quinta-feira, 6 de agosto de 2020

Convento da Graça e a Procissão do Corpo de Deus em Lisboa

Igreja do convento de Nossa Senhora da Graça em Lisboa. Construídos em 1291, e não escaparam ao terramoto de 1755. Foram reconstruídos em estilo barroco. 
Segundo Margarida Elias A história do Convento da Graça começa com a conquista de Lisboa aos Mouros, em 1147. Conta-se que entre os estrangeiros que participaram na luta liderada por D. Afonso Henriques, estavam alguns eremitas de Santo Agostinho, a quem foi oferecido um lugar no sopé de um monte onde havia um alpendre, em que estava a cadeira de S. Gens - bispo lendário de Lisboa, que viveu no séc. IV e cuja cadeira era objecto de veneração. Foi neste lugar, que corresponderia agora à rua do Terreirinho, que, em 1148, foi fundado o primeiro eremitério (cf. Santa Maria, 1707, 55; Araújo, [1938]- 1939, 38; Ribeiro, 1939-1, 50; Júnior, 1946, 49-51; Lima, 1950, 110; Santana, 1979, 295; Azevedo, 2011, 219). Sendo este lugar considerado «encovado, doentio» e «distante da Cidade», uma senhora nobre chamada D. Susana, decidiu doar aos eremitas o monte que «lhe ficava iminente» (Santa Maria, 1707, 56). Neste novo local, actualmente denominado de Senhora do Monte, os monges agostinhos edificaram um pequeno convento com igreja dedicada a S. Gens, visto que para aqui foi trazida a cadeira (Araújo, [1938]-1939, 38). No entanto, este monte era «falto de agua» e «exposto aos rigores dos ventos» (Santa Maria, 1707, 56), o que levou os eremitas a voltarem a mudar de lugar, desta vez definitivamente, instalando-se, na Almofala (futura Graça), em 1291 (Santa Maria, 1707, 56 e Júnior, 1946, 49-51). As obras do novo Convento, inicialmente dedicado a Santo Agostinho, aram em 10 de Fevereiro de 1271, com o apoio do rei D. Afonso III (1210-1279), sendo as instalações preparadas para cinquenta monges. O edifício estaria concluído em 1291, pois nessa data os eremitas mudaram-se para o Convento (cf. Lima, 1950, 112; Araújo, 1955, 49; Azevedo, 2011, 10 e 221). Acerca da data da consagração do Convento a Nossa Senhora da Graça, parece não haver consenso, embora o mais provável tenha sido em 3 de Março de 1305, depois de Frei Francisco do Monte Robiano, oitavo geral da Ordem, em cumprimento de um voto feito em Roma, diante da imagem de Nossa Senhora do Pópulo, ter ordenado que muitos conventos fossem consagrados a Nossa Senhora, o que aconteceu em Lisboa (Ribeiro, 1939-1, 51; Lima, 1950, 112-113). No entanto, a lenda da descoberta da imagem de Nossa Senhora da Graça, reporta-se a 14 de Agosto de 1362. Segunda essa lenda, a imagem foi encontrada por milagre, por uns pescadores de Cascais, durante a vigília da Assunção de Nossa Senhora. Uma criança de peito, filha de um dos pescadores, terá proferido que a imagem desejava ser levada para o «Mosteiro de seus frades», pelo que, no dia seguinte, os pescadores assim o fizeram e «entregaram processionalmente aos eremitas augustinianos a santa e milagrosa imagem de seu orago» (cf. Ribeiro, 1939-1, 51-52; cf. também Santa Maria, 1707, pp. 88-91; e Garcia, 2016).
O Convento de Nossa Senhora da Graça de Lisboa era masculino, pertencia à Ordem dos Eremitas de Santo Agostinho, ou Agostinhos Calçados também conhecido por Convento de Santo Agostinho de Lisboa ou por Convento de São Gens de Lisboa.
Tem um belo claustro e azulejos setecentistas como a sala do refeitório; a igreja com talha dourada e pintura em grisaille. Nunca abriu ao público, mas, depois de um restauro, abriu finalmente as portas para visitas em julho de 2017. Já a igreja, virada para um dos mais belos miradouros da cidade, é uma das mais conhecidas. Guarda uma imagem do Senhor dos Passos, que é levada numa procissão anual pelas ruas da cidade, na altura da Páscoa, mantendo a tradição desde 1587.
