sábado, 25 de fevereiro de 2017

Aldeia desertificada dos Matos, em Ansião

O Lugar dos Matos,  foi escolha no cimo de um outeiro, com a chegada de clãs judaicos, com menção na centuria de 500 a par do Escampado de Calados.

Avistava o movimento do corredor romano/medieval nos Empiados do Caminho de Santiago de Compostela e aos pés no Barranco passava o corredor romano/medieval de sul de Almoster, Sarzeda e Escarramoa para o Vale Mosteiro.

Sito no termo sul de Ansião. Foi a falta de água a condicionar nos meados do séc. XX, o seu abandono.  

A Venda do Negro, em tempos idos se chamava Venda dos Negros, dos genes herdados dos mouros do norte de África, cuja descendência ainda persite em tez trigueira, pele macia, lusidia, olhar castanho escuro e cabelos encrespados...Nos Matos pelo menos persitem na familia de apelido Mendes!

Excerto do livro "Notícias e Memórias Paroquiais Setecentistas de Ansião  de 1721
" O Lugar dos Matos em 1721 tinha sete vizinhos.

Floresceu a custo, sito na vereda sul abrigada, e soalheira do outeiro a espreitar os Empiados de igual número, e pela frente ao longe avistam os Escampados.
Como já mencionei o que ditou a desertificação da aldeia dos Matos e da do Barranco foi a falta de água. No Vale Perrim, o poço de Acúrcio Monteiro, a poente do Carril, com água do aquífero do Nabão, abastece a Fonte da Lagoinha, no Pinhal, onde o povo ia buscar cantaros de água.
Nos meados do séc. XX houve pessoas que emigraram e não voltaram, outros saíram para outras aldeias pela via do casamento. 

Conheci pela primeira vez  os Matos com a minha avó materna Maria da Luz da Mouta Redonda, nas temporadas que passava em casa dos meus pais, lá foi comigo para encomendar umas mantas à tecedeira Rosalina Mendes.
Fomos pelo Casal das Pêras , seguimos às Alminhas pelo corte para o Carril. Onde recordo a minha prima Júlia Silva do Bairro de Santo António um dia entrar pela courela de mato para me mostrar num grande penedo o "Pezinho de Nossa Senhora"... o pezinho foi esculpido pelo homem da pré história  que a erosão nos séculos  o evidenciou bem torneado. 
No Carril, fazenda da minha irmã, o meu pai dizia haver um filão de mármore, quiçá vindo da Lagarteira, onde foi menção por Domingos Vandelli. 

Blocos de calcario com bolsas de arenito do Barranco
No livro Alma de Pelmá o autor, o Dr. Filipe Antunes, também as partilhou.
A minha coleção
Achei-as no alto da serra da Ameixieira teria sido na altura da exterminação dos dinossauros?
 A ladeira ingreme para os Matos
No vale o cruzamento, para poente ponte sobre o ribeiro, segue o caminho antigo para o Casal das Peras com entroncamento de um mais novo para o Pinhal. 
O caminho que segue para a direita vai para o Vale Perrim. 
E o caminho para a esquerda para o Barranco.
Casas de sobrado o foram de  gente  com posses
Fila de casario adoçado do lado direito, com r/c e sobrado em ruínas, o primeiro casario dos Matos da família Simões Bento, limita-se a poente com o Barranco e o ribeiro dos Matos.
Por todo o lado cabides de madeira, dantes se usavam para pendurar a roupa de domingo
Debalde desta vez não havia nenhum, deviam ter sido roubados...

Cimalhas a estuque
                                          
Escadaria no interior para o sobrado com varandim e teto em madeira
A ruína

O tabique
Ruinas de outars casas mais antigas
Loja com chão empedrado
A 2ª que assim conheço em Ansião, só a pedra é que é diferente, aqui calcária e a outra ao Ribeiro da Vide, escura.
Seguida para nascente da ruína de casa foi de gente se apelido Bispo, julgo perdido em Ansião
A família Mendes, alcunha Carriços
Tinham  um tear, ainda conheci a tecedeira a ilha Rosalina .Recordar as temporadas da minha avó Maria da Luz da Mouta Redonda na minha casa em Ansião. Amiga de conversa fiada com as vizinhas durante o dia, à noite de inverno à lareira a rasgar em trapos roupa  usada até amolecer de sono enquanto a minha mãe da cesta ia juntando as fitas com nós para eu fazer os novelos. Aquela avó só pensava em mantas de tear para o enxoval das suas netas; do meu e do da minha irmã. Até ao dia que me levou a pé depois do almoço aos Matos, à casa da tecedeira Rosalina, com cestas de trapos para encomendar uma colcha e duas mantas.
Conheci os pais dela  por terem uma fazenda ao Carvalhal do Bairro, onde vinham amiúde. E conheci outras irmãs da tecedeira - a Gracinda, das mais novas, e a Alice com reminiscências do cabelo encrespado a denotar gene mourisco, veio a casar com o Carlos Pego, sempre a conheci a viver no Bairro de Santo António, minha vizinha, mulher igual a si mesma, sem se dizer dela bem nem mal, sendo bastante difícil de se manter esta personalidade por  saber viver com todos, no mesmo seja o feitio do único rapaz na família, o irmão que também conheci, de todos o mais bem afeiçoado, seria o mais novo que no início da década de 60 emigrou para França, recordo de o ver chegar de "vacanses" ao volante dum carro vermelho...Ainda construiu casa na fazenda do Carvalhal do Bairro, não sei o que realmente aconteceu num tempo em que muitos pais dispensavam uma parcela de terreno para a construção da casa, sem se fazer escritura, a modo da legalização ocorrer apenas nas partilhas após os falecimento dos pais com ajuste na herança com os outros irmãos. No caso outra irmã também construiu noutra extrema, em melhor local, na frente da estrada principal, mas algo aconteceu de nefasto  entre eles para o rapaz ver da noite para o dia a sua casa a ser entaipada por muros altos, pior que fosse uma prisão, até que se foi embora...Cenas brutais marcam as crianças, a mim marcou-me ao ver o brutal impato, sem sequer imaginar aqueles tristes pais as voltas que deram no caixão, o quão aflitos deveriam ter ficado, e o teria sido evitado, se não se tivessem deserdado em vida, mas ao serem de bom coração os quiseram presentear com o melhor que tinham, a fazenda mais perto da vila em prol de continuarem a viver na agrura de parca água nos Matos...Lições para a vida!
A Alice Mendes confidenciou-me que descia ao vale junto do Carril da minha irmã para encher o cântaro de água no poço do primo do meu pai, o Acúrcio Monteiro, seria estafa, estafadinha ter de subir com o cântaro  à cabeça a brutal ladeira, na certeza teria uma boa rodilha...E no ribeiro faziam açudes para reter a água para lavar a roupa ou então era lavada na Lagoa do Barranco.

