quinta-feira, 27 de março de 2014

Celebrar o dia do teatro em Almada!

Vesti-me de vermelho, cor não premeditada -, a que visto sempre que o meu estar é de melancolia.
Saí de casa em ambiente manifesto de chuva "molha tolos" para a consulta no dentista, mais um restauro de duas coroas.
Entrei na casa da sorte para apostar, chega-se atrás de mim em jeito apressado e em linguajar de sotaque cabo verdiano um mulato neste dia do teatro, solto na voz  "dê-me dois euros de euromilhões..."
Na frente dos cafés havia vendedores ambulantes com flores, agriões e morangos -, pedi um quilo com a deixa para os escolher bonitos como eu, sem meias medidas o colega da venda lança-me o olhar sem se fazer rogado, na resposta digo-lhe "olhou para confirmar?" nãooo -, para dizer que é morango nacional... Os trouxe gordos, vermelhos, agora doces como gosto, só logo o saberei. Comprei pão alentejano e broa de crosta cozida como adoro, já que os dentes de novo em forma para a trincar, é gosto demoníaco no travo de a comer com fatias finas de queijo de cabra. Entrei no mercado para trazer um bom peixe espada branco para grelhar para o jantar, e um molho de grelos couve nabo. De compras feitas fui matar saudades na Pastelaria Abanico, onde os bolos desde sempre de primeira doçaria, a lembrar o bom tempo no Sottomayor no Laranjeiro, que se comiam em fausto, a festejar aniversários, e vitórias comerciais, em cima do balcão de granito, a fazer de mesa, depois da porta fechada, equipa plantada  fora do balcão, como se fossem clientes -, alegre cavaqueira, relaxe na pausa pausada, elevado mote de espírito alegre o da  estampa nos rostos, seria pelo espumante italiano...
Difícil foi resistir, dei um passo atrás, entrei para me deliciar com uma fatia de bolo de chocolate, a recheio doce d' ovos, de cobertura macia, delicioso, molhado, que saboreei cada garfada a ouvir lamentos do grupo de mulheres maduras, que àquela hora ainda degustavam o pequeno almoço, sendo meio da manhã, a falar de doenças, não fosse o rapaz, o novo empregado, que me fez lembrar traços de alguém conhecido, de cabelos loiros e olhos azuis mas de traseira afanado a rivalizar  mulatas...
Aprecei orçamento para arranjo de peças de cabedal. Em rota de regresso a casa tomei o o caminho por Almada velha, fiquei  espantada com as obras a decorrer na requalificação de dois prédios de IMI agravado, sendo um  na antiga sede do PCP onde bebi muitas vezes licor de poejo.
  • O teatro de paredes meias com a Academia  Almadense também de obras avançado.
Sobretudo encantada com as calçadas refeitas de novo em boa pedra calcária, direitas, embora junto do Montepio, na ligação a uma caixa já em degradação de tripas de fora -,  caso para perguntar onde anda a equipa de manutenção?
No passeio defronte da pastelaria de gentes do Pinhal Interior onde o uso da canastra em tempos idos era fartura, regalei o olhar numa cheia de cebolas novas que me fez apetite para as favas com salada de alface cortada miudinha ... 
Passei na renovada Igreja de S. Sebastião que conheci taberna, ao lado junto do caixote do lixo uma mala de lata com ripas de madeira pintada a florzinhas pretas de fundo castanho, se pudesse a tinha trazido comigo...Por me fazer lembrar uma igual , mas em verde, que a minha avó materna Maria da Luz me ofereceu mal nasci para o meu enxoval...Sendo que a minha mãe lhe deu uso, e de tanto usada  e de andar de um lado para o outro, acabou num sótão, com a humidade as ferragens da tampa apodreceram. Ao fim de anos dei com ela nesse estado deplorável que era lixo, e não fui capaz de me desfazer pela emoção da história que encerra, foi então que decidi em boa hora reaproveita-la para guardar as cavacas para a lareira, e para ninguém se aleijar no rebordo de lata ferrugento, o debruei a sarapilheira, e na feira de Tomar comprei uns pezinhos em pinho para lhe dar porte na altura, e assim elevada do chão, espero se aguente no meu tempo.
  • Possivelmente a minha primeira prenda em verde recebida nesta vida a ecoar no gosto platónico pelo meu grande Sporting!

terça-feira, 25 de março de 2014

O Mestre Malhoa chamou-lhe a Sintra da Beira!


Difícil atestar as primeiras que conheci. O que sei foram em Figueiró dos Vinhos na companhia da minha mãe no papel de substituição de uma colega nos correios, andei horas a percorrer a vila sozinha...
Fosse no Jardim Bissaya Barreto  da delicia deliciada, encantada a contemplá-las do cimo da escadaria, arbustos altos, podados em formato oval, como se fossem ovos, distribuídos pelos canteiros, floridas de várias cores, de beleza desmedida -, na miragem avistei grande tela, pelos contrastes das  sombras dos contrafortes serranos, o mesmo fascínio que o Mestre Malhoa avistou no prenúncio de paz e calmaria verdejante, no meio de tanta flor, e chalets românticos, com isso nem hesitou em a rebatizar -, chamando-lhe a Sintra do norte... 

