Saí de casa pelo alvorecer, domingo 24 de março de 2013
pelas seis e um quarto a caminho da feira de S. Martinho do Porto tendo por companhia aguaceiro fraco. Numa
curva apertada antes do aqueduto das Águas Livres deparei-me com um
separador comprido de cimento armado arredado do seu lugar por grande encosto, e que encosto -, apresentava-se desviado da simetria ordeira...um perigo, julgo os dois funcionários da Brisa aguardariam uma grua para o repor no lugar.
Mal chegada a Torres Vedras senti o sol despontar por detrás das eólicas numa de anunciar bom tempo, o que mais almejava.
Chegada a Alfeizerão sempre a lembrar o bom Pão de Ló , também de um antigo colega - , Guilherme Morais nesta terra de sua mãe, depois de regressado de Angola decidiu arquitectar a remodelação da sua casa em pedra...mais tarde muda de intenção , a vendeu para comprar uma nova. Teimei registar a igreja branca a lembrar o Alentejo, os plátanos do escasso adro bem podados a talão, ainda pormenores de folhas de palmeira no anúncio do DIA DE RAMOS dantes usadas no dia de casamento, nesta quadra usual por terras de Espanha.
A partir daqui a paisagem apresenta-se de cariz romântico muito pelo choupal em fila ao longo da estrada disperso deitado, sobrevivente às agruras da ventania em terreno desabrigado, árvores teimosas resistentes, desgrenhados de ramos despedidos , enquadrados em bucólica moldura de lameiros a fazer jus à nítida paisagem "Bocage" a perder de vista nos extensos prados verdes divididos por cercadura mural de canavial...
Aportei ao destino antes das 8 no lugar habitual da concentração.Estranho a D. Helena -, a senhora organizadora no seu tardar em dar ares da sua graça...fiz tempo na conversa ao cumprimentar o casal dos Fernandos -, ele cego há 4 anos. Rapidamente constatei que o lugar atribuído via telefone, e pago pertença do colega Peneda -, impossibilitado de comparecer em virtude de doença -, haveria de mo ceder num gesto gratuito que muito me honrou pela escolha e dedicação, infalivelmente verifiquei o mesmo ser pertença há 4 anos do colega Bacalhau...neste compasso de espe entrosei conversa com outro casal também muito simpático -, Sr Domingos e D. Rosa
na sua primeira vez nesta feira esperavam por atribuição de lugar. Mais tarde ao passar na sua banca vi sinetas de sacristão em latão e
um par de sinos com a Cruz em relevo - adornos de uma junta de bois numa
quinta em Vila Flor onde o seu pai trabalhou.Fiquei com o som dos chocalhos
na cabeça a pensar como aqueles bois no seu andar pachorrento por
caminhos de pedras transmontanas chegariam ao fim do dia ...moídos
concerteza!
Na nossa longa e estúpida espera se juntaram mais duas amigas que procuravam por semelhante ajuda. Sem a chegada da anunciada organizadora em cima das
nove horas o meu marido arranjou uma vaga - , mesmo que não a
houvesse o Sr. Manel da Batalha já se tinha disponibilizado para ceder
espaço da sua. Estas atitudes são o melhor destes certames -, encontrar gente boa, haveria de o ouvir dizer mais tarde..."você é muito simpática, não me esqueço a primeira vez que nos abordou..." logo rematado pelo Sr. Antero e D. Isabel de Palmela que já não via há meses, outro casal muito acolhedor, teimou reforçar o mesmo elogio. Montei num lugar central quase no início da feira em frente da entrada da praia, do outro lado a Ermelinda de Alcanena, muito perto do seguida da Ti Helena e Ti Manel.
Claro-, antes
arranjei dois lugares - um para a Rosa, e outro para as duas amigas!
O tempo parecia acordar prazeiroso apesar de ventoso. A feira estava repleta de bancas...a sopeira em faiança com dois gatos junto da pega, e sem tampa havia de ser vendida a um antiquário de Alfeizerão e um belíssimo prato com flores em policromia dividido por filetes amarelo ocre que irradiavam do centro para a aba com o tardoz cheio de buraquinhos de massa amarelada, fiquei a pensar a origem do seu fabrico -, Vilar de Mouros, Coimbra ou norte duma qualquer fábrica de Gaia, e com isso estupidamente não registei a foto... quando voltei já só vi o seu lugar!
