quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Península de Dornes no Zezere

Perdi as vezes que fui à festa a Dornes no dia 15 de agosto em honra de Nossa Senhora do Pranto, romaria que atrai muita gente, no passado foi muito famosa pelos círios que vinham em peregrinação das terras vizinhas e ainda pela procissão no rio o andor ia numa barcaça até à ponte, outros tempos!
A fundação da aldeia remonta ao século XII e está ligada ao aparecimento da imagem milagrosa de Nossa Senhora do Pranto, não sei se nas águas...

Situada a 10 km a nordeste de Ferreira do Zêzere, numa enseada da albufeira do Castelo do Bode, a vila de Dornes bem no centro de Portugal é uma das mais curiosas, para mim linda, pequenina,quer pela sua localização quer pelas vistas e pelo casario, predominante branco,baixo ou de sobrado, varadins,telheiros, ruelas com saída para a albufeira e também pelas lendas e tradições associadas.

Ao percorrer as duas ruas não escapa ao olhar pedras esculpidas com a Cruz dos Templários em algumas fachadas, outras casas ostentam pedras de lousa ao lado das janelas para as sardinheiras,a meio caminho uma tasca com varandim sobre a enseada, escola primária António Garcez com data na porta de 1900, sanitários,cruzeiros da Via Sacra, grande chaminé na arriba abaixo da igreja. Nomes de ruas:da Barca, de Guilherme de Pavia e Borvinda do ano de 1475.

A primeira igreja foi mandada construir pela rainha Santa Isabel(filha do rei de Aragão e esposa do rei português D. Dinis) em finais do século XIII.
Sobre esta pequena igreja foi uma maior edificada por D.Gonçalo de Sousa no século XV,na frontaria algumas pedras com um "P" esculpido que desconheço o significado, ainda um portal de calcário com camélias igual ao da igreja de Ansião, da mesma época.Destaque para os azulejos, o órgão de tubos ibérico, as imagens de pedra de Nossa Senhora do Pranto e de Santa Catarina, e o belo óleo figurando o "descanso na fuga para o Egipto".
Na sacristia Círios,remontam a inícios de 1800, oferendas de romeiros de terras vizinhas e outras que ali acorriam em romaria.
A igreja foi edificada sob um penhasco xistoso onde já existia uma torre que se atribui aos Cavaleiros Templários pelas marcas ainda existentes no casario que já referi no intuito de vigia do profundo vale do rio Zêzere.
A torre pentagonal de cunhais calcários enquadrando muros xistosos, traçado irregular e única no País, terá sido ou não, edificada sobre o que restava de uma outra atribuída a Sertório, general romano que nasceu pelos anos 122 (?) a.C. e morreu assassinado no ano de 72 a.C.

O vilarejo de Dornes foi Comenda da Ordem de Cristo, hoje é essencialmente um dos mais belos quadros da riquíssima paisagem portuguesa provocada pela grande massa de água, meandros de cariz romântico,curvas a pique sob as encostas verdes salpicadas de poucas casas de veraneio com escada direta para a água e cais particular.
Atributos inigualáveis aqui perdidos no Pinhal Interior que em muito contribuem para tal desiderato, até os mortos tem uma vista privilegiada sobre a albufeira.Dornes foi concelho até 1836 com foral dado pelo rei Venturoso em 1513.

Saudades tenho do tempo que me refastelava na tasca do Zé de Dornes logo na entrada em dia de festa grande a labuta. Vezes que esperei de mesa corrida com toalhas de plástico,serviam grandes travessas de batatas fritas e de leitoa de pele bem tostadinha e ainda outras pequenas de achegâ muito bem frito com salsa para afugentar as moscas...paisagem bucólica, água verde, ora azul, em pano de fundo, há anos fechada, dizem que os filhos não se entendem para levarem o negócio avante, após o pai ter falecido...
Anos que levei piquenique, é típico os romeiros comerem pelas encostas sentados em mantas de tear. Maus acessos das costeiras, sempre a subir ou a descer seja a caminho do Beco ou de Paio Mendes terra que viu nascei a atriz Ivone Silva.