Ou seria na viagem após a  aldeia Ana de Avis pouco antes de chegar a Figueiró dos Vinhos do lado esquerdo na Quinta do Ribeiro Travesso também conhecida pela Quinta dos Paivas -, um pequeno solar com uma bela varanda envidraçada  a sul , com vistas para o jardim  e lago, da estrada vislumbram-se graciosas cameleiras de todas as cores, altaneiras, em fila, no cimo do desmesurado muro, a sobressair nas alturas pela sombra das copas das palmeiras, no lado oposto a Capela, também com frontaria para a estrada.
  • Mais tarde distingui outras cameleiras enormes em jeito de árvore em Castanheira de Pera,  Cernache do Bonjardim, e na aldeia de Ceras, a caminho de Tomar. Eram escassas ao tempo, já hoje todos os jardins tem amiúde, cameleiras.
As camélias vieram da China, Japão  e Coreia no século XIX - ,  rara era a Quinta que não se orgulhasse de as ostentar nos jardins, em paralelo com palmeiras .

Já comprei várias, brancas, raiadas em cor de rosa e vermelho, mas por falta de atenção, de água, e má aposta no solo que a planta é exigente, acabaram por morrer...
  • Dizem os antigos que as plantas e as árvores querem o dono por perto.
Apenas me resta uma vermelha dobrada  que resiste num grande vaso a precisar de muda urgente na minha casa de Ansião, que se abriu para mim nesta estada e quis registar em foto, mas sempre apressada , fica para a Páscoa, nessa altura ainda florida à minha espera, sei!
  • Enchi-me de as gozar de tanto as mirar nesta semana que por lá estive. Penalizo-me por não ter parado junto da Quinta dos Paivas, mas já ia em cima do horário para Campelo com a minha mãe que se amofina comigo por estar sempre a parar e  tirar fotos...Olhei-as da estrada a conduzir, como as admirei altivas, afinal sempre as conheci assim de longe, mas belas!
Na vinda de podar o parreiral na casa rural, parei em Lisboinha de Além a 13 km de Figueiró dos Vinhos para registar as fotos de uma cameleira plantada na borda de um muro alto, debruçada  a poente em manto, se mostra a quem nela quiser derreter olhares de beleza irresistível -, me perdi de amores e sem pudor, muito menos medo, roubei umas pernadas .

O ramo furtado...Fiz dois arranjos na casa da minha mãe, e na minha enchi o pote de cerâmica antigo, que me foi oferecido pelo meu amigo Arnaldo, que naquela hora  virou jarrão no chão do salão.
No oratório o solitário também mereceu uma camélia
 
Em baixo as que trouxe oferta da minha comadre Odete, com elas enfeitei a mesa da sala e ainda a entrada.

Surpeendida no sossego do sofá  a ouvir música, o barulho inusitado, que se mostra forte,  no despegar dos ramos dos botões, que caiem na mesa e rolam pelo chão...Ainda assim belos os aproveito e deixo dias a enfeitar  o quadro das fotos...
Na minha adolescência  haveria de ver camélias pintadas na sala do casulo, o chalet do Mestre Malhoa na cimalha de madeira, ornadas a brancos e rosas, como a Vista Alegre na altura também as pintava -, chávena em porcelana comprada no sábado por me fazer lembrar as que guardo na memória...

O Mestre Malhoa viveu em Figueiró dos Vinhos durante 50 anos, onde tinha um atelier, aqui pintou muitas tradições, e modos de vida, destas gentes rurais em magníficos quadros de inegável valor.
  • O deslumbramento de tanta beleza irradiada das camélias do jardim na frontaria do casulo onde morava deu-lhe mote para as pintar na cimalha de madeira da sala. No casulo ainda permanecem até hoje, porque ninguém as conseguiu furtar após a sua morte, não deixou descendência...O mesmo com o lambrim de madeira alto também obra do pintor, que se mostrou  bom escultor.
Figueiró dos Vinhos surpreende-me mesmo de ruas quse  vazias como outras terras nas imediações, pois a beleza que esta terra encerra,  basta -me!

domingo, 23 de março de 2014

Falar do concelho de Penela...



Migalhas no querer falar de Penela, pois há tanto para falar! 
A vila situa-se numa encosta no eixo da via romana vinda de Conímbriga depois da Fonte Coberta nas imediações do Rabaçal se bifurcava em duas variantes -, sendo que uma delas seguia o endireito para nascente ao castelo do Germanelo, seguindo para sul ao enfiamento da Tojeira onde existe um troço de calçada romana catalogada perto do Pontão, já no concelho de Ansião ( não a conheço nem sei o estado de conservação) até Tomar, sendo que a outra variante passaria pelas imediações da atual Junqueira, Santiago da Guarda, Vale Boi com outro troço catalogado(atulhado de lixo e vegetação por falta de cuidado da autarquia de Ansião ), Façalamim , Escampados, Almoster , Ourém, Santarém  e Lisboa...

Penela teve o seu primeiro foral antes da nacionalidade em Julho de 1137. 
  • O castelo ergue-se sobre um penhasco sendo depois do de Montemor-o-Velho, o mais amplo e forte que resta da linha defensiva do Mondego. 
Ressalta da longa história do concelho segunda reza a história de um episódio bastante peculiar do apoio popular com que contou D. João -, o Mestre de Avis, na crise de 1383/1385, sendo então o senhor de Penela o Conde de Viana do Alentejo, D. João Afonso Telo -, claramente a favor de D. Beatriz, casada com o Rei de Castela . Decidiu o povo defender e apoiar o seu Rei amotinando-se, sendo célebre um tal Caspirro, por ter assassinado o Conde. Logo a seguir, Penela envia os seus procuradores às Cortes de Coimbra de 1385, a fim de elegerem o Mestre -, o futuro D. João I. Mais tarde ao fazer doações aos seus filhos, criou o título de Duque de Coimbra para o seu filho D. Pedro -, destinando-lhe Penela e o seu termo. 
O património arquitetonico de relevância retrata-se  no quadro do belo castelo amuralhado e da sua  linda igreja de orago a Santa Eufémia ladeada na frontaria por duas cabeças de patrícios romanos no portal, como outras se vêem em Caminha e Évora. 
Um belo exemplar de pelourinho
 Existe um fontanário  em pedra desnivelado com o tempo em afundamento.
No limite da saída para sul na vereda entre duas estradas o Convento de Santo António fundado em 1578, sendo que a  igreja,  área residencial e anexos datam do séc. XVIII propriedade de particulares desde 1834, ano em que a Ordem Franciscana foi extinta, em elevado estado de degradação, neste agora com algumas obras de restauro.

