Atalaia, no Montijo, em itinerário de Ansião para Almada e vice versa, antes da auto-estrada. A recordar o fulminar olhar do Cruzeiro, pela semelhança ao de Maças de D. Maria, Alvaiázere; implantado em farto terreiro, de quando em vez contorcida para enxergar escadaria e o Santuário, escondido pelo casario afilado no corredor da estrada em garganta de paredes altas com aplicação em pedra.
Há anos, numa feira de velharias comprei a Imagem de Nossa Senhora da Atalaia, sem o saber. Curiosamente, ao falar com a senhora da loja souvenirs no Santuário, soube que as Imagens à venda são o mesmo molde, em porcelana, há 30 anos...na módica quantia de 30 €, com botão de rosa na mão. Reconheci que a compra na feira, a julgar seria a Senhora de Tróia, acresce a ilusão à sua antiguidade, e alto preço, carregada de gordura...a limpá-la, a tinta desmaiou, e sem a rosa,o botão seco é da minha autoria.
Segundo o historiador Rui de Azevedo, em 1249 já haveria uma referência à “carreira da Atalaia” ou caminho de carros, pelo que, por esta altura, a Atalaia seria apenas um lugar de passagem para o Alentejo.Verossímil, o historiador ao se referir em 1249, a passagem para o Alentejo, o seria igualmente para norte, pelo trajeto acima retratado. Onde em 1669 passou a comitiva do príncipe Cosme de Médicis, vinda de Badajoz, brindada por Pier Maria Baldi com a aguarela da Aldeia Galega, hoje Montijo. Acresce ainda o seu uso continuado pela barreira da travessia do Tejo, a necessidade de o contornar.
Corredor romano atestado pela Fonte de mergulho, incisa ao Milagre das águas, Porto dos Cacos, os fornos de cerâmica de anfôras e outro vasilhame e de vidro, na herdade de Rio Fio no testemunho de Jácome Ratton na centúria de 700, atestam inegavelmente a vivência romana neste palco.
Em época medieval, teria sido chamado Monte da Atalaia, o topónimo, deriva do árabe at-talai'a, plural de talaiâ, lugar alto para vigilância, sentinela, por emergir da planura em seu redor com panorâmica abrangente, diria de 360º em enxergar quem se aproximava vindo de norte e de sul.
Dissecar excertos da DGPC (...) 1409, documentada a devoção a Nossa Senhora da Atalaia desde esta data - 1470 - referência a "ermida de Stª Mª da Atalaya" - 1500, cerca dessa altura os terrenos coutados são destinados à capela por D. Jorge de Lencastre, filho de D. João II, para património da capela e logradouro dos romeiros - 1507 - na sequência da epidemia que assola Lisboa, os oficiais da Alfândega de Lisboa organizam romagem à NSAtalaia em Aldeia Galega; data do Compromisso do Círio da Alfândega de Lisboa.
Credível em tempo romano neste monte houve um podium, cuja ruína, tenha sido mote para a ermida de culto cristão a NSAtalaia, antes de 1407 .Como aconteceu noutras terras em contexto de ruína romana ou visigótica no mesmo palco vir a nascer um culto cristão com reutilização de materiais.Pese a falta de claridade na noticia da devoção a NSAtalaia em 1407, sem se saber quando foi iniciada. E ainda a discrepância da noticia - em 1470 de uma ermida a NSAtalaya e por volta de 1500, o monte da Atalaia em terrenos coutados são destinados à capela por D. Jorge de Lencastre, filho de D. João II, para património da capela e logradouro dos romeiros. Ora, D. Jorge de Lencastre nasceu em 1481, para supor a capela foi instituída pelo seu avô ou pai, e D,Jorge quem lhe vai acrescenta a coutadinha do monte. Em 1780 por alvará de D Maria I a coutadinha de NSAtalaia media 3613m,50, balisado por seis marcos de cantaria com o nome gravado - Atalaya".
Lisboa, de quando em vez vivia tempos de peste. Já a margem sul sem nota de pestes pelo numero de pessoas ser substancialmente menor, como de forasteiros de além mar . Em 1507, (FONSECA, 1944, p.6 ) aborda a terrível peste que assola a capital. Todo o crente acreditava na sua fé cristã para se salvar da peste. Até porque antes, quer Reis e nobres, em tempos de peste já se refugiavam em palácios e solares na margem sul, pelos bons ares. A influenciar os oficiais da Alfandega de Lisboa, a romagem de barco até ao atual Montijo, e antes Aldeia Galega, trazendo em mãos um Círio, uma grande vela em cera seguindo em procissão a caminho de Santa Maria da Atalaia, pedindo à Virgem para os livrar da peste.Em virtude do seu pedido ter sido atendido, vieram a instituir uma Confraria, em 1551. O Cruzeiro no terreiro atesta o ritual anual de peregrinação àquele Santuário, quiçá se generalizou com outras terras das redondezas, se olhar à quantidade de Círios que aqui vinham em romagem. Com celebração no último domingo de agosto.
