sexta-feira, 17 de maio de 2024

Querida neta Láu, na voz doce da Mé e do Reizinho, firme Laura, no Vicente

Rigue de patinagem sobre gelo, em Alvaiázere, em 2023, depois de uma caminhada
Grata surpresa a tua missiva, no auge dos teus tenros 8 anos, a escaldar revelação determinada nas escolhas, emoções, e inquietações, eis chegada sem aviso, ao nosso correio de casa. 

Notável desenvoltura madura, discernida e crítica. Aliado coeficiente de inteligência a prognóstico de futuro brilhante, já que transpiras ânsia com asas para voar, olhar atento, atilado e discernido. 

Penitência pela resposta demorada, em carta escrita manualmente. Pois nem eu já percebo a minha letra dilacerada no tempo, esforçei-me, mas, dada a estupefação, decidi em modo alargado de a publicar, a jus dialogo ao lembrar o meu desabrochar muito mais tardio, num tempo fascista... 

Tocaste à porta da nossa casa de Ansião, na companhia da tua mamã para polir pormenores da tua primeira vez com o mano Vicente na  caminhada, em maio de 2024, no Trail da Nexebra, cujo patrocínio paguei para a família, só falhou o avô, pela dor no joelho...Agradeceste a  resposta à tua carta, dizendo que conseguiste decifrar a minha letra, e oh avó vais mesmo publicar? Respondi que sim, senti a tua emoção agradável de satisfação!

Disseste ainda que a Professora elogiou a minha carta.

Estimo que a natural aura de vaidade jamais atrapalhe a tua vida! 

Sobre a tua inquietação da venda da nossa casa de Almada, surgiu há meses, teve o propósito de ajudar os papás, liquidando o emprestimo bancário, dado a taxa euribor, em subida, poder atingir uma prestação incomportavel, ao rendimento mensal, que ainda proporciona vida digna, sem estragos, pese honorosa, ainda assim com ajudas, se pode dizer desafogada. Como entretanto baixou a taxa, o assunto ficou em stand by. Mas, também tens de perceber que embora adores a casa, os avós tem 4 netos. E antes de vocês, a herdeira dos avós maternos, é a tua mamã. Contudo, a nossa  pretensão é deixar bens equivalentes a cada um dos netos, sem previligiar nenhum.  A decisão correta! Todos diferentes, mas, todos iguais na herança!

Meio século de Liberdade faz acreditar que a tua geração já não tenha de emigrar. 

Os talentos tem de ficar em Portugal, pôr fim à seita de pelintras de peito altivo e crista alta, a desfile de vaidades e riquezas, corruptos, ladrões de colarinho e luvas brancas, no branqueamento de capitais,  tráfego de influências, e fugas de milhões para offshores. Faltam cérebros com ideias inovadoras, a defender o direito à habitação, saúde, e trabalho, reintegrando os sem-abrigo. 

Ninguém deve dormir na rua, nem mendigar!

Inéditas férias nesta Páscoa de 2024, só com os rapazes a encantar o nosso Vicente; passeios e a nebulosa história do rei D. Afonso Henriques. Há quem afirme que nasceu deficiente, sem os pés, sendo entregue ao aio Egas Moniz, para o criar e educar. Se foi retratado homem normal, alicerça a teoria que Egas Moniz o trocou pelo seu filho… Como o palco da batalha de Ourique -  estória escrita volvidos 250 anos pelos frades do mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, com o almoço do exército antes da batalha de cebolas assadas, em 25 de julho de 1139, não foram criadas no baixo Alentejo, ao invés era riqueza em Sernache dos Alhos, hoje Cernache, a sul de Coimbra , onde aportavam mercadores de toda a Europa. E, este handicap, inviabiliza a batalha ter sido travada onde está celeberizada - Ourique, no Alentejo. Na minha teoria o seu palco é mais assertivo o situar entre a Vala de Ourique, em Soure, e Chão de Ourique, em Penela, então fronteira das algaras mouras, pois Santarém, Lisboa e Alcácer do Sal ainda eram moçárabes. O exército não seguiu para o Alentejo por terra, nem pelo ar, nem pelo mar... Até hoje no séc. XXI, ainda sem historiador que consiga desmestificar essa realidade, no entanto há muita literatura sobre esta batalha, cada um interpreta à sua maneira. E todas as posições são válidas, como a minha. E isso é respeito, o que deve prevalecer na vida nas coisas que se fazem e dizem.  À laia, as folhas de amoreira pedidas para a tua criação de bichos-da-seda, assenta a toponímia da morada dos teus avós paternos - Rua da Gatina, a doença que os dizimou, nos finais da centúria de 700, na Quinta da Fonte, em Ansião. 

Breves despertares à globalização cultural que me faltou na minha meninice… O meu avô paterno “Zé do Bairro”, pedreiro, ajudava de noite a cozer o pão na padaria da minha avó Piedade. para dominar o sono ia buscar à estante livros, dos estudos do meu pai, e pela manhã mal eu chegava para levar para casa pão fresco, testava comigo o aprendizado da noite, debalde, ficava muda…andava na primária, só mais tarde percebi que era matéria do secundário…recordo o estar amofinado, sisudo, arrepiava o beiço no bigode grisalho, e entre dentes balbuciava; o teu pai na tua idade era mais alto e inteligente… 

Aos 14 anos, em 1971, o meu desterro no Colégio Salesiano no Monte Estoril, por causa de um namorico que a Prof. Ilda, esposa do Dr Mateus, veterinário, teve a ousadia de comentar  com o meu pai. Mal chegada, recordo o olhar recriminatório da Irmã, aos tacões dos sapatos e ao vestido curto, recebendo ordem de me mudar. Uns dias depois, dada o meu carater curioso na descoberta do espaço do colégio, ao descer a rampa da estufa quente, bati os olhos num caixote do lixo cheio de cartas rasgadas, que as associei à obrigação das alunas as ter de deixar abertas na secretária da diretora…Pois havia censura! Passeia a deixar cartas abonatorias, a dizer bem do colégio, quando queria pedir alguma coisa ou dizer o quie não gostava inventei um método eficaz no recreio, no jogo de vólei, fazia saltar a bola para a rua, mal aberto o portão, em galga corrida até ao marco do correio… jamais apanhada, tão pouco aos sábados de tarde, a rastejar na relva, para não ser vista, nas fugas até ao Estoril. Desfrute da minha liberdade, porque não suporto regras, embora as tente cumprir, tinha no bolso dinheiro que a minha mãe nunca me deixou faltar para iogurtes - a novidade, e chocolates. Perante a ameaça da denúncia de uma colega do Pobral, prometi trazer-lhe da drogaria o frasquinho com perfume. Já no dormitório ao inspirar a fragância, que era amoníaco, caiu no chão, remédio santo, se aquietou! Ouvi pela primeira vez a palavra amoniaco num acidente ao Ribeiro da Vide, ao ser dado a um ciclista atropelado...

Tormento aconteceu no 1º dia de meditação o chamado “Retiro”, dois dias em que as Irmãs é que trabalhavam para as alunas. Não se podia falar, apenas o estritamente necessario, pois eram dias de meditação. Mas, o que sabia eu sobre meditar? A biblioteca fazia parte das minhas tarefas diárias antes das aulas. Espanejava o pó às lombadas dos livros, e claro no Retiro, as alunas podiam escolher um livro, escolhi um tema tabu, do qual nada sabia e queria. Mal as Irmãs se aperceberam da minha escolha, sujeitaram-me a um interrogatório, sobre o que sabia, das coisas, que nada sabia…falou a minha inocência, até se inteirarem da grande ingenuidade, só queria perceber o fenómeno acometido no mês anterior ao meu ingresso no colégio, de tal ordem o senti abominável, sem o ser, só voltaria em junho com uns comprimidos amarelos receitados pelo Dr. José Almeida da Junqueira…dada a fila de espera no Dr. Travassos chegar à rua,  a minha mãe tinha de entrar no turno das 5 horas no correio.

Martírios psicológicos a juntar à panóplia de austeros, frios e carentes professores, sem atenção às minhas fragilidades; tímida e com medos, não me permitiu valorizar a grande valia dos estudos, com deficites na gramática e pontuação…Hoje sinto essa lacuna!

