Crónica com resumo publicado no Jornal Serras de Ansião de Fevereiro de 2023
Conheci a Granja há mais de 20 anos, em dia de muito calor, pelo mote das argolas à laia das vendedeiras de barros dos Ramalhais, compradas em Pombal, que adorava, depois usurpadas.
O termo Granja, a primeira vez que o enxerguei na camioneta depois de Cernache para Coimbra .
Graças à leitura do livro de Ansião, oferta do Padre Coutinho, o privilégio de conhecer o encanto que a ruína incita em mim... Sem medo das silvas e da hera, na pretensa de dar a conhecer o património cultural esquecido de Santiago da
Guarda, no concelho de Ansião. Subi, escorreguei, caiu-me a máquina vezes sem conta...A minha mãe chamava-me a todo o instante, com receio que me pudesse magoar...Imóvel
particular, com história e
estórias, devia ser público, por deter o cerne jesuíta no concelho de Ansião!
Apesar da secura do estio a sul do paço haviam couves galegas e lombarda
A forte visualização da crónica :
https://quintaisisa.blogspot.com/2011/02/a-granja-dos-jesuitas-em-santiago-da.html
Permitiu a outros escrever cronicas sem visitar o
local, com menção das minhas fotos.
Sem modéstia, a exposição pública
então quase inédita, criou influência a projetos culturais e
turísticos.
O SIPA, atribuiu em 2000, aos Paços da Granja o Número IPA Antigo: PT021003070023. Arquitectura
residencial, setecentista. Paços e Residência dos Jesuítas. Casa de
planta retangular, elevada em dois pisos, com construções dependentes
frente à fachada principal e pombal nas trazeiras. Construção junto à
importante estrada, com extenso campo produtivo.Edifício de planta
rectangular, de leitura ilegível dado o estado adiantado de ruina e a
vegetação daninha que a envolve, de dois pisos. Na fachada principal,
uma escadaria de lanço único com patamar acede à capela de pórtico de
verga recta com a inscrição incisa: "IGNCIO DE LOYOLA (_) DA COMP.A DE
HIS ROGAI POR (NOS)", sob os símbolos do martírio de Cristo. Fachadas
abertas por múltiplas portas e janelas rectas e de avental. No interior
inúmeras divisões ligadas por corredores desenvolvem-se em ambos os
pisos de pavimeno inexistente. Nas trazeiras do edifício principal,
encontra-se um POMBAL coevo, cilindrico de alvenaria. Em outras
construções de apoio à casa surgem inscrições nas padieiras tais como as
siglas da Companhia de Jesus "HIS" ou datas "1693".
A igreja de Santiago da Guarda
Foi pioneira, julgo pela mão do Sr.Padre Armando da Constantina, então pároco da freguesia, a enxergar a potencialidade da aldeia da Granja, quase abandonada, ao adquirir a Casa da Câmara, para instalar a coleção memorável de fósseis em 2007 na Casa Museu dos Fósseis, a que dediquei a crónica:
https://quintaisisa.blogspot.com/2016/09/casa-museu-dos-fosseis-na-granja.html
Foto Sipa , a mesma partilhada há anos pelo Sr. Padre Manuel Ventura Pinho
A casa da câmara de sobrado e janelas de avental Reabilitada em 2007
Foto tirada da Casa Museu dos Fósseis
Mereceu crónica - Casa Museu dos Fósseis na Granja em Santiago da Guarda
Pias de pedra a servir de floreiras
Seguiu-se em 2010 o alojamento local com as casas turísticas da Granja entre demais recentes
Fonte da Granja
O antigo poço da Granja foi
transformado nos anos 60 do séc. XX sendo fechado para a valência de fonte, com roda de ferro. O meu avô "Zé do Bairro" foi pedreiro, do empreiteiro Sr. Margarido de
Santiago da Guarda, com muitas empreitadas para a Câmara de
Ansião, onde alteraram outras fontes na mesma altura. Esta não sei se foi ele. Desconheço se o poço foi alvo de intervenção para averiguar se tem
escadaria, que em terra cársica servia para saciar a sede aos viajantes. Muitos,
tem origem romana, junto das suas vias sendo reutilizados no legado
Al-Andaluz.Sendo necessário fazer a sua catalogação, para não se perder a
sua identidade. Como ajudar a perceber se a estrada vinda da Junqueira
é romana ou medieval.
A
autarquia embelezou a entrada norte com uma estrutura em forma de casa
de pedra aberta.