Fachada pombalina após terramoto com o símbolo da estrela de David do Marques de Pombal
OLISIPO Boletim do Grupo «Amigos de Lisboa Pag 149/0/1/2
»(...) a procissão do Senhor dos Passos da Graça tinha caracter exclusl\lamente penitencial ; era sobretudo desfilar de almas ansiosas de perfeição moral ou repêsas de males feitos, que acompanhavam a Imagem do Mártir por excelência. Porque se considerava o corpo inimigo do espírito, porque se tinha perfeita noção de que as virtudes espirituais não se alimentam dos gozos físicos, muita gente castigava a carne, na mira de forte· lecer e aperfeiçoar a alma, fazendo-o com tamanho encarnlçamento que as f ôrças a traiam e não lograva chegar ao têrmo da jornada. Os irmãos Iam de farricoco ; só pelos olhos, ou por algum defeito que os lndf\llduasse, poderia saber-se quem eram. Na testa da procissão marcha\la o trombeta clangorando notas estridulas. Era precedido por matracas de pau preto manejadas com presteza A aproximação do cortejo era anunciada pelos sons da trombeta e pelo rápido matraquear das argolas de ferro. Seguia se um guião negro e após êle vinha verdadeira multidão de penitentes, uns fustigando-se com disciplinas, outros caminhando de joelhos pelas pedras das calçadas de piso desigual, outros ainda, com reparos de coiro, arrastavam-se de rôjo por sôbre a areia, o rosma· ninho e a alfazema, que alcatifavam as ruas do trajecto. Iam ladeados por irmãos, que conduziam grandes bacias com vinagre e sal para os penitentes embeberem as disciplinas - o \llnagre aju· dava a fechar as carnes das feridas abertas nos troncos nus. Entre a legião de penitentes descalços havia quem buscava remir pelo sofrimento de um dia os pecados e o viver dissoluto de dõze meses, mas contava-se também quem se limitava a cumprir promessa lrreflectlda (por seu exagêro) que fizera em momento de autêntico desespêro. Dizia-se (aliás, diziam certos estranjelros) que de mistura com verdadeiros penitentes marchavam outros que fingiam sê-lo -mancebos da fidalguia que só se flagelavam sob os balcões de donde sabiam ser vistos pelas donas dé seus pensamentos, para lhes fazerem e creditar até que extremos ia a sua ... penitencile. As ruas ficavam salpicadas de sangue e não raro se topava com bocados de pele ensanguentada aderidos às pedras das calçadas. Em verdade era necessária energia sôbre humana para se percorrer o caminho de S. Roque até aquí, em postura difícil ou a retalhar as carnes em flagelação febril e continuada e quási sempre com os pés cortados nos vidros partidos, que algumas «almas caridosas» se davam à ((piedosa> tarefa de espalhar pelas ruas do percurso. Quando cá chegavam acima muitos dos penitentes vinham mais mortos que vivos, razão por que me repugna crer que o fizessem por ostentação ou vanglória. Vários cirurgiões e boticários assistiam-lhes e pensavam-lhes as feridas. E, como a terapêutica o recomendasse, confortavam-nos com doces e vinhos finos que a Irmandade e \lárias almas bem-fazejas mandavam adrede para a casa da cura. Daí o nome. Aquilo a que certo escritor chamou o •progresso do espírito humano•, mas que antes devera chamar-se a •progressiva vitória da carne humana•, faz que não compreendamos hoje estes extremos de mortificação e que julguemos impróprio de gen te civilizada o açoitar-se e flagelar se de mofa-próprio. Chegamos mesmo a formular juizos severos sôbre a conduta de nossos antepassados a êste propósito. Uma coisa esquecemos porém : é que êles faziam em si próprios aquilo que nós ainda somos capazes de fazer mas. . . só