Sempre me deslumbrou pela fileira de janelinhas pequeninas que avistava da variante da estrada nova que circunda a vila presépio. 
  • Cheguei a conhecer uma velhota, a  D. Flávia nesta terra nascida, que aqui um dia entrou com a sua mãe para visitar a última senhora de linhagem (?), a dona, que aqui morava, enferma. Contava-me para meu regalo “tinha um grande claustro cheio de arcos atulhados de lenha”
  • As duas portas de cúpula fazem lembrar as do paço do Bispado de Coimbra na Granja no Concelho de Ansião.
Um dia aventurei-me em conhecer a Pedra da Ferida...
Queda de água  da Ribeira da Zenha no desfiladeiro talhado como se o fosse a escopro e martelo, incomensuravelmente fendida em golpes lisos de placas de lousa e ardósia em brilho se maravilha na drástica queda do véu da noiva que em voo esvoaçante de de espuma, a bater de pedra em pedra, se mostra no desfile airosa, e bela para delicia dos amantes da natureza, sobretudo quem se dedica à escalada , por a sentirem de perto, na sua grandiosa e abrupta pressa das águas a saltar pingos que os molham, há vista  apresenta-se como se fosse uma ferida de alto a baixo talhada  na rocha por onde a ribeira corre -, assim conhecida por este nome forte e doce que o povo a quis fidelizar.
Percorri estradas com bermas de silvados altos a sussurrar águas,  entrei por entre eucaliptais, perdida por terra batida com pedrinhas de xisto, estaria perto, mas com medo de um furo, e para calar os que me amofinavam, decidi desistir da aventura  que não se mostrava deliciosa para todos, julgo só para mim...

Um ano destes vi-me desgraçada para chegar à praia fluvial da Louçainha, pela deficiente sinalética com uma rede de estradas (entremeladas, a precisar de redefinição).Local aprazível.

  • Uma foto de uma ribeira na paisagem bucólica verde de fetos e musgos a lembrar Sintra.
Penela concelho na extrema com o de Ansião a poente no limite Chão de Ourique onde alguns historiadores aventam foi campo da Batalha de Ourique e não no Alentejo como rezam as crónicas, porque D. Afonso Henriques estaria em Coimbra a escassos quilomeros, e não além Tejo, também porque aqui é terreiro de achados em ferro...
Na mesma fronteira concelhia existe o sistema espeleológico do Dueça  na Gruta do Algarinho que dela se falou como sendo enorme inserida no Maciço de Sicó, das maiores alguma vez conhecidas, por explorar -, do algar  nascem rios e ribeiros, na vertente a nascente nasce o rio Dueça , no verão a gruta julgo pode ser visitada através de contato prévio com a autarquia, um dos poucos rios que corre de sul para norte, banha Miranda do Corvo e desagua no Mondego.
Nota-se um interesse na recuperação de aldeias de xisto nos concelhos do Pinhal Interior.  Neste é evidente a aldeia  Ferraria de S. João, de caraterísticas serranas de arquitectura rural típica bem preservada que pertence à Rede na Freguesia da Cumeeira.

O castelo Germanelo será um castro romanizado erguido por D. Afonso Henriques, entre 1140-1142 dele se avista uma paisagem deslumbrante sem ser luxuriante, antes depenada de secura quase insípida, e dos outeiros em cone sobre o vale do Rabaçal que desde sempre me deslumbraram, o mesmo da lenda dos irmãos Germanelos que já contei noutra cronica.Conheci o local num Volkswagen carocha com 22 anos na companhia do meu marido, vimos jeito de o carro não subir o caminho íngreme e saibroso pós sair da estrada, só o conseguiu engatado em primeira -, ainda sinto os escapes a latir com as rodas a rolarem pedrinhas...
Sensação extraordinária de estar naquele local emblemático por entre ameias, depois de tanto o mirar da estrada a caminho de Ansião ou na vinda de Coimbra.
Penela é circundada por serras de barro muito vermelho, na transição do calcário para o xisto fértil em solos onde as vinhas, nogueiras e oliveiras são predominantes -, apanágio do ganho pão destas gentes em paralelo com o queijo em todas as aldeias semeadas em terreiros soalheiros, algumas típicas como Alfafar e Alcouce de reminiscências árabes -, nesta última degustei um arroz de pato servido num grande pratão de barro coberto com couve e enchidos, de perder e chorar por mais, as entradas de pão artesanal no forno da tasca, depois de aberto, dentro dele amêijoas à Bulhão Pato, com o molho a ensopar a côdea. Repasto apetitoso num fim de tarde veranil oferecido pela minha irmã em presentear a família, o dono fazia de empregado de mesa além de um bom contador de estórias do mundo por onde andou, ainda tocava viola, e dava jeito a cantorias…”rir a bom rir até cair de cú…”.
Aldeia das Cerejeiras, a fartura delas ditou-lhe o nome, onde também se come o bom leitão, levado um dia pela prima do meu sogro -, uma Coimbra, de Vale Tábuas que aí assentou arrais depois de casada.

