quinta-feira, 6 de abril de 2017

Interpretar a aguarela de Ansião de Pier Baldi de 1699

O estudo à primeira representação icónica de Ansião de 1669, nasceu pela ampliação da aguarela retratada no motivo alegórico de 2014, da ALN dos Netos. 
Poderá na certeza representar núcleos na chegada e na partida a ansião, da comitiva do Príncipe Cosme III de Médicis . Viagem fora patrocinada pelo seu pai, o Grão-Duque da Toscana, inconformado com a tristeza do filho pelo abandono da esposa Margarida Luísa de Orleans, que o preteriu a favor da Corte do seu primo, Luís XIV de Versalhes. O objetivo além do consolo, o de conhecer parte da Europa, e do Caminho de Santiago de Compostela. E, oferta de grande comitiva; dois cronistas - Lorenzo Magalotti e Filippo Corsini e Pier Maria Baldi, o pintor florentino que eternizou trinta e quatro aguarelas, com três da região: Estalagem da Venda da Gaita, hoje Santa Cruz em Almoster, Fonte Coberta no Rabaçal e a panorâmica de Ansião, a mais complexa de interpretar e jamais conseguida. 

O relato do viajante estrangeiro descrito no Livro de 1986 do Padre Coutinho  (...) entrou de sul  com numerosa comitiva na tardinha de 21 de fevereiro de 1669. Aqui pernoitou e, no dia seguinte, 22, depois de ouvirem missa na igreja paroquial, partiram para Coimbra, passando por vales de montes estéreis e estradas irregulares e montuosas; tudo bem diferente das paisagens  da bela Itália!  (...) nas palavras de Lorenzo Magalotti, comportava 60 ou 70 casas,  pouco concentrado,  maioritariamente térreas a maior parte arruinadas, tanto quanto nos diz Filippo Corsini com uma só paróquia, diocese do bispo de Coimbra; alude a doação feita a Dom Luís de Menezes e, curiosamente, o autor afirma não saber por que contradições a posse da doação não tinha sido efectuada  (...)  a dar a imagem da vila setecentista, reunida junto à igreja de eminente torre encimada por uma elevadíssima pirâmide- o padre Coutinho diz que tal facto se deve à frequente queda de neve, ou era exigência estética? 

A comitiva vinda de sul, entrou na Cabeça do Bairro, onde estava a sede da Vintena de Ansião, tendo conhecimento que o Senhorio ainda não tinha sido entregue a D. Luís de Menezes, só o  foi efetivo em 1674. 
A torre da primitiva igreja sediada no atual cemitério, de cariz pontiagudo, fruto dos povos aqui aportados de origem germanica, e de outros como italianos, cujas tendências de cúpulas em bico reportam a países mais frios e com neve de onde vieram.

Ampliação da aguarela do Grupo Facebook Ansião
 
Réplicas da aguarela  de Pier Maria Baldi pela  ALN dos Netos



Sectorizada a cores por Fernando Mendes da Torre
A meu pedido na clareza aos vários palcos distinguidos



A aguarela imortaliza a frente, a tom rosa,  a Estalagem da Quinta do Bairro, alvitra fora a comitiva muito bem recebida. Existe a norte o lintel de 1777 tardio, da requalificação para a casa do carcereiro e da cadeia feminina; resta a grade na janela. No séc. XX, a sul, ainda existia a cozinha; sobrou a porta e um contraforte a nascente. 

Em amarelo; a Casa da Câmara, na oralidade corria Tribunal – e sim, teve as duas valências a casa de sobrado e janela de avental, na frente átrio lajeado com duas grossas colunas e a nascente porta cega, com lintel de 1679. 
A poente casa baixa, quadrada, teve lintel de 1680, guardado. Foi a Casa da Administração do Concelho.
Seguida de outra casa pequena fechada em moldura, veio a ser mais tarde outra estalagem onde se cozia o pão. No seu tardoz no correr da estrada real foi uma oficina de ferrador. Arte continuada mais tarde pelos meus avoengos de Tornado, Alvaiázere. 

A verde; o primeiro burgo no atual cemitério com o sítio da Igreja Velha ao alto do cerrado da Senhora da Lapa, na junção do muro velho com o novo.

