quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Cais do Sodré em obras sem obra escultórica a rivalizar Gaudí ?

Não sabia que o Cais do Sodré já se chamou Praça dos Remolares!
A palavra "Remolares" está associada à construção e reparo das Caravelas, na época dos Descobrimentos.
No século XVI "Remolares" significava carpinteiros especializados na construção ou manufaturarão de apetrechos navais, designadamente de "remos". 
Sabe-se que esta Praça foi empedrada em 1849, embora já houvesse ideia para aquele local desde o imediato pós-terramoto. Ao centro da pracinha existiu, até 1872, um "Relógio de sol", assente sobre um pedestal. 
O eterno humorista lisboeta, chamava-lhe o "O Meridiano dos Remolares", numa alusão à função do relógio e ao sítio vizinho dos Remolares, que ainda conserva o nome.
A praça com a Merediana dos Remolares até 1874.
No Arquivo Fotográfico da Câmara Municipal de Lisboa há uma imagem da Meridiana dos Remolares, numa ilustração ligeiramente diferente da que é incluída em “A Ribeira de Lisboa”. O mesmo arquivo tem depois imagens da praça a sofrer as terraplanagens para receber a estátua e para o assentamento de carris do “americano”, o antecessor do eléctrico, que tanto basbaque iria provocar na capital."
"Pelas ilustrações se pode deduzir que o relógio de sol dos Remolares era constituído por uma coluna de pedra, no cimo da qual se colocara uma escala e um gnómon, cuja sombra indicava no mostrador a hora solar. Para onde terá ido, depois de destronada pela estátua equestre? Ninguém sabe. Para entulho, possivelmente.
" A meridiana foi enfim substituída (e com vantagem) pelo monumento do Duque da Terceira, cuja primeira pedra se assentou em 24 de Julho de 1875”, conclui Castilho."

Praça Duque da Terceira 1911 
"Uma das centralidades do tempo público alfacinha, mesmo antes de lá ter sido colocado o Relógio da Hora Legal estava situada no largo dos Remolares, hoje Cais do Sodré. Além da pesca e dos apetrechos a ela ligados, a zona começava a estar povoada de agentes transitários, para quem a hora certa era um instrumento diário de trabalho.
"Antes do relógio mecânico, esteve aqui um relógio de sol, horizontal. Alguém saberá do seu paradeiro?"
"Diz-nos Júlio de Castilho em “A Ribeira de Lisboa, Descrição Histórica da Margem do Tejo, desde a Madre de Deus até Santos-o-Velho”: “Em 1860 havia no centro da praça uma escadaria circular de poucos degraus, e de 2 metros de diâmetro, tendo ao centro, sobre um pedestal, uma meridiana ou relógio de sol. Essa meridiana (como tantas coisas inofensivas e úteis!) tornou-se alvo dos epigramas, mais ou menos agudos, do Lisboeta. Há uns certos sujeitos inúteis, que só sabem rir, rir de quem trabalha, epigramar a quem serve. A meridiana era proveitosa; fazia o seu serviço, e cumpria-o bem; andava às ordens do sol, e obedecia-lhe pontualíssima, em benefício dos próprios ociosos que a desprezavam. Pois era moda dizer mal dela”.E Júlio de Castilho, sem dar pormenores sobre quando a meridiana terá sido construída ou sobre quem a terá feito, conta várias histórias do quotidiano alfacinha que girava à volta da Meridiana dos Remolares. Uma delas diz respeito a “um pobre saloio, para quem um instrumento assim se figurava novidade inaudita, ouvindo dizer que era relógio se lhe aproximara e, desconfiado de que o pretendiam enganar, aplicara o ouvido, e tornara a aplicá-lo, concluindo (depois de maduro exame) que seria talvez relógio, mas estava parado”.
“Outro beócio chegando ali às Ave-Marias, quando já não havia sol, esperou pacientemente que se acendessem os candeeiros de gás da iluminação municipal, e foi depois consultar a meridiana... que lhe disse não sei bem o quê”, acrescente o conhecido olissipógrafo"...
Por isso a existência do relógio de hora legal
Curiosidade
"É um pequeno objeto em madeira, de 4,5 x 4 cm que foi encontrado no final do século passado (XX) em trabalhos arqueológicos no Largo do Corpo Santo, na Lisboa ribeirinha. Mas só agora foi por nós identificado – trata-se da base de um relógio de sol portátil, o mais antigo do seu género de que há conhecimento no país.Esta meridiana, nome por que é conhecido o tipo de relógio de sol em causa, chegou aos nossos dias com a madeira praticamente intata porque esteve durante mais de 500 anos  enterrado e assim protegido".
Os relógios de sol foram introduzidos na Península Ibérica pelos romanos, havendo alguns exemplares encontrados no território português.
"A meridiana do Corpo Santo em madeira , foi recolhida num nível junto à praia, ou seja, na base dum aterro , podendo assim datar-se do final do século XV, é pois o mais antigo relógio de sol portátil encontrado até hoje no país."
Formato octogonal (?)
Numeração árabe
Deu origem a outro tipo de relógios como gnómon, para projetar a sombra do Sol.
O meu relógio de madeira
Relíquia completa com bússula e pêndulo para o sol, que encontrei num ribeiro na extrema do quintal, onde a minha sogra após o pai falecer, e feitas as partilhas com os irmãos, por ter herdado a casa a limpou, sendo que achou por bem deitar fora pertences que achava não terem valia. Suposta oferta por proprietário abastado onde se deslocava fazer a poda de oliveiras na região centro.
Foto da praça quando foi retirado o meridiano e colocada a estátua do Duque da Terceira

