quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Tradição do Dia de Santos no meu tempo de criança por Ansião

Ritual do pedir os bolinhos
Ti Maria dá bolinhos por alma dos seus Santinhos?
Ou
Vimos pedir os bolinhos em louvor de todos os Santinhos

ou
Bolinhos e bolinhós,
Para mim e para vós,
Para dar aos finados
Que estão mortos e enterrados
À porta daquela cruz.
Truz! Truz! Truz!
A senhora que está lá dentro
Sentada num banquinho
Faz favor de vir cá fora
Para nos dar um tostãozinho.
Se a porta se abrisse cantava-se:
Esta casa cheira a broa,
Aqui mora gente boa.
Esta casa cheira a vinho,
Aqui mora um santinho.
Se a porta não se abrisse cantava-se:
Esta casa cheira a alho
Aqui mora algum bandalho.
Esta casa cheira a unto,
Aqui mora algum defunto.
Portas abertas as mulheres vinham ao som da cantilena com as mãos a segurar a aba do avental carregada de nozes, passas de figo pingo mel, castanhas, chouriça, romãs, macãs, e bolinhos dos Santos ,merendeiras típicas desta época do ano feitas com passas de uva e nozes com aroma a erva-doce. Muitas vezes entravamos na cozinha  em cima da mesa não faltava o alguidar verde cheio de tremoços...E atiçavam os cachopos "então não querem tremoços, olhem que estão bem demolhados"...atabalhoados os cachopos atropelavam-se com os talegos abertos para os encher na mistura de merendeiras, nozes e nas lojas recebíamos algum dinheiro , o Carlos Antunes dava-nos sempre moedas.
A única vez que fomos à casa da D. Paulete, irmã do saudoso poeta falecido com a pneumónica Políbio Gomes dos Santos, ilustre conterrâneo da nossa terra entrámos em fila pelo portão do lado da Misericórdia, em frente da porta debaixo do telheiro entoámos a cantilena... Ti Maria dá bolinhos por alma dos seus Santinhos...aparcem visivelmente emocionadas a mãe, senhora de idade, baixinha vestida de negro, de cabelo branco que logo entrou em casa para buscar o porta moedas deu-nos uma nota de 20$00  em contraste com a filha alta, forte, um mulherão ficou extasiada com a alegria da cachopada. A viverem em Lisboa vinham passar os "Santos" à terra...deixou a cachopada radiante com a simpatia das senhoras.
Ao fim do dia cansaditos de tanto cantarolar e andar por todo o lado ao final do dia  ao Ribeiro da Vide  a hora de se acender uma fogueira com os cavacos dos plátanos para no brasido se assarem chouriças enquanto outros iam à procura de pão e sumo...Grande o momento de partilha, de alegria, de muitos sorrisos sem malícia, todos abriam os talegos, todos partilhavam o que tinham recebido...
Grande momento de união que jamais esqueço... Toino e Mena do Trinta, Natércia, Augusta, Lucília do Murtinho, Alberto, Nito e TóZé da Carmita, Adriano do Mocho, e...
Saudades de ir de porta em porta...Ti Maria dá bolinhos, por alma dos seus santinhos?

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

O Agroal está em mudança!




























Agroal é um paraíso de beleza selvagem despido de árvores de porte pelos incêndios. A cada ano, as veredas das encostas tornam-se mais compactas,rasteiras,muito crespas e verdes, resquícios de vegetação mediterrânica à toa semeada de pedras de calcário pelos costados. Diria mais no meu jeito..."um buraco" um fim do mundo....onde Judas um dia perdeu as botas...como se por um milagre fosse no sopé da serra na margem esquerda  do vale aflora em fúria ( quem se lembra do Galfúrria?)  uma rebentação de águas cristalinas a beijar o rio Nabão no limite do concelho de Ourém, a  margem  direita  pertença do concelho de Tomar. O maior afluente deste rio - que lhe dá caudal todo o ano - porque na nascente em Ansião - a água vai muita funda, infelizmente ali o rio é seco no verão...e não devia...será que foram os romanos que o desviaram?
O Agroal é muito procurado nas redondezas - os meus avós maternos aqui vieram a águas tratar de mazelas  e eczemas da pele. Sempre que aqui vim -  vi gente com mazelas a banhos, alguns vindos de longe. Uma dessas vezes estava lá um casal de Bragança, na esperança de curar a sua pequenita muito enferma com uma pele extremamente sensível cheia de feridas abertas, até dava dó só de olhar, tinham visto uma reportagem na televisão sobre as propriedades daquela água - não resistiram de vir em busca de milagre...a pequenita chorava ao colo do pai...então não vi!
Águas frias! Alguns aventavam hipóteses, que tal aquecer a água e darem-lhe banhos quentes...conversa puxa conversa, naquilo um homem de meia idade perto de Pombal confidenciou-me que uma das suas filhas tinha tido em miúda um problema de pele, ao ponto de me confidenciar que a tinha curada aqui em banhos e também com a ajuda de uma botica.Sem pedir, deu-me a receita da mezinha que diz ter comprado na farmácia:
Mezinha
2$50 de pó de Joane
2$50 de pó de Alvaiade
2$50 de azeite sem sal
Tudo comprado na farmácia
Vai tudo a ferver num púcaro de alumínio a estrear
Depois passa uma noite ao relento
No dia seguinte o unguento está pronto a aplicar


Desde miúda, há roda de cinquenta anos, aqui afluo a banhos neste vale estreito encravado entre serranias. Esteve anos sem outra saída ou escape tal as abruptas arribas das encostas. Um verão a minha mãe levou-me a mim e à minha irmã para ficarmos uma semana, alugou um quarto pobre, sem quaisquer condições de habitabilidade. Tinha 17 anos, a minha irmã 15, a parca comida fazíamo-la no quarto, os grelhados na rua. Quem nos foi visitar, um namoradito da minha irmã, o Joaquim do Outeiro para os lados do S. João de Brito, tirámos umas fotos na ponte pedonal. Apesar da pobreza ser maior do que o nosso quotidiano, só sei que adorávamos aquilo. Anos mais tarde fizeram a ponte sobre o rio, ligaram em definitivo as duas margens. Também da enfadonha estrada de terra batida a seguir aos Formigais dizem ser terra de tesouros escondidos, de vez em quando aqui ainda aparecem com o livro de S. Cipriano, quem sabe do tempo em que o rio era navegável e funcionava como única via de acesso (?). Ao longo do vale desliza a caminho de Tomar, o rio Nabão, nas suas margens proliferam aldeias que sempre viveram da agricultura e da riqueza das águas para o regadio. Aldeias de forte emigração, o casario de cariz estrangeiro desenquadrado com as casas em adobe, típicas da região. Do Agroal não tenho saudades do barroco com pedras - assim se chamava à piscina(?), dos garrafões que se enchiam ao fundo da minúscula escadaria, da força da corrente a fugir por entre as tábuas do rebordo com limos, muito menos das pessoas que se levavam com o sabonete junto à roda dos alcatruzes, meio escondidas, a esfregavam-se à borla. Saudades mesmo? Da roda com os alcatruzes tão típica destas terras; do aluguer de fatos de banho guardados em cestinhos expostos no varão, quem aderia ao serviço acabava por ser privilegiado, desciam por dentro e entravam diretos para o banho; dos quartos para aluguer; do chalé em madeira anos vinte, alto, elegante, soberbo durante anos em quase total abandono, na outra margem... hoje já não existe, o que eu gostava, que a Câmara de Tomar tivesse o ensejo de aqui idealizar outro albergue semelhante; da ponte baloiçante pedonal em madeira com corrimão de cordas; da velha taberna do Galfúria, da mesa de matraquilhos à porta, onde aprendi a ser mais férrea com o meu Sporting; pelo entardecer de caminhar rio acima à pesca com professores reformados de Mira D’Aire, nas mãos redes tipo canoeiro; do tempo que aqui passei férias com os tios Paredes; do fascínio das grutas, escalar as veredas, espreitar de olhos arregalados na louca descoberta de pinturas rupestres, caveiras, ossos, tesouros, como se via nos filmes; das moscas, inferno tanta mosca, dessas não se guarda saudades! 
Pena senti da grossa e polida coluna em mármore partida, anos e anos persistia debaixo da varanda da casa azul em frente ao “barroco” quem sabe se seria romana, gostaria de a ter visto aproveitada como escultura, num dos novos espaços reabilitados, falta quanto a mim a sensibilidade em analisar e validar o que se julga que não presta, mas tem muito valor. Há ainda falta de noções básicas como reabilitar, reciclar, renovar, quando se altera um cenário como este, está a ser do avesso. ”aqui um dia em miúda os filhos do marinheiro da Portela, a Helena e o Vítor teimaram em me ensinar a nadar, não conseguiram, o trauma é grande há anos!”. 
Quem se lembra dos versos alusivos ao Agroal no tempo de antanho