Fui
cumprimentar a Fernanda que conheci na primeira feira das Caldas onde
comprei umas fronhas de flanela. Confidenciou-me que guardou lugar para
mim...como não apareci, cedeu a outro colega. Gente de bom coração, e ainda com pele porcelana!
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Banca do Bacalhau com a sopeira em faiança - fabrico de Caminha(?) e o Prato com o brasão do meu SPORTING |
Presentes muitos colegas -, um dos primeiros que estabeleci conversa estava com o seu ajudante um rapaz pacato de olho esverdeado e andar atoleimado -, travei conhecimento com eles nas Caldas quando estavam a içar os leões em pó de pedra que o Pereira Cristóvão comprou no certame, trazia mais dois na camioneta. No seu andar desengonçado vi outro colega alto de pernas a bater nos joelhos que costuma fazer Pombal -, Domingos julgo se chama; a Ana de Vila Franca de Xira está sempre na mesma desde que me lembro que a conheço, e já lá vão mais de 8 anos; ainda a Fátima que arrumava a banca, mais tarde a cunhada Isabel chegou, sentada a vi à beira de uma quebra de tensão e,...segundo o meu marido também foi o Luís e a Isabel Rute, mas esses não vi porque deu-me de estrear uns botins que me aleijaram os dedos mendinhos...
A baía enchia-se de famílias numerosas sobretudo da parte da
tarde que se passeavam pelo calçadão. Fatalmente pareceu-me "o passeio
dos pobres"...sente-se a crise que todos falam há falta de dinheiro por isso não vi marisqueiras, vi
antes esplanadas vazias.No dizer do meu bom amigo Manel do Porto muita gente que apelidamos de "parolos", mas que no fundo não têm culpa de o ser, pessoas essas que não sabem distinguir artesanato, velharias, coisas usadas, outras até novas do produto chinês, que só vão passear, em bandos, fazendo lembrar o romance de Batista Bastos - Um homem parado no Inverno!
Pela tardinha vi muita mulher cujo estilo de apresentação me soou na errante procura de "engate"... pavoneavam-se sozinhas na louca ideia de encontrarem a sua alma gémea ...uma passou por mim vestida para arrasar faltava-lhe contudo hellan... o corte do cabelo já não se usa há que anos igual o casaquinho branco com franjados...com uma anca de arrepiar...O único
feirante que verdadeiramente se "safou sem pagar terrado" instalou-se
estrategicamente em frente do challet amarelo onde montou a banca no
passeio de costas para a multidão que já está habituada à sua
presença...
Com todos os colegas que conversei e foram muitos, todos se queixavam do fracasso das vendas.E o que se vendeu foi abaixo de custo...para não ficarem a zeros...
Abeirou-se da minha banca um casal para me perguntar se tinha chaminés para candeeiros pequenos...voltaria para comprarem um candeeiro em miniatura com vidro verde, a senhora ainda regateou o preço ao mesmo tempo que abria o saco de papel para mostrar a vasta coleção adquirida quase a custo zero...enquanto isso o marido pegou numa nota para pagar, balbuciava por "entre dentes" por hoje chega de compras... não baixei o preço. claro que o levou por ser gracioso e barato!
Feliz com o presente no saco, caminhavam de braço dado,eis que inusitadamente a vejo beijá-lo na boca...sabichona o namorou para levar a bom porto, isso sim!
O meu marido também apareceu da sua voltinha de cortesia com um prato em faiança , já vira há meses, eram uns seis que achei caros na altura ... apenas restou na banca o mais esbeiçado...o que ele comprou. O prato apresenta a particularidade do azul cobalto sobressair no tardoz tal como no fabrico de Fervença.
Analisando os fretes e outros pratos que tenho com as mesmas caraterísticas trata-se de fábrica com marca "E" inserida dentro de um triângulo...
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Só um prato foi marcado |
Será o seu fabrico da zona de Aveiro(?) ...ou Coimbra . Não vejo esta marca nos livros da especialidade.Comprei um frasco de farmácia de tamanho médio em branco.Vinha
do cafezinho quando dei com uma cara conhecida de andar apressado na
parte da manhã. Uma casal, ele de cabeça alva, não o reconheci, já ela
foi minha colega no Sottomayor -, escanzelada de carnes, continua com o
mesmo olhar grande e negro no contraste com o cabelo curto também negro
tal o mesmo no vestir, no caso senti lhe confere mais acentuada
velhice, se fosse de noite julgo me assustava!
Adorei o estrelato que se vivia no palco do calçadão de algumas mulheres caducas...