Empecilho na minha vida? Acreditar piamente nos outros, advogada de terceiros, ingénua, valeu-me percalços. Aprovada nos psicotécnicos para admissão aos Correios, graças ao aviso da minha irmã – faz pouco mas bem, porque o tempo é cronometrado. No concurso para o banco Sottomayor em Coimbra, ouvi "cunhas" de licenciados, e  o banco só aceitava candidatos com o 5º ano...Foi a 1ª vez que alguém - o Dr. Querido, um dos que vistoriava as provas, vendo a minha prestação atenta  me pediu autorização para ver a minha prova, e diz " a menina está a fazer uma prova excecional" , pois era sobre cultura geral, o meu forte, fiz aprendizado após o meu pai falecer em 1972, ainda não havia reformas, pese ter sido funcionário público, a minha mãe viu-se obrigada a reduzir despesas, despedindo a criada. Sobrando para a mim e para a minha irmã as tarefas domésticas. Para solver este imprevisto que não era bem aceite por nós, desenvolvemos um métido de sortes que aprendemos num episódio na TV. Enquanto decorriam as tarefas faziamos alternadamente perguntas de cultura geral, uma à outra. O gozo era perceber qual de nós era a melhor. Depois de realizadas as tarefas era entusiasmante  apreciar o nosso interesse na direção da sala de visitas para pegar no Atlas, livro de Geograia ou História, para descobrir algo que podia ser novidade, a chave para ganhar as sortes no dia seguinte, e ser a vencedora. Foi esse agregar cultural que determinou naquela sala em Coimbra, ter sido a única mulher aprovada para o Banco entre seis homens. Já nos recursos humanos do Sotto Mayor em Lisboa, fui questionada ao meu estado civil - concorri solteira mas, já era casada com morada em Almada, se tinha intenção de ir trabalhar para Ansião? Respondi que sim, farta de contratos a prazo nos CTT, sem saber se havia amanhã, ao invés no Banco, como efetiva sem receio de ir nem que fosse 5 anos... Deixou-me em espera e foi telefonar para o Banco de Ansião e resolveu pendência de uma “cunha”… voltou ao guiché e diz-me; não pediu nada e fica em Lisboa, hoje é o seu dia de sorte... alguém entrou no meu lugar e havia de trazer um leitão assado, o que  percebi no telefonema...

A minha mãe inscreveu-me nos Correios para fazer ferias no verão. Em junho, estudava em Pombal, no antigo 7º ano e fui trabalhar para Coimbra, na parte técnica. O meu serviço era dar entrada à panóplia do correio a pedidos vários; abaixamento de linhas para corte de madeira, pedido de circuitos para a volta a Portugal, reclamações, avarias etc. No edificio junto do mercado com vista para o Jardim da Manga, onde fui adiorada por todos, sobretudo a faixa etária alta, a rondar os 60 anos, que se guerriavam entre si para me ensinar o serviço com outros a levantar a voz coitada da menina ainda a baralham...Nunca fui tão bem tratada num emprego. A minha chefe superiora, nem a conheci, pois trabalhava no Calhavé, sabia da minha condição de assalariada a prazo, casada em Almada. Um dia telefonou-me a dizer que na sexta feira seguinte tinha entrevista marcada em Lisboa na PT -. Portugal Telecom....bem sabia que um casal tão jovem não devia estar afastado pelo trabalho. Denotava ter visão e reconhecia o perfil do trabalhador alémd e olhar pelos seus subordinados. Nessa altura a parte técnica foi dividida: correios e criação da PT, cujo administrador vindo de Coimbra, amigo dela, só mais tarde percebi. A quem me indicou, pela valia da prestação do meu trabalho e arquivista, responável,  honesto e cumpridora de horarios. Cheguei a Lisboa  à Rua Conde Redondo para a entrevista quando na receção fui informada que o Sr. Administrador tinha sido naquele dia hospitalizado, com um problema cardiaco...Pois não tinha de ser!

Recordo duas cenas desagradaveis em Coimbra: a 1ª : perpetuada por um colega de Pombal, assalariado noutra secção - um TS- tarado sexual ... enorme, gordo, feíssimo, labios grossos eis que um dia se chega até mim, na hora de trabalho de ar esgaziado sem modos pede para ir com ele para tras de um armário ( faziam parte do arquivo), percebi no imediato o que ele queria e fugi ...denunciei-o e foi despedido. Não tive remorsos, percebi, sem perceber, pois a palavra assédio sexual, ainda era desconhecida...  

Outra forma de assédio sexual era perpetuada por outro colega mais velho, maduro,  achava que eu não era casada, por usar uma aliança diferente, novidade usada pelas noivas,  minhas colegas, de Vila Nova de Anços; de face direita, larga, com arabescos...à sexta feira ao sair para apanhar o comboio para Lisboa, perseguia-me, sem dizer uma palavra...tanto me saturou até que fui forçada a contar ao meu marido o incidente desagradavel, que era aquela persiguição, pelo que achava melhor mudar de aliança, por uma dita normal. Decisão firmada, mas, por estarem gravadas com o nosso nome foram desvalorizadas, na compra de umas corriqueiras, banais, de face roliça ...Cheguei a Coimbra e quando viu que usava uma aliança habitual de casada, finalmente acalmou e entendeu ...

O meu contrato a prazo finalizava em agosto de 1980. Pese gostarem de mim, a renovação perfazia 3 anos consequtivos. Na pratica ficava integrada na empresa , por isso mesmo a empresa não renovava a ninguém.  Sabendo disso, concorri no verão para substituições de férias para Lisboa. Fui aceite. Despedi-me de Coimbra, no dia 3 de julho de 1980, já que no dia seguinte era o feriado da Rainha Santa Isabel. No dia que me apresentei  na Praça do Comércio, em Lisboa, a  senhora que me atendeu, de má cara,  diz-me;  a senhora despediu-se em Coimbra e quer vir trabalhar para a mesma empresa em Lisboa? Não pode ser. Respondi, desculpe, isso foi no dia 3 -  no 4, foi o feriado municipal em Coimbra e, nenhuma entidade patronal me pagou,  nesse pressuposto julgo posso ingressar em Lisboa ...baralhei-a, insatisfeita com a minha afronta, quis lixar-me e diz-me;  vai trabalhar por turnos para Santa Marta, começa às 6... eis que reparo atras noutra colega que me acena para dizer não...e retorqui, desculpe, moro na margem sul, nem sei se há transportes de madrugada para Lisboa, não posso aceitar , amornou e decide enviar-me para a 24 de julho, de imediato aceitei, pois sabia que a minha mãe gravida de mim , depois de regressar da Madeira , ali trabalhou e só depois foi para Ansião...lá fui de eletrico, o pior foi atravessar a avenida de 4 vias...quase fui atropelada. Cheguei ao local, um antigo paço, hoje sitio da EDP, com altas, grandes, e elegantes janelas de ombreiras de pedra, de garbosos remates florais, julgo perdidas, sem dó abriram duas para fazer um portão, para receber todas as encomendas vindas para Lisboa. Havia uma passadeira eletrica para as conduzir...imaginem em 1980, encomendas abertas, rotas, com chouriços e queijos de fora, moradas incompletas, mal atadas, enfim um horror...o chefe, homem de metro e meio, vestido de oculanas enormes de massa em tons de amarelo torrado, orgulhava-se de conseguir entregar as encomendas...pasasva o dia de lista na mão a telefonar para sicrano e beltrano, até localizar o destinatário...o seu orgasmo intelectual, localizar e entregar encomendas... Entretanto a minha mãe recebe carta do Banco, para me apresentar  em Lisboa, na Duque de Loulé...disse à minha irmã, pois na sua cabeça eu já estava em casa, a trabalhar em Lisboa, por certo não queria voltar a Ansião...felizmente que a minha irmã pensou melhor e diz-lhe, quem tem de decidir sou eu e ninguém por mim, em cima do prazo telefona-me e claro em pressa para arranjar a documentação; registo criminal pedido com urgencia etc etc, no ultimo dia pedi ao chefe para sair de tarde para ir ao Banco apresentar a papelada...ficou furioso, não comigo...clamava quando uma empresa não sabe reconhecer o calibre dos seus funcionários, não avança...

Efetiva no Banco renunciei estágio nos Correios...sabendo que V.Exa, se encontra numa situação de emprego defenida, ainda assim, vimos propor-lhe que incorpore o nosso estágio... 

Tinha mérito, debalde ingénua, e a mania extrema de acreditar que os outros eram todos melhor... 

Mudei tendências no Banco. Ao fim de 15 dias pedi a transferencia da Avª da Liberdade, da secção de Letras . Preenchia lentamente o impresso à máquina procurando o sítio das letras, quando o chefe passa por mim e diz; no meu tempo para se entrar no banco era preciso tirar o curso de dactilografia...respondi, pois isso foi no seu tempo Sr. Serra Lopes... Outro chefe de quem esqueci o nome, sondou-me para ficar, aliciando que a seção era boa para promoções de mérito. Se acabava de chegar, sendo todos mais antigos,  não fazia  sentido, já que aprecio  igualdade  de direitos. Recordo de haver colegas diferentes. Um dia atrevi-me a questionar a colega Filomena, quem me ensinava o serviço sobre o andar estranho do colega Ferreira, que não falava com ninguém ... a senhora não sabe? Respondi não sei o quê? Ele é homossexual...respondi sim, sei...forçada naquele momento a mentir, que abomino, sendo ela " retornada"  tinha ideias muito avançadas para a época, punha a máquina de lavar roupa  só com a bata da filha...já eu vinda de Ansião, a minha mãe enchia  a máquina para a ligar, já a palavra homossexual, foi a primeira vez que a ouvi e demorei tempo para perceber o que significa!

