Resumo publicado em agosto e setembro de 2024 no Jornal Serras de Ansião
1ª Parte
Fiz aprendizado em anos nos meandros da investigação a destrinçar o trigo do joio, porque nem tudo o que parece o é, mesmo que tudo indicie o seja, persistencia e "calo" a elevar o conhecimento à triagem como a disciplinar o texto, por vicios do exercicio laboral profissional, à laia do pensamento de Duby; Tentar alcançar um grau académico, escrever e publicar um livro, não é praticamente nada, se não estivermos perante o nosso trabalho em total envolvimento existencial com a História o que faz, o prazer do historiador acontecer!
Começei há anos a deslindar o rico passado da Sarzedela.
Pesquisa de anos de bibliografia inédita, dedicada ao saudoso e estimado colega do meu pai - Sr. António Paz, mui afetuoso nas minhas visitas em criança ao Tribunal, jus a sua querida filha D. Augusta, extremosa a cada encontro, colegas no Externato, Celeste Marques, Cátia Simões, Pedro Silva, Tita, “Ti Emília Santana e Ti Carmita da quinta”, Helena Pires, mana de coração Fernanda Paz, Joel, menino-prodígio, e a todos que amam a Sarzedela. Cujos testemunhos foram contributo à triagem, filtro, e a limar dados enviesados. Ainda enaltecer as manas “Manguinhas”; amistosa, bondosa e sábia Augusta, Lurdes, Fátima, em aclamação à Isabel, o gesto altruísta em 1971, à laia da Rainha Santa, desafiou regras, assumiu o perigo, e destemida, facultou-me o seu rascunho, no exame de matemática do 2º ciclo, em Pombal, a validar a minha dispensa à oral. Ato de valor creditício, sem rival, a põe no meu coração, no altar do concelho!
Marco simbólico de cariz religioso da fé Cristã sobre pedestal redondo em degraus que nascem mais largos na base evoluindo em graciosidade menor para encaixe da Cruz em trevo.
O nº 9 dos Cadernos de Estudos Leirienses no Numeramento Geral do Reino, de 1527
A vintena ou concelho da Sarzedela
Instituída a norte, na casa de sobrado e janela de avental, sem quintal, adoçada ao que foi o curral do concelho. Em crer, a prisão e a forca, foram sitas a sul, em barracões, cujas ruinas persistem.
Após a sua extinção, a Sarzedela integrou em 1875, a Comarca de Ansião.
Em 1908, a sala ampla da Câmara e do Tribunal, foi dividida a tabique para morada dos avós maternos da minha querida amiga Celeste Marques, onde nasceu. Estimo o seu querido avô – José Freire Neno, do Escampado de Santa Marta, avoengo do estalajadeiro em 1736, no Bairro de Santo António, Manuel Freire Neno, do Escampado de S. Miguel, genealogia a desenlaçar por especialistas.
A Casa da Câmara da Vintena da Sarzedela
D — Noite de inverno, n — 2 e 2 para 3 de fevereiro.
E cinco datas totalmente incertas, isto é, sem dia, nem mez, nem amio designado.
Não se creia porém que está tudo dicto acerca das maldades da quadrilha.
A sentença depõe 1." de que alguns crimes foram descobertos ao acaso, isto é, por occasião de se investigar do outros que eram conhecidos
2.° e de que por esses mesmos de que ella se occupa, e porventura por outros mais não houve em tempo competente o menor procediínent o judicial .
Todas estas maldades se practicavam á vista das auctoridades publicas, cuja inércia somente pode explicar a existência e persistência do bando.
A sentença dá testemunho de que uma pistola havida pelo crime a tinha adquirido o escrivão da caudelaria, por compra, termo talvez empregado adrede para o salvar do crime de receptação e acoitador.
Quanto ás datas dos crimes, estas constam da sentença.
1799 — Dia incerto de janeiro. Amaral; a de Figuelrinhas no sitio da Cruz dos Mourouços, como centro da união desta infame quadrilha
1799 — 23, 23 para 24 (assim, intenda- se sempre pela noite) e 24 para 25 de abril.
1800 — 16 de fevereiro. » — 25 de outubro.
1801 — 1 de fevereiro. » — 11 p;ira 12 de abril. . — 27 e 29 de junho. » — 24 para 25 de agosto.
» — 6 para 7 de setembro, » » — 13 de novembro. » — 18 para 19 e 30 de dezembro. »
Dia incerto de dezembro,
1802 — 4, 14 para 15, 20 (dois crimes neste dia), 23 e 31 de janeiro.
D — Noite de inverno, n — 2 e 2 para 3 de fevereiro.
E cinco datas totalmente incertas,isto é, sem dia, nem mez, nem amio designado. Não se creia porém que está tudo dicto acerca das maldades da quadrilha.