A capela a S. Mateus
O caminho de subida para os Matos fecha com a capela de orago a S.Mateus. Sofreu há poucos anos um restauro.Curiosamente e com grande lástima nunca aqui vim à festa de S. Mateus que se realiza em setembro, no tempo das nozes.

Citar o Padre Manuel Pinho de Ansião
"Um documento de 29 de maio de 1769, intitulado “Relação do estado das igrejas, confrarias e capelas da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Ansião”, redigido pelo padre José Fernandes da Serra, que devia ser o pároco de Ansião nessa altura, diz o seguinte a respeito desta Capela:No lugar dos Mattos esta huma Capella e nella, as Imagens de Sam Mateus, Senhora da Piedade, e das Preces, todas em vulto feitas em páo bem esculpidas e incarnadas; tem seu retábulo, bem pintado, toda a Capella forrada de painéis; tem os ornamentos precizos como sam pedra de ara, três toalhas, dois purificadores, dois castissais, e cruz de estanho, Missal, galhetas e prato de estanho, vestimenta, de osteda branca, bentinhos incarnados, duas alvas, dois cordois, dois amitos, tudo em bom uzo, dois veos, hum branco, e outro incarnado, seis sanguinhos, duas mezas de corporais, e bolssa de duas cores, frontais de festa, e roixo em páo pintados, calis, e patena, e colher de prata, palio, duas alemternas tudo bom; corre o seu reparo por conta do povo."

Perdi as fotos da casa, em derrocada e das pedars do portelinho...

A capela ostenta o lintel 1740

Existe uma casita defronte do adro e logo abaixo um portelinho cujas pedras reportam para reutilização de antas...
Em dia de festa chega-se o povo principalmente do Carvalhal do Bairro, Pinhal, Casal das Peras, Ameixieira e Casal Soeiro e,...
Desconheço o paradeiro do sino, para não ser roubado o teriam retirado (?) 

Altar da capela de S. Mateus nos Matos
 Enquanto as crianças se divertem em redor da capela...

Existe no adro uma pedra de senfim, a estar aqui  no adro foi do lagar do Barranco .

De onde teria vindo a família do Padre Manuel Jorge ?
Não consegui localizar o registo... Encontrei o batismo de Joaquim, a 03.04.1793 nascido em março, filho de João Simões Jorge e Josefa Maria, moradores nos Matos. 
Neto paterno de António Simões e Maria Luís, moradores no Escampado do Melchior e Materno Manuel Simões Pires e Maria Freire, da Ribeira de Ansião, Abiul .
Acrescenta ainda o Padre Manuel Pinho 
"O Padre Manuel Jorge foi o primeiro capelão desta ermida, sendo a sua origem de família abastada. Tinha 28 anos quando se fez a capela, decerto para ele poder celebrar Missa e exercer assim o ministério sacerdotal.Está escrito que foi um bom sacerdote e que ajudava o pároco de Ansião sobretudo nas confissões.
Esta aqui sepultado e talvez os pais."

As fotos da família "Mendes Simões  

Da sua descendente Adelaide cuja cortesia em me enviar e autorizar a partilha.Tiradas na varanda de balcão da casa aos MATOS onde viveram os seus avós e os pais
Com vizinhos que viviam mais abaixo,  meu pai, e o primo Álvaro.
   Tias Emília de Jesus e Gracinda Simões
 Minha tia Emília, minha tia Gracinda, minha prima Marieta com a filhinha Ana Lúcia, o meu pai e eu ao colo.

Na frente da capela de S.Mateus o meu pai Alberto Simões, meus primos António Santos,  Álvaro Simões Abreu e o vizinho
Fica esclarecido que os seus avós teriam recebido esta casa de herança ou por compra.Na verdade a casa data dos primórdios de 1700, a capela ostenta a data de 1740 e quando foi instituída por esta família do padre Jorge já ele contava 28 anos, o que equivale a dizer que nasceu em 1712.
Um dos problemas de quem emigra, a futura herança fica por receber ao Deus dará e pelas vicissitudes várias da vida ao não lhes ser  favorável voltar a Portugal, muitos acabam por os perder porque outros se apropriam deles por usucapião.... 

As poucas vezes que visitei o Lugar dos Matos foi a pé
Mas recordo a última há anos quando procederam à abertura do novo caminho pelo tardoz da capela na direção a norte, à Lagoa da Ameixeira e Vale Penela. Estacionei o carro da minha mãe e aventurei-me a entrar nesta casa por ter a porta aberta onde distingui vestígios do parco mobiliário ali deixado com arcas de pinho e cama de ferro. Nesta casa viveu a última moradora neste Lugar, Isaura, mulher triste e abnegada teria sido ludibriada por artes do diabo pelo namorado de Albarrol, e o seu querido filho, o Zé, só foi reconhecido pelo pai biológico recentemente, a fazer fé no ditado popular " mais vale tarde que nunca" até ouvi dizer que este filho, o Zé da sua tenaz têmpera  obstinada para o trabalho, o pai lhe deu sociedade nos negócios, o considera um verdadeiro filho, que o é!
Mas antes a pobre e triste mulher deixou este Lugar dos Matos em idade cansada para se casar e ir morar para outro outeiro, o Alqueidão, hoje está num lar não sei se ainda dona das suas faculdades para receber esta boa noticia da paternidade do seu querido filho...

Atualmente a  casa da família do Padre Manuel Jorge, onde viveu e depois os avós e pais da Adelaide
Não vive aqui ninguém há mais de 40 anos...
A casa em aparente ruína, tem valor arquitectónico pelo balcão e colunatas a suportar o telheiro, representa dizer o chão era deles.Por ter sido em tempo farto de homens a abraçar o sacerdócio em relação a igrejas disponíveis, os seus pais procederam à construção da capela no seu terreno, e ainda tomando como certo o seu nome Manuel Jorge,  sem se saber se seria filho único, à época cabia ao filho mais velho receber a herança da família e o segundo em geral seguia o sacerdócio, já as filhas ou se casavam ou entravam em conventos.