Cheguei ao 1º andar da Rua do Ouro vestida com o segundo fato do casamento, em seda natural  com florzinhas  em bordeax. Foram chamar o Sr. Rhodes Sérgio, a quem entreguei a carta. Escolheu-me para a sua secção de Descontos, a detrimento das outras duas; Responsabilidades e Garantias. Ao distribuir-me uma secretária abri a gaveta na horizontal tirando para o tampo o que  tinha dentro, fiz limpeza e arrumei. No brefing semanal,  diante de todos, o chefe elogiou  a minha determinação,  viram como a Isabel antes de começar a trabalhar limpou o lixo da secretaria? Logo ali ganhei muita inveja! Que desvalorizei, pois a inveja não faz parte de mim!

Recordo nas Letras das listagens impresas na Processa, cujo trabalho era conferir os dados (nome do sacador, aceitante, avalistas, vencimento, datas, etc) localizando erros na impressão para enviar a correção. As  letras eram arquivadas em grandes cofres por ordem decrescente do seu vencimento, sendo retiradas 20 dias antes,  para envio e cobrança, ou apresentação de novo titulo - reforma, com entrega do capital remanescente...Já na Rua do Ouro chegaram as listagens do pessoal para conferência. O chefe chamou-me, e questiona se tenho o 5º ano, como dizia a listagem, informeio-o que tinha abandonado o 7º ano,  em junho, para ingressar no Banco, pese o Sr. Pais, da secção de Letras, insistir para ir fazer os exames, debalde acabada de chegar, os estudos naquele momento não me faziam falta, achava eu...mal.  Quando me diz, a Isabel pelo que denota no trabalho tem muita qualidade para subir no Banco, aconselho-a a seguir os estudos, tem inclusive regalias como trabalhador estudante...Fiz mal não aceder... ao voltar à minha secretaria a colega com quem partilhava o serviço, surpreende-me ao querer saber o que o chefe tinha falado comigo ...ingénua partilhei a conversa. Soube no ano seguinte que após a nossa conversa foi inscrever-se num colegio para estudar de noite, chumbou nesse ano, concluindo só depois o 5º ano . 

Na quadra natalícia de 1980 uma empresa ofereceu um grande bolo rei para a secção. Antes do fecho foi cortado, percebi que era pratica anual, e o bolo foi partilhado por todos. Irrompe o chefe a perguntar a quem tinha calhado a fava...tinha de pagar o proximo bolo, mas, ninguém se acusava, e eu, enexplicavelmente ruborizei...um mal que me acometia desde criança e me atrofiava, acontece que não tinha sido a mim que a fava calhou, vi-me obrigada a explicar , a partir daí deixei de ruborizar!

Um gerente de Santa Apolonia que apreciava a minha eficácia, na procura das propostas do seu Balcão. Corria todo o circuito nas secções até as encontrar e tratar para ele levar os créditos. Viria a ser promovido a diretor na Fontes Pereira de Melo. Nessa altura veio ter comigo, elegiou a minha capacidade de trabalho e convidou-me para trabalhar com ele na Daiap, era um departamento ligado à agricultura. Recusei, pelos transportes, ao trabalhar na Rua do Ouro era mais perto da margem sul...a minha colega, a tal, com genes do Joaquim Agostinho, o ciclista, da mesma região, que antes já me ludribiara ingressando nos estudos sem me dizer nada, percebeu o convite e apressou-se a entrar em contato com o diretor. Foi a sua libertação à minha custa, acabou por ser selecionada primeiro do que eu para o cargo de subgerência. Porém, acabou a carreira neste posto, já eu sem jamais pedir algo a alguém acabei gerente, e não fui mais além pela falta do titulo académico...

Exerci o papel de advogada de terceiros na primeira notação profissional, a defender os direitos dos meus colegas, abrindo olhos a chefes que desconheciam o real saber dos seus profissionais. A avaliação era por grandesa de letras:  D e E -  barafustei, esta atribuição, sendo alteradas para C, debalde as minhas ficaram iguais, C, quando deviam ter sido B...haviam colegas integrados da Siderurgia e telefonistas, dando a dimensão de terem muito serviço. Na verdade não tinham, era engodo. Decoravam tarefas. Numas obras a mudança de algumas secretarias, o colega que fazia a contabilidade,  ficou à nora sem saber o sítio onde tinha de pôr os papés amarelos - créditos e os azuis - os débitos... Decoravam, sem perceber a logica do serviço.

Quando a sede no Banco se mudou para a Quinta do Ferro, fui a 1ª na Rua do Ouro a dizer que ficava no Balcão que iria aí nascer, o chefe virou-se para mim e diz-me, não sabe onde se vai meter, o que é um balcão...mas fui firme.

Outras demais vicissitudes onde desafiei gerentes a acordar num Banco com administração publica, com medo de fazer o seu papel. Recordo um gerente que me escapa o nome cheio de tiques...mal chegou mudou as minhas funções sem me avisar, dei conta quando fazia a resenha dos varios tipos de depositos a prazo, e  vejo outra colega com cara de bolacha Maria e corpo bem torneado a tentar fazer o mesmo. Essa colega era a mulher mais limitada que conheci. Incomodava todos para enviar um telex. Não tinha memoria, nada, mesmo limitada, apenas de corpo bem torneado, bem desfilava para deixar tanto homem em ataque de nervos, a suar... entrei gabinete dentro e confrontei o gerente, sobre a razão de não me ter avisado, ele começou a puxar o colarinho e com imensos tiques, levantei-me e disse-lhe, pare por favor com os tiques, é coisa que me incomoda...a minha sorte foi no dia seguinte ele ter sido suspenso, ao que cionstou falou mal de um Administrador...foi substituido pelo Sr. X.,  ao olhar para a minha imagem, simplemnte achou que os meus belos e longos cabelos negros asa de corvo, seriam  chamariz no r/c do Balcão - respondi que não ia, e claro aproveitou -se da cara da bolacha Maria, de corpo torneado, alegadamente deu faísca e fruto ... 

E, um "lambe botas" que subiu do serviço administrativo como criado da Direção, num tempo ainda sem computadores, cujas ordens eram recebidas em fila de espera. Onde fiz aprendizados, e claro ouvi muita conversa...pedidos de estrume para os jardins, sapatos, casas emprestadas para uma escapadinha com amantes, e o "lambe botas" já diretor, a telefonar a alguem a perguntar quanto tinha de pôr num envelope para a filha passar num exame... gostava de me bajular, pois era vaidosa e vestia bem, naquele dia estreava uns brincos que tilintavam; duas folhas uma branca e a outra rosa, a jeito de brinco oscilante, a quem dei uma má resposta...homem vingativo, induziu o meu chefe que me tinha mandado fazer outro procedimento, e não contabilizar em credito mal parado, o que na verdade me ordenou para fazer... naquele momento tive de me defender em força. Esclareci que lamentava, mas o Sr. diretor mente para me prejudicar, por não corresponder ao elogio aos meus brincos. O Sr. diretor se achou valente, sem o ser, porque valente era eu, de apelido, força do trabalho e  postura com os outros!

Um advogado requesitado num Ministerio no Terreiro do Paço, andava em cima de mim, abominava tal homem...um dia em cima do fecho, às 3 horas, mandei o segurança fechar a porta, ele entrou  e ouvindo a minha ordem para fecho do cheque auto, para a contabilidade. Chegou ao caixa e pediu cheque auto, para testar se desdizia a ordem ...Detestava aquele estafermo obeso, que se babava a olhar para mim... Sem o cheque auto dirige-se ao chefe para fazer queixa de mim. O chefe, coitado, a suar, explicava-se; a Isabel é uma ótima funcionaria, foi concerteza um mal entendido, até que me meti na conversa e disse, Oh chefe, não se preocupe, se o Dr. pretende fazer queixa, que faça...raivoso,  com a minha postura de força segue para os recursos humanos...ai já começei a ter medo... até entender a sua estirpe , afinal ele tanbém trabalhava para o banco, nos processos disciplinares...por isso encenou a cena de se dirigir para lá, para se mostrar ...esta rebeldia valeu-me a pior classificação na notação profissional, que tive de aguentar calada, até solicitar transferencia.

Quantos mais episódios?................................ até ao real acordar que aconteceu naturalmente aos 37 anos, em atitude dinâmica, obstinada ao substituir uma colega. Cabal desenvoltura a concretizar os objetivos, deixou o gerente estupefacto. 

Fiz as pazes com os vários chumbos na escola e colégio, onde estilizei a síndroma “burra”, a juntar ao deficitário 11º ano, pautou-se a minha vida profissional com louvores mui exagerados, sem estágio, nem a primordial formação deontológica, pese em nada impeditivo à progressão de atingir o patamar da gerência de sucursal bancária graças ao talento de liderança, estratega, comunicação, polivalência, e poder organizacional.