" de Soares do sitio da Feira da Paz, concelho de Sarzadella, onde a mesma quadrilha practicou os
escandalosos insultos, que ficam recontados, diz a sentença, de certo no intuito do estupro violento,
practicado ahi pelo réo. Foram alem de condemnados em penas pecuniárias desde 20;5000 a 200;
000 réis para 08 despezas da Relação, já se sabe, e junctamente cora os cúmplices de menores penas
também nas custas do processo "
A genealogia dos Colaços razoavelmente estudada foi discussão com o meu amigo Henrique Dias, cujo Morgado na Sarzedela era desconhecido. A partir da Quinta da Mouta do Lobo, em Chão de Couce, resta parte do solar com escadaria e portal de bela cantaria, onde morou António Teixeira de Mendonça, natural da Sé de Coimbra, casado com Maria Evangelho de Penela, e nasceu Jerónimo Teixeira Evangelho, Capitão-mor nas Cinco Vilas. O seu filho Marcos Teixeira Evangelho, nascido e casado com Antónia, em Chão de Couce, viúvo, casou em 2ªas núpcias a 05.05.1692, em Ansião, com Mariana Curado da Paz, da Sarzedela. Coligi em 1715, que foi juiz e escrivão, na Confraria de NSda Paz, na Constantina, fazendo uso do apelido Gomes. O seu filho João Teixeira Evangelho Gomes Colaço, nascido na Sarzedela, casou em 6.11. 1729, com Madalena Machado Coimbra Sarmento, na capela da Quinta do Vale Damito, Penela. Entre vários filhos, em 1732, o vereador de barrete, José Marcos Teixeira Evangelho Gomes Colaço Sarmento. E, Marcos Teixeira Evangelista Gomes Colaço, nascido na Sarzedela, batizado a 15.09.1732, em Ansião, Bacharel na Faculdade de Cânones de Coimbra em 09.07.1752. Diz na matrícula que é filho de João Teixeira Evangelho Gomes Colaço, natural de Sarzedelo, Guimarães. Aclara sem presunção a origem do topónimo Sarzedela, fidelizado no feminino, por avoengo Colaço, aportado à região antes de 1176. Indicia que a morada do Morgado foi a casa de sobrado com Crucifixo azulejar na fachada, anexa a casario com janelas de avental, ao limiar do Lameirão. Recorda a “Ti Emília Santana” foi de alguém de apelido Teixeira, cujo interior tinha pertences ricos, acrescentou a filha Tita.
Os Colaços deram origem ao 1º Visconde de Condeixa João Moreira Colaço de Magalhães Vellasquez Sarmento nascido a 15.01.1806.
Localizei no Arquivo da Univ. de Coimbra o Registo Vincular nº 10
De João
Maria Colaço de Magalhães Velasques Sarmento (1806-1871),
Visconde de Condeixa, Comendador da Ordem de NS da Conceição, pediu registo dos
Vínculos dos Colaços num só, a 24.02.1863, na qualidade de herdeiro e sucessor
nos direitos de seu pai, João de
Magalhães Colaço Velasques Sarmento. O primeiro vínculo dos
Colaços, foi situado em Penela e Chão-de-Couce, instituído por testamento do
Dr. Manuel Colaço, Desembargador da Casa da Suplicação, e Comendador da Ordem
de Cristo, em 30.04. 1594, em Lisboa. O segundo vínculo foi instituído pelo Dr.
António Gomes Colaço de Magalhães Teixeira Sarmento, nos bens no limite da
cidade de Coimbra e de Cernache.
Indicia que o Morgado da Sarzedela fará parte do 1º vínculo.
Cortesia de Rui Portela nas redes sociais
(...) Foi-me contado pelos meus bisavós que as gentes da Sarzedela vieram ao Pinheiro com uma carroça puxada por bois, levar o Santo com a conveniência da Igreja. O que resta da capela está numa rua do Casal da Pedra. A capela foi notícia do juiz João Mendes de Vale de Boi, em 1721, o Pinheiro tem 9 vizinhos e uma ermida de Sam Joam, e em 1769; há huma capela de São João no Lugar do Pinheyroe no dia do Santo he o Parocho obrigado a ir em procição, e o povo e dizer nella Missa e o costume praticado hé darem lhe de esmolla duzentos reis. Esta não tem bens alguns, só o tenue rendimento de humas fogaças que os devotos offeressem ao Santo e deste piqueno rendimento e zello dos moradores daquelle lugar, a tem muito bem asiada tanto no corpo da capella como no Altar e retabollo que há poucos annos se lhe fes, de madeira pintada, e o Santo encarnado, e hé tão bem de madeira; tem caliz, patena, e colher, missal, vestimenta de osteda branca, alva, três toalhas tudo bom, frontal de madeira pintado e do seo rendimento, e despeza the ao prezente dá conta no Eccleziastico. Presume ter sido instituída pela descendente da Quinta das Alagoas, descrita na Brasonaria de Pombal, de 1991, do Dr. Pedro França; Bernarda da Conceição casou com Sebastião Mendes, dos Anacos. Família com quatro quebras de varonia afirmou o peso dos patronímicos em potência, na filha D. Ana Maria Noronha Menezes. Casou com António Rodrigues Pereira. Assumiu o cargo de capitão-mor em Ansião em 29.07.1773, por morte de João da Silveira Furtado.
