quinta-feira, 25 de outubro de 2018

A Quinta de S. Lourenço no vulgo Mosteiro, em Ansião

Desenfreada em frenético prazer  e aventura  à laia de Françoise Choay, historiadora e investigadora das teorias e formas urbanas e arquitectónicas ao curioso interpretar do  vulgo mosteiro, ao Vale Mosteiro que  foi plantado a  sul do primeiro burgo de Ansião. Na oralidade corria o  dito ainda vivo -  a cama em pedra da Rainha Santa Isabel ...Depois da minha vida de trabalho mais disponível em tempo de reforma para me dedicar com paixão ao passado de Ansião. Demorei mais de meio século a conjecturar um sonho, que tinha sido palco de um pequeno mosteiro...Debalde nada havia escrito e o topónimo Vale do Mosteiro e hoje Vale Mosteiro, induziu-me  a más interpretações.Tomei como linha de investigação o  parecer do  Dr. Manuel Dias  "(...) Falando ainda de História, mas de Ansião, cada vez mais me convenço que não houve nenhum Mosteiro em Ansião, o que houve foi uma Igreja dedicada a S. Lourenço na parte Poente da Vila, que hoje não se vislumbra onde seja (provavelmente aquela de que conhece vestígios). E digo que não houve convento porque a documentação vernácula do início do século XVIII descreve a vila e as suas instituições e não fala do Convento (diz-se sempre que há ligações da Igreja local com o Convento de Santa Cruz de Coimbra). O António Simões levou-me ao local, mostrou-me um arco de volta perfeita e registou outras  fotos."
Seguidamente o Sr Padre Manuel Ventura " (...) Sobre o Vale Mosteiro pouco ou nada sei. Como sabe, a Igreja velha de Ansião ficava para aqueles lados  dentro do atual cemitério, e era pertença daquele Mosteiro. Penso, mas não vi isso em nenhum documento, que perto da Igreja teria de haver residência para os párocos frades que serviam a paróquia . O mais provável é que tivessem dentro do próprio solar uma capela, para não terem de se deslocar por tudo e por nada à igreja, quando atendiam pessoas ou faziam as suas orações comuns.A esta residência não chamaria "Mosteiro" mas uma sucursal do Mosteiro. O povo entretanto era capaz de lhe chamar mosteiro. Lembro-me de quando eu estava em Figueiró ter consultado muitos livros e documentos sobre mosteiros na Biblioteca da Universidade de Coimbra e na Torre do Tombo e nunca me apareceu referência a mosteiro algum em Ansião."
No Livro Ilustres Ansianenses do Dr Manuel Dias, refere  em  José Luiz de Macedo (...)  o local do primeiro burgo, foi a poente, o povo no seu linguarejar chamava Ribeiro da Igreja. Descobriu-se à pouco tempo um seu pagamento de foro de um  seu cerrado ao Ribeiro da Igreja  (Ribeiro da Vide) ao limite do  cemitério que aparece referenciado na escritura da minha avó, Piedade da Cruz, a quem o pai dela teria comprado à posterior aos herdeiros. O topónimo Ribeiro da Igreja atesta em definitivo a primeira igreja foi localizada na junção dos cemitérios - do velho e do novo, no seu ponto mais alto e não,  onde foi a capela de S Lourenço, ambos os cultos existiram mediados pelo adro velho inseridos no olival de S Lourenço da  quinta com este nome,  foreira do Mosteiro.

No Livro de 1986 do Padre Coutinho (...)Embora já existisse anteriormente, apenas no último quartel do séc. XII urgem as primeiras referências escritas àcerca de Ansião , mediante os documentos em que o Mosteiro da Santa Cruz em Coimbra - na pessoa do seu Prior Dom João Teotónio - ali aparece a adquirir bens a partir de 1175.Era uma extensa propriedade que, demarcada por três limites determinados, confinava a nascente  pela Moita do Açor, dai seguindo o cimo da vertente até ao lombo  da Fonte Galega; descia para o Pedrulhal e ia até Figueiras Podres . A poente Osumio e esmoliadouro em Ansião; a norte, a ribeira de Sarzedela . 

No Estudo arqueológico da prospecção no Vale Mosteiro em 2010 classificado Mancha de Ocupação Romano e Medieval Cristão  « (...) O Vale Mosteiro está limitado a Norte pela Igreja Velha e a Sul pelo Ribeiro de Vide. Para J. E. R. Coutinho (1986), o topónimo "designa não um mosteiro ali existente, mas o vale pertencente ao Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra. Pois segundo o autor, as estruturas que observou no local, eram propriedade daquela instituição religiosa, até à extinção das Ordens Religiosas, em 1834, de acordo com o que refere o Livro de D. João Teotónio, fl. 10 e 142 v.º a 144 v.º, sobre a aquisição e localização da herdade de Ansião pelo Mosteiro. A própria tradição popular (lenda da Rainha Santa) é reveladora da importância de Ansião como possível ponto de paragem para descanso dos viandantes, bem como da existência de um esmoliadouro. Este topónimo indica que havia um local, propositadamente preparado para que os viandantes deixassem as suas esmolas, o que logicamente seria junto à estrada. Também o Livro de D. Teotónio o refere, onde entre as delimitações registadas da herdade de Ansião, aparece o "esmoliadouro". Assim a estrada designada por "estrada coimbrã", passaria por Vale Mosteiro e Igreja Velha. No decurso da prospeção levada a cabo numa área com 166.980 m², foram detetadas a Sudeste do estaleiro do município de Ansião, num local que se encontra ocupado por uma construção devoluta, estruturas que, pela sua volumetria aparentam estar parcialmente soterradas, e que foram reutilizadas para o levantamento daquela construção. Numa habitação contígua identificaram-se também alguns elementos arquitetónicos, que poderão estar relacionados com as estruturas detetadas. E que se encontram integrados numa escadaria, que permite o acesso ao primeiro andar da habitação. O sítio em questão faz parte do conjunto de sítios que se identificaram no perímetro urbano da vila de Ansião, onde foram detetados vestígios com interesse arqueológico. Tendo em conta a informação existente sobre a localização e o tipo de espólio que foi detetado, é lícito interpretar a mancha de ocupação em causa, associada aos vestígios que se encontraram por uma vasta área na malha urbana da vila de Ansião, que vai desde a Igreja Velha até ao Vale Mosteiro (limite Oeste da vila), passando pelo centro da povoação, na Avenida Victor Faveiro. Neste sentido, poder-se-á estar na presença de um assentamento do período romano (uma possível Villa) e do período medieval.»

Qual a opinião a retirar  do que aqui existiu afinal?

Verossímil a imagem transmitida dos relatos sobre a quinta de S Lourenço, ao Vale Mosteiro, uma das cinco quintas que vieram a constituir a Herdade de Ansião, em relação às outras quatro teria já a valia da estalagem. E ainda seria a última (parcela) a ser adquirida em Junho de 1176, segundo o Livro de 1986 do Sr Padre Coutinho" o oitavo final, a Pedro Soares e a sua mulher Maria Pais, por igual preço do anterior e constitui a Herdade de Ansião."
As antigas vias romanas a privilegiar Ansião, em época medieval tomaram nomes diferenciados. A estrada de Braga a Lisboa com traçado por Vale Figueira, hoje Figueiras de S. João, teve derivação para a Constantin, Lagoas, onde se bifurcou com dois troços: nas Lameiras, Nabão, Vale Mosteiro, veio a ser chamada estrada real. Com o abandono do burgo antes de 1593, que se mudou de poente para nascente, onde está,  foi reativado o outro troço romano  que derivava abaixo das Lameiras, paralela ao Nabão onde o ultrapasasva na atual Ponte da Cal, talvez por ponte de pedra ou de madeira. Seguia pela frontaria da igreja, Cimo da Rua, Empiados, Casal Soeiro, Casais Maduros, Venda do Negro e Alvaiazere, no atual Caminho de Santiago de Compostela . 
A via romana XVI, de Antonino, bifurcana ao limite de Ansião, na Varzea de Aljazede, A via principal seguia pelo algar da Povoa, Venda das Figueiras, Togeira, Pontão, Cabaços, Rego da Murta, que   em época medieval tomou o nome de Estrada de Coimbra .

