Crónica publicada no Jornal Serars de Ansião em outubro de 2024
Excursão com partida em autocarros em todas as freguesias a caminho do arraial minhoto na Quinta Malafaia, em Esposende.
Coração minhoto em filigrana
Ansião teve ponto de encontro na icónica
entrada da Mata Municipal onde apreciei a perícia dos motoristas à manobra de
inversão de marcha atrás, para a Rua 25 de Abril - ao que parece o Centro
Cultural vai entrar em obras na parte do palco, seria oportuno equacionar
anular o anfiteatro a céu aberto, sem uso, para manobras.
Partida em velocidade de cruzeiro, com névoa densa, na A-13 apreciei a requalificação de um solar em ruína no beijo curvilíneo do rio Dueça, quiçá, um novo hotel boutique.
Clareou a manhã nos campos de arroz do
Mondego. Depois de Estarreja a imensidão de arbustos invasores de folhas de
lixa e plumas, disseminadas pelo vento à-toa salpico por todo o lado … Tanta
estrada seguida de aperto afunilado para tomar caminho da ponte da Arrábida, com
o rio Douro a deslizar para a foz em leito mansinho, e as altas escarpas verdes
debruadas a casario, avistei a cúpula do Palácio Cristal e o Monte da Virgem. O
porto de Leixões entupido de muitos contentores de tantas cores fortes. Invejável
o Minho com tanta água e nós quase nada…o rio Cávado, de leito largo, marginado
por campos de milheiral ainda verde, a perder de vista, a salpico de muita
estufa e vinha de enforcado.
Pelo meio-dia chegada à Malafaia a horas do almoço, ambiente minhoto com jardim decorado de alfaias agrícolas, entre pipos e dornas, tudo a condizer com as coisas que eu gosto, um grande sino e ao cimo uma fila de músicos de cerâmica de farda azul e dourados, iguais às miniaturas vendidas na feira de S. Lourenço, em Ansião, à mistura de figuras avulsas do presépio, pífaros, panelas, tachos e fogões de lata, para brincar às casinhas…
O arco de boas vindas à Malafaia
Dia de agenda com muitos Grupos, talvez o nosso fosse o maior. Sem qualquer confusão, entrada ordeira pelo seu corredor, sentados em mesas com dísticos à sua terra de origem. Então não me fiz à foto?
Na prezada companhia do meu marido e da minha querida mãe com a bonita idade de 90 anos, convidámos para a nossa mesa a Tininha - minha prima e o marido Mário Cristóvão, de Aquém da Ponte, e para o único lugar vago, dirigimos convite à Profª. Lucília Teixeira, esposa do meu colega bancário, evocado em saudade…Festa abrilhantada com cabeçudos e marchas, com arcos, em que cada Grupo ostentava o seu. Primou o evento a segurança com uma equipa de elementos do GNR, e uma ambulância dos Bombeiros e um Maserati, um SUB, seria do dono...
Decorria a conversa sadia com bons ouvintes, a prémio gente de bom coração, a quem agradeço a oportunidade do convívio. As infusas de vidro, eram enchidas à descrição, em pipos de branco verde ou tinto maduro, às tantas dizia o “Mário mau” ou Coimbra, vais tu ou vou eu… Revi uma amiga de escola que já não conhecia- a Carmita, filha do “Pica fria”, recordamos com saudade a mana gémea - Isaura, já falecida. Reencontrei muitos demais, e sim foi um fartote de beijos…
Depois do almoço fui espairecer e analisar o recinto da Malafaia, que resulta de um aproveitamento de uma quinta cortada pelas novas acessibilidades. Hortenses em rosa velho, a mote do empreendimento ao Arraial Beirão, em Ansião!
Melhor cenário, no centro do País, a chamar povos de todos os lados ao platô da Quinta das Lagoas, abençoada pelo solar onde albergar dormidas, capela para celebração de casamentos e batizados, e a norte na extrema, no ponto mais alto sitiar estrutura moderna a jus de arena, com palco e rampas para mobilidade reduzida; andarilhos e bengalas. Espraiada ao amplo jardim a exaltar a mina de água e o hipódromo. Falta um bom empreendedor, com garra para lançar uma equipa de sucesso. Difícil será suplantar a higiene do WC, jamais senti tanto esmero!
Ansião pode inovar, ao
agraciar a pessoa inscrita mais velha a ser chamada ao palco para receber
flores. Sugestão de repasto: sopa de carnes, a sopa dos “ratinhos beirões” de
todos os dias na ceifa, apanha do tomate e azeitona, rotulada sopa de pedra. Arroz
de cabidela ou cacholada. A nossa broa é da melhor confeção, a minhota era
muito cozida, viram-se “gregos” os meus dentes, e são fortes …Curtimos melhor os
tremoços e azeitonas, temos mão para as pataniscas, caldo verde, e o pão-de-ló
industrial, longe do da minha querida mãe, a jus conventual!
Então não comi? Sim, sardinha, frango, entrecosto e arroz de feijão, regado com fresquinho branco verde, mas, à cautela meti-me na laranjada, com água chilra do caldo verde, tamanha mistura virou-me as tripas ao avesso e foi um Deus nos acuda, assaltada de suores frios …Sorte que o autocarro tinha WC, a todos que incomodei, agradeço o carinho que me distinguiram.
Por último endereçar parabéns à logística do evento comandada pelo staff e dirigentes da Autarquia e das Juntas de Freguesia. Engrenagem bem oleada, que se recomenda. O anfitrião, o Sr. Presidente da Autarquia de Ansião, desenfreado na coreografia da canção do Sr. Comandante no papel de ator, melhor que o animador tal como a Sra. Vereadora da Cultura, cativaram muitos à dança.
Faltou um vídeo a captar esses ricos momentos.
O terço da estória com história, muito reinadio, recomenda-se!
Lenço dos Namorados
Bordado Industrial evocam os versos o Toné Guimarães. O curioso é que Ansião e o concelho, teve este apelido composto de Basto Guimarães, na minha familia, que por o filho ter morrido sem descendencia se perdeu por volta de 1930. como foi perdido a tradição dos Lenços dos Namorados existiu no concelho, trazida por povoadores do Minho .
O apelido Guimarães existiu na Pedra do Ouro e é vivo em Figueiró dos Vinhos.
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