Na entrada um ponto de água, no interior zona de descanso e, no
tardoz duche para os peregrinos. Não me recordo de sanitário...Terá?
O antes e o depois das obras
As primeiras referências ao topónimo Façalamir ou Façalamim
O topónimo tem a sua origem no legado Al-Andaluz, foi perdido já no séc. XX, mas, devia ser reabilitado, com sapiência para exponenciar o turismo.
(...) na carta de testamento da herdade do Alvorge, feita
por D. Afonso Henriques ao Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, em
fevereiro de 1141, onde é mencionada a povoação “Façalamim”.
(..) Em 1221,
passou o Mosteiro de S. Jorge a beneficiar do estatuto de isenção.
Neste ano, pela bula "Sacrosancta Romana Ecclesia", de Honório III, de
19 Fevereiro, foi-lhe confirmada a posse das igrejas de São Tiago da
Covilhã, de São Vicente da Beira, no termo da Covilhã, das herdades de Fazalonir [?], de Castelo Viegas, Ameal...
Excerto das Memórias Paroquiais Setecentistas
(...) em 1758, possuía 71 fogos (casas) e 243 habitantes, e provavelmente
produziam vinho, trigo e cera. Em 1805, a propriedade de Façalamir
estaria na posse da Marquesa de Angeja, D. Francisca Teresa de Almeida.
A
herdade era muito extensa diferenciada com nomes compostos em que um
deles é sempre Façalamim:
Granja de
Façalamim, Campo da Orada, Cabeça da Granja , ou Várzea
Casais de Façalamim
Lombo de Façalamim
Garganta de Façalamim
Matos de Façalamim
Dorso de Façalamim
A linha da extrema da herdade passava longitudinalmente
pela Junqueira, aos limites da Torre de Vale de Todos, pelo Sobreiro, a sul limitava
com Ansião, com ligeiras alterações a poente .
Havia lugares a entrar numa e noutra herdade.
Mereceu uma crónica:
https://quintaisisa.blogspot.com/2013/06/santana-por-ansiao-no-encalce-da-via.html
Diz- nos o Padre Coutinho
(...) em documentos de 1164 e 1166 aparece o vocábulo "arracef" expressa calçada caminho empedrado, os restos da via romana de Scallabis (Santarém) ,Sellium (Tomar) com passagem por Conímbriga, ladeando Façalamim.
Nas caminhadas pelo concelho, tenho localizado troços desta via romana como de secundarias, que infelizmente ainda não estão catalogados e deviam.
Na derivação da via principal de Braga para Lisboa, algures, entre a Fonte Coberta ou Tamanzinos, a via ou seguia por Alcalamouque, Junqueira, Granja, Estrada, Vale de Boi, com um troço catalogado,
Pinheiro, Santana Nogueiros? Ansião, falta saber, onde atravessava o rio Nabão, talvez na ponte dos Poios? Já que a ponte Galiz, sendo parecida é nitidamente mais recente, será obra da abertura da estrada para os Anacos, nos inícios do séc. XX.
A variante pela Junqueira, dada pelo poço de chafurdo transformado em fonte, na ligação à Granja, com outro poço, que a ser romano, o que falta atestar, ditará esta via mais antiga.
O que as pedras nos falam?
Voltando à via romana outra perspetiva aventa ter sido pela Fonte
Coberta , Fonte do Alvorge, Alvorge, depois da ladeira descalçada e da circular o último troço de
calçada, induz ser medieval, a evidenciar ser mais recente que invoca no núcleo histórico do Alvorge. Em
acreditação foi o cenário à fixação jesuíta! O que senti em deslumbre pela data de 1565, entre outras (1753 e 1830) na capela Espírito Santo, que teve
sacristia e foi demolida segundo o Padre Coutinho . Acresce a subtil pomba na empena da casa a sul,
a jus ao orago ESanto, da capela. Descobri em 2016 nessa casa a sul da capela os patamares das varandas antigos onde foi reutilizado nas ombreiras um
lintel falante ; um com a sigla grega jesuíta, outra com as
letras QDEVS; e outro com OVLM faltando descodificar uma. Acaso teria
sido o palco da primeira matriz do Alvorge que passou para os jesuítas,
por o arco sineiro ter incisa uma pequena Cruz igual à da Casa da Roda
na Granja...o que fiquei a pensar. Demorei a esmiuçar estes factos até entender que a capela reclama ter sido sítio de enjeitados.