A caminho de Miranda do Corvo e da Lousã a indicação de Godinhela, onde diziam haver uma “bruxa” e ainda hoje há uma bruxita ativa...Tema que também já abordei em crónica temática.

A vila do Rabaçal com a sua bela vila romana, paisagens e o Museu. A história dos Santos de pedra enterrados na frente da igreja pelo povo para os proteger de roubo pelos desertores do Buçaco há dois séculos, só foram descobertos há meia dúzia de anos, em obras camarárias.
No Museu gostaria de ver a coleção da senhora que foi sua vizinha-, na menção a cortesia da doação, e do seu nome perpetuado -, senhora de belo olhar azul que viveu de paredes meias com a igreja num casarão com ares de senhorial, natural do Alvorge, entretanto falecida que conheci pela mão da minha irmã para comprar queijos, pois era queijeira certificada.
Recebeu-me na sala onde expunha a sua coleção de velharias à mistura com pedras achadas aquando do pastoreio, de beleza extasiante, pela erosão algumas e outras reminiscências do mar por aqui na zona ainda muito visíveis, além das afeiçoadas pela mão do homem.
Por achar interessante o gosto por pedras, o mesmo que o meu , perguntei-lhe o que a inspirou no mote em se decidir achá-las...A que me respondeu com um sorriso matreiro ao mesmo tempo que pegou nela para me mostrar -, irresistível foi pedir para a tocar, sentir um garboso aparelho genital masculino, completo de pénis ereto com os testículos, do neólito(?)...
Brutal sensação ali aos meus olhos assim a primeira!
A  bela serra de Janeanes, com a paisagem serpenteada por lagoas cársicas onde predomina o pastoreio, e a feitura da tradição do queijo que lhe ditou na história a fama.
  • Temática já por mim mereceu cronicas distintas, o mesmo com o novo hotel instalado numa antiga fábrica de lanifícios na beira da antiga estrada real, que sempre conheci fechada na beira do Dueça onde existe um belo fontanário de carranca em pedra.

 Hotel à beira do Dueça onde outrora foi uma fábrica de tecelagem, de papel e,...
Há muitos anos despertou-me a curiosidade em visitar o que restava do inacabado palacete edificado pelo Prof. Dr. José Bacalhau, eminente médico e professor da Universidade de Coimbra, cujo sonho era construir uma unidade hoteleira de luxo no desertificado interior, dinamizando dessa forma o turismo na sua terra. Projeto iniciado nos finais dos anos 50 no Monte Calvário.Supostamente por ter encontrado oposição local, acabou por decidir construir no sítio do Penedo Gordo, na Serra de Santa Maria no Espinhal. Adquiriu peças de cantaria e estatuária oriunda de várias demolições, entre as quais do Hotel Avis, onde Calouste Gulbenkian viveu em Lisboa, o que daria a este edifício um cariz erudito, também do antigo hotel Sherton e de um palacete na linha do Estoril. Obras iniciadas nos anos 60, nunca chegaram a ser concluídas por falta de capacidade financeira tiveram honras de singela inauguração no dia 23 de Maio de 1968, numa Quinta Feira da Ascensão houve aqui uma reunião de confrarias da região, presidida pelo Bispo - Conde de Coimbra, tendo sido um sucesso social. Após o 25 de abril e com o desaparecimento do Dr. Bacalhau começou o saque (?) de tudo o que era possível retirar do palacete: maior parte das ferragens, estatuária, estuques decorativos dos tetos, espelhos, mosaicos, madeiras, materiais de construção e, … 
Estrategicamente construído na aba da serra com uma vista deslumbrante sobre os outeiros do Rabaçal e Ateanha, quando visitei o local há anos, deparei-me com um grande portão a fazer lembrar o século XVIII, no meio do terreiro uma grande fonte em pedra que muito me fez lembrar as que existem no Rossio em Lisboa, ao redor do lado esquerdo, aglomerado em banda que seria para o complexo turístico, ao fundo uma escadaria monumental ladeada por colunatas encimadas por vasos em pedra, ao cimo o avançado da frontaria numa imitação de panteão romano com óculo -, ao entrar deparei-me com tamanha ruína de fazer dó, estuques trabalhados tinham sido cuidadosamente retirados tal qual mosaicos e azulejos, o que mais me impressionou, a magia como os arrancaram estando cravados no cimento, vi as marcas no rivalizar esculturas contemporâneas. O salão de baile deveria ter sido fantástico tal a beleza do estuque trabalhado a relevos com grinaldas nos tetos e por cima das portas, paredes copiosas numa imitação ténue a marmoreados, vitrais, ferros forjados em desenhos modernos de extraordinária beleza, espelhos, fez-me recordar o salão do palácio de Queluz, virado a sul uma torre encimada com pedras trabalhadas a imitar ameias, ainda um pequeno lago a contornar o rebordo da serra ladeado de pedras com buraquinhos, memórias do passado marinho que neste concelho e de Ansião ainda são muito notórias. 
Nos finais do passado século, instalou-se no espaço o Patriarche, uma instituição para recuperação de tóxico dependentes que se propuseram a recuperar o local, conseguiram, apesar de sol de pouca dura ao saírem voltou ao abandono novamente. 
Recentemente entregue à Associação Portuguesa de Medicina Preventiva , sem fins lucrativos, com todo o mérito e esforço está neste momento a recuperar todo o complexo, prevêem a instalação de uma clínica de medicinas tradicionais, o projeto pretende incluir: 25 quartos; consultórios médicos; gabinetes de fisio terapia e hidro terapia; sala de conferências; restaurante vegetariano; piscina coberta para hidro ginástica; Ginásio e Capela. Finalmente o espaço idílico fará justiça ao projeto inicial, igual orgulho de sonho realizado sentirá o Dr. Bacalhau onde quer que esteja algures no horizonte a velar pelo seu sucesso!
Fortemente impressionada pelo meu grande poder de observação, ao subir a estrada do Espinhal reparei nalgumas casas baixas, sem qualquer graça, nos jardins grandes vasos em pedra -, tal desenquadrando, descomunal, só percebi ao chegar ao palacete, segundo se fala, sabe-se que o paradeiro de parte do espólio anima de facto alguns jardins de particulares... Pior a Junta de Freguesia nada faz para os recuperar... 
Vila Presépio no seu melhor em anos consecutivos com a apresentação dele animado que já apreciei em Penela, e no Espinhal ,em estilo diferente. O mesmo êxito a Feira Medieval e a Feira anual das nozes pelo S.Miguel a mais antiga de todas e das minhas lembranças. 
Tenho saudade de ir beber um cafezinho a Penela! 
Fecho a cronica com uma curiosidade, numa feira de velharias em Évora encontrei bilhetes-postais dos CTT de 1895, que circulavam em Portugal e Espanha com a imagem de Santo António ladeado de um ramo de açucena, brasão com as quinas de Portugal e o preço dez reis, endereçados a Adriano Manuel Freire de Andrade do Espinhal, Penela, Coimbra, remetidos de Leiria, num tempo sem telefones a missiva só dizia que estavam em casa todos bem... 