Em amarelo-torrado - o Hospital, a Casa da Misericórdia e a Ermida de NSConceição.
Em azul, a Granja, Santiago da Guarda; o Paço Jesuíta, a Casa da Câmara e a da Roda - estratégico enclave, ao lado da Igreja Velha!

No dia 22 de fevereiro de 1669, a comitiva saiu pela manhã tomando o novo caminho roteado na Quinta do Bairro, pelo Ribeiro ad Vide, à vila, para ouvir missa na atual Igreja. Rua que no ano transato foi atribuída na toponímia - Travessa do Bairro – em nítido atentado porque é rua, o certo devia eternizar Conde Cosme de Médicis, pela valia histórica na centúria de 600 deixada a Ansião. 
Na chegada ao adro avistam a poente a colossal ruína no atual cemitério, na indignição das palavras de Lorenzo Magalott - “infelice borgo”… Após a Missa seguem pelo caminho a sul da Misericórdia à laia de protesto Pier Maria Baldi perpetuar a ruína da Igreja Velha, em detrimento da nova matriz rec onstruida num templo antigo há 76 anos, ao jus agouro o seu abandono!

Ao ter sido desprezada a rota do Bairro ao  vulgo mosteiro, a comitiva não avistou o Esmoliadouro nem o Pelourinho de 1514. 
O adeus a Ansião foi pela Ponte Galiz para o Rabaçal.
Antes, Pier Baldi enaltece o valor do pinhão com a pinheira, rainha exaltada! 

Pintura em 2013 de Jorge Estrela
Em 2013 o amigo Renato Freire da Paz falou-me que os originais dos desenhos tinham estado expostos na Fundação Mário Soares nas Cortes, em Leiria. Foi seu Comissário o pintor Jorge Estrela quem lhes incutiu uma nova interpretação ao relacionar os relatos da viagem com a sua palete cromática, criando nova pespectiva de interesse na História da Arte topográfica. 
Ganhou o desenho de Ansião nova imagem colorida, sem as manchas do tempo, de contornos definidos, devolvendo mais pormenores que o tempo apagou.

Contraste na réplica a carvão em contraste com a pintura do leiriense Jorge Estrela
      
Como comandei esta investigação
Tomei conhecimento desta viagem e da gravura no Livro do Padre Coutinho de 1986, em tamanho pequeno, a negro, tendo apenas como único elemento perceptível a torre da igreja, que foi interpretada como sendo da actual e não é. Graças à foto parcial, ampliada, a carvão, do carro alegórico dos Netos de 2014, o meu despertar à investigação. Em definitivo, não podia ter sido retratada a igreja actual e sim foi a primitiva, é notório a visão no corpo da igreja do óculo de iluminação no seu tardoz, num tempo que era obrigatória a frontaria para poente. Visão enxergada do adro da igreja actual, depois de ouvida missa,  ao mote da saida da comitiva no adeus a Ansião, a comitiva deixou a vila pelo caminho da Misericórdia na quinta de S. Lourenço, actual Avª Dr Vitor Faveiro,  seguindo pela rua S. Lourenço, onde avistou a colossal ruina do primeiro burgo religioso de Ansião, deixando Ansião pela ponte dos Poios, Nogueiros, Vale Boi, Granja, Fonte Coberta etc. A ponte Galiz, admito é mais recente, aquando da abertura da estrada para os Anacos. Como foi preterida a saida pela nova Ponte da Cal, de 1648 .

A aguarela de Ansião na minha perspectiva representa núcleos na chegada da comitiva à  Cabeça do Bairro e na saída no adeus a Ansião.

A corrobar estas conclusões vali-me das minhas memórias de mais de 50 anos, e do gosto nato pelo passado de Ansião. Percebi a necessidade de novas acessibilidades para a vila com o rasgo do novo caminho do largo da Cabeça do Bairro ao baldio do Ribeiro da Vide, em chão da Quinta do Bairro, foi deixado desirmanado um promontório, onde João Freire em 1603, instituiu uma capela de orago a Santo António, o patrono dos viandantes, indicia que a estalagem naquele tempo era por si explorada .O  novo caminho  contornava a Quinta do Bairro a norte ao entroncamento da Rua Direita, vinda da Ponte da Cal, para o Casal das Pêras, Barranco, onde entroncava na estrada romana/medieval para a Escarramoa.