Nas Memórias Paroquiais de 1721 na notícia do juiz de Vale de Boi João Mendes
(...) o Pinheiro que tem 9 vizinhos e tem uma ermida de Sam Joam que não tem rendimento algum senão a finta em que se fintão os mesmos vizinhos.
Em 1769 o Cura Diogo Mendes de Santiago da Guarda
(...) a capela de S João Baptista do Pinheiro, por ser muito pequena solicitaram licença para ampliar a Capela, onde ouviam misas e recebiam os sacramentos. O cura emitiu parecer favorável, louvando os moradores pelo seu zelo a 2 de maio de 1747. Depois de concluídas as obras e feita a vistoria, em 1748 a administração diocesana dispensou a capela da bênção e de licença nova para na capela se poder celebrar (...) 1769 há huma capela de São João do Lugar do Pinheyro e no dia do Santo he o Parocho obrigado a ir em procição, e o povo e dizer nella Missa e o costume praticado hé darem lhe de esmolla duzentos reis. Esta não tem bens alguns, só o tenue rendimento de humas fogaças que os devotos offeressem ao Santo e deste piqueno rendimento e zello dos moradores daquelle lugar, a tem muito bem asiada tanto no corpo da capella como no Altar e retabollo que há poucos annos se lhe fes, de madeira pintada, e o Santo encarnado, e hé tão bem de madeira; tem caliz, patena, e colher, missal, vestimenta de osteda branca, alva, três toalhas tudo bom, frontal de madeira pintado e do seo rendimento, e despeza the ao prezente dá conta no Eccleziastico.
O Dr. Manuel Dias no seu Blog https://viajandonotempo.blogs.sapo.pt/13441.html menciona a Ermida de Santa Ana, no lugar do Pinheiro, obviamente enganou-se!
Mais um testemunho a enriquecer a história do que foi o Património Religioso de Ansião, hoje desaparecido, que não foi menção no Livro temático de um dos autores acima referenciado.
Capela de S. João Batista na Sarzedela
(...) huma Capella, e nella, as Imagens de Santa Luzia, da Santíssima Trindade, de Sam Silvestre, de Sam Martinho, e de Sam Joam todas em vulto, bem incarnadas, a Capela hé muito baixa, forrada de guarda pó, tem seu retábulo bem pintado, e o que havia de cer dourado, he pratiado com sua cor que parece dourado, pedra de ara, quatro toalhas, trez mezas de corporais, seis sanguinhos, calis, patena e colher de prata, dois frontais, hum de damasco incarnado, e outro de osteda roixo, huma vestimenta, de osteda branca, com os bentinhos incarnados,dois castissais de bronze, e cruz de páo tudo em bom uzo, trez alvas.duas quazi novas e huma munto uzada, quatro amitos, trez novos e hu uzado, hum cordão munto uzado, sachrista, caixão, palio, alenternas, e sino, corre o seu reparo por conta do povo, tem lampada de latão, amarello, dois veos, hum novo, e outro uzado.
A situação da capela com a lei da separação da Igreja e do Estado no arquivo do Ministério das Finanças, enviado por Henrique Dias
Em 1911, o arrolo de bens: S. João; NS do Amparo e Espirito Santo – espólio menor ao descrito em 1769, com Imagem jamais elencada, retrata a falta de credibilidade dos arroladores de Ansião, já que se mostra gáudio inequívoco o cariz zelador deste povo, fiel guardador secular de Imagens sacras de capelas desaparecidas.