Pelo que consegui ler os escreviam diariamente a contar as cenas do quotidiano das suas vida!

Fontes:
Fotos retiradas da net, vejam outras https://www.flickr.com/
https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=epKdsD36chA

sábado, 22 de março de 2014

Ansião na feira de velharias de março

Em rota de despedidas de mais uma temporada por Ansião, decidi em boa hora de novo experimentar a feira, a minha 2ª, por estar em casa com o carro carregado onde cheguei quase em cima das 9H . 
Em paralelo neste dia realizou-se a feira de velharias e doces regionais integrada nas Comemorações da Batalha da Redinha, onde efetivamente teria imenso prazer em participar, mas estando com o tempo limitado para regressar ao fim do dia a Lisboa, acabei por ficar -, sem acrescentar que apesar de tudo não me posso queixar, sendo que a  estreia um fracasso, por ter saído a zeros  no recinto do mercado ao ar livre sob calor tórrido. Na altura alvitrei alternativa para onde agora se realiza, no estacionamento de terra batida defronte da avenida e do Intermaché, por maior visibilidade.
Não fosse no estacionamento estar um camião com atrelado que ali não deveria estar naquele dia ...Coisa que ninguém do pelouro parece se preocupar com o evento, cada feirante que se desenrasque como puder ao jus "carne para canhão" ...
De qualquer das maneiras o espaço não se aparenta o melhor, no verão a torreira do calor  sem sombras e no inverno a lama  e o vento uma parouvela...
O pelouro da cultura a meu ver não encontrou ainda o local ideal para o certame se realizar. Só vejo dois bons locais- um no centro histórico da vila onde se deveria apostar na qualidade e na diferença com barraquinhas todas iguais, como na feira de Belém, propriedade da autarquia, sendo que o certame se deveria desenrolar em paralelo com a venda de doces e produtos regionais.
Outro local  que me parece ideal, junto da rotunda dos Bombeiros a nascente  no terreno que sobrou da expropriação com oliveiras a ser podadas e o espaço requalificado no terreiro, seria ótimo por ser numa das entradas da vila com muita gente que por aqui circula com crianças para os parques, também pelo lazer, caminhar e onde há abundância de estacionamento.
Abanquei ao lado do Sr Serra e da esposa Linda comigo tinham estado na véspera em Pombal, de manhã se chegaram à Redinha,  por sentirem confusão na atribuição de lugares vieram recambiados...
Apareceram algumas pessoas antes  e depois da missa.
Alguns mirones que me viram, pela surpresa da estranheza de não me reconhecerem no papel de vendedora de velharias de estaminé prostrado no chão, de boca aberta os vi ficar, depois acredito, a outros no caminho avisaram, que me foram ver, por via das dúvidas o quiseram verificar. Farta de gente inculta, cheia de preconceitos e clichés, que na cabeça tem tudo mesmo neurónios ativos, nem a televisão que vêem todos os dias os engrandece, dá brilho em gostar de mais saber, sobretudo no gosto da reciclagem mental e de novos estados de vida, não sendo do seu gosto pessoal, seja por isso desprestigiado!
Ele anda gente em demasia em psiquiatras, a consumir botica da farmácia e herbanário, enquanto outros como eu se deliciam neste prazer das feiras onde dou azo ao gosto de travar contato com gente anónima na partilha de conversa e estórias, a rir com colegas e clientes ,que se traduzem em experiências muito esquecedoras, sendo que muitas delas me dão ainda em dobro também na escrita, para mais tarde recordar..
Vesti-me altiva de camisola verde na cor do meu Sporting, mostrei-me decidida e valente a fazer jus ao meu apelido de solteira nas minhas já habitués fotos self.
Participei na ideia de estar umas horas a pensar depois vir embora, acabei por ficar até quase ao fim, apesar de na hora do almoço começarem feirantes a arrumar as bancas ...
Um casal de estrangeiros nem se estreou. O Sr Vidal de Maçãs de D. Maria disse-me que nunca mais lá punha os pés, ainda desempatou 40€, só se lastimava na desfeita do fraco negócio " feira que não fizesse entre 200 e 300 € não era para ele..."Outro casal já arrumava sem se ter estreado quando passa uma família em fim do almoço com um filhote que se encanta com um barco de plástico, encantado o avô lho ofereceu por 2€ ...Espantada a mãe o achou grande e barato...Queria ver se o homem tivesse pedido 5 €  que os valia, se ela dizia o mesmo!
Outro casal vendeu pouco, quase nada, também arrumou.
O meu vizinho fez 8€, dizia-me a esposa D Linda " nesta terra as pessoas só vem para comprar tremoços... e mira e anda  ".O Sr Daniel vendeu uma toalha a um casal tradicional, a mulher escolheu perante o olhar do marido que abriu a carteira e pagou-, que me reportou à minha meninice nas compras atarefadas que se faziam no mercado na véspera da Páscoa para as madrinhas ofertarem aos afilhados...Um vendedor dos arrabaldes vendia ferro velho, maquinaria e cacos -, pena tive de não lhe comprar um pé de máquina que igual nunca vi....Tinha uma terrina VA linda, faltava-lhe uma pega com pássaros e ramagens em rosa e cinzento. Graciosa.
                        