nos outros ! ... Em verdade aqueles suplícios (embora condenáveis por seus extremos rigorosos) tinham a virtude de ter latente o espírito de sacrifício, le\lado por vezes ao heroísmo. Hoje ninguém seria capaz de díscipllnar·se uma só vez. E não o seria por egoismo e, sôbretudo, por cobardia. O mêdo à dôr paralizaria o braço ao mais ousado. Por isso as grandes penitências modernas, as grandes mortificações a que as almas de nosso tempo se entregam com extremos de gôzo inefável, cifram-se, geralmente, em nao comer sôbre· mesa durante um mês ou em não andar de taxímetro durante uma semana. Custam muito, não o nego, envolvem louvável espírito de sacrifl· cio, sem dúvida, mas. . . não doem nada l .•. Atrás dos penitentes vinha o pendão rôxo com as quatro iniciais S. P. Q. R. e, depois, duas longas teorias de irmãos, com brandões de cera amarela, prolongavam-se até o andor do Senhor dos Passos, ante o qual marchavam, por sua ordem, sete anjos com os emblemas da Paixão - a Verónica, os dados e martelo, os três cravos e a torquês, o calix,  a lança de Longuinhos, a esponja que o soldado embebeu em vinagre e passou pelos lábios de Cristo, espetada na ponta de uma cana, para matar a sêde de que Ele se queixava e, finalmente, o escarninho /.N.R.I. que foi aposto na Cruz. Durante todo o percurso cala sôbre o andor verdadeira chuva de mimos e de esmolas - flores, trigo em grão, centeio, moedas de todos os valores - que os fieis lhe jogavam das janelas ou das bermas das ruas, onde se aglomeravam. Após o andor, que oito irmãos conduziam aos ombros, seguim-se vários eremitas augustinianos, de pluvial roxo e com os capelos negros dos hábitos postos pela cabeça. Por fim o pálio com o Santo Lenho e, no couce de tudo, alguns soldados e varas da justiça e compacta multidão, que ora rezava, ora cantava com fervor o lindo cântico da Via Sacra : Bem·dita e louvada seja A Paixão do Redentor, Que p'ra nos remir os pecados Morreu em nosso favor. Sete «passos» havia no trajecto da igreja dos Padres da Companhia à dos Gracianos e antes de cada qual se iam rezando, por sua ordem, cada um dos sete salmos penitenciais. O primeiro passo era ainda dentro de S. Roque e mostrava Jesus caminhando, com a cruz às costas, em direcção ao Calvário. O segundo, no largo de S. Roque, figurava a primeira queda do Redentor sob o pêso desmedido de Sua cruz. O terceiro era no Rossio e memorava o momento do encontro da Virgem Maria com Seu Filho nas ruas de Jerusalém. Cantava-se o dra· mátlco O vos omnes qui lransitis per viam! Atlendile e/ vide/e: si est do/or similis sicu/ do/or meus. E ao compasso da toada tristíssima do lancinante grito de angústia, da expressão da maior dôr humana - «Vede se há dor que possa igualar esta que me trespassa o coração l ?• - o ritmo das disciplinas acelerava-se, em todos os peitos se acendia o desejo veemente de sofrer, de ser por qualquer modo comparticipe da maior tragédia da História. Suas Majestades e Altezas, das janelas do Palácio da Inquisição, assistiam à passagem da procissão e davam exuberantes mostras de sua piedade. O quarto passo era na Mouraria, junto ao Arco do Marquês de Alegrete e representava Simão de Cirene ajudando a Jesus no transporte do madeiro ignominioso, que, mercê da Sua crucificação, deveria o mais glorioso padrão conhecido - o Símbolo do Cristianismo! O quinto passo - o da Verónica - era ao Boiformoso e o sexto, junto do Arco de Santo André, reproduzia a cena em que Jesus, ajoujado ao pêso da Cruz, exclama, dirigindo-se às filhas de Jerusalém - Nolile flere super me, sed supe1 filios vestros. Finalmente o sétimo e último passo - o Calvário - era dentro da Igreja da Graça, no altar do Senhor Jesus do Montoya. O incessante caminhar do tempo fez que tudo se mudasse e o caracter penitencial da procissão desapareceu. O farricoco da trombeta, um dos últimos vestígios do principio, deixou de figurar à cabeça do cortejo a partir de 1860. No ano anterior fôra pro'lbido, não sei porquê, que se cantasse o Bemdito vulgar, que já substltu"ira o lindo cântico iRicial. Todavia, nos últimos anos do constitucionalismo monárquico a procissão ainda era acontecimento de tômo na vida lisboeta.