Um ano deu-me um repente, em plena festa engendrei um piquenique de improviso. Gosto de mandar. Deleguei em todos tarefas: a minha mãe comprou a toalha e uma faca; a minha irmã comprou melão e pão, o meu marido, o vinho e refrigerantes; a minha filha foi à procura de guardanapos e água para se lavarem as mãos, eu fui ao Zé de Dornes comprar leitão,uma couvete de batatas fritas e outra de salada.Que dizer? foi demais, pela dinâmica e logística.
Entramos com o jipe da minha irmã numa fazenda de ervas secas altas,bem no meio pus a manta, sobre ela estendi a toalha e ajeitei o farnel, naquilo caiu uma trovoada grossa, moscas grandes zombavam ao redor, ás pressas pegámos em tudo e de rojão fugimos e só parámos com tudo ensopado na mala do carro e ai acabamos de merendar sob o chapéu de chuva...

Este ano fiz o passeio de barco, 20 minutos, 5€, caro sem bilhete, um negócio de filão...Valeu a pena, a paisagem é deslumbrante, suave, quiçá romântica.
Ultimamente almoço na Associação de melhoramentos cultura e recreio de Dornes.
Este ano só assaram uns frangos, estavam nas tasquinhas do concelho, claro eu fui até lá!
Antes de deixar Dornes enferei na velhota de Cernache, sorridente de cordão ao pescoço e pendentes em oiro,blusa de balão e avental de alforges, há anos a minha eleita, comprei um pão e duas merendeiras de batata, farinha, canela e erva doce, as bonecas e as ferraduras já as tinha vendido, bem vi a canastra e 3 cestas ovais de verga branca vazias,carotas, faz um dinheirão...trocava conversa com um velho conhecido de olho azul, não sei como foi, o homem engraçou connosco, sob um sol escaldante, eu debaixo das franjas do chapéu de sol ouvi ele contar a sua história de vida desde que foi para a tropa,muito interessante mesmo,homem elegante, comunicador e sozinho...uma pena!
Em Águas Belas bati olhos no velho relógio de sol, há anos que não o via, curiosamente em cima do telhado...
Na praça de Ferreira do Zêzere estava ainda montado o palco onde na véspera os Xutos atuaram, as tasquinhas não tinham pressa em abrir, os Escuteiros foram mais desembaraçados e neles saboreei uma boa sopa de peixe com oregãos, feijoada de gambas, coelho à Vilão(assado na brasa) e salada da avó(tomate cortado muito miúdo com cebola fininha às rodelas e miolo de broa temperda com molho vinagrete.

Para mim julgo que a vila tenta recompor-se de erros urbanísticos do passado após os 25 de abril,(estilo comunista?...) que nada tem haver com a paisagem de quintas, chalets e da Estalagem dos Vales, onde o rei D. Carlos pernoitou e Alfredo Keil compôs a orquestração do hino nacional e nesta terra foi pela 1ª vez tocado!
Lamentavelmente hoje a Estalagem mais parece um "esqueleto" de paredes que um movimento cívico pretende transformar em museu, o edifício, uma casa agrícola da segunda metade do século XIX, encontrava-se em estado de degradação há largos anos quando, em meados de Julho, os seus proprietários, que queriam construir uma moradia, limparam o terreno e removeram parte do telhado em ruínas, deixando apenas as fachadas...coisa que nos deixam a pensar, se a Estalagem tinha interesse público há anos que a autarquia deveria ter feito a sua candidatura à CEE para a sua aquisição e requalificação em Museu, ou não?
Calor abrasador, horas de espairecer e refrescar no Lago Azul.Ao sair de Ferreira dei de caras com a quinta da família do Almirante Américo Tomás, nesta terra nasceu e passou férias, casa ladeada de duas grandes palmeiras,antes do grande portão buchinhos a fazer canteiros tipo Versalhes...querias...Desde miúda que me lembro do meu pai me contar.