Em setembro de 2016 nos Cadernos de Estudos Leirienses nº 9 de Saul António Gomes e Mário Rodrigues. O Povoamento do Território de Ansião nos séculos XII/I
 (...) in ocidente  à Sumo e Esmoliadouro de Ansion - Pedro Soares e a mulher Maria Pais vendem ao MSCC uma herdade em Ansião. 
Retira-se das duas transmissões - o Sr. Padre José Coutinho apresenta-se mais completo na descrição aquisição da última parcela, o oitavo final. Induz  dizer tenha sido o mais difícil de vender pela riqueza associada da estalagem para ter ganho novas valências dadas pelo mosteiro - cadeia e a almoçateria, verossímil afirmar. E ainda porque o apelido Soares continuou  vivo na vila. Na centúria de 700 da mãe e do avô materno dos ilustres - Soares Barbosa, cujo pai de apelido Freire foi intrinsecamente ligado a Ansião, nesta quinta de S Lourenço e nas  envolventes; Quinta das Lagoas e Quinta do Bairro .Ainda se verifica a  discrepância nos dois autores, ao topónimo mencionado a poente de Ansião:
O Sr. Padre Coutinho refere Osúmio - o relaciono com o  topónimo actual Suímbo,  antes da Sarzeda. 
E o topónimo Sumo para o mesmo local referenciado nos Cadernos de Estudos Leirienses. 
Quem estará certo?

«O Vigário de Ansião António Martinz a 19 de Março de 1627 relata no elenco das capelas (...) a de São Lourenço no adro velho fabricada pelos fregueses  sem para isso o mosteiro Contrebuir Com Cousa algua, sem obrigação alguma do mosteiro.» 
Retira-se do excerto que a capela de S. Lourenço foi  instituída pelos fregueses.Na envolvente do que foi o seu palco, nas escavações arqueológicas foi identificada uma mancha de ocupação romano/medieval cristão. Verossímil no passado houve reaproveitamento do habitat romano e moçárabe onde foi fundada  a primeira estalagem  antes de 1175, cujo esmoliadouro já existia por aparecer referenciado nos limites desta herdade, cujas esmolas serviam para apoio caritativo a necessitados, enfermos e pobres na costumada prática assistencial desde sempre associada à Igreja, mosteiros, albergarias, estalagens, pousadas, albergues, os muitos nomes para definir  lugares de passagem, implantados na beira da estrada, quem efectivamente prestava ajuda aos desafortunados ali aportados. A Enfermaria seria  dotada de enxergas para descanso a quem chegava cansado e doente, com ala diferenciada para a acomodação dos passageiros mais limpos, comparativamente com análogas assim acontecer,  para lembrar a cama em pedra onde a Rainha Santa Isabel tenha alguma vez dormido, se aconteceu, em Ansião, foi aqui e não noutro lugar. Portanto a estalagem seria apetrechada com alcovas diferenciados para os viandantes  pobres e sujos dos  limpos, asseados e endinheirados. Todos tinham direito a se recolhe, alimentar e receber cuidados nas doenças. Naquele tempo a lembrar-me da cozinha do meu bisavô, acredito foi mais tarde outra estalagem,  com grande lareira e grande chapéu assente em poderoso tronco de madeira, na sua volta bancos para se sentarem, além de favorecer o aquecimento em tempo de friagem, era o meio para se cozinhar e ainda ter água quente para amassar o pão e para se lavarem. Também aqui os enfermos procuravam curas que os afligiam e lhes seriam administradas mezinhas e tisanas da sua botica, estes povoadores vindos da Galiza, entre celtas e judeus sefarditas, letrados com talento , no conhecimento de ervas medicinais então abundantes nas serras de Ansião e das quais sabiam tirar proveito em  misturas para fazer emplastros  e enxundas,  as gorduras das galinhas derretidas em púcaros, depois usadas sobre feridas e dores, em rituais de rezas e lengalengas. Recordo a que me fizeram para matar o cobrão - no chão de cimento palhas de alho com enxofre e azeite, tudo pisado a martelo e dantes em almofariz, a papa colocada  no sitio enfermo e coberta por ligadura. De facto sarou e antes com a botica do médico não. Os viandantes depois de revigoradas forças voltavam ao caminho e outros  substituíam as cavalgaduras estafadas dos caminhos pedregosos da viagem por outros mais descansados. Mais tarde com o aparecimento das  Misericórdias e dos seus hospitais , passaram estas a cumprir essa função social,  no continuado procedimento a receber pobres e viandantes de todas as estirpes na sua jornada de viagem e  também de peregrinos, no mesmo apoio; comida, descanso e na doença até recuperação de forças para  prosseguir viagem recebendo Cartas de Guia, e também se despachavam as que chegavam das demais  Misericórdias.Desse tempo há registos de viandantes  que  morriam na estalagem ou no hospital.

Tive o privilégio de ter vivido a minha infância e adolescência  relativamente perto desta centralidade que conheci em meados dos anos 60, do séc. XX, perto da casa dos meus bisavós,  a  sul do vulgo mosteiro, ao Alto da Vinha, no mesmo caminho do cemitério onde ia enfeitar as campas de familiares, com a tia Maria e ainda atalho à fazenda da Lameira, para fugir ao Fundo da Rua . 
O vulgo mosteiro tinha duas entradas onde moravam famílias em paralelo com  ruínas .