Agroal terra dos meus encantos

Merda por todos os lados

Cagalhões por todos os cantos!



A câmara de Ourém decidiu na sua margem revitalizar o espaço da entrada, tornando-o pedonal, muros novos, varandim para o rio, o "barroco" virou uma grande piscina - chão em pedrinhas - rebordo em pedra, duas entradas com escadas, corrimões em inox, grande espaldar em madeira para os veraneantes se esticarem ao sol, 4 mesas de piquenique, relva e até areia e claro balneários e casas de banho.

Também a câmara de Tomar fazer a sua cota parte que anunciou - incrivelmente ainda nada fez na sua margem - apenas fez a limpeza de casebres feitos "à doc" -  como diz o povo feitos num tempo sem rei nem roque!
Esperava muito mais de Tomar, muito mais!

Estreei-me num destes domingos, gostei da banhoca. Curti o contraste dos verdes, sonhei, viajei...Só me faltou mesmo amar...impossível lugar de coisa pública, incrivel nem vivalma de moscas!
No regresso  fomos degustar um belo piquenique - pataniscas de bacalhau e arroz de feijão no pequeno parque de merendas na estrada de Rio de Couros.
Coisa para voltar a repetir, tendo na mente a inspiração para o banho, água fria para não dizer quase gelada, de arrepiar, faz bem, depois de entrar com o sol a dar na pele, não apetece sair

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Os primeiros passos da minha meninice por Ansião!

Corria o mês das flores e de Maria…Cinco de maio o dia do meu nascimento!
Ao som inconfundível do relógio da Reguladora no toque das doze badaladas com a mão na aldraba da porta do Correio velho dava sinal de chegada o meu pai -, corria o mês de maio, dia quatro do ano de 57, ano de efemérides: lançamento para o espaço do primeiro satélite russo -, Sputnik levava a bordo o primeiro ser humano a cadela Laica; da visita da rainha Isabel II de Inglaterra a Lisboa, entrada com fausto e circunstância na passadeira vermelha pelo lindo cais das colunas no Terreiro do Paço e, no final do ano nascia a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Ansião, mesmo antes do Natal…nasci no dia seguinte no Instituto Maternal de Coimbra. 

Casório dos meus pais…Urgente tomar a atitude certa-, enfrentar as famílias, dar a notícia da gravidez . Desgosto sentiu o meu pai ao desistir do curso de engenharia na obrigação de arranjar um emprego fez que procurasse trabalho na Câmara, se não me atraiçoa a memória o único funcionário administrativo no staff camarário com mais estudos na altura, a maioria dos colegas com o exame da 3ª e 4ª classe. As famílias não se gostavam, a minha avó materna Maria da Luz com pressa alcunhou o meu pai de "homem iligante pernas aranhão de mina" pela altura agigantada. 
Arcas do enxoval sempre presentes no meu imaginário, tantas vezes vi a minha mãe as fazer e desfazer, na vontade de sair de casa, não voltar mais, cansada de violência doméstica, resmungava baixinho -, sair ou ficar -, medos atazanavam-lhe a mente, sabia que o seu lugar nem arrefecia, não por vontade direta do meu pai antes, fartança de atrevida mulher que sem escrúpulos o ocuparia no dia seguinte. Valores maiores sempre presentes em momentos de crise clamavam mais alto: o amor pelas suas filhas; bom senso; ponderação e bens que abonava um dia serem sua pertença. A arca do noivo de madeira de tampo oval e grande fechadura sobreviveu a anos de maus tratos -, recordação que quis perpetuar-, restaurada pelo Ti Júlio Silva do Carvalhal, anos a trabalhar por Lisboa tinha mãozinhas para a arte de carpintaria,os pezinhos de suporte que lhe fez conferem maior sobriedade, a da noiva em jeito de baú com tiras de couro, lindo acabou por morrer de velho. 
As raparigas solteiras do Bairro, Elisa, Fátima, Júlia, Tina e,… deu-lhes na ideia de ornar a portita da casa dos noivos com um arco engalanado de folhas de laranjeira. Príncipes no dia do seu casamento - o noivo estreou um lindo fato preto com risca branca e lenço branco na lapela, a noiva "por levar a barriga à boca" usou tailleur saia e casaco verde água a contrastar com os seus olhos da mesma cor, tecido comprado nos armazéns Grandela em Lisboa, confecionado no Avelar na Rua do Castelo na casa rosa que ostenta vaidosa na frontaria pedra lavrada com a inscrição de 1914, sobre os cabelos louros de oiro usou em feição de grinalda mantilha preta de renda com laivos dourados, comprada nos armazéns do Chiado, pochete, e sapatos de veludo preto - compras na capital após o regresso da Madeira. 
O padre Melo 
Os nubentos casaram a dez de fevereiro de 57 na igreja de Pousaflores -, o padre Melo vindo do Luso aqui enraizado vestido de paramento dominical dourado, enviesado, subido pelo altar da barriga, e óculos redondos enfiados na ponta do nariz. Convidados acomodados numa carreira contratada ao Pereira Marques com honras de fotógrafo -, Jaime Paz. Fotos grandes a preto e branco, em todas, o padre Melo, os noivos e os convidados: Armando (Girafa), Armando Cardoso, Artur Paz, Fernando Silva, Germano e Adelino Pires, Armando Costa, Diamantino Monteiro e filhos: Necas e Tininha, Álvaro Domingues, José Monteiro, tio António e Júlia do Escampado S. Miguel, tia Maria e Manel do Bairro de Santo António e filhos: Chico, São, Tina, Júlia, bisavô Elias Cruz, tio António Paz, Titi e Isabelinha, tia Amélia e os filhos Raul e Fernando de Além da Ponte, tia Carma, António Russo e Elsa e, …
Boda servida no calor da padaria: canja, iguaria da avó Piedade e, verde, miúdos de porco guisados com batatas e sangue feitos pelo bisavô Elias -, um mestre a dar cartas em bodas de casamento. O tio Chico -, padeiro de serviço fez uso da mesma pá que na madrugada tirou os pães de coroa cobertos de folhas crespas para não se queimarem, agora com maior cuidado tirava os tachos de chanfana e, os punha na bancada onde mulheres os serviam pelas mesas, vinho a jorros em infusas a transbordar mancharam as toalhas brancas em sinal de festa.