Deixei Ferreira do Zêzere e fui conhecer a aldeia de Outeiros terra de um colega do meu marido. Grande. Interroguei-me com a falta de acessibilidades, ao fim da aldeia são 3 km em terra batida, um circuito florestal?, então se está em paralelo com a vila porque raio não tem ligação?
Grande dia em terras que desde miúda conheço,revisito e sempre encontro coisas novas. Bem, ao passar na volta pelo Carril a 1ª vez que ai parei teria 6 anitos, o largo está quase igual...

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Revisitar a rota de paneiro do meu avô Zé Lucas pelo Alentejo com a minha querida ma

Aniversário da minha mãe quase sempre se pautou por ser um dia especial com muitas surpresas, este ano mais uma em que juntei o útil ao agradável com o voucher "A vida é bela" que a minha irmã lhe ofereceu no Natal, apeteceu-me presenteá-la a voltar a terras alentejanas, ao giro do seu pai com anos na arte de paneiro ambulante a vender chitas, riscado de Santo Tirso, Vila do Conde, cotim, serrubeco e, sedas !
De véspera fui de comboio para Pombal esperava-me a minha irmã com nova partida para enganar o estômago no Manjar do Marquês em Pombal, o empregado homem bonito de olhar azul do Mogadouro, há tempos que não o via em dois dedos de conversa disse-nos que estávamos giras, a sopa de feijão com couve galega a fazer lembrar a da minha mãe, uma maravilha, no balcão ao lado servia-se arroz de tomate malandrinho com pataniscas, reparei  numa mesa em que estavam homens, um deles já foi Procurador da República, bem olhou para as beldades... A caminho de casa combinámos tomar o pequeno almoço com a nossa mãe no seu dia de aniversário, a primeira surpresa, não faltou o Pão de Ló, especialidade da casa, mal bebeu o café de cevada a minha irmã zarpa com o carro para atestar o depósito de combustível, regular o ar dos pneus e ditar votos de boa viagem.  Prontas ficámos num ápice com a prima Júlia ao adro para nos desejar boa viagem, de malas feitas abalámos na nossa aventura, no caso, a minha grande primeira viagem a conduzir, antes só Almada Ansião e vice versa...No IC 8 encontrei obras junto à ponte sobre o Zêzere em Pedrogão Pequeno, parámos em Proença no primeiro e único susto, dúvidas se o voucher vinha no saco ou teria ficado em cima da mesa? Sorte, estava no saco, que nem o via no meu desespero só de pensar em voltar atrás, aliviamos águas entre giestas ressequidas, cujo aroma não enganava.Entrei no IP2 a caminho do Fratel com sinalética insuficiente, a barragem há anos que não a via está na mesma.Passei por Arez não distingui o pedestal à beira da estrada de nicho com o Santo em pedra que há 20 anos fiquei com vontade tive de o trazer comigo... Em Nisa, tomámos café e degustámos uma empada,entrámos nas lojas de artesanato, cestaria, barros decorados a pedrinhas, trapologia e queijos em espera de fregueses que não sei se virão, na orla da praça de cara lavada estilo cor partidária camarária de esquerda só vi desocupados, pensionistas em conversas de nada a fazer horas de voltar a casa para o almoço... tirei fotos, percorremos o centro a pé apesar do calor insuportável, fomos à matriz, vimos os restos da muralha do castelo, a destilar íamos a caminho do carro, demos mais uma volta pela cidade ate encontrar o rumo de Alpalhão para nova paragem junto à enorme anta que atesta nesta raia portuguesa os muitos vestígios fúnebres primitivos; dolmenes, menhires e sepulturas escavadas nos blocos de formas arredondadas graníticas,também apreciei a escultura natural do bloco oval esventrado por dentro em crateras de cristais de mármore, o pior, a máquina ficou sem bateria...