Havia uma mulher um poço de banhas e a filha de traseira a caminhar igual, o marido de barriga a saltar da camisola parecia gravido de 7 meses, traziam um neto pequeno . 
Clima de grande ralho e gritaria-, a minha filha ficou doida de tanto ouvir barbaridades, no julgar como é que aquela criança há-de crescer a saber o real significado das coisas -, sempre a falar-lhe  com modos agressivos, exaltados, sem carinho, como se fosse para um cão que se repugna, onde as asneiras de meia noite sobressaiam sempre a comer comida plástica...Acredito seriam boas pessoas, onde a falta de formação é de extrema grandeza, sabendo que todos andaram à escola em tempo já  gratuita, enquanto eu,  os meus pais tiveram de pagar e muito.O que fatalmente me deixou a pensar!

Um dos feirantes falou-me numa cidade  romana perdida inserida no Maciço de Sicó, que foi explorada com fundos comunitários, supostamente dela saíram peças em oiro dentro de pacotes, que em Coimbra seriam limpas e catalogadas para mais tarde na cidade, ou em Sicó, serem espólio de um qualquer Museu. Supostamente o técnico que as descobriu (?) encontrou à posterior a parte em falta de uma já enviadae ao demonstrar querer juntá-las  sentiu do outro lado, que as peças tinham desaparecido...Veio a descobrir que se encontravam à venda num site estrangeiro...Parece se despediu, por ser homem honesto, o que é raro. A estória fez-me lembrar as escavações no claustro da Sé de Lisboa há coisa de 30 anos onde moedas em ouro encontradas foram desviadas por trabalhadores, a troco de quase nada, as vi algumas a serem depositadas num cofre do Banco onde trabalhava, por um jornaleiro de lábia sabida, que ao lhe perguntar o que ia fazer com elas, sem lata me responde vão para leilão para Londres, teria a 2ª classe e a escola da vida bem sabida!
Da cidade fantasma romana de Sicó nada sei e gostaria!
Enquanto isso seria lamentável haver gente sem escrúpulos que  aposta em fazer prospecção por conta própria , e saquear para seu proveito uma riqueza que é de Sicó, e das suas gentes.
 Alguém de direito deveria averiguar "dar corda aos sapatos" e atuar já, antes que seja tarde, porque gente sem escrúpulos parece haver e demais!
Pedi à minha filha para tomar conta da banca enquanto fui a casa apanhar a roupa. Não vendeu nada diz que não tem jeito, de mim falou que me dirijo às pessoas numa de estabelecer conversa criando empatia que  gera negócio... Tem dias!
Constatei com agrado que aparece gente a caminho de Pombal, da Lapa e, ...Vêem a Ansião à missa e ao Intermaché, a duas dessas pessoas vendi pratos. Uma delas disse-me nada gostar de velharias levou uma replica de uma paisagem inglesa em rosa, já a outra olhou para um prato que a recordou a casa dos avós a que respondi que aquela fábrica-, Outeiro de Águeda vendeu muito na região, vinha com o marido e o filho com síndrome de Down, de ar doce a quem teci uma carinho, perguntei "  o menino gosta do prato" a mãe sem rodeios é que me responde " ele gosta é de o ver cheio"...
Tabelamos conversa sobre o forno medieval de Abiul , do Avelar e outros no norte na tradição do bolo para distribuir pelos peregrinos na festa da padroeira .Confidencio-me que o seu avô  em Abiul foi o penúltimo a entrar no forno para  tirar o bolo, no ano seguinte coube a função a outro que foi  infeliz, não teve sorte de escapar ileso,vindo a morrer supostamente queimado, acabando o povo com a tradição porque se morreu estava impuro com Deus... 
Ainda questionamos como era possível ser um bolo de alqueires de trigo, parece dois, como o tenderiam no forno quente sem se queimarem, segundo o seu testemunho "o levavam numa padiola, o homem de chapéu de aba larga para não se crestar na cara e de roupa toda enxarcada em água" o que faz sentido, depois cozia de  porta  fechada  e tapada a barro.
Abertura da porta em  forma eclíptica para melhor o tirar rápido depois de cozido,outro segredo!
No pior apareceu-me um casal  sendo ele mais velho do que ela na procura de um candeeiro de mesinha de cabeceira que apreçaram por 2,5€  "de ar delambida " dos arrabaldes de nenhures, ostentava altar emproado em soutien fora de uso, que lhe chegavam aos beiços dele em bico...
Chateou-me a forma como despromoveu a peça no rasto irónico de voz surdida de gozo " nós não gostamos disso..." engoli o desaforo sem aqui não passar de lhe chamar  idiota - diz  não gostar  e tudo bem , agora ele tinha gostado, atendendo ao preço queria o quê? Detesto este tipo de mulheres com cara de cão com raiva de ar raivoso ! Elas a dominar e eles a deixarem-se ficar sem mais nem menos "uns conas de sabão"...Haveria depois de a ver passar emproada como um galo com uma lava loiças debaixo do braço, porco de sujo, enorme em inox...Na fúria ferida logo o imaginei plantado na cozinha em  cima de tijolos crus, a ser para ela mulher despeitada talhado a  mármore!
Só vendi um livro. Esta gente não lê e é pena...Um homem comprou-me na banca de um euro, 3 peças...Falta de hábitos pela novidade, nem leiem os avisos dos preços...
Apareceu um casal, ele que conheci na minha adolescência de manto alvo na cabeça e bons óculos de sol, um senhor, que nem me reconheceu, a mulher aperaltada a cetim preto, rodas curtas, a querer imitar uma lady a quem supostamente falta etiqueta...Também julgo não me reconheceram o Carlos Silva, o Filipe, o Mário, a Filomena e,...
Falei com o Zé marido da Mena a quem enderecei cumprimentos, que me comprou uns binóculos para o neto.Já arrumava os caixotes quando entra um carro de alta cilindrada certame adentro para espanto de todos...Eram mãe e filha com dinheiro. Enfeiraram sem contestar.
Apareceu a Ti Augusta que a vi comprar um fogareiro de ferro, farta dos baratos dos chineses-, disse-me "ó Bélita tenho lá em casa coisas para te vender ..."
Visível a falta de publicidade ao evento mensal  por parte do pelouro, e do acolhimento da população que não enxerga que se trata de certame cultural por nele se reverem objetos usados pelos nossos antepassados, por reportarem lembranças de  pessoas que nos foram queridas, que já não estão entre nós. Outros que caíram em desuso, e claro objetos de coleção.
Senti que não o prestigiam como bem merece por falta de cultura, pelo que o aprendizado se prevê longo, demorado...Melhor as gentes do lado de Pombal, mais sábias  e interessadas nestas andanças das velharias...
Ora já pertencem ao Litoral e por aqui terras do Pinhal Interior...
Arrumada a banca, ainda ofereci dois cinzeiros de vidro, um com  publicidade ao Sr Serra para juntar aos demais que tinha. Sou muito de dar... 
Mal cheguei a casa para descarregar dei  brindes à minha mãe...
Um fim de semana com duas feiras que se somaram de resultado positivo sobretudo mais do que o dinheiro faturado, pela lembrança do Nabão  de agriões floridos a imitar um manto de noiva na véspera ao entardecer!