Excerto de Olisipo : boletim do Grupo "Amigos de Lisboa", A. 2, n.º 7, Jul. 1939 Pag 147/8
Há aqui notabilíssimos azulejos do século XVII - painéis de Várias dimensões nos quais se historiam e glorificam feitos de eremitas augustinianos, que se notabilizaram, sobretudo, nas Índias Orientais e Ocidentais. Alguns tecem os rostos picados - como os retratos dos dois arcebispos de Braga, D. frei Agostinho de Castro e D. frei Aleixo de Meneses.A maioria, porém, está milagrosamente bem conservada. Neles estão representados martírios ou triunfos de Veneráveis e de Beatos da Ordem. E frei Pedro da Graça, que fez prodígios entre os gentios do rei no da Mina. É frei Diogo de Sant'Ana, que professou nesta casa, em 1594, e foi para a Índia com D . frei Aleixo de Meneses. Eleito prior do convento de Aspão, na Pérsia, reduziu à obediência da Igreja Romana a David, patriarca da Arménia, a 5 bispos seus sufragâneos e a mais 105 sacerdotes, que todos abjuraram seus êrros scismáticos, em maio de 1607. De tal modo se houve que até atraiu a amizade do Xá Abás. Era natural de Vila Nova de Lampazes, termo da cidade de Bragança. É frei Nicolau de Melo e é frei Guilherme de Santo Agostinho, ambos beatificados por amor do martírio que sofreram pela Fé em Astrakan, onde foram queimados vivos, em 2 de janeiro de 1616, após quinze anos de •horríveis cárceres, crueis açoites e contínuas afrontas•. Sao: frei Aleixo de Penafirme, frei António de Elvas, frei Inocêncio de Barcelos, frei Álvaro de Lisboa e frei Atanásio de Arronches, cujos apelidos mostram bem como Portugal inteiro se empenhava, ainda no século XVII, na grande obra da dilatação da Fé. É o açoreano frei João Estaço, discípulo, em Salamanca, de Santo Tomaz de Vila Nova, que desenvolveu inacreditável acção no México e no Perú e veio a morrer bispo eleito de Los Angeles, na Califórnia. É frei João da Cruz e frei Manuel da Nazaré e frei Gaspar de Lisboa. e frei António da Natividade, coluna da cristianização de Mombaça. É mais o índio frei Luiz de Orta, que foi prior de Mascate. E, finalmente, no lugar de honra, o grande painel glorificador da Venerável Dona Gativanda, rainha do Gorglstão, «irma e filha espiritual da Ordem de Santo Agostinho•, que o Xá Abás, imperador da Pérsia, mandou matar, em 25 de setembro de 1624, por ela não querer voltar à prática da lei de Mafoma-martirio de que frei Ambrósio dos Anjos fez uma breve relação manuscrita, outrora guardada na opulentíssima livraria deste convento. Ainda subsistem dois painéis alusivos ao Beato João de Estremoz, outra glória dos eremitas agostinhos portugueses; foi aqui Irmão leigo e morreu em cheiro de santidade e com fama de santo em 1517. Diz a história que, sendo ainda secular e estando em vésperas de contrair matrimónio, lhe apareceu Nossa Senhora da Graça (perto do Lumiar, onde residiria) e lhe disse: -«João, vai a minha casa e faz-te religioso nela». E êle assim fez. É o assunto de um dos quadros; por sinal que tem as letras ao contrário e é preciso ler a frase da direita para a esquerda. O assunto do outro painel atesta a extrema caridade do fradinho - representa-o distribuindo o pão do convento pelos pobres.

