segunda-feira, 21 de novembro de 2022

Gruta de Avecasta com arqueólogos, Ferreira do Zêzere

Visita guiada a 15 de outubro de 2022, com arqueólogos à Gruta de Avecasta. Soberba oportunidade em mais angariar conhecimento com direito a perguntas. Aderi e de que maneira. Fiquei de coração cheio.
O chão de Avecasta com muita evidência dos vestígios deixados pelo mar - resiste o topónimo Maré e fosseis, como da  era romana, igualmente da minha eleição -  Avecasta é topónimo romano, situa-se a sul de Alvaiázere, ao Tojal, com entroncamento ao Pereiro.
No Pereiro temos a Rua D. Gaião que nos encaminha para a ruína da Torre da Murta, a uns 500 metros, aliás é visível da estrada, pese quase encoberta pelo carvalhal.
Para sul fica a gruta de Avecasta, na cumeada a poente, a 200 metros, era o moinho , típico de Sicó, que ardeu no incêndio deste ano. Resta a eira . O trilho de acesso de Avecasta mostra à chegada umas pedras grandes, arredondadas, semelhantes às que se encontram nas antas do Rego da Murta.

Ferreira do Zêzere é muito rica em história, para descobrir.

Grupo em espera, uma grande parte partiu em caminhada até á Torre da Murta, outra crónica, comigo, o meu marido, Cátia Salgueiro e Luís Filipe Godinho,  ideia que germinou no Facebook e muitos aderiram. Como o arqueólogo de formação  - Paulo Arsénio, mui simpático e de partilha,  acompanhou-nos depois na caminhada. Fernando Silva entre outros que lamentavelmente esqueci o nome...
                             
O arqueólogo José Mateus explicou como se chegou ao estado atual da entrada da gruta de Avecasta
e no interior os grandes movimentos tectónicos, havia de o questionar se acaso a razão da parte da  ossada do dinossáurio encontrado em Vila Cã, Pombal, das partes ainda em falta ...e sim pode ser.
                   
Vista do interior da Gruta de Avecasta 
Acesso por uma rampa a gruta tem  dimensão à volta de 40 metros
Excertos retirados de https://mediotejo.net/especial-ferreira-do-zezere-gruta-da-avecasta-um-dos-sitios-arqueologicos-mais-importantes-do-pais/ pelo jornalista José Gaio
"(...) Os vestígios arqueológicos revelam que a Gruta de Avecasta e colina envolvente foram ocupadas desde o Paleolítico até ao período tardo-romano.
Foi classificada pela Direção-Geral do Património Cultural como Sítio de Interesse Público em 2012 teve por base o facto de “constituir um povoado com uma excecional diacronia ocupacional, com níveis preservados desde o Neolítico e quase sem hiatos até ao período medieval”.
(...) A gruta de Avercasta foi alvo de atos de vandalismo com a entrada de um buldózer para criar a rampa de acesso e de remover terras, como de abrir outro acesso a uma pequena cavidade a norte, que dá para uma sala . A máquina regressou ao local para tapar este último acesso, porque havia atos de vandalismo (partiam as estalactites para levar para casa como recordação)."
                            
                             
                             
                    
Os arqueológicos José Mateus e Paula Queiroz 
"(...) Vindos para a região de Tomar e Ferreira do Zêzere em 1979 ,guiados pelo grupo de espeleologia de Tomar ,com o objetivo de explorar as várias grutas existentes na bacia do rio Nabão e também na Avecasta. Nessa época considerada histórica para a arqueologia nacional, pretendia-se refazer o Museu Nacional de Arqueologia e criar uma espécie de British Museum. E na nossa região, os trabalhos arqueológicos dessa fase foram cruciais para a criação da área no Instituto Politécnico de Tomar.

Logo nas primeiras deslocações à Gruta da Avecasta, os arqueólogos perceberam a importância excecional do local. José Mateus lembra-se que, ao longo dos trilhos (ainda não existia estrada) entre a aldeia e a gruta, descobriram inúmeros materiais. E acredita que “a manta morta, esta folhagem no chão, esconde toneladas de material”.
Ao iniciarem as escavações, os arqueológos ficaram fascinados porque iam descobrindo várias camadas de sedimentação na gruta que revelavam diferentes épocas de ocupação. “Cada camada é um mundo por explorar”, refere José Mateus. A sondagem mais recente foi até aos sete metros de profundidade.

Para se ter uma ideia de como seria a vivência na gruta há milhares de anos, imaginemos uma aldeia com habitações dentro daquela cavidade de 40 metros de diâmetro. Este ano, na campanha foram encontrados diversos materiais e artefactos , que ajudam a explicar os povos que ali viveram, do que comiam e dos ofícios.

