sexta-feira, 17 de maio de 2024

Querida neta Láu, na voz doce da Mé e do Reizinho, firme Laura, no Vicente

Rigue de patinagem sobre gelo, em Alvaiázere, em 2023, depois de uma caminhada
Grata surpresa a tua missiva, no auge dos teus tenros 8 anos, a escaldar revelação determinada nas escolhas, emoções, e inquietações, eis chegada sem aviso, ao nosso correio de casa. 

Notável desenvoltura madura, discernida e crítica. Aliado coeficiente de inteligência a prognóstico de futuro brilhante, já que transpiras ânsia com asas para voar, olhar atento, atilado e discernido. 

Penitência pela resposta demorada, em carta escrita manualmente. Pois nem eu já percebo a minha letra dilacerada no tempo, esforçei-me, mas, dada a estupefação, decidi em modo alargado de a publicar, a jus dialogo ao lembrar o meu desabrochar muito mais tardio, num tempo fascista... 

Tocaste à porta da nossa casa de Ansião, na companhia da tua mamã para polir pormenores da tua primeira vez com o mano Vicente na  caminhada, em maio de 2024, no Trail da Nexebra, cujo patrocínio paguei para a família, só falhou o avô, pela dor no joelho...Agradeceste a  resposta à tua carta, dizendo que conseguiste decifrar a minha letra, e oh avó vais mesmo publicar? Respondi que sim, senti a tua emoção agradável de satisfação!

Disseste ainda que a Professora elogiou a minha carta.

Estimo que a natural aura de vaidade jamais atrapalhe a tua vida! 

Sobre a tua inquietação da venda da nossa casa de Almada, surgiu há meses, teve o propósito de ajudar os papás, liquidando o emprestimo bancário, dado a taxa euribor, em subida, poder atingir uma prestação incomportavel, ao rendimento mensal, que ainda proporciona vida digna, sem estragos, pese honorosa, ainda assim com ajudas, se pode dizer desafogada. Como entretanto baixou a taxa, o assunto ficou em stand by. Mas, também tens de perceber que embora adores a casa, os avós tem 4 netos. E antes de vocês, a herdeira dos avós maternos, é a tua mamã. Contudo, a nossa  pretensão é deixar bens equivalentes a cada um dos netos, sem previligiar nenhum.  A decisão correta! Todos diferentes, mas, todos iguais na herança!

Meio século de Liberdade faz acreditar que a tua geração já não tenha de emigrar. 

Os talentos tem de ficar em Portugal, pôr fim à seita de pelintras de peito altivo e crista alta, a desfile de vaidades e riquezas, corruptos, ladrões de colarinho e luvas brancas, no branqueamento de capitais,  tráfego de influências, e fugas de milhões para offshores. Faltam cérebros com ideias inovadoras, a defender o direito à habitação, saúde, e trabalho, reintegrando os sem-abrigo. 

Ninguém deve dormir na rua, nem mendigar!

Inéditas férias nesta Páscoa de 2024, só com os rapazes a encantar o nosso Vicente; passeios e a nebulosa história do rei D. Afonso Henriques. Há quem afirme que nasceu deficiente, sem os pés, sendo entregue ao aio Egas Moniz, para o criar e educar. Se foi retratado homem normal, alicerça a teoria que Egas Moniz o trocou pelo seu filho… Como o palco da batalha de Ourique -  estória escrita volvidos 250 anos pelos frades do mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, com o almoço do exército antes da batalha de cebolas assadas, em 25 de julho de 1139, não foram criadas no baixo Alentejo, ao invés era riqueza em Sernache dos Alhos, hoje Cernache, a sul de Coimbra , onde aportavam mercadores de toda a Europa. E, este handicap, inviabiliza a batalha ter sido travada onde está celeberizada - Ourique, no Alentejo. Na minha teoria o seu palco é mais assertivo o situar entre a Vala de Ourique, em Soure, e Chão de Ourique, em Penela, então fronteira das algaras mouras, pois Santarém, Lisboa e Alcácer do Sal ainda eram moçárabes. O exército não seguiu para o Alentejo por terra, nem pelo ar, nem pelo mar... Até hoje no séc. XXI, ainda sem historiador que consiga desmestificar essa realidade, no entanto há muita literatura sobre esta batalha, cada um interpreta à sua maneira. E todas as posições são válidas, como a minha. E isso é respeito, o que deve prevalecer na vida nas coisas que se fazem e dizem.  À laia, as folhas de amoreira pedidas para a tua criação de bichos-da-seda, assenta a toponímia da morada dos teus avós paternos - Rua da Gatina, a doença que os dizimou, nos finais da centúria de 700, na Quinta da Fonte, em Ansião. 