Gentil partilha de Maria Adelaide Mendes Simões "Veja só, tudo começou com um link que eu vi no facebook  sobre uma caminhada.As pessoas passaram ao lado da Capela do São Mateus e aparecia um pedacinho da frente da casa, fiquei toda arrepiada, me emocionei muito e fui procurar no Google, o que vi me deixou muito triste por ver os meus primos deixarem tudo se acabar. Por favor Isabel não quero perder contacto consigo, porque sempre vejo alguma coisa da minha Terra. Eu vi o que você publicou e chorei muito, pois amo cada pedra , cada árvore, morro todo dia um pouquinho com saudades e vontade de viver aí , mas não posso infelizmente.Você não imagina o bem que me fez. Nasci no Carrascoso, mas meu pai era dos Matos. A família dele morou nessa casa. Só que essa casa era do meu avô, Manuel Simões. Nela nasceram meu pai e meus tios. Meu pai, Alberto Simões, nasceu em 1922. A minha avó chamava-se Maria de Jesus Duarte, mas os irmãos dela tinham o sobrenome Tojo, tinha um vizinho Moreira que andava sempre às turras com ela por causa da água do poço. Vim para o Brasil com 5 anos. Os Cancelinha de Albarrol são família da minha avó, mas a minha avó era natural do Ribeirinho (e os Cancelinha também de onde partiu para Albarrol por casamento). A casa, as terras são da família Simões. O meu tio António ainda vive no Carrascoso. Minhas tias e meu pai já faleceram. Para o Brasil vieram dois. No Casal das Pêras,  vivia a minha tia Ana da família Mendes que tinha um tear. E o correeiro casado com a Oliva era primo do meu pai. Havia uma família no Carvalhal  que eram primos da minha mãe. A senhora se chamava Jesulinda, um filho dela se correspondeu comigo muito tempo na década de 70 , ficava perto da casa da Olívia. Sabe Isabel muitos anos já se passaram muitas coisas mudaram, mas a lembrança  e as saudades ficam. Também tenho um primo que tem um táxi na vila, o Alfredo, a esposa de chama Isaura.Encontrei em Santos uma pessoa que morou ali numa daquelas casinhas. Mas vim para São Paulo e perdi contacto. Mas foi tão bom falar sobre a Terra..."

Agosto de 2020
Para memoria futura as pedras da cantaria a arte de Ansião do séc XVII. Deviam  ser sob melhor opinar espólio do futuro Museu de Ansião, antes que se percam de vez.

Carril
A casa do Ti Sabino,  a caminho do Casal das Peras, ainda o conheci,  e a seguir foi a casa da Ti Gracinda, em ruínas. 

Pedidos de passaporte  
Pelo menos há mais de cem anos os pedidos de passaportes revelam o espírito de aventura e de ganhar a vida pelas faixas etárias, os que levaram a mulher e filhos,  porventura com a ideia de não mais voltar .
O desconhecido ouro verde - o café, por isso o destino Santos, também África para S. Tomé para as roças como feitores.

Passaporte de Joaquim Simões 1908-03-24 Idade: 41 anos
Filiação: José Simões / Preteciana (?) de Jesus
Naturalidade: Matos / Ancião
Residência: Matos / Ancião
Destino: Santos / Brasil
Observações: Escreve
Supostamente seja tio (?) da minha amiga e colega dos Anacos, a Fátima Simões, cujo pai nasceu nos Matos, o Sr. Ernesto Simões Bento , taxista na praça de Ansião.

Passaporte de Francisco Rodrigues 1908-09-23 Idade: 32 anos

Filiação: Luís Rodrigues / Mariana Marques
Naturalidade: Martim Vaqueiro / Pousaflores / Ansião
Residência: Matos / Ansião
Destino: Santos / Brasil
Observações: Escreve 

A avó do Zé Maria Marques Reis, nasceu na Quinta do Martim Vaqueiro,  era natural dos Matos

Passaporte de Joaquim de Oliveira 1913-03-29 Idade: 26 anos
Filiação: Manuel de Oliveira / Casimira Maria
Naturalidade: Matos / Ansião
Residência: Foz do Arelho / Caldas da Rainha
Destino: Santos ( Brasil )
Observações:Levando sua mulher, Maria da Conceição e 20 anos de idade.

Passaporte de Alfredo Mendes da Silva 1913-03-19 Idade: 16 anos

Filiação: António Mendes da Silva / Maria de Jesus
Naturalidade: Matos / Ansião
Residência: Matos / Ansião
Destino: Santos ( Brasil
Observações: Não tem

Processo de inventário orfanológico Data descritiva 1901

Inventariado: José Simões; inventariante: Feliciana de Jesus Freguesia: Mattos - Ansião.

Na mudança do século XIX para o XX muitos portugueses emigraram para o Brasil 

Ganhar dinheiro no Porto de Santos como estivadores a carregar sacas de 60 kg de café, das carroças para os porões dos navios, em condições precárias por passadiço de madeira sujeitos a cair ao mar.Padarias e como capatazes de fazendas de café.

Ainda os houve de força bastante que se conta havia um que conseguia levar seis sacas de uma vez, entre eles faziam concursos de peso- quem mais sacas aguentava sob os ombros, uma maioria levava duas, três ou quatro, sendo seis no total 300 quilos um absurdo...
Porque faziam isto? Se não ganhavam à saca então eram tolos...Não acredito, era sinal de força, de poder!
Concurso
Houve os que voltaram ao fim de uns anos para casar, montar negócio, ou continuar na sua vida de agricultor. Também os houve que a vida lhes correu mal e se deixaram ficar por lá...
No entanto para partir era preciso terem dinheiro para a passagem, por isso houve muitos que venderam o que tinham, disso me recordo ouvir o meu avô " Zé do Bairro" a propósito de um pinhal que tinha comprado a um primo para este ir ao Brasil, outros receberam carta de chamada de familiares já instalados, e lhes pagariam depois de arranjar trabalho, pior, os que se aventuraram em emigrar assinando contrato com despesas incluídas e ainda acomodação, sem jamais verem o "fundo ao tacho" na liquidação da divida que na vez de baixar crescia com juros capitalizados...
Pois houve produtores de café que se aproveitaram dos emigrantes portugueses, descaradamente!

Fontes

https://www.facebook.com/igrejadeansiao/
http://digitarq.adlra.dgarq.gov.pt/results?t=leiria&p=1006&s=CompleteUnitId&sd=False
“Notícias e Memórias Paroquiais Setecentistas - Ansião" de Mário Rui Simões Rodrigues e Saul António Gomes

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Alcunhas de Ansião

Para melhor compreender este panorama dos apelidos e suas alcunhas, pela falta de documentação medieval encontrei em  http://repositorio.ual.pt/bitstream informação retirada do Tombo de Soure e do Ega de 1508, por  limitarem  Ansião. 

Esmiuçar o fenómeno das alcunhas, dececiona ou maltrata a personalidade de alguém? 
As alcunhas retratam o passado, fazem parte da nossa história, jamais abordada pelos ditos historiadores de Ansião. Não se pode mudar o seu panorama que tiveram no passado - quer se goste ou não! 

Ainda assim como sou educada, peço desculpa se alguém acaso se sentir ofendido!

APELIDOS no Tombo de Soure
(...) os nomes de origem germânica e latina alcançam os 31%, seguidos dos nomes gregos 25%, seguindo-se os hebraicos com 7%, por último com resultados abaixo dos 3% os nomes ibéricos, franceses e italianos. Da comparação dos dois contextos anteriores, sobressai a grande “queda” dos nomes hebraicos de 28%, na enumeração de nomes por indivíduo, para 7% quando atendemos à sua diversidade, facto que reforça também a importância do nome, “João”. Seguindo a mesma ordem comparativa, salienta-se a subida de 7% para 25% dos nomes gregos, indicando a sua diversidade, mas também o seu reduzido uso, sendo a evolução dos restantes fundos pouco significativa, latinos 31% para 29%, germânicos 31% para 29%, ibéricos de 2% para 5%, sendo os restantes pouco significativos. Referimo-nos à sua etimologia, mas não descortinamos justificação óbvia para a divergência que apenas é relevante para os nomes de origem grega (latinizados).Por último no que concerne à proveniência dos nomes próprios, aluda-se ao registo de uma significativa maioria de onomatos cristãos, correspondendo ao domínio da implantação da religião de Cristo em território português, quer bibliónimos, quer hagiónimos que foram entrando no quotidiano e na aceitação dos crentes, como apresentamos graficamente. confirma a tendência já referida da utilização de nomes cristãos, bibliónimos e hagiónimos com 62%, deixando 38% para onomatos de outras proveniências.