Nova paragem no convento Flor da Rosa, o sol escaldava, fotos com o telemóvel, claustros lindos, o túmulo do D. Nuno Alvares Pereira, aqui o seu pai foi Prior do Crato, não deu para mais nada estava na hora de fechar, no arraial fora de portas do convento procurei pelo fontanário imponente estilo barroco ao lado uma sepultura romana a servir de bebedouro aos animais que no tempo foi adaptada e iguais encontrei em Castelo de Vide...na primeira vez que as vi há anos. Estradas de retas e mais retas com salpico de blocos enormes graníticos semeados à toa na paisagem com paragem no Crato, na zona histórica em frente aos Paços do concelho, linda a varanda gótica em granito rendilhada e arcos a imitar a Pax Júlia de Beja, achei tudo na mesma, há anos que aqui não vinha e não vi nada de diferente, as mesmas ruas  infindáveis, desertas, vazias de gente, de carros, de barulho com o Museu fechado em obras e o outro em horário de almoço, muitos solares, brasões e portas de ogiva tudo fechado. Almoçamos numa praça com Mós, ao jus de mesas e bancos em pedra, comida frugal a pensar na fácil digestão para a piscina, medo senti de subir a ruela de calhaus de xisto a caminho das ruínas do castelo ao que parece foi uma concessão de 100 anos nas mãos de um particular que ali se desloca de helicóptero com  obras iniciadas para...?Pelos vistos estão paradas, gostei de rever as pedras das muralhas pintadas de branco dão-lhe um carisma ingénuo, a vista deslumbrante que se desfruta na nesga da muralha derrubada é bonita, ao fundo no vale uma pequena ermida e um grande fontanário de parede alta frondosa típico nesta região ornado de amarelo ocre, o castelo altaneiro edificado na colina sul do morro vê-se bem quando disse adeus à vila rumo a caminho de Alter do Chão, curiosamente junto à estrada dei conta do frágil muro em lajes de xisto soltas muito frágil, nem parece que um dia fez fronteira à cidadela...Atravessei a ribeira da Seda na ponte romana, nome que me ficou a bailar na cabeça,senti uma forte ligação deste nome com outro num largo do Crato, alguma coisa referente a seda aqui existiu quem sabe do tempo que foi ocupada pelos Cartagineses ou do tempo que houve daqui gente na Índia.Chegámos ao destino Alter do Chão pelas 2,30 com o burgo a crescer, reconheci o grande fontanário com o nome dos beneméritos que o mandaram erigir. Na estalagem fomos muito bem recebidas, com pressa de vestir o fato de banho, na piscina ficámos até perto das sete, lanchamos jesuítas e banhos uns atrás dos outros, mais de vinte, só tivemos companhia por volta das 5 horas. Vestidas a rigor para o jantar. Salão decorado a meu gosto com alfaias agrícolas, arados e chocalhos.O repasto:bacalhau à conventual que eu chamo à Crato com uma variante muito interessante e vou passar a fazer, leva cenoura ralada e couve, coberto com molho bechamel, o segundo prato, carne de porco à portuguesa com coentros,uma maravilha, tão delicadamente confecionados, sobremesas para acalmar o calor um chá de menta com gelo.Decidimos  regalar o olhar com o por do sol que nestas terras a sua  abalada é tardia e em  caminhada à volta do grande gaveto da estalagem com vivendas muito bonitas e passeios com jardins de oliveiras, do outro lado da estrada na herdade grandes rebanhos com chocalhos a tilintar pastavam àquela hora.De novo na estalagem, cansaditas, decidi abater umas calorias,teimei em comer mousse de chocolate...fomos ao ginásio para andar de bicicleta e não fui de modas pus a minha mãe na passadeira para experimentar apesar de ter vestido o seu lindo fato que lhe ofereci o tecido, o dia era de festa e de fazer coisas diferentes, mas para mal dos meus pecados reparei eu não chegava aos pedais, e na passadeira a minha mãe ficou estendida, aflita fiquei para a desligar e a tirar sem se magoar, sem fôlego para mais nada, melhor ir  dormir o que fizemos,quarto fresco,uma soneca direta.