Breves despertares à globalização cultural que me faltou na minha meninice… O meu avô paterno “Zé do Bairro”, pedreiro, ajudava de noite a cozer o pão na padaria da minha avó Piedade. para dominar o sono ia buscar à estante livros, dos estudos do meu pai, e pela manhã mal eu chegava para levar para casa pão fresco, testava comigo o aprendizado da noite, debalde, ficava muda…andava na primária, só mais tarde percebi que era matéria do secundário…recordo o estar amofinado, sisudo, arrepiava o beiço no bigode grisalho, e entre dentes balbuciava; o teu pai na tua idade era mais alto e inteligente… 

Aos 14 anos, em 1971, o meu desterro no Colégio Salesiano no Monte Estoril, por causa de um namorico que a Prof. Ilda, esposa do Dr Mateus, veterinário, teve a ousadia de comentar  com o meu pai. Mal chegada, recordo o olhar recriminatório da Irmã, aos tacões dos sapatos e ao vestido curto, recebendo ordem de me mudar. Uns dias depois, dada o meu carater curioso na descoberta do espaço do colégio, ao descer a rampa da estufa quente, bati os olhos num caixote do lixo cheio de cartas rasgadas, que as associei à obrigação das alunas as ter de deixar abertas na secretária da diretora…Pois havia censura! Passeia a deixar cartas abonatorias, a dizer bem do colégio, quando queria pedir alguma coisa ou dizer o quie não gostava inventei um método eficaz no recreio, no jogo de vólei, fazia saltar a bola para a rua, mal aberto o portão, em galga corrida até ao marco do correio… jamais apanhada, tão pouco aos sábados de tarde, a rastejar na relva, para não ser vista, nas fugas até ao Estoril. Desfrute da minha liberdade, porque não suporto regras, embora as tente cumprir, tinha no bolso dinheiro que a minha mãe nunca me deixou faltar para iogurtes - a novidade, e chocolates. Perante a ameaça da denúncia de uma colega do Pobral, prometi trazer-lhe da drogaria o frasquinho com perfume. Já no dormitório ao inspirar a fragância, que era amoníaco, caiu no chão, remédio santo, se aquietou! Ouvi pela primeira vez a palavra amoniaco num acidente ao Ribeiro da Vide, ao ser dado a um ciclista atropelado...

Tormento aconteceu no 1º dia de meditação o chamado “Retiro”, dois dias em que as Irmãs é que trabalhavam para as alunas. Não se podia falar, apenas o estritamente necessario, pois eram dias de meditação. Mas, o que sabia eu sobre meditar? A biblioteca fazia parte das minhas tarefas diárias antes das aulas. Espanejava o pó às lombadas dos livros, e claro no Retiro, as alunas podiam escolher um livro, escolhi um tema tabu, do qual nada sabia e queria. Mal as Irmãs se aperceberam da minha escolha, sujeitaram-me a um interrogatório, sobre o que sabia, das coisas, que nada sabia…falou a minha inocência, até se inteirarem da grande ingenuidade, só queria perceber o fenómeno acometido no mês anterior ao meu ingresso no colégio, de tal ordem o senti abominável, sem o ser, só voltaria em junho com uns comprimidos amarelos receitados pelo Dr. José Almeida da Junqueira…dada a fila de espera no Dr. Travassos chegar à rua,  a minha mãe tinha de entrar no turno das 5 horas no correio.

Martírios psicológicos a juntar à panóplia de austeros, frios e carentes professores, sem atenção às minhas fragilidades; tímida e com medos, não me permitiu valorizar a grande valia dos estudos, com deficites na gramática e pontuação…Hoje sinto essa lacuna!

