa ouvi de uma feirante o seu estar de  agrado que transmitia a alguém que não conheço, acrescentando que se as pessoas não vendem, as razões serão de outra ordem por apostarem em materiais  e produtos que nos dias d'hoje já não oferecem ao visitante a vontade de os adquirir. Falta-lhes criatividade e inovação. Concordo na integra!
Pessoalmente amei a ideia criativa "Ansião Coração de Sicó" dado pelo misto da alusão à pedra calcária esculpida pela erosão, rainha de Sicó, em paralelo à cor da terra rossa do Maciço de Sicó ao sangue que bombeia vida, no coração. Ideias novas , empreendedoras a chamar o turismo de massas, são sempre bem vindas. O que não invalida a necessidade de ajustamentos. Gostei das lonas e dos slogans por invocar a maioria do património do concelho afixados na frontaria dos Paços do Concelho, acerca  desta temática elaborei uma crónica onde apontei o que achei menos bem, para em agosto as lonas terem sido retiradas.
Admito que não seja fácil para ninguém tomar as rédeas de um executivo camarário cimentado há mais de 4 décadas na linha da direita e na transição receber obras em curso a que tem de dar continuidade entre outras medidas encetadas. As pessoas são diferentes, ninguém é dono da perfeição, os valores que defendem tem  pontos de vista que podem parecer estranhos e não agradar a todos em determinadas estratégias.Em verdade em cada partido a tomada de opções diferentes  jamais agrada a todos!
Desde o 25 de abril que muitos entraram para a politica na sorte abençoados por "padrinhos e cunhas " que lhes abriram horizontes na ascensão a lugares de topo e conhecimentos, quantos sem saber o que é politica. Tristeza o que todos vemos na assembleia da república com gente que nada ou pouco faz e outros vagueiam pelos bastidores  públicos em espera de poleiro sem jamais provas dadas em cidadania...Mas também os houve e continua a haver que subiram por mérito próprio, tem dignidade, e deixam obra. A esses valorizo em dobro!
Rematar com o pensamento muito assertivo de «Maria Filomena Mónica sobre os OS MITRAS, OS BOYS E OS BETOS...Alguns têm pais que fizeram sacrifícios para os mandar para a universidade, outros provêm de famílias das classes médias com relações políticas, outros ainda nasceram nos berços de oiro há muito na posse dos antepassados. Para usar a terminologia moderna, são os mitras, os boys e os betos. Em comum, apenas têm a idade, entre 20 e 35 anos. Dentro de cada grupo, há de tudo. Uns são inteligentes, outros burros; uns são trabalhadores, outros preguiçosos; uns são cultos, outros ignorantes; uns são de esquerda, outros de direita; uns são rapazes, outros raparigas; uns são ambiciosos, outros resignados; uns são activos, outros passivos. Mas todos, em maior ou menor grau, olham o futuro com apreensão. Nem todos sofrerão da mesma maneira, mas o que aí vem é terrível. Enquanto os betos têm a família por detrás e os boys as alavancas dos partidos, os mitras acabarão em empregos mal remunerados e no desemprego. Em Portugal, a mobilidade social é um mito.»

Ensombrou as festas o inesperado acidente que ceifou a vida ao jovem promissor André Mendes da freguesia da Lagarteira que consternou todos de grande mágoa e inevitavelmente empobreceu as festas, que julgo tinha um carro e não o trouxe. Pêsames a todos os familiares e muita força.

FONTES
Excerto retirado da página facebook de   Maria Filomena Mónica sobre os OS MITRAS, OS BOYS E OS BETOS...

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