Quando a tua mamã foi estagiar como Psicóloga, na Escola Secundária de Odemira, assisti em Luzianes Gare, à chegada de gente de trator, vestida de botas, para não faltar à entrevista no Programa das Novas Oportunidades. Grande era o anseio à qualificação académica. 

Fez-se luz naquele fim do mundo, onde o diabo perdeu as botas, com muitos a não querer perder os incentivos governamentais. O meu despertar aos 50 anos para finalizar o 12º ano, a louvor dos professores, a senhora é a exceção, à "merda" do governo Sócrates..

Ganho o palmarés à clareza, sistematização de conceitos e melhoria na escrita, dilacerada na vida laboral a redigir pareceres comerciais. 

O desafio aqui lançado de querer melhorar mais com a tua ajuda, a par o traquejo falado da língua inglesa, o nosso diálogo, o que te parece? Ficaste apreensiva, pois tiveste Suf a inglès, amei a tua sinceridade, confortei-te, as duas havemos de conseguir.

A persistência é que nos conduz à vitória e não apenas o entusiasmo ! 

Graças às técnicas de sucesso na Banca, investi na reforma à arqueologia histórica, sem escavar. Acumulei memórias de meio século, ao todo da região de Sicó, que é mais abrangente na Alta Estremadura, com talento a esmiuçar erros e lacunas à dispersa bibliografia, coligo e levanto história, de bibliografia inédita, pese o cariz intrínseco amador. 

Caminhadas nas terras limítrofes a Ansião tem sido a cereja no topo do bolo, a coroar pormenores despercebidos ao potencial turístico: património natural, paleontológico, cultura castreja à chegada de tantos, aportados de todos os lados; N/S e E/O, Escandinávia, Mediterraneo, Levante... começo numa curiosidade, a razão de um poço no quintal dos meus pais ter escada, demorei mais de 50 anos para perceber que é um poço de chafurdo, de verão à medida que a cota de água desce, permite a entrada até chafurdar, havia de associar outros, juntos dos corredores das vias romanas e ainda a  arquitetura à valia da água em terra cársica, além dos  poços de chafurdo as fontes de mergulho, etc. 

Reconheço a vocação de passar a mensagem e a capacidade nata de influencer. 

A ingenuidade pois, ainda sem libertação completa! 

Quiçá teria sido uma advogada de voz forte na barra do Tribunal, professora ou arqueóloga. 

Porém aos 18 anos, reinava em mim, insegurança, sem saber que curso escolher. 

Nunca encontrei ou trabalhei com alguém do meu calibre. Um dia em Ansião, enchia um trator de lenha, o homem que a cortava, cujo conhecimento tinha ali sido travado,  disse-me, e repetiu à minha mãe ...nunca vi uma mulher a trabalhar como a D. Isabel.

Sou muito enérgica, determinada e prática, faço varias coisas ao mesmo tempo!

Isso claro, granjeia inveja, muita inveja! E a inveja é um mal terrível!

Hoje sinto-me realizada e tu, querida Láu, levas dianteira. Apraz dizer, é aliciante sentir esse feeling!

Quiça o fascínio ao brilho do ouro, e caraterísticas físicas, presumem os meus genes serem fenícios, segundo um colega de estirpe Emaus, em Lisboa,  pese ainda, sem exame ADN. Em gerações cruzadas com celtas, mouros e judeus. 

Dita a tua beleza exótica querida neta Láu, cifra a belas mulheres do Mediterrâneo; imperatriz do Irão, Farah Diba, e a rainha Rania, da Jordânia.

O meu maior orgulho depois do nascimento da tua querida mamã foi a visão à poupança iniciada com 5 contos, fruto do seu batizado, em seu nome, que acumulou 20 anos, muitos e variados fundos de premios e  ajuda na lida da casa. Recordo que os meus colegas troçavam de mim, a que respondia, só tenho uma filha, não estou a roubar outro filho, se tivesse criada tinha de lhe pagar... a poupança serviu de estofo substancial quando decidisse sair de casa. E, sim foi fundamental, com o namorado comprou casa a pronto em Lisboa. Pagou a sua quota parte a pronto, obras, e ainda comprou um espaço em redondo que tinha sido mercearia,  defronte do seu prédio, com 40 metros. Quando me reformei dei-lhe o meu carro, um micra, pequeno mais facil de estacionar. Com a chegada dos gémeos ao adquirir o andar de baixo, e obras com escada interior a ligar 3 pisos. Pois já tinhamos ajudado tanto , e fomos às poupanças , ajudar mais como na mudança do carro.

Querida neta Laura os teus avós; Bela e Luís, anualmente em teu nome e nos manos, investem nos certificados de aforro. Estimável aos 18 anos, pague a cada um de vós a carta de condução e um carro seguro - poderá ser em 2ª mão, já que a poupança se faz a poupar, convicta cedo enraízam o hábito da tradição familiar.

Adorada neta Láu, longo vai este falar à precipitação de um até já. 

Ensejo à elevação dos estudos, já que a sorte protege os audazes, almejo na Universidade, eleição às escolhas de grandes empresas. 

Jamais descuides a importância dos afetos, e interajuda honesta a colegas, amigos e família - cruz, que jamais deve cair!

Bênção à proteção na saúde, sem jamais descuidar o corpo, a mente e os valores angariados no ensino, família, e amigos, a louros de espectável vida digna, com objetivos, isenta de vícios, amante da natureza, e da música – o piano. Instrumento que aprecio e conheci no colégio Salesiano, onde haviam dois e aprendi a tocar...O pretinho Barnabé

O pretinho Barnabé, tiro-liro-liro, 
O pretinho Barnabé, tiro-liro-lé.
A saltar quebrou um pé, tiro-liro-liro, 
A saltar quebrou um pé, tiro-liro-lé.
Salta agora só num pé, tiro-liro-liro,  
Salta agora num só pé, tiro-liro-lé...
As Irmãs insistiam para que aprendesse a tocar acordeão, debalde tanto botão dos lados do instrumento, 
que logo desisti de aprender... 

Fica bem princesa, emano grande abraço para ti e para os príncipes, teus manos!

terça-feira, 16 de abril de 2024

Palmarés ao Festival do Vinho de Chão de Couce!

 Resumo publicado na crónica de abril no Jornal Serras de Ansião de 2024

O Estudo Monográfico de Chão de Couce de 2001, do Dr. Manuel Dias, não cita o Foral Manuelino de 1514; o foro de pão, linho, tremoços e vinho, abordado no seu Blogue. 

Como não elenca  heranças gregas na região, povo esquecido por investigadores, em Sicó e suas franjas. 

A rede castreja no centro de Portugal convergiu povos vindos de Espanha, pelo Zêzere,  pela Pombeira,  S. Pedro de Crasto, e por Dornes, do Alentejo e Beiras. Confluiam num eixo viário a nascente  do Tojal, a sul de Alvaiázere, e Ferreira do Zêzere, onde cruzava o carreteiro norte/sul (Braga/Lisboa) e do litoral  no porto abrigado de Alfeizerão, braço de mar, hoje Lagoa de Óbidos; escandinavos, fenicios, gregos, celtas e romanos. Severim Faria em 1609 evoca; Euora de Alcobaça há 1 legoa he esta Villa antiga, e os Geographos Gregos e latinos fazem delia menção com o nome de Eburobeicira. 

Difícil datar a chegada do povo grego e a sua herança ao rico passado da vinha na região pela falta documental e arqueológica , quase sem estudo e presumido por Jarnault, na sua Monografia de 1919 de Penela, ao elencar gigantes da lenda do Germanelo. 

Chão de Couce ostenta o topónimo Portelanos, no corredor romano da via militar XVI, deturpado de portulano, uma carta marítima usada no mar Mediterrâneo. 

Como topónimos alusivos à vinha na freguesia: Trás da Vinha; Vinha Grande, Bacelinhos no Cabecinho; no Avelar; Vinha da Moita; em Pousaflores, o topónimo Pedra da Adega, Adegas. 

A vinha e o vinho foi avivado pelos romanos, à sábia reutilização dos carreteiros da proto-história, que os permitiu chegar ao País, e á região centro adjacente à fundação de cidades; Gaeiras, em de Óbidos, e Collipo, na Batalha, com ligação a Selluim (Tomar), pelo castro de Vale de Rodas, na Sabacheira, posto a descoberto na escavação do gasoduto. O topónimo Sabacheira, em Ourém, terá origem na boa casta de uvas, a clamor “Sabe e Cheira”. Clarifica a origem da vinha trazida pelos gregos aportados no porto de Alfeizerão, na rota castreja acima descrita para Sellium - que é um topónimo celta. Porém, o vinho foi antes dado a conhecer pelos mercadores fenícios, à troca de ouro explorado na região. Atesta a importante via vinda do litoral para Tomar pontes de cantaria, quiçá romanas a partir da  Sabacheira, ao invés no troço também romano, a norte do Fárrio à Avanteira, em 1758, de pau até Formigais. 

