quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Estafada na malfadada sorte, ou boa, de tanto trabalho na casa rural...

Neste agosto finado estive por duas temporadas na casa rural onde me esperavam imensos afazeres.
Com dificuldade retirei pedras embrulhadas em grandes ervas, no acaso descobri este gafanhoto cor de laranja na parede crispada do muro do patim...deu tempo de tirar luvas e ir buscar a máquina...
Logo de manhã abria as janelas que só fechava mal a noite caia, por causas das melgas, ainda assim  me assolaram, devem adorar o meu sangue, ao meu marido não lhe tocam, com ar maroto me interrogava a razão de todos os dias manter os lençóis ao sol pendurados nos parapeitos... não que a pergunta não seja pertinente, habituado foi a ver a mãe na outra casa, mal chegava de imediato punha a roupa ao sol para aliviar os cheiros a mofo -, aqui o problema é outro e terá de ser resolvido a seu tempo. Os barrotes do telhado com o calor largam pó escuro de fuligem, do acumular de anos sem chaminé, e os tetos em madeira da casa  também ressequidos, apesar de envernizados, no verão abrem brechas, que sendo pequenas o deixam passar, com isso tenho de ter tudo tapado...
Não resolve varrer o sótão, porque quem poupou  em tempos, sem visão, fez asneira, ao aqui mandar pôr tábuas tortas de refugo, na vez de direitas e justas...teria sanado este inconveniente!
Estudo a forma de viabilizar este dilema, que passará por retirar as tábuas, aspirar o tabuado dos tetos da casa, cobrir com plástico e cobrir com novas tábuas.
Mas tudo requer o seu tempo e provisão financeira. Porque não se deve "tapar buracos" a solver situações, tem de se pensar em tudo, e nessa altura talvez reabra a janela a sul que um dia foi fechada.O que me deixava francamente encantada!
Espantada com a pereira Rocha carregadinha ...
Nunca apanhei tanta fruta nos quintais...
Duro foi roçar os quintais, na volta dos jardins, na frente da casa e na valeta, que é bem comprida. Nada se via, nem os muros, nem as pedras, nada, tudo se mostrava um autentico matagal!
No pior fomos surpreendidos com ninhos de vespas, logo três que dizimamos, num deles, atrevidas picaram o braço ao meu marido que nessa tarde deixou o trabalho, tive de me virar sozinha...de braço inchado andou dias, nem vinagre, nem álcool, nada resolvia, e durou dias!
  • Da próxima vez este espaço onde estaciono vai estar calcetado e os jardins debruados a lancil com 20 cm em cimento que pintarei a branco.
O meu marido estoirou de raiva de tanto puxar o cordel da roçadeira e da moto serra , sendo que a primeira teimou deixar de trabalhar, outro remédio não teve que se pôr de novo ao caminho para pedir outra emprestada.Enquanto foi e veio, limpei este terreno que também vai ser calcetado.
No pensar em abreviar o futuro, e nele melhorar condições de bem estar, agora que está a chegar o meu neto, decidi  resolver de vez a acessibilidade na entrada  da casa e arredores dos jardins-, assim daqui a dias vou de novo sair para acabar tarefas que deixei inacabadas, retirar pedras que contornam os canteiros, cortar dois pinheiros caídos com os temporais, já agendei trator, e ainda a empreitada com a calçada que vai dar água pela barba...
Este pote já foi retirado porque onde estava vai ficar uma rampa de acesso ao quintal.