Dia do meu batizado…
Estreei a casa nova de caras para o adro do Santo António a oito de Agosto de 57 fotografias tiradas com o "Kodak" emprestado pelo retratista Jaime Paz. 
Foto no parapeito da janela da casa ainda não acabada, na varanda da frente
As primas do meu pai; a Tina e a Júlia, moçoilas casadoiras, puseram uma bacia em cima do parapeito de pedra da janela que viria a ser o meu quarto numa de fingir dar-me banho, vaidosas de saias rodadas, e sorriso maroto no varandim fizeram-se para a fotografia. Outras fotos junto ao pé secular da oliveira no quintal, numa delas a criada Helena com 14 anos, vestida a rigor de avental branco bordado na frente comigo ao colo, ladeada pelo meu avô "Zé do Bairro" - colete e corrente de ouro a abafar a barriga, a minha avó Piedade, o padre doutor António Freire de Lisboinha de batina que celebrou o batismo primo da minha mãe, mais tarde radicado na Sé de Braga, e o Ti Zé André do Ribeiro da Vide amigo, vizinho -, homem que financiou a título de empréstimo quinhentos escudos para custear a maternidade.Noutras fotos os meus pais e o meu tio paterno Chico. 
No adro da capela fotos só com a minha mãe comigo ao colo, saia a três quartos de pregas largas a evidenciar a finura silhueta, blusa branca e cabelos loiros presos com travessa a realçar o rosto. 
Logo houve um pequeno acidente -, a casa de banho ainda não estava pronta, faltava o chão, uma cobra que vinha pela janela ao cheiro do meu leite, dizia o meu pai, foi morta por ele com uma enxada…

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Bruxarias em rituais de antanho e d'hoje com raiz celta?..

Feitiçaria e quejandos...
Superstições, crendices , feitiços, mezinhas, rituais...

Tive a sorte da casa onde vivi desde que nasci já ter luz eléctrica, até televisão em 60, o que inegavelmente foi mais valia para o conhecimento, apesar de na época se viver em ditadura. Na vila onde cresci até aos 20 anos tive o privilégio de conhecer manifestações do sagrado e do profano embora estas últimas dissimuladas não deixavam de ser evidentes no dia a dia. 
Na Godinhela antes de Miranda do Corvo, ainda continua a tradição no negócio de família, segundo um comentário de um sobrinho. Mote que me fez lembrar que esta arte na aldeia é bem antiga. O meu avô Zé Lucas quando foi à tropa no início de 1900 apareceu com um eczema nos braços, aqui veio, por ser relativamente perto, para ela lhe receitar uma mezinha. Na volta a casa fez o que ela prescreveu, mas não resultou. Como não era homem de ficar calado, decide em boa hora voltar para reaver o dinheiro. Levou consigo o seu companheiro de sempre com alcunha "galinheiro" nascidos ambos em Lisboinha. Apresentou-se fardado para a impressionar. Chega-se à "bruxa" e diz-lhe ao que vêem-, ela respinga, mostra-se forte, dizendo que ele não fez a mesinha como devia ser... Nisto o "galinheiro" impõe-se, e diz-lhe em voz de comando, seca e forte " está presa está, e por um guarda municipal..." a pobre mulher "acagaçada" vai ao taleigo e devolve-lhe o dinheiro...
Nos dias de hoje ainda persistem estas práticas, de maus resultados e usurpação de grandes fortunas, porque infelizmente ainda há muita gente a ganhar a vida, explorando a crendice de incautos. Aconselha-se a ponderar, no dizer do povo estar de pé atrás e não recorrer a este género de pessoas para resolver problemas psíquicos, índole afetiva, financeira ou outra, como fazer mal a outros. E também não se deixar influenciar psicologicamente por eventuais feitiços que lhes possam fazer. Porque quem é evangelizado sabe que a confiança dum cristão deve ser depositada no poder de Deus, que é infinitamente mais forte que qualquer “espírito” ou feitiço.
No meu tempo de criança e adolescente as pessoas dadas a estas crendices eram já de idade, no caso uma delas ainda é viva com mais de 80 anos. Tratava de afastar o mau ilhado e mal de inveja, que no azeite com a água se revelam, prática que não molestava ninguém, muito menos a carteira, que o fazia por vontade de ajudar. Falava-se noutra que vivia perto de um cruzamento, do olhar forte sei que tinha, e dela apesar de nunca me ter feito mal nem bem, nunca simpatizei. 
Apesar da evolução tecnológica nos últimos 50 anos ainda não se cortou com estes valores ditos tradicionais, a sociedade tal como a conheço hoje continua a procurar refúgio num leque diversificado de dogmas, até eu em momento de desespero e carregada de "mau olhado" vejo obrigada a socorrer...
Confesso que destas "bruxarias" ancestrais não desgosto, já das atuais em televisão com milhares de euros a serem pagos em chamadas de valor acrescentado, uma mais valia para a estação da TV , e para a percentagem do share , na visão de expor a vida em público das pessoas selecionadas -, gente que não dorme a pensar falar com a "bruxa" -, gente de vista curta, carentes, vivem em solidão , amarguradas no acreditar ser esta a sua tábua de salvação dela adivinhar ? Presente e futuro... " se os maridos tem amantes...se o namorado gosta dela...se a filha anda por bons caminhos...se a operação vai correr bem...se consegue emprego...se vai passar no exame da carta de condução...se ...a "bruxa faz de conselheira, amiga, médica e,... 
Esta forma de magia, feitiço, tarot ? Não gosto por ser um embuste, onde acontecem puras coincidências, que só gente lerda e insegura acredita ! 
Interessante é pensar que se regem pelo signo da pessoa no diálogo estabelecido. 
E os signos sendo uma roda com argumentos de coisas boas e menos boas, que hoje acontecem a um individuo e amanhã a outro. 
Será um embuste para ganhar dinheiro fácil num país de gente de cabeça fraca! 
Como se não bastassem os telefonemas ( rendem milhões à SIC) no tarot e outros programas que a tarologa publicita amiúde; medicamentos para dormir, emagrecer, para as dores, para os ossos, para afastar as más energias, livros de rezas, culinária e sei lá mais o quê... Coisas que só tolos que empranham pelos ouvidos adquirem na esperança de ajuda eterna... 
Negócio de amuletos, chás e mezinhas, e sobre tudo o que aprouver à Estação televisiva que aqui no programa se apregoa, e vende através do consultório... 
O ambiente no consultório da taróloga faz lembrar os centros de call center anos 20, com muitos PBX de telefonistas em fila num espaço exíguo, ambiente com ruído de fundo pelo pandemónio de chamadas cruzadas...Atendedores de telefones na maioria psicólogos(?) sem trabalho na especialidade,forçados quase por conta e risco nesta aprendizagem das coisas do Além-, revelam poucos conhecimentos da vida obscura, saberes e crendices, sendo jovens, nunca viveram, nem tão pouco artes presentes nas suas vidas-, que no preenchimento de questionários aos utentes que para aqui ligam, apesar de pagar o recebimento em troca de ajuda espiritual, conselho ou caminho a seguir, o que fazer do seu dilema? Gera equívocos, por os atendedores revelarem dificuldade em auscultar e perceber o que os clientes auspiciam, também porque na maioria estes não se saberem explicar-, e só com sapiência e experiência de vida, se entende os outros por meias palavras-, para que a resposta da tarologa seja o mais fiel ao solicitado do cliente, seja por que via for. Nota-se que quem responde nestes casos são outras astrólogas ? Na retaguarda, cujas respostas na defensiva, nunca abertas como na televisão, que se revelam certas? Para não falar que os telefonemas não são em direto, como fazem crer...Antes agendados de véspera com o cliente, sendo que no dia é que ligam para casa para o direto na TV, antecipadamente avisado par confirmar que "ligou agora quando disse para ligar..."
Em tempos já escrevi "Canseira ouvir os apresentadores a incitar para que se telefone ...O que será que se passa com a grande maioria das pessoas que andam apáticas, não querem saber, preferem até o mais fácil, o mais desinteressante também. É por isso que os programas de TV se tornaram mais pobres inteletualmente...Porque tudo o que requeira esforço, dedicação e pensamento mais profundo, poucos telespetadores aceitam. Isto não parece auspicioso, pois não? Bom, mas cada um sabe de si..."
Negócio que GERA MILHÕES nas televisões que assim podem continuar a pagar bons ordenados aos funcionários, muito acima da média. Receitas quase exclusivamente dos telefonemas, e deste programa ainda ganhos na parceria de lojas de artesanato, editores de livros e tudo o que se possa encaixar neste perfil mediático que tudo se publicita e purifica.E isto faz pensar!
Há até uma anedota sobre esta temática "entra no consultório uma pessoa e a cartomante pergunta-lhe, ao que vem?"...Se fosse abençoada do poder de adivinhação saberia, ou não?
Reparem que as pessoas acabam por dizer tudo, sem se aperceber, facilitando a orientação que depois recebem!
Não passa de engodo de algo que é misterioso na astrologia, numeralogia e outras artes místicas;espiritual, divina, religiosa e outras fanáticas-,que no seu todo se acumulam na envolvente da ADIVINHAÇÃO? Que só gente incauta e carente acredita, por isso a grande procura que desencadeia um filão de ganhos de "rios de dinheiro".
SE PAGAM MAIS QUE UMA CONSULTA EM PSICÓLOGO! 
Gosto de ter arruda em casa, abrir as janelas para entrar LUZ e limpar os cantos da casa de más ondas...Também sal grosso atrás da porta, as ditas mezinhas contras o olho gordo e a inveja!
Basta abrir jornais e revistas logo nos deparamos com anúncios das substitutas "benzelhoas" tradicionais que existiam nas aldeias em tempos de antanho.
Inegável a complexa teia de relações que da crendice perdura :chamam-lhe magia negra, astrologia, horóscopo, tarot. Certo é - ,fazem dela forte negócio.
Pior, a pessoa que acredita e "derrete dinheiro" porque fica deslumbrado com as coincidências...
Sem se aperceber que contribui falando...
Em quase todas as consultas está inerente saber o SIGNO -, claro há condutas próprias em cada um, por isso fácil agilizar o que falar . 
Remate com lábia se constrói a rezanha a contento do cliente. 
Mais tarde, a maioria refletindo, cai em si, e sente-se desfraldado... 
Também as mezinhas são quase tão antigas como a existência da humanidade.
Desde sempre os povos viveram daquilo que a natureza lhes proporcionava para alimento e para tratar dos males do corpo. 
Ao seu jeito, catalogaram plantas diversas que evidenciavam propriedades para combater os seus problemas de saúde que foram transmitindo às sucessivas gerações, chegando até nós. Foi a partir da conjugação de inúmeras plantas medicinais, não tóxicas, que surgiram grandes remédios caseiros que, tomados nas doses certas, faziam e continuam nos dias de hoje a fazer autênticos milagres. Chás infalíveis, poções mágicas e unguentos milagrosos, com efeitos cicatrizantes; anti-inflamatórios; anticoagulantes; anti bacterianos; anti virais; analgésicos; anti alérgicos etc., que passaram para segundo plano com o culto da medicina oficial, com os remédios alopáticos.
Existem ainda resquícios dessas práticas nos mais velhos, que, por força da vivência com os mais novos, as fazem perdurar nas nossas casas, ainda hoje.
Quem não conhece os efeitos do chá de limão com mel para a gripe e batatas às rodelas na testa para as dores fortes de cabeça? Do chá de folha de oliveira para baixar a tensão, o chá de erva cidreira... 

