Desconhecendo-se o ano que foi deliberado em Ansião, homenagear um dos seus filhos, o considerado mais Ilustre, jurisconsulto em Leis . Muito contribui a falta de aposta na digitalização do velho arquivo municipal.
Pese a boa vontade em ultrapassar a burocracia de preencher requerimento para investigar o livro de atas em arquivo, debalde, a falta de staf habilitado a decifrar caligrafias, ditou insucesso. Já a digitalização facilitava todos os que mais querem enxergar sobre o passado de Ansião, por hoje haver gente especialista que se predispõe, na cibernética, a ajudar terceiros nestas andanças culturais.
Falando do excerto de César Nogueira, não é certo se Pascoal dos Reis, nasceu nesse solar, dito dos Soares Barbosa. Provável no tempo, como esta casa, mais antiga que o solar dos Soares Barbosa, a entestar a estrada atual do Cimo da Rua, onde tenha nascido. Conhecida por casa da Ti Zulmira, que no interior tem uma grande escada em pedra.
A primeira escolha do feriado municipal
Se abone ter caído em descrédito, pela falta de apoio em iniciativa associada, sendo inevitável se vir a perder, já que era um dia morto, sem romagem de saudade ao cemitério, por estar sepultado em Lisboa, além do equívoco lançado na notícia na imprensa, de José Luiz de Macedo no século XIX - já não vigorar nenhum seu descendente em Ansião. E, assim culminar desterrado em esmorecida memória. De glória, apenas agraciado na toponímia na rua onde mandou edificar um solar, que não viu acabado e, na Escola C+S – debalde, atestado pela metade - Pascoal Melo Freire, a jus em 1889 em Lisboa - Rua Pascoal de Melo. A falta do apelido Reis - grave dolo aos seus descendentes, jamais a ele se identificar, agora sábios, em ribalta!
Livro nº6 atas da Câmara Municipal de 10/11/1953 a 18/05/1957
Ata nº8 Feriado Municipal 1955
Aos doze de abril de mil novecentos e cinquenta e cinco nesta Vila de Ansião, e sala das sessões da Câmara Municipal, no edifício dos Paços do Concelho (…)
(…) Seguidamente porque a revisão de feriados operada pelo decreto número trinta e oito mil quinhentos e noventa e seis ( Decreto nº 38596), de quatro de janeiro de mil novecentos e cinquenta e dois, veio abolir o feriado anual municipal que até então havia neste concelho, e porque se verifica a necessidade, a exemplo do que sucede noutros concelhos, de escolher e fixar entre as datas das festas tradicionais e características locais, o dia mais próprio para este efeito, a Câmara de acordo todas as entidades e actividades existentes, no uso das atribuições que lhe pertencem nos termos do décimo terceiro do artigo quarenta e oito do código administrativo, delibera por unanimidade fixar o dia de Quinta-feira da Ascensão para feriado anual municipal neste Concelho, por ser a data por tradição mais festiva, em que todas as famílias ricas, remediadas e pobres se deslocam em massa a três localidades sempre, estas denominadas “Nossa Senhora do Penedo, “Alto da Camporez” e “Venda Nova”, dentro da área do Concelho, e ali em boa harmonia se confraternizam alegremente “no dia mais feliz da sua vida” como é costume dizer-se na voz do povo. Mais deliberou a Câmara que esta deliberação seja submetida à apreciação de sua Excelência o Senhor Ministro do Interior, para efeito do artigo quatro do já citado decreto número trinta e oito mil quinhentos e noventa e seis (…)
Presidente de Câmara – Elísio Mendes de Oliveira
1973 o Decreto nº 262/73 de 26 de maio, artigo 1º
Autoriza a Câmara Municipal a considerar o feriado Municipal o dia de Quinta-feira da Ascensão.
Presidente de Câmara – Américo Gaspar
Reflexão
O início do ritual do Dia da Espiga no concelho de Ansião?
Perdido no tempo as memórias de ranchos armados de concertinas de Avelar, Aguda, Chão de Couce e Pousaflores; a pé, ou em carros de animais enfeitados com coroas de flores, confluíam ao ponto de encontro no Bairro, de Chão de Couce, a caminho da concentração na Venda Nova, já no limite de Alvaiázere, onde se faziam chegar os de Maças de D. Maria às clareiras de carvalhal. Nada mais que pura manifestação pública, intrínseca na génese alegre e musical do povo das antigas Cinco Vilas, a mostrar afirmação e poder, prestigiando a Igreja, abanada com a República, sabendo conjugar o “sagrado” e o arraial “profano”.