Os objetos encontrados até agora – cerca de 7 mil peças – estão relacionados com as atividades de cada época.

Mas há uma atividade que parece ser constante ao longo dos séculos na gruta, a da metalúrgica. Em várias camadas foram descobertas forjas e vestígios associados como moldes e alguns objetos metálicos.

Aliás o topónimo Ferreira do Zêzere tem origem da antiga atividade dos ferreiros e não será alheio a estes vestígios.

A aldeia que ali existia do Neolítico à época do Bronze terminou com um cataclismo ainda não determinado. Os especialistas garantem que, durante cerca de mil anos, a gruta esteve desocupada e não teve qualquer utilização.

Na segunda Idade do Ferro, antes da época romana, a gruta voltou a ter ocupação e de novo surgem as forjas agora de maior dimensão. Dessa época foram encontrados moldes essencialmente para lingotes para os ferreiros trabalharem e escória de ferro.

Esta “unidade industrial” ligada às forjas mantém-se em atividade até à Idade Média.

Em cima de uma mesa montada na gruta estão em exposição alguns dos objetos encontrados quase todos ligados a utensilagem da época, muita cerâmica e artefactos feitos em sílex.

Mas há também moedas, acessórios e alguns ossos. Curiosamente não foram encontrados ossos humanos pelo que os arqueólogos deduzem que os enterramentos seriam feitos nas imediações da gruta.

Mas foram encontrados ossos de lince, cujo ADN já foi utilizado nos estudos da espécie que está em fase de repovoamento no país."

A arqueóloga Paula Queiroz falou das sementes de vários tipos de trigo entre outras encontradas em muito bom estado e limpas de cascas.
Interveio outra arqueóloga Paula Alexandra e, ainda outra que participou com a equipa noutra campanha anterior, acompanhada pelo filho, uma criança adorável já influenciada neste rico passado, lamento não recordar o seu nome. 
                    
                
Fascínio arqueológico do excecional grau de preservação, o que obriga a uma escavação lenta e minuciosa. Perguntei se o verde na escavação seria de cobre - não, são algas.
                
Vandalismo depois da campanha deste ano, com rombo na vedação de ferro na cerca da gruta...
                  
Em terra cársica de argila rossa( vermelha)

(...) “As argilas (as terras rossas) libertadas pela desmatação dos homens foram entrando e selando um povoado cavernícola que remonta ao Neolítico final, se estende até à Idade do Bronze, e que após mil anos de abandono se vê reocupado na Idade do Ferro e Época Romana”
                 
                 
                  
                                  Escorrências de terra rossa, pintam a pedra calcária ...
   Deixamos a vista á Gruta de Avecasta de coração cheio.
                             
Quando o povo se refugiou na gruta

"De boca em boca, de geração em geração na pequena localidade de Avecasta passam histórias e lendas sobre a gruta.
Segundo relatos da população local, a Gruta da Avecasta serviu de refúgio para os habitantes da aldeia aquando das invasões francesas, há cerca de 200 anos.

Segundo depoimentos recolhidos pelos arqueólogos junto dos idosos da aldeia, nos anos 80, antes da invasão das tropas napoleónicas, surgiram na aldeia dois cavaleiros portugueses a avisar: “fujam, fujam que vem aí muita gente”.

Nessa altura os habitantes refugiaram-se na gruta e taparam a entrada com um muro em sete camadas, refere o relato popular. Existiria apenas uma pequena abertura por onde diariamente uma criança saía para ver o que se passava no exterior e para trazer mantimentos. Esse buraco era tapado com um ramo fresco que era substituído diariamente.

Desconfiados por não encontrarem ninguém na aldeia, os franceses deram com a gruta e começaram a derrubar o tal muro de sete camadas. Desistiram à sexta camada e o povo salvou-se, conclui a história, remetendo para o carácter místico do número sete.

Facto é que, quando os arqueólogos chegaram ao local nos anos 80, depararam-se com um grande caos de blocos na entrada da gruta, que fariam parte do antigo muro referido pelos idosos da aldeia.

Outra história da época que se ouve na aldeia é que existiria uma oliveira milenar de grandes dimensões mas oca por dentro, onde um homem se refugiou para fugir das tropas francesas. Descobriram-no e foi trespassado por um sabre no interior da oliveira."

Conta-se ainda que os franceses deram cereais aos cavalos, diretamente das arcas nas casas dos moradores locais.


 Muito obrigado aos arqueólogos de elevada craveira e sapiência, como souberam envolver os visitantes numa temática que só amantes adoram!

Fontes
https://mediotejo.net/especial-ferreira-do-zezere-gruta-da-avecasta-um-dos-sitios-arqueologicos-mais-importantes-do-pais/

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