A antiga estrada real, recordo os altos muros abobadados a caliço escuro com grandes buracos esventrados dos rodados dos carros dos bois. 
Aos 8 anos em férias de Natal, depois do almoço com a minha irmã Mena, pegámos nos cestinhos de verga que o nosso pai encomendara na Feira dos Puseiros, em agosto ao "Ti Zé Mau de Aquém da Ponte" e partimos para a fazenda da Vinha, a fazer de conta  de as encher de azeitona para retalhar, e enfeitar a campa do nosso caniche, o "Franguinhas" sepultado debaixo de um frondoso pereiro, como tinhamos visto no jardim zoologico em Lisboa... O céu escureceu de tal maneira medonha, a ditar abrigo no Mosteiro, a escassos 100 metros. Metemos pés ao caminho a saltar buracos de pedra em argila amarela , hoje parte da Avª Sá Carneiro . Mal chegadas ao gaveto da entrada sul, havia uma pequena casita em ruína, onde se presume  esteve uma Cruz alta assinalando o Esmoliadouro, pela segurança e proteção a ladrões, pela estalagem. E, possível portagem do complexo por a entrada da capela ser por aqui e na entrada a norte, um portelo, a cadeia e as cavalariças.  Distingui na entrada sul à  direita  um rectangular relvado debruado a patamar fino em pedra com friso relevado, e ao fundo portal arqueado virado a poente, igual ao que conhecia no tardoz da Misericórdia, que revia em tempo de cerejas no jardim do Tribunal, pese de menor dimensão . Foi preciso alçar a pernita para subir a sapata,  e no portal, arrojar a  portada de madeira, esbranquiçada de velha e  entupida de cordéis no buraco da fechadura, extraordinária visão de alvas lajes quadradas a jus de  passadeira, em corredor largo ladeado a terra e, ao fundo, no que foi o corpo da Capela de S Lourenço, e depois a morada “do Miguel e Miguela” até um incêndio apressar a venda com emigração para o Brasil. Fechado um quartito a norte, seria para não profanarem objetos de culto cristão, uma pia de água benta, e uma Cruz alta em pedra. No cimo das paredes haviam restos de arcos que teriam sido da sustentação da cúpula da Capela de S. Lourenço. Brutal cenário  grotesco com um grande buraco no telhado onde se via o céu negro aterrador, com barrotes negros em derrocada de telhas Marselha a pender sobre as nossas cabeças...Demorei anos para entender a razão das telhas serem iguais às da casa dos meus pais, quando a maioria do casario as tinham mouriscas  de canudo e, se aqui tinha sido um mosteiro, a razão de  haver telhas recentes...Pois ainda estava longe  de saber que após a extinção das Ordens Religiosas, estas ruinas foram vendidas a vários compradores onde cada um fez a sua  morada, reutilizando materiais e adaptando outros. A  luz que entrava por outra porta da capela, aberta a norte, ditou o mote de saída na ligação a um corredor lateral com acesso a um portelinho de ferro forjado de ombreira encimado por elegante  e gracioso pescoço a remate de esfera em pedra, como já conhecia outras maiores, no Convento de Cristo em Tomar.
Anos mais tarde a Carmita do Bairro disse-me que  tinha recebido de herança do sogro a parte que foi a capela, o seu  marido  tinha vendido ao "Ti Inácio do Bairro de Santo António" a pia de água benta  que a despachou na Feira da Ladra em Lisboa e a Cruz em pedra o marido a vendeu para a capela do  Cemitério novo de Santiago da Guarda. Perguntei pelo Santo, disse-me que não havia nenhum . Depois de muita procura o localizei na Capela do Cemitério, pedindo nessa altura ajuda ao Sr. Padre Manuel Ventura Pinho, para identificar a Imagem, pois não a reconhecia . Evidências que ali tinha sido fundado um pequeno mosteiro pela existência da capela  outros  ditos; o túnel a ligar  a Santa Marta, e os  arcos de volta perfeita na ligação ao Senhor do Bonfim, caídos com o terramoto de 1755 ficando de pé apenas um que se distinguia no casario a norte...Na boca das minhas primas Júlia e São Silva do Bairro, e das vizinhas e amigas Lúcia e Tina Parolo do Ribeiro da Vide e outros . Demorei a refletir que a ligação dos arcos ao Bonfim, não me parece viável pelo grande desnível  do vale e do costado. O único arco  de volta perfeita que havia no exterior,  segundo as minhas investigações foi da entrada para as cavalariças. Com o abandono do burgo por volta de 1593, houve reutilização para lagar, além da pedra do senfim, descobri mais dois arcos de volta perfeita na cave da casa que foi do "Ti António serrador" associada ao plantio de vinha, sendo vivo o toponimo Alto da Vinha, morada da minha irmã. 

Sobre o túnel na ligação a Santa Marta..A Fátima Carvalho, uma das herdeiras de um lote que esteve em venda transmitiu-me " adorava que a casa tivesse sido uma parte do Mosteiro, o meu avô filho do António, serrador dizia que sim,  que ate existiam uns túneis que levavam os moradores até à capela no Escampado ou lá perto, já não me lembro bem".  O túnel  pode ter sido uma realidade a ligar a igreja matriz que foi a primeira assente no palco do atual cemiterio. Separa os dois cenarios um extenso olival, pese trajeto curto, servia o padre quando vinha  celebrar Missa na capela de S.Lourenço, aos viandantes importantes, estrangeiros e nacionais, a  resguardo de salteadores. Pela  existência de um buraco a poente da capela de S.Lourenço, aventa vinha da igreja e não  para o Escampado de Santa Marta, nem da quinta da Boavista, no Senhor do Bonfim. Pese em ambos os locais viveu gente importante na centúria de 500, quem instituiu  três capelas, hoje apenas existem duas em Santa Marte e S. Miguel . Nos registos paroquiais nesta época  aparece com muita frequência  André Freire, no papel de  padrinho de muita criança da quinta de S. Lourenço.
A  Fátima Pego do Bairro", em miúda entrou neste buraco na frente do portal da capela e dizia  havia um algar". O "António Simões, Arrebela" nascido e criado no local, confirmou a existência do buraco mas nunca lhe viu jeito de ser túnel, cujo  teto feito com uma  laje de um varandim que foi  da capela onde a irmã criava coelhos. Confirma que a laje  foi reutilizada para fechar o buraco para coelheira, o que parece viável afirmar. Contudo é estranho a existência do buraco ali para ser expectável a ter existido um túnel tenha sido o terramoto de 1755, que o desmoronou na entrada, debalde jamais se apurou e devia! Dizia ainda que ali se tinham escondido pessoas no tempo da guerra…
Mas que guerra, seria na passagem dos invasores franceses?

Afinal o móbil do que aqui existiu?
Verdadeiramente aclarado o que aqui se viveu em leitura mais atenta ao ponto 2.1.3.6. do Livro do Sr  Padre José Coutinho - Clérigos Franceses «( ...)Dom Edme de Salieu, abade de Claraval, veio à Península Ibérica visitar as abadias cistercienses em companhia de uma comitiva, entre os quais o seu secretário, Frei Claude de Bronseval, o autor do diário das viagens, onde descreve as sínteses das ocorrências: - Dia 6  de julho de 1532, depois de percorrerem uma péssima estrada que os trouxe do Rabaçal, chegaram ao lugar campestre de Ansião, onde foram bem recebidos num bom albergue; ali almoçaram bastante bem e dormiram. Dia 7, de manhã, ouviram Missa na capela onde na véspera já tinham celebrado, e meteram-se por um terrível  caminho  através de montanhas extremamente altas, arborizadas e cobertas de rochas... Extraordinário excerto em ditar a imensa luz do que aqui se pretende afirmar dia 7, de manhã, ouviram Missa na capela onde na véspera já tinham celebrado. Em 1532 o burgo tinha a sua  igreja primitiva, de orago a Santa Maria de Ancião, desde pelo menos 1259, no palco do cemitério novo .O autor ao referenciar capela, e não Igreja e, a ausência do Padre, parecem legitimar em definitivo, o palco da estalagem que aqui existiu e, não de outra em Ansião, pela análise ao volume arquitetónico do complexo, reutilizado por povoadores anteriores, romanos e moçárabes, em local estratégico de formato quadrado, ao jus de forte, sustentado por muro alto a poente e pela frente a estrada real com o seu Esmoliadouro, derrubando em definitivo o que julguei anos ter sido um pequeno mosteiro outra coisa não foi que o primeiro albergue como lhe chamou e bem, em Ansião, na beira da estrada real  (...) a 7 de dezembro de 1532, dirigindo-se para Évora de novo por aqui passou Frei Claude de Bronseval, fazendo uma descrição semelhante à anterior, onde pontualmente insiste na particularidade da estrada: passada a ponte de Coimbra, sobre o Mondego, era pedregosa e muito má , ao longo de uma légua; a outra légua que ia até Cernache era de estrada plana,dali a Rabaçal era bastante boa; em seguida, tornava a piorar, de modo que a légua até Ansião era cheia de rochedos, de muitíssimos penedos e coberta de imensos escolhos, e fastidiosíssima. Em Ansião, ficaram hospedados numa excelente e honestissima estalagem, onde já anteriormente, tinham estado e ficado. No dia seguinte, depois de esperarem ouvir Missa, até as 8 horas, o que não aconteceu, partirem por uma estrada horrível, para a vila de Alviázere».  
Na descida ao vale a poente, assolou-me a nítida sensação de aparente forte, onde distingui  uma pedra retangular esculpida a formato de gárgula, se juntar o arco gótico  do portal da capela, a passadeira lajeada, a pia de água benta, a Cruz alta, arco de volta perfeita no exterior a norte , e mais dois na cave da casa do “Ti António Serrador” a pedra de  senfim, dois varandins em pedra, sapata reutilizada em degraus na casa da Deolinda , dois fragmentos de coluna que pode ter sido do primeiro Pelourinho, janela com grade de ferro  da cadeia, culmina o empreendimento estalajadeiro já activo antes do séc. XII, com Capela e Enfermaria, e depois de adquirida pelo Mosteiro a ganho de novas valências; Cadeia e  a Almoçataria - onde se transaccionavam os produtos do burgo ; vinho, azeite, farinha, entre outros . 

