O que é ser ladrão? Se considerar a pilhagem e homicídio a má herança de romanos, vikings, assírios e
árabes no salpico em genes de mil e uma artimanha astuta e facetada ao engenho
e arte e olho gordo, de meter a mão ao alheio ou ao freguês, assalto à mão armada,
falsário, corrupção, tráfego humano; armas, drogas, branqueamento de capitais
e,…Gente que não olha a meios para atingir fins; ao logro auspício de riqueza instantânea no
adulado ditado Tão ladrão é o que vai à
vinha como o que fica ao portal.
Recordar o lampejo que se ouvia na voz do
Bairro de Santo António em Ansião; matavam viajantes para os roubar, desprezando os seus corpos na estrumeira da cavalariça. Ao tempo a estrada real era minada
de corjas de salteadores no mesmo mau agoiro estalagens e tabernas; o perigo de todo o viageiro; escapava o lázaro, e almocreves
no frete de bagagens e mercadorias com coldre de pistolas para abastecer quadrilheiros. Perto de
Tomar, na Soianda, o povo criou o provérbio “assaz e
não pares porque podes ser morto”.
A verdade doí. O passado da nossa terra não é diferente do que foi o das outras, no mesmo laivo a negrura. A descoberta retrata o povo que somos, das misturas de genes e sua estratégia, os álibis de sobrevivência, onde venceram quem se mostrou mais afoito e ganancioso . Demorei mais de 50 anos para fechar este ciclo, que antes ninguém se atreveu a contar. É forte, mas foi verídico. O relato de Aquilino Ribeiro corrobora o que acontecia ao tempo nas tabernas e estalagens - quando gente sem escrúpulos sentia o peso do ouro nas algibeiras de um viajante, o embebedava para o roubar ou então o surpreendia de noite e matava. No Bairro, temos o testemunho do homem, dado pela sua filha ainda viva - no estrume iam corpos misturados. Quando a parte das cavalariças e palheiro foram requalificadas, em duas casas - uma para a Ti Laurinda e o marido o Ti Inácio, e a outra de uma irmã julgo Beatriz que nunca conheci, de paredes levantadas com janelas abertas de portadas em chão de terra onde estava a laje sepulcral, o pedreiro foi o tio do meu pai - Manuel Silva do Bairro, dizia em casa que ao abrir os caboucos para os alicerces encontrou muitos ossos humanos...
Tenham sido as mulheres a levar a dianteira no crime, agora a matar já não sei. A verdade é que houve necessidade de as separar da mesma cela masculina, pela confusão gerada com homens...Abriu uma outra cadeia para as separar. O sitio ainda existe. Não inventei nada, apenas correlacionei o que ouvia, juntei testemunhos com conhecimento dos palcos, onde existiram .
Foto do palco da última estalagem no Bairro
Hoje apenas existe a parte a norte onde foram no r/c o salão, cozinha e dispensa e no sobrado os cómodos para dormir, adoçada a sul onde agora estão vivendas havia um grande arco para entrada das cavalariças e do palheiro.Debaixo do arco haviam pias de pedra, os bebedouros e no chão de terra uma laje sepulcral. A estrumeira era no tardoz, no que foi uma dolina cársica, assoreada. A estalagem tinha ainda a norte depois do portão para o quintal uma grande e secular glicinia, de cachos lilazes, outra igual havia na vila onde foi o 1º hospital da Misericórdia, foi removida quando fizeram o 1º calcetamento do largo do Bairro, então em areado claro.Defronte da estalagem ainda resiste o banco de pedra corrido, na tradição, para se sentarem.
A última estalajadeira desta estalagem no Bairro foi a "Ti Maria da Torre"; viveu mais de 100 anos. Teria encerrado portas nos inícios da
década de 20 do séc. XX, quando alugou a parte dos cómodos da estalagem ao casal André, que daqui se mudou para o Ribeiro da Vide.
O lampejo que se ouvia é corroborado graças ao testemunho do homem incumbido da trasfega do estrume que dizia em casa, e me foi transmitido pela filha, ainda viva, que levava corpos misturados, na carroça de grande galera
para as terras a sul do Casal das Peras!
Brutal realismo naquele tempo vivido sendo retratado noutra estalagem no Livro Terras do Demo, de Aquilino Ribeiro (…) estalajadeiros que iam de noite cravar o coração ao viajante, em corpo
cansado, fazendo desaparecer o seu cadáver debaixo da terra e só mais tarde a
locanda (estalagem) ao mudar de dono, no acaso da cava do quintal, se descobria
o cadáver, o que restava do homicídio (…) na rua o jogo do chincalhão e à noite
o jogo de cartas, bailaricos, bêbados apalpavam as mulheres, e muitas os
roubavam. Um homem é para o Mundo! Alanzoava, no duplo sentido a malicia
sexual! Quanto mais santanários (beatos e hipócritas), mais ladrões. Mas,
enfim, em pouco mato se esconde um lobo…ou como diz o outro; à conta de ciganos
todos roubamos!