Fotos para comparar a Cruz na casa da Roda na Granja e a da capela que não se ve no arco sineiro
Evidencias que contrariei ao baixar o deslumbre da descoberta - ser, ou não ser, já que nem tudo o
que parece é, só Deus sabe. Foram anos de investigação. Em crer, o lintel, quiçá veio da Granja, aqui reutilizado, cortado em 3 partes. Já que defronte, na casa da D. Clementina, as colunas do seu varandim
foram pertença do solar dos Carneiro Figueiredo da quinta da Ladeia.
Partilha de duas fotos por Jaime Tomás
Da Igreja de Alvorge com os símbolos dos jesuítas.
A Igreja tve uma grande transformação em 1577 (se não
estou enganado).
A herdade do Alvorge foi a herdade mãe. A herdade de Façalamim, inserida no seu território, é que foi doada aos jesuítas. O que permite presumir que as imagens que partilha, foram para essa igreja transitadas , após os jesuítas terem deixado o
paço, comodo bispo que o frequentou em festas.Porque eram
de melhor valia, sendo espolio da capela
que havia no 1º andar do paço.
Como sabe, até
melhor do que eu, o povo no Alvorge, sempre reutilizou materiais de casas
em abandono. Já os Santos, ao que me parece estão na capela da Orada.
Alvorge a casa onde deslindei a cantaria falante na frontariaNo gaveto a sul há uma janela de avental pequeno com a data 1704, se não me falha a memória. Nos meados do século XX a reutilização atual com a cantaria.
Rodapé da esquerda com a sigla grega jesuíta IHS
Rodapé esquerdo com letras QDEVS e na direta OVLM, falta uma letra encoberta pelo patamar
Não consegui traduzir do latim, nem em separado nem juntas, no corte foram eliminadas outras letras.
O meu bom amigo Dr. João Santos a quem pedi ajuda para decifrar as palavras sora a
sigla OVLM é de origem cabalística, é de um ambiente muito complexo,
mas basicamente refere-se ao mundo terreno, com objectivo de afastar
demónios, ou seja o efeito de um amuleto.
Com esta dedução é admissivel que o lintel fosse a padieira do noviciado a sul, a parte mais desmoronada. Ao deduzir das Memórias paroquiais que os aprendizes eram pouco capazes, em crer, pese a frase a entestar as suas cabeças no dia a dia, debalde sem conseguir afastar os demonios da carne... Não se mostra a história uma ciência exacta
A salvo, e ao devido
respeito, sendo naturalmente o maior, à descrita pelo ilustre pioneiro Padre
Coutinho, em abono a minha epifania - é desconhecida a chegada jesuíta a Façalamim.
O autor menciona em
1717, a Companhia
de Jesus obtém mais 6 residências, com a 2ª em Façalamim, onde depois, os jesuítas se instalaram na Granja, junto da
estrada Coimbrã, de sólida construção setecentista, em dois pisos, de inúmeras
divisões, portas, janelas de avental e corredores.
A
Cabeça da Granja, cujo topónimo Cabeça, alude à centralização do poder da
Vintena, ali sediado nos finais da centúria de 600, atendendo à de Ansião, por volta de 1679, pelo que a obra do paço, tem de ser anterior à citada (depois de 1717) dada a menção nas MParoquiais,
em 1701 recebeu o minorista Thomé Mendes
irmão, do Cura Manoel Mendes como é referida a presença
de aprendizes, pouco capazes...
O Tribunal, com jurisdição cível e crime, já que antes fora, em
Coimbra.
Os jesuítas executavam as penas no 1º andar, junto da capela, com a forca entre duas paredes
estreitas, viva na memória do povo, como dos foragidos à justiça em
Ansião, ali chegados pediam abrigo ficando libertos a troco de trabalho na
granja...
E, a prisão? Sem deslindar grades, levanta o véu jamais
saiu do Alvorge, a herdade mãe, sita no atual Centro Etnográfico.
Centro Etnográfico do Alvorge
A Casa da Roda da Granja
Aflige-me sempre estar perante estas casas onde tanta criança sem eira nem beira sofreu...
A caminho da capela da Orada encimada noutro outeiro
Panorama da vista no outeiro da capelinha sobre a Várzea
Outra perspetiva da erosão sobre o outeiro a norte
A Granja,
foi plantada em chão da várzea beijada a doces cumeadas a salpico de fósseis,
cujo cariz histórico do seu passado se mantém.
