terça-feira, 14 de outubro de 2014

Memórias de ontem e de hoje da Figueira da Foz

Rasgo de memória acutilante a lembrança da minha primeira vez que saboreei sapateira em Buarcos, acontecia todos os anos pelas férias -, claro que só cheirava o petisco que os homens degustavam sôfregos, não gostava do aspeto "em papas"sendo que ficava feliz com a carcaça que trazia para casa para ser reaproveitada em saboneteira no tanque de lavar a roupa estacionado no patim. 
Nesse tempo de criança os meus pais alugavam casa em Buarcos, chegámos a ir com a D.Lucinda e o marido o Sr. Virgílio Valente do Fundo da Rua no seu táxi -, quando começamos a ser muitos, passamos a ficar em casas diferentes. Partida de Ansião com paragem obrigatória antes da Gala, às salinas, na altura sendo a única  estrada que passava ao Paião logo se avistava o barracão em madeira a cair de velho que fazia de taberna, um bom sítio para aconchegar o estômago de todos que vinham no carro encolhidos...
Houve um ano que a minha irmã tirou na praia uma foto em cima do cavalinho com cabelo à garçonne -,lembro de dizer não ao pedido da minha mãe-, sem saber o porquê, uma menina tola, isso sim!
Guardo uma foto com 4 anitos numa estrada junto a uma casa alta nas imediações da Figueira da Foz.
Volto à Figueira da Foz, a Buarcos, a cada ano. 
Adoro avistar o Mondego a caminho da foz espraiado em aluvião com meandros e salinas ativas , outras desativadas, limitadas por muros  e muretes a servir de carreiros e ainda ilhotas -, a vista desta paisagem de águas em maresia ou abundância, se mostram salpicadas por palheiros na função da recolha do sal de madeira pintada de preto, seja do Paião ou da ponte na Gala -, locais onde é avassalador contemplar este belo cenário. Sinto que me falta um cúmplice, seja no parar quando quero, o mesmo a fotografar o que for , e ainda em fazer o que me apetece, sendo quase sempre inusitado, coisa imprevisível, de real gana este frenesim de admirar o belo!
A fazer fé no pensamento " Vá tão longe quanto possa ver. Quando chegar poderá ver ainda mais longe" isto para dizer que não gosto de ficar pelo que é seguro, gosto de ir para além do medo, de caminhar através do desconhecido até ao sucesso(?) que me perturbe e pasme que se revele de forma vária, por mim conotado de orgasmo inteletual!
Sendo que " a perfeição é alcançada a passos lentos, sendo necessária a mão do tempo, segundo Voltaire". Por isso não deixo de lutar por aquilo que quero -, teimo no saber dar tempo ao tempo, porque bem me lembro dos dissabores que já tive com as minhas pressas!
Neste 5 de outubro que já foi feriado nacional, na Figueira da Foz a azeitona já pinta bem negra, apesar de quase deserta de gentes de dia e totalmente à noite. Um marasmo de cidade que mete aflição e me deixou a pensar! 
Ficamos três dias na casa da minha mãe. No domingo depois do jantar fui caminhar, não descortinei vivalma nas ruas a caminho do Casino e do Picadeiro, apenas um casal na esplanada, na noite fresca. Já de polícia nem "viste-la!"
Perco-me sempre com a arquitetura e painéis de azulejos Arte Nova, de uma grande maioria de edifícios.

Contraste neste agora e nos anos 50
Segunda feira mostrou-se nublado o céu.
Em Buarcos teimei fotografar o pôr do sol, a praia extensa vazia de gente e de gaivotas, o mar em ondinhas em calmaria, mote de semblante ameno para namorar! 
Deparei com barcos pintados numa fachada junto do Mercado
Outra bela pintura numa lateral de um prédio
A mulher mais famosa do Mercado da Figueira-, Rosa, de seu nome na fachada do seu restaurante junto do farol de Santa Catarina

A pensar em velharias teimei fazer a feira neste mês. Muitos colegas foram para o pavilhão nas Caldas da Rainha. Reencontrei amigos, abanquei junto do Sr Alfredo.
Euzinha no meu estaminé a pensar em nada!
Algumas das minhas compras, estas duas peças em mau estado, apenas para as estudar. Aparentemente esta travessa parece Coimbra e será norte e o prato com o peixe que parece norte será da região de Aveiro.
Só em livros gastei 80€...Fábrica de Massarelos, Loiça Ratinho de Coimbra e Fábrica de vidro de Coina. Ainda comprei um prato em faiança "falante" de Coimbra à Dulce e outro Real fábrica de Sacavém ao Sr Alfredo com fetos pintado a castanho.
Lamento a minha falta de astúcia ao não comprar ao Sr. Alfredo um grande prato de Massarelos (?) por ter a mania de só gostar de faiança -, com decoração a flor de morangueiro em tom manganês, gateado ( mal abri o livro recém comprado da Fábrica de Massarelos logo dei de caras com um prato igual, e fiquei triste, que nem só!
Quem levou o famoso prato por bom preço e ao  paliteiro limão da VA marca verde, foi um casal de homens -, um deles muito simpático, já o que fez as compras, não me ligou patavin, quando passou pela minha banca na conversa sobre a temática do cantão popular e casario com paisagem de araucárias ou pinheiros brasileiros, como existem no jardim do recinto da feira que delas falámos por terem inspirado os pintores.
Boas eram as peças de recheio vindo de uma casa de Viseu, com boa loiça de Alcântara, Real Fábrica, loiça preto de Molelos bem antiga de púcaros com tampas de vários feitios e púcara larga com testo, caixas de escovas de dentes, garrafões enormes de vidro, lavatório e,... 
Em rota de despedida parei o olhar em dois belos leões a encimar ombreiras de um portão que me alegraram!
Despedi-me na Praça 8 de maio na dúvida do que é ser  normal ou urgente!

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