Acordámos bem de manhãzinha para degustar no salão do 1º andar o nosso pequeno almoço que só não foi mais à vontade pela constante presença do empregado a fazer de estátua e na saída dois dedos de conversa com a dona da estalagem a falar das lindas tapeçarias em ponto de Arraiolos que decoram as paredes, conversa puxa conversa confidenciou que uma filha morava em Almada, falou da sua casa na Charneca da Caparica e dos problemas graves com o diretor da estalagem que tinham apenas contratado há 3 meses para os libertar e começar a passear, desfrutar da vida e só lhe tem dado problemas e que problemas!
Hora de despedida com vontade de regressar.Tempo de visitar o burgo de Alter, lindo o castelo com torres finas e cúpulas em cone tão típicas aqui a fazer lembrar a sempre noiva de Arraiolos, perdi tempos à procura de pão alentejano que não encontrei nem tão pouco havia queijo para encontrar junto da pequena praça outra vez arraial de homens barrigudos, desocupados a revirarem olhares...coitados!
Maravilhosa a paisagem que a barragem do Maranhão proporciona em Benavila uma das paragens do meu avô que jamais tinha ouvido falar com idílicos recantos lagunares ao jeito de pequenas penínsulas com belos cavalos na margem a pastar, pena não ter máquina para registar tão belo cenário, ao longe comecei a avistar o morro de Avis pelas altas ruínas do paço e do castelo.Terra onde senti nostalgia com ruas quase desertas, sem vivalma, pouco comércio em cidade morta apesar de tanto casario, incrível andava uma carrinha de Abrantes a vender pão, chamava a clientela ao toque da buzina, comprei uma carcaça com maminhas, perguntei a uma velhota onde poderia comprar vinho, apontou em direção da cooperativa fechada... coitada queria ela dizer mini mercado...apercebi-me na conversa que travei com um homem da idade da minha mãe cujo filho mecânico estava de volta de um carro com conversa sobre a vida de antigamente também ele um emigrante de Mora aqui radicado desde os 16 anos. De saída encontrei a cooperativa de azeite,acredito que seja bom porque o preço foi caro, 20€ 5 litros, de seguida parei numa herdade onde se produz o vinho de Alter, apesar de muito caro trouxe vinho para as férias e ofertas.
Horas de seguir viagem a caminho de Casa Branca onde a emoção tomou conta de nós na mesma estrada onde o meu avô tantas vezes passou, irresistível a reza que irrompeu no silêncio em sua memória... na padaria antiga de armário encastrada na quina da parede onde acredito ele ter entrado havia de comprar o verdadeiro pão alentejano por 1,20€ que achei carote, ao fundo uma velhota de avental a rondar o chão caiava a barra da casa em azul.Passou por mim um velhote de bicicleta que nos disse adeus de lenço aberto preso na boina  que o protegia do sol no pescoço. Tomei a estrada em direção ao Cano, muito grande esta terra, seguindo para Sousel que me deu ares de estar em Espanha, o carro parou-me em plena via do caminho de ferro abandonada, uma pena,seria uma mais valia naquele fim de mundo... Almoço em Ervedal, tanta comida, uma boa feijoada com sabor a hortelã, o bacalhau com cebolada trouxe para o jantar.Travamos conversa com pessoas da terra, disseram-nos que se lembram de um tendeiro que andava com duas malas a vender fazenda, o Sr Coimbra...interessante ao tempo o hábito de falar que era de Coimbra, terra de nome sonante em detrimento da sua aldeia de Mouta Redonda que ninguém conhecia...O bom homem que connosco almoçava ainda disse que ele era loiro e isso bate certo, também que se alojava na estalagem da Ti Joana onde