Visitei ao entardecer o Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado, instalado desde 1911, ano da sua fundação, no que foi o espaço do Convento de S. Francisco da Cidade, fundado em 1217, afetado com o terramoto de 1755, pouco hoje existe dele, além da fachada e belas abobadas em cerâmica, situa-se em frente do Hospital da Ordem Terceira, ao Chiado -, ainda muitos se lembrarão que a zona sofreu um grande incêndio em 1988, que obrigou a repensar o espaço com obras de requalificação, sob projeto do arquiteto francês Jean-Michel Wilmotte, tendo sido reinaugurado em 1994.
António Teixeira Lopes
A Viúva em mármore, 1893
"Arte vanguardista, surreal e contemporânea, em todas as
formas: pintura, escultura, fotografia, design, vídeo e instalações. Este museu
tem a principal coleção de arte contemporânea Portuguesa.
Preserva,
documenta e revela algumas das mais importantes obras nacionais do século XIX e
do período modernista.
A exposição permanente é renovada com certa frequência.
A colecção começa com o surgimento do Romantismo em meados do século XIX, às
obras de Amadeo de Souza-Cardoso, que marcam a transição para o século XX,
incluindo algumas das peças de Júlio Pomar e Julião Sarmento.
É no Museu do Chiado que encontrará as melhores obras de Arte Contemporânea Portuguesa."
O jardim exterior apresenta-se com esculturas em bronze dos séculos XIX e XX e dá acesso à cafetaria a norte, e a sul por porta envidraçada, à passadeira elevada no átrio, descendo à receção.
Caro o bilhete 4,50 € -, para reformados , à laia de outros Museus só praticam preçário mais baixo depois dos 65 anos... havendo tanto reformado sem ainda ter essa idade...
Vamos entrar pela porta envidraçada do Museu do Chiado que serve de acolhimento aos visitantes, apresenta uma arquitetura neo-moderna que respeitou os vestígios históricos pré-existentes do imóvel adjacente ao antigo convento,datável após a reconstrução do terramoto, posteriormente adquirido, após a extinção das Ordens Religiosas por um inglês que aí instalou uma fábrica de bolachas .
A renovação do espaço que foi alvo respeitou e valorizou estes vestígios, tomando partido do pé-direito elevado através de uma plataforma suspensa que permite um nível de visita intermédio, onde se apresenta escultura.
Passadeira e escadaria de acesso ao balcão de atendimento, painéis de sinalética, obras, e outros, valorizada pela pedra de azulina de Cascais polida que reveste o pavimento.
Os cinzas predominam na sala subsequente e superior, onde se expôe escultura, cujo elevado rasgamento vertical amplia ilusoriamente o reduzido espaço da exposição.
Através de uma escadaria empedrada o visitante acede ao segundo piso do edifício.
O espaço da "Sala dos Fornos" espaço erguido entre 1830/40 por Wheelhouse ao dotar um importante conjunto de fornos de tijolo para fazer as suas bolachas.
Abertura quadrangular no piso que comunica com o hall inferior, atualmente coberta por vidro rocha, destinava-se porventura à elevação de farinhas.
Ao sair do elevador para visita da exposição permanente dá-se de caras com este poster da Viscondessa Menezes
Imenso quadro que apresenta os amigos da corrente naturalista, que se reuniam no café-cervejaria Leão - a Turma de 1885, o "Grupo do Leão" pintado por Columbano Bordalo Pinheiro - na altura havia uma Prof. com os alunos que lhes perguntava onde se teria retratado o pintor...dizia-lhes ela "é o homem de cartola e bengala em jeito de saída".
"Acabo de chegar de Paris onde apanhei um famoso banho de arte", escreveu Columbano Bordalo Pinheiro ao conde de Arnoso, a 7 de Novembro de 1900.
O maior pintor português do século XIX, é o artista que melhor expressa valores de modernidade, numa situação única na arte nacional. Inicialmente, regista os ambientes burgueses como cronista radical da vida moderna e já na viragem do século, apesar das ambiguidades do seu percurso, é testemunha atenta da sociedade portuguesa, ao longo de três gerações, inventariando os espíritos da inteletualidade nacional e as mais destacadas ."
