segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Terraços do Carmo perdida a vista do castelo ao arco quebrado...

Como ficaram as obras na envolvente do Convento do Carmo e os seus terraços.
 Interessante ao tempo o reaproveitamento de materiais já esculpidos  na parede, agora mais visíveis
Eis que se deixou de ter a panorâmica da vista sobre o Castelo de S. Jorge com o altear do café...
Foto que registei em 21.05.2011. onde se distinguia o Castelo de S. Jorge que abre o meu Blog Lárias e Velharias, pois já é relíquia.
Não gostei-, nem parece ser obra do arquiteto afamado Siza Vieira...No mesmo desagravo de não haverem rampas para o desnível dos terraços, apenas elevadores, mas estavam FECHADOS em outubro!
 
Vista da escadaria
Os terraços
 
 O ano passado ainda decorriam nos exteriores escavações

 Cemitério com sepulturas escavadas na frente do Convento, caricatamente com flores jacarandá...

A quinta colina de Lisboa onde foi o convento de Santana

Porta lateral da Igreja do Convento de Santana entre 1900 e 1945 para a antiga Rua do Convento de Santana.
Foto de José Artur Leitão Bárcia 
Imagens do antigo Convento de Santana retiradas do google 
No coração da Freguesia da Pena (antiga freguesia de Santa Ana fundada em 1564 pelo Cardeal Dom Henrique, após o desmembramento da Freguesia de Santa Justa) implantada na quinta colina de Lisboa, no Campo Mártires da Pátria, que deve o seu nome ao Convento de Sant'Ana erguido em 1561, por ordem da Rainha D. Catarina, esposa de D. João III no sítio onde já existia uma antiga ermida com o mesmo nome, das Religiosas Terceiras da Ordem de São Francisco.
Em 1702 no Convento de Santana chegaram a viver cerca de 300 pessoas, das quais 130 religiosas. Sabe-se que na sequência do terramoto de 1755 o Convento ruiu parcialmente, entrando em declínio a partir daí. Ainda foram feitas reconstruções, no reinado de D. Maria I até à extinção das Ordens Religiosas, em 1834.

Curiosidade:
"Houve tempo em que Lisboa parecia ter mais igrejas do que Roma, incluindo cerca de 90 conventos. A Igreja Católica era a principal proprietária de terreno em Portugal, e as zonas do Chiado e Bairro Alto na capital chegaram a ser chamadas de "Mini Roma" pela concentração de edifícios religiosos. Os Conventos (masculinos e femininos) serviam de refúgio para grande parte da sociedade, que podia residir ali em total liberdade, julgando pelos processos da Inquisição que revelam, que concubinato e homossexualidade eram frequentes (um recente achado arqueológico, confirma um ambiente nem sempre religioso ( imagens eróticas numa taça de porcelana do século XVII do Convento de Santana). As mulheres que entravam nos Conventos tornavam-se muitas vezes amantes dos senhores da alta sociedade que eram assíduos visitantes, e muitas vezes do próprio rei, herdando fortunas.
O seu filho D. José, com a madre Paula do Convento de Odivelas ,foi Inquisidor mor. O número de filhos resultantes destas relações era tão elevado que o rei D. João V mandou os seus filhos bastardos para o Palácio do Louriçal, na altura fora de Lisboa -, haviam de ficar conhecidos "por palácio dos meninos de Palhavã" , hoje Palácio da Azambuja, onde é a Embaixada de Espanha). 
Os Conventos tornaram-se riquíssimos e proporcionavam vidas sumptuosas. Comia-se do melhor, dando origem a grande parte das sobremesas e doces da cidade.
  • No século XVII houve a história insólita em Portugal com uma  epidemia de freiras grávidas, centenas delas afirmavam ser as próprias mães de Jesus Cristo que vivia dentro do seu ventre, para salvar o mundo de novo!
Para perceber esta epidemia de freiras, monjas e beatas  que se diziam grávidas, não só assolou Portugal como a Europa no século XVII , fenómeno que é necessário contextualizar e explicar o que se passava e pensava  nessa época. Pouco antes de 1966 começaram rumores e interpretações que o mundo acabava nessa data com a segunda vinda de Jesus Cristo. A lógica era simples: ao milénio era acrescentado o número associado ao demónio(666) ou seja 1000+666=1666.
Fanatismo da religião cristã aliado a concubinato puro, e diziam-se puras!
Por isso nos finais do século XVII houve uma tentativa de "moralização" da vida nos conventos lisboetas, proibindo contacto ou troca de correspondência  e de presentes com religiosas. 
No entanto com as centenas de toneladas de ouro que chegavam do Brasil, os interiores das igrejas tornaram-se cada vez mais ricos. Muitos deles foram forrados com talha dourada e azulejos barrocos, como ainda se pode verificar pela cidade. E D. João V ofereceu um palácio à sua amante favorita, a madre Paula de Odivelas, onde hoje é o Museu da Cidade, entre outros presentes.
Muitas das igrejas de Lisboa encontram-se quase sempre fechadas, abrindo apenas para missa semanal, e em alguns casos, uma vez ao mês. As Igrejas são ainda exclusivamente espaços de culto, não estando abertos a visitas turísticas (?). No entanto, parece ser inevitável que o sistema mude dentro da próxima década, julgando pelas idades avançadas de quem ainda assiste à missa... Muitas das igrejas terão de passar a abrir como atrações culturais para não caírem no abandono, perdendo-se assim uma parte importante do património nacional."