Olisipo : boletim do Grup
Famosa foi também a imagem de Nossa Senhora da Pérsia
Reza a tradição esteve em Ormuz, foi levada para a Pérsia quando Portugal perdeu esta praça forte (1622). Os frades agostinhos conseguiram comprá-la, enviaram-na para Goa e em 1644 veio para Lisboa.
Altar de Nossa Senhora do Rosário
De grande devoção de negros e escravos. A virgem está acompanhada de quatro santos negros - Santo António do Noto, São Benedito de Palermo, Santo Elesbão e Santa Efigénia

Segundo a DGPC encontra-se classificado o túmulo de D Mendo  de Foios Pereira nascido em Tomar em 1643  e faleceu em Lisboa em 1707.  O poderoso e influente secretário de Estado de D. Pedro II, e o seu irmão António Botado, bispo de Hipona, financiam a construção da nova sacristia (barroca) e fazem-se tumular no local. Pedro Alexandrino de Carvalho pinta no teto várias alegorias 

A Igreja da Graça jazida de três governadores da Índia
Excerto OLISIPO - Boletim do Grupo «Amigos de Lisboa»  Pag 159 (...) Porque o padre Carvalho da Costa dizia em sue Corografia que se esperava (cerca de 1712) que a sepultura dos condes da Ericeira subisse brevemente a maior grandeza, é evidente que o jazigo dos nobres senhores do Louriçal devia desluzir do conjunto. Efectivamente o códice manuscrito n. 0 675 de Livraria da Tõrre do Tombo confirma este hipótese (apontamento do reverendo Padre Ernesto Sales para a refundição atrás referida). 
Diz.se lá a fls. õ e 5 vª : No presbiterio da capela mor, da parte do Evangelho, ae acha um arco de pedra e dentro dele •hum tumolo de pao velho e tosco• e nele se lê este epilofio - Esto capelle he de Dom Diogo de Menezes, conde do lriceira, do conselho de Estado del rei Felippe terceiro e seu Mordomo. Dotarão na seos testamenteiros em 251 reis (25 000 cruzados) para seo jazigo e de D Henrique de Meneses seo avou que foi governador da Índía. Tem tres missas as quotidianas, e dous enniversarios como consta das escripturas que estão no cartório deste convento. Faleceo em Madrid em Março de 1635 e foi trasladado o seu corpo pera este sepultura em 4 de setembro de  1639. Sobre o túmulo estão as armas dos Menezes pintadas na parede ; por cima do escudo das armas está outro escudo com uma espada de Santiago, e no remete do arco de capeie mor se achão as armes dos Menezes, e nos dois últimos pedestais embutidos das grades da capeie mor se achão embutidas as armas dos Botados.
Esta capela fez Lopo Soares  de Alvarenga
Segundo a Wikipédia - Em 1472, instituem capela no convento, Rui Gomes de Alvarenga e D. Melícia de Melo, pais do III vice-rei da Índia Lopo Soares de Albergaria.
A  24 de março de 1506, data da sua partida para a Índia Afonso de Albuquerque, deixa um testamento instituindo uma capela na igreja do convento da Graça, onde estavam sepultados seu pai e seu bisavô.Em 1530 é legalizada a cedência da capela, chamada de São Fulgêncio (actual  baptistério) mandada edificar na antiga sacristia pelo referido Lopo Soares de Albergaria, para si e seus herdeiros, onde se encontrava sepultada sua mulher, D. Joana de Albuquerque. Como sua descendência vem cair nos Vaz de Almada, por sua filha herdeira ter casado com Fernando de Almada, e serem senhores de Pombalinho, (que comprou ao Conde de Penela). Nascido cerca 1442, em Lisboa e falecido depois de 1520, em Torres Vedras.  Precisamente por igual razão, passaram a ser estes a usá-la para sepultar os seus representantes. Essa prerrogativa dura pelo menos até 8 de Março de 1865, nessa altura ainda na posse dos  condes de Almada.
Cansei-me com as velhas beatas da sacristia que não me deixavam tirar fotos aos túmulos...e quando se distraiam lá fui tirando, mas pelos vistos não as tirei todas...
Em Agosto de 1843, foi destruída a Capela do Senhor dos Passos, sita no claustro, por ordem do Coronel Anselmo de Noronha Torresão
Marmoreado do chão
Sentada num banco namoradeiro
O que se vê de idílico  para lá da janela...erva
Fontes
OLISIPO - Boletim do Grupo «Amigos de Lisboa» https://www.jornaldapraceta.pt/lisboa/page5Bairros.html
https://www.jornaldapraceta.pt/lisboa/page5Bairros2.html
Wikipédia
DGPC

domingo, 28 de junho de 2020

Os quadros de Malhoa da família Rego da Quinta de Cima nas mãos de conterrâneo!