José Veloso Salgado
Amor e Psyché 1991
Francisco Metrass
Só Deus1856
Camões na Gruta de Macau 1853
Naturalismo
Tomás Anunciação
Vista da Amora 1852
Conde Luís de Menezes
Viscondessa Menezes 1817
Columbano Bordalo Pinheiro
Estudo para Camões e as Tágides
Mulher de Luneta 1896
Miguel Lupi
Os pretos de Silva Porto 1879
Aguadeira de Coimbra
Silva Porto
Volta do mercado 1886
Charneca de Belas
Azenhas na margem do Ave 1887
Marques de Oliveira
Esperando os barcos na Povoa do Varzim 1892
Malhoa
Clara 1918
"Pedro a cortar o milho reparando em Clara, rapariga de cintura estreita, mãos pequenas, formas arredondadas, vivacidade de lavandisca, digna efetivamente das atenções de Pedro e até de qualquer outro mais exigente que ele. As mangas da camisa alvíssima, arregaçadas, deixavam ver os braços bem modelados, nos quais se fixavam os olhos com insistência significativa.De quando em quando, levantava ela a cabeça e sacudia, com um movimento cheio de graça, a trança mais indomável, que, desprendendo-se-lhe do lenço escarlate que a retinha, parecia vir afagar-lhe as faces animadas, beijar-lhe o canto dos lábios, efetivamente de tentar.Num desses movimentos frequentes, reconheceu que era observada, se é que certo instinto, peculiar das mulheres bonitas, lho não fizera já advinhar porque diga-se o que é verdade, tinha um tanto ou quanto de vaidosa. Lisongeada sentiu Clara desejos de se fazer apreciar mais que pelos olhos, de cujo conceito ela já podia duvidar.Elevou para isso a voz, e em uma toada conhecida, em uma dessas eternas e popularíssimas músicas da nossa província, das que mais espontaneamente entoam as lavadeiras nos ribeiros e as barqueiras aos remos, cantou a seguinte quadra:
Ó rio das águas claras, que vais correndo pro mar
Na pausa que, segundo as exigências da música, se faz ao fim de dois versos, Clara torceu a roupa que estava lavando, e lançou com disfarce, os olhos para o lugar, onde Pedro a escutava; e depois concluiu: Os tormentos que eu padeço."
Jovem regista no seu moleskine, esboço de um quadro, como também vi no Louvre.
A. Loureiro
Paisagem
José Malhoa
Festejando o S. Martinho 1907
"O quadro representa uma taberna onde seis homens
festejam o São Martinho, em volta de uma mesa.
Apresentam-se claramente embriagados. A figura da esquerda,
com um avental de ferreiro, adormecido e numa pose de abandono, pintada numa
difícil perspetiva, estende-se pela cadeira e apoia as costas na mesa, o chapéu
tombado, com a mancha de luz no fundo dá ao quadro profundidade.
A figura da direita, que imediatamente capta o olhar do
espectador, fitando-nos com um olhar de bêbado de pálpebras pesadas, com a mão
direita mal consegue segurar o jarro de vinho, enquanto o braço esquerdo se
abandona pela mesa derrubando uma malga.
Malhoa vai pintar com grande realismo um conjunto de
elementos que identificam o São Martinho. Na mesa de madeira, tipicamente
popular, (repare-se no espelho da fechadura, nas gavetas e na moldura que trava
as pernas), estão espalhadas as tradicionais castanhas do S. Martinho,
sardinhas assadas, uma enfusa das Caldas da Rainha em vidrado amarelo com
laivos em verde e uma malga entornada que espalha pelo tampo da mesa, formado
por duas tábuas, o vinho novo, cuja mancha reflete a malga."
Praia das Maças
João Marques de Oliveira
Banhos na Povoa do Varzim 1884
Modernismo Ruturas
Columbano Bordalo Pinheiro
Um Concerto de Amadores 1882
Dei com uma aula ao vivo
Um Dó Li Tá
"Espacillimité" de Nadir Afonso aqui os alunos estudam as formas, brincam com elas e constroiem quiçá a sua própria obra de arte
1º quadro, auto retrato de Columbano 1904
Adriano Sousa Lopes
1908
António Carneiro
Contemplação 1911
Noturnas 1910
Guilherme Santa -Rita
"Foi um pintor e escritor Português, considerado introdutor do Futurismo em Portugal. Apenas resistiram duas das suas pinturas, todas as outras foram destruidas, segundo o seu desejo, pela sua família depois da sua morte. São elas, Orfeu no Inferno e Cabeça. Em 1912 era bolseiro de Belas-Artes em Paris, com apenas 23 anos de idade, viu a exposição dos futuristas italianos e aderiu ao movimento.