A aguarela de Pier Baldi de 1669 
A  primeira representação icónica de Ansião, apresenta casario adoçado à igreja primitiva no atual cemiterio, afecto à residência do sacristão e do padre, frade crúzio e,  também aqui em Ansião na função de Procurador do Mosteiro com outros frades serviçais na supervisão e cobrança de foros, de os levar para Coimbra, e ainda teriam a função de controle da sede da almoçataria e do (s) seu(s) almocaté(s) aos  pesos e medidas usados. 

No Livro do Sr. Padre Coutinho « (...) Dar cada povoador, anualmente,uma fogaça , dois alqueires de trigo em dia de S Miguel e um capão. As mulheres pobres dessem, apenas, cada ano,, uma galinha.Se alguém ali quisesse morar sem cultivar a terra, desse todos os anos um soldo. Se ali o Mosteiro quisesse vender o seu vinho, que o vendesse durante um mês e sem que nesse tempo alguém da própria vila lá vendesse outro vinho. Se alguém nesse mês trouxesse vinho de fora e o quisesse vender, devia dar um almude ou o seu preço em dinheiro. Se alguém ali quisesse edificar um forno ou moinho, desse ao Mosteiro a décima parte do rendimento.Se na praça alguém vendesse um porco, desse um lombo.De carneiro ou de gado miúdo, desse um só dinheiro. De vaca, seis dinheiros. De cervo. dois dinheiros. De pescado e de sal, pagassem como os de Abiul. De portagem, o Mosteiro nada determinava.Se alguém tivesse uma besta e fosse almocreve, fizesse uma viagem desde Leiria, ou duas a Ansião ou do Ulmar. Se alguém quisesse vender os bens,que os vendesse ao homem que ali habitasse, fizesse foro dele e desse a décima parte.Tais princípios de coactividade, assim preceituada, são reconhecidos como exigências de ordem jurídica que actuam informadores e factores delimitativos de acção intersubjectiva, bilateralmente acordada entre o Mosteiro e os povoadores,, quer atingidos em primeira instância, quer em tempos futuros. Concomitantemente, perpassam relações funcionais sobre o relego e os vários tributos a receber pelos crúzios. »

Pela escolha estratégica para sediar o Esmoliadouro, em local defendido de salteadores onde viandantes nacionais, estrangeiros, peregrinos e a Rainha Santa Isabel, deixaram esmola. As esmolas serviam ao apoio assistencial da Enfermaria, no cuidado caritativo a enfermos, pobres e peões de viagem, claridade enxergada no Livro Notícias e Memórias Paroquiais a Bula da união a Mesa Conventual, e Infermaria  deste Mosteiro de Santa Cruz da Igreja de Ansião por renuncia que dela fez no Mosteiro Gaspar Fernandes:cuja bula se passou em Roma no ano de 1559.Em vão tentou, nessa altura, a Universidade de Coimbra apoderar-se da Igreja de Ansião, em demanda que travou com os cónegos crúzios.»  (...) A de  1 de agosto de 1577, o Bispo D. Manuel de Menezes fez publicar uma sentença que extinguiu a vigaria da Igreja de Ansião, que a transformou em curato anual
Almeja o declínio desta primeira estalagem e de todas as suas valências sociais a precipitar a mudança do burgo, para nascente, depois de 1593, com reactivação de outro troço romano e agora medieval, entrando este do Vale Mosteiro em abandono.  

Após a extinção das Ordens Religiosas em 1834
O  que ainda restava das terras das quintas do mosteiro foram arrematadas em haste pública, por vários particulares.O administrador do Concelho, o Visconde da Várzea, amigos, correlegionários e o Dr. Domingos Botelho de Queiroz ficaram com os melhores terrenos na vila e fora dela, ainda no meu tempo o poderio da terra era mantido na posse de meia dúzia de conterrâneos...Aos  pobres restou as migalhas das ruínas do complexo do vulgo mosteiro, comprada por vários, o que atesta a sua grande pobreza. 

António Joaquim de Bastos Guimarães, o meu tetra avô paterno, nascido em Fafe, foi deixado na Roda de Expostos de Guimarães. Procurei pelo seu registo, encontrei um Faustino António, do Lugar da Ponte, seria o seu pai? Cuja mãe tenha morrido de parto e o pai para  continuar a trabalhar o tenha ali deixado, pagando os seus estudos. 
Já a razão de ter aportado a Ansião, abre varias perspetivas; ou o pai seria vendedor de couros que vinha comercializar na Feira dos Pinhões e na da Rainha Santa Isabel, na Constantina, aos sapateiros e, quiçá comprar peles curtidas, tradição que ainda recordo - morreu-nos uma cabrita e o meu pai curtiu a sua pele que esticou com canas para secar. 
Localizei no livro do Dr. António Baião, de Ferreira do Zezere, uma nota de uma estalagem na Venda da Maria, vulgo Vendas de Maria, em Alvaiázere, que em 1775 era de um tal Cruz, apelido do meu lado apterno que veio para uma estalagem no Bairro, em Ansião, onde veio a morar nos finais de 800 o meu tetra avô. Indicia que vindo pela estrada medieval e ficou por ali na Venda da Maria, em idade já maduro . Casa no Bairro, alguns filhos nascem em Maças de D.Maria. Foi Oficial de Diligências no Tribunal na Cabeça do Bairro, presume que o ordenado lhe permitiu comprar um grande quinhão de terra ao Alto da Vinha, um gaveto contornado por caminhos onde veio a viver o meu bisavô Elias da Cruz , noq ue fora outra estalagem onde fundou a primeira padaria em Ansião, antes só se cozia pão nas estalagens do Bairro de Santo António; na da Ti Maria da Torre e da minha avoenga Maria Zé Guimãres. 