Empecilho na minha vida? Acreditar piamente nos outros, advogada de terceiros, ingénua, valeu-me percalços. Aprovada nos psicotécnicos para admissão aos Correios, graças ao aviso da minha irmã – faz pouco mas bem, porque o tempo é cronometrado. No concurso para o banco Sottomayor em Coimbra, ouvi "cunhas" de licenciados, e  o banco só aceitava candidatos com o 5º ano...Foi a 1ª vez que alguém - o Dr. Querido, um dos que vistoriava as provas, vendo a minha prestação atenta  me pediu autorização para ver a minha prova, e diz " a menina está a fazer uma prova excecional" , pois era sobre cultura geral, o meu forte, fiz aprendizado após o meu pai falecer em 1972, ainda não havia reformas, pese ter sido funcionário público, a minha mãe viu-se obrigada a reduzir despesas, despedindo a criada. Sobrando para a mim e para a minha irmã as tarefas domésticas. Para solver este imprevisto que não era bem aceite por nós, desenvolvemos um métido de sortes que aprendemos num episódio na TV. Enquanto decorriam as tarefas faziamos alternadamente perguntas de cultura geral, uma à outra. O gozo era perceber qual de nós era a melhor. Depois de realizadas as tarefas era entusiasmante  apreciar o nosso interesse na direção da sala de visitas para pegar no Atlas, livro de Geograia ou História, para descobrir algo que podia ser novidade, a chave para ganhar as sortes no dia seguinte, e ser a vencedora. Foi esse agregar cultural que determinou naquela sala em Coimbra, ter sido a única mulher aprovada para o Banco entre seis homens. Já nos recursos humanos do Sotto Mayor em Lisboa, fui questionada ao meu estado civil - concorri solteira mas, já era casada com morada em Almada, se tinha intenção de ir trabalhar para Ansião? Respondi que sim, farta de contratos a prazo nos CTT, sem saber se havia amanhã, ao invés no Banco, como efetiva sem receio de ir nem que fosse 5 anos... Deixou-me em espera e foi telefonar para o Banco de Ansião e resolveu pendência de uma “cunha”… voltou ao guiché e diz-me; não pediu nada e fica em Lisboa, hoje é o seu dia de sorte... alguém entrou no meu lugar e havia de trazer um leitão assado, o que  percebi no telefonema...

A minha mãe inscreveu-me nos Correios para fazer ferias no verão. Em junho, estudava em Pombal, no antigo 7º ano e fui trabalhar para Coimbra, na parte técnica. O meu serviço era dar entrada à panóplia do correio a pedidos vários; abaixamento de linhas para corte de madeira, pedido de circuitos para a volta a Portugal, reclamações, avarias etc. No edificio junto do mercado com vista para o Jardim da Manga, onde fui adiorada por todos, sobretudo a faixa etária alta, a rondar os 60 anos, que se guerriavam entre si para me ensinar o serviço com outros a levantar a voz coitada da menina ainda a baralham...Nunca fui tão bem tratada num emprego. A minha chefe superiora, nem a conheci, pois trabalhava no Calhavé, sabia da minha condição de assalariada a prazo, casada em Almada. Um dia telefonou-me a dizer que na sexta feira seguinte tinha entrevista marcada em Lisboa na PT -. Portugal Telecom....bem sabia que um casal tão jovem não devia estar afastado pelo trabalho. Denotava ter visão e reconhecia o perfil do trabalhador alémd e olhar pelos seus subordinados. Nessa altura a parte técnica foi dividida: correios e criação da PT, cujo administrador vindo de Coimbra, amigo dela, só mais tarde percebi. A quem me indicou, pela valia da prestação do meu trabalho e arquivista, responável,  honesto e cumpridora de horarios. Cheguei a Lisboa  à Rua Conde Redondo para a entrevista quando na receção fui informada que o Sr. Administrador tinha sido naquele dia hospitalizado, com um problema cardiaco...Pois não tinha de ser!