Nas escavações arqueológicas realizadas no local desde 2002 com términos em 2010, concluíram investigadores ter sido encontrado um vastíssimo espólio que lhes permite  reconstituir aspetos relacionados com a vida e a morte naquela instituição de uma vida vivida em ambiente misto de luxo e devoção no século XVII, pelas peças raras de elevado valor e de luxo encontradas nas escavações e ainda um conjunto de 35 sepulturas.
Os investigadores que coordenaram o trabalho, depararam com valas onde foram depositados detritos do antigo Convento, e foi aí que tiveram a mais surpreendente descoberta. Naquelas valas existiam variadíssimos artefactos, muitos deles ainda intactos, que permitem identificar os quotidianos assim como a espiritualidade das residentes, fossem elas religiosas ou laicas. De referir que aquele era o maior Convento feminino da capital, nos séculos XVII e XVIII, quando existiam quase uma centena de Conventos em Lisboa. 
Numa fossa detrítica encontravam-se inúmeras peças, muitas de faiança portuguesa, porcelana chinesa (da dinastia Ming), peças espanholas e italianas. Tudo peças de grande valor e a que apenas famílias nobres teriam acesso. Pelas peças encontradas percebemos que as freiras eram de famílias ricas, levavam o seu rico enxoval e, os seus dotes, para passar a viver no Convento como se vivessem em suas casas-, mas com criadas. Paralelamente aos objetos que mostram a existência de luxo, foram encontradas variadíssimas peças de uso quotidiano, como escovas, pentes, mas também artigos de uso religioso, de entre os quais se destaca um anel de martírio, mas também cruzes e medalhas."

A apresentação dos investigadores Rosa Varela Gomes e Mário Varela Gomes
Intitulada "Devoção e Luxo no Convento de Santana de Lisboa" (Séculos XVI e XVII) 
Menciona artigos raríssimos, nomeadamente uma peça de origem vietnamita e uma taça de porcelana chinesa com motivos pornográficos, única conhecida no mundo até ao momento.
O investigador Mário Varela Gomes explica que aquela "é uma peça única no mundo", porque da época são conhecidas porcelanas chinesas com motivos eróticos, mas sem sexo explícito. Esta peça ultrapassa tudo o que se conhece da época, já tem conteúdos pornográficos. Trata-se de uma taça de porcelana com imagens que constituem uma espécie de manual de práticas sexuais, à semelhança de outras obras da época na filosofia do Kamasutra. Os investigadores já contactaram especialistas de outros países e ainda não encontraram registo de peça semelhante. Só se encontram peças semelhantes dos finais do século XIX. Para Mário Varela Gomes, há uma explicação possível para a descoberta de uma peça destas nas ruínas de um Convento de freiras em Lisboa: "terá sido uma encomenda única feita por um nobre português abastado e o facto de se encontrar num Convento, pode ter sido uma forma de manter a peça escondida, já que era muito perigoso, na época, com a inquisição, estar na posse de uma obra daquelas. O convento seria o melhor sítio para se esconder uma peça daquelas, que pode ter sido uma herança de família, alguém que trouxe da China secretamente explica o investigador. Em que contexto aquela porcelana foi parar a uma vala de detritos não se sabe!"

