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quinta-feira, 1 de março de 2012

O sol foi meu inimigo na feira de velharias em Vendas Novas!

Um dos meus colegas feirantes, o Sr. António GNR ,falou-me da feira ao 4º sábado. Acordei com auspício de bom tempo. 
Em Pamela no auto estrada entrámos uma nuvem tão densa e negra que se estivesse vento dizia que se tratava de um furacão, assustador.
  • Cheguei em cima das 9, fui a última a montar o estaminé. Só me estreei com livros!
Ninguém pegou nas minhas faianças, fiquei mais uma vez desolada. 
  • Dia de sol radiante, belo, como companheiras as laranjeiras carregadas de boa laranja, nisto dois ciclistas param, colhem cada um a sua e, à moda de bom alentejano sacam do seu canivete, as descascam para o caixote do lixo do passeio público. Saboreiam a iguaria, refrescados, o mais velho mete conversa comigo " você também compra?", respondi que não, para já queria vender coisas minhas que juntei na vida e, também porque não consigo descredibilizar o artigo do vendedor, dar-lhe uma "tuta e meia para ganhar o meu, como o vejo fazer por dentro de bancas outros colegas"  perguntei-lhes de onde vinham, disseram-me "somos mesmo filhos da terra, fomos a Pegões comprar pão agora para o almoço". Falámos ainda das Salesianas aqui radicadas, já em 71 quando frequentei a colégio mãe no Monte Estoril muito se falava e comia da sua quinta.
Pouca gente para apreciar e comprar seja artesanato seja velharias. 
  • Algumas mulheres de classe média passeavam-se com os maridos, escanzeladas de magras, apesar de elegantes, uma tónica que apreciei, já dos rostos não posso dizer a mesma coisa..."vai a gente encadear o olhar com uma silhueta esbelta e charmosa de costas, depois quando a vê de frente"... houve uma que me fez lembrar a duquesa de Alba!
Passa um homem de idade, mais de oitenta anos, um poeta com livros editados. Declamou-me um poema , no final fez-me uma pergunta que não soube responder e nem dela me lembro mais, na altura pareceu-me uma charada...coisas de gente velha, manhosa, que gosta de se evidenciar, sair em beleza...
  • Quiçá fui o seu orgasmo poético de sábado!
Não me chocou nada!
  • Adiante. Apeteceu-me ir comer uma bifana. Fui. Já nada é como dantes, agora o pão é aquecido e a bifana é tão fina que nem se sente...
Já comi bem melhores, apesar de ouvir rasgados elogios!
  • Conheci uma nova colega, a Luísa. O seu jeito de falar e andar fez-me lembrar da minha comadre Odete.
Boa rapariga, simpática, afável, sem rodeios, falou-me da sua aventura nas velharias. Vende à consignação, contou-me a estória do rapaz que lhe arranja a mercadoria...fiquei a pensar, quase que afianço que o conheço...ainda agora no domingo ele  me dizia "eu consigo é uma perda de tempo" fiquei danada com ele, porque na verdade fiquei sem saber o que exatamente queria dizer,a dúvida deixou-me  chateada. Ele ao que a Luísa me contou por razões do seu interesse foi viver para Montemor, a mãe já tinha um negócio de velharias, para angariar mais algum, começou a vir fazer a feira de Algés, porque do ramo só sabe e bem, pedir dinheiro, persistente, dificilmente abaixa o preço e tem um defeito que detesto, fazer o preço conforme a cara e o gosto do cliente. Esforça-se para aprender, sabe o que os clientes procuram, é especialista nas aquisições no colega do lado a preço razoável que depois triplicaaaa...viu-o progredir,  agora não sai das grandes feiras...
Das peças em si, pouco ou nada sabe, como os demais, não é esse o seu real interesse. Ao questioná-lo sobre o preço de um  pequeno prato, que mais uma vez demorou a dizer o valor, o que me chateia e muito, respondi-lhe " não é tão antigo quanto pensa porque é estampa  que só apareceu em Portugal em 1856..." olha espantado para mim, diz-me " acha mesmo que é estampa", claro, respondi eu...vira-me as costas e disse-me aquilo...
Se o meu palpite estiver certo, coitada da Luísa, o seu lucro é mísero. Ele estabelece logo à partida um alto preço a que ela acrescenta o seu lucro, 5 €...não é nada!
O sol aquecia, parecia verão, as cegonhas mantinham-se em alerta no campanário da capela real do destacamento do exército, horas e horas de pé em vigia do ninho, elegantes!
  • O meu marido foi dar uma vista d'olhos pelo recinto, ver a artilharia pesada, os tanques em exposição...um dia destes ainda os roubam para derreter, aquilo é só cobre e do bom, digo eu!
Na banca do Sr. António vejo um homem de "rodas curtas" a enfeirar, fiquei atenta, talvez ao passar pela minha banca também enfeirasse, debalde comprou-me um livro por 50 cêntimos...
Homem  castiço, atrevidote, dizia-se com dons para ler as mãos e, leu as dos meus colegas, segundo os felizardos acertou...a mim também me leu meia sina, sem antes o avisar "veja lá o que vai dizer, se me vai destapar a careca"...em abono da verdade só me disse que ia ter uma vida longa e uma morte na família a que respondi "desde que seja a minha sogra"...pior foi quando sem autorização me começou a meter as mãos nas costas, "é aqui que lhe doí não é ?"...perante a estupefacção dos demais e, de mim própria o homem mexia, mexeu, avançou, aí disse "já estou boa" , acabou a cena. Fiquei com a nítida impressão que o  homem  é tarado, um "lambe conas " olho tricolor para o esverdeado, traiçoeiro, velhaco, então não se apresentou de " rodas curtas"!
  • Fui tomar um café com a mulher do Sr. António, nem lhe perguntei a graça...curiosamente somos do mesmo ano, anda no nutricionista, pesa no momento 58 k, viro-me para ela e disse "sabe quanto peso 75 e , não pareço em relação a si"...conversa quente com o sol a escaldar sem chapéu, deveria ditar mais tarde a maleita, claro que fiquei com uma inveja pequenina pela sua teimosia  em se manter bem como o seu corpo, pois eu também tenho de emagrecer.Senhora, interessante, olhar azul sem cor, apagado, resquícios do cruzamento dos invasores franceses em 1810.
Nesse dia vi mulheres muito magras. Nalgumas faltava charme, sensualidade, elegância, ser senhora!
E isso felizmente eu ainda vou tenho...tempos idos que foi a roudos!
  • O Sr. António e a esposa arrumaram cedo a banca, possivelmente iriam passar por casa de um tal  forasteiro que o  vi a tirar a morada, para ver mercadoria. Arrumei de seguida. 
Não saia da esquina da rua  um homem tipo cigano, devia deleitar-se com as minhas costas, tanto abaixar para apanhar as peças, empacotar, julgo se derretia... o meu marido dizia-me.."muito gostas de mostrar o c..."estúpido, chamei-lhe!