(...) no tombo da Comenda de Soure, um leque de vinte e dois apelidos de um total de vinte e oito indivíduos que os usavam, número bastante inferior aos indivíduos detentores de patronímico (114).
Homem- Cardoso- Freire- Travassos- Botelho - Correia - Da Costa- De Aguiar- De Almeida - De Azevedo - De Matos - Do Rego - Drago - Lucas -Mexia- Pereira-Pessoa- Ribeiro-Serrão -Telo-Varela - Vieira
No entanto, ao abordarmos no gráfico nº 12 a comparação entre apelidos (50%) e patronímicos (50%) pela sua diversidade, observamos o nítido acréscimo de importância na utilização dos primeiros, admitimos que tal facto seja indicador da gradual evolução dos apelidos.
Os indivíduos referidos no tombo da Comenda de Soure apresentam-se como residentes, ou com atividades circunscritas a essa delimitação territorial; no entanto, existem diversas indicações toponímicas apostas a nome sugerindo deslocações/migrações que, em algum momento interagiram ou se fixaram neste espaço, exemplos como: Álvaro Pires de Buarcos, Francisco de Azambuja, Gil de Gante, João o Moço de Azambuja, João de Ansião, João de Lisboa e Martim da Covilhã, sugerem que num dado momento, saíram da sua terra natal para se fixarem na região sourense, Aires de Almada, juiz dos feitos do Rei, que consta no tombo como tendo passado uma carta selada com o selo da chancelaria da corte; João Coelho, tabelião de Viseu, consta como tendo feito alvará de condenação e Pêro de Gouveia consta como tendo assinado sentença ao alcaide-mor Manuel da Silva; por entendermos que as referências no tombo a estes três indivíduos não comprovam a sua fixação na região. Os resultados obtidos têm como fonte apenas os nomes com indicação toponímica, descritos no Tombo da Comenda de Soure. (Gante é nome conhecido em Portugal, começando por João de Gante, pai de D. Filipa).A migração nacional, um primeiro que se estende até aos 50 km e outro entre os 100 e os 200 km, por último de dimensão internacional surge o caso de Gante na atual Bélgica, no entanto ressalvamos que esta informação é apenas indicadora, sugerindo migrações ocorridas na época, mas insuficiente para caracterizar com rigor estas movimentações populacionais. O nome Gante está entre nós desde o séc. XIV, pelo menos A 1840 KM.

(...)O patronímico ou menos notoriamente o matronímico, resultantes dos nomes próprios dos progenitores, solução que perdurará até ao início do século XVI, evoluindo então para a utilização dos apelidos que, conferiu uma maior importância ao nome de família em desfavor do nome próprio dos progenitores. e onomatos relacionados com: toponímia, profissão e alcunha, recursos utilizados na diferenciação de cada indivíduo. 
O “mundo” das alcunhas / anechins foi, na Idade Média, fértil e imaginativo, que por sua vez estavam relacionadas com coisas tão diversas como profissões, características físicas ou deficiências, comportamentos, etc. 

(...) O licenciado Aires de Almada, Diogo Pires, barbeiro de Vila Nova de Anços, João, escrivão das sisas de Lisboa, Rodrigo Anes, juiz da Anta e o Sapateiro de Paleão, possuem ao mesmo tempo adjunção tópica e ofício.

Ligados à agricultura e ao pastoreio esteja relacionado com sua irrelevância no que respeitava à sua identificação imediata, subsistindo como assalariados sazonais com pequenos rendimentos e a quem por norma não eram confiadas terras. Situação que é de alguma maneira reforçada quando atentamos nos indivíduos identificados no tombo de 1508, com indicações de ofício, e que possuem bens, sendo na sua maioria ocupações reveladoras do seu estatuto social; enumeram-se atividades como os cargos de escrivão, clérigo, cavaleiro, juiz, vigário, barbeiro, contador, abade, alcaide-mor, almoxarife, besteiro, coudel, comendador, conselheiro do Rei, notário, ouvidor, tabelião, visitador da Ordem de Cristo e ofícios como os de ferreiro, pomareiro, caminheiro, capelão, ferrador, lavrador, marceiro, meirinho, tecelão, tosador, alfaiate, sapateiro, lavrador, marceiro, meirinho, teceção,(...) Em Soure Pêro d´ Asseca sogro de Simão de Andrade, vendeu em data posterior a 1508 um assentamento de casas e seu quintal; salienta-se nesta relação familiar a venda de um bem registado em nome do genro omitindo o nome da filha e deixando transparecer a dominância do género masculino.
Na rua da Olaria Velha existiam casas, um jardim e um curral que foram pertença de Manuel da Silva e passaram para seu filho João da Silva, verificando-se a passagem do apelido “Silva” entre duas gerações.

(...) Diogo Homem, filho de João Rodrigues Homem, antigo contador de Coimbra e neto de Doutor Rodrigo Homem( a hipótese devido à passagem do nome próprio a patronímico “Rodrigo” para “Rodrigues” e à utilização do apelido “Homem) traz aforada uma herdade junto da vila de Soure. Confirmando-se neste caso a passagem do apelido “Homem” entre três gerações.

(...) o alcunhário de 1715, da autoria de Pascoal Ribeiro Coutinho, que poderia ocupar esse “lugar”; contudo, o conhecimento de tal obra deve-se apenas à referência de Barbosa Machado, sendo o seu paradeiro desconhecido; a este facto acrescentam-se até à atualidade raros trabalhos académicos e poucos artigos em publicações periódicas sobre o tema. José Leite de Vasconcelos caracteriza o onomato “alcunha”, como “palavra volante”, nome de natureza não definitiva, podendo ou não acompanhar toda a vida do alcunhado, facto distintivo quando comparado com os restantes onomatos. A alcunha possui, tal como todos os onomatos que se apõem ao nome próprio, a finalidade de evitar as homonímias e, possuindo maior liberdade de expressão, ultrapassa as regras mais rígidas a que estão sujeitos os patronímicos e os apelidos, resultam da criativa imaginação popular e podem ser conduzidas para nomes mais “duradouros”, ganhando o estatuto de apelidos .

