quinta-feira, 24 de julho de 2014

Igreja da Misericórdia de Almada

A actual Igreja da Misericórdia de Almada sofreu obras de restauro está aberta ao culto aos sábados e às quartas de tarde ao público, e no último domingo do mês com visita guiada. O dia agendado para a visita foi ontem, onde tive a sorte de encontrar um senhor de nome Lorga ( o outro é que é Lorca) dizia no gracejo, além de simpático se mostrou um amante fervoroso da Igreja ,dos seus trilhos e caminhos bíblicos e ainda abençoado por um belo par de olhos azuis.
A bandeira com os brasões de Almada e da Misericórdia retirado da internet.
A Albergaria de Santa Maria com capela medieval da Santa Casa da Misericórdia de Almada, fundada em maio de 1555. Em 1564 foram iniciadas as obras de remodelação e ampliação da antiga capela medieval e ao longo dos anos foi sofrendo sucessivas remodelações, hoje capela de S.Sebastião, sita no entroncamento da estrada da Rua Direita com bifurcação para o Pragal na direção de Caparica e outra para a Cova da Piedade.Esta capela tinha adoçada uma albergaria para acolher viandantes e doentes. A Misericórdia tinha  compromissos - tratar dos doentes, dar guarida, comida e bebida, vestir os nús e de sepultar os mortos a boiar no Tejo.
Com o terramoto em 1755  foi redefinido outro local mais a nascente, num edifício emblemático onde funcionavam várias valências; cadeia, câmara , hospital e capela que passou a ser a da Misericórdia. Esta capela medieval sofreu grandes danos, apenas se salvou o altar mor, o retábulo e o portal feito pelo pedreiro Pedro Gomes. De novo reconstruída com as dimensões atuais desde os finais do século XIX e meados do XX fizeram-se pequenas obras nos revestimentos das paredes teto e pavimento.
A albergaria (hospital) e a capela antiga foi vendida a um particular que transformou a capela numa taberna, ainda assim a conheci e na albergaria  vivia amontado de gente, uma espelunca, felizmente a câmara adquiriu o espaço, tendo requalificado a capela tendo demolido o que existiu da albergaria deixando o espaço mais aberto, por entretanto ter sido no passado espoliado pela  especulação imobiliária, ficando a estrada para a Cova da Piedade suprimida tendo sido substituída por um túnel com escadinhas debaixo dum prédio.

