Por influência e aliciamento do primo da minha mãe António do Vale da Mouta Redonda que ao tempo trabalhava na construção civil em Cascais, o mediador que lhe facultou informação do Colégio Religioso, as Salesianas no Monte Estoril, no mesmo propósito a outros pais das redondezas para as filhas o frequentarem, na suposta certeza destas angariações reduzir, ou até não pagar, a mensalidade da sua filha Fernanda Lucas (?). A mensalidade ao tempo era calculada em função dos salários do agregado familiar e, como os meus pais eram os dois funcionários públicos a minha mensalidade era a mais alta, 2 contos.
Moçinha, euzinha, por detrás do noivo de cabelos compridos, com 14 anos, acabados de fazer, no casamento dos meus amigos Fernanda Dâmaso e Gilberto Carvalho.
O colégio era situado na Rua Trouville nº4, ainda recordo o palacete imponente no alto do Monte Estoril sobranceiro e altaneiro ao mar em estilo arquitectónico que me agradou, requintado e por isso adstrito ao cómodo das Irmãs e ao gabinete da diretora. No r/c funcionavam os refeitórios, copa e Capela . Adoçado ao edifício principal havia o ginásio e por cima os dormitórios, os dois corpos interligavam-se por uma galeria a outro alto onde funcionava a cozinha e a biblioteca e nos andares de cima as salas de aula, tudo envolto por jardins, recreios, lavandaria e estufa.
O colégio vivia o espírito http://www.salesianas-rosario.net/historia.html "Tendo em conta a herança da ação educativa de Dom Bosco e Santa Maria Mazzarello, as Filhas de Maria Auxiliadora (FMA) assumiram a educação das jovens na continuidade deste projeto. Por volta do ano de 1958, teve início a sede do Colégio que nasceu no Monte Estoril, num palacete, com a designação de Colégio Aspirantado Missionário das FMA. As destinatárias eram apenas jovens que se preparavam para a vida religiosa. Em 1960 /61 abriu-se a outras jovens da zona, em regime externo, e a jovens vindas do interior com regime interno, e assim, o Colégio perdeu o seu cariz inicial e alargou a sua ação educativa à formação de qualquer jovem, independentemente da sua opção de vida. Nos anos 1973 /75, o número de alunas internas diminui e as externas aumentam consideravelmente". O meu pai também não queria correr riscos, tinha sido avisado do meu namorico com o Arménio, denúncia perpetuada pela Dra. Ilda, e acredito também pelo padre Filipe que o afirmou na aula da turma "ter ouvido na rádio um pedido do Arménio dedicado a mim nos discos pedidos" efetuado por escrito ao tempo em 71 revela ter sido rapaz determinado e obstinado no seu querer na canção...
O colégio vivia o espírito http://www.salesianas-rosario.net/historia.html "Tendo em conta a herança da ação educativa de Dom Bosco e Santa Maria Mazzarello, as Filhas de Maria Auxiliadora (FMA) assumiram a educação das jovens na continuidade deste projeto. Por volta do ano de 1958, teve início a sede do Colégio que nasceu no Monte Estoril, num palacete, com a designação de Colégio Aspirantado Missionário das FMA. As destinatárias eram apenas jovens que se preparavam para a vida religiosa. Em 1960 /61 abriu-se a outras jovens da zona, em regime externo, e a jovens vindas do interior com regime interno, e assim, o Colégio perdeu o seu cariz inicial e alargou a sua ação educativa à formação de qualquer jovem, independentemente da sua opção de vida. Nos anos 1973 /75, o número de alunas internas diminui e as externas aumentam consideravelmente". O meu pai também não queria correr riscos, tinha sido avisado do meu namorico com o Arménio, denúncia perpetuada pela Dra. Ilda, e acredito também pelo padre Filipe que o afirmou na aula da turma "ter ouvido na rádio um pedido do Arménio dedicado a mim nos discos pedidos" efetuado por escrito ao tempo em 71 revela ter sido rapaz determinado e obstinado no seu querer na canção...