Fotos alternadas da minha autoria e outras de maior qualidade de Norberto Marques, a quem agradeço a cortesia  da partilha

Estrada Real ao Vale Mosteiro,  a entrada sul para o vulgo mosteiro
O Esmoliadouro ou foi aqui implantado nesta entrada ou na outra a norte.Numa das entradas foi.
Alvitro que tenha aqui sido implantado nesta entrada ao gaveto, no lado esquerdo na portagem do complexo aqui instituído? Pelo contexto de ruína de casa pequena que se afunila sob o comprido...Não lhe vejo outra utilidade.Com as ruinas a ficar mais pequenas e o espaço limpo verifica-se que aqui existe um pequeno poço. Ora se antes nunca o enxerguei dita que foi uma cisterna em forma de poço, como havia na vila, duas, fechado com casa com  caleiras para canalizar a água, deixadas pelos romanos.
Actual piso da Avª Sá Carneiro segue para sul pela  fazenda dos meus pais
O palco da capela de S Lourenço a vivenda branca em destaque ao meio da foto
Continuação da Estrada Real 
Incorrectamente atestada na toponímia como Rua Vale Mosteiro
 O lote da casa do "Ti António Serrador" posto em venda há anos, concretizado em 2018
Reutilização de materiais, o varandim era da capela.
A pequena janela com grade na cave foi da adega pela sequência dos arcos de volta perfeita que entestava a norte com a capela.
Vivenda azul , sem ter espaço para fazer a cozinha, a Carmita do Bairro dispensou precisamente o portal gótico e o corredor lajeado da capela para a fazer . Os degraus da escadaria na frente reutilizados de uma sapata que havia e conheci na lateral da capela para poente.
Na frente do casario depois do caminho e do muro de sustentação a ruína de casario afunilado vindo da  entrada, que aponto ligado à portagem, almoçataria e esmoliadouro(?)

As pedras reutilizados em degraus da sapata com friso que conheci aos 8 anos
 Parte do muro tipo forte de sustentação a poente 
Distingue-se nesta foto a ruína  estreita entre o muro de sustentação e o caminho de dentro
Encontrei uma parte de gárgula, de escoamento aqui no chão...
O único arco de volta perfeita que se via no exterior a norte
Entrada para as cavalariças, com valência pelas duas entradas

O entulhamento de séculos deixou o arco mais baixo
Arco visto de dentro de onde foi a entrada para as cavalariças.
Ao limite do "forte"  uma coluna antiga pequena partida ao meio 
Arco de volta perfeita e o peso do lagar onde enroscava o senfim
Homenagear a minha querida mãe fiel companheira nas minhas aventuras e investigação
Na segunda vez que visitei o local quis perpetuar a minha linda mãe pela sua bondade ao me acompanhar nas minhas deambulantes aventuras em local emblemático sentada na pedra  a lembrar um miliário romano...
Reconstruções de casario com reutilização de pedras 
O pilar de pedra antigo é bem prova que aqui foram as cavalariças e antes sustentou um grande barrote, pela curvatura da pedra e nunca foi habitado, assim em parte continuou como barracão
Reutilizações de pedras em novos contextos de vida
Com a extinção das Ordens Religiosas em 1834 , sabemos que em 1877 já tinha acontecido a venda em haste pública. Precipita dizer  houve  escolhas dos melhores terrenos, por terem chegado ao séc XX muita terra em poucos. As ruínas  do vulgo mosteiro foram compradas por  vários particulares a ditar a pobreza estrema para em tão parco espaço cada um ter feito a sua casa para morar. Chegou aos dias d'hoje ainda pertença de vários donos.
Em 1875 o cemitério volta ao local primitivo. A Junta da Paróquia pelo Padre José Rodrigues Portela comprou a fasquia entre o caminho e o cemitério inserido na quinta do  Dr Domingos Botelho de Queiroz, onde se veio a fazer a capela e muda-se o S Lourenço, em pedra, onde o descobri e, antes esquecido.
Portas  com ferrolhos em ferro e tranca de madeira dos últimos moradores
Arcos de volta perfeita da adega
Estavam e ainda alguns estão debaixo da fila de norte para sul à vivenda azul .
Em agosto de 2014 esqueci-me de levar a máquina fotográfica , desci ao vale onde constatei o muro de sustentação.Voltei uns dias depois tendo reparado que alguém nesse entretanto arrombou na cave uma porta cedendo a estrutura da parede frágil tendo ficado a notar-se um novo arco visível  arco  que tinha sido entaipado em 1933, onde foi deixado escrita a data no caliço quando foi feita a arrecadação.Voltei para fotografar acompanhada pelo Sr  Padre José Eduardo Reis Coutinho confirmou o peso de lagar, que desconhecia a função, e  afigurar a adega dada pela sequência de arcos.

O peso de lagar onde enroscava o senfim 
Entrada a norte do vulgo mosteiro
Já conheci esta casa perdendo-se os vestígios do que aqui foi palco antes. 
Podia ter sido a Enfermaria ,  Almoçataria,  Esmoliadouro ? Certo a estalagem e a Enfermaria !
Pela entrada a norte além do acesso ao vale, ao meio da rampa  havia uma palmeira das mais finas de Portugal, as primeiras introduzidas pelos povoadores, que  recordo e  morreu anos mais tarde. Ao fundo antes do vale havia um portão com acesso à cadeia e cavalariças.  

Portão  a fechar o complexo na entrada a norte 
O aceso ao vale  fazia-se por esta entrada.À esquerda  onde foi a cadeia e o acesso às cavalariças.
O portão com remate a pedra  com  característica  em casario antigo com a ombreira em pedra a rematar com outra igual no muro tipo "L" .
Em 1926 outra requalificação
Seria aqui a Estalagem ?
Não conheço pontos de água aqui. O tanque mais recente para retenção de águas da chuva?
Bloco onde foi o palco da cadeia a nascente com a janela com grade e para sul da Estalagem  
Quando aqui vim estava um almofariz em mármore. Quem ia comigo disse- não fica aqui e trouxe-o na mão...quando nos despedimos, ofereceu-mo!
Janela com gradeamento da  primeira cadeia
Depois de  retirar a hera voltei mais tarde para a fotografar
Volume a nascente do complexo do vulgo mosteiro
Compreendido  entre as duas entradas, sempre o conheci pela frente para o caminho unido, embora o barracão na esquerda é mais recente.
Não vislumbrei ombreiras nem lintéis gravados, nem datas.
O lote que foi de António Serrador em venda há anos
Na altura pedi autorização à minha amiga Fátima Carvalho  para fotografar deu-me recomendação de ter cuidado por estar a casa em derrocada.
Em agosto de 2018 reparei em limpeza sem saber que o lote tinha sido vendido.
Troquei conversação com uma das vendedoras, Fátima Carvalho - «Bem, o que eu tenho pena e de não conseguir recupera-la e ter que a vender, só espero encontrar alguém que a recupere... 25-09-2019, Era apenas para lhe dizer que a casa do Vale Mosteiro que era minha foi vendida... e por muito que eu me esforçasse o novo dono a derrubou...»A suposta falta de preocupação pela preservação do património histórico que o lote encerrava, pese aviso da vendedora  a marcar mais uma grande perca de património cultural em 2019, quando devia ser tão omnipotente em tempo de globalização, debalde, sem suposto pejo em demolir testemunhos históricos que as fotos servem para MEMÓRIA FUTURA.
Peso de lagar, o senfim
As pedras de suporte, piais, ao longo da parede a evidenciar que ali houve parreiral

A sequência de arcos  de volta perfeita e a pedra de fuso de lagar a ditar um lagar de vinho
Quatro arcos de volta perfeitos ainda de pé, embora só dois se vejam a descoberto, os outros ainda debaixo do casario da casa da Deolinda (2) e do Ti António Serrador (2), no dizer do António Simões (Arrebela)  havia um arco parede sim parede não). 
Fragmento de coluna 
 