Citar comentário deixado de "Pedro" a quem  agradeço a cortesia da visita e a partilha
" segundo Fernão Lopes: D. Beatriz duquesa de Viseu mãe de D. Manuel fez nesse lugar a Casa Gafos de S. Lázaro como também fez em Cacilhas e nas Barrocas. As antigas casas dos Gafos vieram a ser incorporadas no século XVIII na atual misericórdia de Almada".
Frontaria da Igreja implantada no edifício a sul supostamente adaptado após o terramoto.
Na frente do edifício os muros de pedra de suporte da estrutura e da escadaria aventam ser da época Manuelina (?) embora no conjunto apresente contornos pombalinos. Possivelmente este corpo da frente foi construído depois do terramoto por volta de 1795, a data no sino que encima a torre, oferta da Rainha D. Maria I, cujo escudo se encontra na frontaria sobre a porta do primeiro andar.No meu julgar a torre sineira poderá ter sido da primitiva Igreja medieval, ou da que existia antes do terramoto (?) atendendo à cúpula em forma de chapéu onde está assente o catavento (?) tendo a igreja sido também reconstruida e alterada da traça inicial( por dentro à esquerda, do lado da torre, o ângulo oblíquo é estranho) teria sido anulada a função da torre sineira por ter ruído(?) sendo que a torre do convento também ruiu, por isso lhe colocaram apenas um pequeno sino no telhado (?). A explicação para o desenquadramento da torre ao meio da estrutura ? Já aqui existia uma igreja que ficou parcialmente derrocada pelo terramoto sendo refeita quando o edifício passou a ter funções administrativas (cadeia e câmara)  engalanado o edifício com o sino e o relógio, símbolos de poder na altura. A bela escadaria na frontaria de aparato de cariz barroco mostra-se elegante, na frente havia uma calçada em pedra branca e preta ladeada por árvores e o Pelourinho, como a foto documenta.Em tempos de antanho foi chamada "A Rua Direita" -, hoje Rua Capitão Leitão .
Carvoeiro a vender carvão em 1930
O altar mor apresenta seis pinturas do século XVI da autoria de Giraldo Fernandes do Prado executados em 1590, cavaleiro-fidalgo, pintor da Casa ducal de Bragança, também foi calígrafo, iluminador, pintor de frescos, homem de admirável pincel na arte da pintura, como o chamou o padre Loio Jorge de S. Paulo.
No retábulo em destaque a maior prancha de madeira em carvalho da Flandres com o painel da Visitação de Nossa Senhora à sua prima Isabel grávida em idade tardia, o símbolo da Misericórdia.
Altar
Retábulo pintado a óleo dispostas em fiadas sobrepostas, que representam cenas da vida da Virgem Maria do lado esquerdo a Adoração dos Magos;do lado superior direito a Adoração dos Pastores; no lado inferior esquerdo a Anunciação; no lado inferior direito a Circuncisão de Jesus e ao centro o Descanso na fuga para o Egipto e dominando todo o conjunto, ao centro a Visitação de Nossa Senhora a sua prima Santa Isabel, que é a padroeira da casa.
Vista do alçado do coro onde colocaram um a Imagem do Senhor dos Passos à espera dum trono que o dignifique.
Nesta sepultura ainda se distingue o símbolo da Cruz de Santiago
No corredor central sepulturas tumulares de irmãos da Misericórdia desde o século XVI ao XVIII.
Escadaria em madeira de acesso ao altar mor debruada por varadins de madeira exótica com torcidos.
Em baixo supostamente em cripta duas sepulturas: do provedor Pero Carvalho de Sousa falecido em 1629 com o brasão do lado esquerdo, e de sua esposa D. Ana de Mendonça falecida em 1662 com o brasão do lado direito, são os únicos esqueletos que ficaram na Igreja, pois os outros foram levantados encontrando-se para estudo no Museu de Arqueologia de Almada. Havia ma sepultura com três, supostamente pais e filho.
Estandarte da bandeira da Misericórdia em madeira de grande beleza, seria interessante que o mandassem fazer em bordado e passamanaria com fios dourados e prata.
Nossa Senhora das Dores junto do Cristo morto-, duas belas imagens enquadradas pelo lindo silhar de azulejos.
Pia de água benta esculpida em pedra com um belo cordão de contas.
Tribuna dos Mesa'nos que lhe falta o cadeiral, assim a meia altura só conhecia em conventos
Púlpito elegante com porta falsa, pois nas sucessivas remodelações e adaptação do edifício contiguo foi anulada, o mesmo de outras.
SANTA IRIA escultura dos finais do séc. XVII/I em madeira policromada dourada e metal
PIETÁ - Escola portuguesa do Séc. XVIII em madeira policromada dourada e metal
CRISTO CRUCIFICADO escultura do séc. XVI escola portuguesa em madeira policromada e metal
Estrategicamente nos nichos laterais belas imagens de escultura sacra do século XVII/I
SANTA BÁRBARA(?)Escultura do séc.XVI/I em madeira policromada dourada e metal
Algumas imagens vieram doutros sítios como este Cristo, a Nossa Senhora de Fátima, o Senhor dos Passos e,...
Nossa SENHORA DE FÁTIMA-, imagem antiga
Belos silhares de azulejos azuis e amarelos de padrão "tapete" do século XVII
Deixei a visita muito satisfeita   sentada no degrau do portal onde bebi mais cultura e enchi os olhos de belos azulejos. Ao lado da escadaria existe um suporte para cadeiras de rodas e deficientes terem acesso.
O primeiro degrau com um grande rasgo para saída de águas feito noutros tempos...
As obras para requalifição se apresentam de sucesso -, o pavimento em pinho nórdico (?) de primeira qualidade, as pinturas marmoreadas nas paredes, o jogo de luzes nos nichos, e na volta antes da cúpula do telhado, o altar em madeira com os pés que sendo seis parecem em determinada perspetiva quatro, sendo as sapatas em triângulo, em alusão a uma passagem bíblica-, tudo foi pensado e bem, além dos bancos em carvalho, almofadados, ao género da igreja nova de Fátima, muito cómodos e discretos. O cadeirão e bancos para os acólitos todos com entalhes sem pregos nem parafusos-, uma obra de arte. Só não apreciei em plenitude a iluminação contemporânea em forma de nuvem em detrimento de um candeeiro em cristal-, um lustre!
A sacristia minúscula onde se acede por uns degraus, o que evidencia a suposta cripta debaixo do altar mor, ao fundo do corredor três degraus de acesso à tribuna.
Julgava-se aqui sepultado um antigo provedor homem de ALMADA -, MANUEL DE SOUSA COUTINHO, conhecido como o Frei Luís de Sousa imortalizado no drama por Almeida Garrett .
Faz muita falta placa indicativa na bifurcação das ruas que indique além do Núcleo Medieval na rua a poente e a Igreja da Misericórdia a sul.

2 comentários:

  1. só há uma falha no texto, segundo Fernão Lopes: D. Beatriz duqueza de Viseu mãe de D. Manuel fez nesse lugar a casa Gafos de S. Lázaro como tambem fez em Cacilhas e nas Barrocas. As antigas casas dos gafos vieram a ser incorporadas no seculo XVIII na actual misericórdia

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  2. Caro Pedro, muito obrigada pela cortesia da visita e pela partilha da informação, que já acrescentei à crónica que assim a torna mais completa.
    Cumprimentos
    Isa

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