Em 1602, a referência das obras na Igreja, que se atrasam, só o telhado estava feito em 1609.A primeira vez que é referido igreja e não ermida, se admita que já seria a atual igreja.
1623 - data apontada por Frei Agostinho de Santa Maria para obras na igreja.
Em 1623, a data apontada por Frei Agostinho de Santa Maria para obras na igreja.O dado para historiadores atestar a fundação do Santuário.Debalde, seja verossímil afirmar a vontade em alterar a ermida, em igreja, é sem duvida anterior a 1602.Mas a mudança em Santuário?
De fato, no tardoz do Santuário existem dependências e um deposito de águas da câmara(?), com o picoto encimado na torre, foi cortado um enorme eucalipto e outro vigora, em emaranhado construído e outro em desprezo a colidir com a estrutura secular do Santuário, que merece ser requalificada. A fachada da igreja apresenta-se austera sem saber se foi reedificada após o terramoto de 1755.
Na minha perspetiva depois de anos a investigar.A importância ocorrida na centúria de 500 e 600 com a chegada de judeus expulsos de Espanha depois de 1492, foi pródiga no aparecimento de milagres e fontes santas; uns vingaram, outros não. Mentalizada e engendrada pelos novos povoadores, que se foram encaminhando da raia beirã para o interior até ao litoral, onde se iam fixando em pequenos bairros como estalajadeiros e taberneiros.Num tempo que não existia o conhecimento básico das propriedades da água que fecunda, purifica, regenera e cura, e o povo judeu sendo letrado, de cariz inteligente e ardiloso na sapiência a implantar milagres, por o povo ser néscio, fortemente beatizado e analfabeto. Na audácia a profanar a fé cristã, cristãos novos, na obrigatoriedade de abraçar esta nova religião, a manobraram a seu contento, no sofisma ganancioso do ganho a riqueza fácil, tirando partido dos romeiros doentes na procura de curas milagrosas com as águas, e da noticia levada em boca na única estrada medieval de norte para sul. Logo ali acorreram peregrinos à procura das águas, onde se lavavam, acreditando na cura das suas maleitas, e de certa medida ao se lavarem sentiam uma imediata melhoria pela matança da bichesa (pulgas, piolhos, lêndeas e percevejos) ao purificarem o maior órgão do corpo, a pele, libertavam a carrada de suores recalcados. Deixando a sua esmola, que veio a contribuir para as obras e para os bolsos de alguns....Falta saber se o Santuário teve a sua própria Confraria,, já que existia a Confraria de NSda Atalaia do Sitio do Louro, no excerto da entrega de ouro e prata das capelas para os invasores franceses em 1808(...)A 5 março, entrega à Casa da Moeda de 9 marcos e 3 onças de prata da confraria de Nossa Senhora da Atalaia do Sítio do Louro e aldeia da Quinta do Anjo; dão ainda entrada peças de prata da capela da Atalaia com o peso de 97 marcos e 3 onças, onde se inclui uma lâmpada da capela-mor com o nome do Sereníssimo S. D. Francisco Infante e uma perna de folha de prata com a inscrição "S Dom Franc.cº",
Em Ansião, no centro do País, o Milagre da Fonte Santa ocorrido a 11 de agosto de 1623, onde rebentou inexplicavelmente uma nascente ( hoje explicada no enquadramento do vale aquífero do Nabão) em chão de saibro, em plena secura de terra cársica, na imediata atribuição de águas milagrosas. A mesma génese a credenciar milagre como na Atalaia.Agora qual foi o primeiro? Em Ansião idealizado por os judeus ali fixados que o credenciaram rapidamente, ao ampliar uma ermida em quatro meses, na grande capela com galilé suportado por colunas (se admita em palco de um suposto podium romano com reaproveitamento das colunas , em 1623, se olhar ao escasso numero de habitantes, quantos canteiros tinham de haver para em 4 meses fazer tanta coluna em pedra ? Debalde, jamais algum historiador se questionou... Povo vaidoso com a sua fausta capela, sem grandeza de Imagem para colocar no altar, e mais uma vez esquema pensado ao idealizaram ir "roubar" em conluio com o padre , a Virgem, em reservas na sacristia da matriz, espólio da primitiva igreja desativada em 1593, de noite, para os ansos (da vila) não