Santiago da Guarda
Oferece o circuito da
Rota da Romanização de Conímbriga, Rabaçal e Santiago da Guarda com o complexo da Casa
Senhorial Conde Castelo Melhor, a cisterna do Carvalhal, e a ruína do Paço
jesuíta na Granja. Além da traça castiça judaica tradicional no casario com arquitetura
do V invertido, a sustentar a padieira de portas, balcão, telheiros, bancos de pedra, poços de chafurdo ,
moinhos de água, lagares, e troços de calçada romana...no Vale de Boi (catalogada, mas,
infelizmente abandonada pela autarquia.
E, queijo do bom!
A primeira vez, que vi água num caminho com a valência de ribeiro, vindo dos lados da Junqueira
Outra perspetiva do outeiro sobre a várzea O paço jesuíta
Subsiste a
ruína altiva do paço vestido de belos arcos, a jus do convento de Sto. António
de Penela.
O paço da Granja com dois arcos a norte e um a poente, em derrocada, o caus, definha a cada dia !
Um comentário de Elisabete Lopes na página
do Facebook que passo a citar "Pena estar esquecido... brinquei lá
muita vez, era pequena, mas lembro-me bem da minha bisavó contar que os
peregrinos a caminho de Santiago de Compostela, pernoitavam na "casa dos
bispos" (era assim que era conhecida) e ela dava-lhes sempre um caldo
quente. Sempre me lembro de passarem os peregrinos na Várzea vindos de Santiago
da Guarda e indo em direção a Granja. Quase todos os dias passavam. Até a
cavalo chegaram a passar. Só há meia dúzia de anos é que deixaram de passar.
Foi desde que andaram a marcar os novos caminhos de Santiago de Compostela que
marcaram por outros lados. Mas pelo que eu tenho ouvido dos mais antigos o
Caminho de Santiago passava em Santiago da Guarda em direção a Granja. No
Complexo da Casa Conde Castelo Melhor existe a vieira esculpida na padieira,
muito antiga, que indica o caminho de Santiago, por isso não consigo entender
como marcaram os caminhos sem seguir as vieiras, um dos símbolos do peregrino.
No entanto ainda há alguns que passam aqui por Santiago da Guarda."
Dada a visibilidade e âmbito cultural das minhas partilhas, favoreceu vir a retraçar a Rota do Caminho de Santiago, pela invenção de outra nova - a Rota Carmelita, por maiores
interesses, nomeadamente dar maior visibilidade a locais com história , como comerciais e turísticos.
O libreto da Rota Carmelita, teve ablação de
fotos da minha crónica
https://quintaisisa.blogspot.com/2016/09/o-coracao-religioso-da-senhora-da-orada.html, a repto da Paróquia de
Santiago, que não gostava…Engodo, que acedi e, só percebi ao ficar de olho aberto até a autora descambar num congresso em Alvaiázere, ao plagiar as lajes sepulcrais da capela Orada, menção do
Padre Coutinho, no seu livro de 1986 com louvor, por académico, sem validar o
livro do pioneiro. Ninguém me contou, estive presente na apresentação.
Lado norte do paço
2014 plantio de milho
Porta lateral a norte de aceso à semi cave onde foi aqui a cozinha e o refeitório
Acima da padieira uma pequena janela, encimada com o monograma da Companhia de Jesus I H S. Aqui teve grades.
Ruína sem se saber o que foi no tempo da Vintena, talvez o
curral da câmara e afins, hoje requalificado em turismo de alojamento
local .
A hera escondia a padieira
falante com a sigla jesuíta grega Iheus, jubilada por 3 pregos sob coração Ignacio De Loyola Da Comp. A De Hi Rogai Por (Nos).
A nascente do paço
A pequena escadaria na frontaria, com patamar e lanços de 3 degraus
para norte e para sul, foram mais tarde desleixadas com visíveis
estragos aquando da remoção de terras no arranjo do largo.
A sul, julgo onde teria sido o noviciado
O dormitório é evidenciado pelas celas de
janelas minúsculas.
Muita ruína desmoronada para nascente, sendo impercetível o palco no seu passado, a
certeza do celeiro, açougue e almoçataria, onde se fazia a aferição de
controlo dos foros recebidos dos rendeiros de toda a herdade.
A chaminé
A semi cave para norte, onde foi a cozinha, resta
a sua bela chaminé onde seria também o refeitório.