A Namorada Que Sonhei ..
Receba as flores que lhe dou
Em cada flor um beijo meu
São flores lindas que lhe dou
Rosas vermelhas com amor
Amor que por você nasceu
Que seja assim por toda vida
E a Deus mais nada pedirei
Querida, mil vezes querida
Deusa na terra nascida
A Namorada que sonhei...
No dia consagrado aos namorados
Sairemos abraçados por aí a passear
Um dia, no futuro, então casados
Mas eternos namorados
Flores lindas eu ainda vou lhe dar...
Que seja assim por toda vida
E a Deus mais nada pedirei
Querida, mil vezes querida
Deusa na terra nascida
A Namorada que sonhei...
Sem pestanejar decidiu que o melhor para mim seria sair do colégio de Ansião, no relembrar culpas do seu passado no namoro com a minha mãe que ao engravidar de mim o seu curso de engenharia não passou da matricula... Difícil foi ter de aceitar tal decisão, não tinha como fazer teimosia, resignada entrei no Colégio em outubro de 71, para frequentar o 3º ano. De táxi do Manuel da Junqueira com a minha mãe...
A vida de estudante
é uma vida desgraçada
Quando se ama não se estuda
Quando se estuda, não se ama nada!
Nos degraus da calçada a ladear o jardim da entrada ao sair do carro, o tacão do sapato caiu e logo a freira me repreendeu com o recado "o tacão que a menina usa não é adequado à sua idade"... Na sala comprida por cima do dormitório abriam-se malas do enxoval ...distingui ao fundo penduradas umas fardas cinzentas, feias com feitio que me fizeram lembrar os sobretudos usados na 2º guerra, seriam da mocidade portuguesa? A Irmã de joelhos conferia a minha roupa para me atazanar a cabeça por não estar toda marcada com o meu número"53", nem de propósito mal estreei o casaquinho de lã para dormir quando foi para a lavandaria desapareceu, o procurei pelos cacifos de todas as colegas, passei palavra, só mais tarde o reencontrei na roupa lavada para arrumar, por ser delicado, gracioso e não marcado, em azul bebé cor do céu, alguém imaginou que só poderia ser da Madre Superiora...Altiva a freira ainda me questiona se a minha mãe me tinha ensinado para que servia a dúzia de toalhetes brancos... Detestei a freira, fria, austera, bruta, feia de aspeto cadavérico!
O refeitório de mesas corridas para dez alunas, a minha mesa só com meninas do concelho de Ansião; Fernanda da Mouta Redonda, Fernanda e Luísa de Lisboinha, Gina do Pobral, Emília e Rosária da Portela, as filhas do Quintaneiro de Pousaflores a Joaquina e a irmã. Azar o meu logo na primeira manhã ao pequeno almoço no meio da mesa havia um pires com dez quadradinhos de manteiga.Expedita ao barrar o meu pão com dois quadrados, só tinha direito a um ali enxovalhada pela Irmã que de nós tomava conta, mal habituada estava em minha casa a comer manteiga Primor que me apetecesse... Ao jantar fui indiciada na tarefa de ajudar na copa a limpar os pratos espanhóis de pirex verde com panos em estoupa grossos, grandes e ásperos...Nervoso era o meu estar, não sei como aconteceu, deixei que um prato escorregasse da mão para se estatelar no chão em mil pedacinhos, muita agonia para primeiro dia...Detestava a comida. Ementas a que não estava habituada e do cheiro forte, as alunas mais antigas diziam que lhe punham cânfora para atrofiar o desejo carnal que desperta hormonas na adolescência... Dúvidas, perguntas, porquês e saberes na descoberta proibida da vida... Nunca tinha comido chicharo frito, nem macarrão com fatias de queijo de odor forte igual ao que a Caritas distribuía na Sacristia aos pobres em Ansião; cavalas de conserva; guisado de feijão vermelho ,o que eu mais gostava . Rápida em idealizei uma estratégia para fugir ao trago de comida esquisita, se melhor o pensei melhor o fiz. Ao endireito do lugar à mesa cada aluna tinha uma