Feira de velharias de Pombal

Por ter estado por terras de Sicó convidei a minha mãe para ir comigo faz hoje oito dias fazer a feira de velharias de Pombal. Vislumbrei o castelo altaneiro recuperado por fora e a encosta revitalizada, agora por dentro não sei o que fizeram , ainda me recordo a primeira vez que nele entrei teria 16 anos a fazer "pau de cabeleira" no namoro da minha prima Isabelinha  com o seu namorado que veio a ser marido- homem mais formoso de beleza imensurável julgo nunca conheci, a arrevesar modelo, ator, sei lá mais o quê, poderia ter tido o mundo,  homem garboso, belo, vaidoso e ambicioso de Leiria...Juntos a caminhar por montes de terra e de pedras, lembro-me dos poços - duas cisternas e os namorados a fugir de mim por entre ameias onde se beijavam na boca como eu via nos filmes a binóculos (de mãos enroscadas nos olhos, por achar tal  estar obsceno...)...isto  antes do 25 de abril em 73...
Antes ao chegar aos Ramalhais na mira da serra de Sicó , entrei num banco de nevoeiro cerrado e molhado "de não se ver um palmo à frente do nariz"...Odisseia turbulenta, nem sei se alguma vez assim conduzi nestas condições, agachada a olhar para o risco branco da berma, a única coisa que se distinguia naquela densa miragem...
Cheguei ao jardim  Marquês de Pombal repleto de feirantes, abanquei junto do estaminé do Sr Manel e da Ti Helena, gentis no acolhimento. O Sr Rafael de Alcanena chegou a seguir com a banca de livros, trazia um ajudante - o vi  mandar nele como se fosse um casal, na retórica de mandar e ralhar por tudo e por nada, até me admirei a calmaria dele de cigarro na mão, coitado aguentou tanto desaforro e no fim não se livrou  de mais ouvir quando arrumava os livros em caixas de bananas, frágeis ao ver parte da banca  se desmorona. sorte serem livros, ele na respinga a respingar "primeiro arruma-se a loiça, não vês que a 1ª banca é de cobre e loiça, onde tens a cabeça?..."
O recinto cheio de vendedores sem carteira diplomada que ocupam os melhores lugares e não deviam, a vender roupas e sapatos em 2ª mão, na feira de abril já não vai ser permitido assim ditava o edital que um homem fazia entrega, quanto a mim esqueceram-se da venda de malas...
Constatei que o público anda na maioria a direito, abanquei num passeio lateral com pouca visibilidade, pois a clientela  de "mira e anda" só caminha, mira bancas a direito e pouco olham para estaminés de chão...
 