Em 1895, o concelho de Ansião afirma-se aos atuais limites pela anexação; Chão de Couce, Avelar e Pousaflores. Credível, este culto popular se reacendeu ou afirmou em novo ponto de encontro, agora central - ao Alto do Camporês.
Temos a notícia de 1945, que o comerciante do Fundo da Rua, Virgílio Rodrigues Valente, erigiu uma capelinha a NªSª do Penedo, na berma da estrada, a poente do ramal do Maxial, por motivos pessoais.
De crer que a escolha do sítio em rota da acostumada romaria em Dia de Espiga, por nela ser habitual forasteiro. E a inspiração ou divina, ou mérito próprio, sabendo que neste dia tinha gente para pagar a sua promessa. Conta a minha mãe que no dia de quinta feira de Ascensão o rancho saia de Ansião, e ao chegar à capelinha, ele abria a porta e distribuía papos-secos aos cachopos e vinho aos adultos, à laia do ancestral bodo aos pobres incrementado pela Rainha Santa Isabel e do pãozinho a Santo António, ainda costume na nossa terra. Os cachopos, sôfregos com o pão alvo, ficavam felizes, em geral só comiam broa. Logo depois o rancho seguia ao som de banjo e de canas rachadas, engalanadas a fitas de seda até à imediação atual da Ti Matilde. Poisadoiro alto do Reguengo do Camporês que foi dos Corte Real, sob um talude – afirmava-se grande a planura estéril, salpicada a calhaus, oliveiras raquíticas, vinhas e leiras de trigais, vestidos de flores campestres, a depenicar piquenique; petingas de escabeche, bacalhau albardado, queijo, chouriça, aguardente de ameixa burca e cavacas. Bem arraçoados, a modo de dizer “barriga cheia” em hora de sacudir a manta e abrir terreiro a bailarico para arranjar namoro que a muitos ditou casamento, ao som do acordeão; do Fariseu, o da Serrada da Mata, o da Teodora do Furadouro, o Ti Zé Simões do Cabecinho, o Silvita da Pereira, Ti João Silva do Pinhal Terreiro, o Fernando Lopes do Casal Viegas e, outros.
Contudo, é-nos desconhecida se esta tradição em comandita, também fazia chegar gente de Santiago da Guarda e do Alvorge. No livro de Jaime Tomás, não é abordada, só refere um adágio.
Depois do falecimento em 1959 de Virgílio Rodrigues Valente esta tradição ao Camporês, se tenha extinguido, por ele ter sido um forte impulsionador, e o mesmo ao novo ponto de encontro, na sua capelinha. O ritual em comandita acabou desvanecido pelos campos. Em meados de 60, os adolescentes do Bairro de Santo António, onde me incluía, em idade da inocência, pediam a carroça e o burro da Ti Virgínia André, e à sua boleira partiam alegres pelo Carvalhal até entrar em campo florido fazer o seu piquenique e depois apanhar a espiga. O adeus à festa da Espiga, no costume de pendurar o ramo na porta da cozinha, com uma moeda entalada para afiançar as riquezas invocadas no ramo para toda a família, que se substituía por um novo, no dia da espiga, do ano seguinte. Desvaneceu-se ainda mais com a globalização do 25 de abril, em prol da saída do concelho com o novo hábito de almoçar fora, quando o feriado devia ser vivido cá dentro, se desprestigiando a essência e o frenesim que representa um piquenique, a folia colectiva por juntar várias faixas etárias, afinal, o espírito agregador da tradição!
Sugere-se proposta de futuro
Há quem acredite que a Mudança politica em Ansião aposta e trabalha em sistema de equipa, definindo estratégias e objetivos claros aos desafios que se apresentam. Tenho dúvidas, pela alegada falta de coragem e de entusiasmo em mexer sequer tocar em dogmas, ao repto do compromisso assumido em campanha eleitoral - fazer sempre o melhor, envolvendo todos.
A nova aposta de medalhar quem se destaca a todo aquele(a) que de alguma forma valorizou o concelho, é medida importante, o mesmo não se pode dizer sobre os critérios de escolhas, que se revelam por si só uma amálgama politica, sem substancia...quando há gente que foi decisiva a divulgar a cultura concelhia e ainda está esquecida! E outros em dupla agraciados, enfim não há critério sério, ao empenho cultural, afinal o tópico!
