sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

Perdidos no tempo os tanques de termas romanos em Ansião

Despertar para o que foi a presença romana perdida na região centro, em Ansião em comparação ao que ainda existe no País, para não se perderem as memórias
Termas romanas de S Pedro do Sul
Tanque das termas
Já visitei S Pedro do Sul várias vezes onde há anos recordo de ver uma banheira em pedra junto a um amontoado de pedras cobertas de musgo.
Graças à partilha das fotos do meu amigo José Freire da Silva com raízes em Ansião a  estimular a minha memória sobre a primeira vez que distingui um tanque semelhante a este nas Lameiras, em Ansião, junto do que foi a via romana/medieval e por fim estrada real, igualmente  com degraus e no canto a poente o fontanário que o povo chamava Fonte da Bica.Conheci-o ainda em criança, jamais  tinha visto nada assim igual, na minha ingenuidade julgava teria sido no passado um lavadouro de roupa, cujos degraus serviriam para as mulheres não molhar os pés com a água a correr do fontanário pelo  lajeado...debalde não haviam as pedras para elas baterem a roupa, era tão grande e ali não havia casario, apenas a poente do caminho a ruína de uma grande casa. Anos mais tarde distingui num filme passado na Bretanha, França um tanque semelhante, antigo em pedra  que me deixou a pensar,  em tempo que não havia globalização como se mostravam  praticamente iguais?Demorei anos para  perceber que ambos foram tanques de termas, do tempo romano fechando com a descoberta há um par de anos de uns tanques romanos de termas em Chaves, para finalmente me deixar ficar convencida.
Termas de Chaves, fotos google

Ao ter enveredado para mais saber do passado de Ansião encontrei referencia a vários habitatt romanos referidos pelo padre Coutinho, mais tarde inventariados por arqueólogos de Torres Novas.
O Livro do Padre José Coutinho de 18986  na  Dissertação de Mestrado de Manuel Cravo
"No centro da vila de Ansião era usual o aparecimento de alguma dispersão tegular e de cerâmica comum. Foram também encontrados numismas da época constantiniana (307-337), pesos de tear. Perto dos antigos Paços do Concelho foi descoberta “uma forja com tijolos, cinzas, carvões e um bronze de Magno Máximo (383-388)”. É também conhecida a lápide funerária com as iniciais STTL, os antonianos de Cláudio II (268-279) e o bronze de Magno Máximo (383-388) que surgiram no contexto das obras de alargamento do cemitério em 1968 (Coutinho, 1986, 30-31). Em 1979 no segundo alargamento do cemitério, foram encontradas Mós, pesos de tear, cerâmica comum e sigillata hispânica . "
Em 1972 o abastecimento de água pública na vila obrigou a escavar o sitio da Ponte da Cal no leito da ribeira para passar a tubagem para Além da Ponte, tendo sido encontrado um mosaico e moedas- Constantino a indiciar outro habiatt romano na beira do Nabão. o Padre Coutinho nasceu e viveu até partir para estudos em Coimbra a escassos metros da Ponte da Cal  para conhecer o local de olhos fechados, contudo a meu ver -sem alvitrar a razão da ribeira ser pequena, estrangulada desde a porta dos seus antecedentes por onde tenha sido verossímil  antes da ponte acontecer a passagem de carroças e animais e ainda a razão de terem sido construídos dois arcos, quando um era suficiente para abraçar a ribeira. Debaixo do arco a norte foram feitos dois tanques de chafurdo para banhos que o povo beatizado nos séculos seguintes associou a milagres das águas, quando hoje se sabe que as águas do vale aquífero do Nabão tem propriedades medicinais, boas para a pele, em evidenciar ali naquele local já havia um tanque romano que inspirou o mestre de obras, sabendo que ali passou um troço da estrada romana desativado durante a permanência do primitivo burgo a poente e de novo na ribalta com a sua deslocalização depois de 1593 que ditou a  construção da ponte em 1648.
A partilha do tanque nas termas de S Pedro do Sul  é para mim a derradeira , pese em Ansião já  não existir nenhum tanque romano, nem documentação que os aborde, ainda assim seja verossímil afirmar que os tanques de chafurdo que existem debaixo do arco norte da Ponte da Cal são forte inspiração nos tanques romanos que existiram em Ansião, no local e acima a norte nas Lameiras na beira de outro troço romano - a Fonte da Bica. A  Rainha Santa Isabel na sua passagem por esta  terra se alguma vez se apeou para se refrescar o tenha sido junto da Fonte da Bica . Verossímil a sua comitiva parava junto ao tanque romano com a bica, na beira da estrada romana/ medieval e real, para o primitivo burgo em espaço aberto onde se teria refrescado na sede e nos pés  ao chapinhar no tanque e jamais  abaixo na ribeira do Nabão com entrada estrangulada para a passagem de carroças e animais, onde seria terrivelmente desolador se apear no tropeço de tanto calhau.
Os tanques na Ponte da Cal ditaram em tempo medieval a fama do Banho Santo que durou até à década de 30 para passar a vigorar o Agroal, com águas de igual qualidade terapêutica, no meu dizer, porque a história também se constrói a partir de uma memoria curiosa sem se perder de vista ate ficar consistente, o que fatalmente aconteceu! Desminta quem mais souber!
Aparentemente não se soube acudir ao património quando foi traçado o nó do IC 8, nem autarquia, geólogos, nem engenheiros pelo total desconhecimento e brutal desinteresse, para hoje o tanque e a bica estarem soterrados debaixo do nó...Perdura  a nascente cársica  do mesmo lençol freático da nascente do Nabão, ainda hoje jorra água e alimenta forte canavial...
Chão de Couce
No sítio onde foi a Casa da Câmara do seu concelho no tardoz a sul em 2011 descobri este tanque, a escassos metros da nascente a poente no sopé da serra.Pode tratar-se não de um simples tanque, e ser  um tanque termal romano, e isso é preciso urgentemente avaliar, antes que se perca mais um como outros que haviam em Ansião, pelo menos dois e se perderam.
A imagem pode conter: planta, árvore, relva, ar livre e natureza
O Padre Coutinho  faz menção à Fonte da Bica da Quinta da Bica  na Sarzedela, nada tem  com o tanque e a Fonte da Bica nas Lameiras - terá outro nome- Barreiros? enquadrado numa propriedade particular, a ter conhecido, facilmente  relacionaria como tanque romano? Tão pouco o Prof Dr Salvador Dias Arnault nem o Dr Jorge Alarcão, amantes do passado da região onde tem raízes, dele jamais tiveram conhecimento, o que me apraz dizer em mágoa, para se ter perdido tão barbaramente!
Lamentavelmente não existe nenhuma foto do fontanário e do seu brutal tanque.
Guardo a leve memória do fontanário no canto poente do tanque enquadrado por cantaria  em pedra em arco semelhante à que se encontra em S Pedro do Sul o tanque com degraus em volta e claro da grandeza e do seu lageado. Noutra era quando fizerem prospeção no local o vão encontrar e então nessa altura Ansião vai ficar celebrizada pelo vestígio encontrado, na verdade desde Conímbriga a Torres Novas tinham de haver mansios e habitatt romanos onde os tanques para banhos não faltavam. Debalde se perderam!

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