gaveta onde se guardava a chávena do pequeno-almoço. Arranjei um saco de plástico onde despejava a comida sem que a Irmã de vigia do refeitório desse conta, difícil foi manter o silêncio das colegas da mesa, atrevidas, sobretudo a minha prima Fernanda Lucas, de cariz autoritária, hoje Irmã na Instituição, tal como a Fernanda de Lisboinha , as vezes que tive de me insurgir e de lhes arregalar os olhos...No final da refeição trazia o saco debaixo da bata, entalado na saia para o despejar na sarjeta do jardim junto do muro da estufa das flores, jamais fui descoberta...Havia outras colegas muito magras de aspeto anorécticas sempre a vomitar... Ficava com fome, mas cedo descobri como fugir do dormitório de noite e descobrir a despensa de paredes meias com a copa onde me refastelava a comer o que havia na torre do campanário a ouvir o mar...A correspondência era filtrada...Nem me quero lembrar do que senti quando dei com a primeira carta escrita aos meus pais rasgada no caixote do lixo...Imediatamente comecei a escrever a dizer que estava tudo bem, cuidados havia, tinha de a deixar aberta em cima da secretária da Irmã diretora, enquanto isso escrevia outra carta com desabafos e tristezas que escondia no bolso e na hora do recreio fazia saltar a bola do andebol para fora do muro, uma vez aberto o portão dobrava a alfarrobeira frondosa e chutava a bola para na descida da rua ter tempo de ir ao marco de Correio, corria que nem uma gala a caminho do Estoril para deixar as minhas cartas…E as fugas ao sábado de tarde até ao Estoril… Os meus pais mandavam-me dinheiro, não fui expulsa do Colégio mas fiz por isso. Jamais me desvirtuavam medos de vagabundos de mau aspecto que via das janelas a vaguear naquelas ruas desertas, ensombradas pelas copas das pinheiras com palacetes abandonados, outros fechados por gradeamentos que gostava observar nas caminhadas a Alcabideche para ir buscar os ovos às irmãs Carmelitas e ao Estoril à missa, ao cinema e à praia, e nas vezes que fugia sozinha a desfrutar da minha liberdade!
Fugia aos sábados de tarde. Rastejava no relvado da frontaria do jardins até ao portão para não ser vista. Aquilo sim foram bons tempos, sozinha, a passear pelo Estoril, dava-me prazer ser irreverente e livre, porque tinha dinheiro no bolso.Os primeiros iogurtes que comi, o nome não era familiar, levava o caminho a soletrar abutre, o mais parecido para não me esquecer...Ficavam as colegas na sala da costura a fazer croché ; sacos de ráfia e de corda de nylon, a engomar, costurar roupa que as Irmãs talhavam na grande mesa no desfile a desenrolar peças de tecido oferecidas por senhoras beneméritas que as Missionárias levarem para as Missões pelo mundo das províncias ultramarinas…As vezes que fui não passei da aprendizagem do cordão em crochet, mal acabava um novelo, começava outro e mais outro, fiz quilómetros de cordão... Instinto de ciúmes, a Gina do Pobral irritava-me, tinha andado comigo no Externato em Ansião. Afrontava-me que tinha também paixão pelo Arménio... Um dia apanhou-me em flagrante numa dessas fugas, não perdeu a oportunidade de me avisar da sua intenção em me denunciar. Perante tal insistência vali-me dum estratagema. Sugeri na próxima fuga trazer da drogaria um perfume . Deu-me o frasquinho com o reparo "vê lá que aroma vais escolher". Instinto de ciúme sem o saber, mas era, fui má, passei-me e trouxe amoníaco, porque um dia o vi dar a cheirar a um homem atropelado ao Ribeiro da Vide ... No dormitório deserto de meninas, às escondidas dei-lhe o frasquinho a cheirar, num instante a vi cair redonda no chão...Peguei-lhe pelos colarinhos, apesar da obesidade, em voz forte pronunciei aviso para não me voltar a subestimar, que resultou!
