quinta-feira, 24 de julho de 2014

O Palácio da Cerca em Almada





Mais conhecida por Casa da Cerca, nome ganho da antiga cerca do convento.
De vez em quando uma paragem para visita.Encontro sempre algo diferente, porque o vento é uma constante a norte na frente do Tejo.Apetrechada  com serviço de café e esplanada sem guarda ventos...
As vistas sobre o Tejo e Lisboa são apaixonantes, mesmo com ventania que ali é quase constante.Local aprazível para namorar às escondidas...Pois tantos são os lugares recônditos e belos!
Esta pinheira foi cortada em finais de  2017...
Vistas deslumbrantes 

A Casa da Cerca foi  o que resta de uma Quinta adquirida pela Câmara de Almada em 1988, recuperada em 92 tendo sido transformada num Centro de Arte Contemporânea, assumindo-se hoje como a "Casa do Desenho".
A solar a sul ladeada por escadaria cujas colunas de pedra se prolongam na parede no estuque relevado com desenhos que a meu ver se fossem pintados de amarelo ocre-, umas das cores caraterísticas da cidade de antanho como o Seminário com orgulho exibe  nos dias d'hoje, seria o ex-libris.
O tanque de pedra que era abastecido por uma cisterna que se encontra do lado oposto a grande profundidade.
O jardim a nascente com um parreiral de uvas de mesa, que encanto começam a pintar.


Fortes muros sobretudo a norte de grande altura a suster o contraforte do acesso da estrada para o Olho de Boi contornam a quinta da Cerca supostamente a antiga do castelo, que lhe deu o nome  (?)  construída no século XVII.Após o 25 de abril  o solar foi ocupado vários meses para funcionar como  hospital. Sendo adquirida anos mais tarde pela autarquia. 
Portal seria o primitivo da quinta?
O seu jardim botânico " Chão das Artes" promove a ligação e conhecimento entre a botânica com muitas plantas tintureiras como o açafrão ou o linho, papoila, alfazema e rosmaninho delas se extraem pigmentos para a pintura, e o cânhamo para suster as telas.Um bocadinho desleixado o antigo parreiral da quinta com os cachos com moléstia (pó) pois não foram cuidadas.Já a nascente o novo parreiral se revela bem cuidado.
A porta estava aberta...quis registar a foto de fora com o vidro ficou assim... Lá dentro os produtos e sementes do jardim entre eles algodão e nozes.
Romanzeiras anãs, já com uma romã
Sozinha no meio da terra arada preta  em fim de cultura ainda  resta um pé com flores azuis
Lago de água corrente com os papiros de beleza imensurável
Nozes, existem várias qualidades
O dragoeiro secular não se aguentou na trasladação  que aconteceu em popa e circunstancia, assisti com fecho de transito e um grande camião que o transportou-, supostamente não gostou das vistas, pois viveu e cresceu abrigado.
Imagem sobre a falésia do Cristo Rei parece tão perto e ainda falta a Piscina da Academia, descampado com pombais, o cemitério, e o Seminário
Deslumbrantes vistas
A quinta tinha duas mesas de pedra retangulares uma  a nascente e esta a norte em recantos bucólicos e abrigados
Muitos remates de  muros e de bancos na tradição  nesta região com caracóis
Do alto  do muro da cerca pus-me sem medos a fotografar o  Cristo Rei, Olho de Boi e o rio ali tão perto e a uma altura de mais de 70 metros...
Selfie de costas para o rio
Arriba fóssil e ao fundo Olho de Boi
De volta a caminho da saída  reti o olhar nas oliveiras a necessitar neste outono de PODA-, uma coisa que os técnicos da Câmara parece não sabem fazer, atendendo ás más podas que se constatam na Escola Anselmo de Andrade e na via pública-, que tal um curso de reciclagem na câmara do Seixal ou em Sta Susana no Alentejo, pois eles mostram saber da arte.
Capela 
No corpo da capela  a maquete da escultura metálica LIBERDADE da autoria de Jorge Vieira  e outra em terracota  com dentes a imitar marfim...vão ver...
De paredes meias uma exposição onde se podem apreciar as paredes na estrutura gaiola com madeira cruzada tipo losangos preenchidos de argamassa de barro com pedra e cerâmica, que já mostrei noutras vezes.
Também o azulejo da entrada desta vez não fotografei.

No propósito de não mostrar tudo para que visitem, com isso se dêem conta dos pormenores, e se encantem!