Alcunhas de Soure no tombo de 1508 
Diogo Gonçalves Bebe Água( necessidade de a beber por sofrer sem saber de diabetes ou não gostar de vinho)
Álvaro Gonçalves Bem lhe Vai, foi vizinho de um terreno da Ordem de Cristo, na Granja do Ulmeiro. Ao que parece a alcunha não é pejorativa, podendo caracterizar um indivíduo a quem a vida vai correndo de feição, uma pessoa com sorte na vida.

CAIADO 
Alcunha de Pêro, escrivão de profissão, deriva do latim canare, aludindo ao branco da cal, sugerindo um individuo de tez branca como a cal, facto que pode estar relacionado com o seu ofício e as muitas horas despendidas na elaboração da escrita a coberto da luz solar. 

CALADO 
Alcunha enunciada em dois indivíduos, já falecidos em 1508 e que deixaram bens aos seus herdeiros; este onomato não possui sentido verdadeiramente malicioso, indicando alguém reservado ou parco em palavras, sendo um dos casos que se supõe ter passado a apelido com facilidade. Notamos a proximidade geográfica entre Álvaro Eanes Calado e Rodrigo Anes Calado, identificando ainda nas proximidades uma vinha nomeada por vinha da Calada, fazendo supor a possível relação familiar entre os dois indivíduos e de uma terceira pessoa no feminino.

CASADO 
Pedro Eanes Casado tinha nos arredores da vila de Soure, próximo da herdade da Caramoa, um olival e um chão. O apodo suscitou dúvidas acerca da sua caracterização como alcunha, contudo a ausência do nome da mulher, reforça de alguma forma a ideia.

CIRQUITO 
Álvaro Eanes Cirquito de Alencarça, é um nome complexo, possuidor de quatro onomatos, nome próprio, patronímico, alcunha e indicação toponímica, situação pouco comum no documento e que se justifica pela presença de homonímias no lugar de Alencarça de Cima, assinalando-se nomes como: Álvaro Eanes Vassalo, Álvaro Anes, outro Álvaro Anes de Alencarça e o dito Álvaro Eanes Cirquito de Alencarça. A procura de significado para a alcunha “cirquito” não revelou frutuosa, contudo ficamos com a ideia de que tal alcunha possa estar relacionada com a capela de Nossa Senhora do Círculo aí situada, tradicionalmente nomeada por Senhora do Circo, tal como o foi na adjunção tópica de Afonso do Circo no tombo da visitação de Ega.

COZIDO
Curiosamente, a imaginação popular ao atribuir alcunha a Diogo Gonçalves Cozido , reconfirmou o seu ofício de alfaiate, este em 1508 teria sido foreiro no lugar da Requeixada, termo da vila de Soure; assim Diogo Afonso Cozido Alfaiate possuiu no seu nome, alcunha e indicação de profissão que estavam intimamente relacionados.

DRAGO
Pêro Drago  , cavaleiro da Ordem de Santiago, foi foreiro em segunda pessoa de um pardieiro na vila de Soure, assim como de uma granja perto de Soure em primeira pessoa, num prazo de três pessoas, tendo ainda perto da dita vila uma sesmaria; Drago provêm do latim draco, nome alusivo a dragão animal fabuloso, facto que provavelmente está relacionado com, o estatuto de Pêro Drago, como cavaleiro da Ordem de Santiago, identificamos ainda Maria Draga, (variante feminina do onomato Drago), nas imediações da vila de Soure, sendo provável a relação familiar com Pêro Drago; J.L. Vasconcelos alude ao onomato Drago como apelido, mencionando: “também não me parece impossível que os apelidos Serpe e Drago resultassem de alcunhas provindas da procissão do Corpo de Deus, onde entravam d´antes o Drago e a Serpe” .

GAITEIRO
Do Gaiteiro não se conhece o nome, este onomato é usado para referir o seu filho como “filho do Gaiteiro” , sendo que este possuía terra ou bens em São Mateus no termo de Soure. Gaiteiro é alcunha atribuída a um indivíduo festeiro, folião, que chama a atenção por ser vistoso ou possuir muita energia (fôlego) .

GALEGO 
João Galego do casal que, na feitura do tombo da visitação já teria falecido, deixou herdeiros, cuja herança se localizava em Vale de Flores nos arredores de Soure. João possui no seu nome duas indicações toponímicas: “galego” como indicador da sua origem, a Galiza, e “do casal”, fazendo referência provável, à sua morada nas proximidades de Soure; porém o facto de coexistirem duas referências de lugar dá enfâse, a outro significado da alcunha “galego”, associada a trabalho árduo que provavelmente caracterizava João Galego do Casal .

GRANDE
João Grande foi nome de um porto nos arredores de Soure, subsistindo a dúvida acerca da existência de um indivíduo de nome João Grande, o significado da alcunha é de teor físico, fazendo referência ao tamanho da pessoa.

GROSSO
Estevão Grosso teve aparentemente um vale nos arredores da vila de Soure, tal como o exemplo anterior, também neste caso persiste a dúvida quanto à posse deste vale, ou se o nome será o próprio nome do vale por Estevão lá ter vivido; sendo também uma alcunha de teor físico aludindo a homem forte e entroncado.

MEIRINHO
Nomeava o cargo de oficial de justiça, subsistindo a dúvida se este onomato foi considerado como indicador de profissão ou alcunha; no caso de João Meirinho, o facto de ter beneficiado do aforamento feito pelo alcaide mor de uma porção de paul em Paleão no termo de Soure, possa ser indicador da sua relação com o dito alcaide-mor e consequentemente da sua profissão como meirinho. No entanto é na falta de patronímico que nos fundamentamos para o considerar como alcunha.

MOÇO
Na Granja do Ulmeiro, nos Rodelos, encontramos João o Moço de Azambuja, foreiro de um campo de cultivo, salientamos o carácter “volátil” da alcunha, ou seja, a lógica de atribuição, perde-se à medida em que João fosse envelhecendo.
PÃO ALVO João Afonso Pão Alvo morador na rua de Giraldo Afonso, uma das ruas foreiras da vila de Soure; arriscamos relacionar a alcunha “pão alvo” com o possível facto de João Afonso ser calvo e de tez muito clara.

PORRELHÃO 
Próximo de São Mateus identificamos Álvaro Dias de alcunha Porrelhão, onomato agreste podendo possuir diversos significados, sugerimos que o apodo em questão possa derivar de: “porra”, definindo pau nodoso, forte e grosso e mais pesado na ponta; ou a porrilhão de etimologia ”porra” + terminologia “milhão”, aludindo a grande quantidade; assim como a “porretas” ou “porrada” que seriam termos utilizados para descrever alhos porros em guisado, em caldo ou em salada, derivando provavelmente do latim porrecta e porrata . Deduzimos que a atribuição desta alcunha tenha a intenção de caracterizar uma pessoa rude e agressiva.

RIGUEIRO 
Vasco Rigueiro teve terra no lugar de Paleão no termo de Soure. A alcunha Rigueiro sugere “regueiro” admitindo-se que, Vasco Rigueiro morava próximo de um curso de água ou aí tinha a sua terra.