Serão dois patamares calcetados, com rampa de acesso ao quintal, e ainda um corredor defronte do jardim da eira.Pelo menos estes espaços mudam de aspeto.
Não mais descuido os óculos no trabalho agrícola, difícil é esqueçer quando tive de ir para o hospital com as dores na vista  ...mas que cara de saloia cansada!
Foi de tal ordem intenso o trabalho e árduo, e sempre por mim programado dia a dia, já não bastava pensar na comida e noutras tarefas que chamo a mim. 
De manhã bem cedo mal tomado o pequeno almoço o ritual de descer ao patim para calçar as botas e as luvas, na cesta levava a ferramenta que precisava( foice, tesoura de poda, serrrote e a garrafa de água) até ao meio dia com paragem para almoço e sesta merecida.De novo ao trabalho entre as 4 ou 5 até às 9 H.
O cansaço foi de tal ordem extraordinário que até para tirar a roupa se mostrava difícil, por estar agarrada ao corpo suado e ensalado , tanto sal se destilava  na transpiração, que nos descia da testa e caia nos lábios salgada...Os litros de água que se bebeu!
Um final do dia o meu marido se mostrava aflito para tirar o macaco, sem o conseguir debelar dos ombros, por estar colado ao corpo,  não foi de modas-,estropiou -o num rasgo entre pernas...
O banho naquela casa é do melhor, sabe bem sentir a água quente na dor que alivia a pele e os ossos, armada de pedra pomes  na mão a gosto de passar na planta dos pés... de seguida dava corda  aos chinelos e ia tirar os lençóis das janelas para fazer as camas, alinhavar a janta , sempre a ouvir musica... 
Mal a cozinha arrumada, e os Santos alumiados na sala deitados no caixote de madeira para endireitar a coluna dorida, tal demasia do esforço de tanto abaixar e andar com  a forquilha .
Difícil o levantar do caixote, só com ajuda, ainda assim com calma para deitar na cama, dilema para virar de posição, tinha de pedir licença ao corpo...alívio sentia a ouvir  o programa "Oceano Pacífico" na quebra luz ditada pelo candeeiro de 3 lumes com os chapelinhos verdes, naquele gosto frenético de sentir a casa, sem aparente conforto, ainda assim confortados!Porque os ratos que dançaram no sótão a noite toda,os dizimámos no dia seguinte!
Pois, pois, não pensem que seja desleixo, trata-se de raça do diabo, sem nada, absolutamente nada, para comer! As cortinas de linho estavam hirtas de sujas pela humidade do inverno e do calor ...
Só trabalhos!
O quintal é ladeado a nascente e a poente por estradas alcatroadas, numa delas, junto do meio dia, sentia-se o apito do sardinheiro. O meu marido lança-me o mote para me por na frente da casa para quando passasse da volta lhe comprar sardinha. Apesar de ter almoço agendado também me apetecia, dei corda às botas a subir o quintal, abri a porta do hall estrategicamente o esperei  na estrada com  a almofia. 
Sardinha é sinónimo de se comer na cozinha velha. Num ápice acendi o lume com vides secas para rápido brasido.
Sob a trempe a panela cozeu as batatas,  fiz  salada, mesa  posta ,onde não faltou o bom vinho da Régua que trouxemos do passeio o ano passado.
Após a sesta no primeiro dia um passeio até à Quelha do Vale para apanhar amoras -, a aguardente que sabia a mofo do medronho pela demasia de tempo em efusão,  em horas com a minha ideia, ficou de sabor, uma maravilha.
Perdemos o número aos montes de erva deixados no terreno, que em outubro serão queimados -, as borralheiras!
Lancei convite à minha mãe para vir passar um dia connosco, chega-se em cima do meio dia bem disposta, e feliz por ter trazido o carro pela serra, sempre são 80 anos, nas mãos trazia uma cesta com queijo fresco para se comer com doce de tomate, que tinha feito de véspera,  divinal, e outras gulodices, estufei carne de vaca em lume brando que acompanhei com legumes, batata, cenoura e lombardo que cozi no panelão do cozido, ela adorou ver-me no meio dos tachos farruscos, deliciou-se maravilhada.
Lavei a loiça em alguidares, enquanto isso eles foram descansar, em bicos de pé dirigi-me para a cama da minha Dina, a minha mãe ficou na sala na cama/sofá, e não dormia, excitada com o silêncio, as recordações, a mirar tudo e a dizer, o que tens para me dar?...
Mostrou interesse em rever o sítio onde nasceu, fomos os três, dei-lhe um chapéu à cowboy que seria novo, nunca antes estreado, sendo que os ratos na garagem já o tinham estreado sem pedir licença...  
Uma coisa que adora é regalar-se com a sua eira  retangular em xisto .
As selfies na quelha do Vale
Apanha de louro na margem do ribeiro da Nexebra em frente o sítio onde nasceu
No dia seguinte deu trabalho a limpeza do quintal de cima, cuja barreira já deveria ter sido suportada por talude de pedra, conforme ofício que tenho da câmara, não sei quem ficou com o dinheiro (?) , porque não foi feito! Avizinham-se novos desmoronamentos, constatei fissuras grandes no terreno, com as primeiras chuvas mais terra vai cair. Duro foi cortar giestas,que o avô do meu marido em tempos idos plantou uma para fazer as vassouras e claro no tempo se multiplicaram, se agarram na lamina da roçadeira, um frenesim! Silvas grossas irrompiam em altura, enlaçadas nas árvores, com luvas de cabedal atirei-me a elas até "cair de cu"...para as cortar com a foice... 
A courela de carvalho americano, nem se distinguiam pelo emaranhado de vegetação, a teimosia de a limpar foi grande, apesar de contratempos, o meu marido não distingue a maioria das árvores, com isso cortou " o cebo a algumas"...tive de me resignar, porque chateado não faz nada!Se não fosse persistente e amante deste trabalho nem um terço teria sido feito...Sei do que falo!
Ainda limpei um ribeiro e metade de outro que acabo agora da próxima vez, maldita sorte ao saber que andam os Serviços Florestais a receber Fundos comunitários para os limpar...
Desbaste  grande a ameixeiros bravios que nestes terrenos argilosos são férteis,  picam  que se fartam, deixei as canas por falta de tempo, apenas deixei algumas  limpas a secar  na eira para as empas do feijão verde no quintal da minha mãe, a sua pequena horta que a distrai em ginástica.
Para não falar das nódoas negras, das brutais quedas a puxar silvas ... na praia do Osso da Baleia fizeram furor, até parecia violência doméstica!
Estafada na malfadada sorte, ou boa, de tanto trabalho...
Nos dias de estada não deslindei ninguém no mesmo ofício, apenas carros para cima e para baixo a todo o tempo, pelo meio cachopos a chapinhar numa piscina insuflável de imigrantes na Suíça.Ouvi gritos hilariantes que subiam em fuso pelos outeiros...sabe tão bem ouvir as crianças! 
Ao entardecer parei o olhar numa ave de grande porte de penugem igual a falcão ou águia, voava a baixa altitude em viagem silenciosa em passeio a controlar o nosso trabalho, bandeando-se  em voo elegante a caminho do Vale Cego...
Pois a roupa de trabalho aqui tem de ser especial, e confortável, apesar do calor o uso de mangas compridas, calças, para proteger a pele, botas de borracha com meias, o pior são os carrapiços que se agarram como lapas!