Na minha perspectiva o artista em protesto teimou deixar imortalizada a vila de Ansião, centrando a brutal ruína da primitiva Igreja do burgo de Ansião -  a Igreja Velha. 

Estratégico,  o enclave da Granja, pelo interesse sentido e no esboço o único espaço para o marcar.

Fechar o ciclo com penhorado agradecimento à equipa de amigos da ALN dos Netos, pela escolha do seu motivo alegórico em 2014, que me permitiu enxergar clareza pelo conhecimento deste passado. 

Jamais sem aposta a investigação histórica ao Pelourinho Manuelino de 1514, nem mesmo nas comemorações dos 500 anos da atribuição do Foral novo a Ansião. E sim, devia ter sido aposta aos locais prováveis ao sítio onde tenha sido erigido. 
Graças a este motivo alegórico depois de 2014 foram 5 anos de estudo cumulativamente ao sítio do vulgo mosteiro, ao chão do atual cemitério , Cabeça do Bairro e à atual vila histórica, onde baseei as minhas conclusões com grandes descobertas.

Na minha perspectiva alicerço que o Pelourinho Manuelino foi erigido no vulgo mosteiro, o primeiro burgo social de Ansião, onde foi sediada a primeira cadeia e outras valências adstritas. Como o burgo religioso foi sediado no atual cemitério, com a igreja primitiva, casario do padre, sacristão, serviçais e almocatés, aferidores dos pesos e medidas, supervisionados pelo procurador do Mosteiro, que era o padre em exercício na vigaria, ao celeiro. Ali recebia os foros que eram levados para o Mosteiro de Coimbra.  Em 1359, já era viva a atividade moenga, atestada com contenda arquivada na Torre do Tombo. Por fim,  Pier Baldi teimou em deixar a colossal ruina exaltada...já os montes carismáticos do Rabaçal, não imortalizou ...Nunca se sabe o que uma alma de artista pensa em detrimento do que exprime no traço escorreito...

Mas, foi no vulgo mosteiro que conheci junto a um muro uma coluna partida ao meio, para com alguma segurança dizer que eram parte do Pelourinho Manuelino, embora incompleto sem o fuste, debalde perdidas em 2019 e na foto evidenciadas.
Um sintoma de alívio passaria por alguém de direito se debruçar sobre o que representa no fiel da balança o peso da cultura no concelho de Ansião e se dignasse intervir para as procurar, saber onde foram depositadas e as mandar estudar. Atitude certa em âmbito cultural com ação no terreno, a valorizar as pedras herdadas. Óbvio que sim . Ontem já era tarde!
Reprodução do Pelourinho do Senhor de Ansião D. Luís de Menezes no carro alegórico dos Netos de 2014
A transmissão do Senhorio de Ansião não operou os trespasses dos direitos senhoriais que aqui possuíam os Duques de Aveiro , herdados do 2º Duque de Coimbra,  D. Jorge Lencastre. D Luís de Menezes, depois de notáveis prestações nas guerras da restauração, casa-se em 1666 com a sua sobrinha D. Joana Josefa de Menezes, de quem recebe o titulo da Casa da Ericeira , do qual foi o 3 conde.O Senhorio de Ansião, foi concedido  depois de vários percalços em 1674, cinco anos depois da comitiva de Cosme de Médicis ter passado em Ansião. Contudo, a aposta na réplica da aguarela de 1669 foi extraordinariamente bem exaltada, debalde o Pelourinho deveria ter sido exaltado o Manuelino de 1514 e não o atual de 1686, porque ainda não existia!
Desencantar os palcos
Sítio da primeira prisão na Cabeça do Bairro
Na foto abaixo no lado esquerdo depois do Largo do Bairro o seguimento do que foi a estrada real  onde se encontra  um portão preto,  foi o sitio da primeira  prisão da Vintena da Cabeça do Bairro de Ansião. A prisão tinha uma janela com grade que mal me recordo dela onde seria suposto os presos suplicar esmolas aos viandantes . A cavalariça da estalagem, a parede em pedra que ainda se distingue na ligação dos entestantes. 