"O "Bairro dos Remolares", cuja feição urbana remonta ao início do século XVI, era completamente diferente do que é hoje: um conjunto de estreitas ruas mais ou menos paralelas e orientadas perpendicularmente ao rio Tejo, entre o que foi o grande Palácio dos Corte Real e o Largo de S. Paulo.
Os quarteirões construídos na antiquíssima praia de "Cata-que-Farás", diretamente sobre areais formados pelo assoreamento do Tejo, constituíam-se como um prolongamento do porto de Lisboa e da então recente Ribeira das Naus.
Prefaciando "in Cronos - Pilares do Tempo", suplemento saído com o Público de 16 de Maio, no Largo do Corpo Santo trabalhos arqueológicos em 1996 para o Metro, começaram a aparecer pavimentos e paredes pertencentes ao Palácio dos Côrte-real, cuja edificação data de 1585. O Palácio dos Côrte-real, também conhecido como Palácio do Marquês de Castelo Rodrigo, sofreu um incêndio em 1751, ficando irrecuperável com o terramoto de 1755.O material escavado no aterro inclui algumas peças de qualidade excepcional, como as primeiras majólicas importadas do centro de Itália, remontando a sua cronologia ao séc.XV e XVI, produção Itália 1495-1521.
Foto junto ao parque de estacionamento do Ministério da Marinha, ao Corpo Santo, distingue-se um rasto de uma muralha que pode ser do antigo Palácio dos Corte Real (?),  que foi grandioso de forma quadrada com quatro torreões em forma de bico, cada parede ostentava 8 grandes janelas e cada torre com duas,o que perfazia 12 por parede segundo a foto (?). 
 Palácio da Ribeira com o torreão seguido do palácio do Corte Real
"As propriedades da coroa que ficavam fora das muralhas da cidade são doadas por D. Manuel I a grandes armadores e comerciantes, muitas vezes estrangeiros, principalmente financiadores das suas expedições marítimas e suporte dum império que se alargava pelas "Áfricas", "Américas" e "Índias".