ROSADA 
(O) De etimologia semelhante, enumeram-se duas alcunhas, Rosado e da Rosada, contudo os seus significados são notoriamente diferentes, assim Gonçalo Afonso Rosado, por hipótese, terá sido um indivíduo de tez rosada, pelos trabalhos do campo ou pela quantidade de bebidas
alcoólicas ingeridas; já Gonçalo Anes da Rosada , antigo morador na vila de Soure, e cuja alcunha indica um possível parentesco com uma mulher de pele rosada, contudo existe ainda outra hipótese provável, relacionada com o facto de Gonçalo Anes, ter morado na Rua da Rosada em Soure, vizinho de João Afonso Giraldo e de Catarina Anes sua mulher.

SECO 
Pêro Seco foi foreiro de um canal junto da levada que seguia para os moinhos da vila de Soure. Segundo J. L. Vasconcelos o onomato “Seco” pode ser oriundo de Milão, como apelido italiano, sendo que a família deve ter-se estabelecido na região de Coimbra onde conhecemos vários indivíduos desde o século XVI .

SOUSINO 
Pedro Eanes Sousino , tabelião público da “vila dos Redondos”, terra de Santa Cruz (esta designação refere a invocação da sua igreja paroquial), consta no documento como tendo feito carta de aforamento de uma porção de terra a Roque Vieira e sua mulher Leonor Machada. Redondos, povoação do Concelho da Figueira da Foz, ficava perto de Buarcos e foi couto do Mosteiro de Coimbra.

TRABALHO 
Vasco Trabalho teve em Benfeita um terreno situado junto de vinhas da Ordem de Cristo; a alcunha não 
oferece muitas dúvidas, estaria relacionada com o facto de Vasco ter ganho a fama de bom trabalhador.

TRALHÃO 
Nos arredores da vila de Soure, foi referido um João Tralhão, possuidor de terras nos barros de Caparrota. Tralhão talvez possa derivar de tralha, o que pode significar: rede de pesca utilizada por um único indivíduo, ou conjunto de utensílios para a lavoura; Viterbo identifica o termo “Tralhado”, cujo significando seria, traslado, cópia de um exemplar

VASSALO
Álvaro Eanes Vassalo , morador em Alencarça de Cima, a norte da Vila de Soure, detentor de terra no dito lugar. A alcunha Vassalo pode caracterizar um indivíduo submisso ou na gíria popular um “pau mandado”.

VATOU 
Fernando Vatou, detentor de bens em São Mateus, mas para esta alcunha não descortinamos um significado.

VINAGRE 
Nos arredores de Soure em vale de Flores existiu um indivíduo conhecido unicamente por Vinagre, detentor de terra nesse local. A alcunha na nossa perspetiva estará relacionada com o “azedume” da pessoa; este apodo foi também utilizado como apelido na região de Lisboa . Acerca da atividade de alguns indivíduos mencionados no tombo da visitação de Soure encontrámos outras referências em documentação diversa, que nos permitem conhecer melhor aspetos da sua ação e do meio em que se inseriam e com o qual necessariamente se relacionavam. 

Alcunhas no Tombo de Ega
Álvaro Franco , já falecido em 1508, foi em nossa opinião detentor da alcunha “embrião” posteriormente adotada como apelido.

Alcunha o apodo Freire, justificando que o onomato surge a seguir ao nome próprio, sendo que para referir a pertença a uma ordem religiosa seria mais comum a utilização do título de Frade. Assim os casos de: Álvaro Freire, foreiro do casal da Maia no lugar de Cadaval, Comenda de Ega, Gonçalo Freire, casado e irmão de João Freire , João Freire, filho de Tomé Gonçalves, João Freire identificado no Freixial e João Freire pai de Álvaro Eanes, terão possuído a alcunha freire por motivos extra-religiosos, como por exemplo, o facto dos seus progenitores masculinos terem exercido nos ofícios da fé Cristã.

João Afonso "Galego" e João Galego, detentores da mesma alcunha, cujo significado faz referência a trabalhos pesados, prenunciando que ambos teriam a cargo de forma frequente este género de trabalhos; o apodo pode também reportar a origem do indivíduo (Galiza). GUERREIRO É através do tombo da visitação de Pedro de Sousa que concluímos que Rodrigo Afonso Guerreiro e o Guerreiro de Campigem, são o mesmo indivíduo, a alcunha está relacionada com aspectos militares, podendo-se considerar que Rodrigo Afonso Guerreiro tenha participado em alguma batalha ou campanha militar.
Fernando (Dom Fr.) Sousa Comendador de Ega e de Dornes Filho de Gonçalo de Sousa Foreiro de 4 casais e quintal junto à ribeira Ega, Dornes, termo de Torres Novas, Aroeira, termo de Santarém, campo de Tõoes (Toxe), Termo de Penela e o “casal da Mostra”, no termo de Penela.

As minhas recordações de alcunhas em Ansião

Antigamente era comum alguém que migrava para outra terra passar a ser conhecido pelo seu nome acrescentado da terra da sua origem, a mais sonante, desvalorizando a aldeia, ou vila, em prol de usar sempre nome de cidade. A exemplo Coimbra a prol de Ansião.

Alcunhas que em muitos se fidelizou em apelido, para se distinguirem dos demais. Até ao séc. XX havia muita gente registada apenas com dois nomes próprios e outros com apelido muito vulgar (estou a lembrar-me do apelido Freire, em Ansião), para se distinguirem lhe juntaram a alcunha ( quando não era pejorativa)  como apelido. Há anos numa viagem ao Alentejo a Sousel onde almocei com a minha mãe perguntei ao empregado, homem de farta idade se acaso se lembrava  nos finais de 1940 de um vendedor na rota de paneiro chamado José Lucas, arruçado e olhos verdes. Para nossa surpresa outro da idade da minha mãe que também almoçava nos dizer- ele tinha o hábito de deixar a carroça com o macho ali numa estalagem que já não existe, trazia uma mala com as amostras, eu era pequenito já andava com o meu pai  também vendedor, ele aqui era conhecido por "Zé de Coimbra"...tendo apelido Lucas e Coimbra, a terra onde comprava a fazenda para venda, por ser a mais sonante na região em detrimento da aldeia de onde vinha; Mouta Redonda, Pousaflores ou  do concelho, Ansião.

Com a implantação da Republica a obrigação de acrescentarem um apelido ao nome . Muitas alcunhas foram mote a registo de apelido.

Em Ansião no início da centúria de 600, nos registos paroquiais encontrei Manuel Roriz, também dito Bicho, de alcunha. A alcunha Bicho, carrega estigma fugidio, de bichos que mal pressentem alguém, fogem. Ditou outra alcunha ainda viva - Caixeiro, será alcunha do bicho, que mal presente se esconde?

A alcunha Calado, próprio do povo judeu aportado a Ansião na centúria de 500, fugido de Espanha. Fartos de guerras e com medo de serem denunciados à Inquisição, por práticas da fé judaica, feitiçaria e outras. Se aparece no tombo de 1508, em Soure, deve ser esta a sua origem.