Curiosidades: 
O açúcar no sangue atrai os mosquitos e o facto de se comer alho afasta-os. 
Em miúda apareceu-me uma borbulhagem por detrás do joelho.Fui ao médico, fiz o tratamento prescrito e a borbulhagem em vez de diminuir, alastrava.Foi a minha tia Maria que me mandou ir à casa da Ti Jezulinda, mulher rude, estranha, cortava o cobrão, tirava o cobranto, mal de inveja, quem sabe outras coisas...conhecedora das doutrinas ancestrais de rituais com fortes poderes, pacto com o diabo, poder das ervas e das muitas rezas envoltas em mistérios...a sua casa ficava no Carvalhal.Fui a pé Bairro acima pelo caminho de terra batida, antes passei pela casa da minha tia Luz do Canhoto, lembrei tempos que por lá brinquei na sua padaria desactivada com os netos brasileiros que vinham de férias.
Entrei pela porta da cozinha e contei-lhe a minha estória. Contou-me que estas erupções na pele eram provocadas por um bicho que passa pela roupa que vestimos, geralmente no estendal, por isso deve ser toda bem passada a ferro, para matar o mal que os bichos deixam .Ainda me disse que era perigoso se a borbulhagem começasse a alastrar, com comichão, em fila indiana, nesse caso tendem a dar a volta ao corpo, geralmente quando acontece na cintura, não há ninguém que se salve, é morte certa se une a cabeça com o rabo.Logo ali à minha frente deu inicio à mezinha, no chão de cimento da cozinha amassou com o martelo palhas de alho, enxofre, sal e azeite. 
Benzeu-se - "Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo" por três vezes fez cruzes com as costas da faca virada para a borbulhagem,"o cobrão", tocando na pele, seguida da ladainha
"Aqui te corto se és cobra ou cobrão, corto-te o rabo, a cabeça e a raiz do coração".Em seguida, com o unguento que fez no chão cobriu toda a borbulhagem, tapou-a com uma compressa de pano rasgada no momento.No caso ela disse que não precisava lá voltar, mas que ele há casos de se fazer 3 vezes.O que é certo é que resultou!
Na altura o médico, muito afamado Dr Travassos, a botica que me receitou, pomada não surtiu efeito, e no consultório lá perdi uma manhã inteirinha!
Coisa para pensar, a mezinha substituiu a medicina tradicional que no caso não teve sucesso! 
Se são mezinhas caseiras, se não estão cientificamente provadas, eu não quero saber, o que me interessa é que resultam, baratas e eficazes, sempre que as tomo, fazem-me dormir em paz! 
Relativamente ao Dr. Travassos , sei o quão é estimado e querido na nossa terra. Então não me lembro de ir ao seu consultório no sobrado da taberna do Ti Domingues. Grande a escada de madeira e íngreme, teria os meus oito anos. Salvou muita gente por toda a região.
Um episódio verídico passado com o Dr Manuel Dias segundo as suas palavras" se eu existo a ele se deve tanto quanto aos meus pais."Nasci ao contrário (não dei a volta, ou dei voltas a mais!?), a parteira ao constatar a minha posição,achou que o "caldo estava entornado"!, havia que chamar o médico. O meu primo Zé Carteiro (aliás, a esposa, a terna Ti Aurora é que era prima em 1.º lugar de minha mãe) que era vizinho teve de telefonar para o Dr. Travassos (o nosso João Semana lá se levantou e seguiu com a urgência que lhe foi possível para o Casal. Fez a cirurgia necessária e tirou-me, depois cuidou o melhor que pôde da minha mãe! Constatando que eu não dava qualquer sinal de vida, provavelmente por ter estado horas nasce não nasce (e se calhar já com o cordão umbilical cortado, disse a meus pais: este era macho, mas já se foi! Contudo, porque a esperança é a última a morrer,agarrou-me pelos pés, esfregou-me com álcool e deu-me "porrada" pelo corpo todo! Foi a minha primeira coça. E não é que foi bem dada? Quando testemunhou os primeiros sinais de vida, disse ao meu pai que era melhor vestir-se, já que era católico e certamente quereria baptizar-me, e com ele e a parteira iriam chamar o Arcipreste, para que me baptizasse de urgência, porque de certeza tinha poucas horas de vida. E assim foi, fui baptizado no mesmo dia que nasci: a madrinha foi a parteira (a Ti-Laurinda) e o padrinho o S. José (talvez então? a imagem mais perto da pia baptismal,não sei bem!). Felizmente (ou não!?) o médico enganou-se na minha esperança de vida. Mas salvou-o e ainda bem!
Também me lembro de ser o Dr Travassos a dar com o caso de meningite do Abel Nogueira. Que em tempo útil foi tratado em Coimbra.
Ainda outra reza contra o cobrão
Havia outra mulher que queimava a palha dos alhos, sobre as cinzas deitava um fio de azeite formando assim uma espécie de unguento. Embebia um pano neste unguento e fazia cruzes nas erupções com a seguinte reza:Em nome de Deus te atalho (fazendo uma cruz)
Se és cobra ou cobrão (fazendo uma cruz)
Lagarto ou lagartão (fazendo uma cruz)
Sapo ou sapão (fazendo uma cruz)
Bicho de má nação (fazendo uma cruz)
Que fique negro (fazendo uma cruz)
Como carvão (fazendo uma cruz)
Não devemos subestimar a sabedoria popular. Nós que tivemos acesso aos estudos, temos um pouco a mania de gozar com este e outro tipo de " curas" inventadas pelo conhecimento popular e que existem há séculos.Onde há muita gente há criatividade, e se existem estas mezinhas há muitos anos, de certeza que só se mantiveram porque funcionam mesmo! 
Hoje está muito em voga o uso deste tipo de medicamentos de origem vegetal, classificados como produtos naturais de venda livre em farmácias, herbanárias, e afins.
São medicamentos que por não serem químicos, são amigos do nosso corpo, por não provocarem efeitos secundários. 
Contudo, existem muitas ervas medicinais de conhecido uso popular com propriedades tóxicas, que justificam todo o cuidado na dosagem administrada, pois podem apresentar contra indicações que podem despoletar complicações graves, sintomas de alucinações e mesmo induzir à morte. 
Quem não se lembra dos célebres envenenamentos já desde o tempo dos romanos? 
Tinham provadores humanos para atestar se a comida estava envenenada.
Mais tarde, começou-se a usar a colher de prata, se oxidava, havia veneno.
Recordo que em minha casa, o meu pai por vezes também a usava...só para intimidar a minha mãe quando havia zanga...
Recordo-me de em miúda aos sábados no mercado de Ansião, então ao ar livre na vila, da presença do vendedor da banha da cobra, apregoava as pomadas para todas as maleitas. Comprei várias vezes, e de facto, aquelas caixinhas brancas sem rótulo, cujo creme aplicava sobre feridas, queimaduras, impinges, até cortes...curioso dava para tudo,agora não o tenho visto!
Então não estou numa de lembranças...
Reza para tirar o bruxedo 
Um t'o deram, dois t'o tiraram ,tira-te São Pedro e São João. 
Se t’o deram pela cabeça que t’o tire S. Teresa
Se t’o deram no nariz tirate-o S. Luís
Se t’o deram pelo costelado que t’o tire o senhor S. Tiago
Se t’o deram pela barriga que tó tire a Virgem Maria
Se t’o deram pelo corpo todo que t’o tire o nosso senhor Jesus Cristo pois ele tem o poder e a divindade toda.
Repete-se esta ladainha três vezes e por fim reza-se uma salva rainha.