Após as escavações nasceu um nobre edifício ultra moderno e elegante adstrito à Faculdade de Ciências Médicas

Contornando o novo e moderno edifício cinza a sul são visíveis a vedação de um grande gradeamento ferrugento com portão, que seria do Instituto Bacteriológico, olhando em profundidade ao longo do seu tardoz distingui restos de um muro antigo supostamente restos do Convento, quando ia a caminho do início da Calçada de Santana  a nascente lamentavelmente por na altura não saber, não fotografei esta vista linda.
Topo da Calçada de Santana  logo no início à esquerda dois solares; o primeiro do século XVIII  onde funcionou a Embaixada do Império Austro-Húngaro

Palácio Santa'Ana
O segundo palácio mais antigo do século  XVII, o Palácio Camarido
Aqui se veio instalar, vindo  transferida de S. Sebastião da Pedreira, onde se tinha fundado em 1946, a sede da FNAT - Federação Nacional para a Alegria no Trabalho - organização salazarista de índole fascista, fundada em 1936, baseada nas suas congéneres italiana e alemã. Em 1979, com alteração dos estatutos, passou a denominar-se INATEL - Instituto Nacional para o Aproveitamento dos Tempos Livres - espaço que ainda hoje ocupa. Ora bem me lembro de tanta vez escrever esta morada quando fui bancária no SottoMayor. Agora está pintado em cor amarelinha...
Igreja da Pena
«Na sua frente a Igreja da Pena construída no início do século XVIII consagrada em 1705, construída pelos próprios fregueses e pelos Irmãos de São Francisco, sofreu danos consideráveis com o Terramoto. Não dispunha na altura de Capela-Mor, que viria a ter grande riqueza em talha e elevada qualidade artística do seu altar-mor de talha, de Claude Laprade, constitui o primeiro grande retábulo da época joanina.
O portal é encimado por um frontão triangular e tem ao centro um medalhão oval ao cimo do frontão triangular representando Nossa Senhora da Pena. A igreja é de nave única e as pinturas do seu tecto abaulada  em tromp d’oeil , são alusivas à coroação da Virgem e são de António Lobo. À entrada da nave, do lado direito, uma pintura excelente sobre madeira representa São João Evangelista e, acima desta imagem pode ver-se a Hidra Apocalíptica, possivelmente de uma escola Portuguesa do século XVI. »
Nossa Senhora da Pena
Tem na frontaria uma boa  escadaria
 Silhares de azulejo na entrada, sem flash...
"Ao meio da Calçada, na esquina com o Beco de São Luís da Pena, encontra-se um edifício pós-terramoto, cujo proprietário em 1867 colocou uma lápide identificativa, como sendo ali o local da morte do poeta Luís Vaz de Camões. Apesar do mito, os historiadores parecem estar de acordo de que não seria ali o lugar exato da casa onde morreu o poeta, sendo mais provável, pelo recurso a relatos dos séculos XVII e XVIII, um pouco mais abaixo na calçada, ou no cotovelo da Calçada Nova do Colégio, junto ao muro que delimitava os terrenos do antigo Colégio de Santo Antão-o-Novo (Hospital de São José).Certo é que foi enterrado nos jardins do Convento de Sant'Ana e quinze anos mais tarde transferido para debaixo do coro da igreja. Em 1880, por ocasião do terceiro centenário da sua morte, os restos mortais foram trasladados para o Mosteiro dos Jerónimos. Tal facto é assinalado por uma lápide na esquina do Instituto Bacteriológico Câmara Pestana."