Foto do Relógio de sol estilo francês, gentilmente cedida por Nuno António Jesus
No gaveto uma linda varanda de arcos a poente/sul
A invasão de hera...Nascente o que resta de uma janela de avental a nascente, da capela
Vista do varandim para poente
Teto abobadado em pedra
Piais na fachada lateral a indiciar latadas Capela do Paço
No meio da vegetação deslindei no 1º andar reentrâncias nas paredes, à semelhança de altares.
Na
lateral, a sul, ainda se consegue ver um altar recuado na parede, na
primeira vez contei seis .
O
Padre
José Eduardo Coutinho sobre a capela diz que seria revestida a azulejos
em azul e branco da época, que ainda deslindou fragmentos. O que me parece é com a caída do soalho e do revestimento azulejar das paredes tudo caiu para a cave, onde julgou teria sido a capela (?)...
Falei com moradores que me transmitiram em
miúdas aqui andaram a brincar, e a quem os pais atormentavam com
histórias do passado aqui vividas, ainda se lembram da capela do paço
ser no primeiro andar, onde dizem também existiu a Forca, entre duas
paredes estreitas, além do Relógio de Sol. Como os foragidos à justiça
em Ansião, que aqui chegavam e pediam abrigo ficavam libertos da justiça
a troco de trabalho na granja...»
Caso
para questionar onde estarão as Imagens da capela do Paço na Orada? A Imagem de Santo Antão está na capela da Granja com outras . Foi o protetor dos animais domésticos, um dos eremitas mais
ilustres da história da Igreja. Nascido em Coman, no coração do Egito.
Na região o seu culto expandiu-se trazido por povoadores vindos do mar
mediterrâneo. Em Ansião, uma família oriunda de Santiago da Guarda,
andava sempre com a frase a boca valha-nos Santo Antão.
No 1º andar devia também haver a biblioteca e cómodos dos representantes da comunidade jesuíta.
O Pombal em alvenaria
Os
postes da EDP, devem seguir as estradas e jamais entrar em propriedade
particular criando aberrações estéticas e descontextualizadas .Estão a ser removidos por etapas.
O Pombal
No
prado, a poente do paço uma casa de alvenaria redonda com uma
porta, forrada por dentro e por fora por grande emaranhado de silvas e hera,
que escondia a beleza dos buracos no interior com piais em pedra branca , airoso pombal, o mais bonito que jamais enxerguei.
O interior do pombal em anos diferentes
Lintéis com a sigla jesuíta
O Largo do paço
a nascente, o enconrei pela primeira vez vestido a igual abandono do seu casario, com lintéis dos meados da
centúria de 600 a 700.
Admito a partilha inédita foi presságio a roubo ou
mudança de lintéis, a empobrecer e lapidar o que foi a sua história. Ao
contributo abonatório; limpeza do silvedo do paço e do pombal redondo.
Existem pelo menos três casas na Granja nas quais se identifica na
padieira o símbolo da sigla jesuíta igual ao que existe no solar .Em representação as rês iniciais de Jesus em grego (Ihesus). Mais tarde, virou acrônimo de "Jesum habemus socium" (Temos Jesus como companheiro).
Seriam casas de apoio ou de serviçais .
Numa delas uma guarita em pedra onde está cravada uma pequena cruz
"Alminhas" sem imagem.
Datas inscritas nas ombreiras de pedra - 1693- 1704 - 1715 -1718.
Como demais casario em ruina.
Numa casa a caminho da capela da Orada, sem telhado de paredes de pedra armadas, ainda exibe uma
chaminé semelhante à do solar, mais pequena.
Uma casa em ruína que um dia destes vai ser recuperada.
Na cozinha
pequeno poço, não se sabe a sua valia, há partida poderia ter sido para
guardar o engaço da azeitona para ração dos porcos, olhando aos
resíduos no fundo, é o que parece, mas poderia ter sido antes
esconderijo feito pela altura da passagem na região dos desertores do
Buçaco em 1810 , havendo pessoas que esconderam os seus haveres para
não serem roubados.No Rabaçal enterraram na frente da igreja os Santos
de pedra, só descobertos há poucos anos. No Alvorge há uma casa
senhorial com um cofre feito nessa altura onde o
povo guardou os seus haveres, porque era a casa de um juiz, e por isso
nele acreditavam a sua devolução .
Abside de concavidade, vulgarmente conhecida por prateleira em pedra, ainda guardadora da travessa grossa em madeira.
Um varandim em madeira já sem servidão...
Um forno
Livro das Memórias Paroquiais
A razão dos jesuítas aparecerem em Façalamim?