Óbvio nem
todos os estalajadeiros seriam pessoas de estirpe honrada e sabendo das mortes
como classificar esta estalagem no Bairro, em mais de 200 anos? Abona a seu favor o
grande arco para a cavalariça com os bebedouros, pias de pedra em chão de terra, onde sobressaia laje
sepulcral branca, como a cal, sem inscrição - quem ali fora enterrada? E,ainda a cortesia de Henrique
Dias que localizou dois registos de óbito; em
28/3/1735 homem de caminho do Correio de Sua Majestade e em 31/3/1821 António
Rodrigues dos Santos, fragateiro de Ovar, passageiro da diligência morreu
repentinamente. Ambos sepultados no adro da igreja. A relevar condutas corretas
em cenário de morte súbita, em épocas diferenciadas. Então o que mudou a justificar o motivado tamanho desprezo dado à vida humana? A ambição do
dinheiro fácil a poder precipitar ocasião ao roubo e até morte, em ambiente de
vinho e luxuria, a promover a inclusão de mulheres ao crime; artes de
bruxaria; olhares sedutores , mãos de fada e sorrisos feiticeiros, na ciranda do amor ao
jus da Pitonisa de Delfos, herança trazida do império Persa. Bem de ver, sem
temor à cadeia pelo farrabadó na certa na única cela masculina. De tal maneira foi exponencial com a necessidade de as separar surge uma nova cadeia em 1777, com lintel reutilizado, adoçada a norte à casa do
carcereiro, de igual data, mas, em moldura. Desativado o poder na Cabeça do Bairro, por volta de 1875 pela mão do Conselheiro; a casa da câmara e as cadeias ficaram desativadas . O farrabodó ali vivido de ócio, sexo e roubo (pelos filhos incógnitos) na roda da estalagem, na beira da estrada real por onde quem viajava na ligação norte/sul tinha forçosamente de passar. No ajuizar - sem lei por perto, a ocasião faz o ladrão furtar o que tinha à mão de semear – algibeiras com libras de oiro e peças de prata fosse a forasteiro, mercador ou bêbado metido a valentão em volta do rol do mulherio...No séc. XX na cava do quintal da estalagem foram encontradas algumas peças e moedas em ouro - uma medalha de 1640 e, 28 libras que a avó dos "Borracheiros" achou debaixo das tábuas do resto do soalho da primitiva taberna do Casal do Galego, até se falava que estavam dentro de uma panela de ferro... Quem ali as escondeu? Passado esquecido agora colocado na historia de Ansião!
Os primeiros
estalajadeiros eram galegos e árabes, qual deles enriqueceu dignamente? O que fechava
contas, sem cravar o cliente, por conta disso; uma vez abancado freguês, não
mais demandava outra estalagem e ainda passava palavra no caminho. Em destrinçar o que é a
alma de qualquer negócio, a satisfação do cliente. Hoje, ainda se pautam os
galegos por servir bem e barato. Já o inverso com mouros foi retratado por Bartolomé de Villalba y Estana, em 1575.
A verrinosa descrição poética da estalagem da
Venda do Negro, Ansião. Na minha tradução.
Chegámos à Venda do Negro
Negro o pão, e negros
os panos,
Negro o caldo e a
carne chamuscada,
E negros, a santa
companhia.
Neste ponto negro
aqui chegámos,
Cascavel, a má cara
do estalajadeiro,
Porca, negra, suja
e desarrumada
Livre-nos Deus de tão negra pousada.
Ansião sentiu um aumento populacional na centúria de 500 com a chegada de clãs
de judeus asquenazes; ao destaque de mentes visionárias; obreiros a engendrar
sofisma a novos filões de negócio; Confraria da Misericórdia, Milagre da Fonte
Santa, Confraria de NSPaz e Alvarás para 2 Feiras na Constantina e, ainda a base da atual
Banca, com empréstimos a juro.
Neste tempo vivia-se uma grande agitação, tinham sido extintas as Ordens Religiosas em 1834 , que demorou a ter efeitos em Ansião, em finais da centúria ainda havia registo do pagamento de foros que encontrei no Diário da República. Revela que foi tardio a venda da terra em haste pública da que tinha sido a herdade de Ansião. E claro quando aconteceu, bem de ver veio a favorecer o enriquecimento, não só do Administrador, como dos seus amigos e correligionários; se julgarmos, sem ter
havido isenção, nem benefício aos pobres, as muitas injustiças e disputas criadas.
Aziago continuado de mau estar e de vento em poupa ao tempo de República, bem retratado na transcrição da ata camarária pelo Dr.