De referir que as ossadas de Luíz Vaz de Camões que se encontram no Mosteiro dos Jerónimos foram retiradas de um túmulo junto a este Convento de Santana, embora subsistam dúvidas sobre se serão mesmo do autor de "Os Lusíadas" já que não foi encontrado no local qualquer inscrição que o indicasse.
Luís de Camões - Figura ligada às Letras
"Nas ruínas do Convento e Ermida de Sant’Ana, onde Luís de Camões esteve sepultado entre 1580 e 1880 que foi demolido em 1897 para no seu espaço nascer um conjunto de edifícios do final de oitocentos, que apenas hoje resta um. Ainda inclui o muro e vedações originais em ferro forjado intactas, foi grandemente impulsionado pela Rainha D. Amélia (1865-1911), que apoiou o alargamento para estas instalações do Instituto Bacteriológico criado em 1892, para evitar a ida de doentes a Paris, para receber curativo contra a raiva e onde se efetuassem as análises microbiológicas exigidas pela moderna higiene, com aplicação ao ensino e à prática da medicina - o  Instituto Bacteriológico Câmara Pestana.

Em 1935 a Rua do Instituto Bacteriológico – Instituto Bacteriológico Câmara Pestana, Freg. Pena
[Foi aqui a ermida de Sant’Ana onde estiveram enterrados os ossos de Luís de Camões durante os anos de 1595 a 1737 depois transladados sem segura identificação para a Igreja de Sta. Maria de Belém a 8 de Junho de 1880. Para memória do Poeta a Câmara Municipal de Lisboa mandou pôr esta lapida no ano de 1935]

                   
 Existem na mesma fachada do edifício duas placas distintas sobre o Poeta Luís de Camões 
A mais antiga é datada de 1935. Na sua inauguração contou com o orador Agostinho de Campos. 
A sua construção foi da Câmara Municipal de Lisboa, enquanto que a segunda foi promovida pelo Grupo «Amigos de Lisboa» em que foi só inaugurada dois anos depois de estar colocada, no dia 5 de Fevereiro de 1974. À cerimónia assistiram diversas individualidades, o Embaixador do Brasil; Prof. Luís Gama Silva e o Presidente da Câmara, Coronel Silva Sebastião. 
Esta placa de menor dimensão que a anterior, destaca-se pela efígie em bronze, em baixo-relevo do poeta sobre a figura do poeta inserido na pedra lioz em que as inscrições foram gravadas a tinta de cor escarlate.
- Luís de Camões 1972-1974
Rua do Instituto Bacteriológico – Instituto Bacteriológico Câmara Pestana, Freg. Pena
Figura ligada às Letras

[No IV Centenário da publicação de «Os Lusíadas». Homenagem do Grupo Amigos de Lisboa, Dezembro de 1972"

Quem for profundo conhecedor da literatura portuguesa de Almeida Garrett  sabe que este se referiu ao facto no seu livro-, em Frei Luís de Sousa: “Lá foi Luís de Camões num lençol para Sant’Ana”
Vista do Palácio de D. Antão de Almada, ficou conhecido pelo Palácio da Independência ao Largo de S. Domingos
Quase no final da Calçada um solar ou palácio a necessitar de recuperação urgente antes que surripiem os seus azulejos
Descida ao encalço do cotovelo da colina para avistar o Rossio
Mulheres africanas engalanadas com o seu vestuário excêntrico e garrido
Mais um passeio a salivar cidadania cultural e aqui a partilhar!

Fontes

http://www.lisbonlux.com/
http://www.jn.pt/paginainicial/nacional/interior.aspx?content_id=1939507&page=2
http://noticias.sapo.pt/info/artigo/1172742
http://lisboahojeeontem.blogspot.pt/2012/11/calcada-de-santana.html
http://www.lisbonlux.com/lisbon/convento-da-encarnacao.html
www.lisboapatrimoniocultural.pt/..
http://memoria.ul.pt/
http://www.skyscrapercity.com/
http://www.vortexmag.net/

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