Casa que foi do Sr. António Serrador
Construída sobre os arcos de volta perfeita da adega , de sobrado com reutilização da pedra de varandim pertenceu à capela a norte, segundo me confidenciou o "António Arrebela" haviam mais dois varandins. Desde sempre o  hábito de se  reutilizar as pedras já trabalhadas  pelo canteiro.
Cave  onde foi a adega  com a porta e uma pequena janela com grade
Resta ainda outro casario reconvertido no espaço
A casa com a chaminé é a casa amarela na entrada a norte, parece ser possível que a Enfermaria tenha sido ali e  pela porta lateral da capela iam rezar...
A demolição de arcos de volta perfeita é uma realidade, sem saber o paradeiro das pedras a ditar a banalidade à glória do que foi o seu passado, resta a janela com grade da primeira Cadeia de Ansião.
Onde teriam sido despejadas as pedras? Já antes o mesmo com o arco gótico? Será que daqui a 100 anos alguém as vai redescobrir ? Em imaginar a tremenda dificuldade da investigação para as colocar no seu real palco, onde foram plantadas!
Não é minha pretensão menosprezar proprietários, meus amigos de infância , a que acresce o lamento a muito presidente, apenas em 2010 houve a escavação arqueológica no local, mais, sem qualquer avanço, sem ninguém a lhe dar continuidade. Pior, sem aparente preocupação e preservação ao parco património de Ansião onde se  continua a perder património edificado, a se destruir pedras que foram afeiçoadas, que contam estórias com séculos e outras histórias...Por falta de Lei Municipal que obrigue a preservar os testemunhos do passado e a valorização das pedras , afinal testemunhos deixados pelos nossos antepassados que devem ser de todos de nós para se deixarem às gerações vindouras no dever e Compromisso cultural! 
Pese propriedade particular, o certo era a câmara, atendendo à investigação encetada em 2010 , quando o imóvel esteve em venda, ter  equacionado se havia interesse ou não ou apenas recuperar as pedras para decorar a excelência da Sala de Visitas a norte de Ansião, em projecto alicerçado de arquitectura em alencar como expoente máximo a recolocação dos arcos de volta perfeita com a pedra do senfim e outras que existem espalhadas por Ansião. Em fechar o Compromisso de se começar a valorizar o passado, do que  foi uma grande actividade lagareira;  azeite e de vinho, já referenciada em 1359, até hoje.

Sitio do albergue do séc. XII
No dever autárquico assiste respeitar a História de Ansião e dos seus Locais!
Quiçá, ainda se alvitra dizer que a suposta vizinhança sem jamais denotar o real valor do chão sua morada, nem se constranger com a recente toponímia - Canto da Nogueira na entrada sul e na entrada norte Canto do Sossego. Topónimos inoportunos. A valorizar árvore morta e em vida enfezada e Sossego no alegado desassossego com extremas e acessos ao vale uma vida desimpedida .
Acresce o regulamento da toponímia em vigor não contemplar - Canto, Beco, Quelha, Sitio, a merecer revisão. Urge emenda salvo melhor interpretar - Sitio da Estalagem do séc. XII e Sitio da Capela de S Lourenço pela exigência e respeito ao passado aqui vivido e da sua História, no dever serem dignificados em memória futura, honrando os seus palcos, em Ansião!
  Sítio da Capela de S Lourenço 


Fontes 
Livro Memórias Paroquiais
http://arqueologia. patrimoniocultural. pt
Testemunhos do Dr Manuel Dias, Sr Padre Manuel Ventura Pinho, Fátima Carvalho, António Simões
Livro do Padre José Eduardo Reis Coutinho
Tombo de Anciaõ, Livro 56 do Cartório de Santa Cruz
Cadernos de Estudos Leirienses nº9 de Saul António Gomes e Mário Rodrigues O Povoamento do Território de Ansião nos séculos XII/I