Retirado excerto do anuncio de leilão de setembro de 2019
Esta obra vem ilustrada no catálogo da exposição do "Cinquentenário da Morte de José Malhoa", IPPC, 1983, pág. 63, cat. 58, com o seguinte texto sobre a obra: "Quadro pintado a pastel na residência do Dr. Alberto Rego, na Quinta de Cima, em Chão de Couce, esta obra firma-se como um magistral retrato na obra do Mestre. // Segundo o testemunho de Moreira da Câmara «Malhoa apreciava muito a cultura musical e a arte das interpretações em violoncelo» do retratado, por isso fez questão em passá-lo à posteridade acompanhado desse instrumento. Neste trabalho se insere uma curiosa fotografia (op cit. pág. 6-7) que documenta uma das sessões de pose deste médico de expressão amigável e jovial. // É este um dos momentos de extrema importância na obra de Malhoa. Estamos em 1919 e ele perdera a esposa, golpe duro que atingiu a saudável alegria do pintor da Estremadura, inibindo-o de pintar. É na Quinta de Cima, a convite do grande amigo, que Malhoa se reencontra com a natureza e com a sua arte. Pinta então este retrato nessa técnica que nos faz lembrar os pastelistas franceses, no esmerado entendimento de volumes e cores. A expressão é serena, entre o grave e o risonho duns olhos que repousam sobre nós com bonomia e sobre o pintor com admiração. // Com efeito, a relação do artista com esta família da região que incansavelmente pintou é de profunda amizade e mútuo respeito admirativo. // (...)"
O Dr. Alberto Rego e a sua Mulher eram proprietários da Quinta de Cima, em Chão de Couce. Neste local recebiam todos os anos o seu grande amigo, Mestre Malhoa, (como sempre foi chamado), que lá ia passar uma temporada e onde tinha um quarto só para ele. Outros amigos ilustres do casal aqui retratado a pastel, faziam também parte de tertúlias de arte, como Carlos Reis e Maria de Lurdes Mello e Castro, e de ciência (como Egas Moniz), que aconteciam na Quinta de Cima com frequência, no início do século passado. Neste local idílico, vários quadros foram pintados: "Vou ser Mãe" (Malhoa realizou vários estudos e o quadro definitivo nos sobreiros da mata da quinta); "O Emigrante", (a dar uma última olhada para a sua aldeia de Chão-de-Couce, com a serra da Lousã ao fundo); "Retrato do Dr. Alberto Rego" (na sala da Quinta de Cima) - há uma fotografia do Mestre a pintar este quadro, publicado no livro sobre José Malhoa editado pela INAPA, pág. 24; "Outono"; "Milho ao Sol"; e o "Retábulo da Igreja de Chão de Couce" - última obra do Mestre, retratando Nossa Senhora da Consolação: "É que os artistas vivem insatisfeitos" - o grande pintor Malhoa confessava ao Dr. Alberto Rego, em carta de 12 de Junho de 1932, a propósito do Retábulo para a Igreja de Chão de Couce, última obra que sua mão assinou: " Ah! meu amigo, vim ao mundo com olhos e coração de artista, o que quer dizer que tenho tido uma vida de torturas! Se a arte nos dá algumas horas de encanto, sucedem-se não horas mas dias e meses de lutas constantes procurando atingir o que tão difícil é: realizar o nosso sonho!"; "Lavadouro" (na mata); "Velhinha a Rezar"; entre outros. Ainda a título de curiosidade, o brasão de Chão de Couce representa a paleta do mestre Malhoa, a serra da Lousã, e um Castanheiro da Mata da Quinta de Cima.

Vida efémera dos quadros, haviam de voltar a passar por mais três iguais  vicissitudes...
Finalmente um nosso estimável conterrâneo, visionário levado pelo saudosismo e da glória vivida por gentes do seu concelho - ANSIÃO, os adquiriu em ação benemérita e sobretudo cultural ! 