Recordo duas cenas desagradaveis em Coimbra: a 1ª : perpetuada por um colega de Pombal, assalariado noutra secção - um TS- tarado sexual ... enorme, gordo, feíssimo, labios grossos eis que um dia se chega até mim, na hora de trabalho de ar esgaziado sem modos pede para ir com ele para tras de um armário ( faziam parte do arquivo), percebi no imediato o que ele queria e fugi ...denunciei-o e foi despedido. Não tive remorsos, percebi, sem perceber, pois a palavra assédio sexual, ainda era desconhecida...  

Outra forma de assédio sexual era perpetuada por outro colega mais velho, maduro,  achava que eu não era casada, por usar uma aliança diferente, novidade usada pelas noivas,  minhas colegas, de Vila Nova de Anços; de face direita, larga, com arabescos...à sexta feira ao sair para apanhar o comboio para Lisboa, perseguia-me, sem dizer uma palavra...tanto me saturou até que fui forçada a contar ao meu marido o incidente desagradavel, que era aquela persiguição, pelo que achava melhor mudar de aliança, por uma dita normal. Decisão firmada, mas, por estarem gravadas com o nosso nome foram desvalorizadas, na compra de umas corriqueiras, banais, de face roliça ...Cheguei a Coimbra e quando viu que usava uma aliança habitual de casada, finalmente acalmou e entendeu ...

O meu contrato a prazo finalizava em agosto de 1980. Pese gostarem de mim, a renovação perfazia 3 anos consequtivos. Na pratica ficava integrada na empresa , por isso mesmo a empresa não renovava a ninguém.  Sabendo disso, concorri no verão para substituições de férias para Lisboa. Fui aceite. Despedi-me de Coimbra, no dia 3 de julho de 1980, já que no dia seguinte era o feriado da Rainha Santa Isabel. No dia que me apresentei  na Praça do Comércio, em Lisboa, a  senhora que me atendeu, de má cara,  diz-me;  a senhora despediu-se em Coimbra e quer vir trabalhar para a mesma empresa em Lisboa? Não pode ser. Respondi, desculpe, isso foi no dia 3 -  no 4, foi o feriado municipal em Coimbra e, nenhuma entidade patronal me pagou,  nesse pressuposto julgo posso ingressar em Lisboa ...baralhei-a, insatisfeita com a minha afronta, quis lixar-me e diz-me;  vai trabalhar por turnos para Santa Marta, começa às 6... eis que reparo atras noutra colega que me acena para dizer não...e retorqui, desculpe, moro na margem sul, nem sei se há transportes de madrugada para Lisboa, não posso aceitar , amornou e decide enviar-me para a 24 de julho, de imediato aceitei, pois sabia que a minha mãe gravida de mim , depois de regressar da Madeira , ali trabalhou e só depois foi para Ansião...lá fui de eletrico, o pior foi atravessar a avenida de 4 vias...quase fui atropelada. Cheguei ao local, um antigo paço, hoje sitio da EDP, com altas, grandes, e elegantes janelas de ombreiras de pedra, de garbosos remates florais, julgo perdidas, sem dó abriram duas para fazer um portão, para receber todas as encomendas vindas para Lisboa. Havia uma passadeira eletrica para as conduzir...imaginem em 1980, encomendas abertas, rotas, com chouriços e queijos de fora, moradas incompletas, mal atadas, enfim um horror...o chefe, homem de metro e meio, vestido de oculanas enormes de massa em tons de amarelo torrado, orgulhava-se de conseguir entregar as encomendas...pasasva o dia de lista na mão a telefonar para sicrano e beltrano, até localizar o destinatário...o seu orgasmo intelectual, localizar e entregar encomendas... Entretanto a minha mãe recebe carta do Banco, para me apresentar  em Lisboa, na Duque de Loulé...disse à minha irmã, pois na sua cabeça eu já estava em casa, a trabalhar em Lisboa, por certo não queria voltar a Ansião...felizmente que a minha irmã pensou melhor e diz-lhe, quem tem de decidir sou eu e ninguém por mim, em cima do prazo telefona-me e claro em pressa para arranjar a documentação; registo criminal pedido com urgencia etc etc, no ultimo dia pedi ao chefe para sair de tarde para ir ao Banco apresentar a papelada...ficou furioso, não comigo...clamava quando uma empresa não sabe reconhecer o calibre dos seus funcionários, não avança...