Estalagem térrea sob o comprido e para norte  de sobrado com o celeiro, palheiro 
Chegou ao Século XX,  por herança nos anos 60. A entrada  larga foi colocado um lintel em cimento e  portão,  e em 2019 de novo requalificado, ao lado porta que ainda existe. No tardoz existe um contraforte. A cozinha resistiu até há poucos anos.Estas estalagens acolhiam além de peregrinos, também pobres, almocreves e viajantes de todas as estirpes. E muitos por falta de enxerga e de dinheiro, dormiam no palheiro.

Até 2019 o que restava da primitiva estalagem da Quinta do Bairro
Desse tempo resta  apenas a porta
No tardoz o único contraforte a nascente de sustentação da parede
Perspectiva do palco no século XX
A estalagem estendia-se para norte com casarão de sobrado - celeiro, palheiro e a cozinha e copa.
José Maria Marques dos Reis com mais de 80 anos confidenciou -me que  em novo ali vinha cavar vinha onde fazia a comida no que foi a cozinha da estalagem tendo numa parede de pedra entalada o resto de uma panela, ficando curioso do seu significado, por isso jamais se esqueceu e até o impressionou onde se guardaria dinheiro...Julgo que a função ao que chamou ser panela pelo formato redondo o seria em cerâmica para guardar alimentos frescos, mais tarde vim a descobrir não longe dali noutra casa a poente onde também se possa aventar existiu outra estalagem uma parede com duas buracas onde meti a mão e senti fresquidão, por serem em cerâmica, de facto são púcaras que outra função não teriam senão guardar alimentos.Desde a pré história o homem arranjou forma de preservar alimentos, em Trás os Montes distingui talhas escavadas no subsolo argiloso dos terraços fluviais no rio Sabor e mais tarde os árabes as fizeram escavando a pedra no morro de Almada velha.
A estalagem ficou desativada, por outra nova surgir defronte a chegar até aos meados do século XX .
Na aguarela ao ficar retratada  uma abertura franca direita sem arco a evidenciar tenha sido esta a estalagem mais antiga que houve no Bairro porque outra existiu no século XVIII  com um arco de volta perfeita para entrada dos cavalos defronte desta a poente do largo do Bairro a chegar aos meados do séc. XX da Ti Maria da Torre  que os mais velhos se lembram bem, e dela ainda resta uma parte onde eram os cómodos.
O sitio da estalagem da Ti Maria da Torre
Resultado de imagem para ansião o largo do bairro
Perspectiva da volumetria da primeira estalagem no séc. XX
A casa de gaveto a norte apresenta na porta envidraçada  a sul lintel de 1777. O foi tardio da requalificação de parte da estalagem na casa do carcereiro e a mesma data, menos perceptível ainda existe na cadeia feminina,  no seu seguimento  de que resta a grade na janela.
Volumetria do palco da estalagem  hoje

Cadeia feminina
O lintel da porta da prisão feminina com data de 1777

Perspectiva na aguarela  em 1669 o seguimento da estalagem para a esquerda
Para poente  a Casa da Câmara  na Cabeça do Bairro
Porém, o impacto forte da palete cromática, choca o meu olhar no jogo medieval gótico e naïf em prol da cor sépia do original, o meu favorito.
No meu tempo a casa da direita foi o palco da Casa da Câmara cega a poente e a norte . A conheci  no sobrado com  porta/janela de avental e na frente da porta de entrada havia ainda um átrio lajeado debruado a dois degraus com duas colunas quadradas grossas onde já tinha desaparecido o terraço. A poente entrada para acesso ao tardoz aos quintais do Bairro dos currais para os gados maninhos. Adoçados a poente da casa ainda existem barracões que desconheço a função que tiveram, podia ter sido a Almoçataria da Vintena . A seguir para poente a casa quadrada a conheci em ruína e depois reconstruida, tinha  lintel de 1680  que se encontra guardado. A poente a aguarela apresenta casario térreo, que conheci de sobrado, estreito e em ruína. No tardoz onde se cozia o pão, ainda existe a maceira. E na frente no correr da estrada real a oficina de ferrador.Artes continuadas pelos meus avoengos de Tornado, Alvaiázere.