Segundo Padre Coutinho (…) importante herdade
e Façalamim referida no testamento da herdade do Alvorge, feita por D. Afonso Henriques ao
MSCruz de Coimbra, em fevereiro de 1141.
(...) Em 1566, as rendas da mesa prioral, primeiramente destinadas à capela de um colégio da Companhia de Jesus a edificar em Coimbra,
em Façalamim no termo da cidade, por terem sido unidas ao Colégio do
Espírito Santo de Évora, por bula "Ex solita", de Pio V, de 20 de Maio,
reservando-se os padroados das igrejas ao prior e cónegos de São Jorge.
As rendas da mesa conventual foram unidas ao Mosteiro de Santa Cruz de
Coimbra, para a reforma dos cónegos de São Jorge. Os caseiros deste
Mosteiro passaram a gozar dos privilégios e liberdades concedidos ao
Mosteiro de Santa Cruz e à Universidade de Coimbra (...) A aplicação das
rendas da mesa conventual e de parte das rendas do priorado-mor,
conduziu a um diferendo de que resultaram demandas entre o Mosteiro e o
Colégio do Espírito Santo da Companhia de Jesus, que se prolongaram até
1591, terminando com uma amigável composição e contrato confirmados pelo
papa Clemente VIII, em 1592, pela bula "In is que pro bono" de Clemente
VIII, de 21 de Janeiro.
(...)
O Mosteiro de S. Jorge de Coimbra não tardou a demarcar a imensa
propriedade de Façalamim com uma cruz grega centrada num círculo gravada. Depois
passou para a Universidade, desse tempo ainda se encontram alguns marcos
com a sigla V e DE, por baixo da primeira
significando "Universidade", ainda hoje se podem apreciar em vários
locais da freguesia, sobretudo no Alvorge.
(...) em 1758, o pároco cura anual,
apresentado pelo Reitor do Colégio da Companhia de Jesus, ao responder à
solicitação feita pela Academia de História, historia a freguesia de
Nossa Senhora da Orada, diz que tinha 71 vizinhos e 243 pessoas;
descreve a igreja, situada entre os Lugares da Granja, Moita Santa, e
Casais de Taulamim (Casais de Façalamim) , e da qual se avistava a de S. Tiago da Guarda».
(...) Em
1792 a Vintena tinha 8 fogos na Granja
(...) Compunha-se de duas Vintenas pertencentes ao concelho de Coimbra: a de Façalamim e a de Matos de Façalamim.
A Vintena ou concelho de Façalamim em 1792 tinha 67 fogos assim distribuídos: Façalamim ou
Granja, tenha sido aqui (com 8 fogos), Outeiro (10), Fazenda (3), Casais (20), Venda do
Basílio (4), Cochel (1), Freixo (19) e Pedreira (2).A Vintena de Matos de Façalamim no mesmo
ano era composta pelas seguintes povoações: Matos de Façalamim (9
fogos), Matos de cima (5), Estrada de Matos (4), Vale Cortiço (3),
Graminhal (7) e Casal de Raões (2 fogo).
Gravura da Ordem Jesuíta dovoto de Montmartre, pintura de Konrad Baumeister (1881) |
"(...) A Companhia de Jesus nasce dum pequeno embrião criado por
Inácio de Loyola estudante na universidade de Paris, com seis colegas de Espanha
Francisco Xavier, Nicolau de Bobadilla,
Deiogo Laínez, Afonso Salmerón, e de Portugal Simão Rodrigues e de França
Pedro Fabro, o único que era sacerdote, todos fizeram voto de pobreza,
de castidade e de dedicação à causa da Igreja Católica no dia 15 de
Agosto de 1534, na preparação para
realizar um trabalho missionário na Palestina.
Excertos de http://www3.uma.pt/jesussousa/Publicacoes/31OsJesuitaseaRatioStudiorum.PDF
“(...)
Todo aquele que nesta nossa Companhia, que desejamos seja assinalada
com o nome de Jesus, quiser militar como soldado de Deus debaixo da
bandeira da cruz e servir ao único Senhor e ao Romano Pontífice, Vigário
seu na terra, depois de fazer voto solene de castidade perpétua,
assente consigo que é membro de uma Companhia, sobretudo fundada para de
um modo principal procurar o proveito das almas na vida e doutrina
cristã, propagar a fé pela pública pregação e ministério da palavra de
Deus, pelos exercícios espirituais e obras de caridade, e nomeadamente
ensinar aos meninos e rudes as verdades do cristianismo, e consolar
espiritualmente os fiéis no tribunal da confissão.”