A alcunha Valente, alguém no concelho se destacou em algo extraordinário nos finais de 800 para se fidelizar em apelido e disparar em muitas  famílias

Alcunha  Lavados, não sei o que significa, trazida do Vale de Boi, Santiago da Guarda, pelos ascendentes do Dr. Manuel Dias , o seu pai ali nascido casou em Manguinhas.

Alcunha Piloto, do " Sr. Zé Piloto" de Ansião, de apelido Coutinho. Piloto era nome de um cão de uma vizinha que namorou, contou-me a filha Bina, quando um dia lhe perguntei a razão, disse que o pai adorava a alcunha.

Alvitrar a origem de outras alcunhas:

Ruço, dado pelos cabelos louros

Ruivo, dado pelos cabelos ruivos

Marnifas, desconheço

Cauteleiro fardado

Trinta, era a alcunha do pai de António Marques

Mudo

Mouco

Ti João do sol posto

Ti João das notas

Rato

Ilhoa ,origem na ilha da Madeira, morou no Casal das Peras

Ligadas a ofícios: Ferrador, serralheiro, sapateiro, correeiro, alfaiate, moleiro , lavrante ( trabalhava a pedra), aparadoras de bebés (parteiras) no meu tempo as irmãs Lucrécias.

Dos burros, pelo negocio do pai que transacionava burros - "a Irene e a Mena dos burros"

Alcunha Mocho, apelido Valente , ganha pelo sotaque do Sr. Oliveira , comerciante da vila, da beira alta, ao chamá-lo moço, se entendia moucho (banco) e assim se fidelizou.

Alcunha Reala, da Isaura Gomes  alusiva ao apelido do pai Real.

Vinte e nove, o nº da lanchonete que teve no Brasil

No Bairro

Pego, cujo apelido era Silva.

Alcunhas com origem ao local onde nasceram:

O meu avô Zé do Bairro, José Rodrigues Valente e o Ti Francisco da vinha, o local onde morava era Vinha, pai do Zé carates, desconheço a origem da alcunha.

Serralha, eram judeus

Galega, origem da Galiza ( as minhas primas cujo pai era do Casal das Peras)

Formigo, um ramo Freire das Cavadas .

Canhoto 

Na verdade muitas alcunhas fidelizaram-se em apelido como Parolo - alude a pejorativo, mas tenha sido deturpado de Parola, palavra italiana, a origem do individuo judeu asquenaz aqui aportado e no tempo se fidelizou no masculino Parolo, vivo em Ansião .

 No século XIX ainda havia a alcunha em Além da Ponte - judeu.

Carretaspor puxar a carreta dos mortos nos funerais

Carriço

Cagarola

Passinha

Joanas

Sardanisca

Palaio no Escampado

Arrebela no Escampado

Paratudo na Venda do Negro

E as que mais se aqui ajuntarão.

Alcunhas curiosas que encontrei noutras terras
"Bocarra", "Carraça", "Salatres","Bicho-Verde", "Papa-Toucinho", "Mal Lavado" , "Fezes", "Guarda-Verdades", "Aranhiço", D. João de Mello de Abreu, o Calça larga. "Banza", "Bate sola", Belezas de Algés", "Barbatanas". Em 1480 João do Cerco Caga-légua de Figueiró do campo. Padre Simão Dias, por alcunha o “Papa grelos”, de 50 anos, natural e morador em Lamego – pr. n.º 1247, de Coimbra. A panóplia de variantes inspiradora da alcunha o "Papa grelos"? Desde ritual do grelo dos estudantes de Coimbra, à Confraria do grelo em Mira e ...pois deve ser isso mesmo que pensam! 


Segundo o Dr. Filipe Pinheiro de Campos Campos
Os registos cemiteriais são uma fonte primária preciosa.

Pois bem, a política de composição de nomes é tortuosa na nossa história. Se ao longo da Idade Média a criação de um sobrenome (apelido) usava em particular as regras da patronímia, a partir dos séculos XV/XVI começou a adotar-se um apelido como modo de distinguir os indivíduos (excetuam-se aqui os casos da alta nobreza em que na maior parte dos casos embora não em todos, possa surgir a conjugação de dois apelidos e raramente mais que esses). O hábito que se tornou regra foi sempre a transmissão do apelido paterno se bem que ao longo de todo o período que medeia esta época e o Código Civil de 18 de Fevereiro de 1911 não haja propriamente uma regra estabelecida. É de livre composição o nome da pessoa independentemente se os seus progenitores tenham consigo um dado apelido. Razões? Diversas. Muitas vezes há a memória familiar de um determinado nome que se pode ter perdido há duas ou três gerações atrás sendo assim uma forma de ressuscitar o nome. Outras situações prendem-se com obrigações vinculares na utilização de um dado apelido. Noutros casos prevalece o nome materno por ser oriundo de uma casa mais importante ou com um prestígio maior que o paterno. Raras vezes é usado o apelido de um padrinho para compor o nome. O surgimento de um nome que os pais não comportam consigo pode ter todas estas origens sendo a mais frequente o recurso ao apelido de um avô ou avó como forma de o perpetuar numa dada linha. Com o Código de 1911 e a obrigatoriedade de composição do nome não existe também uma regra definida - nomes que não comportam apelidos são os mais frequentes mas também aqueles que mantêm apenas o paterno. É nesta época que surgem também os nomes com 6, 7, 8 e mais apelidos uma vez que a escolha é de livre nomeação dos pais ou do registante. Apenas com os Códigos de 1932 e depois de 1958 (cinco nomes no total), as coisas começam a ter sentido. O código de 1967 volta a permitir 6 nomes no total mas, os apelidos, os existentes apenas até à geração dos avós se bem que um requerimento especial possa ser endereçado para tal e usar assim um outro nome que exista na linha direta. Situações há ainda em que, existindo filhos com nomes iguais, a diferença ficaria a residir no apelido pelo que é frequente existirem num casal uma Maria Rodrigues e uma Maria de Matos, por exemplo.

Alcunhas de Ansião  - Golias
Maria, a Golias que batiza uma filha em Ansião em 1700. A alcunha Golias poderá refereir-se à estatura ou tamanho da pessoa derivado da figura de Golias, guerreiro de Gate que a Bíblia refere tendo de estatura 2.83 metros e que teria participado na guerra entre os Filisteus e o povo de Israel tendo sido então derrotado e morto por Davi. Deste confronto surge a expressão "combate entre David e Golias". A este propósito existiram pessoas de alto porte, na região do concelho de Ansião. O meu pai tinha 1,92 e haviam outros assim igualmente altos, e um era carinhosamente chamado "João anão" , e era enorme, entroncado e alto, e cresceram em tempo que ainda não haviam iogurtes. Ao cruzamento das grandes vias romanas da principal de Conimbriga, algures entre a Cumeeira e  de novo no Rego da Murta, no concelho de Alvaiázere, existe ainda a ruína da torre do Langalhão com lenda associada a um gigante. E também existe o apelido Gigante, que carregava um amigo alentejano, que o detestava e queria retirar, porque era de facto muito alto e não gostava que as pessoas lhe o associassem . Em principio alerta a genes eslavos e celtas?  