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Núcleo Arqueológico da Rua dos Correeiros no Millenium BCP

A semana passada fui a convite da minha filha a Lisboa para uma degustação numa tasca alusiva à gastronomia da Ilha da Madeira para seis pessoas, éramos quatro e meio!
Gosto desta escultura de mãos unidas, senti o calor que irradia delas...
Na chegada ao Cais do Sodré dei conta de um estaminé de chão prostrado pelo chão abandonado sem dono...e os sacos já iam na correnteza do vento
Em rota de passeio pela beira do rio Tejo a fazer tempo para o almoço programado na Rua do Ouro
Ainda hei-de voltar à escultura e posicionar-me em cima das letras para ficar ao centro...
Novos relvados ribeirinhos fazem as delícias de turistas desinibidos se descascam em plena capital!
Também me prostei na frente da doca seca do antigo Arsenal de Marinha
Ao cimo nem me tinha dado conta das barras em madeira tratada, deviam ter custado "um colhão de euros" ali a meu ver só servem para cortar a luz e sol do que está por baixo, que não sei se estacionamento, ou outras áreas fechadas. Acredito poderiam ter optado por outro material menos perceptível, mais duradouro e mais barato...
A Doca da Caldeira de águas limpas finalmente valeram os reparos escritos, não deve ser só coincidência!
No Terreiro do Paço altos slogans publicitários # PERDIOCORAÇÃOEMLISBOA
O barco que anda em terra...um dia destes vou conhecer in loco
 