Reza para tirar o cobranto ou mau olhado, mal de inveja da Carmita
Deita-se um pouco de água num prato.
De seguida, reza-se três vezes a oração:
Jesus Cristo nasceu em Belém para tirar o cobrante ou mal de inveja à ... (nome da
Pessoa) se o tem, irás também com estas três cruzes, com estas três velas, com estas
três pessoas da Santíssima Trindade. 
É o Pai, Filho e Espírito Santo.
Depois deitaram-se três gotas de azeite na água.
Se as gotas se desfizerem, a pessoa indicada está carregada, tem cobrante,então deve-se continuar a repetir a reza. 
Se a gotas de azeite não se desfizerem, então a pessoa não tem cobrante.

Outra benzedura contra o mau olhado
Coloca-se num prato com água e diz-se o credo, deita-se três pingas de azeite puro com o dedo polegar da mão direita.
Se o azeite se espalhar é preciso repetir nove vezes a seguinte reza:
"Foi Deus que te criou, e Deus te generou, e dois to deram e três te o tirem; a Mãe Maria Santíssima,que tudo faz e pode, se este mal for, ou de inveja ou de um olhado, de onde veio, para lá torne, se o tens a cabeça que o tire Santa Teresa, se o tens no coração que o tire S.João, se o tens no corpo todo que o tire nossa senhor com o seu divino poder todo".

Outra benzedura contra o mau olhado 
Deus é verbo, verbo é Deus, se ( nome da pessoa) tiver olhado benze-a Deus. 
Dois olhos olharam mal e três estão para olhar bem que é o Deus Pai , o Deus Filho e o Espírito Santo amém. 
Em louvor da Virgem Maria reza-se um Pai Nosso e uma Avém Maria.

Outra benzedura contra a bruxaria e a inveja
Santo Inácio de Loures é de santo e é de sado
E é por santo fundado
E é o Senhor Crucificado
Desorga! Desorga! Três vezes desorga!
Bruxas feiticeiras, mal de inveja
Do corpo de uma pessoa para fora
Que não tenha que doer como elas
Nem em casa, nem na rua, nem por onde passear
Eu te benzo com a santa segunda
Eu te benzo com a santa terça
Eu te benzo com a santa quarta
Eu te benzo com a santa quinta
Eu te benzo com a santa sexta
Eu te benzo com o santo sábado
Eu te benzo com o santo domingo
Que são as nove palavras

Benzeduras contra a trovoada 
Na telha de canudo punha-se um pouco do ramo benzido no Dia de Ramos a arder
( Alecrim, Loureiro e Oliveira) e rezava-se uma destas rezas
Bendito e louvado seja
Santa Bárbara bendita.
Espalhe a trovoada por onde não haja eira nem beira.
Bendito e louvado seja
O Santíssimo Sacramento.
Da Eucaristia, fruto do ventre sagrado
Da Virgem Puríssima Santa Maria.
Também
S. Jerónimo se levantou,
Seu sapatinho d’ouro calçou,
Seu cacheirinho agarrou,
Seu caminho caminhou.
Deus Nosso Senhor o encontrou.
– Onde vais, S. Jerónimo?
– Vou espalhar esta trovoada
Que por cima de nós anda armada.
– Espalha-a lá para bem longe,
Para onde não haja pão nem vinho,
Nem flor de rosmaninho,
Nem eira nem beira,
Nem raminho de oliveira,
Nem gadelhinho de lã,
Nem alminha cristã.
Espalha-a para todas as bandas das águas do mar. 
Amém.