"O Bairro do século XVI, "Cata-Que-Farás", tornou-se rapidamente num local privilegiado das gentes ligadas às fainas do mar e ao comércio Marítimo.No livro de Lançamento (...) "da cidade de Lisboa de 1565 aqui vemos morarem, além de ricos comerciantes portugueses, italianos, flamengos, ingleses e franceses, capitães de naus, pilotos de carreira, a par de pequenos artífices e marinheiros".
No século XVI "Cata-Que-Farás", ainda na primeira metade do século XVII "«Remolares", "Cais do Sodré" depois do terramoto,"Praça do Duque da Terceira" entre 1845 e 1849. Esta zona será durante séculos, o lugar de quem chega e parte, o ponto de habitual reunião de estrangeiros e marítimos, maraus, moços de saco e outros, segundo o cronista Baltazar Teles.Muito mais tarde, em 1862 um oficial inglês autor de uma descrição de Lisboa, escreve "o sítio do Cais do Sodré é um lugar de encontro ao fim da tarde dos mercadores de todas as nações, judeus, turcos e cristãos ali se vêm em chusma a falar de negócios".
Seja Praça Duque da Terceira, Zona portuária, Cata-Que-Farás e Remolares, o local central da zona portuária lisboeta, por isso era natural que fosse também o sítio privilegiado de Lisboa para as mais famosas hospedarias, casas de pasto e tabacarias. 
Já outro estrangeiro, agora francês, autor da Descrição de Lisboa em 1730, refere-se a Remolares escrevendo: " as boas hospedarias, quase todas francesas, inglesas e holandesas são caríssimas. Na melhor, que é francesa, situada à beira do Tejo, num pequeno largo chamado Remolares, levam 6 francos por dia".
"O emaranhado de Ruas estreitas, juntas às margens do Tejo, lugar de marinheiros e gente das mais variadas nacionalidades e origens, era natural que o lugar fosse conhecido também por seus maus costumes.
Aqui as memórias são mais vagas e as referências subentendidas.
No século XVI Baltazar Teles fala de vários frequentadores do bairro de marinheiros, marítimos e outros. Quem seriam os outros? Em 1668 o príncipe regente D. Pedro mandou tapar os becos da zona a fim de evitar que por ali se praticassem descaminhos de direitos.
Já no século XIX a Câmara Municipal de Lisboa vê-se obrigada a tomar providências pois a falta de pudor transbordava a lugares de prestigio como o Terreiro do Paço, onde "mulheres das últimas classes pouco afeitas ao feio do pudor, e rapazes em completo estado de nudez, iam banhar-se em pleno dia no cais".
Lugar elegante nos tempos de Eça de Queiroz e de má fama até há pouco, o Cais do Sodré e a Praça Duque da Terceira confundem-se, para o cidadão comum são uma e a mesma coisa, mas Cais do Sodré era noutro tempo o Largo mais perto do Tejo, junto à Estação, e Duque da Terceira a praça chegada à rua do Alecrim.
Deve o seu nome ao fato de ali terem vivido, e ali terem mercadejado, os irmãos António Vicente e Duarte Sodré. "
O Cais do Sodre 1900. Foto do Arquivo Municipal de Lisboa, de autor não identificado.
Foto: Joshua Benoliel e Mário Novais - Revista Panorama, 1947
Iniciaram novas obras de requalificação do Cais do Sodre que assenta na reorganização do terminal de autocarros e de elétricos e em mais espaços verdes, em outubro  de 2015.
Ontem dia de Carnaval nos arruamentos a serem intervencionados que se mostram fechados por grades, distingui nas terras remexidas  muitos fragmentos de azulejos séculos XVII/I, fragmentos cerâmicos e de faiança.Só olhos de lince dos amantes do azulejo os descobrem nas fotos...
  O fragmento de azulejo que apanhei fora das grades na beira da estrada pedonal
O meu fragmento de azulejo que trouxe comigo
 
"A ERA está a realizar o acompanhamento arqueológico das obras de requalificação do Cais do Sodré e do Largo do Corpo Santo, em Lisboa. Esta é uma área que integra vestígios importantes para o conhecimento da evolução da zona ribeirinha Até ao momento foram registados vestígios de estruturas portuárias do período contemporâneo da cidade."
Foto retirada https://www.facebook.com/EraumavezaERA/posts/970115929734815
A olho nu distingui o rasto de uma muralha vista no sentido contrário ao da foto acima -, segundo a ERA trata-se de vestígios de estrutura portuária identificada durante a execução dos trabalhos de acompanhamento arqueológico das obras de requalificação do Largo do Corpo Santo, em Lisboa.
A remoção de terras aqui e na frente dos Cais do Sodré , em ambos os locais  distingui muitos fragmentos de azulejo, século XVII/I cerâmica e faiança. Aliás como já o mesmo tinha visto na intervenção na frente ribeirinha. Impossível apanhá-los! O grande volume de fragmentos diversos acaso fossem, ou sejam recolhidos (?) podiam servir para quê? A meu ver simplesmente para testemunhar a efeméride deste local junto do rio que o foi desde sempre encontro de lixeiras, escombros de terramotos(1531 e 1755), e de cheias de aluvião que depositam na margem inertes com histórias, para ainda hoje passados séculos se poderem de novo contar, na audácia maior seria usa-los numa escultura moderna a embelezar o local ao jus rivalizar o celebre Antoni Gaudí , na tamanha eloquência usar fragmentos antigos com história, em detrimento da sua obra ao usar contemporâneos!