Mal publicada a crónica recebeu comentários que decidi abaixo transcrever
Por  já serem públicos a sua partilha o foi pela carga emocional, cultural e do feliz agrado e manifesto que a notícia desplantou no Grupo Ansião, com forte visualização no Blog, em substancial interesse para mais despertar a quem está adormecido e neste acordar no futuro ponderar sobre obras desta envergadura não voltarem a sair do concelho. Refuto em aclamação que toda a arte de mãos  dadas com a cultura, neste caso com a pintura,  produzida para o concelho de Ansião jamais devia daqui sair - o lema passa por a estimar, preservar, saber manter e quando não há herdeiros diretos devia haver alto gesto altruísta, filantropo e doar ao concelho, para vigorar eternamente o seu legado e nome de família!
Em última instância doadas para o seu futuro Museu na vila de Ansião, mais perto do que Nunca!

José António Marques Vaz 
Pena que alguns belos e desconhecidos quadros de José Malhoa tenham sido vendidos pelos herdeiros da Quinta há alguns anos. Apenas refiro uma versão inicial do "fado" com pequenas diferenças em relação ao conhecido e que durante muitos anos esteve na sala do primeiro andar.
José Lopes
A arte é um ativo muito apetecível, pena que a maior parte é vendida e sai da vista dos comuns mortais.
Preciosa Medeiros
Sério que os herdeiros venderam estas obras?
Tristeza!!!Tristeza e vergonha alheia...pra dizer o mínimo
Jorge Fazenda
A arte e a cultura... tão humilhados pela sociedade abstrata e fútil! 
Parabéns ao benemérito!
Essas obras têm um local.......

Gesto altruísta do benemérito agora mais rico...
Faltam-me palavras para agradecer a formidável partilha deste meu mui fiel amigo sempre presente, de grande coração e suposta gorda carteira, a se evidenciar bom amigo de Ansião, a quem solicitei para divulgar a notícia do bom regresso dos quadros, confidenciou ainda quando sentiu que os quadros do casal se separavam em mãos diferentes, o derradeiro contrapeso na decisão de os comprar,  o tenha sido em acto destemido o querer mayor do seu regresso a casa,  em glória , pese por hora no anonimato, por segurança, o certo, de novo vieram de Lisboa para o seu chão  no concelho de Ansião, na fatal  firmeza o seu alto  amor às raízes, em subtil excelência e ribalta!
Óbvio não direi de quem se trata.
A seu tempo ele próprio terá esse gabarito por direito, a mim basta-me reconhecer que me tem em boa conduta cultural para confidenciar tão grande riqueza, a que agradeço o alto deferimento !

Retrato do Dr. Alberto Rego
Pastel sobre papel. Assinado (1919) .Dim.: 55 x 46,5 cm.

      
                             
Tardoz do quadro inédito
                   
Retrato da Senhora Elvira Rego
Pastel sobre papel. Assinado e datado de 1917. 54 x 46 cm           
                    
Tardoz do quadro inédito
                  
Retrato de Dama de 1898 
Pode ser da região de Figueiró dos Vinhos
Importante  no Museu encontrar uma foto de família importante  à semelhança  desta dama
Malhoa pintou a condessa de Proença a Velha Maria de Melo Furtado Caldeira Giraldes de Bourbon o retrato dela de 1896 

No primeiro impacto julguei tratar-se da dama ser a condessa...1899
Outro quadro de Henrique Pinto  na sua coleção
Pintura de Figueiró dos Vinhos ? em plano as couves galegas e o alpendre antigo com colunas redondas
Aguarela  de João Ribeiro Cristino, fazia parte do  grupo Leão
Também na sua coleção
Cortesia do mesmo donatário e guardador dos quadros Malhoa que foram da Quinta de Cima com um retrato de Malhoa oferecido a Alberto Rego sobre o estudo (31) do quadro Emigrante (34)
Se a foto foi tirada por um fotografo do Porto, naturalmente foi por al que tirou a ideia do emigrante (?)
Os quadros de donatários da nobreza rural do concelho de Ansião deviam no futuro a ser espólio do Museu da vila de Ansião, por serem do Mestre Malhoa - a mais valia de nos enriquecer em património e  chamar o turismo!
Assim num ápice o meu préstimo cívico em contributo  a partilhar história e arte, no meu direito de cidadania!

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