Outra benzedura contra a trovoada
Quando nosso Senhor pelo mundo andou em São Bartolomeu 
Nosso Senhor disse-lhe:
"Santo António onde vais? 
Na terra ficarás as coisas perdidas acharás, São Tiago de Galiza quer em casa quer em malhada, onde esta oração for nomeada nem cairá raio nem peste ruím, nem boca do fogo fará mal São Geraldo Santa Bárbara bendita no céu esteja escrita, papeis e água bendita Deus nos livre desta tormenta".Amén.

Outra benzedura contra a trovoada
Santa Bárbara bendita, por Santo Jesus Cristo , no papel e água benta livrai-nos desta tormenta.Deus que tem o poder de dominar a furor das tempestades e abrandar a crueldade das guerras.
Santa Bárbara, rogai por nós"!

Outra benzedura contra a trovoada
Ouvi uma trovoada
Acolhi-me a um trovisco
Acudi por Santa Bárbara
Acudiu-me Jesus Cristo

Benzeduras e Medicina Popular do Minho séc XIII 
aos dias d´hoje... excerto de http://escavar-em-ruinas.blogs.sapo.pt/b
No meu julgar reminiscências celtas
Doença dos Olhos
O povo, na sua sabedoria milenar, sabe que «os olhos são o espelho da alma», basta para tal atender aos inúmeros ditados populares que fazem referência à vista.
Ao amigo que nũ é certo, c’um olho fetchado e oitroaberto. Já agora, uma migalha de linguística: nos tempos idos, no Minho e em Trás-os-Montes, a palavra olho era pouco utilizada por ser tida como indecente por associação com olho do cu, sendo substituída mediante causa eussémica por bistae bistinha.
Num chores, amor, num chores,
Que o chorar arrama a bista;
Em me indo eu desta terra
Não faltará quem te assista!
O olho era entendido como zona a defender e preservar, destarte umas noções primárias de assepsia, intocável com os dedos ou mãos, zonas estas sujas por natureza.
O mal do olho coça-se com o cotovelo.(lembro-me do meu pai me falar)
Uns dos remédios miraculados do arsenal do poviléu para acudir às desgraças ou inflamações dos olhos recomendava o uso da babuge que tombava da boca do gado bovino quando este bebia num tanque. Lavava-se, então, a zona ocular afetada com a mistela da água e babugem e pronto, estava sarado.
A beleza stá nos olhos de quem a bê!
Nalgumas localidades quem estava doente da vista oferecia à Senhora da Luz um franganito, que recebia a designação de frango dos olhinhos vivos.
A cegueira quando dá é pelos olhos.
Para tirar um corpo estranho do olho, seja um algueirinho,algueiro, argalha, argueiro, arujeiro, arujo, bogueiro,ciscalho, cisco, palhinha ou vogueiro, socorriam-se duma famosa pedra-argueira que tivesse vindo do mar ou imploravam o valimento bendito de Santa Luzia.
Corre, corre cavalheiro
Pela porta do ferreiro,
Que lá vem Santa Luzia
Pra me tirar este arujeiro.
Noutros lados, quiçá mais descrentes da ajuda celestial, para retirar o tal cisco o povinho de antanho deitava entre a conjuntiva e o globo ocular algumas sementes, três ou cinco, da erva-dos-olhos, e esfregava docemente as pálpebras.
Olhos que num bêm, curação que num sentem.
Aqueloutros, mais expeditos nas coisas da anatomia, encaixam a pálpebra inferior debaixo da superior, ou ao contrário, pois tanto faz como fez, e proferem sem descrer ou afiançar no divino:
Algueirinho, algueirinho
Vai para o teu palheirinho,
Que lá está uma faca de latão
Que corta o teu coração.
Para obter a cura da néboa, nome genérico que designa qualquer perturbação instalada no olho ou córnea, seja de natureza inflamatória, cicatricial ou catarata, a plebe aldeã utilizava uma folha de cana de canavial fragmentada em nove pedacinhos, posta a marinar num prato com água em companha de nove pedrinhas de sal virgem grosso. Depois, o doentinho segura no prato próximo da área afectada, o talhador coloca cada um dos pedacinhos da folha sobre o olho do paciente e para ajudar o talhamento recita nove vezes, uma por cada pedaço, a seguinte benzedura ensalmeira, rezando-se no fim nove ave-marias:
Jasus, nome de Jasus
Apareça, benha a luz!
Aqui faz fonte frontal
Talha-se néboa e neboal,
Unha e unhal,
Cum sal do mar sagrado
Sta néboa e neboal será derretida
Pelo poder de Deus e da Birge Maria
E da milagrosa Senhora Santa Luzia!
Jasus, Abe-Maria!
Já no que concerne à cura da rexa ou farapão, afinal a úlcera traumática da córnea, era usada uma aplicação de mel de enxame novo e o benzimento subsequente, a qual é repetida cinco vezes, rezando-se ainda cinco padre-nossos e cinco ave-marias dedicadas exclusivamente às cinco chagas:
Santa Luzia pelo mundo andou
Nossa Senhora encontrou
Nossa Senhora lhe disse
– Adonde vais Luzia?
– Eu, Senhora, convosco vou.
– Tu comigo não virás
Que na terra ficarás,
Com olhos de prata benzerás,
De rexas e de farapão
E de vermelhidão,
E de pedrura,
E de amargura,
E doutro mal qu’a bista benha
Só Santa Luzia é que benze bem.
Ofereço esta oração a Santa Luzia.
Seja servida.
Que este padre-nosso e esta ave-maria
Sirvam de mezinha.
O terçolho tem quase tantas receitas como nomeações populares, algumas dos quais aqui recordo por serem usuais no Minho, Trás-os-Montes e Beiras, em suma, no Norte do País e quiçá de igual modo noutras zonas:terção, terçó, terçô,terçogo, terçol, terçoso, tersogo, trançolo, treçogo, treçôgo,treçol, treçolho, tressó, tricó, triçó e tricolho.
Terção, treçolho
Bai-te para aquele olho!

Responso a Santo António quando se perde alguma coisa
aprendi no colégio "As Salesianas no Estoril"
"Se milagres desejais,
Recorrei a Santo António;
Vereis fugir o demónio
E as tentações infernais.
Pela sua intercessão
Foge a peste, o erro, a morte,
O fraca torna-se forte
E torna-se o enfermo são.
Recupera-se o perdido,
Rompe-se a dura prisão,
E no auge do furacão
Cede o mar embravecido.
Todos os males humanos
Se moderam, se retiram,
Digam-nos aqueles que o viram;
Digam-no os paduanos.
Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo como era no princípio, agora e sempre
Ámen.

Amuletos
Atrás das portas era uso pregar uma ferradura para não entrar bruxedo.
O meu pai tinha uma atrás da porta da cozinha.