Férias e passeios quando estava no colégio… No Natal a primeira vez em casa depois de ingressar no Colégio Religioso o meu pai mostrava-se orgulhoso da sua filha mais velha vir com boas maneiras adquiridas. Uma noite ao jantar o vi levantar-se da mesa radiante e orgulhoso em me ver a comer delicadamente de garfo e faca, dizia "apreciem a delicadeza como a Bela se desembaraça no uso dos talheres, aprendam, sem mãos na comida, até com eles descasca a fruta..." Modos e requintes que a ele lhe deu senti, sobeja alegria. A mim foi sol de pouca dura, esforço-me, bem gosto de comer a sardinha, frango e até leitão com a mão, e a fruta de a trincar com a casca... Por estar em onda favorável atazanei-o para pedir ao Dr. Travassos um atestado médico para levar para o Colégio. Expliquei as minhas razões, detestava estar fechada depois das aulas na mesma sala a fazer os deveres, sem poder sair. Tomava conta de nós uma Irmã à qual o amor não sorriu de aspeto baixo, braquela de carnes, cariz triste e apagado com pausa diária a leitura de capítulos do romance " Os lírios do campo de Erico Veríssimo". Sorte a minha por o meu lugar na sala ser ao endireito da janela, através dela via o mundo...as vezes que olhei a vivenda amarela que conhecia ao mínimo detalhe, como os jardins e a rua deserta do Monte Estoril para só acordar ao som do carro a chegar ou a sair com os filhos… Inventei um estratagema. Idealizar que sofria da barriga, tinha de ir à casinha de banho vastas vezes " assim o atestava com êxito o dito atestado". Bem dito e bem feito, deu resultado. Mas e o que fazia eu? Nada. Sentava-me no degrau de madeira ao cimo da escadaria a olhar para o vitral magnífico, imponente que dava claridade e brilhos em tons vermelhos e amarelos. Derretia-me a mirar o seu deslumbre de beleza, fazia sentir-me livre, sem noção do tempo...A verdade é que tinha dificuldades em me concentrar na sala de estudo.A minha mente vagueava em sonhos...Depressa arranjei estratagema para estudar para os pontos. Comprei uma lanterna de pilhas nas minhas fugas e usava no dormitório no beliche que era o de baixo, com o cobertor cinzento a tapar-me, e assim estudava ...Bem, pior era o despertar com "palmas" às 6,30...e a fila para as casas de banho...Uns dias depois armei-me de esperteza e antes de me deitar deixava a minha trouxa no chão a marcar lugar...Assisti a missas para o resto da minha vida!
Não contente com um pedido ao meu pai que o satisfez com sucesso logo quis outro. Tinha belos cabelos compridos. Só se tomava banho uma vez por semana, à quarta feira e só haviam 2 secadores de cabelo. Claro que eu era a última...Cansada desta desigualdade, convenci -o a deixar-me cortar os cabelos que tanto brio lhe davam ao recordar os da sua querida mãe que toda a vida penteou, igualmente pretos, reluzentes asa de corvo de ascendência fenícia...Golpe duro, mas aceitou as minhas amarguras, só me disse "podes ir corta-lo, mas antes pede à cabeleireira para te fazer uma trança para se guardar de recordação" . Pior foi a sarna que lá apanhei...por falta de higiene de muitas que me infestaram!
Também frequentei esse colégio nos anos 70. Conheci algumas das colegas que refere: Nazaré, Goreti, Ana Rosa Tapadinhas, mas não eram da minha turma.
ResponderExcluirDa minha turma lembro Lurdes Eiró, Ana Paula janeiro, Francisca Galego, Luísa Monteiro, Fátima Borrego, Rosa Agostinho, Anabela(sobrinha do motorista das freiras) Dorinda Marques ...
De facto a diretora não tinha um ar nada amigável.
Lembro as irmãs Piedade, Geralda, Teresa, Salomé, Júlia (do material escolar), Rita (prof. música e do coro da igreja) etc.