Igreja da Misericórdia de Almada

A actual Igreja da Misericórdia de Almada sofreu obras de restauro está aberta ao culto aos sábados e às quartas de tarde ao público, e no último domingo do mês com visita guiada. O dia agendado para a visita foi ontem, onde tive a sorte de encontrar um senhor de nome Lorga ( o outro é que é Lorca) dizia no gracejo, além de simpático se mostrou um amante fervoroso da Igreja ,dos seus trilhos e caminhos bíblicos e ainda abençoado por um belo par de olhos azuis.
A bandeira com os brasões de Almada e da Misericórdia retirado da internet.
A Albergaria de Santa Maria com capela medieval da Santa Casa da Misericórdia de Almada, fundada em maio de 1555. Em 1564 foram iniciadas as obras de remodelação e ampliação da antiga capela medieval e ao longo dos anos foi sofrendo sucessivas remodelações, hoje capela de S.Sebastião, sita no entroncamento da estrada da Rua Direita com bifurcação para o Pragal na direção de Caparica e outra para a Cova da Piedade.Esta capela tinha adoçada uma albergaria para acolher viandantes e doentes. A Misericórdia tinha  compromissos - tratar dos doentes, dar guarida, comida e bebida, vestir os nús e de sepultar os mortos a boiar no Tejo.
Com o terramoto em 1755  foi redefinido outro local mais a nascente, num edifício emblemático onde funcionavam várias valências; cadeia, câmara , hospital e capela que passou a ser a da Misericórdia. Esta capela medieval sofreu grandes danos, apenas se salvou o altar mor, o retábulo e o portal feito pelo pedreiro Pedro Gomes. De novo reconstruída com as dimensões atuais desde os finais do século XIX e meados do XX fizeram-se pequenas obras nos revestimentos das paredes teto e pavimento.
A albergaria (hospital) e a capela antiga foi vendida a um particular que transformou a capela numa taberna, ainda assim a conheci e na albergaria  vivia amontado de gente, uma espelunca, felizmente a câmara adquiriu o espaço, tendo requalificado a capela tendo demolido o que existiu da albergaria deixando o espaço mais aberto, por entretanto ter sido no passado espoliado pela  especulação imobiliária, ficando a estrada para a Cova da Piedade suprimida tendo sido substituída por um túnel com escadinhas debaixo dum prédio.

