Na minha simbólica amansia por me igualar na irreverência, do mesmo signo Touro...
Os relatores da sua bibliografia
"José Vital Branco Malhoa nasceu a 28 de abril de 1855 nas Caldas da Rainha, em garoto já cultivava a arte ladina dos rabiscos, pintando as paredes da Travessa de S Sebastião onde vivia. Os pais o destinavam a entalhador, mas o artista Leandro Braga influenciou a família a vocação plástica e foi aos 8 anos para Lisboa onde aos 12 frequentou a Academia de Belas Artes, sendo discípulo de Lupi, Prieto, Vítor Bastos, Anunciação e Simões d’Almeida. Obtendo no fim de quase todos os anos o 1º prémio, conclui o curso em 1875. Concorreu a bolseiro do Estado por duas vezes sem ser eleito e por isso , uns dizem que partiu os pincéis e se fez à vida de caixeiro a vender chapéus e confecções para senhoras numa loja da Rua Nova do Almada de um irmão. Ao almoço pintou em 1881, o quadro Seara Invadida - debalde não encontrei a tela!
Apresentou o quadro numa exposição em Madrid (1881), obtendo algum sucesso. Acusado por uma senhora que o vira em Madrid de não aproveitar o seu talento nem o mostrar em Portugal, abandonou a loja onde trabalhara três anos para se dedicar definitiva e exclusivamente à pintura.Para sobreviver pintou o que lhe aparecia e em Lisboa foi muita coisa e gente endinheirada. Foi um dos fundadores do Grupo do Leão, o grande quadro que está patente no Museu do Chiado. Se até então as paisagens que pintava, de gosto romântico e cores escuras, eram marcadas pelos ensinamentos de Anunciação, os quadros de ar livre dos anos 80, mais luminosos e de colorido mais intenso, demonstram que se abria à estética de Barbizon – introduzida em Portugal por Silva Porto – apesar de nunca lá ter estado.
Escolheu entre outras terras Figueiró dos Vinhos para viver 50 anos entre temporadas na primavera e verão e o resto do ano em Lisboa onde terminou muitas telas.
A sua casa em Lisboa, ao Saldanha, hoje Casa Museu Anastácio Gonçalves
A vidraça o seu atelier. Já conheci o Museu.
A pintura de Malhoa prima pela policromia com apelo intenso ao negro, a cor habitual na altura. Imprimiu em algumas telas uma certa crueza à tradição romântica de que fora herdeiro ao primar pelo buliço da natureza e do quotidiano do povo e crianças do campo, ao impregnar de sentimentalismo cristão e de um pitoresco paganismo entre retratos de meninos ingénuos, de gente abastada ainda com títulos de nobreza, e rostos massacrados de pobreza e trabalho na fiandeira, papas, fogueteiro, o S Martinho ou os Bêbados, em Lisboa e o Fado e explodiu em cor do Minho as paisagens e tradições de Viana do Castelo, como viu o mar em doce recato ao amor na Praia das Maças.
Malhoa retratou como ninguém o naturalismo português. A sua palete em policromia viva de cores fortes - amarelo e laranja e também o negro da tristeza, da dor, da pobreza, da saudade!
Debalde não conheço telas com os acordeonistas da região, casamentos, o dia da espiga, a Ribeira d'Alge, as trutas em Campelo, mas deve haver ou não?
Em 1918, pinta numa quinta de Figueiró as cores de Outono com uma sensibilidade já impressionista , faz lembrar a folhagem de amarelos e castanhos de um souto de castanheiros franceses.
O prestígio atingido ainda em vida valeu a José Malhoa numerosas consagrações e .homenagens, assim como muitos discípulos e seguidores. Veio a falecer aos 78 anos, em Figueiró dos Vinhos em 26 de outubro de 1933. Ainda em vida avançou o projecto de um museu com o seu nome nas Caldas da Rainha, a sua terra, seria inaugurado seis meses após a sua morte.
Retábulo a Nossa Senhora da Consolação
A atual Igreja de Chão de Couce deve-se ao Padre Manuel Mendes Gaspar, conseguiu agregar a esse projecto toda a comunidade paroquial, tendo sido o novo templo inaugurado, segundo a imprensa da época, no dia 23 de Novembro de 1930. No dia 10 de Setembro de 1933, a Festa com uma imponência e participação popular absolutamente únicas para a inauguração do retábulo de Malhoa ficou, para sempre, no coração do povo a sua doação para a posterioridade a Chão de Couce e ainda os azulejos.
A sua última obra morreu em 26 de outubro desse ano.
Gazeta das Caldas, nº501. 22 Set. 1935...Umas flores da Quinta de Cima
Malhoa e o painel das Almas no Bairrão em Figueiró dos Vinhos
Relato do escritor Júlio Dantas no seu livro Abelhas Doiradas, de 1920 da conversa travada com o Mestre pintor Malhoa e o irmão do Regedor de Bairrão.
