quinta-feira, 5 de maio de 2011

Massa sovada no meu aniversário de 54 primaveras

Massa sovada à Moda da Ilha da Terceira. Invenção minha esta de a abrir para levar a carne à mesa, como se usa com o bacalhau.

O meu marido surpreendeu-me com o primeiro beijo de parabéns. Meia noite e meia,meio sonâmbula..."balbuciava ainda faltam 12 horas para fazer anos, teimou e insistiu docemente, mas já é dia 5...
Insónias, não dormi muito bem.A ansiedade as tarefas programadas eram muitas.
Levantei-me passava pouco das 7.Tomei o pequeno almoço e em seguida fui tratar de fazer a massa sovada à moda da Terceira.Não dispenso o meu alguidar vidrado verde. Peneirei 1 kg de farinha, juntei 6 ovos inteiros, 250 gr de açúcar, 200 gr de manteiga açoriana e uma colher de sopa de canela, amassei bem, finalmente juntei o fermento feito de véspera; uma batata cozida com a pele reduzida a puré, juntei um ovo, 20 gr de levedura de padeiro e 125 gr de farinha.Bem amassada até ficar com a consistência de bola, empoei-a de farinha, benzi-a com a mão, fiz uma cruz para levedar bem como a minha avó me ensinou, não faltou a reza da ladainha, "São Vicente te acrescente, Santa Inês te dê boa vez. Em nome do pai, do filho e do Espírito Santo".
Antes de vir para aqui deixei-a pela segunda vez a levedar,de tarde faço a cozedura da massa sovada, que não é mais do que um pão doce.
Decidi ir descansando ao longo das tarefas. A melhor ideia foi sentar-me aqui, relatando o meu dia.
Intervalei a cozinha com outras tarefas de arrumação.Meio da manhã, horas de um bom duche,meio vestida ligou a minha filha para dar os parabéns, uma graça canta-los ao telefone tal como sempre o fiz a ela quando vivia cá em casa. Disse-me para ir passear, o dia estava lindo.Tinha em mente passar pelo banco e dar os parabéns à minha amiga de longa data, Isabel Picamilho, hoje tal como eu também é bebé. Mal dobrava a esquina do prédio, toca o telemóvel, era ela.Cumprimentamos-nos efusivamente, fomos até uma esplanada desenferrujar a língua, beber um garoto "à nossa saúde, comemoração de mais um ano, eu 54, ela 58"!
Despedimos-nos com promessas de um resto de dia muito feliz.
Horas de ir às cerejas.Saco na mão dei de caras com um mendigo norueguês, louro olho bem azul, homem que conheço há anos geralmente sentado à porta do mini preço, vestido de calções,ferida na perna a sarar,num ímpeto faz-me uma vénia tirando a cartola preta da cabeça ao mesmo tempo que emana um sorriso maroto irradiando luz azul mui doce no olhar. Adorei. Em tempos ao passar por mim deu-me um pernadinha de sardinheira que teria roubado de uma varanda.
De volta a casa, mudei de farda, espreitei o email,choviam parabéns do meu mui amigo Dr Manel Dias, no facebook da Ana Mestre e da Susana de Paris, toca o telefone fixo, a vez da minha mãe a chamar-me pequenina, "eras tão pequenina quando nasceste..."nisto toca o telemóvel a minha amiga Leonor Ceia a perguntar se tinha mudado a fralda...
Horas de retomar à cozinha, fazer o Pão de Ló. Depois de frio faço uma cobertura com merengue suíço regado com caramelo e decorado com granjeias minúsculas a imitar a barriga de freira da minha Coimbra.
No tabuleiro armei o pão de massa sovada em oval tal como na receita da Terceira,mais um nadita de repouso, já vão três as vezes de levedura, é obra, o alguidar estava lindo com a massa a querer sair pelo rebordo...
Sorri com a surpresa da equipa do Cellulem Block de Almada em se lembrar de me endereçar parabéns.
Etapa de pôr o pão no forno. Num repente ficou enorme, muito bonito.De seguida bati as claras que me tinham sobrado do arroz doce do Dia da Mãe e com açúcar fiz o merengue,nem usei a seringa de pasteleiro, foi mesmo com a colher.
Para uma das entradas cozi mexilhões 8 mn, dispus-os na assadeira de barro cobertos com uma mistura de gengibre, piri piri, ralei alho e queijo, juntei pão ralado à falta de miolo de broa e pus umas nozinhas de manteiga. Esta com a mistura do pão ralado é que faz a capa crocante.Servi esta entrada num prato lindissimo da SP de Coimbra. Outra entrada não me estava a correr de feição, com a forma dos canapés quis fazer cilindros de queijo do Rabaçal, escolhi mal a cura do queijo, devia ter comprado um de pasta mais mole.Exagero, ficaram cilindros sim, ao centro bacon tostado no forno, sobra do que meti no tacho. Servi num prato de acepipes da Vista Alegre. Noutro da mesma fábrica servi canapés em tosta integral para segurar o palito enfiei uma bolinha de melão encimada com presunto alternei com bola de mamão e mortadela de peru com azeitonas verdes.Esta entrada foi excelente, fresca para colmatar o picante do mexilhão crocante.