Efetiva no Banco renunciei estágio nos Correios...sabendo que V.Exa, se encontra numa situação de emprego defenida, ainda assim, vimos propor-lhe que incorpore o nosso estágio... 

Tinha mérito, debalde ingénua, e a mania extrema de acreditar que os outros eram todos melhor... 

Mudei tendências no Banco. Ao fim de 15 dias pedi a transferencia da Avª da Liberdade, da secção de Letras . Preenchia lentamente o impresso à máquina procurando o sítio das letras, quando o chefe passa por mim e diz; no meu tempo para se entrar no banco era preciso tirar o curso de dactilografia...respondi, pois isso foi no seu tempo Sr. Serra Lopes... Outro chefe de quem esqueci o nome, sondou-me para ficar, aliciando que a seção era boa para promoções de mérito. Se acabava de chegar, sendo todos mais antigos,  não fazia  sentido, já que aprecio  igualdade  de direitos. Recordo de haver colegas diferentes. Um dia atrevi-me a questionar a colega Filomena, quem me ensinava o serviço sobre o andar estranho do colega Ferreira, que não falava com ninguém ... a senhora não sabe? Respondi não sei o quê? Ele é homossexual...respondi sim, sei...forçada naquele momento a mentir, que abomino, sendo ela " retornada"  tinha ideias muito avançadas para a época, punha a máquina de lavar roupa  só com a bata da filha...já eu vinda de Ansião, a minha mãe enchia  a máquina para a ligar, já a palavra homossexual, foi a primeira vez que a ouvi e demorei tempo para perceber o que significa!

Cheguei ao 1º andar da Rua do Ouro vestida com o segundo fato do casamento, em seda natural  com florzinhas  em bordeax. Foram chamar o Sr. Rhodes Sérgio, a quem entreguei a carta. Escolheu-me para a sua secção de Descontos, a detrimento das outras duas; Responsabilidades e Garantias. Ao distribuir-me uma secretária abri a gaveta na horizontal tirando para o tampo o que  tinha dentro, fiz limpeza e arrumei. No brefing semanal,  diante de todos, o chefe elogiou  a minha determinação,  viram como a Isabel antes de começar a trabalhar limpou o lixo da secretaria? Logo ali ganhei muita inveja! Que desvalorizei, pois a inveja não faz parte de mim!

Recordo nas Letras das listagens impresas na Processa, cujo trabalho era conferir os dados (nome do sacador, aceitante, avalistas, vencimento, datas, etc) localizando erros na impressão para enviar a correção. As  letras eram arquivadas em grandes cofres por ordem decrescente do seu vencimento, sendo retiradas 20 dias antes,  para envio e cobrança, ou apresentação de novo titulo - reforma, com entrega do capital remanescente...Já na Rua do Ouro chegaram as listagens do pessoal para conferência. O chefe chamou-me, e questiona se tenho o 5º ano, como dizia a listagem, informeio-o que tinha abandonado o 7º ano,  em junho, para ingressar no Banco, pese o Sr. Pais, da secção de Letras, insistir para ir fazer os exames, debalde acabada de chegar, os estudos naquele momento não me faziam falta, achava eu...mal.  Quando me diz, a Isabel pelo que denota no trabalho tem muita qualidade para subir no Banco, aconselho-a a seguir os estudos, tem inclusive regalias como trabalhador estudante...Fiz mal não aceder... ao voltar à minha secretaria a colega com quem partilhava o serviço, surpreende-me ao querer saber o que o chefe tinha falado comigo ...ingénua partilhei a conversa. Soube no ano seguinte que após a nossa conversa foi inscrever-se num colegio para estudar de noite, chumbou nesse ano, concluindo só depois o 5º ano . 

Na quadra natalícia de 1980 uma empresa ofereceu um grande bolo rei para a secção. Antes do fecho foi cortado, percebi que era pratica anual, e o bolo foi partilhado por todos. Irrompe o chefe a perguntar a quem tinha calhado a fava...tinha de pagar o proximo bolo, mas, ninguém se acusava, e eu, enexplicavelmente ruborizei...um mal que me acometia desde criança e me atrofiava, acontece que não tinha sido a mim que a fava calhou, vi-me obrigada a explicar , a partir daí deixei de ruborizar!