se darem conta, pois eram muitos chegados àquela Senhora, no relato de Severim Faria em agosto de 1625 na sua viagem ao Santuário da Constantina com o Chantre de Évora. Pintaram e vestiram a Imagem e deram-lhe o nome de Nossa Senhora da Paz, a quem instituíram uma Confraria concedendo empréstimos a juro aos seus confrades. Dando inicio do conceito da Banca atual em Portugal, o distingui na leitura da transcrição dos manuscritos pelo Dr Manuel Dias, sem essa interpretação, já eu por ter sido bancária, me ser familiar, com confrades a não pagar. Já o ritual das águas, foi-se desvanecendo no tempo, pela escasseza até secar.E, sim, foi através desta investigação que teimei vir à Atalaia , no porém curioso- na Atalaia haviam grandes pinheiras, serviram para as obras. Em Ansião, a existência de mancha antiga de pinheiro manso, sustenta a credibilidade do clã judaico, quem trouxe a semente do pinhão da Grécia, além de se apresentar favorável a engendrar este tipo de milagres. O pinhão era uma fonte de alimento durável, trazida de Soure ou Ansião, o local da sua origem, da região centro, onde a sua Feira Franca, decretada por alvará já leva mais de 300 anos onde vinham vendedores de Soure. E aqui perceber que os grandes Senhores medievais traziam serviçais para as suas muitas terras. O Duque de Aveiro teve a Casa de Pereira em Montemor o Velho e quintas em Ansião entre outras. Destas terras a que acrescem outras do litoral vieram pelo menos desde a centuria de 600 gente que era intitulada por caramelo.
Depreende-se que a palavra caramelo, se aplica a serviçal rijo, dado a todo e qualquer trabalho, sendo difícil acreditar nesta centúria já existirem os rebuçados espanhóis, caramelos, doces, que se agarraram aos dentes, na analogia a gente doce, quando sempre o foi rude...No porém, cerca de 1500 D. Jorge de Lencastre quem mandou edificar a ermida a NSAtalaia, o seu filho foi o Duque de Aveiro.Onde se conclui, as terras eram nessa altura da família, os transferindo da região centro onde tinham feito trabalhos árduos a enxugar as terras e a trabalhar nos arrozais.Portanto, pelo menos já naquela centúria de 600 até ao séc XX, aqui aportaram trabalhadores rurais da região especifica acima referenciada, alguns voltaram à sua terra, designados os caramelos de ir, com os caramelos de ficar, os que aqui casaram, acabando por se fixar. Formaram o Círio da Carregueira em 1833. Estes colonos acabaram por se fixar, sem casamento, não batizavam os filhos, sem praticar a religião , arreigados pelos maus caminhos e as igrejas serem longe. Boa parte das tradições e festividades que trouxeram dos seus locais de origem já desapareceram. Subsiste o gosto pelo jogo do pau e a participação nos círios da Atalaia, a romaria ao Santuário de N. Sra. Da Atalaia, no final de Agosto. Segundo Cachado (1988, 221), existem ainda três Círios na zona caramela: o círio da Carregueira (1833), o círio dos Olhos de Água (1856), o círio Novo (1943).
Agora quando irrompe a lenda da Fonte Santa? A que credencia o milagre da Senhora da Atalaia sob uma aroeira, junto a uma fonte que torna as águas milagrosas? Existem vários topónimos com o nome - Fonte Santa na Caparica e em Ansião, que conheço, e podem haver outras. Se a ermida data pelo menos de 1470, o nascimento do Milagre, ocorrido perto da fonte passando a ser chamada Fonte Santa, quando aconteceu? Duas coisas, 1º, o nome da quinta onde estava a fonte - Caría, indicia judeus vindos da raia da beira baixa. Por outro lado se estas terras recebiam colonos para as terras do Duque de Aveiro que tinha terras em Ansião, onde ocorreu o milagre igual em 1623, para aqui ter sido implantado, em atrair romeiros doentes para se curarem nas águas milagrosas,deixando a sua esmola.O verdadeiro sofisma dos judeus recém chegados a Portugal a proliferar na onda milagreira que vingou, para o último a vigorar, o de Fátima. Lamento, a minha frontalidade. Não acredito nestes milagres.Foram fabricados para enriquecimento. Mas, gosto de Santos, pessoas que sofreram a praticar o bem a favor dos outros, os que venero.