Citar comentário deixado de "Pedro" a quem  agradeço a cortesia da visita e a partilha
" segundo Fernão Lopes: D. Beatriz duquesa de Viseu mãe de D. Manuel fez nesse lugar a Casa Gafos de S. Lázaro como também fez em Cacilhas e nas Barrocas. As antigas casas dos Gafos vieram a ser incorporadas no século XVIII na atual misericórdia de Almada".
Frontaria da Igreja implantada no edifício a sul supostamente adaptado após o terramoto.
Na frente do edifício os muros de pedra de suporte da estrutura e da escadaria aventam ser da época Manuelina (?) embora no conjunto apresente contornos pombalinos. Possivelmente este corpo da frente foi construído depois do terramoto por volta de 1795, a data no sino que encima a torre, oferta da Rainha D. Maria I, cujo escudo se encontra na frontaria sobre a porta do primeiro andar.No meu julgar a torre sineira poderá ter sido da primitiva Igreja medieval, ou da que existia antes do terramoto (?) atendendo à cúpula em forma de chapéu onde está assente o catavento (?) tendo a igreja sido também reconstruida e alterada da traça inicial( por dentro à esquerda, do lado da torre, o ângulo oblíquo é estranho) teria sido anulada a função da torre sineira por ter ruído(?) sendo que a torre do convento também ruiu, por isso lhe colocaram apenas um pequeno sino no telhado (?). A explicação para o desenquadramento da torre ao meio da estrutura ? Já aqui existia uma igreja que ficou parcialmente derrocada pelo terramoto sendo refeita quando o edifício passou a ter funções administrativas (cadeia e câmara)  engalanado o edifício com o sino e o relógio, símbolos de poder na altura. A bela escadaria na frontaria de aparato de cariz barroco mostra-se elegante, na frente havia uma calçada em pedra branca e preta ladeada por árvores e o Pelourinho, como a foto documenta.Em tempos de antanho foi chamada "A Rua Direita" -, hoje Rua Capitão Leitão .
Carvoeiro a vender carvão em 1930
O altar mor apresenta seis pinturas do século XVI da autoria de Giraldo Fernandes do Prado executados em 1590, cavaleiro-fidalgo, pintor da Casa ducal de Bragança, também foi calígrafo, iluminador, pintor de frescos, homem de admirável pincel na arte da pintura, como o chamou o padre Loio Jorge de S. Paulo.
No retábulo em destaque a maior prancha de madeira em carvalho da Flandres com o painel da Visitação de Nossa Senhora à sua prima Isabel grávida em idade tardia, o símbolo da Misericórdia.
Altar
Retábulo pintado a óleo dispostas em fiadas sobrepostas, que representam cenas da vida da Virgem Maria do lado esquerdo a Adoração dos Magos;do lado superior direito a Adoração dos Pastores; no lado inferior esquerdo a Anunciação; no lado inferior direito a Circuncisão de Jesus e ao centro o Descanso na fuga para o Egipto e dominando todo o conjunto, ao centro a Visitação de Nossa Senhora a sua prima Santa Isabel, que é a padroeira da casa.
Vista do alçado do coro onde colocaram um a Imagem do Senhor dos Passos à espera dum trono que o dignifique.
Nesta sepultura ainda se distingue o símbolo da Cruz de Santiago
No corredor central sepulturas tumulares de irmãos da Misericórdia desde o século XVI ao XVIII.
Escadaria em madeira de acesso ao altar mor debruada por varadins de madeira exótica com torcidos.
Em baixo supostamente em cripta duas sepulturas: do provedor Pero Carvalho de Sousa falecido em 1629 com o brasão do lado esquerdo, e de sua esposa D. Ana de Mendonça falecida em 1662 com o brasão do lado direito, são os únicos esqueletos que ficaram na Igreja, pois os outros foram levantados encontrando-se para estudo no Museu de Arqueologia de Almada. Havia ma sepultura com três, supostamente pais e filho.
Estandarte da bandeira da Misericórdia em madeira de grande beleza, seria interessante que o mandassem fazer em bordado e passamanaria com fios dourados e prata.
Nossa Senhora das Dores junto do Cristo morto-, duas belas imagens enquadradas pelo lindo silhar de azulejos.
Pia de água benta esculpida em pedra com um belo cordão de contas.
Tribuna dos Mesa'nos que lhe falta o cadeiral, assim a meia altura só conhecia em conventos
Púlpito elegante com porta falsa, pois nas sucessivas remodelações e adaptação do edifício contiguo foi anulada, o mesmo de outras.
SANTA IRIA escultura dos finais do séc. XVII/I em madeira policromada dourada e metal
PIETÁ - Escola portuguesa do Séc. XVIII em madeira policromada dourada e metal
CRISTO CRUCIFICADO escultura do séc. XVI escola portuguesa em madeira policromada e metal
Estrategicamente nos nichos laterais belas imagens de escultura sacra do século XVII/I
SANTA BÁRBARA(?)Escultura do séc.XVI/I em madeira policromada dourada e metal
Algumas imagens vieram doutros sítios como este Cristo, a Nossa Senhora de Fátima, o Senhor dos Passos e,...
Nossa SENHORA DE FÁTIMA-, imagem antiga
Belos silhares de azulejos azuis e amarelos de padrão "tapete" do século XVII
Deixei a visita muito satisfeita   sentada no degrau do portal onde bebi mais cultura e enchi os olhos de belos azulejos. Ao lado da escadaria existe um suporte para cadeiras de rodas e deficientes terem acesso.
O primeiro degrau com um grande rasgo para saída de águas feito noutros tempos...
As obras para requalifição se apresentam de sucesso -, o pavimento em pinho nórdico (?) de primeira qualidade, as pinturas marmoreadas nas paredes, o jogo de luzes nos nichos, e na volta antes da cúpula do telhado, o altar em madeira com os pés que sendo seis parecem em determinada perspetiva quatro, sendo as sapatas em triângulo, em alusão a uma passagem bíblica-, tudo foi pensado e bem, além dos bancos em carvalho, almofadados, ao género da igreja nova de Fátima, muito cómodos e discretos. O cadeirão e bancos para os acólitos todos com entalhes sem pregos nem parafusos-, uma obra de arte. Só não apreciei em plenitude a iluminação contemporânea em forma de nuvem em detrimento de um candeeiro em cristal-, um lustre!
A sacristia minúscula onde se acede por uns degraus, o que evidencia a suposta cripta debaixo do altar mor, ao fundo do corredor três degraus de acesso à tribuna.
Julgava-se aqui sepultado um antigo provedor homem de ALMADA -, MANUEL DE SOUSA COUTINHO, conhecido como o Frei Luís de Sousa imortalizado no drama por Almeida Garrett .
Faz muita falta placa indicativa na bifurcação das ruas que indique além do Núcleo Medieval na rua a poente e a Igreja da Misericórdia a sul.

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