Agnus Dei
Cheguei a usar preso num alfinete na camisola interior, contra o mau olhado.
Um conjunto de medalhinhas de Santinhos que serviam de protecção.
Forças da natureza estranhas!
Diz-se que se deve rezar quando se vê um remoinho, no mesmo tempo cruzam-se os dedos indicadores e diz-se: "Foge, foge veneno da cruz que aqui nasceu menino Jesus"
Os remoinhos fazem parte das coisas do diabo. 
Mal de alguém que ouve rir uma corja, pela certa morre gente na aldeia. 
Quando se vê no céu uma estrela cadente alguém que nos é querido morrerá. 
Há também as horas boas e as horas más.
Normalmente as horas más são sempre da meia noite à uma da manhã.
Horas do Lobisomem... 
Sobre isto há um ditado antigo "Da meia noite à uma, anda a má fortuna"
Naquele tempo uma mãe que tinha 7 filhas uma delas era bruxa 
Se fossem 7 filhos um era lobisomem.
No caso das raparigas, a mais velha baptizada a mais nova e assim cortava-lhe a "sina"
No caso dos rapazes, o mais novo punha-se atrás da porta e picava o mais velho e quando este lhe fazia sangue deixava de ser lobisomem.

Existem pessoas que têm um mau olhar com muito magnetismo essas pessoas se querem fazer mal a alguém podem utilizar os seus fortes poderes.
Diz-se que quando alguém nos quer fazer mal com o olhar nos fixa com os olhos insistentemente. 
Nestes casos deve-se dizer uma oração, que se pode repetir inúmeras vezes mas sempre em número ímpar.
No fim de cada oração, reza-se uma Avé Maria.
A oração é a seguinte:
"Deus me fez, Deus me criou, mal haja quem para mim olhou
Três mo deram, três mo haja quem para mim mal olhou. Três mo deram, três mo
tiraram Rainha Santa Isabel e bem aventurado senhor são João, vai-te daqui cobarde,
vai-te daqui olhante, vai-te daqui malvado por esse mar salgado, deixa o meu corpo
que o tens atormentado"
Mãe de Deus pai / Mãe de Deus filho / Mãe de Deus espírito santo
Esta reza conta os assistentes males de inveja e deve-se acompanhar com o sinal da
cruz.No fim de todas as rezas e avé-marias reza-se um credo com o sinal da cruz,
depois faz-se o oferecimento assim:"Rezei-te quinze rezas e quinze avé – marias e um credo rezo mais um pai nosso e uma avé-maria se rezarão no fim em louvor das 5 chagas do nosso Senhor Jesus Cristo, e em louvor de Deus Nosso Senhor e à Virgem Maria que me livre de todas as más pessoas, dos maus olhares, todos os assistentes e de todos os males de inveja."

Quando uma pessoa passa por outra e vê que ela lhe quer fazer mal com o olhar põe o dedo polegar entre o médio e o indicador, ao mesmo tempo que diz em voz baixa 
"Deus te veja, cinco te apalpem, coração que te rebente, alma que te partam"
Contra os medos
Dizia a oração
" eu vou com Jesus, Jesus vai comigo" e rezava pai nosso e avé Maria

Ai, e outras que mal me lembro, dos bruxedos para "amarrar" o namorado...
Destas, confesso tenho medo, os chamados "trabalhos"...
Tanta crendice...
Tenho respeito quando se aborda o termo "Bruxas" apesar de não querer e ter medo de acreditar nelas , mas que as há, DISSO não tenho quaisquer dúvidas.
Ser ou não ser verdade, eis a questão!

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Abiúl atesta a primeira festa dos toiros em Portugal

Abiúl, vila do concelho de Pombal…Foi vila e sede de concelho constituído apenas por uma freguesia, entre 1167 e 1821,  os duques de Aveiro já tinham construído um hospital, albergaria e a capela da Misericórdia. Entrou em declínio com a morte trágica da família dos Duque de Aveiro, por crime de lesa pátria acusado no atentado contra o Rei- teria sido perpetuado pelo Marques de Pombal, visionário , odiava o poder da nobreza e dos Távoras. Corria o ano de 1758 quando o rei D. José, regressado de mais uma escapadela com a sua amante Távora levou um tiro no ombro. Acabado de regressar da Índia o Vice- Rei Luís Bernardo Távora, marido traído quis repudiar a mulher, mas o rei não permitiu que a sua amante favorita fosse humilhada publicamente. Começaram os insultos e as ofensas, aos poucos nasceu um ódio de morte entre o monarca e a família Távora, atiçada pelo Marquês de Pombal que não gostava da alta nobreza, em especial dos Távoras, pelo poder que tinham no reino. A casa de Aveiro foi um ducado desde o século XVI, título conferido por mercê de D. João III, o duque de Aveiro, também fidalgo Távora foi considerado implicante na tentativa de assassinato do Rei D. José, homem pouco inteligente, confessou (?) a tentativa do crime na esperança de absolvição, preso, torturado e acusado de regicídio.
“ O Jurisconsulto Pascoal José de Melo Freire dos Reis nascido em Ansião com 19 anos foi quem bateu o martelo na sentença perpetuada pelo Marquês de Pombal nesta tramóia...”
O Marquês de Pombal ambicionava o poder, o trono, em ser rei, porque a sucessora real era uma mulher, filha de uma espanhola, e nunca até ali houvera uma rainha a governar Portugal, sendo o Marquês um homem sem escrúpulos, não olhou a meios para atingir os fins, dizimou os Távora com a ajuda preciosa do Pascoal de Melo que ditou a sentença e assim foi avante o plano maquiavélico de assegurar a extinção dos Távoras-, os mais novos escaparam à morte foram encarcerados nos conventos de Chelas e Rilhafoles. 
Rezam as crónicas da altura "às quatro da tarde não restava um Távora vivo em Belém, os seus corpos foram cobertos de alcatrão e queimados lentamente , nesse dia treze de janeiro de 1759, o nome Távora era tão mal visto que o chão por baixo do cadafalso onde morreram foi salgado para que ali nada nascesse, nem sequer uma erva daninha. Os seus bens foram confiscados pelo reino".
Felizmente a família dos Távoras não foi totalmente extinta, porque existem hoje muitos Távoras. 
D.Manuel I  deu novo foral a Abiul a 14 de julho de 1515, dotada de câmara, cadeia e tabelião
Resta pouco do fausto da vila  do século XIII a meados do século XVIII. Outra machada final de Abiúl  aconteceu com a passagem da 3ª invasão francesa em 1810.
Soube em tempos de antiquários desde sempre bateram a região à procura de tesoiros do tempo dos duques, do espólio que foi roubado, falaram-me de uma cómoda em pau santo e,...Outro episódio passado há anos quando a autarquia andou com obras de saneamento e abastecimento de águas tendo do largo retirado o fontanário em pedra com carranca ao centro ladeado por dois sóis, tendo-se oferecido para seu fiel depositário um vizinho já velhote que alvitrou para o guardar no seu pátio até ao dia que soube que na vila  andavam os antiquários logo os chama e lhes diz que tem uma pedra antiga... Pobre homem, mas astuto, não teve pejo em vender o que não era seu, património de um povo, do tempo dos Duques. Lástima  a falta de cultura, pobreza e ambição quiçá com genes judaicos/mouriscos?
Um dia os descendentes de quem o comprou a viver algures o vão vender de novo ...sem saber a sua estória com história!
O certo era o fontanário regressar à terra de onde nunca deveria ter saído!
As pistas do fontanário foram dadas...De qualquer das formas a Junta de Freguesia de Pombal  devia ter o mérito de mandar fazer uma réplica, basta ver na faiança como se fazia o sol, ou até pode haver ainda alguém que se lembre e o saiba desenhar.