as mulas descansavam, comiam e bebiam e ele também que era miúdo e acompanhava o pai também vendedor.Adorámos saber, a minha mãe sabia que havia uma estalagem onde ele pernoitava e vivia enquanto andava nas suas andanças e desandanças por terras alentejanas,de facto as terras que falava ficam todas muito perto umas das outras num circuito quase fechado, o giro, como outros tendeiros tinham - cada  um tinha o seu.A paisagem alentejana está em mudança e não é só a caminho do Algarve, por estas bandas também se encontram grandes olivais, vinhedos , nogueiral e milheiral, quem diria!
Calor, muito calor a caminho de Avis novamente onde avistei uma raposa morta em plena estrada, lindo o rabo ainda tive vontade de parar e traze-la, foi a pensar no cheiro das vísceras me acalmou...mais à frente um gineto, lindo de rabo comprido atravessava a estrada a caminho de Santo António de Alconrrego onde o meu avô chegou a ter uma casa alugada que deixou ao filho mais velho, o Carlos quando este se casou, a aldeia está irreconhecível, na boca da minha mãe, que aqui veio visitá-lo depois de instalado. Percebi que o nome lhe advêm da ribeira que lhe passa aos pés com muito casario e estradas, a minha mãe meio perdida no norte, descobriu a casa branca ornada de azul com grande chaminé e data 1893 no alto com o grande quintal em rampa a escassos 4 km de Avis onde voltei para dizer adeus à albufeira do Maranhão, atravessei duas pontes, grande o lençol de águas a caminho de Galveias e lindo o solar apalaçado junto à igreja para a chegada a Ponte de Sôr onde parámos e fomos passear até à zona ribeirinha, lindo a represa das águas, a relva fresquinha, ainda nos deitamos para depois mais uma voltita à cidade que cresceu muito, quase a não reconheci a caminho de Abrantes, atravessei o Tejo, subi a cidade até encontrar o norte junto ao quartel, mais à frente entrei na Scut a caminho de Constância onde sai na parte norte, alta onde parei junto a uma grande igreja a olhar o Tejo, ao descer reparei que era o cemitério, linda vista os defuntos tem, invejável, igual, só mesmo a do cemitério de Dornes a mirar a península do Zêzere.Nunca tinha feito uma descida tão acentuada a pique onde vi jeito do carro capotar...até que reconheci a estrada e atinei com o caminho em direção a Tomar, então não vi a ponte sobre o Zêzere? Último reduto da viagem do meu avô passamos na Matrena com as antigas fábricas de papel do Prado, tudo desativado, no cimo Santa Cita, no ramal para o Castelo de Bode, parei e comprei melão e melancias para ofertas.O Nabão corria direito à foz por entre salgueiros a escassos km de casa para num instante chegarmos cansaditas e muito satisfeitas. Adorei a viagem sem sobressaltos, sem enganos, sem pressas nem tormentos tudo à minha medida e da minha mãe.Quanto a ela nem se fala, adorou a piscina, só falava que ia fazer uma no seu quintal no lugar da capoeira, pior ficou quando falei nos custos da sua manutenção. O fascínio de voltar ao Alentejo onde tinha vindo em criança e pouco se lembrava e teimava voltar ás terras onde o seu pai andou sabe Deus como a ganhar freguesia, no dizer do povo passou as passas do Algarve,conviveu com ciganos, fugiu de ladrões...comeu o pão que o diabo amassou... Bem - ganhou umas coroas, a carteira cheia de notas a atava com um elástico...de volta trazia na carroça o belo torrão de Alicante, enchidos, queijos e... Também aprendeu a fazer um bom gaspacho e sericaia.
Assim foi o festejo dos seus belos 77 anos, o meu pai se fosse vivo teria festejado 76, faziam anos no mesmo dia com um ano de diferença. Inesquecível este passeio, voltava sem custo a faze-lo outra vez, mais uma vez, sempre!

Seguidores

Arquivo do blog