Transcrição do Padre Manuel Ventura Pinho que partilhou e aqui transcrevo, por a achar deliciosa.:
«Uma bela manhã, em Figueiró dos Vinhos, estava Malhoa, com as senhoras, em volta da mesa do almoço, quando a criada anunciou o irmão do regedor de Bairrão, que insistia em falar ao artista. Mandaram-no entrar. Era um homem de quarenta anos, cara de Páscoa, tisnado do sol, jaleca de Saragoça, polaina, varapau, um barrete vermelho de campino a rolar nas mãos felpudas:
- Ora com sua licença!
O mestre perguntou-lhe o que queria. O homem coçou na cabeça, engoliu em seco, olhou em volta as senhoras, gaguejou, riu e acabou por dizer:
- Vocemecê é que é o Senhor Pintor Malhoa?
- Sim senhor. Que é que você quer?
- Queria saber quanto vocemecê leva por pintar umas alminhas do Purgatório para a esmoleira de estrada.
E, lanzudo, desconfiado, hesitante, a face curtida a arrepelar-se num tique nervoso, o zambujo ferrado de estaca no sovaco, contou que fizera aquela promessa às almas se não lhe morressem dois bois que andavam doentes. O barbeiro da terra tinha-lhe pintado um painel por oito tostões – um ror de dinheiro ! - mas não estava obra acabada. Fora então que o irmão do regedor se lembrara de encomendar a obra ao Senhor Malhoa, que, por muito mal que a fizesse – dizia ele – sempre a havia de fazer melhor. O artista ouviu, acabou de enrolar o cigarro, e, perante o assombro de sua esposa, disse ao homem que aceitava a encomenda e que viesse dali a oito dias buscá-la.
- E quanto é que custa?
- Isso, nós veremos depois.
Passada uma semana, o homem lá veio, calça nova e pescoceira branca domingueira, bateu à porta, entrou, estacou de boca aberta diante de um painel das almas que era uma maravilha, (Malhoa pintara-o com todo o seu talento, sem lhe tirar o sabor da ingénua imaginária popular) e, coçando com ambas as mãos a cabeça chamorra, destampou, aflito:
- Valha-me o Senhor Santo Cristo, que isto vai para mais de oito tostões!
O artista tranquilizou-o. Não era nada. Ofereciam ambos aquele presente às almas do Purgatório. O pobre homem, com o suor do júbilo a empastar-lhe os cabelos da testa, riu, chorou, dançou, travou do painel, embrulhou-o na manta que trazia, e à saída, abraçando respeitosamente o pintor, disse-lhe a meia-voz, para as senhoras não ouvirem, estas palavras que eram a expressão suprema da sua gratidão:
- Ó Senhor Malhoa, venha daí beber um copo de vinho!
E aqui têm como, na pobre estrada de Bairrão, à poeira e ao sol, se está perdendo um retábulo que é a obra carinhosa de um dos príncipes da pintura portuguesa contemporânea.»
Por não existir no local onde foi colocada supõe-se tenha sido roubada quando alguém se apercebeu do valor das obras de Malhoa...
Meninos da Beira 1891
(Figueiró) sem se saber de que famílias
A Olinda do Lagar
Gritando ao rebanho 1891 - Museu Malhoa
O rosto cansado e profundo lembra-me gente de S Simão...
Os oleiros 1896 Companhia de Seguros Cosec
Citar excertros de http://provocando-umateima.blogspot.com/2012/12/malhoa-e-os-salons-de-paris-ii.html
«Bartholomeu Sesinando escreveu a propósito da 7ª Exposição do Grémio Artístico de 1897
(…) Malhôa, entrando resolutamente no Salon este anno, não receiou vizinhança que o prejudicasse e os seus Potiers chamaram a attenção sobre o seu nome, triumpho tanto mais lisongeiro e honroso para nós quanto elle é um verdadeiro e genuíno pintor portuguez. Não cursou as escolas, nem frequentou os ateliers extrangeiros, foi sempre o nosso bello sol que dourou a sua paleta, os nossos typos que elle estudou, e ao seu esforço perseverante, á sua vontade energica deve o que tem conseguido.Offerece-nos a exposição do Grémio Artístico, n’uma téla pequena – Os oleiros – a reducção do quadro que enviou ao Salon dos Campos Elysios, em que, até hoje nunca reclamara entrada, e onde o acolhimento feito pela critica a este extrangeiro que se apresenta sem mais recommendação que o seu próprio valor, é bastante agradável para o artista e para o nosso orgulho nacional. Rocheblanc, na Independence Belge de 24 d’abril cita o quadro de Malhôa com as seguintes lisongeiras palavras: Non moins verveux, mais beaucoup plus fondu de pâte et harmonieux d’accent, est le morceau des – Potiers – de Mr. Malhôa, de Lisbonne. L’autorité, la puissance, respirent en cette page, qui semble écrite dans un coup d’improvisation, tant elle est décidée, et qui n’en a pas moins toute la saveur e la force douce d’un Velasquez.