Em Rio de Couros entroncava o carreteiro do castro da idade do bronze de Conímbriga (romanizado em cidade), e na Sandoeira, o de Ansião e Abiul. Interface no porto de Formigais; pela Quebrada, em Almogadel, Ferreira do Zêzere, cruzava a via militar para Sellium, e para norte, o eixo viário nascente ao Ramalhal (complexo megalítico das antas), o interface de Relvas. A  via militar e a paralela, a chamada estrada coimbrã por Vale Cipote, Alvaiázere, Maçanicas, Pousaflores, Pereiro, Vale Cego, Chão de Couce, à represa da Quinta da Mouta de Bela, onde foi o ramal usado de inverno a contornar a laguna do Barqueiro.  Hoje a região é servida pelas acessibilidades; A13 e IC 8.

Hoje o vinho de Ourém marca Medieval, associou-se a vinhas  do oeste de coutos e granjas dos frades de Cister de Alcobaça. 

Permite a reflexão à distinção de vinhos antigos no País: 

Vinho de Colares

Vinho da Talha no Alentejo

Vinho verde tinto do Minho

Vinho de Ourém Medieval

Vinho do Pico, Açores

Os vinhos denominados Terras de Sicó fazem parte de outra sub região- pelos vistos sem categoria assinalável para o seu destaque. Bom, presume que Ourém devia fazer parte da integração das terras de Sicó e suas franjas, por estarem fatalmente  comprometidas desde a proto-história, no plantio da vinha trazido pelos gregos, e não apenas o seu enfoque aquando da formação de Portugal com os frades.Mais, as vinhas antigas viviam em consorciação com o olival e outras árvores.

Um vinho palheto extraordinário, escorre lágrima no copo!

A vinha foi difundida pelos romanos no mundo

Prevalece o vinho da talha na Vidigueira e Amareleja no Alentejo, no Minho, no verde tinto e na Geórgia. Decaiu por ser trabalhoso, sobretudo a limpeza dos resíduos nas talhas e a sua impermeabilização com pez; resina de pinheiro ou cera de abelhas, sendo as talhas aquecidas viradas com à força de mãos, com o bocal no lume, arte quase desaparecida com a arte da tanoaria.

Apogeu as “festas rusticas” a 9 de Outubro, ao deus grego Baco, e ao romano do vinho

Sobejo da Festa das Vindimas na Borda d´Água nos ranchos do cortejo, vestidos de roupa usada oferta dos patrões.

Excerto da Miscelânea da Senhora da Luz de Miguel Leitão Freire de Andrada de 1629

Todas as casas tem o seu quintal de frondosas laranjeiras e limoeiros que enchem a vila de suavíssimo cheiro e a alegria das suas flores, e muitas ruas cobertas de parreiras que vão dar aos telhados a outros, criando delicadas sombras...Sobressai a casa de Belchior de Andrada e de Catarina Leitoa, sendo ele juiz de Órfãos de Pedrogão Grande(...)Tem este pomar (convento) outras árvores de peros, peras, de todas a mais forte a camoeza, o verdeal, o pero d'el rei , a Chainha e muitas outras de contornos tão gabados que todos os anos os padres mandavam para a Rainha D. Catarina cargas delas e abrunhos, a royal e outras extraordinárias como agrestes nêsperas e soruas. Ao longo do ribeiro muitas aveleiras e do outro lado da rua das Laranjeiras muitas videiras de várias castas do tamanho de uma carreira de cavalo que se chegam a um pateo lajeado também ele cercado de videiras em volta e bancos em laje espalmados por arbustos cheirosos...

Retrata o excerto o uso de latadas, com origem nos etruscos, vindos da actual Toscania, em Itália, dominaram a Península Ibérica na Idade do Bronze. Já a vinha baixa tem origem grega. 

O vinho entra na dieta mediterrânica, alimento que matou a fome no caldo da sopa de feijão, e de manhã as “sopas de cavalo cansado”. Vinho e pão, a sua cor marcava a diferença social; mais escuro a plebe e o mais claro a nobreza.

Património imaterial de tradição cultural ancestral, identidade do povo; néctar dos deuses na Eucaristia; festa e romarias, hospitaleiro com pão, queijo, chouriça, leitão e azeitonas, a pico d’alho, azeite e coentros. Vinho âmago de afeto. Marca indelével à mística da riqueza mineralógica dos solos de Chão de Couce plantado no mosaico charneira da orla sedimentar meso cenozoica ocidental, e o Maciço Antigo Hespérico, da falha Porto/Tomar e Badajoz , que se reconhece no vale da Mata Boa, de rochas intrusivas e metamórficas. Rés vés o fim do calcário na Serra dos Carrascos, e o Vale da Mata Boa, com solos litólicos, bolsas de arenito, grés escuro, lajes, xisto, quartzitos e cascalheiras. Ex-libris à sua distinção, já que a paixão pela vinha abrange todos, mas - vinhos há muitos, e os de Chão de Couce são únicos, galantes, sumo dos deuses magnífico!

O  legado Al-Andaluz, sem segregar a vinha, fomentou o pomar mediterrânico; figueira, laranjeira, limoeiro, nespereira, olival, amendoeira, etc. Não havia casa sem a sua laranjeira, limoeiro e figueira. 

No estudo de Virgínia Rau, a vinha foi uma das armas da Reconquista. 

Excerto da Monografia do concelho de Figueiró dos Vinhos " (...) a Herdade do Pedrógão  foi concedida perpetuamente, com “os termos e lugares antigos como se encontra no território conimbricense”, asserção que leva a supor que tal herdade já se encontrava organizada numa forma administrativa estável em tempo anterior, provavelmente sob domínio eclesiástico, sendo tal suposição suportada pela referência, no mesmo documento, à existência de um mosteiro na foz do rio Alge, atual freguesia de Arega; não nos foi possível determinar, no entanto, se alguma relação existiu entre este mosteiro e Santa Cruz de Coimbra, cujos religiosos foram, dois séculos mais tarde, responsáveis pela construção da Igreja Matriz de Figueiró dos Vinhos e apresentação dos seus párocos nos séculos seguintes. Esta herdade englobaria não só as atuais freguesias do concelho de Figueiró dos Vinhos, como ainda o território correspondente às atuais três freguesias do concelho de Pedrógão Grande e parte de Castanheira de Pêra, Ansião e Alvaiázere."

Domínio medieval de Senhorios  eclesiásticos e do Duque de Aveiro  em alusão à vinha e vinho 

"Compra em Janeiro de 1244, por D. Constança Sanches, filha bastarda de D. Sancho I, a Fernando Martins Galo e esposa Maria Peres, herdade em Alfafar de uma vinha que divide a estrada de Coimbra com Podentes, em Penela  a oriente ."

"Nas Memórias Paroquiais de Ourém de 1758, cujo primeiro topónimo  foi Abdegas, quiça reporta a adegas? "a abundância de vinho se não faz perder a antiquissima fama que Ourem sempre conservou"; na freguesia do Olival " o vinho em maior quantidade e abundância, que haveno muitos bebados, lhes não podem dar consumo" ; na Freixianda o vinho o melhor que há  no termo de Ourém".

"Em 1514, o Foral Manuelino de Figueiró dos Vinhos, continua a afirmar que os moradores deviam pagar o oitavo de pão e vinho e linho. Rodrigo Mendes da Silva, na obra Poblacion General de España, publicada em1675, afirmava que em Figueiró dos Vinhos, viviam cerca de 200 vizinhos, sendo que nessa época a cultura do vinho assumia por todo o reino uma relevante fonte de rendimento e riqueza, merecendo o vinho produzido em Figueiró a adjetivação de famoso."

Em 1236 aparece Couce, no arrendamento pelo Mosteiro de S. Jorge de Coimbra, a 10 famílias «hereditate de Canaue et de Cocci et de Campores et de Coenhosa»;  «D. Pedro I, doou a 7 de abril de 1364, a D. João Afonso Telo de Menezes, 4º conde de Barcelos, seu mordomo-mor «todo o direito real direito e foro» que tinha   «na quinta da mouta de bella com suas herdades e aldea de Canaue em seu termo» e vinhas e pertenças», nos casais da Ameixieira com todas as suas herdades. Os ditos lugares no "Chão do Couce e termo em Penela».

Excerto de (ANTT – Cónegos Regulares de Santo Agostinho, Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, a importante carta régia de 30 de agosto de 1410, enviada aos almoxarifes de Coimbra, Penela, Rabaçal e Alvaiázere, dos direitos do Mosteiro de Santa Cruz naqueles locais, revela que o cenóbio tinha “en podentes hua casa com sua vinha”. Et grangiam de Ateania cum sua lavuoira. Et uinea. Jn fiscaz.vj.casalia.et.j.casam cum sua uinea

Falta identificar em Alvaiázere o topónimo Fiscaz...Será Melgaz?