Um gerente de Santa Apolonia que apreciava a minha eficácia, na procura das propostas do seu Balcão. Corria todo o circuito nas secções até as encontrar e tratar para ele levar os créditos. Viria a ser promovido a diretor na Fontes Pereira de Melo. Nessa altura veio ter comigo, elegiou a minha capacidade de trabalho e convidou-me para trabalhar com ele na Daiap, era um departamento ligado à agricultura. Recusei, pelos transportes, ao trabalhar na Rua do Ouro era mais perto da margem sul...a minha colega, a tal, com genes do Joaquim Agostinho, o ciclista, da mesma região, que antes já me ludribiara ingressando nos estudos sem me dizer nada, percebeu o convite e apressou-se a entrar em contato com o diretor. Foi a sua libertação à minha custa, acabou por ser selecionada primeiro do que eu para o cargo de subgerência. Porém, acabou a carreira neste posto, já eu sem jamais pedir algo a alguém acabei gerente, e não fui mais além pela falta do titulo académico...

Exerci o papel de advogada de terceiros na primeira notação profissional, a defender os direitos dos meus colegas, abrindo olhos a chefes que desconheciam o real saber dos seus profissionais. A avaliação era por grandesa de letras:  D e E -  barafustei, esta atribuição, sendo alteradas para C, debalde as minhas ficaram iguais, C, quando deviam ter sido B...haviam colegas integrados da Siderurgia e telefonistas, dando a dimensão de terem muito serviço. Na verdade não tinham, era engodo. Decoravam tarefas. Numas obras a mudança de algumas secretarias, o colega que fazia a contabilidade,  ficou à nora sem saber o sítio onde tinha de pôr os papés amarelos - créditos e os azuis - os débitos... Decoravam, sem perceber a logica do serviço.

Quando a sede no Banco se mudou para a Quinta do Ferro, fui a 1ª na Rua do Ouro a dizer que ficava no Balcão que iria aí nascer, o chefe virou-se para mim e diz-me, não sabe onde se vai meter, o que é um balcão...mas fui firme.

Outras demais vicissitudes onde desafiei gerentes a acordar num Banco com administração publica, com medo de fazer o seu papel. Recordo um gerente que me escapa o nome cheio de tiques...mal chegou mudou as minhas funções sem me avisar, dei conta quando fazia a resenha dos varios tipos de depositos a prazo, e  vejo outra colega com cara de bolacha Maria e corpo bem torneado a tentar fazer o mesmo. Essa colega era a mulher mais limitada que conheci. Incomodava todos para enviar um telex. Não tinha memoria, nada, mesmo limitada, apenas de corpo bem torneado, bem desfilava para deixar tanto homem em ataque de nervos, a suar... entrei gabinete dentro e confrontei o gerente, sobre a razão de não me ter avisado, ele começou a puxar o colarinho e com imensos tiques, levantei-me e disse-lhe, pare por favor com os tiques, é coisa que me incomoda...a minha sorte foi no dia seguinte ele ter sido suspenso, ao que cionstou falou mal de um Administrador...foi substituido pelo Sr. X.,  ao olhar para a minha imagem, simplemnte achou que os meus belos e longos cabelos negros asa de corvo, seriam  chamariz no r/c do Balcão - respondi que não ia, e claro aproveitou -se da cara da bolacha Maria, de corpo torneado, alegadamente deu faísca e fruto ... 

E, um "lambe botas" que subiu do serviço administrativo como criado da Direção, num tempo ainda sem computadores, cujas ordens eram recebidas em fila de espera. Onde fiz aprendizados, e claro ouvi muita conversa...pedidos de estrume para os jardins, sapatos, casas emprestadas para uma escapadinha com amantes, e o "lambe botas" já diretor, a telefonar a alguem a perguntar quanto tinha de pôr num envelope para a filha passar num exame... gostava de me bajular, pois era vaidosa e vestia bem, naquele dia estreava uns brincos que tilintavam; duas folhas uma branca e a outra rosa, a jeito de brinco oscilante, a quem dei uma má resposta...homem vingativo, induziu o meu chefe que me tinha mandado fazer outro procedimento, e não contabilizar em credito mal parado, o que na verdade me ordenou para fazer... naquele momento tive de me defender em força. Esclareci que lamentava, mas o Sr. diretor mente para me prejudicar, por não corresponder ao elogio aos meus brincos. O Sr. diretor se achou valente, sem o ser, porque valente era eu, de apelido, força do trabalho e  postura com os outros!