Arco manuelino
Nas minhas lembranças recordo a festa brava no concelho de Pombal  em Abiul cuja origem se deve aos Senhores de Abiúl -, os Duques de Aveiro, ele um Távora e a esposa do reino de Leão da família dos Ponce Leão, amante da tradição espanhola do toureio e toiros os mentores do gosto da lide para Portugal
Nesta terra receberam de herança o palácio que dele existe este arco Manuelino e teriam mandado fazer um  palanque para assistirem à tourada no redondel no terreiro do burgo no ano de 1561, onde se correu toiros em Portugal pela primeira vez, como promessa por se ter erradicado a peste desta Vila . Sobre a sua origem sempre a conheci como sendo a praça de toiros mais antiga de Portugal - até em concursos televisivos essa pergunta saiu por duas vezes, no entanto fala-se que Sousel, também poderá a par dela, receber tal menção...Conheço um aficionado de Setúbal com livros editados que me disse que a primeira corrida de toiros não foi aqui nem Sousel e sim Atouguia da Baleia- até me disse que me oferecia o livro, debalde nunca mais o vi.Achei estranho até correlacionar que um genro do Duque de Aveiro era Conde da Atouguia , tinha de renda casas e a fazenda que hoje é a Quinta do Conde, do Mosteiro  de S Vicente de Lisboa.Fala-se que quando vieram prender o Duque de Aveiro ao seu palacio de Azeitão levaram também o genro.

Praça atual
No dia da reinauguração da praça em cimento armado havia muita gente na maioria vestida de preto, outros de cor garrida, todos acorriam à novidade da reportagem -, o repórter Fernando Pessa da Emissora Nacional, tinha eu doze anos, no primeiro domingo de agosto de 1969. Recordo o eco forte daquela voz sonante em ênfase  para o grande microfone preto: "seria aqui, aqui, neste preciso lugar onde me encontro, o varandim do palácio dos Duques de Aveiro, de onde avistavam o boi"...
 
Palanque do paço dos Duques de Aveiro
Do palanque restam três arcos em tijoleira . Em miúda ainda conheci a praça de toiros em madeira vermelha queimada pelo sol edificada em 1951, até aí fora um redondel murado a pedra firme, estando os curros e os alçados das bancadas seguros por grossos troncos de pinheiro. Vezes que aqui vim assistir às touradas, sentada numa das bancadas onde o sol batia forte com o toldo circular em lata e rendilhados ainda assim teimava em não nos dar sombra. De táxi  de Ansião, com o meu pai, grande aficionado, recordo os cavaleiros emblemáticos Gustavo Zenkel no começo da sua carreira vestido de casaca azul, Mestre Baptista envergava casaca vermelha debruada a oiro a mais reluzente de todas, António Ribeiro Teles já de mais idade... Lindo o bailar das vacas charolesas a que sempre chamei chocas, com grandes chocalhos presos ao pescoço na dança e andança pela arena para o toiro cair no engodo e assim o encaminhar para o curro, e “dos perrotes” - forcados vestidos de meias brancas em croché até ao joelho com borlotas vermelhas, barrete verde enfiado na cabeça produzidos na fiação de Castanheira de Pera com mãos fincadas nas ancas na dança de traseiro – em grito atiçando o boi para a “pega de caras”…ah toiro, aferro de força, batiam o pé na arena, sem medo!
Palanque
 
Curioso nestas terras do Maciço de Sicó, o povo chama os toiros de bois… 
Episódio pitoresco que nesse dia assisti . De repente duas mulheres castiças vestidas de preto, traje típico à época das vendedeiras de barros dos Ramalhais enfeitadas de grossos cordões de ouro, medalhões ao pescoço, arcadas pesadas nas orelhas e saia dobrada de serrubeco pelas costas em jaez de casaco -, uma dizia para a outra, anda ver o boi... e abalam em passo corrido em cima de pernas tortas ao mesmo tempo que elevaram mãos em ajeitar do lenço da cabeça para baixar em guisa de palas aos olhos,  esgueiradas em bicos de pés , curiosas, espreitavam pela guarita, o curro!
Este tipo de traje único desta região, as chamadas "saias das costas", ainda hoje é possível ver algumas vendedeiras mais velhas assim vestidas pelas feiras de antanho, vendiam os típicos barros verde azeitona e amarelo forte da Bidoeira, aldeia do concelho de Pombal. Este tipo de traje sempre presente em mim, nunca visto noutra região deveria ser mote para um trabalho de pesquisa -, uma monografia, porque na realidade foi típico em Ramalhais. 
.
O Forno 
Como nota etnográfica existe o forno que ainda hoje se conserva, no qual se registava uma cerimónia que atraía muitos forasteiros como veio a acontecer mais tarde no Avelar, no concelho de Ansião, de igual simbolismo e cariz medieval. O povo acendia o forno com umas boas carradas de lenha, era amassado grande bolo ou fogaça com alguns alqueires de trigo e o punham a cozer. O ritual  consistia em que o homem que o retirava do forno tinha de comungar e levar na boca um cravo e de chapéu armado na cabeça dava três voltas dentro do forno, só depois retirava o bolo ou fogaça para os forasteiros comerem...O que me deixa a pensar, como seria que o conseguia fazer sozinho, se era tanta massa, a pensar nos alqueires de trigo e não levava pá? Como o agarrava, se escaldava...porque o cravo na boca o ensejo da física para não se queimar?
Citar um comentário  da crónica " homem que entrava no forno com um cravo na boca..."
É o bisavó da minha esposa . O seu nome é José Lopes Domingues.

Não digo que não tivesse acontecido e não acredite.Na realidade tem de existir um fenómeno, que ainda ninguém explicou-, ou iam de roupa molhada com o chapéu de aba larga para não queimar a cara, o que levariam calçados, tamancos? Faltam respostas que deviam ter ficado escritas ou terem sido passadas na família para hoje se saber com maior fidelidade como decorria o ritual.E também se morria, o que parece em Abiul assim aconteceu com o último e mais ninguém foi dentro do forno. Há anos em Ansião numa feira de velharias veio à baila a conversa com uma senhora que me falou sobre ele...  
Falta um elemento da FÍSICA para explicar o fenómeno do abrasador calor não molestar o homem!
Na verdade as bocas dos fornos são em tamanho bem diferentes aqui mais pequena  em contrate coma do Avelar de porta. De qualquer das formas ninguém explica como era possível alguém entrar dentro dum forno depois de cozido o bolo ou a fogaça, e não se molestar, porque o facto de comungar e levar o cravo na boca são rituais dum tempo em que as gentes eram fortemente beatizadas.
O forno de Abiul parece mais um forno comunitário  em prol de apenas ser usado para o bodo aos pobres na devoção ao Divino Espírito Santo criado pela Rainha Santa Isabel - tradição que ainda hoje existe no concelho com as Festas do Bodo e os bolos tradicionais, as fogaças
Recordo alguns colegas de Abiul e redondezas que andaram comigo em Pombal onde se deslindavam genes de judeus,  francos de olhos claros e cabelos loiros e também mouriscos.
Abiul, terra com tantas estórias e história sem ser dignificada hoje como o foi no passado, e bem o merecia!

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