A minha tia
Maria fazia a sementeira de milho no quintal , fazenda do Carvalhal e
nas Cavadas onde fui várias vezes fazendo companhia à minha prima Júlia,
moçoila mais velha 10 anos, teimou ficar solteira, apesar dos fortes atributos,
alta, desempenada, de boas carnes, robusta e bonita ainda enfeitada de um
peito de altar em deixar cair dentaduras dançantes...
Na foto em frente do antigo hospital de Ansião no Bairro de Santo António, no dia do casamento da prima Tina, irmã da Júlia -, sou a criança de chapéu, e ela a última do lado esquerdo, vestida de avental porque serviu as mesas na boda.A Júlia tem de nome sonante a mesma força para o trabalho, mulher destemida, teimava abarrotar os taipais da carroça de estrume curtido da estrumeira, de forquilha em fúria nas mãos as garfadas emprensadas transbordavam os fueiros, para logo seguir viagem estrada fora nos quatro quilómetros aviados de caminho, agora de mãos presas nas rédeas da burra, indo eu do outro lado da carroça, ao passo da Gerica até às Cavadas com o cheiro forte que toldava a conversa…Um gosto andar sempre na sua companhia para onde quer que fosse, amiga de contar e mostrar o que conhecia, um dia levou-me ao Casal das Peras antes do Carril para ver o “pezinho de Nossa Senhora” esculpido num penedo de calcário, na altura acreditei pela perfeição, mais tarde percebi que pode muito bem ter sido uma obra escultórica dos antepassados do Neolítico (?) quando andaram nestas serras de Ansião, tal como as gravuras de Foz Côa, Portas de Ródão e,...Na altura da apanha do milho a carroça vinha apinhada de espigas sendo descarregue no rebordo da eira.
Pela
tardinha dava-se início à descamisada, onde mulheres, rapazes, homens
e cachopos, sentados em cima das espigas, as iam descamisando do monte enchendo
cestas que se despejavam na eira.
Quando
alguém encontrava uma espiga de milho rei -, a espiga da cor carmesim ou ruby,
deveria acontecer beijo na eira -, só que os rapazes no tempo eram muito
envergonhados, não me lembro se alguma vez me beijaram - julgo que não, nem se
atreviam ou sabiam dar um simples beijo na face (?)...porque os afetos não se
valorizavam, havia que defender a honra, o não ficar mal falada... e foi pena a
vivência de tais preconceitos…qualquer rapariga teria gostado de sentir tamanha
emoção.
Grandes
os montes de camisas das espigas, que me pareciam o rabo estufado dos patos ou
das pombas que se juntavam em redor das gentes e das barbas de milho
que largavam pólen, no pior para quem sofria de alergias.
Espigas
cor d’oiro, carmesim ou ruby na eira a secar, depois de secas era descarolado
numa máquina manual, de um lado saíam os carolos e os grãos de milho por
outro.
Seguia-se
o ritual do limpador e de novo os grãos dourados e vermelhos voltavam à eira,
para finalmente ser guardado nas arcas, que de lá saia para o taleigo que o
moleiro havia de levar e transformar em farinha para a broa.O milho também era
guardador dos queijos do Rabaçal para se aguentarem no inverno. Ainda me lembro
de enfiar o braço na arca da Ti Rosa à procura de um...
Linda a última fotografia.
ResponderExcluirif
Cara IF muito obrigada pela continuada cortesia na visita.
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