Coligi um excerto do arquivo do Ministério das Finanças, enviado por Henrique Dias sobre a lei da separação da Igreja e do Estado em 25.08.1911
Reclamação feita em Ansião 25 de agosto de 1911, dos abaixo assinados Benjamim Simões Pires, casado, proprietário, António Luiz, casado, proprietário, Manuel Rodrigues da Paz, casado, proprietário e António Mendes Júnior, casado, proprietário, todos moradores no Lugar da Sarzedela, freguesia do concelho de Ansião, vem perante vós reclamar contra o arrolamento do edifício e demais objetos de culto da capela denominada Capela a São João, situada no referido Lugar da Sarzedela, pela razão da já referida capela, ser exclusivamente de uso e administração dos suplicantes e não poder de forma alguma ser considerado edifício publico. Os suplicantes tem desde …..muito respeito o que também procedeu com os seus antepassados , sido os únicos possuidores da referida capela.Esperança confiados na justiça que lhes assiste que podeis vião competentes, seja dada ordem de forma lição ser conciliada, arrolada a benefício publico e restituída ao culto dos suplicantes seus legítimos possuidores da referida capela e mais objetos conforme consta do respetivo auto de arrolamento feito pela respetiva concentração.
Demanda justificada por a capela ter sido instituída por Maria Rodrigues, mulher que foi de António Pires da Sarzedela e hoje (1721, nas memórias paroquiais) são seus administradores: António Nunes e sua mulher Maria Rodrigues, Domingas Freire viúva e António Freire, viúvo, todos da Sarzedela, a qual foi instituída a 5 de maio de 1658 com 7 missas. Não há dúvida que se trata da capela a Santa Luzia que entesta no ribeiro da Sarzedela e a norte e poente, o caminho. Presume a mudança de orago a São João Evangelista, em apelo ao apelido – Evangelho, dominante no Morgado.
Em 1911, o seu arrolo de bens: S. João, NS do Amparo, e o Divino Espirito Santo – espólio menor ao descrito em 1769, com Imagem jamais elencada, retrata a falta de credibilidade dos arroladores de Ansião, já que se mostra gáudio inequívoco o cariz zelador deste povo, fiel guardador secular de Imagens sacras de capelas desaparecidas.
Os morgadios em Portugal foram extintos em 1863.
Capela de São João na Sarzedela
Imagem de São João Evangelista
Guardada na sacristia até ao dia que uma corrente de ar o tombou e teve de ser restaurado.
Mais tarde ainda foi encontrada parte da cabeça...
Encima o dourado e belo altar da capela, um Santinho escuro, quiçá fora o São João, orago no Casal da Pedra. O Sr. Silvério Costa, membro jubilado dos Bombeiros, entrou com o meu pai, pese meio século falecido, o relembra com saudade, ilustra a sua estirpe. Há muitos anos fez uma cascata sob um veio de água, junto do coreto desaparecido que encimou com Ele, debalde, a pequenez e escuridão lhe ofuscou estrelato, a fomento aquisição da graciosa Imagem São João.
Encima o dourado e belo altar um Santinho escuro, quiçá fora o São João, orago no Casal da Pedra
O Sr. Silvério Costa, membro jubilado dos Bombeiros
Entrou com o meu pai, pese meio século falecido, o relembra com saudade, ilustra a sua estirpe. Há muitos anos fez uma cascata sob um veio de água, junto do coreto, e a encimou com esse Santinho, cuja pequenez e escuridão, ofuscou estrelato, vindo a fomentar aquisição da graciosa Imagem São João.
Fecho em apelo ao altruísmo de mãos dadas com a Missão Autárquica, e demais órgãos da edilidade com raízes, sem delongas lançar ação filantropa, a ser atestada em lápide perpétua, ou aquisição justa; da courela que ladeia o adro a norte onde repor o coreto. A pujante arte musical privilegia a fundação da Casa da Música, na Casa da Câmara, e a ruína do solar? Casa dos Territórios de Pedra; pousada de artistas e atelier, em homenagem à arte lavrante do concelho em memória do saudoso escultor, Sr. Ezequiel Carvalho. O Salão Paroquial, já se mostra palco das Artes. Falta dotar de bom piso, lago e mais frescura, o parque de merendas do Lameirão. Saber valorizar o património histórico e cultural, sem o comprometer na memória futura, é atestar identidade à alta requalificação da capela, ganha na aposta de fundir o antigo no moderno, sem perder a graça nem a traça, jus o idílico passeio público que tanto engrandeceu a Sarzedela. Assaz convite de Bem-Vindos à sala de visitas a norte de Ansião, em franca união à vila, cujo auspício breve, seja o de eleição a Cidade!
Bem-haja a todos ao me receberem tão amistosamente, na sua
Sarzedela, onde me senti em casa!
Fontes
Livro de Notícias e Memórias Paroquiais Setecentistas de Mário Rui Simões Rodrigues e Saul António Gomes
https://archive.org/stream/mosteirodecelasi00bern/mosteirodecelasi00bern_djvu.txt
Excertohttps://archive.org/stream/memoriasdotempop01henr/memoriasdotempop01henr_djvu.txt
Arquivo da Universidade de Coimbra, Casa de Pereira
Vários testemunhos; Padre Manuel Ventura Pinho , etc