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

O azar do serralheiro Bairrão e da sua família em Ansião

passado de uma terra são as  estórias verídicas de azar e fortuna das suas gentes.Encontrei uma crónica no Livro Ansião Passagens do Passado do saudoso César Nogueira apesar de não indicar a altura em que ocorreu vali-me do conhecimento das personagens para a centrar na década de 30 (?) antes da instalação da luz eléctrica só aconteceu em 1938, em que o azar bateu à porta de um serralheiro oriundo de Bairrão dos lados de Figueiró dos Vinhos, a ditar-lhe a alcunha em que se perdeu uma família em Ansião e o ofício de serralheiro. E o seria bom no ofício olhando à graciosidade do portão.
O portão do quintal onde morou o Bairrão
 «O Manuel da Moita disse: - Tem graça, que ontem quando andava na volta dos lampiões, vi sair daqui de ao pé da porta um vulto...Assim à primeira vista parecia-me o Bairrão. Era assim do corpo dele...Mas estava escuro...Eu não digo que era ele. Só que era assim do corpo dele, e embrulhado num capote.» Equivoco testemunhal do que julgava ter visto sem ninguém para o salvar e à sua família!
O episódio aconteceu numa noite de chuva em que a semelhança do aspecto e do uso de uma capa foi o suficiente para se ver levianamente acusado de um roubo na loja dos Albinos sem qualquer prova, até porque nesse dia tinha ido a Santiago da Guarda fazer um serviço e por a noite acontecer cedo ficou a dormir num barracão do Visconde. Ninguém o salvou apesar de não se ter encontrado o móbil do roubo, nada, vilmente acusado e preso na cadeia de Ansião onde passou o Natal. A mulher do Bairrão devia ser natural de Ansião cujo irmão pagou a caução ao cunhado para o libertar da cadeia no Ano Novo.No livro não é abordado o seu nome, mesmo que o fosse naquele tempo as mulheres não carregavam o apelido dos pais, por isso seria difícil saber de quem se trata, apenas o conhecimento se o autor tivesse mencionado o nome do seu irmão.
 «(...) antes da existência   da iluminação eléctrica pública em Ansião, que só veio a ser instalada em 1938, a vila era nessas noites escuras, uma tristeza.Diz-se aqui em Ansião que a noite Deus a fez Deus a temeu, onde apenas quebravam a escuridão da vila, os lampiões  a petróleo que pendiam dos raros  suportes de ferro existentes em algumas esquinas, só entre a Cadeia e o Alto da Ponte.O encarregado de acender os lampiões era o Manuel da Moita que morava na Rua do Canto. Era um homenzarrão, alto e forte, com uns pézorros que atirava pró lado, umas beiçolas mais em evidência por falta de dentes e uma grande cabeça sempre coberta por uma carapuça que teria resultado dum chapéu a que tinham sido cortadas as abas.Usava uma blusa de riscado, largueirona, atada com um nó sobre a barriga. Porém a caracteristica mais invulgar era de que o Manuel da Moita nunca teve barba.A caraça parecia  pele de sapo, sem um pelo sequer.Faltava-lhe esse sinal de virilidade, mas a mulher teve um filho...Nunca foi homem de andar no campo ou de se agarrar ao pesado. Governava-se na vila, com uns recados, uns fretes, mas especialmente a "acartar" os malotes dos caixeiros viajantes que vinham a Ansião visitar os clientes das casas que representavam.Não vinham de automóvel, como é evidente, e chegavam ou de madrugada, na camioneta do correio vinda de Pombal  com destino à Castanheira, ou à tarde, na mesma camioneta no seu retorno a Pombal.À espera destes viajantes estavam o Manuel da Moita e o Pêgo. que a troco da paga respectiva, lhes conduziam os malotes prá pensão onde se hospedavam, e nos dias seguintes os acompanhavam de loja em loja, sempre transportando as malas, às costas ou no carroço de mão.Figuras interessantes esses caixeiros de praça.Os tais viajantes, animavam as pensões e à noite ficavam pelos cafés, do Alfredo ou do Fundo da Rua, e contavam anedotas, historietas e traziam novidades, mais ou menos verdadeiras, que aqui ainda não tinham chegado.Eram homens vividos, viajados, que faziam boa companhia e eram quase a razão de ser das modestas pensões existentes...(...)Certa noite , dias antes do Natal Manuel da Moita que durante o dia estava ao serviço dos viajantes à noite acendia os lampiões. A chuva de esgravanadas não o deixava sair de casa e acabou por sair um pouco mais tarde do que o costume armadilhado com a vasilha do petróleo e os apetrechos para começar na esquina da Cadeia, depois foi acender a da travessa da Hermínia, seguida da Fonte da Praça, da esquina do Franco e todas as demais.Quando estava a acender o da esquina do Guimarães, no seguimento da farmácia, viu um vulto enrolado num capote junto da loja dos Albinos. Certamente estava acoitado da chuva debaixo do telheiro de zinco que existia ao longo de toda a frente da loja...Veio pela Rua de Trás a única pessoa que encontrou foi o carcereiro  Adelino Pimpão...De madrugada levantou-se prá vir esperar a camioneta do correio. Veio um viajante. Levou-lhe as malas prá pensão do Acursito e ao chegar à praça notou um movimento anormal. Descarregou as malas e foi ver o que se passava.Tinha havido um assalto na loja dos Albinos.Mais de 20 peças e mais artigos, xailes de oito pontas, cachinés e tudo do melhor...O Manuel da Moita disse: - Tem graça, que ontem quando andava na volta dos lampiões, vi sair daqui de ao pé da porta um vulto...Assim à primeira vista parecia-me o Bairrão. Era assim do corpo dele...Mas estava escuro...Eu não digo que era ele. Só que era assim do corpo dele, e embrulhado num capote. O Albino mandou chamar os guardas campestres para irem a casa do Bairrão Serralheiro, ele tem um capote e mora ali na estrada nova, actual Rua Dr Domingos Botelho de Queiroz com entrada pelo portão ao lado da casa onde morou o Dr Melo. O Bairrão tinha ido a Santiago da Guarda  fazer um trabalho e acabou por dormir num barracão do Visconde o que levantou mais suspeitas.E o Bairrão foi preso na cadeia de Ansião.A mulher caiu na cama doente.As filhas deixaram de ir à fonte só saindo para comprar alguma coisa pr'a comer.E a mais nova não quis ir à escola, porque os outros miúdos faziam pouco dela.Passou o Natal na Cadeia e só foi solto na véspera de Ano Novo, sob fiança.Dias tristes naquela família..Chegou a feira dos Pinhões em janeiro...um tendeiro, de fazendas, que se instalou junto das grades da igreja.Antes de abrir a loja o Sr Albino foi dar uma volta à feira e reparou quando se vinha embora em duas peças de padrão igual às que lhe tinham sido roubadas.Reparou melhor e, mais baixo, mais duas peças, dum outro padrão,também iguais, fez-se comprador para as apreciar, ao ouvir o preço percebeu logo que havia gato se as tivesse comprado no armazém seria mais cara do que pedia e puxou pela fita de nastro onde na peça se aponta os metros e lá estava a sua letra...Disse-lhe ponha esta peça de lado que vou chamar o alfaiate e ficou apartada.Foi chamar o guarda campestre para testemunhar a ocorrência.Valeu ao Bairrão a descrição de quem tinha vendido as peças ao tendeiro usava bigode, era o alfaiate do Moinho das Moitas.Um achadiço que aqui aportou há 2 a 3 anos e na altura distribuiu uns panfletos "Ansião Progride" abriu uma nova alfaitaria etc etc...e assim ganhou a alcunha Ansião Progide. O Bairrão era de um homem que veio dos lados de Figueiró dos Vinhos onde houve ferrarias foi chamado ao Tribunal para ser informado que o processo tinha sido arquivado. O logista Albino visitou-o e tentou indemniza-lo. Era tarde porém.A vida do Bairrão tinha sido destruída. A mulher faleceu pouco depois e ele com as filhas mudaram-se para Bairrão e a mais velha foi para Lisboa" .

Há uma história narrada pelo escritor Júlio Dantas , no seu livro Abelhas Doiradas, escrito em 1920 travada com o Mestre pintor Malhoa e o irmão do Regedor de Bairrão transcrita pelo Padre Manuel Ventura Pinho que transcrevo, por a achar deliciosa.

MALHOA E O PAINEL DAS ALMAS DO BAIRRÃO - FIGUEIRÓ DOS VINHOS
O Mestre pintor José Malhoa  tal como outros amigos pintores naturistas vieram a escolher Figueiró dos Vinhos para viver. O Mestre Malhoa construiu um pequeno chalet que se chama "o Casulo".
Uma história narrada com muita graça do escritor Júlio Dantas:
«Uma bela manhã, em Figueiró dos Vinhos, estava Malhoa, com as senhoras, em volta da mesa do almoço, quando a criada anunciou o irmão do regedor de Bairrão, que insistia em falar ao artista. Mandaram-no entrar. Era um homem de quarenta anos, cara de Páscoa, tisnado do sol, jaleca de Saragoça, polaina, varapau, um barrete vermelho de campino a rolar nas mãos felpudas:
- Ora com sua licença!
O mestre perguntou-lhe o que queria. O homem coçou na cabeça, engoliu em seco, olhou em volta as senhoras, gaguejou, riu e acabou por dizer:
- Vocemecê é que é o Senhor Pintor Malhoa?
- Sim senhor. Que é que você quer?
- Queria saber quanto vocemecê leva por pintar umas alminhas do Purgatório para a esmoleira de estrada.
E, lanzudo, desconfiado, hesitante, a face curtida a arrepelar-se num tique nervoso, o zambujo ferrado de estaca no sovaco, contou que fizera aquela promessa às almas se não lhe morressem dois bois que andavam doentes. O barbeiro da terra tinha-lhe pintado um painel por oito tostões – um ror de dinheiro ! - mas não estava obra acabada. Fora então que o irmão do regedor se lembrara de encomendar a obra ao Senhor Malhoa, que, por muito mal que a fizesse – dizia ele – sempre a havia de fazer melhor. O artista ouviu, acabou de enrolar o cigarro, e, perante o assombro de sua esposa, disse ao homem que aceitava a encomenda e que viesse dali a oito dias buscá-la.
- E quanto é que custa?
- Isso, nós veremos depois.
Passada uma semana, o homem lá veio, calça nova e pescoceira branca domingueira, bateu à porta, entrou, estacou de boca aberta diante de um painel das almas que era uma maravilha, (Malhoa pintara-o com todo o seu talento, sem lhe tirar o sabor da ingénua imaginária popular) e, coçando com ambas as mãos a cabeça chamorra, destampou, aflito:
- Valha-me o Senhor Santo Cristo, que isto vai para mais de oito tostões!
O artista tranquilizou-o. Não era nada. Ofereciam ambos aquele presente às almas do Purgatório. O pobre homem, com o suor do júbilo a empastar-lhe os cabelos da testa, riu, chorou, dançou, travou do painel, embrulhou-o na manta que trazia, e à saída, abraçando respeitosamente o pintor, disse-lhe a meia-voz, para as senhoras não ouvirem, estas palavras que eram a expressão suprema da sua gratidão:
- Ó Senhor Malhoa, venha daí beber um copo de vinho!
E aqui têm como, na pobre estrada de Bairrão, à poeira e ao sol, se está perdendo um retábulo que é a obra carinhosa de um dos príncipes da pintura portuguesa contemporânea.»

