Difícil atestar as primeiras que conheci. O que sei foram em Figueiró dos Vinhos na companhia da minha mãe no papel de substituição de uma colega nos correios, andei horas a percorrer a vila sozinha...
Fosse no Jardim Bissaya Barreto da delicia deliciada, encantada a contemplá-las do cimo da escadaria, arbustos altos, podados em formato oval, como se fossem ovos, distribuídos pelos canteiros, floridas de várias cores, de beleza desmedida -, na miragem avistei grande tela, pelos contrastes das sombras dos contrafortes serranos, o mesmo fascínio que o Mestre Malhoa avistou no prenúncio de paz e calmaria verdejante, no meio de tanta flor, e chalets românticos, com isso nem hesitou em a rebatizar -, chamando-lhe a Sintra do norte...
Ou seria na viagem após a aldeia Ana de Avis pouco antes de chegar a Figueiró dos Vinhos do lado esquerdo na Quinta do Ribeiro Travesso também conhecida pela Quinta dos Paivas -, um pequeno solar com uma bela varanda envidraçada a sul , com vistas para o jardim e lago, da estrada vislumbram-se graciosas cameleiras de todas as cores, altaneiras, em fila, no cimo do desmesurado muro, a sobressair nas alturas pela sombra das copas das palmeiras, no lado oposto a Capela, também com frontaria para a estrada.
- Mais tarde distingui outras cameleiras enormes em jeito de árvore em Castanheira de Pera, Cernache do Bonjardim, e na aldeia de Ceras, a caminho de Tomar. Eram escassas ao tempo, já hoje todos os jardins tem amiúde, cameleiras.
Já comprei várias, brancas, raiadas em cor de rosa e vermelho, mas por falta de atenção, de água, e má aposta no solo que a planta é exigente, acabaram por morrer...
- Dizem os antigos que as plantas e as árvores querem o dono por perto.
- Enchi-me de as gozar de tanto as mirar nesta semana que por lá estive. Penalizo-me por não ter parado junto da Quinta dos Paivas, mas já ia em cima do horário para Campelo com a minha mãe que se amofina comigo por estar sempre a parar e tirar fotos...Olhei-as da estrada a conduzir, como as admirei altivas, afinal sempre as conheci assim de longe, mas belas!
Na vinda de podar o parreiral na casa rural, parei em Lisboinha de Além a 13 km de Figueiró dos Vinhos para registar as fotos de uma cameleira plantada na borda de um muro alto, debruçada a poente em manto, se mostra a quem nela quiser derreter olhares de beleza irresistível -, me perdi de amores e sem pudor, muito menos medo, roubei umas pernadas .
O ramo furtado...Fiz dois arranjos na casa da minha mãe, e na minha enchi o pote de cerâmica antigo, que me foi oferecido pelo meu amigo Arnaldo, que naquela hora virou jarrão no chão do salão.![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg7uIFbd8kTXEMzeBwSD5JiwP95N-dN73e-7DDrN7W9erfk447zjLsxkQpGKitqE-jnVB3TAY-dnNBegba_469LZHIIzD8frMCaHcXCuq_sE7f3Mg-Mg-PUP5ypvzSwfu95Ghw7_ElDC34/s1600/1798558_726609814045909_168315748_n.jpg)
Em baixo as que trouxe oferta da minha comadre Odete, com elas enfeitei a mesa da sala e ainda a entrada.
Na minha adolescência
haveria de ver camélias pintadas na sala do casulo, o chalet do Mestre Malhoa, na cimalha de madeira, ornadas a brancos e rosas, como a Vista Alegre na altura também as pintava -, chávena em porcelana comprada no sábado por me fazer lembrar as que guardo na memória...
O Mestre Malhoa viveu em Figueiró dos Vinhos durante 50 anos, onde tinha um atelier, aqui pintou muitas tradições, e modos de vida, destas gentes rurais em magníficos quadros de inegável valor.
- O deslumbramento de tanta beleza irradiada das camélias do jardim na frontaria do casulo onde morava deu-lhe mote para as pintar na cimalha de madeira da sala. No casulo ainda permanecem até hoje, porque ninguém as conseguiu furtar após a sua morte, não deixou descendência...O mesmo com o lambrim de madeira alto também obra do pintor, que se mostrou bom escultor.
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