Panorâmica da vila, do novo burgo na réplica da ALN dos Netos

Não se evidencia nenhuma casa ao tipo senhorial.
Onde seria a casa onde nasceu António dos Santos Coutinho?
Não foi retratada a  Igreja matriz edificada em 1593.A razão do pintor não a ter deixado imortalizada?
Na direita em moldura casa de sobrado do hospital, hoje CGD, seguida da Casa da Misericórdia e a ermida de NSConceição.
Granja, em Santiago da Guarda
Os investigadores do nº 9 dos Cadernos de Estudos Leirienses apresentado em Ansião a 17 de setembro de 2016 pese os elogios, em verdade apenas fizeram compilação de dados recolhidos em documentação diversa e pouco quase nada lhe acrescentarem de valia, a recalcar o que o Padre José Eduardo Reis Coutinho já mencionara no seu Livro de 1986, o primeiro a partilhar este conhecimento e em acrescento apenas informação das Memórias Paroquiais relativamente à Vintena de Ansião, sem correlação do seu palco. A aguarela foi apresentada em escala maior, debalde sem mais nada de novo lhe acrescentar além do conhecido
O conhecimento de valorizar o património de Ansião partilhado na página facebook da Al-Baiäz
Associação de Defesa do Património  de Alvaiázere que promoveu a produção de dois painéis de azulejo para serem colocados na fachada do edifício da Junta de Freguesia de Ansião.Um dos painéis contém a reprodução do desenho, de cor sépia, que o artista italiano, Pier Maria Baldi, elaborou em 1669, quando passou em Ansião na comitiva de Cosme de Médicis, na sua peregrinação a Santiago de Compostela.
O outro painel reproduz o mesmo desenho, colorido pelo pintor leiriense Jorge Estrela, recentemente falecido.Foram inaugurados na Quinta-feira de Ascensão  em 30 de Maio de 2019 em dia do feriado municipal de Ansião.Para permitir o exercício da cidadania e o envolvimento da população nesta iniciativa, os interessados poderão contribuir oferecendo um dos 66 azulejos que comporão os referidos painéis. A contribuição mecenática de quem quiser aderir a esta subscrição pública será de 10 euros, correspondente ao custo de cada azulejo. É uma forma simbólica, mas merecedora de enaltecimento, de os cidadãos, interessados na cultura, contribuírem para o enriquecimento patrimonial da vila de Ansião.
Coysas e Loysas sobre Ansião : Abordar em maior plenitude o ...
Última análise 
Pese embora a aguarela a merecer análise por especialista, debalde se apresente tarefa árdua e muito difícil, mais facilitada a quem conhece o chão de palcos primitivos de Ansião.Credível Pier Maria Baldi há noite nas estalagens finalizava as aguarelas sobre os esboços previamente destacados a traço escorreiro no seu molinski.  Graças ao meu abençoado espírito curioso e guardador de memórias do passado no Bairro de Santo António de ouvir falar do Tribunal- afinal foi a casa da câmara que teve as duas valências .
A aguarela não retrata uma visão registada num determinado ponto e sim com retratos na chegada na Cabeça do Bairro, dando destaque em moldura à Casa da Câmara e da estalagem onde pernoitaram para acreditar tenham sido bem acolhidos por isso a sua menção na frente com conhecimento que a vila ainda não tinha sido entregue a D Luís de Menezes. O que se deparou difícil foi perceber por onde saiu do Bairro a comitiva, demorei a descodificar pela falta de tombos, e demais documentação,  sobre o poder da Vintena de Ansião, jamais abordada por historiadores, apenas levemente mas sem fazer menção onde foi localizada. A sua colocação no seu palco é minha correlação. No dia seguinte na Cabeça do Bairro a comitiva tinha duas alternativas de saída, a mais antiga  a poente com a estrada  real a caminho do Vale do Mosteiro do burgo primitivo desativado no actual cemitério,  contudo ao deixar retratada na aguarela o tardoz do corpo da primitiva igreja com o óculo de iluminação evidencia seguramente que a comitiva do príncipe Cosme de Médicis partiu no dia seguinte na direção do nascente da Cabeça do Bairro ao baldio do Ribeiro da Vide seguindo pela actual Rua de João de Deus e entronca na Rua Direita  tomando o norte para parar na atual igreja e ao subirem ao adro avistam a ruína da Igreja Velha e se indignam. Depois da missa passam pela atual Travessa da Misericórdia, e deixa o seu complexo retratado com o hospital, a casa e a ermida e seguem pela atual Rua de S Lourenço e depois pela estrada real a caminho da Ponte Galiz, porque o troço pelo Nabão, Lagoas,  em fevereiro levava água sendo negligenciado.
Pese amadora sem formação académica, os núcleos diferenciados descodificados  em entrega de corpo e alma  olhando aos pormenores, com muitas horas dedicadas por isso o dever de se valorizar esta apetência nata que muita terra do mesmo modo gostaria de ter gente!
Sem medo de sair da base de conforto explanar a minha teoria  em manifesto de liberdade o mérito do olhar peculiar e anos a investigar tão atroz lacuna, aqui em glória a se mostrar pela primeira vez aclarada, pese ainda longe de acabada!