Em 1431, foi instituído o vínculo de Morgadio dos Condes de Vila Real em Ceuta;  «Aguda tinha 38 Km2 e 160 pessoas, Avelar 11 Km2 e 440 pessoas; Chão de Couce 25 Km2 e 95 pessoas; Maças de D. Maria 22 Km2 e 520 pessoas». 

No Tombo de 1508, a Comenda de Soure tinha impostos; “portagem”, “açougagem”, “mordomado”, renda do verde, “conhecenças”, a dízima do pão, vinho, azeite, linho, gado, lã, queijos, manteigas, mel e legumes (…) As rendas dos aforamentos eram algumas vezes pagas em moeda, cereais, galinhas, frangos e capões, ovos, vinho (…) Diogo Afonso Tem Vinha em conjunto com João de Ansião Perto de Soure.

O Foral Manuelino de Chão de Couce de 1514 e dos seus comarcões; Avelar, Pousaflores, Maças de D. Maria e Aguda (…) de todo o pão, linho e tremoços, de cinco, um, e não doutros legumes, e do vinho.

"Testamento de 1515, de D. Afonso de Albuquerque, Doação a Gonçalo Lourenço de um casal com vinha no Reguengo do Rabaçal. 

A carta régia de D. João III de 3 de novembro de 1529; A quantos esta mynha carta vinrem faço saber que o marques de Villa Reall meu myito precado prymo me disse que nas suas Vylas e concelhos de Palhaes (Chão de Couce), Maças de dona Marya, Aguda e o Avelar e Pousa froles que todas são no Chão do Couce avya pasante de quatrocentos vezinhos e partião huas com outras sem se meterem no meyo teras outras jurdições».

Ceras, em Ferreira do Zêzere; a 13 de novembro de 1609, Severim Faria vindo de Tomar, chegou a Ceras «há duas legoas de mui ruim caminho, e pedregoso, he lugar de quarenta vezinhos que abitaõ a partadamente. He abundante de azeite, vinho, pão e fruitas, muitas das quais cequaõ, e fazem exellentes passas”. Em 1623, o mesmo autor na casa da sua irmã em Maças de D. Maria «onde fomos alegremente recebidos e regalados com contínuos banquetes e diversas iguarias assim de carnes como de frutas e pescados». Severim Faria é considerado o primeiro jornalista português, debalde esqueceu a menção ao néctar do vinho, e não devia!

No Cartório do Convento de Celas de Coimbra, de 1633, Prouisão do Duque Marquez de Villa Real para se pagarem à Sra Dona Maria Manoel em três annos trezentos mil reis em Chão de Couce da herança das filhas de Rodrigo Aires (…) Prazo de huã vinha em Villa noua: com foro de seis hum, e duas galinhas.

Na Corografia Portuguesa do padre António Carvalho da Costa em 1712 

«a villa de Chão de Couce tem 30 vizinhos o seu termo assenta com huma igreja paroquial de invocação de Nossa Senhora da Consolação em Lugar de Couce, esta villa he a mais limitada, e falata de moradores entre as mais desta Comarca das Cinco Villas, e aparece que injustamente he cabeça della, ou se nomeia por tal, porque o exercício teve sempre a villa de Maçãs de D. Maria aonde se costumão registar as ordens, e fazer as eleições pertencentes a toda a Comarca, e sempre esteve na posse; e se tem por sem duvida que esta denominação não teve outro principio, e fundamento mais  que o de estarem nesta villa os Paços, aonde assitião os senhores dellas, os quaes tem uma ermida de NSenhora do Rosario com jardim, pomares e tapada e junto da quinta do Palácio está huma mata de castanho bravo, e de carvalhos, a qual tem Couteyro.»  A notícia mostra-se incompleta, a Quinta de Cima, sempre teve parcelas de vinhedos, com perda progressiva pela diversidade de senhorios. Foi pertença por duas vezes do Mosteiro de Santo Tirso, cuja distância não permitiu uma boa gerência dos frades. Após a extinção da Casa do Infantado, em 1834, o rei D. Pedro IV, a concedeu ao Sargento-Mor das Antigas Ordenanças das Cinco Vilas e Cavaleiro da Ordem de Cristo Lopes do Rego . Seguiu-se a passagem das Invasões Francesas, em 1810/1, com roubos e destruição. Presume a rainha D. Maria I, quando ali passou, saboreou leitão com bom vinho, já a baixela de porcelana, se diz foi partida para mais ninguém nela comer…o serviço de copos nada se diz… seria da Marinha Grande ou foi importado, ainda não existia a Vista Alegre.

Interligação do passado de Chão de Couce no Senhorio de Penela do Duque de Aveiro
O duque tinha palácio em Azeitão e vinhedos, e herdou outro palácio em Abiul (Pombal), além de propriedades em Pereira, em Montemor-o-Velho, Pombal, Ansião, Figueiró dos Vinhos, Ourém que se revê na " venda de huã vinha e campo em Ourem no Anno de 1277" e "Em 1611 Manoel Pimintel por querer laurar, e cultiuar os matos da contenda entre Figueiró e Pereira, em Montemor-o-Velho como foy o Vai do Barquo . Presume o apelido do foreiro remeter a Maças de D. Maria, onde viveu uma familia com o apelido brasonado, e o local Vai do Barquo - ser o Barqueiro, em Alvaiázere. Ou não, poderá ser em Pereira, onde a família Pimentel teve outro solar brasonado .

Outras propriedades do Duque de Aveiro
Viavai, Rapoula, Rascoia,  Avelar, Lagarteira, Ameixeira, Ansião e Chão de Couce. 

"No Arquivo da Universidade de Coimbra, o Cartório do notário Simão da Silva «em 9 de julho de 1710, foi dito pelo aludido capitão-mor que “em seu nome e de seus sócios Manoel Borges e o dito António Lopez de Siqueira como Perbemdeiros da Casa de Aveiro estava contratado com o dito João Mendes Gago que presente estava para lhe haver de arrendar e dar por arrendamento as rendas da villa de Penella e Reguengo da villa de Ançião e foros da villa de Abiul e tudo o mais pertencente a Casa de Aveiro”. João Mendes Gago, morador na vila de Ansião deu como garantia deste contrato os seguintes bens: “huma sarrada onde chamão o Simo da Villa e Ribeiro da Vide que parte com Estrada Publica que vai para Alvayazere, e da outra banda com estrada que vai para Santo António, mais a sua fazenda que tem em Val de Mosteiro que hé desde o Caminho que vai para a Quinta de Luís da Silva athé a fonte de Val de Mosteiro toda tapada sobre si que consta de vinhas, olivais e terras lavradias, mais huma vinha que tem o Barramco tapada sobre si com cazas ahi pegadas, mais huma sarrada com árvores onde chamão o João Galego tapada sobre si, e estas duas propriedades estam no termo da villa de Pouzaflores”. E forão testemunhas prezentes Miguel Vás Henriques morador em a villa de Montemor-o-Velho e Cosme Francisco Guimarães, Mercador morador desta cidade que todos aqui assinarão depois deste, lhe ser lido por mim Simão da Silva, Publico Taballiam que o escrevy. Mathias de Carvalho, Miguel Vaz Henriques e João Mendes Gago e Cosme Francisco Guimarães
Transcrição do saudoso Engº Miguel Portela, não conhecendo os locais aflorados, não lhe permitiu mais coligir. Recordo o complexo ruinal do primeiro burgo de Ansião, ao Vale Mosteiro, vulgo mosteiro, onde conheci quatro arcos de volta perfeita da adega, com a pedra redonda com o buraco onde assentava o senfim. Local onde é vivo o topónimo Alto da Vinha, foi em grande parte do meu bisavô Elias da Cruz. A menção à fonte do Vale Mosteiro, uma fonte de mergulho, requalificada com roda, a chamada Fonte da Costa. A quinta mencionada de Luís da Silva, é hoje de herdeiros do Sr. João Calado. A vinha do Barranco, ainda existe parte, extremava a poente com a estrada romana/medieval e real, na ligação de Ansião à Escarramoa, onde se bifurcava para sul por duas vias; Venda do Negro e Alvaiázere e poente Almoster, Ourém. A aldeia do Barranco, já a conheci desabitada, teve lagar, debaixo do qual foi encanado um ribeiro de enxurrada, ainda existe a saída da água, de forma quadrada. As constantes inundações foram mote à emigração para o Brasil, sem regresso.