Um advogado requesitado num Ministerio no Terreiro do Paço, andava em cima de mim, abominava tal homem...um dia em cima do fecho, às 3 horas, mandei o segurança fechar a porta, ele entrou  e ouvindo a minha ordem para fecho do cheque auto, para a contabilidade. Chegou ao caixa e pediu cheque auto, para testar se desdizia a ordem ...Detestava aquele estafermo obeso, que se babava a olhar para mim... Sem o cheque auto dirige-se ao chefe para fazer queixa de mim. O chefe, coitado, a suar, explicava-se; a Isabel é uma ótima funcionaria, foi concerteza um mal entendido, até que me meti na conversa e disse, Oh chefe, não se preocupe, se o Dr. pretende fazer queixa, que faça...raivoso,  com a minha postura de força segue para os recursos humanos...ai já começei a ter medo... até entender a sua estirpe , afinal ele tanbém trabalhava para o banco, nos processos disciplinares...por isso encenou a cena de se dirigir para lá, para se mostrar ...esta rebeldia valeu-me a pior classificação na notação profissional, que tive de aguentar calada, até solicitar transferencia.

Quantos mais episódios?................................ até ao real acordar que aconteceu naturalmente aos 37 anos, em atitude dinâmica, obstinada ao substituir uma colega. Cabal desenvoltura a concretizar os objetivos, deixou o gerente estupefacto. 

Fiz as pazes com os vários chumbos na escola e colégio, onde estilizei a síndroma “burra”, a juntar ao deficitário 11º ano, pautou-se a minha vida profissional com louvores mui exagerados, sem estágio, nem a primordial formação deontológica, pese em nada impeditivo à progressão de atingir o patamar da gerência de sucursal bancária graças ao talento de liderança, estratega, comunicação, polivalência, e poder organizacional.

Quando a tua mamã foi estagiar como Psicóloga, na Escola Secundária de Odemira, assisti em Luzianes Gare, à chegada de gente de trator, vestida de botas, para não faltar à entrevista no Programa das Novas Oportunidades. Grande era o anseio à qualificação académica. 

Fez-se luz naquele fim do mundo, onde o diabo perdeu as botas, com muitos a não querer perder os incentivos governamentais. O meu despertar aos 50 anos para finalizar o 12º ano, a louvor dos professores, a senhora é a exceção, à "merda" do governo Sócrates..

Ganho o palmarés à clareza, sistematização de conceitos e melhoria na escrita, dilacerada na vida laboral a redigir pareceres comerciais. 

O desafio aqui lançado de querer melhorar mais com a tua ajuda, a par o traquejo falado da língua inglesa, o nosso diálogo, o que te parece? Ficaste apreensiva, pois tiveste Suf a inglès, amei a tua sinceridade, confortei-te, as duas havemos de conseguir.

A persistência é que nos conduz à vitória e não apenas o entusiasmo ! 

Graças às técnicas de sucesso na Banca, investi na reforma à arqueologia histórica, sem escavar. Acumulei memórias de meio século, ao todo da região de Sicó, que é mais abrangente na Alta Estremadura, com talento a esmiuçar erros e lacunas à dispersa bibliografia, coligo e levanto história, de bibliografia inédita, pese o cariz intrínseco amador. 

Caminhadas nas terras limítrofes a Ansião tem sido a cereja no topo do bolo, a coroar pormenores despercebidos ao potencial turístico: património natural, paleontológico, cultura castreja à chegada de tantos, aportados de todos os lados; N/S e E/O, Escandinávia, Mediterraneo, Levante... começo numa curiosidade, a razão de um poço no quintal dos meus pais ter escada, demorei mais de 50 anos para perceber que é um poço de chafurdo, de verão à medida que a cota de água desce, permite a entrada até chafurdar, havia de associar outros, juntos dos corredores das vias romanas e ainda a  arquitetura à valia da água em terra cársica, além dos  poços de chafurdo as fontes de mergulho, etc. 