FONTES
Livro do Padre José Eduardo Coutinho
No 9 dos Cadernos de Estudos Leirienses
Livro de Noticias e Memórias Paroquiais Setecentistas
http://arqueologia.patrimoniocultural.pt/
Fotos do carro alegórico dos Netos de 2014

quinta-feira, 30 de março de 2017

A Quinta do Bucelinho em Almada

Selfie em família depois do almoço refastelado um cozido à portuguesa num café/restaurante na antiga Quinta das Casadas de Cima no Monte de Caparica, a minha sogra, o irmão José Veríssimo, em mini férias a Portugal a rever azedas, as campainhas amarelas que vestem campos, e tratar de assuntos.
 
 O dia acordou com névoas para ao meio dia despertar primaveril .
Depois das despedidas partida em rota de caminhada, o meu marido alvitra passagem ao Cristo Rei, respingo na vontade em voltar à Quinta de Palença, ganhando a redescoberta da Quinta do Bucelinho.Infelizmente nada existe da história desta Quinta na Internet, nem sei se a ortografia BUCELINHO  seja a correta pela raiz da palavra não ter significado, alvitro tenho no passado sofrido mutação ortográfica de BACELINHO cuja raiz bacelo, reporta a cepas de vinha que nestes costados no séc. XIX houve em demasia. Esta Quinta sofreu expropriação governamental  enquadrada num plano de expansão programada de Lisboa para a Margem Sul iniciada em 1938 a 1950 longe de se concretizar por deficiente abastecimento de água ter demorado dez anos com custo oito vezes mais do que o previsto, e pela deficiente rede viária e de transportes. Após o conflito da II Guerra Mundial o governo fez todos os esforços para incentivar a urbanização acelerada da região de Almada com rapidez nas expropriações na linha da cidade jardim inglesa e dos subúrbios jardim-franceses, previa-se a manutenção de vários espaços rurais ou de jardins, a separar cada um dos aglomerados habitacionais, lamentavelmente não passou de uma miragem não concretizada de uma cidade jardim, salvando-se anos mais tarde o Parque da Paz construído nessa linha implantado em 60 hectares onde impera o verde na mistura do granito em muros e portas abertas com xisto, confere agradável ambiente ao gosto inglês e francês, ao invocar espaços abertos onde a ruína de pedras afeiçoadas que antes deram vida a casas de novo enquadradas em beleza no espaço público.Em Almada imperou a lentidão durante décadas por razões politicas para desbloquear na década de 60 com a construção da Ponte onde culminaram expropriações em massa de Quintas desde o Pragal em Almada e circundantes num raio do Feijó ao Monte de Caparica, deixando as casas das mesmas com terreno na ordem dos 5 a 7 hectares (?) dito a olho nu; Quinta de S.Pedro no Pragal, Quinta da Bela Vista ainda me recordo da ruína da casa hoje parque de estacionamento de terra batida a servir o hospital, Quinta dos Espadeiros ou do Dr. Elvas de 7 hectares entre a autoestrada e o Fórum envolta em vegetação espessa deixou de ser visto o seu casario pintada em branco com barras em azul e capela datada do séc. XVII e,...
A Quinta do Bucelinho foi expropriada na década de 60 sita no gaveto poente da ponte, tendo a nascente o Cristo Rei. Por todo o lado pés de funcho, planta herbácea aqui  rainha se mostram ao sol com alguns espigões estranhos com folhas rendilhadas nas pontas, a fazer lembrar plantas da pré história ...
Funcho
Quinta do Bucelinho: Hospital Garcia d'Orta, Junta Autónoma de Estradas e Pousada da Juventude de Almada. 
Complexo do Hospital Garcia de Orta visto a nascente na subida da estrada
 As condutas do oxigénio líquido e outras tapam a visibilidade da torre
Obras de ampliação de um parque de estacionamento a decorrer no sopé espera-se que preservem este património que se encontra mal estimado.
O que parece ter sido um moinho, tenha sido uma torre de defesa do Tejo (?), pela abrangência que teve no passado sobre o mar da Palha e o rio. Da estrada ao seu lado ainda se avista uma parte do Mar da Palha, se imaginarmos antes da urbanização de Almada teria uma vista ampla. A sul da torre resiste uma parte do muro antigo a circundá-la com janelo de lintel curvo ao género da janela da pequena torre. 
Havia uma torre que caiu com o terramoto de 1755 no Monte de Caparica onde hoje se chama Torre.
 Vistas sobre o Cristo Rei
 A janela da torre com ameias e em baixo a porta
 