Revitalizar o feriado municipal de Ansião, entretanto esmorecido, devia ser ensejo maior, o trazer de novo à ribalta e brilho, em proposta aliciante jamais antes assim idolatrada na premissa de manter a tradição e a carga cultural do passado, indo ao encontro do público-alvo, todas as faixas etárias do concelho de Ansião. Ao recordar a doce memória do povo alegre, de veia musical e de beleza intemporal que representa tão bem as antigas Cinco Vilas que valorizaram o atual concelho de Ansião.
Em linhas gerais aplaudo a iniciativa inovadora, tomando como pilar basilar repor dignamente o ritual do Dia da Espiga, o Feriado Municipal de Ansião, vestido de nova roupagem. No sugestivo convite a fomentar encontro do agrado a todos os seus munícipes, ao favorecer em definitivo, o sítio do Senhor do Bonfim, hoje adormecido no bom despertar anual, com pompa e circunstância ao jus e eco do que foi a festa inaugural após o 25 de abril, de grande arraial abrilhantado com o musical de Frei Vicente e da escritora Odette de Sant Maurice com as suas netas - Inês e Maria Medeiros, da sua filha Maria Armanda, casada com o Maestro Vitorino de Almeida, com raízes em Maças de D. Maria, no sineiro francês, Lavache.
Local seguro e aprazível seria compromisso de o manter o resto do ano, para piqueniques e caminhadas, com sugestão no verão na rentabilidade do bar aberto em terreiro limpo e asseado. Com aposta em passadiço da encosta para a Ponte Galiz, hoje de acessibilidade morta pelo IC 8,pela valia extraordinária favorecida pela sua localização, em encosta altaneira, sobranceira aos pés do Nabão, que deve ser limpo, com vistas abrangentes sobre a vila nascente e o IC8 . Em definitivo a projeção do corredor até aos Poios , dando a conhecer aos visitantes a mais antiga atividade de Ansião, a moenga nos Moinhos João da Serra, resta a sua ponte de laje de pé direito e ainda a levada , para se entender a sua funcionalidade tida no passado com a água desviada do Nabão, para alimentar o moinho e depois de cumprir a sua função, voltava de novo à ribeira e, mais outra vez e, outra e, tantas as vezes quantos moinhos houvessem como lagares e pisões até Tomar.
Ainda o ex libris do açude aos Mouchões e as suas tamargueiras, na frente do costado das Grutas do Calais, e de outra ponte castiça para em reviravolta tomar o corredor da via romana à Lagoa do Castelo, que deve ser limpa e de novo a descida ao Senhor do Bonfim.
Sendo expectável vir a merecer a confiança e aceitação dos seus donatários - Igreja e Bombeiros Voluntários de Ansião - na parceria a estabelecer, a meu ver deve a ser tomada pelo Poder Público, no cumprimento deste grande objetivo, revitalizar uma tradição em estonteante apoteose e merecido estrelato, quiçá no futuro conjeturar Candidatura às Sete Maravilhas da Cultura Popular, pelo contexto da paisagem natural de particular beleza que as pinheiras e os carvalhos seculares lhe conferem e acrescentam identidade ao seu valor histórico e sentimental do que foi a Quinta da Boa Vista. Ainda a iniciativa em desentupir o poço, que foi atulhado por falta de conhecimento histórico do local, e pode ser o acesso ao túnel que ainda é falado na boca do povo, e podia ligar ao vulgo mosteiro, e não terem sido arcos de volta perfeita, como outros falam, pelo desnível no terreno, não me parece plausível.
Fatal desejo vangloriar e respeitar heranças herdadas, por serem detentoras de Património Imaterial, de muita importância e aos valores etnográficos, usos, costumes e crenças dos nossos avoengos.
Acresce a definição de pelouros e responsabilidades, com sugestão aos Bombeiros Voluntários na limpeza dos espaços e podas, escolha do Sarau Musical e do funcionamento do Bar e o pelouro da Igreja, com os preparativos da celebração de Missa campal. A Câmara no justo e habitual compromisso de manter as acessibilidades condignas e transitáveis, com publicitação do evento e ao apelo da concentração na frente dos Paços do Concelho, estimulando a levar farnel, todos a caminho do Senhor do Bonfim.