(cf. Rodrigues, F., 1931: 111).
(...) Em 27 de Setembro de 1540, o Papa Paulo III, pela Bula "Regimini Militantis Ecclesiae",
aprova a constituição da nova Ordem também denominada Companhia de
Jesus, então contando apenas 10 membros. A Companhia de Jesus surgiu com
o objectivo missionarista de espalhar a fé cristã, não estando então
previsto que fosse uma ordem religiosa especialmente consagrada ao
ensino. " (...) obteve mais seis residências, de que a segunda era a de Falsalamim, pelo facto do Colégio do Espírito Santo de Évora ter benefícios estabelecidos nesta terra."
(...) A 21 de Julho de 1550, Júlio III
confirma de novo a Companhia de Jesus com a bula Exposcit debitum a qual
aprova a Formula Instituti de Inácio, já corrigida e enviada às
diversas comunidades da Companhia." "Estava, assim, dado o tom ao ensino a ministrar. É
esta ambiência que chegará ao Reino de Portugal. Ao princípio, as casas
dos Jesuítas, ou sejam, os Colégios, eram locais de residência para os
jovens Jesuítas em formação. Mais tarde, a decisão de alargar o ensino
aos estudantes não religiosos contribuiu de maneira decisiva para o
crescimento extraordinário dos Colégios da Companhia de Jesus por
Portugal e Europa fora. É afirmação dos próprios Jesuítas que Portugal -
foi o país onde encontraram melhores condições de prosperidade, embora
os discípulos de Santo Inácio fossem iguais a si mesmos em qualquer
lugar. (cf. Carvalho, R., 1986: 359 360)."
"
(...)É hoje indiscutível que a Companhia de Jesus foi essencial para o
desenvolvimento do ensino científico na Europa entre os séculos XVI e
XVIII. Apesar do ensino não ter sido uma das atividades à qual
inicialmente Santo Inácio de Loyola e os seus companheiros se pretendiam
dedicar quando fundaram a Companhia de Jesus em 1540, cedo se tornou
uma prioridade. Em 1548 foi fundado o primeiro colégio a cargo dos
Jesuítas, em Messina, ao qual se seguiu a fundação de importantes
instituições de ensino em Portugal, como o antigo mosteiro de Santo
Antão, na Mouraria, é a primeira Casa que os Jesuítas possuem no mundo
inteiro em janeiro de 1542, o Colégio das Artes em Coimbra, 1553 e a
Universidade de Évora, 1559. Em 1580 a rede de ensino dos Jesuítas
contava com 144 colégios e, à data da supressão, em 1773, a Companhia
dirigia mais de 800 estabelecimentos de ensino É estabelecido que os
estudos realizados nos Colégios da Companhia deveriam ter como fim
ajudar o próximo “a conhecer e amar a Deus, e a salvar a sua alma."
«(...) Simão Rodrigues e Francisco Xavier foram bem acolhidos em
Portugal. D. João III acabaria por alterar o destino dos dois
jesuítas ;ao final de alguns meses, Francisco Xavier embarcou na armada
da Índia que zarpou do Tejo a 7 de Abril de 1541, integrado no grupo que
acompanhava o vice-rei D. Martinho de Sousa, enquanto Simão
Rodrigues permaneceu em Portugal para organizar as primeiras casas da
Companhia, os colégios, com destaque para o de Jesus em Coimbra e o do
Espírito Santo, em Évora, depois convertido em centro universitário,
e a preparação dos novos membros destinados tanto às missões internas,
quanto às do Oriente, do Norte de África (Congo, Ceuta, Tetuan e
estimulou a da Etiópia), do Brasil e acompanhou, desde Portugal, os
companheiros Fabre e Araóz a instalação da Companhia em Espanha. Sob a
sua responsabilidade estiveram, portanto, o recrutamento e preparação
dos jesuítas das primeiras missões brasileiras.