Mirante da Quinta do Bucelinho
O antigo Mirante da Quinta de Bucelinho apresenta-se de arquitetura hexagonal com chão de tijoleira, sem telhado, lamentável o arquiteto ao desenhar a Pousada o negligenciou da sua vista primitiva, bem poderia ter nela ficado enquadrado.
Vista da Pousada com o mirante
A entrada, a sala de visitas com a lápide assinala a inauguração por António Guterres há 20 anos. Vidraças escritas com belos poemas, onde se avista beleza sem fim.
Não sei se a Quinta do Bucelinho teve casa de habitação (?), devia existir no sitio da atual Pousada ou na sede da Junta Autónoma de Estradas pela existência do passado de duas arquiteturas para contar história; um Mirante sobranceiro na falésia e uma pequena torre com ameias enquadrada no terreno do hospital. No terreno sobrante da Junta Autónoma de Estradas  andava um catrapilar...
Vistas dentro das vidraças
 
 

 

A Pousada da Juventude e a Junta Autónoma de Estradas de vistas de excelsa beleza sobre a capital, o Tejo e a ponte.
Passagem pedonal de acesso à ponte 
 Rotunda depois do viaduto do Pragal
A margem do costado da Junta Autónoma de Estradas com passagem pedonal bem podia ser rasgada para estrada de acesso imediato ao Hospital, Pragal e Monte de Caparica, libertando o condicionamento ao Centro Sul. 
Os costados de ambos os lados podiam ser reaproveitados como vias alternativas para as gentes de Almada, bem se sentem prejudicados! 
As árvores dos costados a merecer poda bem feita, resulto do que resta de olival, árvore mediterrânica deveria ser aposta a sua cultura mesmo em terreno urbano, dando emprego a gente desocupada, na apanha do fruto e de poda, mantendo os espaços limpos com estética e criando riqueza pelo que devia ser aposta das cidades metropolitanas por terem apostado no seu plantio a juntar ao existente resquício das quintas, mas sem qualquer utilidade, e bem poderia ser fonte de rendimento.
Oliveira no gaveto do viaduto para o Pragal e a passagem pedonal para a ponte
 
 Viaduto do Pragal

Supostamente a Quinta do Bucelinho teria um portal ao género da confinante Quinta de S.Pedro  resta dessa antiguidade apenas o seu portal
Fontes
http://dited.bn.pt/29157/191/962.pdf

http://www.quintelaepenalva.pt/imovel/3871501/quinta-espectacular-no-concelho-de-almada-perto-das-praias-almada