Manuel da Moita
Apelido que vigorou no Escampado da Lagoa, hoje não sei se ainda existe.Adorei a brutal descrição física"era um homenzarrão, alto e forte, com uns pézorros que atirava pró lado, umas beiçolas mais em evidência por falta de dentes e uma grande cabeça sempre coberta por uma carapuça...(...) porém a caracteristica mais invulgar era de que o Manuel da Moita nunca teve barba.A caraça parecia  pele de sapo, sem um pelo sequer.Faltava-lhe esse sinal de virilidade, mas a mulher teve um filho..."
« À espera de viajantes estavam o Manuel da Moita e o Pêgo para "acartar" os malotes dos caixeiros viajantes que vinham a Ansião visitar os clientes das casas que representavam.
Manuel da Moita além da espera destes viajantes governava-se na vila, com uns recados, uns fretes, e ainda encarregado de acender os lampiões o Manuel da Moita que morava na Rua do Canto.»
«os lampiões  a petróleo que pendiam dos raros  suportes de ferro existentes em algumas esquinas, só entre a Cadeia e o Alto da Ponte"» depois foi acender a da travessa da Hermínia, seguida da Fonte da Praça, da esquina do Franco e todas as demais.Quando estava a acender o da esquina do Guimarães, no seguimento da farmácia»  
A travessa da Hermínia?
Seria a esquina do Domingos Carvalho? ou a Travessa da Misericórdia (?) porque depois de acender o lampião seguiu para a Praça do Município onde estava outro na Fonte da Praça  seguindo para a esquina do Franco e,...
Nomes da toponímia antiga; Esquina do Guimarães aqui abaixo à posterior numa foto do espólio do Renato Freire da Paz  em tempo de luz eléctrica ao gaveto da casa com 3 janelas atrás das mulheres . O apelido Guimarães existiu em Ansião e se perdeu com familiares emigrados para o Brasil.
Resultado de imagem para ansião + fotos antigas
Quem reconhece estas mulheres da década de finais de 40/50?
A casa dos Albinos
Na foto abaixo na esquerda o prédio mais alto tinha na altura um telheiro de zinco que existia ao longo de toda a frente da loja e aqui na foto já tinha sido retirado veio a ser comprada pelo Sr Pires que continuou o mesmo ramo, seguida da parte final comprada  pelo Sr Diamantino onde montou uma ourivesaria. 
A razão de lhe chamarem "casa dos Albinos"seria o nome do pai e do primogénito (?). Segundo a minha mãe eram dois irmãos solteirões a quem chamavam - a loja dos rapazes. Também era seu património a casa que veio a ser comprada pelo Sr José Morgado e pela esposa D Maria Augusta Abreu que se candidatou ao regime cooperativo instaurado pelo Dr Adriano Rego em Ansião "A casa" quando foi presidente da autarquia.O apelido dos Albinos era "Simões" também tinham uma grande quinta à imediação do cemitério que conheci do " Zé Piloto" quando a vendeu ao meu tio António Freire da Paz.
Desconheço se existe descendência da família dos Albinos em Ansião pela a venda do património, apesar do apelido ter sido comum nos Matos com alguns a emigrar para o Brasil  e no regresso a montagem de negócios na vila. Apelido ainda hoje vivo para os lados do Pessegueiro em que Alfredo Simões, o avô do Carlos Silva do Fundo da Rua com o mesmo ramo sem saber se eram família.
«O logista Albino visitou-o e tentou indemniza-lo. Era tarde porém» A prisão veio precipitar a doença na mulher que veio a falecer pouco depois com a filha mais velha a caminho de Lisboa onde alguém a reconheceu ao lhe perguntar de onde era respondia ser minhota...ele e as outras duas filhas mudaram-se para Bairrão. Conheço uma cabeleireira em Almada com raízes na mesma aldeia de alto e encorpado corpanzil e olhos claros, quiçá com genes da sua descendência (?).
Outra visão da Praça do Município ainda mais antiga que a de cima  pelo mote dado pelas árvores; em cima de tronco mais grosso e copa  frondosa no contraste desta tirada no inverno em que se mostram despidas de folhagem e tronco fino. Os veículos da altura, a camioneta da carreira, duas camionetas em que uma delas de caixa aberta com altos varais e três  carros.
Foto com os Paços do Concelho já ampliados depois de 1937a reportar inicio dos anos 40 com a Placa  que tinha no bico moldura a preto a encerrar a data de conclusão da calçada em calhaus em 1939 e o poste de fios eléctricos na esquerda a reportar que já havia luz eléctrica  instalada em 1938.
Mostra ainda a mansarda no prédio do " Júlio 29" a ditar no meu tempo outros as fazerem com ordem para as retirar à qual jamais cederam para de novo outras se reerguerem!
Rua Almirante Gago Coutinho que naquele tempo se chamava Rua de Trás
O Bairrão Serralheiro viveu à direita no quintal a seguir à casa dos herdeiros do "Sr Júlio 29" com a casa  no quintal com um portelinho para a (Rua  Almirante Gago Coutinho ou do Ensaio) que ainda exibe um belo portão artístico em ferro forjado, teria sido sua obra, cujo quintal também com entrada para a estrada nova a actual Rua Dr Domingos Botelho de Queiroz roteada em finais do século XIX onde ainda existe um portão. Conheci este quintal quando pertencia ao "Armando girafa".
«Os tais viajantes, animavam as pensões e à noite ficavam pelos cafés, do Alfredo ou do Fundo da Rua, e contavam anedotas, historietas e traziam novidades...»
O café do Alfredo Calado sito em frente da praça da fonte de ferro e o café Valente ao Fundo da Rua.
«(...) achadiço que aqui aportou há 2 a 3 anos e na altura distribuiu uns panfletos "AnsiãoProgride" abriu uma nova alfaitaria etc etc ao Moinho das Moitas a ditar-lhe a alcunha "Ansião Progide"
Tempo que a ordem era pautada pelos Guardas Campestres antes da GNR. 
«carcereiro  Adelino Pimpão» Apelido que não conheço em Ansião, apenas em Tomar.No meu tempo era o "Marnifas" sem conhecer a razão da alcunha.

Pensão do Acursito
As duas portas na esquerda da foto a continuar na tradição da antiga Casa da Albergaria da Misericórdia de Ansião.Vendida no principio do século XX por volta de 1903 quando começou a ser construído o segundo hospital da instituição ao Ribeiro da Vide.
Resultado de imagem para ansião casa da misericórdia 
A crónica do César Nogueira mostra-se rica na descrição dos personagens do Manuel da Moita que vivia na Rua do Canto e da sua fisionomia, ainda o Pêgo que teve o mesmo ofício de acarretar as maletas dos caixeiros viajantes da camioneta para as pensões dali para as lojas  e depois de novo para a camioneta, este viveu na primeira Casa da câmara no Bairro de Santo António.

FONTES
Livro Ansião Passagens do Passado do saudoso César Nogueira

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