Manuel Dias sobre Adolfo Leopoldo de
Figueiredo teve uma ação judicial incitada pelo barbeiro António Ferreira da
Silva que alegou o favorecimento a familiares no carboreto utilizado na
iluminação pública da vila, comprado a um seu familiar. Na sua qualidade e
Administrador da vila só podia assistir às sessões da camara como qualquer
particular, mas o que é fato é que tomava parte ativa nas mesmas; compra de
votos para conseguir para o seu partido, terá oferecido terreno baldio, por
preço muito inferior ao seu valor real, ao Ribeiro da Vide; enriquecimento
corrupto – é acusado de ter vivido com algumas dificuldades, antes da
República, mas, depois a sua situação financeira mudou completamente. O réu
perdeu, condenado ao desterro para Setúbal em 1916.E se questionar a
opinião do Jornal Imparcial de Pombal de 16.02.1919 da sua nomeação como Administrador do concelho de Ansião, com
folha de serviços à Republica, que são soberba garantia de boa administração,
puramente republicana e honesta. Fica o suspense das penumbras de interesses que se reveste o
passado de Ansião, e as sentidas duvidas, por ter sido atestado na toponímia…Se é merecido ou não!
Outra boa história partilhada nas redes sociais pelo Dr. Prates
Miguel “Contava o meu sogro que certo
aldeão de Albarrol comprara a um habilidoso do Maxial uma engenhoca de fazer
dinheiro e passava o dia encafuado no curral da mula a falsificar notas de 20
escudos. Como a produção exigia muita mão-de-obra e não pagava o trabalho,
decidiu-se por um aumento justo e passou a imprimir notas de 30 escudos que não
tinham curso legal pois a Casa da Moeda só fabricava notas de 20, 50, 100, 500
e 1000 escudos. O homenzinho, além de falsário era bacoco”.
A minha mãe recorda na década de 50 ter havido um falsificador da Fonte Galega, o Ti Miguel, foi zelador da Misericórdia, agora se era este a que se refere o Dr. Prates Miguel na voz do seu sogro na adulteração ao local de origem ao referenciar Maxial...Não sabemos!
Muitos se lembram da venda de produtos ao alqueire com tábua rasa,
sem migalha de oferta ao perfil sovina. E, do uso de alqueires diferentes nas
feiras de Montemor-o-Velho e de Condeixa; a origem ao ralhete em Figueiró do
Campo, a aldeia da mãe do meu amigo Dr. Américo Oliveira levas com a medida grande de Montemor. No talho da Ti Augusta do Ti
Manuel da Olinda havia o presenteio - nesga febra – esta é para o gato…e a
Ti Matilde do Cimo da Rua, adoçou a gulodice a muito cachopo com sopas de café;
fumegava e resplandecia de aroma e sabor, quiçá enviado pelo irmão do Brasil.
Ansião é assinalada no mapa com corredores da via romana/medieval na ligação norte/ sul e Europa. Assaz pequena para manter
pujança ao perfil ardil e visionário com aprendiz sabujo, para
em boa hora os mestres se erradicarem. Ao jus do adágio Quem pouco ganha e muito gasta, se não herdou,
furtou. Escroques e burlões existem em várias sociedades por todo o mundo que evoluíram em técnicas sofisticadas no almejo de enriquecimento rápido no desvio
de milhões. Contínuas fraudes levam ainda ao engano a quem se mostra pacóvio e
ingénuo, sem nada desconfiar, tão pouco de publicidade enganosa. Perdura a
lábia estruturada do conto do vigário na fisga a idosos até os fazer denunciar que tem dinheiro em casa
e acabam por dar de mão beijada, na ilusória ganância de não o perder, e sim perdem e outros cegos fazem contas a juros altos, quando correm baixos, tendo caído em nebulosa pirâmide até ao dia que rebenta…fazendo jus a quem tudo quer tudo perde. Antiguidades de sangue, da era romana,
tem sido roubadas de túmulos da Síria e, de outros países para custearem o terrorismo
da Al-Qaeda. Recordar a Camorra em Itália e, Portugal? Não foge à regra na alta
corrupção; poder político, económico e judicial, com mediáticos processos a
decorrer. Se no melhor pano cai a nódoa, o concelho de Ansião que se pauta de brandos
e bons costumes na chispa do rumor em descendente na quota parte dos 100 milhões no BPN. E das armas de Tancos.Ainda perdura nuns de casa, o hediondo arreganhar de chão
público, por falta de fiscalidade, condenável em Democracia. O recente troço medieval vindo de novo à ribalta e um beco fechado, já liberto.Pese a herança trazida do passado e presente com histórias
de ladrões e falsários, nada que ofusque o brilho a Ansião. O grande contraditório em cidadania com a distinção no agraciar filantropos,
eleitos Comendadores, em tempo atestados na toponímia, pelas altas valias dadas ao concelho de Ansião e ao País!
O que realmente conta para vingar o seu progresso no futuro!