Reconheço a vocação de passar a mensagem e a capacidade nata de influencer. 

A ingenuidade pois, ainda sem libertação completa! 

Quiçá teria sido uma advogada de voz forte na barra do Tribunal, professora ou arqueóloga. 

Porém aos 18 anos, reinava em mim, insegurança, sem saber que curso escolher. 

Nunca encontrei ou trabalhei com alguém do meu calibre. Um dia em Ansião, enchia um trator de lenha, o homem que a cortava, cujo conhecimento tinha ali sido travado,  disse-me, e repetiu à minha mãe ...nunca vi uma mulher a trabalhar como a D. Isabel.

Sou muito enérgica, determinada e prática, faço varias coisas ao mesmo tempo!

Isso claro, granjeia inveja, muita inveja! E a inveja é um mal terrível!

Hoje sinto-me realizada e tu, querida Láu, levas dianteira. Apraz dizer, é aliciante sentir esse feeling!

Quiça o fascínio ao brilho do ouro, e caraterísticas físicas, presumem os meus genes serem fenícios, segundo um colega de estirpe Emaus, em Lisboa,  pese ainda, sem exame ADN. Em gerações cruzadas com celtas, mouros e judeus. 

Dita a tua beleza exótica querida neta Láu, cifra a belas mulheres do Mediterrâneo; imperatriz do Irão, Farah Diba, e a rainha Rania, da Jordânia.

O meu maior orgulho depois do nascimento da tua querida mamã foi a visão à poupança iniciada com 5 contos, fruto do seu batizado, em seu nome, que acumulou 20 anos, muitos e variados fundos de premios e  ajuda na lida da casa. Recordo que os meus colegas troçavam de mim, a que respondia, só tenho uma filha, não estou a roubar outro filho, se tivesse criada tinha de lhe pagar... a poupança serviu de estofo substancial quando decidisse sair de casa. E, sim foi fundamental, com o namorado comprou casa a pronto em Lisboa. Pagou a sua quota parte a pronto, obras, e ainda comprou um espaço em redondo que tinha sido mercearia,  defronte do seu prédio, com 40 metros. Quando me reformei dei-lhe o meu carro, um micra, pequeno mais facil de estacionar. Com a chegada dos gémeos ao adquirir o andar de baixo, e obras com escada interior a ligar 3 pisos. Pois já tinhamos ajudado tanto , e fomos às poupanças , ajudar mais como na mudança do carro.

Querida neta Laura os teus avós; Bela e Luís, anualmente em teu nome e nos manos, investem nos certificados de aforro. Estimável aos 18 anos, pague a cada um de vós a carta de condução e um carro seguro - poderá ser em 2ª mão, já que a poupança se faz a poupar, convicta cedo enraízam o hábito da tradição familiar.

Adorada neta Láu, longo vai este falar à precipitação de um até já. 

Ensejo à elevação dos estudos, já que a sorte protege os audazes, almejo na Universidade, eleição às escolhas de grandes empresas. 

Jamais descuides a importância dos afetos, e interajuda honesta a colegas, amigos e família - cruz, que jamais deve cair!

Bênção à proteção na saúde, sem jamais descuidar o corpo, a mente e os valores angariados no ensino, família, e amigos, a louros de espectável vida digna, com objetivos, isenta de vícios, amante da natureza, e da música – o piano. Instrumento que aprecio e conheci no colégio Salesiano, onde haviam dois e aprendi a tocar...O pretinho Barnabé

O pretinho Barnabé, tiro-liro-liro, 
O pretinho Barnabé, tiro-liro-lé.
A saltar quebrou um pé, tiro-liro-liro, 
A saltar quebrou um pé, tiro-liro-lé.
Salta agora só num pé, tiro-liro-liro,  
Salta agora num só pé, tiro-liro-lé...
As Irmãs insistiam para que aprendesse a tocar acordeão, debalde tanto botão dos lados do instrumento, 
que logo desisti de aprender... 

Fica bem princesa, emano grande abraço para ti e para os príncipes, teus manos!

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