A conhecida revista franceza L’Illustration, que annualmente publica um numero especial, consagrado ao Salon, em que reproduz pela gravura alguns quadros, escolhidos entre os mais interessantes dos milhares que n’elle se expõem, colloca n’essa escolha o quadro de Malhôa, que Alfredo de Lostalot fazendo a critica geral da exposição apresenta como um savoureux morceau de peinture.
A outra versão mais pequena de Os oleiros
Excerto provocando-umateima.blogspot.com (...) Em 5 de Maio desse ano de 1897, Malhoa regista «Venda do quadro “Os oleiros” ao Conde de Proença a Velha - 300$000» pelo preço constante no catálogo. Como é evidente, refere-se à versão pequena, a «reduccção», o “estudo”o quadro que chegou até nós, o conhecido, com 59x78, o datado de 1896. O outro maior «da COSEC», o que esteve unicamente presente na 7ª do Grémio e pronto!
Que o outro, o que foi a Paris ao Salon de 1897, o grande, com 130x165, o que irá estar presente na 8ª Exposição do Grémio no ano seguinte, o que voltará ainda a Paris para a Exposição Universal de 1900 – onde receberá uma Medalha de Oiro. Perdeu-se com o Saint-André e dele resta sómente a imagem fotográfica. Mais tarde, no verão de 1898, já depois da 8ª do Grémio, Malhoa registará a «Venda dos “Oleiros” e “Padeiras” ao Bravo – 500$000» (fez desconto, que no catálogo desse ano estavam por 500$000 e 250$000, respectivamente). E, ainda mais tarde, em 8 de Abril de 1901, quando recebe o valor do seguro pelo naufrágio do Saint-André, confirma-o «…”Os Oleiros” pertencentes ao Bravo, valor um conto de reis…»
Há inúmeras referências, artigos e textos que, por engano ou desconhecimento, contrariam estes factos – em 1983, em 2003 e por aí fora… e outras, mais recentes, que tentam emendar a mão e ainda se atrapalham .Mas os factos são os factos e não há mais nada a dizer.
Resumindo, Os oleiros, 1896, a versão que chegou até nós, 59x78, esteve unicamente presente na 7ª Exposição do Grémio, 1897
Foto provocando-umateima.blogspot.comApontamento para Oleiros de Malhoa 15x23
Retrato de D Teresa Leal 1896 no Museu de José Malhoa, nas Caldas da Raínha
Excerto provocando-umateima.blogspot.com «Pintei n’este ano em Figueiró, o quadro “a córar a roupa” que vai figurar na exposição de Paris, e “Uma desgraça” (a morte do porco). | Pintei igualmente nos mezes de Novº e Dezembro o retrato da Condessa de Mossamedes, que muito tem agradado, e que eu conscienciosamente julgo sêr o unico que pode igualar em merecimento o retrato de Madª Leal, que expus com tanto exito no “Salon” de 1897 junto com “Os Oleiros” e que tanto enthusiasmou foi celebrado pela imprensa Parisiense. Isto devido única e exclusivamente a modello têr a devida compreensão e pouzar-me bem. | José Malhôa | 31 Dezembro 1899.»
Matriznet
O Ventura 1933 - Museu Malhoa
Por certo era de Chão de Couce?
Uma ruela em Figueiró dos Vinhos 1912 - Coleção particular
Interessante a cor azul das barras a lembrar gregos e a cor do mar longínquo...
Quelha em xisto em Figueiró dos Vinhos 1912 - Coleção particular
Paisagem de Figueiró dos Vinhos 1908 - Museu Dr Anastácio Gonçalves
Paisagem de Figueiró dos Vinhos 1915 - Coleção particular
Igreja de Figueiró 1911 - Coleção particular
Igreja de Figueiró 1921 - Coleção particular
Convento masculino dos Carmelitas Descalços em Figueiró dos Vinhos 1908 - Coleção particular
Pereira em Flor em Figueiró dos Vinhos 1910 - Coleção particular
Recuperação em 2000 foto de António José Silva Caetano
Criança na canastra?
O monte lembra os manos Germanelo no Rabaçal
Será algures por Figueiró pela cesta e a canastra ainda típicas nestas terras de Figueiró e Castanheira
Batizado na aldeia
Paisagem de camponesa de Figueiró dos Vinhos 1906 - Museu Histórico Nacional
Sétimo Mandamento 1905 Figueiró dos Vinhos
A Camponesa de Figueiró de 1929
Ai, credo 1923 - Coleção particular
Embraçar cebolas 1896 - Coleção particular