As árvores floridas em antecipação da Primavera davam encanto ao jardim do Marquês de Pombal a rivalizar com a igreja de Nossa Senhora do Candal, e o seu antigo mosteiro de frades visto na lateral.
Apareceu-me um cliente de idade que conheço de vista e na feira se cansou a andar toda a manhã e de tarde por duas vezes...Compras de  coisas e loisas a um euro ou pouco mais.Comprou-me um par de candeeiros...Uma mulher que vendia roupa em 2ª mão chegou-se a mim e escolheu uma mala da Yves Saint Laurent em pele, vaidosa com a escolha dizia que havia de a levar a França...Mais tarde apareceu se eu não podia ficar com ela por ter um pesponto da alça descosido- uviu o pregão -, as coisas em 2ª mão são vendidas no estado em que estão, usadas, com sinais de uso ou não, antes de comprar é que se deve ter atenção. Na loja é que se  compra novo e tem 30 dias para trocar.
O dinheiro não lhe dou, o que posso fazer é deixar trocar por outra e assim foi.
O perfil da minha banca em "L".
O Sr Rafael que me apareceu de pandeireta rota nas mãos, alegre, mais parecia ser uma criança a sorrir com o som do batuque...
Apresentou-me o Sr Lopes, que estudou com rapazes de Ansião, os filhos do Forte do Porto Largo -homem de cabelos brancos, gosta de coisas boas - porcelanas, Companhia das Índias, faiança, relógios  e na banca do Sr Rafael sendo habitué, procurava catálogos de leilões. Contou-me como em tempos também foi feirante, correu o País, gosta das peças da Fábrica do Rato do tempo do Tomás Bruneto, da Maria dos Cacos que iniciou a olaria nas Caldas da Rainha - aqui o Sr Rafael desatou a falar da garrafa  em formato de viola com asas aladas em forma de serpente que uma mulher tinha numa alta prateleira, sendo oferta que tinham dado ao marido, cada vez que lá ia a casa para lhe comprar alguma coisa ela nunca se mostrou interessada em se desfazer dela, até ao dia que ele apareceu e não tendo ela nada para lhe vender, para espanto dele a tirou e vendeu...Ainda me disse a quem a vendeu, um antiquário que  lhe fez um pequeno restauro e disse ter vendido por  1000 €...
Quase fracasso as vendas, já as compras foram ótimas.

O Joaquim de Fátima, encontrou-me, está na mesma. Na minha volta à feira acabei por lhe comprar dois covilhetes de Sacavém que em tempos namorei na feira de Leiria, agora comprei por metade do preço para oferecer à minha filha, por já ter as duas travessas.
Ao lado, na  banca da Luísa, encontrei esta bela taça em estado impecável muito decorativa onde a palete de cores explode em harmonia exuberante e forte, seja do azul com o laranja e o verde claro.
Algo me prendeu a atenção que no momento não deslindei. Só no dia seguinte me lembrei que antes já vi esta decoração numa exposição na FIL julgo atribuída a Alcobaça OAL.

Ainda comprei um penico de olaria vidrado a verde que nunca vira em muito bom estado.Escondi, nem registei a foto para não ouvir a minha mãe...Abriu o sol em caloraço de verão. Valeu-me a camisola fresca que a minha irmã me ofereceu, o chapéu e os óculos versage da minha filha, os meus tinha-me esquecido deles na casa rural, e os das feiras, a gaveta não abria, o costume de inverno, por ser madeira incha com a humidade ...
 
Reencontrei a mina amiga Bela Pimpão , boazona uma bela figura de mulher esbelta, alta de ar misterioso, apesar do Joaquim dizer à boca cheia que não trata da pele "parece que andou na sacha do milho sem chapéu..."ainda nos rimos com o inusitado do desagravo do elogio, claro dei-lhe a receita da pomada que deve aplicar no rosto à base de estrogênios...Na companhia da filha da idade da minha Dina, linda e doce, não faltava a cadelinha no caixote...De tarde via-a dormir  a sesta na relva sem pudor!
Casa  com torre acastelada em rosa, recuperada, tantos anos a conheci abandonada e o coreto parecia uma casa de bonecas...Na doçura do rosa e do branco.
Pedra em mármore com a Cruz Templária NUNCA deveria ter sido tirada do local primitivo. Tal como os brasões acho um CRIME serem tirados das paredes.
Prato da Fábrica Viúva A. Oliveira de Coimbra e outro a preto de Alcântara rodeado de pratos Sacavém
                      
De tarde depois de tragado o parco farnel trazido de casa na espera de clientela, os homens, debaixo da sombra na minha frente davam "corda aos sapatos " na conversa fiada- o Sr Rafael, o Sr Manel e outro mais novo, que conheço de vista e a quem emprestei uma caneta, falavam do preço do quilo do cobre e do latão à mistura com problemas de saúde, dizia o Manel "andei dias sem por os pés na casa de banho com as tripas às voltas" respondeu-lhe o Rafael " há tempos li um livro que tinha na banca que explicava , pessoa que tivesse regulada a hora de ir a casa de banho era sinal  de boa saúde..."
Apareceram mais uns mirones  em final de tarde. Sem vendas comecei a arrumar.

De volta no IC 8 virei a  caminho do Marquinho para acalmar, só o consigo com as águas do Nabão que o vi lindo de manto florido de branco.
Gostei imenso de aqui parar para retemperar forças e vitalidade, razoavelmente  feliz!

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