No tempo romano eram normais ao longo das suas estradas e poços de chafurdo com escadaria para se descer no verão há medida que a água escasseia. A região de Sicó ainda guarda alguns exemplares de poços de chafurdo, e outros descaracterizados no séc. XX, em fontes, por falta de conhecimento cultural.As heranças do passado devem ser preservadas para deixar aos vindouros.
O Santuário está catalogado de Imóvel de Interesse Público desde 2010
Excertos da DGPC
(...) Em 1669, data inscrita no plinto do cruzeiro de Alcochete, assinalando a sua construção.
É anexo ao Santuário, com vasto espólio de ex-votos populares, que ao longo dos tempos, os fiéis, foram ofertando à Sua Protectora, como pagamento de promessas. Um valioso património, de interesse religioso, antropológico e sociológico.
Na lateral a correnteza Círios ainda vivos; Azóia fundado em 1700 e o Quinta do Anjo 1780 e quiçá outros desaparecidos, nas ruínas adjacentes.
O púlpito em mármore, a brecha da Arrábida e sob o portal do mesmo a inscrição Palmela.
Os painéis azulejares em azul e branco, do séc. XVIII, retratam a vida de Nossa Senhora.
Fausto oratório, distinguiu-o na passagem à lateral direita da igreja no acesso para norte à sacristia, e pela frente a venda de souvenirs e Museu. O largo corredor é depósito de Imagens como esta, o Senhor dos Passos, moderno, entre outras. Na voz do povo aqui foi o palco da antiga ermida, leviano cultural cobrir o seu chão lajeado por mosaicos ... A sacristia possui lavabo maneirista, em mármore, silhar de azulejos de albarradas, do séc. 18, e oratório barroco, de talha policroma e dourada.
O altar mor com magnífico retábulo de estilo joanino em madeira exótica do século XVIII do Brasil. Sob o nicho do retábulo, a imagem de Nossa Senhora .Grandioso conjunto escultórico em talha dourada típico da magnificência joanina. No conjunto podemos descortinar dois anjos suportando as armas nacionais do tempo de D. João V cuja coroa se encontra partida bem como um medalhão onde se pode ver o monograma AM encimado por uma coroa, segundo a iconografia mariana.
Ainda hoje, os romeiros têm por hábito levar uma vela grossa de cera (círio) dando três voltas ao cruzeiro perpetuando os rituais antigos.
No cruzeiro podemos observar uma inscrição na base da cruz e outra na base de uma das colunas do lado poente, ambas alusivas à edificação do mesmo em 1551 pela Confraria de Lisboa.Construído no reinado de D. João III em pedra de lioz, é coberto por uma cúpula enquadrada por pináculos, e assente sobre quatro colunas.
No capitel do cruzeiro, do lado nascente encontra-se esculpida uma imagem do Redentor crucificado, e no lado poente uma Nossa Senhora da PiedadeAtualmente decapitada em virtude dos exageros políticos a seguir à implantação da República.
A família de Santos Fernandes a doou à Câmara em 1997.Não sei se está enaltecido em placa.O Museu é um espaço repleto de memórias e vivências de outros tempos. A exposição permanente retrata a vida rural do concelho, através de um valioso conjunto de alfaias e utensílios que constituem o seu espólio, e que avivam as lembranças dos mais velhos e aguçam a curiosidade dos mais novos.A
Mais tarde talvez na centúria de 700 e 800 aqui aportaram vindos do litoral centro, colonos para enxugar as terras, abrindo valas para escoamento das águas, técnica ganha nas margens alagadiças do Mondego, entre Montemor o Velho, Condeixa, Soure e Vila Nova de Anços. No séc. XX, na Herdade de Rio Rio, onde trabalhavam nos arrozais e vinhas ficaram conhecidos por "Caramelos", desconheço o significado, para mim caramelo depois do 25 de abril em Badajoz, os rebuçados que se agarram aos dentes. A sua herança na tradicional sopa da região que se popularizou na sopa caramela, já em Almeirim a rotularam Sopa de Pedra e na verdade a sua origem é a região da Beira Litoral.
Por último recordar um episódio vivido em 1972 numa oral de Português no Colégio Salesiano no Monte Estoril. Nunca tinha tido uma oral, nem sabia como se desenrolava, tive de perguntar a uma das alunas mais antigas que me descansou dizendo que era fácil, bastava estudar bem uma lição à minha escolha. Assim foi na oral mal acabei de mencionar a página a Irmã, disse-me "tu e a Luísa de Lisboinha, não tem direito a escolher a lição"…
FONTES
DGPC
file:///C:/Users/User/Downloads/Disserta%C3%A7%C3%A3o%20Apelativo%20Caramelo%20T.S..pdf Dra ANDRADE, Paula Maria Cruz