Citar o Eng.º Miguel Portela, no Jornal O Ribeiro de Pera de 31.07.2019

terras de vinhedos, oliveiras, castanheiros e pomares, os foros  pagos em 1204, ao Senhor Pedro Afonso; oitava parte do pão, vinho e linho. Em 1488, o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra emprazou soutos por 6 anos, a 4 foreiros, e que o serrado fosse “deposto por vinha de boa pranta”. Conflitos de 1358 a 1360, entre Coimbra e o Mosteiro de Santa Cruz, às medidas novas do vinho e do pão nos moinhos no Rabaçal e Ansião. A plantação de vinha e a produção e vinho data do séc. XIII.  Havia vinhas isentas por toda a região de Monsalude. D. Pedro Afonso, concedeu Carta de Foral a Figueiró no ano de 1204. Em 1514, D. Manuel I outorgou-lhe Foral Novo, com o nome Figueiró dos Vinhos. Exalta o sufixo do topónimo, a riqueza da vinha trazida dum passado cimentado no vinho. Não corroboro a citação do autor ao datar o plantio da vinha no séc. XIII, como citei antes, o rico passado grego da riqueza da vinha na região, jamais estudado nem presumido. Em Chão de Couce o topónimo Portelanos, no corredor romano, não é alheio, deturpado de portulano, uma carta marítima usada no mar Mediterrâneo por gregos, fenícios  e catagineses, aportados à região, à primazia de recursos naturais com lagunas, que o topónimo Estrada de Maré, em Avecasta, Ferreira do Zêzere, e Ilha, em Pombal, também não serão alheios. E, a fertilidade das várzeas. Em 1504,  afloradas na demarcação do Prazo da Torre da Murta, a par da exploração mineira; cobre, ferro, prata, estanho e ouro fenicios, pelo tesouro do bracelete de Penela descoberto há poucos anos, a culminar nas peregrinações a cultos fúnebres - Sol e estrelas. Presume a poente da Mata do Carrascal, em Alvaiázere, a escassos metros da bancada das pegadas dos dinossáurios, posta a descoberto pelo arroteio a plantio de vinha no séc. XX, avistei  numa caminhada inexplicável aglomerado, a jus de elipse, de pedras pontiagudas fincadas entre demais deitadas, a grosso modo a escassos 4 km do complexo fúnebre no Ramalhal, quiçá foi um centro hierarquizado cerimonial ou um cromeleque pobre de Sicó? Sem qualquer estudo pese área conhecida de credenciados…

Bem diferente o contexto da vinha e do vinho de parcas fontes documentais no concelho de Ansião

A perda do cartório da herdade, que fora do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, no incêndio ocorrido nos Paços do Concelho, em 1937. 

Localizei no cartório do Convento de Celas, a vinda para a região (Avelar, Chão de Couce e Pousaflores) de foreiros vindos do Porto, e do Minho. Quem tenha trazido castas de vinho verde, como a tintureira e, Castelão, apelido que se fidelizou em Almoster (Alvaiázere). 
                 

Origem do topónimo Palhais, o 1º da atual Chão de Couce

As pequenas vinhas no Marco, na Mouta Redonda de Baixo e hoje, no Pensal, na idade média era chamado Painçal, tenha ditado o topónimo de Palhais, fidelizado em Chão de Couce. O Painçal era o limite da herdade de Couce, subia a vertente da serra de Nexebra até ao marco do Pinhal do Boticário (picoto). Do outro lado da estrada, a poente houve uma pedra calcaria tinha gravado um V, limite do pinhal do meu avô,e daqui seguia ao marco ao cimo do Furadouro. 

O brasão de Chão de Couce, não patenteia o néctar da uva, o vinho, ao deus Baco

Na altura a vinha estava em decadência, sem conhecimento histórico e cultural, do passado vinícola de Chão de Couce, foi dada primazia à Mata de castanheiro bravo. Incrédula, a ser bravio tinha de haver noutros locais e não há... A curiosa apreciação; o capitão-mor António Lopes do Rego, prese a doação real da Quinta de Cima em 1834, na voz do povo; a galope no seu cavalo branco arrebatou as matas da Fazenda Nacional à vista na Nexebra, e a de Castanheiros à extrema da sua quinta… Não apostou no arroteio em socalcos da xistosa Nexebra, à laia da nobre região demarcada no Douro, deposta a vinha a primor ao tufozito de pinheiros no alto – menção ao picoto cujo gaveto para poente, colossal contornado por caminhos com pinhal nórdico, conhecido por pinhal do boticário (um filho da D. Palmira Rego, se não estou enganada). Depois do primeiro corte foi aposta o plantio de eucalipto, seguido pelo povo, sem o saber contribuiu no maior flagelo da mancha concelhia. 

                 

Os castanheiros seculares na serra de Nexebra foram extintos com a epidemia da tinta, à volta de 90 anos. Recordo o castanheiro - o Belo na Nexebra, definhou até morrer. Em Ferreira do Zêzere, do Beco a Dornes, a serra de S. Paulo ainda se veste de frondosos castanheiros de boas e grandes castanhas. Na Nexebra, quando há corte de madeira ainda rebentam, porém impedidos de crescer pela eucaliptização, que os domina. 

Produção vinícola em Sicó e suas franjas

De qualidade e fama, apenas atestada em Alfafar, Penela, Figueiró dos Vinhos e Ourém.  

Podentes, em Penela, patenteia a exaltação ao vinho no seu brasão. O Centro Cultural e Recreativo, requalificado em 2015, foi denominado Centro de Cultura e do Vinho da Terra de Sicó. Tem como principal objetivo promover a marca vinho de Podentes e demais na região. 

Em Figueiró dos Vinhos 

"Em 1712 na Corografia Portugueza refere 500 vizinhos “assim chamada pelas muytas figueyras & famosos vinhos, de que abunda, além da fertilidade de pão, frutas, excellentes ervilhas, caça, gado, & peyxe dos rios Zêzere, &Pera, que lhe ficão perto”.

"Em 1811 a passagem das invasões francesas deixaram um rasto de destruição, entre demais 600 almudes de vinho que valiam 2000 réis."

"Em 1852 a produção de vinho em Figueiró dos Vinhos cifra-se em 669 pipas e 19 almudes. Pedrógão Grande ascendeu a 4.099 pipas e 18 almudes. Em 1874 Figueiró dos Vinhos evidenciava uma produção bem diferenciada de vinho, de 10.500 litros de vinho, 3.000 de aguardente e 1000 de vinagre."

"Na Chrographia Moderna do Reino de Portugal , editada em 1876, extraímos alguns elementos que nos permitem ter uma visão clara do que se produzia em Figueiró dos Vinhos, nos anos setenta do século XIX, citamos: “É abundante de trigo, milho, centeio, hortaliças, legumes, excelentes ervilhas, boas frutas,  castanhas, famoso vinho, e azeite: tem igualmente abundancia de gados, de caça, e de peixe dos rios Zêzere e Pera. Todavia, estes produtos não chegavam para as necessidades dos seus habitantes, tendo em conta os gravosos impostos que os agricultores pagavam pelas terras aforadas pelo clero e pela nobreza."

"Em 1876, Alberto de Araújo Lacerda, presidente da Câmara de Figueiró recebeu uma menção honrosa pelo conjunto dos seus vinhos na Exposição Internacional realizada em Filadélfia. Constatamos que um conjunto de produtores de vinho de Figueiró dos Vinhos participou na Exposição Agrícola de Lisboa, em 1884 tendo sido atribuídos os seguintes prémios: medalha de cobre a Alberto de Araújo Lacerda, pelo conjunto dos vinhos apresentados, e uma menção honrosa atribuída a D. Maria Rita Freire Salter de Sousa Cid, proprietária e produtora de vinhos, por certo a nossa “Ferreirinha”. No final do século XIX, a quantidade de produtores de vinho crescia de forma assinalável em Figueiró com algumas famílias a investirem nessa produção, sobretudo, os Vasconcelos, os Lacerdas, os Guimarães, os Paivas, os Quaresmas, entre outras."

"No ano de 1904, a principal riqueza do concelho de Figueiró dos Vinhos assentava na produção e comércio de vinho, azeite, cereais e madeira de castanho. Principais lavradores e agricultores os Srs. António d’Azevedo Lopes Serra, António Henriques da Costa, Diogo Vasconcellos, João Dias Ferreira, Joaquim d’Araújo Lacerda, José António Lopes e Manuel Carlos Pereira Baeta e Vasconcellos."