Fascinação senti como se estivesse em Paris! 
No mesmo sentir do rio, no olhar das pontes, da liberdade de me deitar na relva, de lembrar o Arco do Triunfo quando passei debaixo do Arco da Rua Augusta, de recordar o Louvre ao dar de caras com o não menos importante, apesar de reduzida escala, do espaço Arqueológico do Millenniumbcp...que já conheço em duas visitas, mas o meu marido não, por isso não fui de modas deixei hora marcada para a visita das 3 H e das montras...
No desfilar da rua o chique dos manequins, na antiga loja de charme New York a pensar em ser avó, derreti-me com as fatiotas!
 A fazer tempo estivemos sentados num banco numa transversal e reparei num painel de azulejos que me fizeram lembrar o meu tempo de criança em que a minha mãe me comprava nos bazares em Coimbra jogos da Majora (xadrez, trajes típicos portugueses, e...)
Foi de comer e deixar...lapas, pão do caco, boa carne e peixe espada, bolo de mel e tradicional , poncha de maracujá, cerveja, granizado de gelado... 
Lapas...
Em cima da hora da visita do Núcleo Arqueológico da Rua dos Correeiros ainda o registo junto desta cabeça de vaca na Rua Augusta...
No Edifício do Millennium bcp da Rua Augusta no 1º andar decorre uma exposição de sardinhas e no r/c há paredes com elas forradas.
O edifício principal é separado de outro em paralelo, entre eles existe um corredor largo a que se chama saguão-, muito usado nesta arquitetura pombalina para combater incêndios.
II IDADE DO FERRO - A INFLUÊNCIA ORIENTALIZANTE
 A primeira ocupação humana continuada e documentada no espaço hoje ocupado por este Espaço Arqueológico remonta aso séculos V - III a. C.A cidade cresceu na direção do rio e seu esteiro, surgindo um bairro portuário e comercial.
A este bairro pertenceria o conjunto de compartimentos retangulares encontrados durante os trabalhos arqueológicos. Nas suas caraterísticas construtivas incluem-se o embasamento em pedra, as paredes em adobe, a cobertura vegetal (foram recolhidos abundantes fragmentos do seu revestimento em barro),o pavimento em argila e a lareira central.
Também foi recolhida esta urna de incineração e identificadas áreas de cremação.
O espólio funerário recolhido é composto por unguentários e pequenos recipientes de função ritual em cerâmica.
Numa das ossadas foi recolhido um anel in situ que se vê na foto pequena
Após um período de abandono urbanístico, desta zona da  baixa da cidade, durante o qual se depositou naturalmente uma camada de areia, formando uma praia fluvial, esta área foi utilizada como cemitério, pelos primeiros colonizadores romanos. Escavada parte de uma necrópole de ritos mistos de inumação e incineração onde foram identificadas oito sepulturas, maioritariamente de crianças em posição fetal.
Também apareceu cerâmica campaniense e ãnforas tipo Haltem 70
Candil  (lucernas, candeias) séc. XI - XII
Púcaros e pucarinhos assados; uma, duas e três assinhas
Jarro de vinho pintado com um pássaro do séc. XVIII
Azulejo Hispano Mourisco do Séc.XVI
Belo silhar de azulejos em verde e branco
A decoração do prato do meio no rebordo em azul foi pintada por Coimbra e Davenport, Ingalterra
Garrafa em grés junto de metade de uma pia de água benta
No local foram encontrados do séc- XVIII fragmentos de Santos, um Santo António e ...que não fotografei.
Comparação com a Pia de água benta que retirei do livro de Faiança de Artur Sandão atribuída a Coimbra do século XVII.
Faiança  pintada a azul atribuída ao século XVIII
As abóbadas são deliciosamente belas
Poço romano
Lareira fenícia
Poço Pombalino
Estacas de pinho verde a nadar em água
Loiça utilizada na preparação dos óleos de  peixe
Forja do século XVIII
Núcleo de tanques de salga de peixe
Casa habitacional romana  talvez do século III, com coluna em tijolo de quadrante, da qual ainda se conserva a base,pavimento em ladrilho e principalmente as termas,  com peristilo de separação da área fabril de conservas de peixe, supostamente do mesmo dono.O que até parece estranho (?) atendendo ao cheiro nauseabundo do peixe em petrificação...
Adverti a arqueóloga que o mosaico precisa urgentemente de ser limpo, esbranquiçado pela humidade, nada tem haver com o da foto do folheto.Curiosamente na Casa Senhorial do Conde de Castelo Melhor em Santiago da Guarda no concelho de Ansião existem painéis semelhantes a estes com o mesmo desenho  das barras laterais do entrançado, meias luas das setas e suásticas. 
Datará do século III a. C a construção do forno cerâmico, do qual se conserva apenas a base da fornalha pavimentada a barro cozido de coloração vermelha e que se sobrepõe parcialmente, às construções mais antigas, desativando-as.Associado a estes contextos, foi recolhido abundante espólio cerâmico: cerâmica cinzenta, cerâmica de  bandas,verniz vermelho,cerâmica ática(um fragmento) e algum tipos de ânforas ibero-púnicas. A presença de pesos de rede ilustra a importância da atividade piscatória.
De saída pelo Chiado fatal não me lembrar o episódio vivido nesta florista  no tempo que trabalhei na Rua do Ouro, e um Gerente me pediu ajuda para lhe comprar um ramo de flores para oferecer à esposa no dia do seu aniversário-, como jamais tive jeito para secretária, comprei sem gosto, remédio santo nunca amais me incomodou!
Boa música ao vivo saída do saxofone -, o máximo no Chiado.
Vaidosa fui sentar-me na cadeira do Fernando Pessoa...
De novo dei corda aos sapatos para ir ver o primeiro cinema na capital IDEAL que já inaugurou, sendo que a sessão já tinha iniciado. 

Brevemente os Mais
De volta na Praça Luís de Camões  reparei na bela casa "Manteigueira União". 
Já os pombos descansavam nas linhas dos elétricos
As sardinhas que trouxe à borla do Museu-, na pergunta qual a tua sardinha? Obviamente a das máquinas fotográficas! 
Adorei o slogan do mosaico...Já estou melhor obrigada, slogan sentido em Lisboa como se fosse Paris!

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