O meu amigo João de Hamburgo também não se esqueceu de me enviar uma mensagem privada pelo facebook.
Tacho barrado com banha e louro, à volta colei tiras de bacon, despejei a vinha d'alhos , tapei com folha de alumínio.Expectante, a minha aventura num prato não típico no continente, a minha primeira vez. Alcatra no forno, começava a lenta assadura da carne regada só com vinho rosé, cebola roxa, alho e uma mistura de condimentos, pimenta, paprika, cominhos, noz moscada, piri piri africano, tudo isto à falta de pimenta da Jamaica.
Tempo de acabar a arrumação da casa,outra vez o telefone, a Lurdes Matos, há um ano que não falávamos, pusemos a conversa em dia, mal retomei o trabalho toca novamente o outro, a minha irmã com as mariquice dela..."tens de começar a alterar hábitos alimentares.. e resto de um bom e agradável dia, não te mando a prenda, depois dou..." Esquece-se quase sempre...maldade!
Parabéns do meu amigo Dr. Luís Montalvão do blog Velharias. Também de amigos virtuais blogistas; Dra Maria Andrade, Dra Maria Paula e uma Maria amiga da Marília que me mandou uma longa mensagem de véspera,também um anónimo habitué nos comentários do blog do Luís o IF .
Surpresa,a Leilões Net e a senhora da limpeza do prédio, a D. Julieta estava eu de telefone na mão quando esta me bateu à porta, desejando-me parabéns.
Chegou a hora de engalanar a mesa para o jantar.
O apetite avassalou-me, tirei uma pontita de carne...picante e muito macia.
Hora de tomar conta de mim, outro duche, do guarda fato tirei um vestido.
Deixei por último o papelote de frutas, bolinhas de melão e de mamão, uvas, cerejas e ananás com um nadita de mel e uma folhas de hortelã para dar um sabor fresco,no forno coisa de 10 minutos para servir com bolas de gelado de chocolate.Contraste de morno com frio...
Ainda receberia mais surpresas.Desta vez uma mensagem no telemóvel do meu bom amigo e conterrâneo a viver em Ermesinde Dr Manel Dias, de manhã enviou um email, e ainda haveria de enviar outro com a minha prenda de aniversário, a correcção da primeira parte do livro de memórias que um dia destes será publicado.Atrevo-me a dizer...Manel você é um homem soberbo,ter frequentado o Seminário talvez o tenha toldado num jeito requintado que não passa despercebido a nenhuma mulher de bom gosto!
O dia todo foi fantástico.À noitinha ainda uma mensagem de parabéns no telemóvel do meu marido da minha amiga Dra Alcina Leitão.
Adorei ter todo este trabalho, tudo feito com muito carinho e com a ajuda daqueles que se lembraram de mim e foram muitos ao longo do dia.
Dois ou três por razões que conheço bem, nem lhes passou pela cabeça.O importante é que sabemos que estamos sempre no coração uns dos outros e isso é o mais importante.
Mágoas?
Apenas uma...
Alguém de quem fui muito amiga, optou por não falar comigo neste dia tão especial.
Adiante com a procissão. Cantam 54 anos!
Tal maturidade engrandece-me, faz-me sentir ser Mayor!
Ainda parabéns de um amigo no facebook o Jonas Alexandre.
Bem hajam a todos sem excepção amigos de coração.
Acreditem,nesta idade senti ao longo do dia um misto de orgasmos:aventura, sem medos de falhas,mistério,invenção, grumet, até intelectual!
Só possível com a panóplia de amigos que tenho e da família que adoro.
Uma achega, a carne acho que se chama alcatra porque fica muitíssimo tenra.Comparei-a com a nossa chanfana. Melhor porque não tem ossos nem gorduras, servia-a dentro do pão de massa sovada, não é mais do que um bolo festivo muito tradicional nas festas e que varia com a adição de erva doce,também de nome e consistência.A manteiga deu-lhe macieza, a canela um aroma agradável.Talvez estranho acompanhar a carne com este pão adocicado. Eu francamente gostei.
O meu marido vaidoso repetia incessantemente..."a carne está maravilhosa"
Uma nota em jeito de remate.
Gosto de programar, no caso escolhi a ementa aproveitando o tempo do forno que foi de 3 horas e nele fiz quase tudo.
A todos sem excepção o meu bem haja por fazerem parte da minha vida!

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