Prefácio da Monografia de Chão de Couce do Dr. Manuel Dias de 2001

O Sr. Padre Adriano Santo, evoca Raul Proença; riqueza extrema de verdes, viçosa dos vinhedos…

E, o Dr. Costa Simões; o fabrico do vinho em dornas com trasfega no inverno para se conservar até ao verão, pouco álcool, saboroso

Setembro, era o eleito por Malhoa, na Quinta de Cima, onde pintou o ensaio ao quadro do Fado, imortalizado pela infusa do vinho das Caldas. E, a natureza morta com cachos de uvas pretas e brancas…Doce memória de miúda vaidosa, vestida de bela trança asa de corvo a rivalizar cabelos d’oiro da minha mãe, à boleia de Ansião à Ponte de Freixo, e depois de mãos dadas, a caminho do correio, o manto idílico de vinhas e curiosos topónimos; Pedra do Ouro, Vila Pouca e Quinta da Cerca. As Memórias Paroquiais de 1758, referem a Quinta de Cima, Quinta da Amieira, Quinta Mouta de Bela, e Mouta do Lobo, quiçá topónimo da Rua das Moitas, pela ruína da casa senhorial com cantarias, cujo chalé de 1858, a designou Quinta do Salgueiral. Jamais inventariadas as castas primitivas, nem trazidas por foreiros do norte, e pelos ranchos das mondas da Borda-d’água. Apodo às moçoilas “barroas” e “borracheiro” aquele que fazia “borrachos” para o vinho, com pele de cabra. A minha sogra Ermelinda levava os irmãos mais novos à vindima; Acácio, ajudante de cestos e o José Veríssimo, aguadeiro, bem sabia o sítio dos pés da uva moscatel…Traziam na arca cachos de uva “formosa” pendurados até ao Natal, no teto da sala, na casa que foi herdada pelo meu marido no Fojo, Mouta Redonda. A filoxera atacou as vinhas em Portugal após 1865, à fraca aposta o seu replantio, a ditar fome e o excesso de mão-de-obra, epílogo à emigração.  

Com a extinção das Cinco Vilas, em 1875, as vilas de Chão de Couce, Avelar e Pousaflores, vieram integrar a Comarca de Ansião, com parte da Lagarteira. Desde o liberalismo, a região vivia no seio de conflitos políticos. 

A filoxera atacou as vinhas em Portugal após 1865, com fraca aposta no replantio, fome, e o excesso de mão-de-obra, epílogo à emigração. 

Chão de Couce em 1875 integrou a Comarca de Ansião, desde o liberalismo, em seio de conflitos políticos.

Em 1891, enviúva Teodora Augusta Costa Rego com um filho menor; José António Lopes da Costa Feio. Em 1892, morre António Lopes do Rego da Quinta de Cima, irmão dela. Em 1900, Eduardo Lopes Rego com 26 anos, deixou o irmão Adriano, menor aos cuidados de um tio, e pede passaporte para Angola. Presume, ele ou a tia quem vendeu a Quinta do Outeiro da Mó, a José António Coimbra. Quota-parte herança do meu sogro Fernando Coimbra; cepas à consociação de marmeleiros, pereiros e rosas de Alexandria, à prevenção afídios. Azáfama da vindima; Fernão Pires, trincadeira, tintureira, bical, e uva branca vistosa: formosa, vinho verde ou vinho Callum de Oleiros? Pisa em tanques de lajedo de pedra, e na dorna o vinho branco. Abafado de mosto e aguardente. Espremido o engaço na prensa - água-pé e queima no alambique da aguardente. Decantava o jarro de vidro da Marinha Grande um néctar palheto, espumante, carmesim, venusto grau 12,50. Esvaziado escorria lamúria e pranto, o choro! Vinho de afetos, âmago, 12 anos, última produção brinde moscatel, e a outros, vinho do Porto!

O vinho da Mó de Chão de Couce  era um nétar esplendido, em prol do vinho carregado chamado “carrascão” de outras regiões  No início da primavera em geral fazia-se a trasfega com adição de poses e curtimenta para a sua pigmentação. A coloração do vinho servia de indicador à qualidade superior ou inferior, cuja posição social ditava o preço final.  Na região outras castas o vinho era chamado de "emburrado" pela mistura de aguardente para lhe dar grau. Há megálitos, de forma ovoide, as chamadas talhas, que serão da proto-história , ceramica continuada pelos romanos e árabes continuada até hoje. Onde o vinho era produzido e guardado  e se revê no vinho da talha no Alentejo. Em Almada o jardim do Cristo Rei, mostrava duas grandes talhas, antes da filoxera ter atacado as vinhas que ainda rebentam bravias no costado . Em Ansião,  o Sr. Zé André do Ribeiro da Vide herdou de um tio do Pinheiro, talhas grandes, uma foi um ano usada como forno, a cozer pão no cortejo. O vinho de Sicó e suas franjas foi guardado em talhas, e o vinagre em  vinagreiras. A tanoaria é mais tardia como os tanques em pedra para a pisa, que ainda existem no concelho. 

Chão de Couce jamais perdeu a icónica paisagem bucólica vestida a cada ano de mil cores de parras e castanheiros, a beijo de casario romântico - vila princesa do concelho de Ansião! 

Como se justifica o declínio da vinha e do vinho no concelho de Ansião e nomeadamente em Chão de Couce? 

Os manos Rego (Adriano e Palmira) mantiveram a vinha até meados do séc. XX, com feitores - Abel Santos Silva, neto do feitor Abílio; o vinho era vendido a vários armazenistas, um deles no Pintado Tomar, que o revendia às antigas tabernas em barris. A abasteça permitiu dar estudos a filhos em Coimbra, e por conseguinte o exercício de novas profissões noutras terras, por abandono da terra e da riqueza da vinha. O séc. XX, não fomentou o crescimento da vinha, havia quotas. O meu pai quando casou em 1957, o meu avô fez-lhe doação de um terreno para poder plantar uma vinha. A Quinta de Cima apostou no pomar, sem êxito, e a Quinta da Rosa abandonou a vinha à laia da Quinta da Cerca, quiça pela  CEE incentivar o seu arranque, cujos herdeiros preferiram vender lotes para  expansão da vila com urbanizações.

Glória a temerosos viticultores modernizados em contemporariedade pela paixão a Chão de Couce: José Coimbra, João Ferreira da Quinta de Eiras, e os novos donos da Quinta de Cima com plantio, a salpico de cepas altivas que beijam o corredor romano da Quinta de Mouta de Bela. 

Quinta das Eiras

Estimo Chão de Couce não ser hoje conhecida no Mundo pelos percalços ao império do famoso vinho, sem adesão associativa à sua indústria, nem empreendedor visionário, à sua apresentação em exposições nacionais e internacionais, à pala as congéneres limítrofes. 

Fatal carisma do meu avô materno José Lucas Afonso, pioneiro na década de 20, do séc. XX, assar leitão em espeto de loureiro, tradição romana, degustado em faustos piqueniques na Nexebra, regado a bom vinho; presenteio a Dom João, Dr. Quintela, Padre Melo, entre outros, debalde cego, jamais mudou a taberna da Mouta Redonda para a vinha no Bairro, na paragem das camionetas, na EN110 – a ditar filão de riqueza na Mealhada, a venda de sandes do rei leitão em 1945… 

E porquê, se foi um lutador como peixeiro e paneiro pelo Alentejo? Porque os seus genes de cabelos loiros e olhar verde, são celtas e não judaicos de uma maioria nas antigas Cinco Vilas; Fariseus, Galileus e Caldeus, agora saber o clã olhão a filões de negócio, ainda não consegui apurar.

Alfafar, em Penela , brilha com a sede da Vinisicó, e desde outubro de 2023, a par com a Confraria dos Vinhos Terras de Sicó...

Panorama a mudar se a missão autárquica incentivar o empreendorismo ao locus da vinha, o velho pilar da riqueza que já foi economia concelhia de Ansião. À promoção do Festival do Vinho, e apoio à vinha mecanizada com adega, a risco luxe no Pontão, prémio ao espírito armazenista do Sr. Ricardo. Em abraço à dinâmica geração viticultora, e aplauso à futura Enóloga, a Dra. Cláudia Ferreira!

Bibliografia:

Monografia de Chão de Couce do Dr. Mabnuel Dias

Monografia de Figueiró dos Vinhos

Portela , Miguel -Figueiró dos Vinhos -8 Séculos de História: Passado. Presente. Futuro, Coleção Tempos & Vidas 

Jarnault 1919, Monografia de Penela

Crónica de Severam Faria de 1609

Tombo de Soure de 1508

Arquivo da Universidade de Coimbra, Cartório Notarial de Coimbra, Livro de Notas n.º 2 [1710], do notário Simão da Silva

(ANTT – Cónegos Regulares de Santo Agostinho, Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, pasta 11, doc. do Almoxarifado 15, mç. 9, nº 16.

Poblacion General de España, publicada em1675,

O vínculo instituído em 1431 do Morgadio dos Condes de Vila Real em Ceuta 

Carta régia de D. João III de 3 de novembro de 1529

Foral de Chão de Couce de 1514

Cronica de Severim Faria

Cartório do Convento de Celas

Miscelânea do Sitio da Senhora da Luz, de Miguel Leitão Freire de Andrade de 1629

Corografia Portugueza

Chrographia Moderna do Reino de Portugal 

Chrographia Moderna do Reino de Portugal 

Junta de Freguesia de Chão de Couce, o Brasão

Memorias paroquiais de 1758; Chão de Couce e de Ourem

Pagina do Facebook da freguesia da Sabacheira

Testemunho de Abel Silva

Pesquisa Isabel Coimbra

Seguidores

Arquivo do blog