Para muitos o introdutor do futurismo em Portugal- o mentor ausente e secreto- é sem dúvida um personagem misterioso e ao mesmo tempo fascinante; companheiro de Amadeu, em Paris viria a ser «lançado» pelo Portugal Futurista que de forma verdadeiramente sensacionalista o apresenta como o criador do futurismo em Portugal. "
Cabeça 1910 |
Amadeu Sousa Cardoso
Cabeça
Aurélia de Sousa
Atelier 1916
Eduardo Viana
Pousada de Ciganos 1923
Alexandre Pomar
Presses
Ernesto Canto da Maya
Adão e Eva em terracota policromada 1929/39
Carlos Botelho
Lisboa e o Tejo 1899
Neorealismo
Júlio Pomar
Gadanheiro 1945
"Na altura do regime didatural Salazarista, assume claramente uma postura contrária ao mesmo, notória na sua produção deste período, vinculada à contestação política e social, fez da sua arte uma forma de intervenção na sociedade e na política. Tal como outros artistas da época, Júlio Pomar é influenciado por escritores que se impunham no panorama literário português".
Mário Cesariny
Soprofigura 1947
Vespeira
1948
Abstração
Nadir Afonso
O mestre da abstração geométrica
José de Almada Negreiros
A Sesta 1939
Neo Vanguardas
Paula Rego
Auto retrato em vermelho 1962
"A Arte Bruta vinha justifucar a sua necessidade de romper com o instituído e com a conformidade hipócrita que exalavam da ditadura de Salazar e da moral bafienta de uma religião com que não se identificava."
Rolando Sá Nogueira
Os amorosos 1965
Nova Figuração
Manuel d'Assumpção
Meditação e Lirismo Azul ambos de 1958
Maria Helena Vieira da Silva
Sem título Casas 1956
O meu marido atento
Pires Vieira
Antalógica da Pintura à Pintura Superficie 1 e 4
"Afirma-se com a geração de 70, inicialmente em conotação com o grupo francês Supports-Surfaces.
No entanto, a cada década seguinte, conquista novo fôlego e surpreende pelas abordagens e desafios, numa atitude de independência, com um trabalho que se centra na pesquisa, questionamento, empirismo e contenda face aos limites da pintura."
João Vieira
Sem Título 1972
Ângelo de Sousa
Sem Título 1972
"No final da década de 60, o artista enceta um conjunto de obras em que o interesse pelo Suprematismo de Malévitch e oMinimalismo o leva a questionar e experimentar o Branco e o Preto, refletindo sobre a pintura numa nova perspectiva de fusão entre forma e ideia.
Anulam-se os limites clássicos de entendimento da pintura, na função de elementos como o fundo, perspectiva, contorno, o que interessa neste diálogo nunca resolvido entre o monocromatismo branco do Nada, ou do negro, como Tudo, é a ideia plástica, é a matéria das ideias.
Anula-se a percepção de planos, exploram-se as texturas, e o observador descobre que, de longe, existe uma aparência pura de contraste, mas que vislumbrado de perto, o quadro revela uma nova nomenclatura dirigida à ideia de pintura, que já não pode ser um mero reflexo do mundo."
António Sena
Deep 1975
No piso térreo acede-se à Biblioteca e Gabinete de Desenhos, porventura as zonas onde a memória conventual é mais visível, o átrio ostenta dois pilares de Lioz que suportam uma abóbada de tijolo de seis panos, austeridade de linhas da construção tradicional da arquitetura portuguesas chã. que se destacam entre o equipamento técnico.
Na loja do Museu descobri um livro sobre faiança portuguesa em francês com esta travessa da Fábrica de Santo António do Vale da Piedade, sendo espécimes raros, pedi autorização para fotografar.
Não havia exposições temporárias que mostram obras de produção entre 1975 e a atualidade, com destaque para a fotografia e a Multimédia-,em preparação.
Fica-se sempre mais rico culturalmente a visitar Museus!