sexta-feira, 24 de março de 2017

Poesia a Maças de D.Maria

No cimeiro altaneiro de Maças de D.Maria onde em dia de vento sopra a nortada da Lousã agreste e fria  e das serranias de Pedrogão o suão em tempo de verão, terra onde se respira ar puro que dá vida aos pulmões e acalenta o coração. Por aqui as mulheres em meados do séc. XX ainda usavam capas com carapuço, julgo lhes chamavam "capuchinha", a lã era tecida muito densa para o frio e a chuva não entrar quando andavam a trabalhar no campo e no pastoreio , só usavam chapéus de chuva para ir à missa e à vila.
Paisagem a nascente com a fachada do solar e a capela dos Pimentéis Teixeira
Alegrar o espírito com a história verídica de um médico que se apaixonou pela vila de Maças de D.Maria no concelho de Alvaiázere, a quem dedicou poesia em homenagem às Cinco Vilas, Ansião e claro a todos!
Por ter sido exposta sem qualquer foto na Página do Facebook apenas teve 17 "gostos"...Nitidamente empobrecida, por isso a necessidade de aqui a retratar em dignidade viva em perpétua aleluia.

Citar excerto Livro “Turbilhão de Veleidades de Alfredo do Rosário Rodrigues 
https://terrasdaribeirinha.wordpress.com/…/terrasda…/page/6/

"O Dr. Alfredo natural de Lisboa costumava deslocar-se com a família do Alentejo até Oliveira do Hospital para passar o Natal com os familiares da sua esposa. Numa destas viagens reparou numa placa indicativa de Maçãs de Dona Maria. Diz o autor: “Foi neste caminho que me despertou a atenção uma placa misteriosa, evocativa de um segredo qualquer, a merecer talvez o desvendar de alguma lenda ou a descoberta de um conto de fadas. A placa dizia Maçãs de D. Maria …
Por altura de um desses Natais tinha surgido, nos jornais, um anuncio a pedir um médico para a Casa do Povo de Maçãs de Dona Maria. Após a visita de Natal, e de regresso ao Alentejo, passando o Pontão, rumando a Tomar, o autor acrescenta “… ali na baixa da Venda Nova, junto às minas de gesso do Manhoso, logo num cabeço acenava Maçãs aos passantes da estrada real e não resisti a subir a ladeira, cheia de cascalho solto e curvas enfadonhas.
Chegando ao povoado, parei no Armazém das Cinco Vilas e o senhor Bernardino Alexandre ensinou-lhe onde era a Casa do Povo.” Aqui falou com o Presidente da Casa do Povo, o senhor António Cirilo, sobre as condições oferecidas à função de médico na Instituição e continuou a viagem de regresso ao Alentejo. Durante algum tempo ficou a pensar no assunto, foi a insistência do senhor Cirilo, e a possibilidade de encurtar a distância no Natal do Alentejo a Oliveira do Hospital que o levou a aceitar o lugar de médico em 1963. Ora, o que à partida seria um ponto de passagem para terras mais a Norte, acabou por se tornar a sua terra de adopção.
O Dr. Alfredo Rodrigues ficou enfeitiçado por esta Vila de Maças de D.Maria porque, como diz ”… há sonho, há vida, há magia. Magia que vem, se calhar, daquele fio tão leve e tão forte unindo esta vilazinha aos meandros amorosos de Sancho I e Maria Pais, a Ribeirinha dos trovadores, a Maria das belas maçãs rechonchudas a encantar olhos medievais de Cavaleiros da Távola Redonda. Tanto que seduz, prende e perdura “per omnia saecula saeculorum”!
Isso me reteve. Por isso cá estou …
Faleceu em 2003 em Maças de D. Maria."

Poema “Sol-Posto em Maçãs” 
Escrito em 1992, um bonito poema de homenagem à terra de sua eleição
Maçãs de Dona Maria, no concelho de Alvaiázere.

O Sol esconde-se ali atrás
da serra da Nexebra.
Bola a arder, parece que faz
em chamas
o verde pinhal da encosta
e a visita, encantada, gosta
de olhar como a luz escorre,
numa alegria,
a cair no vale
de Vendas de Maria.
Aqui Maçãs, no alto,
soprada do vento
que assobia um lamento
de sobressalto,
sentinela do sol-posto,
com raios difusos
a bater-lhe no rosto,
é sonho dormente
que pensa acordar,
sonho real que não sente
desejo de se afundar.
A terra palpita por viver,
sente-se estremecer.
É vendaval da vida,
a luta corpo a corpo
movida a fio de espada,
a guerra não perdida,
combate por um sopro,
vitória conquistada.


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