Alcunhas em Ansião - Galhamim
Surge em Ansião com Manuel Mendes Galhamim, natural do Casal da Boavista, Santiago da Guarda, filho de Domingos Mendes e de Maria Mendes, que veio a casar em Ansião com Maria Teresa, natural do Bairro de Santo António, filha de Duarte das Neves.

Pergunta o Henrique Dias 
Interessante essa alcunha. Terá alguma coisa a ver com Galo ou Galinha?
É que eu descendo de um Manuel Mendes Galo do Casal de São Brás, filho de José Mendes Galo do Casal do Viegas (casado em Ansião em 1742), e por sua vez filho de António Mendes Galo também do Casal do Viegas.
Daí para trás nada mais sei, mas se encontrar por aí esta gente nas suas pesquisas, agradeço que me dê notícia...
Digo eu que o apelido Galhamim foi vivo em Ourém. A Maria Teresa natural do Bairro de Sto António, filha de Duarte das Neves em 1762, o que me pareceu ler no registo na curiosidade . A conversa casual nesta última estada em Ansião soube que o apelido Neves existiu no Bairro, e nas noites de inverno o pai e avó falava da vida que existiu no Bairro, onde foi centralizado o poder até ser instaurada a Comarca de Ansião.
Alcunhas em Ansião - Marnoco
Manuel João, o Moço, o Marnoco, n. nos Matos, filho de Manuel João, do Outeiro de S. Saturninho e de Domingas Freire, natural do Casal Novo, casou primeira vez com Maria Rodrigues, dos Empiados e segunda vez com Joana Maria, da Fonte Galega, com descendência de ambas.
Renato Freire da Paz
O Manuel João, o marnoco ou o moço (alcunhas) ,filho de Manuel João e de Domingas Freire que se casaram em 9.9.1691. ele era irmão da minha octavó Laureana Freire da Paz que levou o Freire da sua mãe Domingas Freire por sua vez filha de Domingas Freire( a avó materna do marnoco), a da placa a pedir rezas, da matriz de Ansião. O Paz da Laureana veio por causa dos padrinhos de casamento dela: João de Barros e sua esposa Isabel da Pax(Paz)ambos da Constantina. Uma das testemunhas de casamento da Laureana Freire da Paz e de seu irmão, o "marnoco", foi o António de São Bento Freire que era irmão do médico da vila, o Doutor Manuel da Paz Freire. Vemos aqui o Paz reforçado no casamento da mãe do marnoco.

E agora o interessante acento de casamento de Madalena Machado Coimbra Sarmento, nora de Mariana Curado da Pax(Paz)da Sarzedela, que casou a 6.11.1719 na capela da família, brasonada, integrada na quinta da família em Penela(hoje turismo rural), com o 1.o visconde de Condeixa, João Maria Colaço de Magalhães Vellasquez Sarmento, filho da dita Mariana Curado da Pax, de Sarzedela-Ansião.

Eis a cópia desse acento de casamento. Os Pax novamente, que escreviam com X em latim em vez de Z, quando ligados à aristocracia ansianense, talvez cristãos novos de Ansião. Falta investigar, o que não é nada fácil, nem bem aceite de publicar pelos seus descendentes por razões obvias.

O "marnoco" neto da ânsianense, avó dele, minha decavó, que casou no dia de são Martinho do ano de 1665 a outra Domingas Freire mãe que casou com João Rodrigues e pediu missas aos confrades de uma confraria da vila( por descobrir designação). Ela que nasceu 5 anos antes da restauração(8 de dezembro 1640)de Portugal pelo rei que retirou a coroa da sua cabeça, d. João lV e a colocou na imagem de Maria da Conceição, a padroeira do reino.

Alcunhas em Ansião - Pisco
Surge com João Rodrigues, o Pisco, natural do Casal do Viegas, filho de António Pires e de sua mulher Clara Rodrigues, o qual casou em 1726 com Maria Freire, natural dos Empiados de Baixo, filha de António de Carvalho e de Antónia Freire, com descendência.
Henrique Dias
O Pisco mais antigo que tenho na minha base é também um João Rodrigues (e julgo que o Pisco já fazia parte integrante do apelido), nascido nos Empiados por volta de 1670. Curiosamente também é filho de um Pires e de uma Rodrigues, a saber: Silvestre Pires e Leonor Rodrigues.
Foi casado com Isabel Simões, e teve um filho homónimo nascido nos Empiados por volta de 1700 e casado com Joana Rodrigues de C. de Couce, e foram pais (pelo menos) de Domingas Freire do Carmo e do Doutor Paulino José Rodrigues Pisco casado em 1767 em Almoster com Maria Josefa Ferreira natural da Venda da Gaita.

Alcunhas em Ansião - Louco / Pistolas
Surge a primeira com João Rodrigues Louco, casado com Ana Mendes e moradores na Sarzedela pais de Manuel Rodrigues e de José Freire, entre outros.
Há notícias do Casal do Louco em Santiago da Guarda de onde poderá ter adotado o nome. Sim na Sarzedela ,viveram na quinta da Bica dois irmãos que emigraram para o Brasil, e depois vim a descobrir que eram do Casal do Louco, Santiago.
Manuel Rodrigues Pistolas é o primeiro com esta alcunha tendo sido morador nos Netos com sua mulher Mariana Rodrigues.
De ambos os casais houve descendência.
Alcunhas em Ansião - Penteado
Surge com Manuel Rodrigues Penteado marido de Maria Rodrigues com quem foi morador na Fonte Galega e que se perpetuou por seu filho João Rodrigues Penteado, casado com Maria Freire, natural do Machial, filha de João Freire e de Maria Mendes, moradores no mesmo lugar.

 Alcunhas em Ansião - Cravinho

João Freire Cravinho, n. no Escampado e b. a 2.2.1735, filho de Caetano Freire e de sua mulher Isabel Freire. Foi casado com Ana Maria da Silva, n. na Sarzedela, b. a 17.2.1726, deixando descendência.
Existe fidelizada em apelido tal como Craveiro, este, na região de Maças de D Maria. A alcunha craveiro se afirme deriva da planta que dá cravos, ou não e, cravos eram os antigos pregos.
Cravinho, especiaria vinda do oriente.
O cravo usado na lapela do casaco ao domingo, em homem vaidoso, ou talvez não, a alcunha do homem que o retirava do andor de NSGuia e o punha na boca para se salvar na volta do forno para tirar o bolo no Avelar. 


Alcunhas de Ansião -Maneira
Manuel Rodrigues Maneira, pai e filho (1767)

Jazigo no cemitério de Ansião. 
D. Ana Augusta Maneira da Silva.
Apelido Maneira, que consta na minha árvore genealógica.  apelido faz parte da minha árvore genealógica

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