- Os "trencadis é um tipo de mosaico de cerâmica que teve grande protagonismo no modernismo, sobretudo na obra de Antoni Gaudi, técnica decorativa realizada com pequenos fragmentos de cerâmica partida em diferentes cores. Geralmente, usa-se em exteriores – murais, fachadas e esculturas. "
Escultura-gaudi-do-lagarto-da-iguana-do-dragão-do-mosaico
Em baixo um banco com passarinhos de outro autor Mário.
http://pt.blogartesanum.com/2011/04/pintar-com-azulejos-coloridos-%E2%80%93-trencadis-por-albi/
Seria belo, belíssimo ao viandante, apreciar uma obra prima feita com cacos e caquinhos que recordasse os Remolares, ao Cais do Sodré,  neste agora em obras com obra escultórica a rivalizar Gaudí ? 
No mesmo sítio onde tinha apanhado o fragmento de azulejo estava outro, que trouxe, precisamente onde se fracionou em dois, a piada, com tanta remoção de terras  ao fim de mais de 2 meses da apanha do primeiro numa vinda ao Cais do Sodré em abril ...

Fontes
http://observatoriorelogioshistoricos.blogspot.pt/2007/12/o-cais-do-sodr-antes-do-relgio-da-hora.html
http://aps-ruasdelisboacomhistria.blogspot.pt/2008/05/praa-duque-da-terceira-iii.html
http://mvieiradacruz.wix.com/quatro-almas#!cais-do-sodré,-1877/zoom/c248t/image6k2
http://postaisportugal.canalblog.com/albums/region___lisboa/photos/21492698-praca_do_duque_da_terceira.html
Fotos de Lisboa antiga you tube
Uma Foto http://restosdecoleccao.blogspot.pt/2011/12/estacao-do-cais-do-sodre.html
Uma foto da Wikipédia e outra do google
/www.facebook.com/EraumavezaERA/photos/pcb.970115929734815/970115159734892/?type=3&theater

5 comentários:

  1. A obra está a ser acompanhada por arqueólogos. Há alguma informação aqui:
    https://www.facebook.com/EraumavezaERA/posts/970115929734815

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  2. Caro anónimo muito obrigada pela cortesia da visita e pelo comentário.Hoje é habitual a arqueologia estar presente nestes espaços a ser intervencionados, com história, e ainda bem, foi pena que durante séculos andaram afastados.A crónica reflecte apenas o meu olhar e o que poderia ser a obra criativa com o aproveitamento dos cacos, os fragmentos de azulejo.

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  3. Cara Isa Coy, apresenta uma imagem da Meridiana dos Remolares, a sépia,a primeira deste seu post, que gostaria de saber a quem a poderei pedir oficialmente a reprodução. Pensei que fosse no Arquivo Fotográfico Municipal mas não a encontrei online.
    Aproveito para a felicitar pelo blogue
    Grato pela atenção.
    António Miranda

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  4. Caro António Miranda muito obrigado pela cortesia da visita e pelo elogio ao Blog. A foto com a imagem da Meridiana dos Remolares foi retirada de http://restosdecoleccao.blogspot.pt/2014/12/relogio-padrao-da-hora-legal.html, mencionada nas Fontes.
    Melhores cumprimentos
    Isa Coy

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    1. Muito obrigado pela pronta resposta.
      Cumprimentos
      António Miranda

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