Parei no Aki de Setúbal, finalmente comprei uma bancada.Assunto que dava para uma grande conversa, vou tentar encurtar. Devemos sempre ponderar bem o que queremos comprar. No inicio vi umas bancadas que achei o máximo,só via aquilo para mim.Todas as semanas  não perdia o jornal do Lidlel, quando finalmente chegou a hora, desisti porque lhe achei inconvenientes. Fiquei satisfeita por não me ter precipitado.Pensei noutras vindas da Polónia, estabeleci contato na feira da ladra para saber mais, por lapso de memória esqueci-me de ligar, o tempo passou , acabei por ver uma a montar, não me agradou, fiquei aliviada. Isto tudo para dizer que só com calma e ponderação se encontra a coisa mais acertada e mesmo assim com defeitos. No caso estou satisfeita comigo por ter dado azo à minha paciência sábia, também por ter visto a do Sr António a desmontar e a sua franqueza em me dizer onde encontrar material igual.
  • Muito satisfeita com a aquisição. Mal chegada a casa tomei um duche para me sentir bem, a gripe dava indícios, instalou-se sem pedir licença!
Acordei  mole no domingo com dores de garganta.
  • Decidi ir à feira de Algés. Fartei-me de comprar,boas peças, cheguei cedo, a maioria ainda arrumava as bancas.Já sabia que pelo menos duas seriam para a minha filha, assim foi, veio jantar na segunda e ficou com elas, um clarim em latão e bronze e um bule em cobre inglês, que me pareceu ser do norte de África feito por tuaregues.
De volta a casa para almoçar, um costume dos últimos tempos, um frango de churrasco degustado na varanda virada a sul, sob o chapéu de sol, uma boa salada, pão saloio, vinho e laranjas. 
  • Os sinais de gripe adensavam. Felizmente tive um rasgo de memória, lembrei-me que a minha  mais recente amiga Ana Mestre fazia anos, mandei-lhe uma mensagem que agradeceu.
Entrei definitivamente em estado de doença, todo o corpo me doía, forças zero, apetite nulo, dores de cabeça, tosse....mui frágil, passei horas deitada.
  • Melhorei. Já escrevo. Um bom sintoma.Estou em cima da hora para fazer o meu caldo verde, o apetite outro grande sintoma de melhoras!

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