Desfilavam bem vestidas , tortas do
esqueleto, marrecas de "cu metido na barriga" andar à pato com os pés para fora, magras, outras gordas com "queixada dupla de abanico à boi" todas ornadas de cabelos loiros desgrenhados ao vento com a raiz profunda em branco .
Infalível em todas elas o carrego excessivo de vermelho -, seja no vestir,
unhas ou beiça!
Mesmo VERMELHO numa idade para serem minhas mães!
Certo e sabido davam nas vistas e de que maneira!
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cerise, escarlate, carmesim em detrimento do vermelho, rouge, rubi... |
Destingi uma distinta senhora com mais de 70 anos, meio torta de corpo com cremalheira branca escancarada ornada de beiça escarlate -, no caso haveria de lhe conferir um sorriso lindíssimo -, o mais bonito que perdi o olhar -, uma boneca a meu ver deveria ser
aproveitada para Desenhos Animados...voltaria a revê-la no regresso do fim do estandarte de feirantes, o marido trazia uma compra embrulhada em jornal na mão, ela já de casaco pelas mãos mostrava o belo casaquinho de malha aderente ao belo peito com losangos em tons de vermelho vivo no contraste com a brancura
enorme do sorriso e do rouge...uma graça sem igual, a vontade que tive de a
fotografar...gente fina!
Depois da missa do Dia de Ramos apareceu gente com o raminho de alecrim e oliveira pelas mãos...
Também uma miúda turista com bom corte de cabelo à " garconne" em louro liso e óculos de sol a imitar os de mergulho guiava uma bicicleta pelas mãos no passeio público na vez de ser atrás das bancas na via circundante -, vestia calças de malhinha aderentes que lhe faziam ainda saltar mais o "cu rechocudo de gordinho das bordas da cuequinha..."na mochila às costas levava de fora o seu raminho de ramos...
Apareceram casais homossexuais. Gente que compra na generalidade de gosto apurado e requintado na escolha das peças. Mas também ontem senti terem também os bolsos quase vazios...
Quase no final de feira apareceu um desses casais.
Sobressaia um deles de barriga bestialmente obesa a saltar da camisola, louro que encantado com o brilho da minha mísula dourada, que pegou em mãos e fazia teatro para o amigo numa de esperar que ele se adiantasse...antes o apreciara na banca da minha homónima com um grande prato nas mãos sob o olhar calmo do amigo inteletual impávido e sereno que não lhe dava cobertura...(fez-me lembrar quando era pequena em Coimbra nas compras com a minha mãe...)
Pior foi quando arrumou a mísula, segundos depois a senti cair partindo um prato de Massarelos com um "cabelo"num motivo oriental.Fiquei no prejuízo!
- A
rivalizar o meu azar antes de começar a montar a banca, o vento deitou
no chão um saco que tinha na cadeira com estes patos paliteiros que se
partiram pelo pescoço e ainda um pratinho decorativo com motivos do mar...
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Vestal Alcobaça |
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Pinheira - Aveiro |
Só no cair da tarde apareceu de imprevisto a D Helena a senhora organizadora do certame.O meu marido ouviu-a falar com a Fernanda, em que lhe dizia que esteve para não vir ...fiquei a pensar como tal seria possível -, ao saber que se tinha comprometido com pessoas para as acolher logo de manhã?
Continua
na sua legendária desorganização estatística da atribuição dos lugares
e na assertividade da palavra...julgo lhe falta atitude e coerência para amenizar situações de melindre. Disse-me que
o lugar não era o 17 mas o 23 ou 24... entre o Sr..., e o ...voltaria a
instigá-la de novo após ter ido confirmar e reparar que o 24 não podia
ser porque era do...ficou calada -, que voltaria...passavam das seis vim-me embora cansada de tanto ter esperado por ela de manhã. Será que a altura do porte se perde no contraste da lógica do raciocínio(?) a terrível impressão que me causou!
Exigi-se eficiência na coordenação da feira com estatutos que os feirantes tem o dever de respeitar!
Àquela hora já soalheira é costume o desfile de carros na estrada defronte da
baía de todos aqueles que não se aventuram a sair, apenas desfrutar da
paisagem ...um Mazda laranja muito doce, e um jipe transformado para picadas de altas rodas enlameadas.
Desiludida com o fracasso do certame fiquei sem vontade férrea de voltar...apesar do agrado e da oferta de lugar pago do meu bom amigo do Porto, Manuel Peneda!