(...) Inácio de Loiola e os outros membros da Companhia tomaram a decisão
de abrir "Casas" ou "Residências" junto ou perto das Universidades onde
se formariam os novos membros da Companhia, como em 1540 em Paris e
posteriormente em Coimbra, Lovaina e Pádua. Só mais tarde é que essas
"Residências" se transformaram em "Colégios". Foi
em Portugal onde mais prosperou a nova Ordem, tendo crescido de tal
forma, que foi preciso abraçar institutos, casas e colégios, onde se
formavam e exerciam os ministérios da profissão na propagação da fé
cristã, num momento de restruturação da Igreja Católica. Diogo de Gouveia fundou em Coimbra o Colégio Real das Artes em 1542 por ordem de D. João III , começou a funcionar em 1547 depressa
alcançando um enorme prestígio, não só em Portugal mas em toda a
Europa, em virtude da elevada qualidade do seu ensino. Em 1555 veio a ser entregue à Companhia de Jesus.
(...) Em 1556, após a morte do fundador Inácio de Loiola, existiam em
Portugal, 40 Colégios aprovados, mas só 35 é que estavam em
funcionamento. A Companhia tinha cerca de 1000 membros, distribuídos em
110 Casas e 13 Províncias. Já estaria implementado a difusão do seu
ensino de qualidade reconhecida em mais residências para acolher filhos
de gente abastada que ingressavam na Ordem Jesuíta. Daqui partiram para
difundir a religião cristã em missões em África, Índia, Brasil e oriente
para o mundo. A lamentar hoje praticamente nada se saber quem nela
ingressou em Façalamim, e para onde foram.
A ruína que se enxerga a sul podia ter sido o noviciado?
Nas Memórias Paroquiais «(...)O donatário da Freguesia de
Nossa Senhora da Orada em 1758 era o Colégio do Espírito Santo da Cidade
e Universidade de Évora com 71 vizinhos e 243 pessoas.»
Em 1759, ocorreu a expulsão jesuíta de Portugal pelo Marquês de Pombal. Perdidos, sem rumo, o que fazer, em crer com refúgio no Colégio das Artes em Coimbra, fazendo a entrega da chave, ao Bispo D.
Francisco Lemos Coutinho. Senhor da Casa de Pereira, com costado na Quinta da Ladeia, o seu utilizador a
festins no lembrar da Maria da Várzea, o seu sogro com casa paredes meias ao paço lhe confidenciou
que o pai dele assistiu a grandes festas, e via chegar farto vinho do
Carvalhal para os padres.
Os jesuítas eram teimosos, voltaram a Portugal, em 1829 a 1834 , novamente em 1848 a 1910. A República ditou o exílio, mas, aqui na Granja jamais voltaram.
Nota do Padre Diogo
Mendes de S. Tiago
da Guarda em 1769,
a filial do vicariato d’Abiul, curato anual da apresentação da Madre Abadessa
do Real Mosteiro de Lorvão (…) recebem
metade dos dízimos, e primícias que lhes pertence por contrato antigo feito,
com os jesuítas do Colégio de
Évora, pelo encargo de curar aqueles moradores fregueses desta Igreja.
O destino destes bens?Após terem sido extintas as ordens religiosas em 1834, viveu-se uma conturbada vida de interesses com a divisão da
terra. Os pobres, fartos de tanta servidão mal paga, dito à boca cheia, surripiou
migalhas com escritura na mão, já que o Visconde da Guarda, sem filhos, nem
doação, a Santiago da Guarda, em glória o povo, atestou na toponímia...
Segundo o Padre José Eduardo Coutinho, parece
não ter sido o caso desta propriedade em que a mesma teria passado
indevidamente à posse de particulares, e, mais tarde descoberta a
ilegalidade, teriam sido os bens vendidos em hasta pública. Definha o paço, em agonia, quem lhe estende a mão?
A
dispersa bibliografia à acção jesuíta por tudo isto e muito mais,
incita a estudo ao suposto habitat romano, usado no legado
Al-Andaluz, pelos evidentes vestígios a poente do paço, com arcos fechados.
Análise, à icónica aguarela de Ansião, de Pier Baldi, de 1669, que o imortalizou, a ténue traço, entre o retrato da igreja velha e o da vila já esboçado !
O que os meus olhos veem!
Em cima os arcos a seguir à torre da igreja e em baixo o enclave a azul
Houve um seminário do bispado de Coimbra no Crucial de S.Bento, na Torre de Vale Todos, onde foram ordenados alguns padres, cujas ruínas ainda existiam em 2020 num quintal. Em resulto, no concelho de Ansião, existiram duas casas afectas a seminários (Jesuítas na Granja de Façalamim e do Bispado de Coimbra no Couto de Vale de Todos) com interesses, nas cidades que tinham ao tempo as primeiras Universidades - Évora e Coimbra.Contudo esquecidas!